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GEOPOLÍTICA DE ITAIPU: DA AMEAÇA DE GUERRA ENTRE BRASIL E

PARAGUAI (1965-1966) AO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA


REGIONAL
Geopolítica de Itaipu: Da ameaça de Guerra entre Brasil e Paraguai (1965-1966) ao
Processo de Cooperação e Integração Energética Regional
Prof.a Me. Angela M. Ferreira Silva 1
Prof. Dr. Lucas Kerr de Oliveira 2
Nayane Camara Rosario 3
Soraya Silva Jordan 4
RESUMO
Nos últimos séculos os principais conflitos e guerras sul-americanas ocorreram no Cone Sul,
especialmente na Bacia Platina, envolvendo disputas diplomáticas e militares pelo controle
recursos hídricos e fronteiras (hídricas e terrestres) desta importante bacia hidrográfica. Ao
longo dos últimos séculos diversos conflitos marcaram as disputas pela delimitação das
fronteiras e pelo controle de áreas estratégicas da Bacia Platina, geralmente evoluindo para
confrontos armados, como a Guerra Cisplatina, a Guerra do Prata, a Guerra do Paraguai e a
Guerra do Chaco. Contudo, a resolução dos últimos conflitos geopolíticos, envolvendo
principalmente Brasil e Paraguai (1964-1966), mas também a Argentina (1973-1979),
resultaram em uma inflexão em relação à tendência histórica de confronto. A resolução da
disputa passou pela criação de um novo processo de cooperação em torno dos Tratados de
Itaipu (1973), em seguida, o Tratado Tripartite Itaipu-Corpus (1979) e a construção das usinas
binacionais de Itaipu e Yacyretá, reduziam significativamente as disputas entre Brasil e
Argentina na “questão” Itaipu-Corpus e estabelecia um novo período de cooperação bilateral
que, consolidado pelo apoio brasileiro às reivindicações argentinas nas Malvinas, daria grande
impulso à integração regional, com a posterior criação do Mercosul. Subsequentemente, a
construção da Usina de Itaipu resultou em um significativo impacto socioeconômico na região
da Tríplice Fronteira, ampliando e aprofundando a complexidade das relações entre estes
países, especialmente Brasil-Paraguai. Desse modo, pode-se dizer que a Usina de Itaipu, em
seu formato Binacional, ajudou a resolver uma das últimas disputas territoriais da região,
viabilizando um novo ciclo de cooperação em torno do aproveitamento dos recursos hídricos
da Bacia Platina. Nesse contexto, a Integração Energética e da Infraestrutura (binacional e

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Angela Maria Ferreira Silva, é Mestra em Estudos Interdisciplinares Latino-Americanos (PPG-IELA) pela UNILA, Bacharel em
Turismo. Foi docente no Curso de Turismo da UDC e atualmente é Pesquisadora Colaboradora do Núcleo de Estudos
Estratégicos, Geopolítica e Integração Regional (NEEGI), da UNILA. E-mail: <angelamfs@gmail.com>

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Lucas Kerr Oliveira, é Doutor em Ciëncia Política, Mestre em Relações Internacionais pela UFRGS e docente de ensino
superior no Bacharelado em Relações Internacionais e Integração e, também, no Programa de Pós -Graduação em Integração
Contemporânea na América Latina, PPG-ICAL da UNILA. Atualmente é Coordenador do Núcleo de Estudos Estratégicos,
Geopolítica e Integração Regional (NEEGI), da UNILA. E-mail: <lucas.oliveira@unila.edu.br>

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Nayane Camara Rosário, é Bacharel em Administração pelo Centro Universitário Dinâmica das Cataratas (UDC), Pós -
Graduanda em Relações Internacionais Contemporâneas pela UNILA. É Pesquisadora Colaboradora do Núcleo de Estudos
Estratégicos, Geopolítica e Integração Regional (NEEGI), da UNILA. E-mail:
< nayanerosario@gmail.com >

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Soraya Silva Jordan, é Graduanda em Relações Internacionais e Integração pela UNILA e pesquisadora colaboradora junto
ao Núcleo de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração Regional (NEEGI), da UNILA.. E-mail: angelicasj97@gmail.com 

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regional) tem se mostrado uma variável determinante para reduzir os conflitos e favorecer a
estabilidade dos processos de cooperação de longo prazo, assim como a consolidação da
integração regional.
Palavras-Chave: Geopolítica, Itaipu Binacional, Integração Energética Regional.

