Você está na página 1de 60
PESSOAS NATURAIS E JURIDICAS DESCRIGAO A andlise da sistematica da pessoa natural e da pessoa juridica no Direito, bem como a teorizagéo da desconsideragao da pessoa juridica e seus efeitos. PROPOSITO Compreender a configuragao das pessoas naturais e juridicas, topico importante para sua formagao, para, entdo, explorar a tematica da desconsideragao da personalidade juridica, de grande utilidade pratica na atuago profissional dos operadores do Direito. PREPARAGAO Antes de iniciar este contetido, tenha em maos 0 Cédigo Civil (Lei n°. 10.406/2002). OBJETIVOS MODULO 1 Definir as pessoas naturais e os direitos inerentes a sua personalidade MODULO 2 Identificar as pessoas juridicas MODULO 3 Descrever a Teoria da Desconsideracao da Pessoa Juridica, seu cabimento e consequéncias INTRODUGAO Abordaremos um dos elementos da relacdo juridica, a saber, a pessoa, seja ela a pessoa natural ou juridica. Apesar de tradicional, o tema vem sendo revisitado pela doutrina especializada, sobretudo apés © proceso de constitucionalizagao do Direito e, em especial, do Direito Civil. E assim que vamos, em primeiro lugar, esmiugar os conceitos ¢ modalidades de pessoas configuradas no nosso ordenamento juridico, para, em seguida, conhecer e analisar os casos que ensejam a desconsideragao da pessoa juridica, a fim de se evitar 0 abuso decorrente da utilizagao da caracteristica da autonomia patrimonial da entidade, tal como originariamente concebida, Apesar de 0 Direito Civil ainda receber bastante enfoque sob o ponto de vista patrimonialista, o estudo sera norteado por um viés que considera a pessoa em si, dai advindo a repersonalizagao ¢ a despatrimonializagao, releituras decorrentes do enfoque da dignidade da pessoa humana, de estatura constitucional. Os temas sero analisados isoladamente, em médulos e tépicos préprios, mas fica aqui desde ja uma questao importante que deve ser objeto de reflexdo para todos nés: Qual é a importancia de se entender 0 comego e 0 fim da pessoa natural e da pessoa juridica, sob a axiologia constitucional? Vamos entao ao nosso estudo, que compreende o estudo dos artigos 1° a 78 do Cédigo Civil (© primeiro livro da Parte Geral do Cédigo Civil). MODULO 1 © Definir as pessoas naturais e os direitos inerentes sua personalidade PESSOA NATURAL ANTES DE COMEGARMOS NOSSO ESTUDO, VEJAMOS O QUE VOCE SABE A RESPEITO DO ASSUNTO. O QUE E A PESSOA NATURAL? RESPOSTA E a pessoa do individuo como ente juridico, ou seja, sob o prisma do Direito, dotada de personalidade. I ATENGAO Devemos observar que, segundo a maioria dos civilistas, a denominagao a ser adotada é a de pessoa natural, sendo que a expresso “pessoa fisica’ é adotada na legislagao brasileira regulamentar referente legislagdo do imposto de renda, As pessoas sao detentoras da personalidade juridica, ou seja, a aptidéo para adquirir direitos e contrair deveres, na forma do art. 1° do Cédigo Civil. Como se pode observar, 0 conceito de personalidade esta i imamente ligado ao conceito de pessoa. @ VOCE SABIA © que nos parece ébvio atualmente, ou seja, o fato de que toda pessoa tem aptidao genérica para adquirir direitos ¢ obrigagdes, consoante disposigdo inserta no art. 1° do Cédigo Civil, é, na verdade, uma conquista para a humanidade, pois, por exemplo, no Direito romano, 0 escravo era coisa, e, portanto, objeto e nao pessoa da relacdo juridica. A universalidade aplicada aos atributos da personalidade foi desenvolvida progressivamente na histéria e hoje 0 ser humano é sujeito da relagao juridica, e nao seu objeto. A personalidade independe de qualquer ato volitivo do individuo, isto é, pessoas com problemas psiquicos, em estado de coma, com perdas temporarias ou permanentes de meméria, ou bebés, por exemplo, tém personalidade juridica, ou seja, todos tém aptidao genérica para adquirir direitos ou contrair obrigacées. QUAL SERIA O MOMENTO DE AQUISIGAO DESTA PERSONALIDADE JURIDICA? Para tal indagagdo, trés correntes doutrindrias apresentam-se no atual cenério juridico patrio: Teoria Natalista Teoria da Personalidade Condicional Teoria Concepcionista A seguir, veremos melhor cada uma dessas teorias. TEORIA NATALISTA Os expoentes desta corrente doutrinaria afirmam que a personalidade civil somente se nascimento com vida, Como poderiamos, entdo, definir que o nascituro nasceu com vida? Para tal comprovagao, utiliza-se 0 exame de docimasia hidrostatica de Galeno, capaz de evidenciar se houve respiragao extrauterina do feto, a partir da andlise da densidade do pulmo. Sobre 0 exame em comento, prelecionam os doutrinadores Pablo Stolze ¢ Pamplona Filho (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2007, p. 81) que “no instante em que principia 0 funcionamento do aparelho cardiorrespiratério, clinicamente aferivel pelo exame de docimasia hidrostética de Galeno, o recém- nascido adquire personalidade juridica, tornando-se sujeito de direito, mesmo que venha a falecer minutos depois’. Foto: Adobe.stock.com A grande maioria dos doutrinadores brasileiros é adepta da Teoria Natalista, que restou consignada no Cédigo Civil, em seu art. 2°: A PERSONALIDADE CIVIL DA PESSOA COMECA DO NASCIMENTO COM VIDA; MAS A LEI POE A SALVO, DESDE A CONCEPGAO, OS DIREITOS DO NASCITURO." Este mesmo dispositivo legal ressalva que, apesar de nao haver personalidade civil atribulda ao nascituro, o nascituro tem seus direitos protegidos, especialmente no que tange aos direitos patrimoniais. TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL Os doutrinadores que capitaneiam esta corrente sustentam que a aquisigao da personalidade por parte do nascituro é condicionada ao nascimento com vida, ou seja, esse ser ainda nao é uma pessoa, sendo desprovido de personalidade até que se implemente a condigao requerida (nascimento com vida) ‘Seus direitos, portanto, se encontram em estado de laténcia, Dessa forma, um feto que nao venha a termo, ou se nado nasce com vida, sobre ele devemos afirmar que “a relago de direito nao chega a formar, nenhum direito se transmite por intermédio do natimorto, € a sua frustragao opera como se ele nunca tivesse sido concebido”, de acordo com o ensinamento do renomado jurista Caio Mério (PEREIRA, 2017, p.145). Imagem: Adobe.stock.com TEORIA CONCEPCIONISTA De acordo com esta teoria, desde a concepgao haveria personalidade juridica concedida ao nascituro. Tal teoria ainda pode ser dividida em TEORIA CONCEPCIONISTA PURA TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL TEORIA CONCEPCIONISTA PURA ‘Seus defensores ndo conseguem chegar a uma conclusao sobre qual seria efetivamente o momento da concepeo, sendo que, para alguns, a concepgao aconteceria quando ocorre 0 encontro do évulo com 0 espermatozoide e, para outros, somente quando ocorre a implantagao do embrido no titero, © melhor exemplo para ilustré-la, em termos de dispositivo legal inserto no Cédigo Civil, seria o artigo 1798, que dispde sobre a deixa sucesséria: “Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou j4 concebidas no momento da abertura da sucessao”, TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL Preconiza que a personalidade ja ¢ atribufda ao nascituro com a concep¢ao, o que sé restaria confirmado com o efetivo advento da condicdo suspensiva do nascimento com vida. Trata-se, dessa forma, de uma teoria mista elaborada com a conjugagdo da Teoria Natalista e da Teoria Concepcionista. DIREITOS DA PERSONALIDADE E NOME CIVIL Constituindo-se a personalidade na aptidao para a titularidade de relagées juridicas, esta deve ser protegida em sua esséncia, na dimensdo existencial intrinseca a condigao do ser humano. Dessa maneira, a doutrina dispée sobre os direitos subjetivos de personalidade, ou seja, direitos que tm como seu ceme a protegao psicofisica do individuo. Essa espécie de direitos encontra seu amparo no art. 1°, inciso Ill, da Carta Politica de 1988, que versa sobre os fundamentos que devem nortear a construgao de nossa sociedade. Trata-se do principio da dignidade da pessoa humana, que assim dispée: ART. 1° A REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, FORMADA PELA UNIAO INDISSOLUVEL DOS ESTADOS E MUNICIPIOS E DO DISTRITO FEDERAL, CONSTITUI-SE EM ESTADO DEMOCRATICO DE DIREITO E TEM COMO FUNDAMENTOS: Ill - A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA" Nem sempre aceitos pelos estudiosos, tais direitos foram progressivamente ganhando uma construgao histérica, em resposta as diversas atrocidades cometidas contra o ser humano, na historia da civilizagao, € estdo continuamente em reformulagao e reandlise. Como bem discutido por Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva, “a pessoa ha de ser tutelada das agressées que afetam a sua personalidade, identificando a doutrina, por isso mesmo, a existéncia de situagdes juridicas subjetivas oponiveis erga omnes” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p.148). As principais caracteristicas desses direitos sao, inicialmente: Imagem: Adobe.stock.com A GENERALIDADE ‘So direitos concedidos a todos os individuos. Imagem: Adobe.stock.com A EXTRAPATRIMONIALIDADE Significa que ha a impossibilidade de avaliagao do direito do prisma econémico em si considerado, A lesdo a tals direitos, no entanto, pode ser mensurada e quantificada, gerando reflexos patrimoniais. Imagem: Adobe.stock.com O CARATER ABSOLUTO Pode ser definido como a possibilidade do direito ser oponivel contra