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Recursos Aquíferos e Geopolítica

no Médio Oriente

Produzido no âmbito da Unidade Curricular de


Geologia, Sociedade e Ambiente (45929)
2021/22

Produzido por: Pedro Ferreira nºMec.:94374


Índice
Índice de Ilustrações........................................................................................... 1
Introdução........................................................................................................... 2
Médio Oriente e Aquíferos.................................................................................. 3
Influência na Geopolítica da Região....................................................................4
Atualidade........................................................................................................ 4
Futuro...............................................................................................................6
Conclusão........................................................................................................... 7
Bibliografia...........................................................................................................7

Índice de Ilustrações
Figura 1 - Mapa da distribuição de aquíferos cársticos nas partes leste e
sudeste da bacia do Mediterrâneo (Stevanović, Z. 2018)...................................4
Figura 2 - Recursos Hidrológicos no Médio Oriente............................................6

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Introdução
Os recursos hidrológicos são, em todo o planeta, um recurso valioso. A
água é um bem essencial à vida e foi considerada em 2019 pelo
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (doravante ONU) como
um direito básico humano. O Objetivo 6º dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável para 2030 “Água Potável e Saneamento” prevê que, até 2030,
atingir o acesso universal e equitativo à água potável e segura para todos
(UNRIC, 2015). Neste momento, segundo a mesma fonte, cerca de 4 mil
milhões de pessoas passam por uma grave escassez de água pelo menos 1
mês por ano, e 2 mil milhões de pessoas vivem num país com um elevado
nível de stress hídrico, além de que cerca de 30% da população mundial não
tem acesso direto a água potável, sendo que metade destas vivem na África
Subsariana, onde 60% não têm acesso a serviços de saneamento quaisquer.
Segundo as estatísticas, a Terra possui 1,4 milhões de quilómetros
cúbicos de água, mas apenas 2,5% desse total é água doce. Os rios, lagos e
aquíferos de onde a humanidade retira o que consome só correspondem a
0,26% desses 2,5% (Paixão, 2015). Em todo mundo, 10% da utilização da
água vai para o abastecimento público, 23% para indústria e 67% para a
agricultura. Isto mostra que a quantidade de água disponível para o consumo é
mínima em relação à quantidade de água existente no planeta (Paixão, 2015).
Isto, aliado ao facto de a procura por este recurso aumentar (segundo a ONU)
cerca de 1% ao ano, e esse número possivelmente vir a subir devido ao
aumento populacional e desenvolvimento de países que, neste momento, são
pouco industrializados, faz com que a gestão dos recursos aquíferos tenha que
ser cada vez mais eficiente e urgente.
Esta urgência em obter e gerir este recurso extremamente valioso (para
a manutenção de um nível aceitável de saúde humana, mas também para a
saúde da economia global – quer falemos da produção de energia hidroelétrica
ou uso da água como matéria-prima) é uma realidade constante em
países/regiões onde há escassez de água ou existem grandes populações e
áreas a serem abastecidas, o que leva a que tensões geopolíticas
internacionais sejam geradas por este recurso, como é o caso China-Índia com
o rio Bramaputra, um rio que nasce nas montanhas do Tibete e que forma o
delta do Ganges e no qual a China está a iniciar construções de desvio e
retenção de água no seu lado da fronteira (Bhrama Chellaney, 2013).
O Médio Oriente é uma zona com uma fragilidade ainda maior a estes
desequilíbrios geopolíticos, devido à escassez de água na região, e teve, ao
longo da História, vários episódios de conflito, como consequência, em parte,
desse fator. Daí a compreensão estruturada deste tema ser da maior
relevância, para que haja uma melhor resolução de problemas atuais e futuros

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no que toca à escassez de água e à resolução de conflitos na região, tendo por
base constatações científicas.

