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= = = La = »~ qi , ¥. Zé f) IFEP av ¥ 8 M60 smtye0 we” Instituto de Filosofia e Educagio pata o Pensar A EDUCAGAO FILOSOFICA DE CRIANGAS E JOVENS: FUNDAMENTOS E METODOLOGIA Darcisio N. Muraro www. philosletera.org.br e-mail: fsm.ifep@philosletera.org.br Fones: (41) 3323-3313 / 3016-7340 Curitiba / PR - 2011 " A educagio e a experiéncia do filosofar E significativa a ideia de Filosofia como amor & sabedoria. Esta intuico original dos gregos inspirou formas diversas de pensar na prdpria Grécia e em toda cultura ocidental. Por isso, as vezes, entende-se a Filosofia como a histéria dos “amores 4 sabedoria". Neste sentido, o fazer filosdfico se restringiu ao estudo da histéria da Filosofia. Esta visdo pode ofuscar o que a Filosofia tem de mais rico: oferecer um precioso material para continuar a novidade do pensar: repensar 0 pensado, pensar de formas diferentes do pensado, penser 0 ainda nao pensado, pensar o que nao se pensa, pensar a propria ignorancia do pensar. A capacidade e intuigao de se fazer amigo do conhecer, a forga original da Filosofia, renasce na curiosidade de cada crianga que vem ao mundo. E pode continuar viva se o desejo humano de saber no se acomodar diante da imposi¢ao de certezas ou saberes que inibem a busca. Mas seriam todas as. pessoas filésofas? Que sentido tem a experiéncia do amor e do sabor pelo conhecer ou pelo pensar? Responder a estas questées 6 quase construir uma filosofia. O que seria tarefa ousada demais para este momento. A intengdo aqui é olhar a Filosofia como uma experiéncia de pensar ligada as necessidades da vida individual e social. E um pensar por si e com os outros. E a experiénola de subjetividade, diferenga e pluralidade. Ela indaga pelos sentidos orientadores da vida, investigando e inventando possibilidades, alternativas @ novas formas e maneiras de conduzir a existéncia. A pratica do filosofar s6 se realiza como pratica da liberdade! Pensamos na medida em que escolhemos pensar e, assim, somos arremessados em outro lugar. Podemos escolher aquilo que nos arremessa ao lugar- comum. Podemos escolher 0 que nos arremessa a um lugar diferente, novo, incémodo, desafiador e que suscita um novo pensar. E o lugar da imaginagao. Neste caso estamos mais proximos da pratica do filosofar. Educar para o filosofar 6 dar oportunidade a experiéncia muitipla do pensar. E possivel esta ‘experiéncia em nossas escolas? Assim, retornemos & questao colocada anteriormente. A experiéncia do amor a sabedoria, ou ainda, o sentido da amizade ao saber, ou do desejo de saber, ou do amor ao aprender. E importante nolar que estas expressdes nao especificam uma idade, embora alguns fildsofos levantem esta querela, como ¢ 0 casu de Platav, que 1iav via possibilidaue Uas criancas se enitrelerem com esta nobre missao. Exclui qualquer possibilidade de uma suposta determinagao genética para o pensar. Num sentido mais positive, as expresses que falam sobre 0 filosofar nos remetem a uma ‘experiéncia de pensamento que se desenvolve e cresce. Nasce da escolha de rever as crengas estabelecidas porque sao problematicas, ou insatisfatérias ou porque a curiosidade leva a suspeitar das certezas. Dai surge a necessidade buscar novas explicagdes. Este momento sinaliza o reconhecimento da prépria ignorancia no sentido socratico. E 0 ponto de onde se parte e nunca deve ser abandonado, mesmo que se possua certo saber. Mais ainda, é uma experiéncia que lida com problemas e é movida Por perguntas ¢ respostas. A experiéncia nao é isolada, depende da alteridade — as outras pessoas em um mundo — para se realizar. E, ainda, a experiéncia nao acontece no vacuo, mas em certas condi de espago ¢ tempo, esta situada num mundo, numa histéria e numa cultura. Estas ideias referem-se as potencialidades da experiéncia do filosofar e so se pode dizer que sao limites no sentido de algo a ser ‘superado e transcendido. Constitui uma referéncia para se avaliar a novidades, a diferenga e 0 avango do pensar. Areteréncia a um contexto é necessaria para saber de onde falamos, ou seja, em nosso caso, a realidade brasileira. Quem no fica perplexo ao saber que 0 pais tem um dos piores indices de analfabetismo funcional’ rendimento escolar do mundo? Diariamente nos defrontamos com problemas graves como pobreza, violéncia, desigualdades econdémicas e sociais, corrup¢ao, discriminagées sociais, dificuldade de acesso a cultura, destruigao ambiental, trabalho infantil, exploragao dos trabalhadores, dentre outras tantas injustigas. Os contrastes sao grandes entre aqueles poucos que tem acesso a villa novidade tecnolégica e aqueles que nao tém acesso sequer a um livro. O quo significa uma educag4o para o filosofar nesse contexto? Que filosofar é possivel nessas condigées? Qual o papel da reflexao filosdfica diante desta realidade? © olhar filosético cuidadoso nao pode deixar de questionar esta realidade, buscar as causas mais profundas e primeiras. Inquirir 0 como € 0 porqué das praticas humanas ao longo da histéria terem produzido e continuarem a reproduzir acontecimentos desta ordem. E, nesse processo de * Segundo dados recentes (Institute Paulo Montenegro), no Brasil o analfabetismo funcional atinge cerca de 75% da populagii, ou seja, somente 25% da populagao é alfabetizada plenamente. 