todos (erga omnes). Imagem: Adobe.stock.com A INALIENABILIDADE O titular do direito subjetivo de personalidade nao pode dele dispor livremente, dai exsurgindo a irrenunciabilidade e impenhorabilidade. Apesar de n&o poder dispor livremente nem renunciar, a doutrina preconiza que pode haver cessdo, em hipéteses especificas, desses direitos, desde que nao haja infragao as normas de ordem publica ¢ desde que a cessao néo seja permanente, Pode-se exemplificar com o caso de um jogador de futebol que ceda seu direito de imagem a determinada emissora de TV por ato voluntario. Imagem: Adobe.stock.com A INTRANSMISSIBILIDADE Informa sobre a impossibilidade de tais direitos intrinsecamente serem transmitidos a outras pessoas, 0 que no deve ser confundido com a possibilidade de que os efeitos patrimoniais decorrentes da cesséo desses direitos passem a outrem. Faz-se necessdrio que registremos 0 art. 11 do Cédigo Civil de 2002, que preceitua as duas tltimas caracteristicas elencadas anteriormente: “com excegao dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade sao intransmissiveis e irrenunciaveis, nao podendo o seu exercicio sofrer limitagao voluntaria’ O Consetho da Justiga Federal formulou enunciade quanto a possibilidade de limitagao voluntaria do exercicio dos direitos de personalidade, Trata-se do enunciado n° 04: “o exercicio dos direitos da personalidade pode softer limitagao voluntaria, desde que nao seja permanente nem geral”, O Superior Tribunal de Justiga, por sua vez, acabou por acolher tal enunciado como uma de suas teses sobre direito de personalidade, bem como a tese da imprescritibilidade de ofensa a essa espécie de direitos. ENUNCIADO Os enunciados do Conselho da Justia Federal possuem o importante papel de orientar a interpretagao do Direito. we EXEMPLO Um exemplo bem atual sobre a possibilidade de restrigao voluntaria ao exercicio dos direitos de personalidade é a cessao do direito & imagem e a intimidade por parte dos participantes de reality shows, tais como "A Fazenda’ e “Big Brother Brasil’, em que, de modo temporério e voltivo, ha restrigao de direitos, sem que sobre eles haja rentincia, abuso de direito ou infringéncia a normas de ordem piiblicas. s direitos de personalidade encontram previsdo nos arts. 11 a 21 do Cédigo Civil de 2002. Os direitos la previstos nao sao listados em rol exaustivo, haja vista a imensa multiplicidade de manifestagées da personalidade humana, eivada de temporalidade e complexidade. @ DICA Toda a andlise feita, por meio da leitura dos artigos em comento, deve ser realizada sob 0 fundamento da dignidade da pessoa humana, principio de estatura consfitucional e vetor axiolégico que tempera e formula as interpretacdes de todos os cédigos. Apesar de a nogdo de protegao dos direitos de personalidade ser muito mais abrangente que a mera repressao a danos causados, o art. 12 do Cédigo Civil versa sobre a protegao do ponto de vista repressivo: PODE-SE EXIGIR QUE CESSE A AMEAGA, OU A LESAO, A DIREITO DA PERSONALIDADE, E RECLAMAR PERDAS E DANOS, SEM PREJUIZO DE OUTRAS SANGOES PREVISTAS EM LEI." Vejamos agora o que diz a doutrina acerca dos direitos de personalidade no caso da pessoa morta: paragrafo Unico do art. 12 do Cédigo Civil especifica ainda a legitimidade em nome proprio da protegao conferida aos direitos de personalidade, no que conceme ao morto, nos seguintes termos: “em se tratando de morto, tera legitimagao para requerer a medida prevista neste artigo 0 cdnjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau”. Observa-se no haver mengao ao companheiro no paragrafo Unico do art. 12, o que é objeto de critica por grande parte da doutrina civilista. O Conselho da Justiga Federal, na V Jornada de Direito Civil, ‘consignou que a legitimagao também cabia ao companheiro no enunciado de n° 400: “Os paragrafos Unicos dos arts. 12 e 20 asseguram legitimidade, por direito préprio, aos parentes, cénjuge ou companheiro para a tutela contra lesdo perpetrada post mortem.” DISPOR DO PROPRIO CORPO No que se refere a possibilidade de a pessoa humana dispor do préprio corpo, 0 art. 13 do Codigo Civil assim estabelece: SALVO POR EXIGENCIA MEDICA, E DEFESO O ATO DE DISPOSIGAO DO PROPRIO CORPO, QUANDO IMPORTAR DIMINUIGAO PERMANENTE DA INTEGRIDADE FISICA, OU CONTRARIAR OS BONS COSTUMES. ato de disposigao, porém, quando for realizado para fins de transplante, na forma da legislagao especial, 6 cabivel, consoante paragrafo Unico do artigo em andlise. © cotejo dos fatos sociais com a disposicao do artigo 13 deve ser feita com temperamentos, sob pena de o intérprete supor haver vedacdo a praticas socialmente aceitas, como a circuncisdo de criangas da religido judaica, conforme exemplo citado por Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva (2021, p.158), Foto: Adobe.stock.com Outro caso que causou bastante celeuma recentemente foi a cirurgia de transgenitalizagao e as mudangas identitarias dela advindas. Seria essa cirurgia um caso de infring&ncia ao art. 13 do Cédigo Civil, que veda 0 ato de disposigao do préprio corpo? Para tratar de transexualidade, deve-se inicialmente saber sua configuragao legal, sobre o que versa a Resolugaio do Conselho Federal de Medicina n° 1955/2010, dispondo no art. 3° que transexual sera aquele que apresenta desconforto com 0 sexo anatémico natural, tem 0 desejo expresso de eliminar os genitais e de perder as caracteristicas primarias e secundarias do préprio sexo e ganhar as do sexo oposto, com a permanéncia desses distirbios de forma continua e consistente por, no minimo, dois anos endo tiver, segundo redagao infeliz da prépria resolugao, “outros transtornos mentais". Configurada a hipétese de transexualidade, de acordo com a resolugao em comento, o individuo pode requerer que seja submetido @ cirurgia de transgenitalizagao, apés acompanhamento por dois anos com equipe multidisciplinar. Apés 0 procedimento, permite-se a mudanga tanto do prenome quanto do género do paciente. Muitos transexuais, no entanto, apés regular procedimento, encontravam dificuldades para alterar nome ou género nos registros civis ¢ demais érgaos. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 4275IDF, colocou a pa de cal no assunto, pois mesmo quando o(a) transexual nao opte pela cirurgia, caso decida trocar prenome ou género, poderd fazé-lo, pois, do contrario, haveré grave violagaio aos direitos de personalidade. Nessa mesma linha de entendimento, o Conselho da Justiga Federal, na IV Jomada de Direito Civil, editou o enunciado n° 276, nos termos que seguem: O ART. 13 DO CODIGO CIVIL, AO PERMITIR A DISPOSIGAO DO PROPRIO CORPO POR EXIGENCIA MEDICA, AUTORIZA AS CIRURGIAS DE TRANSGENITALIZAGAO, EM CONFORMIDADE COM OS PROCEDIMENTOS ESTABELECIDOS PELO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, E A CONSEQUENTE ALTERAGAO DO PRENOME E DO SEXO NO REGISTRO CIVIL." Outra importante disposicao do Cédigo Civil encontra-se no art. 15, que versa sobre a impossibilidade de se constranger alguém a tratamento médico ou a intervengao cirtirgica, em que haja risco de morte, Aqui se trata do consentimento informado, que também encontra guarida no artigo 22 do Cédigo de Etica Médica, que dispée ser vedado: “Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal apés esclarecé-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte” Esse dispositivo legal resguarda: Paciente Por livremente poder manifestar seu consentimento em decisdes {do sérias como as que envolvem a possibilidade de morte, preservando-se a autonomia da vontade. Médico Por somente proceder a tratamentos ¢ intervengées de seriedade apés obter autorizagao por meio do consentimento informado. Tal conduta do médico, inclusive, lastreia-se no principio da beneficéncia, que exige que o profissional de satide leve sempre o bem-estar do paciente em consideragao, tendo como alvo os tratamentos que melhorem a qualidade de vida, bem como no préprio principio da boa-fé objetiva. DIREITO AO NOME E A PROTEGAO DO PSEUDONIMO Os artigos 16 a 19 do Cédigo Civil de 2002 tutelam o direito ao nome e a protegao do pseudénimo. De acordo com 0 art. 16, “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e 0 sobrenome”, O nome é um direito de personalidade, visto que individualiza a pessoa humana no seio da sociedade. ‘© nome subdivide-se em prenome e sobrenome, ou seja, se uma mulher 6 nominada de Maria Carolina da Silva, 0 prenome é “Maria Carolina” e o sobrenome é “da Silva’ © pseudénimo, que pode ser definido como uma designagao personativa diferente do nome civil jade: itas e goza da mesma protegao dada ao nome registral, néo pode ser {art. 19 do CC). izado para at Foto: Agéncia Brasilia / Wikimedia commons / CC BY 2.0. ®& Anitta, pseudénimo/nome artistico de Larissa de Macedo Machado. Como corolario do direito a identidade, a doutrina civilista afirma que travestis e transexuais (transgéneros) tém direito sobre a compatibilidade do nome em relagao ao género/sexo, levando-se em consideragao a muttiplicidade psiquica, biofisiolégica e multicultural dos integrantes da sociedade em contraposigao ao padrdo binario socialmente imposto. Assim, deve-se adotar 0 nome social quando requerido pela pessoa transgénero, seja no ambiente de repartigées puiblicas, em instituigdes privadas ou na sociedade em geral. Foto: Rodrigo Gianesi / Wikimedia commons / CC BY 2.0. eli ker, artista transexual. w EXEMPLO Nessa linha de raciocinio, o