1. Conflitos pelo controle dos recursos hídricos da Bacia do Paraná: breve


descrição sob uma perspectiva de longa duração

Historicamente, as grandes disputas sul-americanas deram-se em torno da Bacia Platina


e da Bacia Amazônica. Enquanto a Bacia Amazônica acabou sendo controlada,
predominantemente, pelos portugueses, a Bacia Platina, foco das tensões e disputas mais
intensas, até o século XIX, pode ser considerada o centro das disputas do Cone Sul do
continente. No século XX, a situação das disputas de fronteira, no Cone Sul, se mantém
relativamente estável, apesar de algumas oscilações e períodos de maiores tensões na região.
As disputas fronteiriças acabaram sendo gradativamente substituídas pelas disputas
geopolíticas, especialmente disputas por influência entre Brasil e Argentina na Bacia Platina.
Comparativamente, ao menos até o século XIX, não haviam grandes tensões ou disputas
geoestratégicas tão intensas na Amazônia.
A partir dos anos 1960, essa situação começa a se inverter, na medida em que boa parte
das atenções que o Brasil brinda às suas fronteiras voltam-se para a questão da Amazônia e das
fronteiras amazônicas. Em grande medida, isso ocorre devido à intensificação dos discursos
de líderes das grandes potências em defesa da internacionalização da Amazônia. Por outro lado,
essa mudança foi resultado, também, do fim das últimas grandes disputas pelo controle dos rios
e das bacias hidrográficas que compõem a grande Bacia Platina. As disputas com o Paraguai
foram solucionadas nos anos 1960, com a assinatura da Ata das Cataratas (1966), que deu fim
ao litígio territorial entre os dois países prevendo que a área contestada seria inundada sob a
represa de Itaipu. As tensões com a Argentina, em torno da questão do uso dos recursos hídricos
da Bacia do Paraná, acabaram solucionadas através do Tratado Tripartite Itaipu-Corpus,
assinado em 1979. Esses processos acabaram por solucionar algumas das tensões regionais, ao
resolver alguns dos nossos últimos conflitos com esses países vizinhos, os quais ainda eram
ligados às questões fronteiriças, especificamente a questão do uso dos recursos hídricos
transfronteiriços.

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Nos anos 1970, tais tensões se dissiparam, especialmente devido à série de acordos
bilaterais e trilaterais firmados nos anos 1960 e 1970 entre Brasil, Paraguai e Argentina. Estes
acordos viabilizaram, por exemplo, a construção de Itaipu, que resolveu as últimas disputas
territoriais ou sobre a questão do uso dos recursos hídricos transfronteiriços que o Brasil ainda
tinha com o Paraguai e com a Argentina. O fim dessas tensões foi determinante para viabilizar
a re-aproximação entre esses países, que hoje são parceiros estratégicos do Brasil no Mercosul.
Com o fim destas disputas, ocorre uma lenta e gradativa melhoria nas relações do Brasil com
a Argentina, que se aprofunda ao longo dos anos 1980.
O processo de distensionamento das relações Brasil e Argentina se acelera ainda mais
a partir da Guerra das Malvinas (1982), apenas três anos após a assinatura do Tratado Tripartite.
A partir deste período assistimos, na prática, uma aliança entre o Brasil e a Argentina, que
permanece até hoje. Esta aliança política e estratégica viabilizou as negociações de acordos
econômicos nos anos 1980 e posteriormente sustentou a criação do MERCOSUL. É
interessante notar como esses dois países que talvez fossem os maiores rivais dentro da
América do Sul, no âmbito geopolítico, ao acordarem sobre o compartilhamento de recursos
naturais estratégicos antes disputados (água), passaram a cooperar e se tornaram aliados.
Obviamente, o apoio do Brasil à Argentina na Guerra das Malvinas teve um peso significativo,
mesmo que tenha sido um apoio bastante discreto. A cooperação no âmbito estratégico, com
acordos de cooperação na área nuclear e aeroespacial, apenas consolidaram essa aliança nos
anos 1980, que culmina, como já dito, na formação de um bloco regional incluindo os dois
vizinhos.

2. O Conflito Brasil - Paraguai em torno da questão da construção da Usina


de Itaipu nos anos 1960

A riqueza hídrica da Bacia Platina viabilizou a construção de inúmeras usinas


hidroelétricas na região ao longo do século XX. Estas hidrelétricas começaram a ser
construídas principalmente a partir dos anos 1940-1950, principalmente a partir do segundo
governo de Getúlio Vargas (1951-1954) e do governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), que