12 questionamento, 0 filosofar dialoga com outros saberes, porque eles também so afetados pelos ‘mesmos problemas. Assim, se estas questdes nao afloram em nossas discussées, algo esta errado, O Que esta em jogo é o desenvolvimento da consciéncia do individuo como personagem social capaz de intervenges em seu meio. O amor sabedoria 6 formador da sensibilidade para lidar com os problemas que envolvem a convivéncia tanto no sentido local quanto global. Dai a importancia da filosofia para a formagao humana: formacao do pensamento @ das emogées, do carater e da condula. A educago filoséfica na escola A experiéncia do filosofar caracteriza-se pelo aprender a usar a intelig€ncia como capacidade criadora de significados num ambiente de didlogo. Aprender a filosofar é aprender a discutir uma ideia, ou ponto de vista, como hipétese que melhor responde a um problema. Dai a intima relagao entre 0 filosotar e o educar. Esta experiéncia pode iniciar na infancia, especialmente na Educagdo Infanti, jA que a idade nao é 0 fator determinante, mas as possibilidades de pensar e falar. A vida da crianga j& tem um enredo, uma cultura, uma linguagem, sensagdes @ percepgées do mundo, Os problemas pulsam no seu coragdo. A experiéncia conereta que o aluno traz é a matéria do filosofar. Dela se parte e a ela se volta com novos significados que Ihe abrem horizontes. A experiéncia do pensar na infancia, embora nao conte com grande quantidade do conhecimentos, é altamente imaginativa, mais livre & criadora, Por isso, 6 uma oficina de criago de significados. Além disso, a curiosidade é uma forga peculiar na crianga. Quem jé nao viu a rapidez e eficiéncia com que uma crianga aprende a utilizar um novo aparelho ou software tornando-se rapidamente capaz de ensinar 0 manejo a um adulto? Sao muitas as maneiras das criangas envolverem-se na construcao de significado. Na medida em que o interesse por entender o significado das coisas vai se tornando mais forte, abre-se 0 espago para o filosofar. As grandes araucdrias nasceram pequenas e frageis! © mundo da crianga 6 o mundo do brincar. O filosofar deve estar entagado com o brincar. Ali o filosofar é formiga e cigarra, oferecendo condigées para um continuo crescimento ¢ um desabrochar das potencialidades de cada pessoa. A infancia é a chama inslauiadora do filosofar. Tudo passa a ser olhado © considerado de novo. Mas 0 que acontece com esta luz nos caminhos da vida? E possivel fazer esta luz brilhar mais intensamente? A pratica do filosofar pode ser considerada uma pratica de iluminar. Formar um conceito, fazer uma pergunta trazem uma nova luz para a experiéncia, embora muitos aspectos continuem obscuros. A crianga que vai se apoderando da pratica de filosofar poder estar mais bem equipada para entrentar as dificuldades trazidas pelos periodos turbulentos da adolescéncia e da juventude. Nestas fases, a energia para o filogofar tera que ser alimentada com outros contetidos. Filosofar requer um ovo jeito, uma nova cara. E necessario aprender a navegar nas ondas da rebeldia tipica desta idade. Ondas que as vezes sao tsunamis. Assim, 0 filosofar é miltiplo. Tera outras exigéncias de rigor, radicalidade, abrangéncia © sistematicidade no Ensino Médio, na graduagao, na pés-graduacao, ou ainda como uma profissio especttica, a do filésofo. Mas se a abstracao é necessaria, abstrair-se da vida, especialmente da vida na polis, dos problemas reais dos concidadaos, estara comprometendo sua vocagao. A cultura do filosofar na escola requer que sejam explicitados alguns aspetos considerados de fundamental importancia: a) Praticas do filosofar; b) Educaco do pensamento e das emogGes; c) Educagao ética e cidada; d) Metodologia: a comunidade de praticas do filosofar. Antes de aprofundar estes aspectos, convém retomar um componente pedagégico imprescindivel para qualquer projeto educativo frutificar. Como a pratica do filosofar na escola é ainda uma grande novidade, é necessario estrulurar_ processo cuidando, amorosamente, dos seguintes critérios: continuidade, rigor, sistematicidade, planejamento, formagao intensa © avaliagao. Sao critérios para orientar a pratica pedagégica reflexiva sobre as agées dos educadores. Quanto mais comunilaria ela for, melhores resultados podem ser vislumbrados. Os quatro aspectos fundamentais da educacdo para o filosofar que comentaremos a seguir nao podem ser tomados isoladamente. Eles se interconectam em todas as etapas do proceso. 