Conselho Nacional de Justiga editou a Resolugao n° 270/2018, assegurada a possibilidade de uso do nome social &s pessoas trans, travestis ¢ transexuais usuérias dos servicos judicidrios. Nao se pode também utilizar os nomes das pessoas “em publicagées ou representagdes que as exponham ao desprezo piiblico", mesmo que, inicialmente, nao haja uma intengdo difamatéria, na esteira do que preconiza o art. 17 do Cédigo Civil. Nao raro varias lides surgem de divulgagao de noticias em que os jornalistas transbordam do dever de informar e do uso do direito de liberdade de expresso e passam a difamar e a macular a dignidade daqueles sobre quem escrevem. DIREITO AO ESQUECIMENTO Outro tema interessante é 0 do direito ao esquecimento, que pode ser definido como a prerrogativa de que alguém, contra quem jé se teve fato constrangedor divulgado, com 0 decurso do prazo e com a desatualizagao e desnecessidade da noticia, possa pleitear que tal fato ndo seja mais divulgado pela eternidade. w& EXEMPLO Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva (2021, p.163) trazem para discussao 0 caso da "Chacina da Candeléria", no qual o Superior Tribunal de Justica adotou o direito ao esquecimento para confirmar a responsabilizagao de empresa jornalistica que, apés cumprimento de pena e longo deourso de prazo, mostrou nome e fisionomia de réu em processo criminal em documentario de rede nacional. Ponderou a referida Corte de Justiga que, apesar de haver o direito a divulgagao do notério fato criminal histérico, no haveria mais direito de expor o individuo, ferindo-Ihe eternamente a dignidade e considerando ainda a meta de ressocializagao daqueles que jé cumpriram pena No artigo 20, o legislador patrio consigna o direito 4 imagem e o direito a honra, em intrincada redagéo’ (...) SALVO SE AUTORIZADAS, OU SE NECESSARIAS A ADMINISTRAGAO DA JUSTIGA OU A MANUTENGAO DA ORDEM PUBLICA, A DIVULGAGAO DE ESCRITOS, A TRANSMISSAO DA PALAVRA, OU A PUBLICAGAO, A EXPOSIGAO OU A UTILIZAGAO DA IMAGEM DE UMA PESSOA PODERAO SER PROIBIDAS, A SEU REQUERIMENTO E SEM PREJUIZO DA INDENIZAGAO QUE COUBER, SE LHE ATINGIREM A HONRA, A BOA FAMA OU A RESPEITABILIDADE, OU SE SE DESTINAREM A FINS COMERCIAIS." Tal protegao conferida a honra e a imagem jé estava também prevista na Carta Politica de 1988, no artigo 5°, inciso X, que resguarda o individuo de investidas indevidas em relagdo a sua imagem e honra, objetiva e subjetiva. Registre, ainda, que por decisao majoritaria, Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu que é incompativel com a Constituigéo Federal a ideia de um direito ao esquecimento que possibilite impedir, em razo da passagem do tempo, a divulgagao de fatos ou dados veridicos em meios de comunicagao. Segundo a Corte, eventuais excessos ou abusos no exercicio da liberdade de expressao e de informagao devem ser analisados caso a caso, com base em parametros consfitucionais e na legislagéo penal e civil we EXEMPLO © Tribunal, por maioria dos votos, negou provimento ao Recurso Extraordinario (RE) 1010606, com repercusso geral reconhecida, em que familiares da vitima de um crime de grande repercussa , Os anos 1950, no Rio de Janeiro, buscavam reparagao pela reconstituigéo do caso, em 2004, no programa “Linha Direta’, da TV Globo, sem a sua autorizagao. Apés quatro sessdes de debates, o julgamento foi concluido. No video a seguir, a professora Camila Fortuna comenta sobre o fundamento e os diferentes direitos da personalidade. Vamos assistir! Para assistir a um video D>, sobre o assunto, acesse a ° versao online deste contetido. MORTE E AUSENCIA A extingao da pessoa natural se dé com a morte, na forma do art. 6° do Cédigo Civil, in verbis: “a existéncia da pessoa natural termina com a morte”. No que concere aos ausentes, a extingdo da pessoa natural ocorre nos casos em que lei autoriza a abertura da sucessao definitiva. VOCE SABERIA DIZER QUAL O CRITERIO ADOTADO PARA SE DETERMINAR QUE UMA PESSOA ESTA MORTA? RESPOSTA Segundo a doutrina, tal momento sera o da morte encefalica, que é a auséncia da atividade cerebral, com irreversibilidade, devidamente atestada pelo médico. O dbito deve ser levado ao registro puiblico (art. 9°, inciso I, CC) e ser comprovado por meio da certidao respectiva, quando possivel. © SAIBA MAIS No que se refere a morte encefallica, cabe notar que o STF jd se pronunciou na Agao de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 54), no sentido de autorizar o aborto de feto anencéfalo, aquele desprovido do encéfalo ¢ da calota craniana, € interessante destacar, nessa oportunidade, que foi afastada a pretensdo de doagdo de érgaos de fetos anencéfalos, porque seria um contrassenso obrigar a mulher a manter a gravidez para viabilizar a doagao de érgos, © Cédigo também cita a chamada morte presumida, ou seja, hipéteses em que o legislador houve por bem considerar a pessoa como morta, dadas as circunstancias especiais de seu desaparecimento, que sao: Foto: Adobe.stock.com Se for extremamente provavel a morte de quem estava em perigo de vida (art. 7°, inciso I), casos de pessoas que estavam em locais de desastre, como acidentes aéreos, por exemplo; Foto: Adobe.stock.com Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, nao for encontrado até dois anos apés 0 término da guerra (art. 7°, inciso I). Existe também uma hipétese de morte presumida que se encontra na Lei n° 9140/45, que “reconhece como mortas pessoas desaparecidas em razo de participagao, ou acusagao de participagao, em atividades politicas, no periodo de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979". De acordo com 0 art. 3° deste diploma legal: (...) OQ CONJUGE, O COMPANHEIRO OU A COMPANHEIRA, DESCENDENTE, ASCENDENTE, OU COLATERAL ATE QUARTO GRAU, DAS PESSOAS NOMINADAS NO ART. 1° DA LEI, PODERAO REQUERER A OFICIAL DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS DE SEU DOMICILIO A LAVRATURA DO ASSENTO DE OBITO.” Nas trés hipéteses supracitadas, nao 6 necessario passar pelo longo procedimento judicial da auséncia, mas deve ser observado que somente com uma sentenca judicial declaratéria podera o interessado obter 0 registro de dbito no cartério, Nao se podendo presumir a morte nas trés hipsteses acima, ai, entéo, passamos a andlise do longo procedimento de presungao de morte por auséncia, que sé se efetiva quando da abertura da sucesso definitiva, consoante disposigao do art. 6° do CC. QUANDO, ENTAO, OCORRE A AUSENCIA? Ocorre a auséncia quando alguém desaparece do seu domicilio, sem dele haver noticia, se ndo houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-Ihe os bens (art. 22 do CC). Ainda que se tenha deixado mandatario, se este ndo quiser ou nao puder exercer ou continuar 0 mandato, ou caso tenha poderes insuficientes, também sera declarada a auséncia daquele que desapareceu do domicilio sem deixar noticias (art. 23 do CC). Apés 0 desaparecimento e nao ocorrendo hipétese de haver responsdvel deixado pela administragao dos bens, algum interessado ou o Ministério Public deverd requerer ao juiz que declare a auséncia (© juiz nomearé um curador, que poderd ser 0 cénjuge do ausente, sempre que néo esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaragao da auséncia ou, na falta do cénjuge, 08 pais ou descendentes, nessa ordem, ou na falta de todas essas pessoas, o juiz nomearé curador de sua confianga (art. 25, §§ 1° e 3° do CC). Decorrido um ano da arrecadagao dos bens do ausente, ou trés anos, caso tenha deixado representante ou procurador, podero os interessados requerer que se declare a auséncia e se abra provisoriamente a sucessao, A sentenga que determinar a abertura da sucessao proviséria sé produzira efeito cento e citenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-4 & abertura do testamento, se houver, e ao inventério e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido {arts. 26 e 28 do CC) Foto: Adobe.stock.com Caso finde o prazo do art. 26 (um ou trés anos) e ninguém requeira a abertura da sucesso proviséria, caberd entao ao Ministério Publico fazé-lo (art. 28, §1° do CC). Antes da partilha, o juiz, entendendo conveniente, ordenara a conversdo dos bens méveis, sujeitos a deterioragao ou a extravio, em iméveis ou em titulos garantidos pela Unido (art. 29 do CC). Por fim, conforme disposigao do art. 37 do CC, dez anos depois de passada em julgado a sentenga que concede a abertura da sucesso proviséria, poderao os interessados requerer a sucesso definitiva e © levantamento das caugées prestadas, de acordo com 0 art. 30 do CC. © ATENGAO Caso se prove que o ausente conta oitenta anos de idade, e que cinco datam as tltimas noticias dele, também se poderd requerer a abertura da sucesso definitiva (art, 38 do CC). E SE O AUSENTE REGRESSA? © que acontece nessa hipétese? Vejamos quando isso ocorre nos dez anos seguintes a abertura da sucesso definitiva ou apés esse periodo: ATE DEZ ANOS APOS DEZ ANOS ATE DEZ ANOS Se regressa nos dez anos seguintes a abertura da sucessao definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, o ausente ou estes s6 terao direito aos bens existentes no estado em que se acharem, ou aos sub-rogados em seu lugar, ou 0 prego que os herdeiros e os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo (art. 39 do CC). APOS DEZ ANOS Caso nao regresse 0 ausente em dez anos, e nenhum interessado promova a sucessdo definitiva, os bens arrecadados passaréio ao dominio do Municipio ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrigées, incorporando-se ao dominio da Unido, quando situados em territério federal {art. 39, paragrafo Unico, do CC). ETAPAS CONSIDERADAS NA AUSENCIA Considerando as minticias que envolvem a de auséncia, a seguinte tabela elaborada pela professora Camila Fortuna ajudara a visualizar as etapas que devem ser observadas pelo Juizo que trata da lide: Desaparece uma pessoa do seu domicilio sem dela haver noticia, se néo houver deixado representante, procurador ou mandatario (art. 22). ¥ Processo de decretagao de auséncia inicia a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Publico ao Juiz. Curador & nomeado (cdnjuge do ausente, sempre que nao esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos ou, caso nao haja cdnjuge, pais e descendentes, nessa ordem). Nao havendo nenhum desses interessados, juiz nomeia curador (arts. 24 a 25). vv SUCESSAO PROVISORIA Decorrido um ano da arrecadagao dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando trés anos, poderdo os interessados requerer que se declare a auséncia e se abra provisoriamente a sucessdo (art. 26) Sentenga (sé produz efeitos 180 dias depois da publicagao); Abre-se testamento (se houver), inventario e partilha de bens. (art. 28). 