Os palestrantes expuseram no referido painel acerca da responsabilidade civil no âmbito
do Direito de Família. Evidenciou-se que, apesar de não haver previsão legal específica no âmbito deste ramo do Direito quanto a indenização civil nas relações familiares, o Código Civil impõe deveres aos cônjuges e companheiros. Portanto, em caso de descumprimento dos referidos deveres, a pretensão indenizatória deverá atender às regras gerais da responsabilidade civil. Importante ressaltar que, embora o Código Civil apenas mencione, a existência de direitos e deveres aos cônjuges é estendida aos conviventes da união estável. Sendo, consequentemente, os deveres de sustento, guarda, e educação dos filhos oriundos de ambos os genitores, independentemente de terem contraído matrimônio ou tenham vivido em união estável. A fidelidade recíproca estabelece, por lei, o caráter monogâmico do casamento, devendo, enquanto subsistir a união, ambos os cônjuges se absterem de ter relações extraconjugais. Ainda assim, a responsabilidade civil pela violação dos deveres conjugais, o de fidelidade, no caso, não gera a obrigação de indenização, por si só. Todavia, podemos tomar como amostra na contemporaneidade os casos de traição conjugal os quais tendem a ganhar uma considerável repercussão social, promovida pela demasiada exposição das redes sociais, levando o cônjuge traído a uma condição humilhante e vexatória. Nestes casos, um eventual dano afetivo decorrente de uma relação extraconjugal pode atingir a honra do outro consorte injuriando-o gravemente, podendo, desta conduta, surgir o dever de reparação moral ao ofendido. Estas situações devem ser analisadas sob o prisma do respeito à dignidade da pessoa humana, que deve sempre se sobrepor a qualquer outro valor, e, em caso de violação, e decorrer na responsabilização do agressor. De outro modo, temos o dever de assistência mútua, que abrange tanto à assistência material quanto a moral. Este compreende-se como o dever de cuidar do cônjuge, seja na enfermidade ou na adversidade, e sobretudo prestar-lhe auxílio econômico, quando as circunstancias o exijam. A assistência material é dever de ambos os cônjuges, ou seja, a obrigação de manutenção da família, sendo tal contribuição proporcional aos recursos de cada cônjuge. A violação do dever de assistência mútua, principalmente em casos onde o cônjuge que dedicou muitos anos para a organização do lar, em detrimento de sua vida profissional, encontra-se, por decorrência, em situação de vulnerabilidade socioeconômica, configura grave ofensa ao cônjuge ofendido, devendo, tais condutas, serem penalizadas com o dever de reparação moral. Tal qual versa o Código Civil em seu art. 186 – “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” – o respeito e a consideração recíprocos resultam e se relacionam diretamente à deveres implícitos, como o de sinceridade, o de respeito pela honra e dignidade da família e o de não submeter o outro cônjuge a constrangimentos ou companhias degradantes, dentre outros. A violação destes deveres pode constituir injúria grave. Deste modo, entende-se que a afronta a tais deveres nada mais é do que uma conduta ilícita, podendo originar a possibilidade, a depender do caso concreto, de reparação material e moral ao ofendido.