1. Praticas do Filosofar A experiéncia do filosofar é um processo que depende da articulacao dos seguintes elementos: a atitude de espanto, admiracao e maravilhamento; a pergunta ou problematizacaio; 0 didlogo e o Bids te Se a a a a i is a ss se STUUR ULL UU UU LRU LU ULL UOTE bbOES 13 conceito. Estes aspectos interagem reciprocamente fazendo com que a experiéncia do tilosofar tenha a intensidade emocional do amor ou amizade pelo saber. A experiéncia do filosofar se da numa profunda ligago das dimensdes afetiva e cognitiva. Este processo de busca é alegre, rigoroso e esperangoso. Uma imagem da infancia que poderia servir de ilustrago prética do filosofar é a experiéncia do balango. A crianga encanta-se ao ver este brinquedo e poder se divertir nele. Sentar no balango, nas primeiras vezes, causa estranhamento, medo, inseguranga. Os primeiros embalos sao feitos com 0 apoio das maos da mae ou amigo. Aos poucos, a ctianca vai se soltando até encontrar dentro de si a forca para se equillbrar e se movimentar. Seguidamente a crianga chama um amigo para empurré-la, dando novo animo para a brincadeira. O balangar transforma-se numa experiéncia alegre, prazerosa e livre. Nenhum risco de dor ¢ empecilho para a crianga aventurar um novo balango. O impulso interno leva a desafiar as alturas, variar a forma, construir ritmos... Gangorra, pular cordas, amarelinha, brincadeiras de roda, dangas, etc., sozinho ou em grupo, brincar é se balangar. Aprender a se balancar é aprender a se (des)equilibrar, experiéncia que envolve © corpo, pensamento, emogdes, 0 mundo, os outros. Aprender a brincar de se balangar é aprender a lidar com os perigos, com a mudanca, com 0s limites. O balango é como 0 rio de Herdclito. A vida é um continuo balango. Os problemas desequilibram para por o pensamento em busca de um equilibrio provisério. Filosofar 6 fazer a experiéncia do balango, uma agao do corpo inteito: estranhamento, correr riscos, transgredir os limites do ébvio, encontrar um equilibrio entre divida e crenga. O movimento é feito pela forea das perguntas e pelo peso das respostas, ou vice-versa. Desta forma, a Filosofia é uma atitude corajosa de por em balango creneas, ideias fixas, certezas, o dbvio ou banal, aquilo que o senso ‘comum toma como estabelecido ¢ verdadeiro e que rege cegamente a vida cotidiana. O que parece evidente passa a ser percebido como incerto @ duvidoso, exigindo a reconstrucao de novos sentidos. E © balango continua! zi © balango do filosofar poderia ter um nome: a linguagem. € com a palavra que o pensamento faz o préprio balanco. A palavra é a possibilidade do filosofar, de liberar a imaginacdo. A imaginagao é a oficina de novos balangos: a criagdo de problemas, conceitos, formas de viver e refl Porém, 0 balango do pensamento, que se faz com a palavra, necessita de uma mediacao especial que 6 a educacao. Mas nao é toda educagao que favorece aprender a se balangar. Tem a educagao que sobrecarrega a memoria. O peso do saber acumulado, das verdades estabelecidas é balango sem movimento. O seu oposto é o movimento fortuito que carrega & moda de correnteza de um rio. Em ambas as situagées, 0 ato de se balangar nao é auténomo, pois 6 conduzido por forgas externas. Em contrapartida, tem a educagao que liberta a imaginacdo, fortalece as asas do pensamento permitindo © v6o pelo mundo do desconhecido. Torna possivel a reinvengao das relacées do ser humano com 0 mundo, com os outros ¢ consigo mesmo, 1.1, Filosofar 6 espantar-se, admirar, maravilhar-se O filosofar comega pela experiéncia de encantamento, admiragao ou maravilhamento diante do mundo. Nao & uma atitude de contemplacdo intelectual ou a atitude de um expectador diante da realidade. E uma atitude ativa como a curiosidade e imaginagao das criangas. A capacidade de espantar-se, admirar ou maravilhar-se desperta no ser humano a necessidade de compreender 0 sentido do mundo e da prépria existéncia humana neste mundo. Estes sentidos se transformam em crengas e habitos que orientam nossas vidas influindo diretamente naquilo que pensamos e fazemos. Podem se transformar em crengas e hdbitos exiremamente rolineiros. A alitude de espanto, admiragao e maravilhamento toina a pessoa sensivel e atenta as mudangas nas suas relacdes com o mundo. Aquilo que é amado, querido, esperado ou que traz salisfagao e ‘elicidade constantemente estd ameagado e entra em crise. As crengas s4o abaladas diante das transformagées @ passam a no mais corresponder & realidade. O balango, 0 caos, a desestabilizacao, 0 desequilibrio tomam conta da experiéncia. A necessidade de transformar a sua experiéncia em desequilibrio ou problematica requer a disposigao afetiva de se deter, distanciar-se, retroceder e manter em suspenso