1- Legitimados para a abertura da sucessao: 1.a- Cénjuge; 1.b-0s herdeiros presumidos, legitimos ou testamentarios; 1.0-0s que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte e credores (art, 27). Caso estes nao 0 fagam, 0 Ministério Publico o fara (art. 28, §2°); 2-08 herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darao garantias da restituigao deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhdes respectivos (art. 30); 3+ Os ascendentes, os descendentes e 0 cénjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, poderdo, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente (art. 30, §2°). Regras quanto aos bens no processo de declaragao de auséncia: Os iméveis do ausente sé se poderao alienar, néo sendo por desapropriagéo, ou hipotecar, quando © ordene o juiz, para Ihes evitar a ruina (art. 31); Sucessores provis6rios séo os representantes para as agées (art. 32); Frutos e rendimentos pertencem ao descendente, ascendente ou cénjuge sucessores provisérios; 08 outros sucessores, porém, deverdo capitalizar metade desses frutos e rendimentos (art. 33). Etapa final da declaragao de ausén SUCESSAO DEFINITIVA Vv Vv Vv Vv Quanto tempo para requerer a sucessao definitiva? Dez anos depois de passada em julgado a sentenga que concede a abertura da sucesso proviséria art. 37) ou Provando-se que 0 ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as tltimas noticias dele (art. 38) E se, por acaso, o ausente retorna? Se retornam o ausente ou algum de seus descendentes ou ascendentes nos dez anos seguintes a abertura da sucesso definitiva: Terao sd os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o prego que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo (art. 39). E se ninguém requerer a sucessao definitiva no tempo de dez anos do transito em julgado da sentenga e 0 ausente nao regressar? Os bens arrecadados passarao ao dominio do Municipio ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrigdes, incorporando-se ao dominio da Uniao quando situados em territério federal {art. 39, paragrafo Unico). E valido lembrar que, mesmo que nao haja bens, a declaracao de auséncia é necessaria para que se operem efeitos nas relagées familiares do ausente, como bem trazem a baila Tepedino e Milena Donato Oliva (2021, p.123): OBSERVE-SE QUE A DECLARAGAO DE AUSENCIA SE JUSTIFICA MESMO QUE O AUSENTE NAO POSSUA BENS. NESSE CASO, NAO HAVERA A NOMEAGAO DE CURADOR, MAS APENAS A DECLARAGAO DE AUSENCIA. A DECLARAGAO DE AUSENCIA POSSUI EFEITOS PARA ALEM DA ESFERA PATRIMONIAL, DE QUE CONSTITUEM EXEMPLOS A REGRA DE QUE OS FILHOS MENORES SERAO POSTOS SOB TUTELA NO CASO DE OS PAIS. SEREM DECLARADOS AUSENTES (CC, ART. 1728, |), BEM COMO A DETERMINAGAO DE QUE, HAVENDO A AUSENCIA DE TUTOR, A OBRIGAGAO DE PRESTAR CONTAS PASSA AOS SEUS HERDEIROS OU REPRESENTANTES. (CC, art. 1759) VERIFICANDO O APRENDIZADO 1, ESTUDAMOS, NESTE MODULO, A PESSOA NATURAL. ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA A ESSE RESPEITO: ‘A) A pessoa natural 6 a pessoa do homem como ente juridico. B) Nem toda pessoa natural tem personalidade juridica. €) Personalidade juridica é a aptidéo para adquirir direitos e contrair deveres, na forma do art. 1° do Cédigo Civil D) A grande maioria dos doutrinadores brasileiros é adepta da Teoria Natalista. E) Para comprovar que houve nascimento com vida, utiliza-se o exame da docimasia hidrostatica de Galeno, capaz de evidenciar se houve respiragao extrauterina do feto. 2. SAO AFIRMATIVAS CORRETAS ACERCA DA AUSENCIA, EXCETO: A) Presume-se a morte por auséncia, quando da abertura da sucesso definitiva, consoante disposigao do art. 6° do CC, B) Dez anos depois de passada em julgado a sentenga que concede a abertura da sucesso proviséria poderdo os interessados requerer a sucesso definitiva e o levantamento das caugées prestadas. €) Caso se prove que 0 ausente conta oitenta anos de idade, e que cinco datam as tltimas noticias dele, também se podera requerer a abertura da sucesso definitiva D) O processo de declaragao de auséncia s6 é necessario quando o ausente deixa bens. E) Caso ndo regresse 0 ausente em dez anos, e nenhum interessado promover a sucesso definitiva, os bens arrecadados passarao ao dominio do Municipio ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrigdes, incorporando-se ao dominio da Unido, quando situados em territério federal. GABARITO 1. Estudamos, neste modulo, a pessoa natural. Assinale a alternativa incorreta a esse respeito: A altemativa "B " esta correta, Partamos de duas afirmagées. A primeira concerne ao fato de a pessoa natural, para a legislagao brasileira, ser toda pessoa fisica. A segunda: as pessoas sao detentoras da personalidade juridica, ou seja, a aptidao para adquirir direitos e contrair deveres, na forma do art. 1° do Cédigo Civil. Como se pode observar, 0 conceito de personalidade esta intimamente ligado ao conceito de pessoa. Logo: basta ser pessoa para ter-se personalidade juridica, afinal a personalidade independe de qualquer ato volitive do individuo. 2. Sao afirmativas corretas acerca da auséncla, exceto: Aaltemativa "D " esta correta. E valido lembrar que, mesmo que nao haja bens, a declaragdo de auséncia é necesséria para que se operem efeitos nas relagdes familiares do ausente, sendo exemplos: a regra de que os filhos menores serao postos sob tutela, no caso de os pais serem declarados ausentes (CC, art. 1728, |), bem como a determinagao de que, havendo a auséncia de tutor, a obrigagao de prestar contas passa aos seus herdeiros ou representantes (CC, art, 1759). MODULO 2 © dentificar as pessoas juridicas CONSTITUIGAO DA PERSONALIDADE JURIDICA Quando um grupo de pessoas se retine para determinada finalidade, necessidade que surge da dinamica social, forma uma entidade. A pessoa juridica pode ser definida como uma entidade capaz de titularizar direitos e obrigagées, dotada de subjetividade auténoma das subjetividades dos individuos que a oriaram. Assim é que o Cédigo Civil, no art, 49-A, dispde que “a pessoa juridica ndo se confunde com os seus sécios, associados, instituidores ou administradores”, © SAIBA MAIS A teoria albergada pelo atual Cédigo Civil para justificar a pessoa juridica ¢ da Realidade Técnica, que preconiza que a pessoa juridica ¢ fruto de uma realidade técnico-juridica, ou seja, a pessoa juridica néo existe por si prépria, como o ser humano, por existéncia real, mas sim, por forga de uma realidade idealizada. A subjetividade atribufda a pessoa juridica nao é natural, mas sim uma construgdo teérica elaborada pela mente humana. Recebe a pessoa juridica uma protegao constitucional, pois nosso ordenamento protege e estimula a livre iniciativa, fundamento da Republica (art. 1°, inciso, IV, da CRFB/88). Possui ainda autonomia patrimonial e organizacional para que possa cumprir a finalidade de fomentar o desenvolvimento socioeconémico numa sociedade. Neste tocante, a Lei n° 13.874/2019 incluiu o pardgrafo Unico, do art. 49-A no CC, assim consignando: (...) A AUTONOMIA PATRIMONIAL DAS PESSOAS JURIDICAS E UM INSTRUMENTO LICITO DE ALOCAGAO E SEGREGAGAO DE RISCOS, ESTABELECIDO PELA LEI COM A FINALIDADE DE ESTIMULAR EMPREENDIMENTOS, PARA A GERAGAO DE EMPREGOS, TRIBUTO, RENDA E INOVAGAO EM BENEFICIO DE TODOS. Justamente por apresentar a caracteristica da separagao patrimonial, a responsabilidade dos sécios administradores, em geral, sera limitada. Esse é 0 ensinamento trazido a lume pelos doutrinadores Cristiano Chaves ¢ Nelson Rosenvald (2021, p. 117), in verbis: Bem por isso, ndo é despiciendo destacar que, em nosso ordenamento juridico, vigora 0 sistema de responsabilidade subsidiéria e limitada do sécio, afastando-se do sistema de responsabilidade ilimitada que, seguramente, resultaria “em retragao econémica, derivada dos altos custos que antecederiam a implantagao de um empreendimento, nem sempre possiveis de serem arcados", como pondera, conjugando Direito e Economia, Irena Cameiro Martins (apud FARIAS; ROSENVALD, 2021, p. 495). Para constituir uma pessoa juridica, estabelece o art. 45 do CC que deverd ser levado a registro 0 ato constitutivo: (...) COMEGA A EXISTENCIA