Médio Oriente e Aquíferos


No Médio Oriente situam-se 12 dos países mais áridos do mundo, sendo
considerada a região mais seca do planeta. A disponibilidade de água per
capita nesta região do mundo é de cerca 6 vezes menor do que a média global
e é esperado que esse número duplique até 2050, devido a diversos fatores,
desde as alterações climáticas, ao crescimento populacional (e consequente
aumento na demanda de água), que alguns países nesta região têm tido. É
estimado que 85% da água utilizável nestes países seja usada para agricultura;
aliando este facto a métodos de agricultura retrógrados o Médio Oriente tem na
agricultura uma área económica de um relevante desperdício de água (Middle
East Institute, 2018).
Além dos recursos de águas superficiais, como os rios Nilo ou o Jordão,
importantíssimos nesta área do planeta e catalisadores de antigos conflitos,
grandes reservas de água em aquíferos são também usadas há milénios nesta
região do planeta. Muitos impérios que usaram água de nascentes cársticas,
usaram-na simplesmente porque não havia abastecimento alternativo, mas
nalguns casos, o principal fator para esta decisão foi a consciência da
importância da água de alta qualidade destas nascentes. Para abastecer a
cidade de Nínive, perto de Mossul dos dias de hoje no atual Iraque, com água
de melhor qualidade do que a do rio Tigre, que banha a cidade, o imperador
assírio Sanherib, filho de Sargão II (703-681 a.C.), construiu sistemas de
bombagem na nascente de Khinnis (perto de Atrush, a 16 km de distância). A
água da nascente fluiu para as muralhas da cidade através de um dos
primeiros aquedutos já construídos. Acontecimentos semelhantes são
relatados por toda a região ao longo da História e ainda hoje há várias
nascentes de aquíferos cársticos como demonstra a Figura 1.

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Figura 1 - Mapa da distribuição de aquíferos cársticos nas partes leste e sudeste da bacia do Mediterrâneo (Stevanović, Z. 2018)

Influência na Geopolítica da Região


Atualidade
Na atualidade os aquíferos, pelas razões já apontadas (que continuam
atuais), os aquíferos mantêm uma influência significativa na geopolítica da
região. A sua importância é de tal forma relevante, que, pouco depois da
criação do estado de Israel, foi definido por lei que a água é um “bem nacional
natural” e que deve ser regulado e mantido de forma sã pelo Estado, e foi
criada a “Autoridade para a Água”.
Esta Autoridade, devido ao aumento exponencial da população na
região, criou meios de aumentar a extração de água de aquíferos, o que
diminuiu a quantidade de água retirada por ano desses poços ao longo do
tempo, nos aquíferos de montanha Yarkon Taninim (Schwarz et al., 2016).
Desde essa altura que existe um conflito pelo controlo desta zona e existe
desconfiança por parte da população palestiniana, cujo Estado tem uma

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dificuldade extrema na extração de água para a sua população e tem de
constantemente comprar água a Israel (Middle East Institute, 2018).
No final da década de ’60, a guerra que proporcionou a Israel a
anexação dos territórios palestinianos de Gaza e Cisjordânia, e sírio das
Colinas do Golã, e a consequente conquista do acesso às mais importantes
fontes de água da região, teve como o seu principal objetivo controlar a
nascente do rio Jordão, e assim ter a capacidade de “pôr em xeque” qualquer
país-nação por onde passa este grande rio; o Estado de Israel usou, portanto,
este recurso hidrológico, como uma estratégia de guerra preventiva, além de
ganhar mais uma fonte de água (que entretanto se torna cada vez mais poluída
e por isso menos apetecível como fonte) (Júnior, 2006).
Com a secagem de muitos aquíferos (pelo facto da extração ultrapassar
a reposição de água) ao longo das décadas, o Estado de Israel, mais
recentemente, começou a procurar alternativas, desde a alteração da Lei que
passou a impedir o desperdício de água, mas também com investimentos na
dessalinização de água do Mediterrânio e celebração de pactos e acordos
conjuntos com países vizinhos, como é o caso da Jordânia (antigo inimigo de
guerra do estado de Israel) (Júnior, 2006; Middle East Institute, 2018).