juizos, orengas, discursos sobre mundo. Este movimento nao pode ser entendido como uma paralisia que imobiliza o individuo. As vezes a monstruosidade aparente do problema pode gerar medo ou sentimento de 14 impoténcia para enfrenté-lo. Neste caso, hd que se encontrar formas para enfrentar a situagéo ou 0 problema continuard consumindo as energias, em prejuizo de outras atividades, A atitude de suspensdo da agao distanciamento em pensamento é necesséria para observar melhor a realidade, compreender os problemas e buscar solugdes. Quando nos envolvemos nesta busca, 0 espanto se transforma em verdadeira fascinagao por olhar a experiéncia sob diversos enfoques, buscando lidar com ela de forma ampla e radical de forma a poder reconstruir um novo balanco. Assim, 0 interesse pela reflex4o sobre a experiéncia problematica alimenta e fortalece o filosofar. O pensamento se pée a trabalhar intonsamente sobre a situagao de perplexidade, insatisfagaio, indignagao, incémodo, rebeldia, riso ou angdstia para reconstruir as crencas. Esta disposigo afetiva despertada pelo espanto, admiracéo e maravilhamento 6 um dos fundamentos que origina o filosofar e também determina a sua busca continua. E philia, amor amigo que deseja a sophia sabedoria. Se nao cultivar este dinamismo na atitude frente ao mundo 6 20 conhecimento, rapidamente o filosofar transforma-se em dogma, uma crenga que pretende ser chao firme, inabalavel, eterna, Para filosotar & importante desenvolver a sensibilidade a ponto de espantar-se, admirar ou maravilhar-se. Este dispor-se a trabalha com 0 que 6 problematico na experiéncia desenvolve uma simpatia inteligente para olhar as possiveis alternativas e consideré-las na sua radicalidade em busca da melhor resposta. Simpatia para ouvir © compreender os pontos de vistas dos outros, inclusive a fala dos filésofos sobre esses problemas. Na forma mais especifica temos a empatia, processo que implica © colocar-se no lugar do outro para ver as coisas sob seu ponto de vista. A simpatia inteligente 6 uma abertura ao que é de interesse social e que perpassa a experiéncia individual, tomando-a o mais ampla © universal possivel. Em termos pratioos € necessario construir um processo pedagégico da sensibilidade para desenvolver a atitude de espanto, admiragao, maravilhamento que alimenta o filosofar. 1.2, Filosofar é perguntar A forya inletrogante do pensamento ¢ a base do filosofar. Quando a experiéncia esta opaca ou Confusa, 0 pensamento desentranha algo ao indagar, questionar, interrogar, inquirir. Assim, institui os problemas para serem investigados. A reflexao filoséfica, ao lidar com problemas, ndo se esgota nas Fesposias, pois estas sao provisérias, assim como as perguntas. Uma resposia é motivo para novas Perguntas. O pracesso nao se fecha. E aspectos desconcertantes da experiéncia vio sendo explorados pelos questionamentos. Amplia-se 0 horizonte de inteligibilidade, mas nao 0 esgota. Incorporar a pratica do filosofar é adquirir esse comportamento de maravilhamento, assombro pelo desconhecido e, ao Mesmo tempo, correr os riscos gerados pelo processo de perguntar. A pergunta traz 0 sentimento de inquietagdo @ a duvida para 0 mundo da palavra. Conceitos Broblematicos ancorados em emogées passam para o ambito da fala através da linguagem. E, por sua vez, geram novas emogées. A linguagem permite a mediacdo entre emogées ¢ significados, 0 individuo © as pessoas. Este € 0 lugar para a pratica filoséfica. E uma atividade complexa, pois exige articulagao do pensamento, das emogées, da percepeao e da linguagem. Aprender o processo de perguntar Possibilita compreender a relagdo dinamica entre a experiéncia, a linguagem e a reflexdo. Neste sentido, perguntar 6 uma pratica de pensamento auténomo, critico e criativo. Perguntar torna possivel explorar as relagGes existentes entre a zona do que se conhece e a zona do desconhecido. A natureza desafiadora da Pergunta desperta a curiosidade pela investigacao. Cria-se a necessidade de estabelecer didlogo com outros interessados na questéo. O didlogo é uma forma cooperativa de alimentar a reflexao filoséfica com perguntas e hipdteses. A pratica do filosofar se alimenta de uma pedagogia da pergunta. 