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@ O ser humano esta condenado a ser livre Em sua obra O existencialismo é um humanismo, o filésofo francés Jean-Paul Sartre declara que “o homem est condenado a ser live”. Essa afirmagao parece contraditéria, pois obrigacio se opdea liberdade. Para esclarecé-la, vamos retomar algurnas ideias sobre a esséncia humana estudadas no capitulo 4 Em contraposico as concepcdes essencialistas, Sartre ¢ os existencialistas afirmam quea existéncia precede aesséncia, Em outras palavras, o ser huranonascee existe antes de constituir algo determinado por qualquer forca exterior; suas decisdes e suas acbes, modificam o mundo e, ao mesmo tempo, conformam o que ele virda ser, Nesse sentido, olindividuo é responsavele livre para ser 0 que quiser. Sartre toma ifitencionalidadé como caracteristica da consciéncia humana. Ter cons- ciéncia é sempre ter consciéncia de algo, Amaré amar algo, sofrer ésofrer por algo, ¢ assim por diante. A consciéncia sempre est direcionada, intencionada, para um objeto fora dela. Seo ser humanongonasce pronto ou predeterminado, ele se constitui com base nessa caracteristica da consciéncia, Ele se projeta para o mundo ou para as coisas do mundo e, nesse projetar, afirma essas coisas, mas também as nega, quando quer transformé-las. Alterar a realidade implica, inicialmente, imaginar uma situacéo diferente da que existe, tum estado que pode vira ser, mas que ainda no existe, Agir requer negar o que existe e it ao encontro do que ainda nao existe. “Se os senhores tirarem o paleté por causa do calor [..J terio negado uma situagio dada e o negaram em fungao [..J de um estado que conhe- cem, 60 de menos calor, mas que nao existe. Assim, pelo projeto, h4 ne- gagdo de uma situagao definida em nome de uma situagao que nao existe [J H4, em primeiro lugar, negatividade [.. ou seja, recusa, fuga, nadi cagio [..]. Mas 0 ponto de partida é que algo énegado daquilo que vemos, que sentimos em nome de algo que nao vemos ¢ no sentimos. A partir dai temos a possibilidade permanente de irmos além [..].” SARTRE, Jean-Paul. Sartre no Bras: a conferénca de Araraquara 2. ed. S80 Paulo: Edtora Unesp, 2005. p. 83. A mente ou a consciéncia realiza um projeto que nega uma situacio e cria a possibi- lidade de algo que ainda nao existe e esti além do presente. Isso ocorre, por exemplo, ‘quando alguém pensa na situagao de vestir apenas camisa quando esta usando.um paleto. A consciéncia humana tem a liberdade de projetar-se. isso, como fol visto, significa negar o que existe e buscar 0 que nao existe. Essa liberdade também ¢ constituidora do ser humano, Exatamente porque ele ndo nasce pronto ou predeterminado, tem de se direcionar para o nada ou para 0 que ainda nido existe para tomnar-se algo, p> Jean-Paul sartre (1905-1980) INascou em Paris, na Franca. Estudou filosafia na Escola Normal Superior de Paris @ especializou-se na fenomenologia de Edmund Husserl e Martin Heidegger, com o qual estudou na Alerianha Durante boa parte da vide, dedicou-se 8 carera de professor. Foi romandsta, autor de pecas de teatro e miltane poltico. € corsiderado um dos ppensadores mas infuentes co séulo XX Elabarandoestudos sabre anaturezada vida @ a conscibncia humana, desenvolveu 0 existencalsmo, associando a perspectiva psicanaltica a0 pensarento flosético, Para Sate, a capacdade de escola seria a manifestacdo Ultima da liberdade, caracteristica fundamental da existéncia humana, Stas prncipais obras 80 Oser eo nada, Critica da razio dalética,Esbocoparaumateoria das erogées, Oexistencalsmaé um humanismoe o ramance Andusea Intencionalidage: nese caso, cardter da consciencia de tender paraum objeto ethe dar sentido, 261 © Oindividuo se faz a si © ser humano é, portanto, livre para agir sobre o mundo e se realizar, tomando-se © que quiser ser. Ele ndo est preso ou determinado pelos objetos do mundo, pois pode nnegé-los, transformando-os e estabelecendo uma nova situacdo. Mesmo o que ele & momentaneamente pode ser mudado ou negado, visto que existe a possibilidade de projetar algo que ainda nao 4, mas pode vira ser. “Se, com efeito, a existéncia precede a esséncia [...] ndo hé determi- nismo, 0 homem é livre, 0 homem ¢ liberdade. Se, por outro lado, Deus no existe, no encontramos diante de nds valores ou imposighes que nos legitimem o comportamento. Assim, nao temos [..] justificagdes ou des- clpas. [..] 6 o que traduzirei dizendo que homem est condenado a ser livre. Condenado porque nao se criow a si proprio; eno entante livre, porque uma ver.langado 20 rmundo, é responsavel por tudo quanto fizer.”” SARTRE, Jean-Paul, Oexistencaliomo éum humanism. 2. ed. isboat Presenga sp. 253-254, Se a consciéncia ou 0 sujeito nao ¢ algo estabelecido e se o existir humano é antes, de tudo um proceso que nao esta antecipadamente determinado por algo exterior ou interior ao ser hurnano, cabe ao préprio individuo fazer-se, tornar-se, pois ele € 0 que faz de si 3 i Nesse fazer-se, no hé uma natureza imutavel que seja interna ao individuo e deter- imine o que ele é ou sera, como a semente determina 0 futuro de uma planta. Tambérn no hd um ser supremo que estabelece valores capazes de guiar 0 comportamento do ser humano e de sua consciéncia. © homem é livre para ser o que quiser. A capacidade continua de transcendéncia em dirego as coisas e ao nada, ao mundo ea sua negacdo é, portanto, aliberdade, caracteristica central da existéncia humana ser humano ¢ liberdade e ndo pode deixar de sé-lo, pois ele ¢ essa aco, esse processo constante em direco a0 mundo, agdo recorrente de se inventar. Por no poder fugir de sua existencia, o ser humano esta condenado a ser livre “Estou condenado a existir para sempre para-além de minha esséncia, para-além dos [..] motivos de meu ato: estou condenado a serlivre. Signi- Speieareoe fica que ndo se poderia encontrar outros limites 4 minha liberdade além. iepnee ra aa da propria liberdade, ou, se preferimos, quenao somos livres para desxar semelhante ade Sartre de ser livres. nade determina a vida SARTRE, Jean-Paul. Oser eo nado: dos sere humanos, enssio de ontlogia fenomenoligic. 12. ed Petrépoi: cabendo a cada um Vozes, 2003. p. 543-544 constituiese, Calvine Haraldo (1986), vock acrenita que nossos | [ MO. AcHO ae PODEIOS DESTINOS SFO CONTROLADOS| et sho & 0 Qué PAPAL 2 reo. ENTENDERIOS COM RANGE ME OIZEM. was RITES NOSSAS VIORS. Eee

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