Futuro
Tendo em conta o relatório produzido pelo Strategic Foresight Group
(Strategic Foresight Group, 2015) e toda a restante bibliografia consultada, é
possível afirmar o seguinte sobre o futuro da geopolítica da água na região:
Esforços já estão a ser feitos de aproximar os vários países da região
para uma estratégia conjunta de gestão dos recursos aquíferos, mas tal é
altamente dificultado por acusações mútuas de várias partes, e pelo facto de
países como o Estado de Israel têm tido uma gestão muito sã durante muito
tempo, ao passo que outros países foram já inúmeras vezes acusados de
negligência na gestão deste recurso por várias agências internacionais (Middle
East Institute, 2018), especialmente para ganhos políticos. Tal não irá ajudar
nas possíveis discussões transparentes e produtivas que pudessem existir. E
mesmo certas oportunidades já criadas, caíram por motivos políticos, como um

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possível “Acordo da Água” entre os Estados de Israel, Palestina e Jordânia,
que foi lido pelo povo palestiniano como um rebaixamento deste ao povo
israelita e ao lucro.

Figura 2 - Recursos Hidrológicos no Médio Oriente

Conclusão
Todos os fatores políticos da região terão um grande peso numa
discussão, que terá cada vez mais peso na vida das pessoas, pelo menos das
que não são israelitas, pois o Estado de Israel tenta ainda nos dias de hoje
controlar cada vez mais território que o ponha como controlador do monopólio
da água, escassa, da região; os aquíferos estão a ser já usados ao seu
máximo e não há uma rede democrática de discussão científica para que de
facto se encontrem soluções eficazes para a enorme escassez de água que há
na região, apenas existem soluções a aparecer a nível nacional e não regional
derivadas das políticas agressoras de certos Estados-nação perante outros.
Este trabalho permitiu-me adquirir conhecimentos indispensáveis na
minha vida profissional como futuro docente, que necessita de estar dentro de
conceitos como geopolítica e em particular geopolítica da água, que será com

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certeza algo que iremos cada vez ouvir falar com mais frequência. Este tipo de
conhecimento é importante para transmitir aos alunos uma noção de mundo
mais abrangente e garantir assim o cumprimento dos pilares da educação
segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos: «A educação
promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e
grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em
prol da manutenção da paz.»

Bibliografia
1. Site da United Nations Regional Information Centre (UNRIC) sobre a
água: https://unric.org/pt/agua/ , consultado a 14 de janeiro de 2022;

2. Bhrama Chellaney. (2013). A hegemonia da água das barragens na


Ásia.
https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/economistas/detalhe/a_hegemo
nia_da_agua_das_barragens_na_asia , consultado a 14 de janeiro de
2022;
3. Paixão, L. (2015). IMPACTOS DA ESCASSEZ DE ÁGUA NA
ECONOMIA [Faculdade Arquidiocesana de Curvelo].
https://www.fac.br/revista/index.php/revista/article/view/30 , consultado a
14 de janeiro de 2022;

4. Middle East Institute. (2018). Water Crisis in the Middle East. YouTube.
https://www.youtube.com/watch?v=1FHksyApxmE , consultado a 14 de
janeiro de 2022;

5. Selby, J. (2005). The geopolitics of water in the Middle East: Fantasies


and realities. Third World Quarterly, 26(2), 329–349.
https://doi.org/10.1080/0143659042000339146 , consultado a 27 de
fevereiro de 2022;

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6. Stevanović, Z. (2018). Global distribution and use of water from karst
aquifers. Geological Society Special Publication, 466(1), 217–236.
https://doi.org/10.1144/SP466.17

7. Schwarz, J., Bear, J., & Dagan, G. (2016). Groundwater Development in


Israel. Groundwater, 54(1), 143–148. https://doi.org/10.1111/gwat.12384

8. Júnior, G. S. R. (2006). PALESTINA/ISRAEL - a questão das águas. In


Artigos (p. 4). Instituto da Cultura Árabe.
https://icarabe.org/sites/default/files/pdfs/reflexoes_2_-_aula4_10.pdf ,
consultado a 27 de fevereiro de 2022;

9. Strategic Foresight Group. (2015). Blue Peace in the Middle East Project
Progress
Report.https://www.strategicforesight.com/publication_pdf/33406Blue
Peace Progress Report.pdf , consultado a 14 de janeiro de 2022.

Aveiro, 01 de março de 2022

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