1.3, Filosofar é dialogar O didlogo € uma forma de conversagao, intra e inter-pessoal, que se ocupa de investigar um problema. Orienta-se sempre pelo critério da busca da verdade universal, fundada na argumentacao e a contra-argumentagdo. A verdade tera cardter universal se resistir quando suometida 4 maior ‘quantidade possivel de olhares sobre ela. Como novos olhares sero sempre possiveis a verdade se SH Ohba haeaaaeaabeaaada daeaaw een de > > > 15 caracteriza pela atitude de busca. Assim, a verdade é amiga do diélogo, ambos tém relacdio recfproca € 880 inimigos do relativismo e do fundamentalismo. O didlogo é uma atividade intelectual publica, j4 que o homem e a mulher sdo seres que se constituem na relagao social. Pelo didlogo, experienciamos a vida intersubjetiva. Este processo é essencial para a constituigao da propria subjetividade. O didlogo 6 uma pratica de descentralizagao de si que permite colocar-se no lugar do outro, compreendé-lo nas suas diferencas, partilhar perspectivas. As diferengas enriquecem e dao vitalidade ao dialogo. O que sustenta o didlogo é a interacdio afetiva ‘com 0 outro @ consigo mesmo. O dialogo auténtico, presidem sentimentos como amizade ou amor, ‘compaixao, ¢ atitudes como sinceridade, humildade, interesse por objetivos comuns, responsabilidade pelo grupo e pela investigagao. Para dialogar 6 necessério ter regras de inteligibilidade compartithadas, a fim de realizar a sua fung&o comunicativa. Portanto, um primeiro consenso que o didlogo exige é sobre as préprias regras. A investigacao poderé chegar a um consenso sobre um conceito, ou seja, encontrar uma hipétese que se sustente com argumentos mais firmes. Entretanto, 0 consenso sera provisério, até que um novo questionamento ou uma nova situacdo revelem sua inconsisténcia. Para continuar 0 didlogo é necessério reconhecer a falibilidade das nossas crencas diante da natureza, da sociedade e da Histéria em processo de mudanga. didlogo opée-se violéncia e forga fisica, & retérica que manipula a opiniéo e A mera exposicao tedtica e dogmatica. Nao é possfvel diélogo num ambiente autoritério. Neste caso imperam a ordem (mando) e a submissao. Na situagao de submissao, o pensamento é forcado a corresponder aos interesses da autoridade. didlogo da-se numa relagao igualitéria. Por um lado, exige de cada um a escuta atenta dos argumentos do outro. Por outro, garante a cada um o direito a voz para apresentar sua interpretacdo, critica, questionamento, concordancia ou discordncia. didlogo impée que 0 procedimento da investigaoao seja autocorretivo - cuidando dos oritérios de verdade ¢ justiicabilidade - e auto-regulative - 0 cuidado com as regras da conversagao na comunidade. O didlogo fortifica as relagdes entre as pessoas assim como desenvolve um senso de confianga na responsebilidade que surge dentro do proprio processo de investigagao. Assim, 6 necessaria a pedagogia do didlogo para a investigagao buscar os melhores argumentos. 1.4, Filosofar é criar conceito As perguntas para nossa reflexao poderiam ser colocadas desta forma: Qual é 0 objeto especifico do Filosofar? Sobre o que se pode filosofar? Quais problemas sao filoséficos em nossas perguntas? O que motiva o admira-se, espantar-se e a disposico para investigar na Filosofia? O que toma um didlogo uma prética do flosofar? Nossa hipéiese 6 que 0 flosofar lida com os conceitos que dao significados & nossa experiéncia, orientam nossas agées. Filosofar é pensar os horizontes desconhecidos do conceito: as emogdes @ os problemas que o provocam, as palavras a que ele recorre, as ideias que embala, as relagées que estabelece, a desconstrugdo que exige e a reconstrugao que anuncia. Por isso, diz-se que filosofar & pensar conceitualmente. Um conceito ja pensado por um filésofo pode embalar uma nova investigagao. Ele nao pode ser ponto final, a voz da autoridade que determina a verdade. Nao pode paralisar 0 que ainda esta para ser descoberto ou criado sobre tal conceito. Historicamente o filosofar voltou-se para certas questées conceituais subjacentes a experiéncia humana. Podemos identificar algumas areas da reflexdo filos6fica: a Metafisica ou Ontologia buscando © conhecimento dos principios ¢ fundamentos de toda a realidade, de todos os seres; a Etica inquirindo 08 valores @ normas morais, a Estética trabalhando com as formas de arte e suas criacdes, a critica do belo e do gosto, a Epistemologia desenvolvendo a analise critica das ciéncias (métodos, resultados, relacdes); a Teoria do Conhecimento estudando 0 proceso do conhecimento; a Politica perscrutando as relagoes da administracao e governo da cidade; a Légica buscando compreender as formas e regras da investigagao, do raciocinio ¢ julgamento, a Antropologia em busca de explicagdes do ser do homem e da mulher, a Linguagem trabalhando sobre os mecanismos da comunicagao, querondo saber o papel das palavras, dos signos e significagdes. Gada uma destas areas é construida com um acimulo de discussdes conceituais convergentes @ divergentes, conforme cada olhar filosdfico. E cada olhar faz a diferenca, pois quem filosofa esta situado num certo contexto (tem um corpo, emogées, crencas, interesses, histéria, sociedade, cultura, 16 etc.), critério que também deve ser levado em conta. Filosofar é refletir dialogando com diversos modos de olhar 0 conceito. Isto nos dispée a dialogar com uma historia, uma obra de arte, um fato, um texto de um filésofo, para saber o que falam, o que