LEGAL DAS PESSOAS JURIDICAS DE DIREITO PRIVADO COM A INSCRIGAO DO ATO CONSTITUTIVO NO RESPECTIVO REGISTRO, PRECEDIDA, QUANDO NECESSARIO, DE AUTORIZAGAO OU APROVAGAO DO PODER EXECUTIVO, AVERBANDO-SE NO REGISTRO TODAS AS ALTERAGOES POR QUE PASSAR O ATO CONSTITUTIVO. Entdo, para que haja a personificagdo de um ente criado com determinado intuito na sociedade, 6 preciso que seja registrado o ato que constitui esta nova entidade: o ato constitutive. Somente quando cumprido o que a lei exige, 6 que nasce uma pessoa juridica formalmente constituida registro tem natureza constitutiva, e ndo meramente declaratéria, e, mesmo quando estivermos considerando um empresério rural ou sociedade empresaria rural, o registro manteré a natureza desta natureza, conforme preleciona o enunciado 202 do Conselho da Justiga Federal: “o registro do ‘empresdrio ou sociedade rural na Junta Comercial 6 facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o a0 regime juridico empresarial. & inaplicavel esse regime ao empresario ou sociedade rural que nao exercer tal op¢do" 1 ATENGAO Deve-se observar que, como preceitua o artigo mencionado, quaisquer alteragdes pelas quais passe ato que constitui a pessoa juridica deverao ser levadas ao cartério para averbagao. ‘© que exatamente constara desse ato constilutivo para que realmente possa ser criada a pessoa juridica? A resposta pode ser encontrada no art, 46 do CC e seus incisos: 1- A DENOMINAGAO, OS FINS, A SEDE, O TEMPO DE DURAGAO E O FUNDO SOCIAL, QUANDO HOUVER; Il-O NOME E A INDIVIDUALIZAGAO DOS FUNDADORES OU INSTITUIDORES, E DOS DIRETORES; Ill -O MODO POR QUE SE ADMINISTRA E REPRESENTA, ATIVA E PASSIVAMENTE, JUDICIAL E EXTRAJUDICIALMENTE; IV - SE O ATO CONSTITUTIVO E REFORMAVEL NO TOCANTE A ADMINISTRAGAO, E DE QUE MODO; V - SE OS MEMBROS RESPONDEM, OU NAO, SUBSIDIARIAMENTE, PELAS OBRIGAGOES SOCIAIS; VI - AS CONDIGOES DE EXTINGAO DA PESSOA JURIDICA E O DESTINO DO SEU PATRIMONIO, NESSE CASO. Agora vejamos outras duas questdes importantes acerca da pessoa juridica: LEVANDO-SE EM CONTA 0 PRINGIPIO DA EMPRESARIALIDADE RESPONSAVEL, COMO SERA FEITA A ADMINISTRAGAO DA PESSOA JURIDICA, NO QUE TANGE AO QUORUM PARA TOMADA DE DECISOES? E SE ALGUM ADMINISTRADOR VIOLAR A LEI OU ESTATUTO, OU A DECISAO ESTIVER EIVADA DE ERRO, DOLO, SIMULAGAO E FRAUDE? LEVANDO-SE EM CONTA O PRINCIPIO DA EMPRESARIALIDADE RESPONSAVEL, COMO SERA FEITA A ADMINISTRAGAO DA PESSOA JURIDICA, NO QUE TANGE AO QUORUM PARA TOMADA DE DECISOES? Se a pessoa juridica tiver administracao coletiva, as decisées se tomarao pela maioria de votos dos presentes, salvo se 0 ato constitutive dispuser de modo diverso (CC, art. 48), E SE ALGUM ADMINISTRADOR VIOLAR A LEI OU ESTATUTO, OU A DECISAO ESTIVER EIVADA DE ERRO, DOLO, SIMULAGAO E FRAUDE? Nessa hipétese, o legisiador conferiu ao interessado 0 prazo decadéncia de trés anos para que se anulem as decisées tomadas com esses vicios (CC, art. 48, pardgrafo unico). Caso a administragao da pessoa juridica venha a faltar, por qualquer motivo, para que nao fique a pessoa juridica sem este importante érgao, o juiz poder nomear administrador provis6rio (CC, art. 49). MODALIDADES E DOMICILIO DE PERSONALIDADE JURIDICA Delineados a conceituagao de pessoa juridica e seu modo de constituigao, resta analisar quais seriam as modalidades desse tipo de pessoa previstas no nosso ordenamento juridico. © Cédigo Civil dividiu as pessoas juridicas sob dois enfoques: Quanto a nacionalidade Podendo ser divididas em pessoa juridica nacional ou interna e pessoa juridica estrangeira ou extea Quanto a capacidade ou fungao Podendo ser nominadas de pessoas juridicas de direito piiblico e pessoas juridicas de direito privado (CC, art. 40). No que tange a nacionalidade da pessoa juridica NACIONAL OU INTERNA E aquela a quem foi atribuida a personalidade pelo direito brasileiro. ESTRANGEIRA OU EXTERNA E toda aquela que tem sua personalidade atribuida por direito estrangeiro, a quem obedecera as regras de constituigéo, modificagao e extingao. 1 ATENGAO Cabe ressaltar que, ainda que uma pessoa juridica tenha como sécios pessoas de outras nacionalidades que nao a brasileira, se esta vem a ser constituida no Brasil, a pessoa juridica sera nacional. No caso das pessoas juridicas constituidas sob a égide de lei estrangeira e com sede no exterior, somente poderdo funcionar no Brasil com a devida autorizagao do Poder Publica. Agora vejamos a classificacao das pessoas juridicas de direito publico € de direito privado PESSOAS JURIDICAS DE DIREITO PUBLICO ‘S40 aquelas regidas, em regra, pelo regime de direito piiblico, em especial pelo direito administrativo, PESSOAS JURIDICAS DE DIREITO PRIVADO ‘Sao regidas pelas leis civilistas ¢ legislagao referente ao direito empresarial As pessoas juridicas de direito puiblico sdo: a Unido, os Estados, o Distrito Federal e os Territérios, os Municipios, as autarquias, inclusive as associagées publicas e as demais entidades de carater pliblico criadas por lei (CC, art, 41 e incisos), Em consonéncia com a responsabilidade do Estado positivada no art. 37, §6°, da Carta Politica de 1988, © Cédigo Civil também dispés que “as pessoas juridicas de direito puiblico interno sao civilmente responsaveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo” (CC, art. 43). ‘So pessoas juridicas de direito puiblico externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional ptiblico (CC, art. 42) Sob o prisma da estrutura interna, pode-se nominar uma pessoa juridica com um patriménio destinado a determinada finalidade como: FIOCRUZ Fundagao Oswaldo Cruz Imagem: CNTSS — Confederagao Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social. Universitas bonorum, ou seja, uma universalidade (patriménio) destinada a proporcionar bem-estar coletivo em diversas dreas, como sao as fundagées, por exemplo. amazon ——— Imagem: Amazon / Wikimedia Commons / Dominio publico. Universitas personarum, isto 6, pessoas reunidas para uma finalidade em comum, preponderando a pessoalidade, tal como nas corporagées. UNIVERSITAS BONORUM Gira em torno de um patriménio destinado a um fim. UNIVERSITAS PERSONARUM E composta pela reuniao de pessoas (exemplo: associagées e sociedades). ‘Segundo o enunciado n° 144 da III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiga Federal, o rol apresentado pelo Cédigo Civil no art. 44 do CC para enumerar as pessoas juridicas de direito privado nao seria taxativo, in verbis: “A relacao das pessoas juridicas de direito privado constante do art. 44, ines. | a V, do Cédigo Civil ndo é exaustiva” Dessa maneira, levando-se sempre em consideracao a nao taxatividade do rol a seguir, tem-se, inicialmente, as seguintes pessoas de direito privado: 1- AS ASSOCIAGOES; Il - AS SOCIEDADES; Ill - AS FUNDAGOES; IV - AS ORGANIZAGOES RELIGIOSAS; V - OS PARTIDOS POLITICOS; VI - AS EMPRESAS INDIVIDUAIS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. Em leis esparsas, a doutrina traz ainda para conhecimento as seguintes pessoas juridicas de direito privado: Sindicatos Empresas puiblicas Sociedades de economia mista Cooperativas As associagées so corporagdes que nao tém finalidade lucrativa (CC, art. 53). Como exemplo, podemos citar as associagées estudantis ou de moradores do bairro. O fim visado é geralmente o bem- estar comum, o que ndo significa dizer, que ndo possa haver ganho financeiro em suas atividades, somente que estes ganhos deverdo reverter para as atividades da associagdo e nao para distribuigao entre associados. Foto: Adobe.stock.com Nao ha entre os associados obrigagées e direitos reciprocos (CC, art. 53, pardgrafo tinico). Devem ter iguais direitos, mas o estatuto podera instituir categorias com vantagens especiais (CC, art. 55), sendo a qualidade associado intransmissivel, caso o estatuto nao disponha diferentemente (CC, art. 56). No geral, em atendimento aos principios do contraditério e ampla defesa, a exclusao do associado $6 & admissivel havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto (CC, art. 57). [TAL DIREITO E] CLARA PROJEGAO DA TEORIA DA EFICACIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DE SEUS SOCIOS OU COMPONENTES. NESSA LINHA DE IDEIAS, E EVIDENTE QUE A EXCLUSAO DE ASSOCIADO DEVERA ATENDER AO GARANTISMO CONSTITUCIONAL, RESPEITADO O DEVIDO PROCESSO LEGAL, FACULTANDO A ELE O DIREITO DE SE DEFENDER AMPLAMENTE, PRODUZIR PROVA DE QUE AS IMPUTAGOES QUE LHE SAO FEITAS SAO IMPROCEDENTES, CONSTITUIR ADVOGADO ETC. (FARIAS E ROSENVALD, 2021, P. 505). ‘As fundagées, por seu turno, constituem um patriménio afetado para determinada finalidade religiosa, I. moral, cultural ou assisten 1 ATENGAO A doutrina ¢ unissona, no que tange a impossibilidade de se criar uma fundagdo para fins lucrativos. ‘A fundagao pode assumir feig&o publica ou privada (CC, art. 62 e paragrafo tinico). O ato que a constitu 6 formal, praticado pelo instituidor, que estabelece o fim para qual sera criada a pessoa juridica, Apés as fases de dotagao, ou de instituigéo e elaboragao de estatutos, havera a aprovagdo dos estatutos pelo Ministério Publico, se nao 0s tiver elaborado (CC, art. 66), @ posterior registro no Cartério do Registro Civil de Pessoas Juridicas Quanto a extingao da fundagao, tem-se que (conforme o Cédigo Civil, art. 69), 0 érgo do Ministério Publico, ou qualquer interessado, Ihe promoverd a extingdo, incorporando-se o seu patriménio, salvo disposigao em contrario no ato