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construíram importantes hidrelétricas como as de Furnas, Bariri, Mascarenhas de Moraes e
Engenheiro Souza Dias (na Bacia do Paraná), assim como Paulo Afonso e Três Marias, (Bacia
do São Francisco), além de viabilizarem a criação da CHESF, CEMIG e da ELETROBRÁS,
que foi efetivamente criada apenas em 1961, (BRASIL, 1961), após duas décadas de disputas
entre grupos de interesses “nacionalistas” e “entreguistas” (VIZENTINI, 1999 e 2002; KERR
OLIVEIRA, 2012).
Estes governos também deram início a uma série de estudos de aproveitamento
hidrográfico que viabilizaram dezenas de outras hidrelétricas que foram construídas nos
governos posteriores, dos anos 1960 ao período do governo militar. De forma resumida, a
construção de dezenas de hidroelétricas no país neste período dos anos 1940-1980 pode ser
considerada parte de uma política de Estado voltada para alcançar maior segurança energética
de longo prazo, com vistas a sustentar o crescimento econômico e o desenvolvimento urbano
e industrial do país com caráter desenvolvimentista (KERR OLIVEIRA, 2012), principalmente
considerando que o país tinha taxas médias de crescimento econômico que variavam de 7% a
10% ao ano nos anos 1955-1975, que representou um aumento da demanda por eletricidade de
mais de 500% no período.
Neste sentido, foi no contexto dos anos 1950 que teve início uma série de estudos sobre
o aproveitamento hidroelétrico no Paraná na região nas proximidades das Sete Quedas, que
resultaria anos depois na construção de Itaipu. A história da construção da usina é bastante
interessante e será brevemente descrita a seguir, visto que envolveu uma forte crise política
entre Brasil e Paraguai nos anos 1960 e mobilizou importantes esforços diplomáticos
brasileiros, paraguaios e envolveu inclusive a Argentina. Especificamente, entre 1960 e 1964,
desde o fim do Governo JK, e durante os governos Jânio Quadros e João Goulart, foram
realizados uma série de estudos para o aproveitamento deste potencial hidroelétrico (SOUZA,
2011; ITAIPU, 2008).
Uma das vertentes defendidas inicialmente pelo setor privado estrangeiro, que
controlava grande parte das companhias de geração e distribuição de eletricidade no país era a
construção de uma série de hidrelétricas na região ao norte das Sete Quedas, que foi defendida
abertamente pelo engenheiro brasileiro Marcondes Ferraz, posteriormente presidente da
Eletrobrás (SOUZA, 2011; ITAIPU, 2008). A sequência de pequenas hidrelétricas teria a
mesma potência total instalada que uma grande usina, mas não teriam a mesma capacidade de

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armazenamento de água para os períodos de estiagem, gerando, portanto, menor quantidade de
energia por ano. Uma segunda opção, estudada durante o governo Jânio Quadras foi a de uma
única grande usina, totalmente nacional ao norte de Guaíra, ambos os projetos sofreram críticas
do governo Paraguai, pois excluíram a participação do país em qualquer das alternativas.
Durante o governo do Presidente João Goulart, começou a ser estudada a opção de uma
usina de grande porte com apoio dos soviéticos (SOUZA, 2011; ITAIPU, 2008, IPG, 2014). A
equipe de engenheiros soviéticos que veio ao Brasil analisar a região e desenvolver o projeto
em 1963, liderada pelo engenheiro Ivan Komin, era a mesma que havia projetado a Usina de
Assuã, no Egito, para o governo do então Presidente Nasser. O projeto teria turbinas soviéticas
capazes de gerar entre 10 e 12 GW, assim como financiamento da URSS a juros baixíssimos e
facilidades para pagar os empréstimos em produtos nacionais, como café, açúcar e alimentos
industrializados (SOUZA, 2011; ITAIPU, 2008, IPG, 2014). O acordo negociado com o
governo soviético incluía, ainda, obras para a construção de uma interconexão hidroviária
interligando a Bacia Amazônica e a Bacia Platina, além do fornecimento, pela URSS de
produtos como petróleo e combustíveis. Contudo, esta aproximação como parte da Política
Externa Independente, iniciada no governo Jânio Quadros e aprofundada por Jango, acabou
interrompida com o Golpe Militar de 1º de abril de 1964.
A partir deste período, voltou a ser analisada pelo governo militar brasileiro a opção da
“Usina de Ilha Grande”, barragem totalmente nacional que seria construída ao norte de Guaíra,
na porção montante das Sete Quedas. O projeto foi debatido publicamente entre 1964 e 1965
pelo governo militar brasileiro, o que levou a uma forte crise com o Paraguai, que ficaria
completamente excluído do projeto. Além disso, a usina mais ao norte inviabilizava a
construção de outra na região das Sete Quedas, local onde sua construção seria necessariamente
binacional (BETIOL, 2008, SOUZA, 2011).
Este processo levou à crise diplomática de 1965-1966, quando o governo paraguaio do
Presidente Stroessner, voltou a reivindicar a área objeto de litígio, localizada entre as Sete
Quedas e a parte norte da Serra de Maracajú (BETIOL, 2008; CORTÊS, 2009; PAULA, 2014).
Após a instalação de presença militar brasileira na área, os trabalhos da Comissão Mista de
Demarcação da Fronteira foram interrompidos, o Paraguai protestou classificando o ato como
uma invasão de seu território e reagindo, inicialmente, com um protesto diplomático
(PARAGUAI, 1965), seguido de tensionamentos que ameaçavam escalar para uma