interpelam, o que criam. Este didlogo pode dar-se tanto de forma direta, como 0 texto do filésofo, quanto de forma mediada: um professor, a literatura, um fima, ete. Eles podem ajudar a repensar problemas, ou mesmo pensar novos problemas, amplando os ‘gnificados dos conceitos. E por meio deste diélogo que se forma a ‘Subjetividade, como falamos. A Filosofia pode contribuir para formar a subjetividade desenvolvendo uma gama de sensibldades cognitiva, estética, ética, politica, Social, logica. Mas a experiéncia humana é inesgotavel @ a partir destas sensibilidades, pode-se criar novas formas de percepeao e solugao de problemas. Espanto, pergunta, didlogo, conceitos... o filosofar é livre e se permite algar véos na exploraco do desconhecido. Em dado momento desta brincadeira de balango, a crianga acaba se interessando pelo proprio balango: puxa, empurra, torce, tenta outro jeito, etc. O filosofar volta-se sobre o préprio ato de filosofar, questionando 0 “qué?”, 0 “por qué?", 0 “quem”, 0 “como?", 0 “para qué?" desta pratica. Neste sentido, o filosofar assume-se como um meta-nivel de investigagao. Na metacognigao, o pensar volta-se sobre si mesmo, toma-se sujeito @ objeto da investigagao, pensa e se pensa, pensa sobre o pensar. é rellexao Sobre a propria atividade da razao. Interroga sobre seus caminhos, seus ctitérios, seus procedimentos & Meios para saber 0 que 6 verdadeiro e como alcanga-lo no processo da investigagao. Busca educar a si mesmo através da autocorregdo do comportamento investigativo, torando mais sofisticado o padrao da 'nvestigacdo. Significa também refinar 0 proprio conceito de investigagao. Este processo ajuda a Pensar a educacao, ou seja, os processos do aprender ¢ do ensinar a filosofar, que sao, em sua origem, problemas filoséfico-pedagagicos. Os gtegos utilizaram a palavra Paideia para denominar esta tarefa da Filosofia na formacao do homem que pensa, de forma auténoma, a vida na polis e 6 capaz de fazer escolhas acertadas, aquelas que proporcionam a vida feliz, Como proposta de pratica filoséfica busca-se tesgatar esta formagdo filoséfica através da cultura da atitude de espanto e admiragao, cultura da pergunta, cultura do didlogo e cultura do Concelto. © que esté em pauta & a formagao da sensibilidade para investigar os diversos aspectos problematicos da experiéncia. 2. A educacao do pensamento e das emocGes A liberdade de pensar néo foi facilmente assegurada historicamente. Foi antes resultado de lutas © revolugses que reivindicaram este direito. Muitas pessoas dedicaram esforcos, sangue, suor e sofreram por sua independéncia intelectual. © esforco individual de suplantar a prescrigéo dos Costumes 8 enfrentar a repressio da autoridade trouxe descobertas, invengdes © mudanca das mentalidades. AA descoberta do valor do pensar para a condugao da vida humana e parte da dignidade e integridade da pessoa @, portanto, um bem social, vai ao longo das lutas historicas sendo assumido como um direito do homem @ da mulher. Este direito 6 afirmado quando se reconhece o direito 2 liberdade de opiniao @ expressao, 0 direito a educagao, o direito a decidir e praticar crengas, o direito ae Gemais liberdades individuais, civis, religiosas. Pensar é uma condigdo para conceber os diretos ou, melhor, o direito de ter direitos e praticar os deveres. A filosofia advoga esse direito desde a sua origem, caso contrario simplesmente néo existria, assim como muitos outros saberes que nasceram no bojo de suas reflexées. E procura ir além sempre Fee ene Sobre © proprio pensar, pensar o como pensamos. Entao, o direlto de pensar implica o dieito de filosofar que, por sua vez, implica o dever de ensinar a filosofar. Ninguém nasce sabendo filosotar. E uma prética que se pode aprender pela madiagao, especialmente pela educaco. Filosofar € uma Pratica social, uma forma de usar os conhecimentos e a inteligéncia para condugao dos dostinos da vida privada e publica, articuladas dialeticamente. Entretanto, estamos longe de um consanso sobre o que seja o pensar. Pensar 6 um campo aberto a investigagao da Filosofia e das ciéncias. Nao cabe aqui investigar o problema do que ¢ 0 Pensar ou estudar as teorias da génese e desenvolvimento do pensamento. Mas precisamos partir de tum Principio mais amplo como a compreensao do pensar como um recurso que o ser humano dispée Para garantir sua sobrevivéncia no mundo. O ser humano desenvolve a inteligéncia como forma de resolver problemas para sua sobrevivéncia. Além disso, pode comunicar essa “inteligancia” acumulada 20 longo do tempo para os outros membros do grupo e para as novas geracGes. A linuagem corrobora vale a ee ec PROV PVP OV VV VV VOU VOOVVOVUVOVUDUVUVUVUVUVUVUDUVUDDY 7 sobremaneira para o desenvolvimento do pensar. Neste sentido, o pensar é, antes de tudo, um direito que garante a continuidade da