constitutive, ou no estatuto, em outra fundagao, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante, caso: Tome-se ilicita, impossivel ou inittil a finalidade a que visa, OU Tenha vencido 0 prazo de sua existéncia Sendo a Repiiblica Federativa do Brasil um estado laico, as organizagGes religiosas poderdo ser livremente criadas, organizadas, estruturadas internamente, sendo vedado ao poder publico negar-Ihes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessdrios ao seu funcionamento (CC, art. 44, §1°). Foto: Adobe.stock.com Quanto as pessoas juridicas nominadas como sociedades e as empresas individuais de responsabilidade limitada, seu estudo 6 objeto de direito empresarial. Os partidos politicos, por sua vez, tém estrutura e disciplina regida pela Lei n® 9.096/95, objeto de estudo do direito eleitoral. No video a seguir, a professora Camila Fortuna discorre sobre as pessoas juridicas e sua protegao. Vamos assistir! Para assistir a um video D>, sobre o assunto, acesse a io versao online deste contetido. O domicilio da pessoa juridica sera o de sua sede juridica, local onde sao exercidas as atividades habituais e de onde emanam os atos de gestdo. Ou, ainda, o domicilio sera aquele indicado nos atos constitutivos, consoante o disposto nos arts. 75, IV, 968, IV, e 969, combinando com o art. 1150 do Cédigo Civil. Tendo a pessoa juridica diversos estabelecimentos, em lugares diferentes, cada um deles sera considerado domicilio para os atos nele praticados (CC, art. 75, §1°) e se a administragao, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-4 por domicilio da pessoa juridica, no tocante as obrigages contraidas por cada uma das suas agéncias, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder (CC, art, 75, §2), sendo este ultimo 0 denominado domicitio legal. No que se refere as pessoas juridicas de direito puiblico, o art. 75 do CC estabelece 0 seguinte acerca do domictlio: Unido Domicilio: Distrito Federal Estados e Territorios Domicilio: a respectiva capital Municipio Domicilio: o lugar onde funcione a administragao municipal EXTINGAO DA PERSONALIDADE JURIDICA Para finalizarmos este médulo, devemos analisar como se extingue a personalidade da pessoa juridica. De modo geral, regularmente constituida através do registro, a pessoa juridica existird por prazo indeterminado, salvo se inicialmente suas atividades foram concebidas para durarem apenas por certo periodo de tempo previamente fixado ou até que implemente a condigdo para que ocorra o fim de sua existéncia, Assim podem ser sistematizadas as causas de extingdo da pessoa juridica: Dissolugdo convencional Porque os membros que se reuniram para criar a pessoa juridica assim decidiram (distrato). Dissolugdo administrativa Quando 0 Poder Publico entende necesséria autorizagao e esta no pode mais ser concedida por motivos legais. Dissolugao legal Quando a prépria lei dispde sobre alguma causa de extingao e, por fim, por falecimento de sécio, no caso de sociedades individuais. Tendo como vetores axiolégicos os principios da boa-fé objetiva, outra interessante causa de dissolugao de uma pessoa juridica é a violagao a fungao social. Os doutrinadores Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald trazem a seguinte lista de causas de extingao da pessoa juridica (FARIAS e ROSENVALD, 2021, p. 551): Pelo decurso de prazo (se constituida a tempo) Pela deliberacao da unanimidade dos sécios (caso tipico de distrato), nos termos do art. 1.033, II, da Lei Civil 3 Pela deliberacao da maioria absoluta dos membros, resguardados os direitos da minoria vencida, como reza o art. 1.033, II, da Lei Civil Pela falta de pluralidade de sécios, quando ndo vier a ser reconstituida no prazo de 180 dias, de acordo com 0 inciso IV, do multicitado art, 1.033 do Codex. Ou seja, pelo desaparecimento (declaragao de auséncia) ou morte dos sécios, sem que os herdeiros deles venham a prosseguir na atividade ‘empresarial 5 Pela perda da autorizagao para funcionar, nas hipéteses em que se faz necessaria a anuéncia governamental (CC, art. 1.033, V). Quando, constituida para atingir determinado desiderato, sua finalidade ja tenha sido atingida ou tenha se tornado ilicita ou impossivel 7 Pela verificagao de ser nociva ou impossivel a sua manutengdo, por decisao judicial, em agao promovida pelo Ministério Publico ou pelo interessado (que poderé ser um dos sécios ou mesmo terceiro). VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ESTUDAMOS, NESTE MODULO, O TEMA PESSOAS JURIDICAS. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA A ESSE RESPEITO: A) De forma geral, a existéncia da pessoa juridica ndo se da por prazo indeterminado. B) As associagdes nunca podem ter ganhos financeiros no desenvolvimento de suas atividades. €) Pessoa juridica é uma entidade que tem aptidao para titularizar direitos e obrigagdes. D) A personalidade da pessoa juridica se confunde com a personalidade das pessoas naturais que a compoem. E) E desnecessério o registro dos atos constitutivos da pessoa juridica para que esta adquira personalidade, 2. SAO PESSOAS JURIDICAS DE DIREITO PUBLICO, EXCETO: A) Municipios. B) Unido. ©) Distrito Federal. D) Estados. E) Associagées. GABARITO 1. Estudamos, neste médulo, o tema pessoas juridicas. Assinale a alternativa correta a esse respeito: Aalternativa "C " esta correta. Devido a necessidade decorrente da dinamica social, quando um grupo de pessoas se retine para determinada finalidade, forma-se uma entidade, A pessoa juridica pode ser definida como uma entidade capaz de titularizar direitos e obrigagées, na forma dos arts. 1° combinado com o art. 40 do CC. 2, Sao pessoas juridicas de direito publico, exceto: Aalternativa "E " esta correta. As associagées, por expressa disposigao legal (CC, art. 44, inciso 1) constituem pessoas juridicas de direito privado. Os demais entes citados na questdo sao pessoas juridicas de direito puiblico (CC, art. 41 ¢ incisos), MODULO 3 © Descrever a Teoria da Desconsideragao da Pessoa Juridica, seu cabimento e consequéncias CONCEITO E FUNGAO Com a aquisig&o da personalidade juridica por parte da entidade devidamente registrada, hd autonomia patrimonial em relagdo aos seus componentes. Ocorre que, por muitas vezes, esse escudo patrimonial acabou por ser utilizado para finalidades estranhas ¢ fraudatérias de direitos de terceiros, o que compeliu a doutrina e a jurisprudéncia a revisitarem a personalizagéo da pessoa juridica para atingimento da pessoa do sécio no que se refere ao patriménio em hipdtese de ocorréncia de abuso de direito. A esta teoria de origem anglo-saxé nominou-se teoria de desconsideragao da pessoa juridica, ou disregard of legal entity, lifting the corporate veil (traduzido como “levantando o véu da corporagao"), disregard theory (‘teoria da desconsideragao") ¢ ainda Teoria da Penetragao, Observe-se que 0 legislador patrio foi bastante enfético ao estabelecer a diferenciagdo das pessoas dos sécios ¢ da pessoa juridica no Cédigo Civil, e, recentemente, com a edigao da Lei n° 13,874/2019, frisou a importancia de que a autonomia patrimonial seja utilizada para finalidades licitas, sem abusos, consoante dic¢ao do art. 49-A, paragrafo Unico: A AUTONOMIA PATRIMONIAL DAS PESSOAS JURIDICAS E UM INSTRUMENTO LICITO DE ALOCAGAO E SEGREGAGAO DE RISCOS, ESTABELECIDO PELA LEI COM A FINALIDADE DE ESTIMULAR EMPREENDIMENTOS, PARA A GERAGAO DE EMPREGOS, TRIBUTO, RENDA E INOVAGAO EM BENEFICIO DE TODOS. Com a aplicagdo da referida teoria, visa-se a atribuir responsabilidade aos sécios ou administradores pela pratica de ato fraudulento ou abusivo, respondendo estes com seu patriménio pessoal. I ATENGAO Cabe frisar que ndo sera extinta a pessoa juridica, mas, na verdade, em relagdo a determinados atos praticados com desvio de finalidade ou pela confusao patrimonial, podera o juiz, a requerimento da Parte, ou do Ministério Publico quando Ihe couber intervir no proceso, desconsiderar a personalidade juridica para que os efeitos de certas e determinadas relagdes de obrigagdes sejam estendidos aos bens Particulares de administradores ou de sécios da pessoa juridica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso (CC, art. 50). Corroborando com o carater episédico e nao definitivo da desconsideragao da personalidade juridica, trazemos o seguinte ensinamento doutrindrio: A DESCONSIDERAGAO DA PERSONALIDADE JURIDICA SIGNIFICA, ESSENCIALMENTE, O DESPREZO EPISODICO (EVENTUAL), PELO PODER JUDICIARIO, DA PERSONALIDADE AUTONOMA DE UMA PESSOA JURIDICA, COM O PROPOSITO DE PERMITIR QUE OS SEUS SOCIOS RESPONDAM COM O SEU PATRIMONIO PESSOAL PELOS ATOS ABUSIVOS OU FRAUDULENTOS PRATICADOS SOB O VEU SOCIETARIO. ENFIM, E A PERMISSAO JUDICIAL PAR RESPONSABILIZAR CIVILMENTE O SOCIO, NAS HIPOTESES NAS QUAIS FOR O AUTENTICO OBRIGADO OU O VERDADEIRO RESPONSAVEL, EM FACE DA LEI OU DO CONTRATO. (FARIAS; ROSENVALD, 2021, p. 391) Aja referida Lei n° 13.874/2019, com a inclusao dos paragrafos no art. 50 do Cédigo Civil, houve por bem esclarecer (no paragrafo 2° e incisos) o que seria’ DESVIO DE FINALIDADE CONFUSAO PATRIMONIAL DESVIO DE FINALIDADE A utilizagao da pessoa juridica com o propésito de lesar credores ¢ para a pratica de atos ilicitos de qualquer natureza. CONFUSAO PATRIMONIAL A auséncia de separagao de fato entre os patriménios, caracterizada por: ()) cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigagées do sécio ou do administrador