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confrontação militar. Para evitar um conflito armado entre os dois regimes militares, os corpos
diplomáticos dos dois países empreenderam intensos esforços para viabilizar um acordo
diplomático (BETIOL, 2008; CORTÊS, 2009).
Devido às pressões paraguaias, o governo brasileiro recuou e mudou sua estratégia,
passa a considerar novamente a opção de uma hidrelétrica binacional (BETIOL, 2008;
CORTÊS, 2009; OXÍLIA, 2009; SOUZA, 2011; PAULA, 2014). O acordo, formalizado na
Ata das Cataratas em 1966, que previa que qualquer empreendimento hidrelétrico seria
binacional e não poderia resultar na alteração da fronteira, tendo sido detalhado nos anos
seguintes, através da formação de uma Comissão Mista Técnica Brasileiro-Paraguaia, formada
por engenheiros e diplomatas dos dois países, que finalizou o relatório para a construção da
usina em 1972. Esses esforços viabilizaram o Tratado de Itaipu, assinado em 26 de abril de
1973 (BETIOL, 2008, p. 37-41; OXÍLIA, 2009), que estabelece em seu Artigo VII:

As instalações destinadas à produção de energia elétrica e as obras auxiliares


não produzirão variação alguma nos limites entre os dois países, estabelecidos
nos Tratados vigentes. (BRASIL & PARAGUAI, 1973).

Com a posterior a assinatura do Tratado Tripartite Argentina-Brasil-Paraguai em 1979


ficou acordado que a Usina de Itaipu teria seu tamanho máximo limitado a fim de não
inviabilizar a Usina de Corpus Christi, ao sul, na Argentina. Assim, a solução encontrada
acabou resultando em um lago menor do que o previsto inicialmente, não inundando toda a
área disputada entre os dois países como imaginava-se nos acordos de 1966 e 1973, e o restante
da área disputada acabou sendo transformada no Refúgio Biológico de Maracaju, administrado
pela Itaipu Binacional.

3. Transformações das relações Brasil - Paraguai nos anos 1970: do conflito


à cooperação
Claramente, é durante a década de 1960 que a dissidência e a instabilidade entre o
Brasil e Paraguai nos limites da região das Sete Quedas começou a desencadear abruptamente,
pois, com o crescente interesse sobre a hidroeletricidade e a visão do uso e aproveitamento
energético dos Saltos, este se tornaria um objeto de interesse para ambos os estados, o que

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deixou um ponto de virada entre os ministérios das Relações Exteriores de ambas as nações.
Foi assim que, em 1961, as divergências fronteiras começaram a se intensificar, com o
surgimento de uma proposta possível projeto para o uso de energia dos Saltos del Guairá,
preparado pelo engenheiro militar Pedro Henrique Rup, porém, não foi até 1962 que o
Engenheiro Octavio Marcondes Ferras, encomendado pelo Ministério de Minas e Energia,
durante o governo de João Goalart (1961-1964), retomaria a proposta de Rup, para construir
uma usina hidrelétrica totalmente brasileira. (MAZZAROLLO, 2003, p.23).
Do outro lado da fronteira, o Paraguai não se conformaria com essa situação, bem,
não faltavam apenas tratados internacionais, mas isso limitaria suas possibilidades de
aproveitar o potencial do rio em termos de produção de energia, consequentemente. No entanto
foi até 1965, quando finalmente as divergências entre Paraguai e Brasil chegaram a um nível
crítico, com a ocupação de um destacamento militar brasileiro (1965) em Puerto Renato,
território reivindicado pela República do Paraguai, localizado em o trecho de 20 quilômetros
da linha de fronteira entre o marco 341 / IV e os Saltos do Guairá, isto mais as notícias sobre a
proposta de construir um hidrelétrica localizada 5 quilômetros acima dos Saltos das Sete
Quedas, só acrescentaram as tenções entre ambos Estados. (MAZZAROLLO, 2003, p.23,24).
Tanto foi o impacto que, o próprio departamento do estado dos Estados Unidos se viu
envolvido, propondo soluções pacificas para os desacordos fronteiriços sobre a região dos
saltos, sendo assim, foi proposto um encontro entre os representantes de ambas nações.
(MAZZAROLLO, 2003, p.23). Finalmente, os conflitos foram resolvidos com a Lei de Foz de
Iguazú, assinada em 22 de junho de 1966, um documento assinado pelos Ministros das
Relações Exteriores do Paraguai e do Brasil, respectivamente, os referidos documentos
comprometeriam aos Estados que examinaram as possibilidades de uso dos recursos Hidráulica
pertencente às Salto das Sete Quedas:

As disposições da Ata Final assinadas em Foz de Iguaçu, em 22 de junho de


1966, nas quais diz respeito à divisão em partes iguais. entre os dois países,
de energia elétrica eventualmente produzido pelas encostas do rio Paraná no
trecho mencionado;
O disposto no artigo VI do Tratado da Bacia de Prata;
As disposições da Declaração de Assunção sobre o uso de rios internacionais,
3 de junho de 1971;
Os estudos da Comissão Mista. Técnica paraguaio-brasileira constituída em
12 de fevereiro de 1967;

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A identidade tradicional das posições dos dois países em relação à livre
navegação dos rios internacionais da Bacia do Prata. (OPINIONES
JURIDICAS DE LA ITAIPU, 2004, p.22).