vida, de uma vida enriquecida com mais significados. direito de pensar implica num dever que ¢ 0 de ensinar a pensar, como j mencionado. A escola é uma instituicao criada na modemidade com o dever de ensinar a pensar. Por muito tempo identificou-se pensar com acumular conheoimentos. A descoberta da educago como instancia mediadora do aprender ¢ onsinar a refletir é recente. Dai podemos levantar duas questées de uma paideia do pensamento contemporéneo: uma refere-se a contribuicdo da Filosofia para a educagao do pensar e, a outra, a educacao do pensar filoséfico propriamente dita. Por um lado, a Filosofia é continua interrogagao sobre como pensamos, especialmente através da area de investigacao da Légica e Linguagem, apoiada também pela Epistemologia © Teoria do Conhecimento. Neste sentido, a Filosofia seré sempre o cuidado do pensar sobre o proprio pensamento: seus procedimentos, suas inferéncias, seus métodos, seus resultados. Digamos que ela exerce 0 papel de “guardia da racionalidade”. Assim, exercando um papel de critica do pensar, estaria conttibuindo para 0 pensar matemético, 0 pensar histérico, 0 pensar artistic, 0 pensar musical, 0 pensar literdrio, etc. Assim, o flosofar desenvolve um papel interdisciplinar. A outa tarefa da educagao do pensar, especificamente a educacao do pensar filos6fico, j& foi tratada sob 0 enfoque das “Préticas do Filosofar’, na primeira parte deste texto. Um problema a ser pensado ¢ como viabilizar a educagao do pensar filosético no ambiente escolar? Dois critérios podern ajudar a reflexao sobre esta tarefa: a necessidade de formaeao especfica @ continuada dos professores que trabalham com Filosofia e 2 delimitaco do papel e do espaco para esta disciplina em todos os niveis e graus da educacdo. O primeiro se justifica nao apenas pelo fato dar oportunidade de acesso 20s conhecimentos filoséficos, mas especialmente como pratica de filosofar em comunidade sobre os problemas da educacao. Estes so problemas filoscticos. Se filosofar é um direito, esta pratica tem que ser cultivada entre os educadores. Cultivar a atitude de revisio critica das crengas e da cultura e da continua investigagao conceitual necesséria para a criagao de novos significados. O segundo, também na forma de investigagao comunitéria, lida com as questées do curriculo de Filosofia, objetivos, métodos, contetidos, materiais, etc, e sua adequagdo as diferentes séries escolares. A cultura do pensar na escola propée uma mudanga na concepgao de pensar, além de pedagogia especifica. Aprender a pensar ¢ “aprender a aprender’. Pensar é o método de resolver os problemas de forma inteligente, ou seja, a razao pensa os problemas levado em conta as implicagdes das ideias para a vida das pessoas no presente ¢ no futuro, individual e coletivamente, outro lado da razdo é a emogao. As emogdes constituem um aspecto importante da visio de mundo, do jeito de avaliar e valorar de cada pessoa. Aprender a aprender é dar voz As emoc6es. Trazer as emogdes ao mundo da palavra torna possivel pensar sobre esta dimensao tao cara da existéncia. Uma pedagogia das emogdes busca aprender com nossos sentimentos. Através da palavra podemos comunicar nossos sentimentos, permitindo uma empatia mais profunda com o outro. Aprender a aprender tem esta duas dimensdes: aperfeicoamento cognitive e emocional. A educagaio de ambos é essencial para o crescimento da pessoa auténoma. Aprender a pensar nao 6 aquisigao de um corpo de conhecimentos através da memorizagao. Nao 6 também aquisiggo de um rol de habilidades por imitago ou repetigao. Aprender a pensar problemas pode adicionar novos conhecimentos as crengas de uma pessoa ou novas habllidades 20 Conjunto de habilidades adquiridas. A diferenca 6 que aprender a pensar problemas nao é duplicagao de conhecimentos e habilidades ja adquiridos pelas outras pessoas e que fazem parte da tradicao cultural. E um processo que cria crengas e habilidades novas quando efetivamente a pessoa se dedica @ pensar como resolver os problemas. Nesta prética, a pessoa desenvolve o habilo de pensar problemas que ¢ a origem de todos os conhecimentos e habilidades. Esta é tarefa da vida inteira. Uma pedagogia para o cultivo do pensar e das emagGes na escola é a comunidade de praticas filoséficas. 3. Educagao Etica e Cidada Ha um balango pendular entre ética e cidadania, Elas constituem duas dimens6es importantes da vida: 0 Ambito do privado e 0 do pablico. Emancipagao e razoabildade so os corolérios. 