ou vice-versa; (Il) transferéncia de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestagées, exceto os de valor proporcionalmente insignificante; {IIl) outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. TEORIA MAIOR E TEORIA MENOR Quanto a teoria adotada no Cédigo Civil para formulagao da desconsideragdo, esta foi a Teoria Maior, que exige a demonstragao da ocorréncia de elemento objetivo relativo a qualquer um dos requisitos previstos na norma, caracterizadores de abuso da personalidade juridica, como: Imagem: Adobe.stock.com Excesso de mandato Imagem: Adobe.stock.com Demonstragao do desvio de finalidade Imagem: Adobe.stock.com Ato intencional dos sécios em fraudar terceiros com o uso abusive da personalidade juridica Imagem: Adobe.stock.com Demonstragao de confusdo patrimonial I ATENGAO A inexisténcia de bens penhordveis ou eventual encerramento irregular ndo ensejam a adogdo da desconsideragao da pessoa juridica. De outro giro, a mera existéncia de grupo econémico sem a presenca dos requisitos de que trata o precitado artigo 50 do CC, ou seja, desvio de finalidade ou ‘confusao patrimonial, também nao autoriza a desconsideragao da personalidade da pessoa juridica, bem como a mera expanséo ou a alteragao da finalidade original da atividade econémica especifica da pessoa juridica ndo configura, por si, desvio de finalidade (CC, §§ 4° e 5° do art. 50). No Cédigo de Defesa do Consumidor (Lei n® 8.078/90), entretanto, adotou-se a Teoria Menor (art. 28, §5°), ou seja, sempre que a personalidade juridica for obstaculo a protego do consumidor em caso de abuso da autonomia patrimonial no que tange a ocorréncia de prejuizos, adotar-se-é a disregard doctrine. MODALIDADES DE DESCONSIDERAGAO DA PERSONALIDADE JURIDICA Quando se abusa da autonomia patrimonial da pessoa juridica para encobrir atos fraudulentos ou abusivos da prépria entidade, atingindo o patriménio dos sécios, temos a aplicagao da teoria da desconsideracao da personalidade juridica propriamente dita, com previsao no caput do art. 50 do Cédigo Civil. Vejamos outras duas modalidades de desconsideragao da personalidade juridica: DESCONSIDERAGAO INVERSA Desconsidera-se a autonomia da pessoa juridica para obriga-la a assumir os efeitos patrimoniais dos atos levados a cabo pelos préprios sécios, que se valeram do véu protetivo da autonomia da pessoa juridica para prejudicar os seus credores pessoais, DESCONSIDERAGAO DA PERSONALIDADE JURIDICA INDIRETA OU AS AVESSAS Atualmente prevista expressamente no art. 50, § 3° do Cédigo Civil, por forga da Lei n° 13874/2019, ocorre sempre que um sécio ou administrador pratique atos de ocultagéo de bens pessoais no patriménio da pessoa juridica. © Consetho da Justica Federal, na IV Jomada de Direito Civil, assim formulou Enunciado sobre o tema: E CABIVEL A DESCONSIDERAGAO DA PERSONALIDADE JURIDICA DENOMINADA “INVERSA” PARA ALCANGAR BENS DE SOCIO QUE SE VALEU DA PESSOA JURIDICA PARA OCULTAR OU DESVIAR BENS PESSOAIS, COM PREJUIZO A TERCEIROS. A modalidade de teoria da desconsideragao inversa da personalidade juridica tem encontrado bastante amparo em sede de direito de familia, e, para exemplificar, traremos aqui uma hipétese de ocorréncia citada em julgado do Superior Tribunal de Justiga Foto: Adobe.stock.com “Transferéncia, pelo convivente, de quotas sociais a terceiros, mantendo-se, todavia, no comando das referidas empresas, com intuito de esvaziar patriménio e nao se sujeitar ao regime de bens da unido estavel e burlar eventual partilha’ (Agint no AREsp 1243409 / PR). Neste caso, a Corte de Justiga admitiu a aplicagao da modalidade de teoria em comento. Como esclarecem Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva (2021, p. 137-138), 0 juiz ndo podera ex officio, ou seja, sem que haja requerimento, aplicar a disregard doctrine, em qualquer modalidade, direta ou inversa: NOTE-SE QUE A DECISAO JUDICIAL DE DESCONSIDERAR A PERSONALIDADE JURIDICA NAO PODE OCORRER DE OFICIO, IMPONDO-SE O IMPRESCINDIVEL E EXPRESSO REQUERIMENTO DA PARTE OU DO MINISTERIO PUBLICO, SENDO CERTO QUE NAO HA HIPOTESE DE DESCONSIDERAGAO DA PERSONALIDADE JURIDICA SEM PRONUNCIAMENTO JURISDICIONAL. ALEM DISSO, EXIGE- SE DO INTERESSADO A PROVA DO DESVIO DE FINALIDADE OU DA CONFUSAO PATRIMONIAL, NAO BASTANDO A EXISTENCIA DE MEROS INDICIOS. TRATA-SE DE LIMITAGAO EXPRESSA NO EXERCICIO DO PODER DE DESCONSIDERAGAO, QUE SE EXPLICA JUSTAMENTE POR SUA EXCEPCIONALIDADE E PELA GARANTIA DE AUTONOMIA PATRIMONIAL DA PESSOA JURIDICA, EXPRESSAO DA TUTELA CONSTITUCIONAL DA LIVRE INICIATIVA. Desse modo, a teoria em aprego que, inicialmente, s6 previa a modalidade direta, ou seja, o atingimento de patriménio dos sécios ou administradores para arcar com atos praticados pela pessoa juridica em desvio de finalidade ou confusdo patrimonial, ganhou novos contornos para admitir a modalidade inversa. Isto 6, a possibilidade de atingimento do patriménio da sociedade em hipsteses em que 0 sécio ou 0 administrador escondem patrim6nio pessoal no patriménio da pessoa juridica. A doutrina ainda trata da desconsideragao expansiva da personalidade juridica, hipstese em que se desconsidera 0 patriménio da pessoa juridica e atinge-se 0 patriménio do sécio oculto, que, as vezes, configura-se com uma sociedade empreséria controladora. O Supremo Tribunal Federal aplicou a desconsideragao expansiva em caso paradigmatico. Segue ementa com grifos nossos: DECISAO “EMENTA: PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DESCONSIDERAGAO EXPANSIVA DA PERSONALIDADE JURIDICA. ‘DISREGARD DOCTRINE” E RESERVA DE JURISDIGAO: EXAME DA POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAGAO PUBLICA, MEDIANTE ATO PROPRIO, AGINDO “PRO DOMO SUA", DESCONSIDERAR A PERSONALIDADE CIVIL DA EMPRESA, EM ORDEM A COIBIR SITUACGOES CONFIGURADORAS DE ABUSO DE DIREITO OU DE FRAUDE. A COMPETENCIA INSTITUCIONAL DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIAO E A DOUTRINA DOS PODERES IMPLICITOS. INDISPENSABILIDADE, OU NAO, DE LE! QUE VIABILIZE A INCIDENCIA DA TECNICA DA DESCONSIDERAGAO DA PERSONALIDADE JURIDICA EM SEDE ADMINISTRATIVA. A ADMINISTRAGAO PUBLICA E O PRINCIPIO DA LEGALIDADE: SUPERAGAO DE PARADIGMA TEORICO FUNDADO NA DOUTRINA TRADICIONAL? O PRINCIPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA: VALOR CONSTITUCIONAL REVESTIDO DE CARATER ETICO-JURIDICO, CONDICIONANTE DA LEGITIMIDADE E DA VALIDADE DOS ATOS ESTATAIS. O ADVENTO DA LEI N° 12.846/2013 (ART. 5°, IV, “e", E ART. 14), AINDA EM PERIODO DE “VACATIO LEGIS" DESCONSIDERACAO DA PERSONALIDADE JURIDICA E O POSTULADO DA INTRANSCENDENCIA DAS SANGOES ADMINISTRATIVAS E DAS MEDIDAS RESTRITIVAS DE DIREITOS. MAGISTERIO DA DOUTRINA. JURISPRUDENCIA, PLAUSIBILIDADE JURIDICA DA PRETENSAO CAUTELAR E CONFIGURAGAO DO “PERICULUM IN MORA". MEDIDA LIMINAR DEFERIDA.” MS 32494 MC / DF - DISTRITO FEDERAL MEDIDA CAUTELAR NO MANDADO DE SEGURANGA Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 11/11/2013 Publicagao PROCESSO ELETRONICO Die-224 DIVULG 12/11/2013 PUBLIC 13/11/2013. Da referida decisao, para que melhor se compreenda a modalidade expansiva da teoria da desconsideragao da personalidade juridica, extraimos os seguintes trechos de relatoria do Min. Celso de Mello: Foto: Adobe.stock.com “(..) 75 ~ A aplicagao da teoria da desconsideragao da personalidade juridica tem por objetivo coibir 0 uso indevido da pessoa juridica, levada a efeito mediante a utilizagdo da pessoa juridica contraria a sua fungao social e aos principios consagrados pelo ordenamento juridico, afastando, assim, a autonomia patrimonial para chegar responsabilizaao dos sécios da pessoa juridica e/ou para coibir os efeitos de fraude ou ilicitude comprovada. 76 - A doutrina e a jurisprudéncia dos tribunais ja consideram que um desdobramento dessa teoria é a possibilidade de estender os seus efeitos a outras empresas, diante das circunstancias e provas do caso concreto especifico. Trata-se da teoria da desconsideragao expansiva da personalidade juridica da sociedade, terminologia utilizada pelo Prof. Rafael Ménaco (...). 