Foi o reconhecimento do uso conjunto dos recursos hídricos do rio Paraná, que marcou
o fim dos problemas de fronteira. E foi o resultado de uma decisão certa que culminou no que
seria um início para importantes cooperações na região. Dessa maneira e com objetivo claro,
em 27 de fevereiro de 1967, a Ministros das Relações Exteriores de: Argentina (Nicanor Costa
Méndez), Brasil (Juracy Magalhães), Bolívia (Alberto Crespo Gutiérrez), Paraguai (Raúl
Sapena Pastor) e Uruguai (Luís Vidal Zaglio), reuniram-se em Buenos Aires, onde assinaram
uma declaração conjunta, e os governos declararam sua decisão de realizar uma análise
integrada levando em conta o que seria mais favorável ao progresso da região (VILLELA. A,
1984).
Anos depois, em 1973, um tratado foi apresentado aos dois governos militares, sobre o
uso hidrelétrico dos recursos do rio Paraná; dando origem à Criação da Hidrelétrica Binacional
Itaipu, sendo ambos os Estados representantes condições iguais, então:

A ITAIPU Binacional é uma pessoa jurídica de direito público internacional,


nascida pela vontade soberana de dois estados, aqueles que cumprem as
disposições de seus respectivos direitos internos, criada com o objeto de
realizar o aproveitamento hidroelétrico dos recursos do rio Paraná,
pertencentes aos dois países, incluindo o Salto del Guaira ou Salto Grande
Sete Quedas, até a boca do rio Yguazu (OPINIONES JURIDICAS SOBRE
LA ITAIPU, 2004, p. 51).

Foram justamente o andamento das obras de Itaipu e o mesmo estabelecimento da taxa


de descargas de suas turbinas provocou que, em 1975, o governo argentino começaria com
novas objeções em relação a Itaipu, pois, consideravam que isso afetaria a capacidade do
Corpus Christi, que seria construído na barragem de Yasyreta. Devido a isto e para evitar
maiores divergências, foi proposto a realização de projetos compatíveis com o setor hidrelétrico
do Paraná; considerando isso, foram realizadas várias negociações e presentadas as diferentes
propostas, as quais culminaram em 1979. (SCAVONE, R. BREZZO, L. 2013, p.169).
Ao final e de fato, a firma do “Acordo sobre Cooperação Técnico-Operativa entre os
Aproveitamentos de Itaipu e Corpus”, assinado pelos chanceleres Ramiro Saraiva Guerreiro,
Carlos Washington Pastor (Argentina) e Alberto Nogues (Paraguai), em outubro de 1979, na

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cidade Presidente Stroessner, foi fundamenta para o novo rumo nas relações dos Estados da
tríplice fronteira; em outras palavras, as variações permitidas no acordo Corpus e Itaipu, deu
uma oportunidade na cooperação nos estados partes do próprio cenário hidripolítico da bacia
do Prata. (ALBERGARIA DE QUEIROZ, 2012, p.601.)

3.1. A construção da Usina


A Hidrelétrica de Itaipu foi construída no trecho do rio Paraná onde estavam localizadas
as Sete Quedas, mais precisamente, a 14 mm à montante da Ponte da Amizade, ponte que liga
as cidades de Foz do Iguaçu, no Brasil e Ciudad del Leste, no Paraguai. O projeto tinha por
objetivo gerar energia elétrica de fonte renovável, através do aproveitamento da energia
potencial do desnível do rio Paraná, apresentando grande potencial hidroenergético e baixo
custo do megawatt.
De acordo com Espósito Neto (2012):

“Nas primeiras décadas do século XX a eletricidade tornou-se uma


mercadoria valiosa, devido ao grande incremento no consumo de energia
elétrica, em razão dos processos de urbanização e de industrialização
vivenciados pelo país nesse momento. A produção e a distribuição
continuavam nas mãos das empresas privadas, principalmente as
multinacionais” (ESPÓSITO NETO, 2012 p. 24).

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A construção da Usina teve início em 1974, logo após da criação da empresa Itaipu
Binacional, para construir e gerenciar a usina. O lago da Usina Itaipu começou a ser formado
em 13 de outubro de 1982, tendo sido inundado bem mais rapidamente do que o previsto, em
apenas duas semanas, devido às fortes chuvas daquele período. Em 1984, foi inaugurada a
primeira turbina, e teve início a geração de energia elétrica.
Em 1950 o Brasil buscava crescimento na exploração recursos naturais, uma vez que a
produção de energia elétrica era insuficiente. A realização da obra de Itaipu anseia pelo
crescimento econômico tanto dos países que constroem, tanto para os que vivem à margem da
bacia do Prata.
Segundo Alvino Silva (2014):

“A diplomacia brasileira teve que convencer os vizinhos argentinos que a obra


tecnicamente não afetaria o Rio Paraná, pois a construção da usina e a sociedade entre

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Brasil e Paraguai certamente influenciará a balança de poder no sul da América do
Sul” (ALVINO SILVA, 2014, p. 69).

