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RELATORIO CONSIDERACOES SOBRE O ESTAGIO ATUAL DAS NEGOCIACOES EM TORNO DA REGULAMENTAGAO DA TV A CABO O processo de negociagao da regulamentago da TV a Cabo chegou a uma situagdo inusitada: trés dos quatro membros (Carlos Eduardo Zanatta, da assessoria da bancado do PT na Camara, Murilo Ramos, professor da UnB ¢ da Unicamp; e Daniel Herz, da FENAJ) da Comissdo de Negociagao in- dicada pelo Forum declaram que os objetivos do Férum foram aleangados num texto elaborado, em sua forma final, com os representantes da Asso- ciagao Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), Em contrapartida, 0 quarto membro (José Palacio Guimardes Neto, da FIT- TEL) da Comissio de Negociago ¢ os representantes da Telebras conside- ram que este texto é inadequado. Este relatério contém a versdo dos trés membros que estio defendendo o acordo, nas bases acertadas com o empresariado da ABTA. Num processo em que a Comissdo de Negociagdo comegou cerrando fileiras com a Tele- ris, estes trés membros chegam, agora, 4 dura conclusdo de que para de- fender seus "legitimos interesses", a Telebrs consegue ser "menos pi- blica", do que as organizacées Globo esto se dispondo a ser, na regu- lamentacao da TV a Cabo. Esta situagao, aparentemente paradoxal, & aqui apresentada para debate do Forum, por iniciativa dos referidos trés membros da Comissdo de Negocia- io. Brasilia, 16 de maio de 1994 CONSIDERACOES SOBRE O ESTAGIO ATUAL DAS NEGOCIACOES EM TORNO DA REGULAMENTAGCAO DA TV A CABO 1. INTRODUCAO 0 terreno da desinformagio Em uma das sessbes do 26° Congreso Nacional dos Jomalistas, realizado de 19 a 23 de abril em Curitiba, um dirigente da Federagio Interestadual dos Trabalhadores de Telecomu- riicagSes (FITTEL) percorreu os bastidores criticando a posigtio da FENAJ e do Forum, que ‘stariam "agindo contra o monopélio estatal das telecomunicagbes" e "defendendo a introdu- ‘#0 de tecnologia atrasada" na implantagfio da TV a Cabo no Brasil. Essa interpelagto pro- ‘ocou perplexidade em muitos jomalistas. No mesmo dia, os jomnalistas envolvidos na nego- ciag8o da regulamentagdo da TV a Cabo reuniram-se com o dirigente da FITTEL e consta- taram que j6 hd uma onda de boatos e interpretagdes calcadas na desinformagdo, 0 que s6 contribui para criar uma clima emocional ¢ prejudicial ao adequado equacionamento dos confltos ¢ contradigdes. Nao temos certeza se 0 dirigente da FITTEL convenceu-se do méri- to das posigies que a dirego da FENAJ vem defendendo sobre este tema mas, com certe- za, percebeu que o assunto ¢ mais complexo do que parece e que hi desinformagto dificul- tando o debate. Registre-se também a franqueza ¢ honestidade do dirigente da FITTEL que reconheceu estar, até entio, mal-informado sobre o assunto ‘Temos a lamentar que uma discussto complexa como esta comece a ser tratada com invoca- Ges dogmiticas, de sentido quase religioso, como se "sera favor do monopélio" fosse uma interpretacio univoca, ¢ identifcasse 0 "partido do bem", em contraposig80 20 “partido do mal". No que se refere & questio da TV a Cabo, als, veremos que mesmo sinceros e ardo- rosos defensores do monopélio, a recentemente, nfo foram mais do que omissos diante de ‘uma disputa que se desenvolve ha vinte anos e agora assumem pose de so "os dnicos' pa- ‘wiotas e preocupados com os interesses do pais. E necessério discutir intensa e profunds- mente 0 assunto, mas sio dispensiveis cenas de “heroismo de iltima hora’. Este relatério tem a finaidade de produzir uma interpretagto sobre o atual estigio das nego- ciagBes da regulamentag8o da TV a Cabo. A situagio criada, ene o final de abril e o inicio de maio, talvez deixe alguns perplexos: tés representantes do Forum, inclusive 0 represen- tante da FENAJ, estio dando por fechado 0 acordo com 0 empresariado de comunicagéo, sem que fosse alcangada uma composigo com a Telebrés, que abandonou as negociagées, Isto é estes representantes do Férum e do empresariado de DISTV