77 - Com a teoria da desconsideragao expansiva da personalidade juridica, é possivel estender os efeitos da desconsideracao da personalidade juridica aos ‘sécios ocultos’ para responsabilizar aquele individuo que coloca sua empresa em nome de um terceiro ou para alcangar empresas de um mesmo grupo econdmico (...)" No video a seguir, a professora Camila Fortuna comenta sobre 0 conceito e as modalidades de desconsideracao da personalidade juridica. Vamos assistir! Para assistir a um video D>, sobre o assunto, acesse a ° versao online deste contetido. = RESPONSABILIDADE DA PERSONALIDADE JURIDICA Como ha autonomia patrimonial e organizacional das pessoas juridicas, decerto que respondem normalmente pelos seus atos com seu patriménio social de forma auténoma, ndo se podendo, em praticas regulares de atos pela entidade, haver responsabilizagao de sécios. Neste tocante, sobre a autonomia patrimonial da pessoa juridica, temos de repisar o contetido do art. 49-A do CC, que assim estabelece: “a pessoa juridica nao se confunde com os seus sécios, associados, instituidores ou administradores’, A pessoa juridica, nas suas préticas rotineiras, pode praticar atos que venham a ferir a esfera juridica de outras pessoas, sejam elas naturais ou juridicas também, o que ocasionara o dever de reparagao integral, consoante disposicao do art. 173, § 5° da Carta Politica de 1988: A LEI, SEM PREJUIZO DA RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL DOS DIRIGENTES DA PESSOA JURIDICA, ESTABELECERA A RESPONSABILIDADE DESTA, SUJEITANDO-A AS PUNIGOES COMPATIVEIS COM SUA NATUREZA, NOS ATOS PRATICADOS CONTRA A ORDEM ECONOMICA E FINANCEIRA E CONTRA A ECONOMIA POPULAR. Se a pratica de atos pelos administradores foi levada a cabo dentro dos limites impostos pelos atos constitutivos, fica a pessoa juridica obrigada pelos atos dos seus administradores (CC, art. 47) Essa responsabilidade sera de natureza subjetiva, devendo ser provados a conduta, 0 dano e 0 nexo de causalidade entre a conduta praticada em nome da pessoa juridica e o dano sofrido por quem se alega vitima, Se ocorre, no entanto, pratica pelos administradores de ato que extrapola os atos constitutivos ou a representago que Ihe for conferida, a doutrina mais abalizada nos informa que deverd ser adotada a teoria da aparéncia, pois, perante a sociedade, os administradores “aparentam” deter poderes para entabular as negociagdes em nome da pessoa juridica, e, a menos que se prove que a parte lesada tinha expressa ciéncia da impossibilidade de pratica de determinado ato, a pessoa juridica deverd responder também pelo ato praticado com excesso ou abuso de direito. Nessa linha de raciocinio ora apresentada, tem-se a seguinte ementa de julgado do Superior Tribunal de Justiga’ PROCESSUAL CIVIL. CONSORCIO. TEORIA DA APARENCIA. LEGITIMIDADE PASSIVA RECONHECIDA. A EMPRESA QUE, SEGUNDO SE ALEGOU NA INICIAL, PERMITE A UTILIZAGAO DA SUA LOGOMARCA, DE SEU ENDEREGO, INSTALAGOES E TELEFONES, FAZENDO CRER, ATRAVES DA PUBLICIDADE E DA PRATICA COMERCIAL, QUE ERA RESPONSAVEL PELO EMPREENDIMENTO CONSORCIAL, E PARTE PASSIVA LEGITIMA PARA RESPONDER PELA AGAO INDENIZATORIA PROPOSTA PELO CONSORCIADO FUNDAMENTADA NESSES FATOS. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (RESP 139.400/MG, REL. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, JULGADO EM 03/08/2000, DJ 25/09/2000, P. 103) (GRIFOS NOSSOS) 1 ATENGAO Faz-se imprescindivel ressaltar que a supracitada responsabilidade subjetiva encontra temperamentos também no art. 927, paragrafo Unico, do Cédigo Civil, que dispde que, dependendo da atividade exercida, “quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem (...) haverd obrigagao de reparar o dano, independentemente de culpa” Quando a pessoa juridica for uma sociedade empresaria, haveré responsabilizagao objetiva, na forma do art. 931 do Cédigo Civil No que concerne as pessoas juridicas de direito ptiblico, hé previsdo de responsabilidade no art. 37, §6° da CRFB/88 no sentido de que “responderao pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem Na a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsavel nos casos de dolo ou culpé mesma linha de entendimento, o art. 43 do CC frisou a responsabilidade civil das pessoas juridicas por atos dos seus agentes contra terceiros, ressalvado o direito de regresso, se houver. I ATENGAO ‘Somente em hipéteses em que provar culpa exclusiva da vitima, fato de terceiro, caso fortuito ou forga maior as pessoas juridicas de direito ptiblico serao exoneradas de responsabilizagao. Caso haja desconsideragao da personalidade juridica, como jé exposto, a autonomia patrimonial da pessoa juridica restara mitigada, atribuindo-se responsabilidade aos sdcios ou administradores pela pratica de ato fraudulento ou abusivo, respondendo estes com seu patriménio pessoal. Foto: Adobe.stock.com VERIFICANDO O APRENDIZADO 4. ESTUDAMOS NESTE MODULO A DESCONSIDERAGAO E RESPONSABILIDADE DA PERSONALIDADE JURIDICA. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA A ESSE RESPEITO: A) Responderao pelos atos praticados pela sociedade, de maneira geral, os sdcios que compéem a entidade. B) A origem da teoria da desconsideracao da personalidade juridica é italiana. C) Com a aplicagao da teoria da desconsideragao da personalidade juridica direta, visa-se a atribuir responsabilidade aos sécios ou administradores pela pratica de ato fraudulento ou abusivo, respondendo estes com seu patriménio pessoal. D) Quando 0 juiz determina a aplicagéo da desconsideragao da personalidade juridica, extingue-se automaticamente a existéncia da pessoa juridica. E) 0 ordenamento juridico patrio nao admite a modalidade inversa da teoria da desconsideragao da personalidade juridica, isto é, a possibilidade de atingimento do patriménio da sociedade em hipsteses ‘em que 0 sécio ou administrador esconde patrimdnio pessoal no patriménio da pessoa juridica 2. ACERCA DA TEORIA DA DESCONSIDERACAO DA PERSONALIDADE JURIDICA E INCORRETO AFIRMAR QUE: A) O Cédigo Civil, assim como 0 Cédigo de Defesa do Consumidor, adotou a Teoria Menor da desconsideragao da personalidade juridica. B) O Cédigo Civil prevé a aplicagdo da teoria da desconsideragao da personalidade juridica no art. 50. ©) A disregard doctrine tem origem anglo-saxé. D) Existe também a modalidade indireta da teoria da desconsideragao da personalidade juridica, que encontra previsao no art. 50, §3, do CC. E) Aplica-se a teoria pelo Poder Judiciario, a requerimento da parte, ou do Ministério Publico quando Ihe couber intervir no processo. GABARITO 1. Estudamos neste médulo a desconsideragao e responsabilidade da personalidade juridica. Assinale a alternativa correta a esse respeito: Aalternativa "C " esta correta. E 0 que preconiza 0 art. 50 do CC, que acabou por albergar a teoria da desconsideragao da personalidade juridica construida pela doutrina e jurisprudéncia: “em caso de abuso da personalidade juridica, caracterizado pelo desvio da finalidade, ou pela confuséo patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Publico quando Ihe couber intervir no proceso, que os efeitos de certas e determinadas relagdes de obrigagdes sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sécios da pessoa juridica” 2. Acerca da teoria da desconsideragao da personalidade juridica é INCORRETO afirmar que: A alternativa “A esta correta. © Cédigo Civil, contrariamente ao que foi adotado no Cédigo de Defesa do Consumidor, adota a Teoria Maior da desconsideragao da personalidade juridica. CONCLUSAO CONSIDERAGOES FINAIS ‘Como vimos, a pessoa, seja ela natural ou juridica, o sujeito das relagées no Direito. A personalidade, atributo essencial, no caso das pessoas naturais, comega do nascimento com vida, e, no caso das pessoas juridicas, com o registro dos atos constitutivos na serventia com atribuigao. I ATENGAO A personalidade deve sempre ser analisada pelo viés humanizante dos influxos da constitucionalizagéo do Direito, com a aplicagao direta de normas constitucionais, como aquela constante do artigo 1°, inciso Ill, que traz a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da Repiiblica. Deve-se atentar para 0 fato de que o rol de direitos de personalidade do Cédigo Civil nao é taxativo e, considerando as conquistas histéricas e progressivas do homem em relag4o a sua individualidade, mais mais direitos de personalidade surgiro em relago a protegdo identitaria e outras searas, Quanto ao nome, subdivido em prenome e sobrenome, e ao pseudénimo especificamente, ha amparo nos arts. 16 a 19 do Cédigo Civil de 2002, A pessoa juridica também foi objeto de estudo, podendo ser definida como uma entidade capaz de titularizar direitos e obrigagées, dotada de subjetividade auténoma das subjetividades dos individuos que a criaram. ® COMENTARIO © Cédigo Civil deu bastante realce ao aspecto da autonomia patrimonial e organizacional da pessoa juridica, com recente insergao no art. 49-A do seguinte preceit : “a pessoa juridica nao se confunde com 0s seus sécios, associados, instituidores ou administradores” A protego contra 0 abuso da personalidade juridica, por sua vez, recebeu protegao do Cédigo Civil através da positivagao da disregard doctrine, no art. 50, e art. 50, §3. Bastante comentada pela doutrina e de presenga recorrente nos nossos tribunais, vem a combater a utilizagao da personificagéo da entidade para amparar fins fraudulentos. Para ouvir um podcast sobre o assunto, acesse a versao online deste contetido. REFERENCIAS BEVILAQUA, C. Teoria geral do Direito Civil. Campinas: Red Livros, 1999. FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil: parte geral e LINDB. 19. ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2021. GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Ci 8. ed. Sao Paulo: Saraiva, 2007. GONGALVES, C. R. Direito Civil Brasi iro: parte geral. 11. ed. Sao Paulo: Saraiva, 2013, PEREIRA, C. M. da S. Instituig6es de Direito Civil, vol. 1. 25. ed., revista e atualizada por Tania da Silva Pereira (verso digital). Rio de Janeiro: Forense, 2017. SCHREIBER, A. Manual de Direito Civil contemporaneo. 3. ed. (versdo digital). Séo Paulo: Saraiva Educagao, 2020. icionais e TEPEDINO, G. Normas con: fo Civil na construgao unitaria do ordenamento, In: Temas de Direito Civil, III. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. TEPEDINO, G.; OLIVA, M. D. Fundamentos do Direito Civil, vol. 1. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. EXPLORE+ Veja as sugestées de leitura: Direito civil brasileiro: parte geral, de Carlos Roberto Gongalves (Editora Saraiva Educagéo); Pessoa e Direitos de Personalidade: fundamentacao ontoldgica da tutela, de Diogo Costa Gongalves (Editora Almedina) CONTEUDISTA Camila Fortuna @& CURRICULO LATTES

Você também pode gostar