Em grande medida, Itaipu marca o ciclo do capitalismo brasileiro e mundial, pois esse
projeto político e estratégico abre espaços para manter a expansão capitalista em um novo
estágio de acumulaçao de capital. Para Laércio Betiol (2008), a construção de Itaipu significou
crescimento econômico para os ambos países, primeiramente pela importância da obra e
segundo pela energia que será produzida ao longo dos anos (LAÉRCIO BETIOL p. 67, 2008).
Neste sentido o acordo binacional representa o aumento na matriz energética entre Brasil e o
Paraguai.
De acordo com Oxilia Dávalos (2009):

“O empreendimento binacional de Itaipu teve impactos profundos no setor


elétrico brasileiro, pela sua envergadura e as condições estabelecidas nos
instrumentos diplomáticos que estabelecem as diretrizes de funcionamento da
entidade binacional” (OXILIA DÁVALOS, p. 110, 2009).

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Ilustração 1. Ilustração da obra de construção da barragem de Itaipu

Foto ilustrativa das obras da Barragem de Itaipu Binacional. Fonte: Itaipu (2015).

Esta imagem ilustra o início da construção da barragem, o Brasil desenvolveu uma


própria tecnologia para construção de grandes barragens, totalizando quase um quarto de todo
o consumo nacional. O abastecimento energético no Paraguai é suficiente para todo o país. O
local escolhido para a construção de Itaipu significa em tupi guarani “a pedra que canta. ” A
usina conta com 20 unidades geradoras de 700 MW cada, totalizando uma potência de 14 mil
megawatts, abastecendo 90 % do consumo de energia elétrica para o lado paraguaio e 15 %
para o lado brasileiro. Desta forma, cada país é dono de metade da geração e o Paraguai vende
a energia excedente para o Brasil (ITAIPU, 2019, sp).

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Ilustração 3. Itaipu Binacional com o vertedouro fechado

Foto ilustrativa da Itaipu Binacional vista do mirante do lado brasileiro. Autora: Ângela Maria Ferreira da Silva

O aproveitamento hidrelétrico teve uma cooperação entre os dois países utilizando-se


procedimentos geopolíticos que mudaram a estrutura da Tríplice Fronteira tanto
socioeconômico, social e ambiental.

3.2. Impactos socioeconômico na região da Tríplice Fronteira

A movimentação em torno da construção de Itaipu sofreu impactos na infraestrutura da


Tríplice Fronteira tanto para receber o contingente populacional previsto no grandioso
empreendimento e transformações no espaço geográfico ocorrido nas décadas de 1970 e 1980.
O crescimento socioeconômico foi necessário novas construções civis, comércios e serviços
públicos.
Na década de 1950, Foz do Iguaçu tinha 17 mil habitantes, e conclui a década de 1990
aproximadamente 260 mil (ALVINO SILVA, 2014). A oferta de trabalho e de mão-de-obra
qualificada ou sem qualificação atraiu várias pessoas que buscavam trabalho. Foram
construídas 9 mil moradias, no lado brasileiro foram distribuídas Vila A, Vila B e Vila C. E

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no lado paraguaio foram construídas vilas equivalentes ao lado brasileiro. Para atender as
famílias dos funcionários que trabalhavam na Itaipu foi construído o Colégio Anglo-
Americano, que chegou a reunir cerca de 16 mil alunos. Depois do término da construção de
Itaipu o ritmo de urbanização foi decrescendo progressivamente (ALVINO SILVA, 2014, p.
70).
Sendo assim, a região da Tríplice Fronteira faz parte de uma estratégia de integração,
onde ambos os países são beneficiados pela infraestrutura e a demanda de turistas que buscam
o livre comércio, lazer, hotéis e restaurantes.
Segundo Heloiza Conte (2013)

Diante do exposto, verifica-se que devido à construção da Usina Hidrelétrica


de Itaipu, um conjunto de alterações socioespaciais atingiu o município de
Foz do Iguaçu e sua rede urbana. Tais alterações contribuíram para a expansão
das atividades econômicas na área, permitindo que a partir destes
acontecimentos, advindos do início das obras de Itaipu, a cidade de Foz do
Iguaçu passasse a receber importância tanto em âmbito nacional quanto
internacional. (HELOIZA CONTE, p.188, 2013).