0 Ambito do privado refere-se ao individuo, mais especificamente pessoa humana, considerada, pelo Direito, na sua dignidade e na sua liberdade, legitimada em muitas leis. Diz-se que a pessoa é portadora ‘We vains em sh mesina e fone de todos os valores. Compo, emogbes seninnenios, sexalitate, pensamento, 18 consciéncia, habitos, vontade, Historia, a pessoa é uma unidade complexa, idiossincrética, dotada de capacidades e potencialidades e em processo continuo de ctescimento, um ser ativo e em constante transformagao. ‘A mediagao para assenhorear-se deste processo de autoconstrucao como pessoa 6 a educagao. Neste sentido, podemos falar da importancia de uma educacao ética reflexiva. A reflexao filosofica desenvolve a capacidade de criar, interpretar, julgar e escolher os valores @ crengas que conduzem a vida. Uma pratica ética investigativa trabalha as condiges para descobrir e desenvoler capacidades © potencialidades que s6 se realizam na telacdo social e que poderéo ser colocadas a servico da comunidade. Por isso, a metodologia da educacao ética deve acontecer exercitando a autonomia e 0 didlogo com as diferencas. ‘A investigacao ética volta-se sobre os valores da cutura, ressignificando-os ou mesmo criando novos. valores. Este proceso amplia a complexidade © abrangéncia dos valores, bem como as exigéncias de coeréncia. A investigacao busca encontrar as oportunidades para construir um mundo mais habitavel, humano, onde seja poss\vel realizar o bem maior que é a felicidade. A ética pressupée a construgdo da identidade, do caréter. Este processo dé-se numa relacao inter- subjetiva. E no didlogo com os outros que da-se a descoberta das préprias capacidades. Aprende-se a lidar ‘com as qualidades e potencialidades, desenvolve-se um estilo de pensar e agir, apura-se a dimensao do gosto e da vontade. Assim, adquire-se consciéncia da singularidade de si mesmo, aprendendo a se valorizar, 2 ter respeito préprio e responsabilidade pela condugao de sua vida. Estes so alguns aprendizados que criam condigdes para o pensar e 0 agit éticos de forma auténoma. A aulonomia implica ter auto-estima © se autogovernar levando em conta 0 outro. Autonomia 6 0 exercicio do autogoverno na relagéo com os membros de uma comunidade. Implica respeito ao outro como diferente e como co-constituidor de si mesmo. ‘As diferengas naturais, culturais ou resultantes da autoconstrugao favorecem a pluralidade humana. A variedade & fonte de vida e enriquecimento, segundo 0 que nos informam estudos da Biologia, Toda diferenga faz diferenga. A discriminagao de alguma pessoa por motives econémicos, fisicos, sexuais, étnicos, cor de pele, crengas, etc., ou a privagao de algum diteito de que a pessoa estaria apta a usufruir, produz a desigualdade. Por isso, a educagao ética pode estimular as diferengas enriquecedoras e prevenir discriminagdes que produzem desigualdade, intolerancia, violéncia e o empobrecimento das relagdes sociais. ‘A convivéncia com as diferengas cria confltos. Por isso, of ceres humanoe criam ac rograe da convivéncia determinando como as condutas dever ser. A criagao de notmas, regras e lels constitui a organizagao social, que é a esfera da polis. No ambiente de sala de aula podemos chamar essa organizagao de comunidade. Retomando a questo, um lado do balango 6 o direito a diterenga que tem como pressuposto o diteito A igualdade na cignidade e na liberdade. Iqualdade nao & homogensidade. O direito a igualdade © a liberdade é um principio da cidadania e da democracia. Este é 0 outro lado do movimento pendular: 0 consentimento das pessoas em tomo das regras como forma de realizacéo de um bem comum. O consentimento nao deve ser passivo, mas resultante do proceso de reflexao em comunidade. Para isso, liberdade e igualdade realizam-se mais plenamente com as solidariedades pessoal e comunitaria, que criam ‘condigdes politicas para a cidadania, Cidadania tem como pressuposto as ideias de fazer parte de uma relagdo social, pertencer a uma ‘comunidade, exercitar a liberdade em companhia, participar eficiente e criativamente da reconstrugao da cultura e da hist6ria. Por isso, a cidadania s6 se realiza pela patticipacéo democratica que torna possivel 0 acesso aos bens sociais, culturais e naturais. A democracia é uma forma de vida compartihada com vastas ‘oportunidades de tornar possivel a soluga0 de problemas pela inteligéncia cooperativa. A relacao educativa deve ser permeada por este principio democrético rompendo com a idéia de que se “educa para a democracia’. A democracia se converte, assim, numa forma de educar uma vez que dé espaco para realizacao do impulso do amor sabedoria e ndo a autoridade que se acha detentora da verdade. Nela o cidadao participa da investigagao, ampliando e transformando suas perspectivas possibiltando o julgamento comunitério. Cidadania significa 0 auto-governo de uma comunidade, um dificil exercicio de balango politico, na crenga de que 6 possivel garantir, para a maior quantidade possivel de pessoas, a vida boa, justa, bela, feliz e livre. Espanto, pergunta, didlogo, conceites... o filosofar 6 criagao, libertagdo, transformagéio.

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