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TUAR OU NÃO TUAR

Como toda a linguagem, as formas de tratamento estão sempre a mudar. Na pele de


professor universitário fui tendo a vantagem, em contacto com diferentes gerações, de ir
percebendo essa dinâmica, adaptando-me aos novos processos. Termos que caíram em
desuso enquanto outros emergiam, frases que se foram tornando cliché, pressupostos que
deixaram de o ser. Nesse contexto de mudança mantive sempre, todavia, um determinado
cuidado: salvo se conhecesse o aluno ou a aluna «de outros carnavais», jamais tratei por tu
quem me escutava na sala de aula.
Mesmo fazendo parte da geração que elegeu o «tu» como maneira democrática de abordar o
próximo, sempre vi essa forma de tratamento como algo que, naquele contexto específico,
poderia dar maus resultados: para o professor por perder o grau de relativo distanciamento
que requer a sua atividade, e para o aluno por sujeitar-se a ser desrespeitado por alguém que
se comporta como «superior». Quando fui aluno da universidade - obviamente, no básico e
no secundário a relação era/é outra - cheguei a deixar de frequentar as aulas de um professor
que se me dirigia nesses termos, sabendo eu que não poderia fazer o mesmo de volta.
Neste espaço da comunicação em linha, sendo diferente a realidade múltipla do contacto
pessoal, este princípio aplica-se na mesma: jamais trato por tu quem não conheço
pessoalmente ou alguém com quem não acamarado na vida ou pelas ideias. É claro que
quando passarmos a vias de facto essa possibilidade fica logo em aberto.

Rui Bebiano

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