No Município de Foz do Iguaçu, encontra-se pontos turísticos como Cataratas do Iguaçu


considerada a 7 Maravilha do Mundo Mundial da Natureza, são localizadas entre o Parque
Nacional do Iguaçu e o Parque Nacional do Iguazú, Puerto Iguazú, Misiones, Argentina,
compras em Ciudad del Este (Paraguai), Parque das Aves, Marco das Três Fronteiras, Templo
Budista, Ecomuseu, Usina de Itaipu Binacional e outros pontos turísticos que aumentam a
geração de empregos diretos ou indiretos, que fomentam a economia da Tríplice Fronteira.
(MONSARES OLIVEIRA; BRAGA CORNELIO, 2018)
Para que os três países fossem interligados construiu-se a Ponte da Amizade que liga
Brasil e Paraguai, inaugurada em 27 de março de 1965 pelo presidente brasileiro Castelo
Branco e pelo presidente paraguaio Alfredo Stroessner. Em 1985, foi inaugurada a Ponte
Tancredo Neves que liga Brasil e Argentina, pelo presidente brasileiro José Sarney e argentino
Raul Alfonsin. Desta forma, a Tríplice Fronteira adaptou caminhos, estradas e rodovias
internacionais para que a circulação de bens e pessoas fossem realizadas. (ALVINO SILVA,
2014).

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Em 1969 foi concluída da BR-277, possui 730 Km de extensão, com início em início
ao Porto de Paranaguá e o término na Ponte da Amizade em Foz do Iguaçu. Foi inaugurada
pelo presidente brasileiro Costa e Silva e o presidente paraguaio Alfredo Strossner. Devido a
demanda de visitantes em relação aos locais turísticos, no final da década de 1990, inaugurou-
se três aeroportos, ao todo Aeroporto Guarani, no Paraguai; Iguazú, em Puerto Iguazú e
Aeroporto das Cataratas, em Foz do Iguaçu.
Com a criação da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), é o
exemplo de integração regional para o desenvolvimento econômico, cultural e demográfico da
Tríplice Fronteira e da América Latina. A Unila está situada na cidade de Foz do Iguaçu, e em
2007 começou a estruturada pela Comissão de Implantação com a proposta de criação do
Instituto Mercosul de Estudos Avançados (IMEA), em convênio com a Universidade Federal
do Paraná (UFPR) e a Itaipu Binacional. Os dados expostos pelo site da Unila, no total são
5.231 discentes e 586 discentes na pos-graduacao e conta com 362 docentes (UNILA, 2019,
sp).

3.3. Impactos sociais e ambientais


Apesar dos impactos sociais e ambientais, a construção Itaipu seria favorável tanto para
o Brasil quando para o Paraguai. No caso do Brasil, as altas demandas de energia elétrica
precisavam ser solucionadas para evitar riscos futuros. No caso do Paraguai, passou a contar
com energia suficiente sem precisar de outro investido no setor elétrico.
Desde 1985, a Itaipu Binacional paga royalties pelo aproveitamento dos recursos
hídricos do Rio Paraná, previstos no Tratado de Itaipu Binacional (Anexo C), uma
compensação financeira pelo alagamento de uma área relativa a 6.874,47 Km2. Segundo os
dados expostos na web da empresa até 2018 pagaram cerca de US$ 11 bilhões em royalties ao
Brasil e ao Paraguai (ITAIPU, 2019, sp).
Segundos os dados divulgados pela Usina de Itaipu, a distribuição dos royalties é feita
de acordo com a legislação de cada país. No Brasil e proporcional à área alagada dos
municípios, e esses valores repassados uma vez por mês pela Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel). Em 2018, entrou em vigor a Lei 13.661/2018 a distribuição é feita da seguinte
forma: 65% aos Municípios, 25% aos Estados e 10% para órgãos federais. (Ministério do Meio

14
Ambiente, Ministério de Minas e Energia e Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico).
Os valores pagos pelos royalties, movimenta a economia dos municípios, no total são
16 municípios do lado brasileiro: Foz do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do
Iguaçu, Itaipulândia, Medianeira, Missal, Santa Helena, Diamante do Oeste, São José das
Palmeiras, Marechal Cândido Rondon, Mercedes, Pato Bragado, Entre Rios do Oeste.
Em 2003, o ex-diretor brasileiro Jorge Miguel Samek, inaugurou o programa
Cultivando Água Boa que visa amenizar os impactos ambientais causados pela obra e recuperar
a qualidade dos recursos híbridos. Esse programa atende, 29 municípios da Bacia Hidrográfica
do Paraná, localizada à margem esquerda do Rio Paraná, no Oeste do Estado do Paraná. Possui
cerca de 20 subprogramas, 70 projetos e 108 ações de responsabilidade socioambiental,
visando a conservação dos recursos naturais e biodiversidade (OSTROVSKI, 2016).
Neste sentido, Ostrovski (2016) afirma que:

“As ações do programa Cultivando Água Boa visam garantir a qualidade da


água do reservatório do Lago de Itaipu, evitar seu assoreamento e
contaminação por dejetos, viabilização e desenvolvimento de práticas de
responsabilidade socioambiental por meio de parcerias junto às instituições
governamentais e não governamentais, instituições de ensino e pesquisa,
movimentos sociais, agentes ambientais, indígenas e assentados, associações
de agricultores, pescadores, suinocultores, dentre outras” (OSTROVSKI, p.
20-21, 2016).