entendem que jé hd uma formulagio satisfatéria para a regulamentagdo da TV a Cabo. E a Telebris nfo’ concorda Este € 0 inusitado desfecho de um processo de negociagio iniciado em novembro do ano passado e acelerado a partir de margo deste ano. Este relat6rio procura interpretar esta situa- fo que é, de certa forma, surpreendente, mas nfo de todo imprevist. Para os que necessitam uma rememoragio dos episédios envolvendo a disputa da TV a Ca- bo, recomendamos a leitura, na sequéncia, da parte Il, deste relatério, que apresenta uma ais memiéria sintética dos fatos. Para os que esto atualizados em relago aos fatos, recomenda- se ir direto & parte TI, que analisa a situago atu Il. SOLUCAO A VISTA, APOS VINTE ANOS DE DISPUTA ‘A luta por uma implantagSo democritica da TV a Cabo dura exatamente duas décadas: em 1974 verifies 2e © primeiro movimento da sociedade para impedir uma nogociata entre © Ministério das ComunicagSes e grandes empresas de comunicario (entre as quais a Globo) 0 plano era baixar por decreto uma regulamentagio e implantar de surpresa 0 projeto, en- ‘regando © mercado para os grupos envolvidos. Desde 1974, sucederam-se diversos rounds desta disputa. A fase atual da disputa iniciou em 1989, Em 13 de dezembro de 1989, no apagar das tuzes do governo Samey, foi baixada pelo Mi- nistro das ComunicagBes (Anténio Carlos Magalhies) a Portaria 250, que “inventou" um ser- vigo chamado DISTV (Distribuiglo de Sinais de TV por Meios Fisicos), Trata-se de uma “TV a Cabo disfarcada", com a inequivoca finalidade de criar uma situago de fato e garan- tir a implantago de redes que, depois, seriam transformadas em TV a Cabo. © govemo Collor passou a fazer uma farta distrbuigao de sutorizagses de DISTV. Hoje sto 106 autorizagBes que foram outorgadas originalmente, em sua maioria, para pequenas em- presas, sem tradicio na area da comunicapio. As autorizapées foram distribuidas sem licita- 0, sem fixagdo de prazo de validade e diversas outras irregularidades. Outra portaia, em 1991, fez cessar 0 recebimento de novos pedidos. Em 1991, a Secretaria Nacional de ComunicagSes (sucessora do Ministério das Comunica- es no governo Color) baixou uma proposta de norma que, se aprovada, possibilitaria a transformagSo dos operadores de DISTV em operadores de TV a Cabo, com autorizagio ex- plicita para prestar até servigos de telecomunicagdes, 0 recém-criado Férum Nacional pela Democratizagdo da Comunicagdo interviu na audiéncia piblica que discutiu a proposta de norma da SNC. Na oportunidade, o Férum solicitou que fosse aberto um processo de negociagio sobre a matéria e anunciou que bloquearia qualquer tentatva de regulamentagHo por Portaria ou Decreto, A proposta nfo foi aceita pela SNC © Forum passou a bloquear as tentativas da SNC em legislar por Decreto. Enquanto este bloqueio era bem sucedido, 0 Férum apresentou, através do deputado Tilden Santiago (PT-MG) o projeto de lei 2.120, regulamentando o servigo de Cabodifusso. A crise do governo Collor acabou deixando tudo em suspenso. Dando sequéncia a tramita- ‘¢%0 do projeto 2,120/91, a deputada Irma Passoni, entio presidente da Comissaio de Ciencia, Tecnologia, Comunica¢do € Informética da Camara dos Deputados, criow uma Comissdo In- formal de Assessoramento para recolher subsidios e opinibes sobre 0 projeto do deputado Tilden Santiago. Essa Comissao Informal de Assessoramento foi integrada por setores em- presariais da Area da comunicacio (Associagto Brasileira de Emissoras de Radio e Televisio = ABERT, Rede Globo, Globosat, TV Abril, Rede Brasil Sul de Comunicagées - RBS), iistrias de telecomunicagses (grupo ABC-Algar), operadores de DISTV (ABRACOM), em- presas instaladores de redes de telecomunicagdes (ABECORTEL), Férum Nacional pela De- mocratizago da Comunicasdo, Universidade de Brasilia - UnB, Ministério das Comunica- e6es Telebris, Este trabalho durou até margo de 1993, quando a deputada Irma Pessoni foi substituida pelo

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