3.4. Desenvolvimento do Turismo Local


O turismo é uma das atividades complementares da Itaipu mais importantes, pois além
de viabilizar que a Usina seja uma grande atração turística, a empresa atua na promoção da
atividade turística como forma de estimular o desenvolvimento do turismo da região tri-
nacional entre Brasil, Paraguai e Argentina.
Considerando desde a fase inicial da construção da Usina, até 2017, Itaipu Binacional
já recebeu mais de 21,78 milhões de visitantes, sendo 15,7 milhões do lado paraguaio, mais de
6 milhões de visitantes. Conforme os dados disponíveis na página de Itaipu na internet,
utilizados para a elaboração do gráfico 5, a seguir, nota-se ao menos três fases na exploração

15
turística da Usina de Itaipu, que em uma primeira fase partiu de quase zero visitantes até receber
um grande número de visitantes nos seus primeiros anos de funcionamento (715.990 em 1985;
788.275 em 1986; 778.705 em 1987; 745.573 em 1988). Nos anos 1990 ocorre uma queda no
total de visitantes, predominando períodos em que a visitação se situou em torno de 500 mil
por ano (1991-1993), na faixa de 584-595 mil por ano (1994-1995) e no período seguinte
abaixo de 473 mil (1996-2000), alcançando 359 mil em 2002 (FERREIRA SILVA, 2018).

IV - Cooperação e Integração Energética e de Infraestrutura (binacional e


regional)
Os Estados latino-americanos sempre se destacaram pela basta provisão do seus
recursos naturais, destacando a presença de recursos hídricos em todo o continente que, embora
representem grandes reservas de água doce, também são considerados recursos estratégicos,
pois, muitos dessas águas são transfronteiriça, localizadas nas margens de um Estado e de
outro; É particularmente importante ter em mente que, como mencionado acima, a gestão das
águas internacionais, como recursos compartilhados, forma uma interdependência que requer
coordenação e regulamentação entre os Estados que compõem as bacias e seus rios
internacionais.
No entanto, quando se fala em relações internacionais na América do Sul, leva se em
consideração que, ao longo da história, a região enfrentou diversas situações de conflitos,
contrariedades, e dificuldades na integração. Esta região, que possui três das maiores bacias
hidrográficas do mundo, teve que superar suas instabilidades políticas e chegar a um acordo
sobre o gerenciamento de águas internacionais, uma vez que grande parte das reservas de água
é internacional; entre elas, a bacia do Prata, considerada a segunda maior estrutura hidrográfica
do continente e estrutura dos territórios de cinco estados, sendo Argentina, Bolívia, Brasil,
Paraguai e Uruguai (ALBERGARIA DE QUEIROZ, 2012, p.189); assim mesmo, ressalta o rio
Paraná, cujo afluente é um dos maiores da região e o mais influente da bacia do Prata,
destacando que:

Tanto a bacia do Prata como o rio Paraná ocupa a área mais populosa e industrializada da região, e
o rio, por sua vez, liga as duas maiores áreas econômicas do subcontinente, ao norte é o estado
de São Paulo e o eixo industrial do rio Santa Fe-La Plata localizado no sul. Isso confere ao rio
grande importância estratégica política e economicamente e, do ponto de vista internacional, torna-
se o principal meio de integração do Mercosul (COMIP).

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Resolvendo os desentendimentos que cercavam a fronteira do rio Paraná, eles
conseguiram encontrar soluções para o uso da energia hidrelétrica; então, quando se trata de
um rio do tamanho do Paraná, deve-se levar em consideração que, além do aspecto territorial,
o tributário representa um valor estratégico extremo, principalmente se for considerado seu
potencial hidrelétrico. E são precisamente os projetos de energia que desempenham um dos
papéis mais importantes no alcance da integração dos estados pelos quais o rio Paraná se
estende.
Assim, como mencionado acima, durante a década de 1970 e considerando o uso
hidrelétrico do rio Paraná, os Estados chegaram a uma decisão favorável a todos os estados da
região, sendo este o Acordo Tripartite de Cooperação Técnica e Operacional entre Itaipu e
Corpus; destacando o fato de que, o referido acordo conseguiu estabilizar o cenário geopolítico
da região e até abriu caminho para novos projetos hidrelétricos nos rios internacionais da
região, sendo um deles o mencionado Tratado da Itaipu.
Considerando o uso da hidroeletricidade, a criação de Itaipu trouxe benefícios em
diferentes campos, considerando tanto o perfil refletido no Brasil quanto no Paraguai, em um
período tão marcado; e também à evolução das relações e negociações com os demais parceiros
da região da platina, resolvendo os desafios geopolíticos regionais cheios de
desconfiança. Diante do exposto, pode-se concluir com a relevância dessa série de tratados que
procuram a solução de questões que apontam para a gestão integrada dos recursos hídricos e
seu papel estratégico nas relações internacionais da região .

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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