Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A atual crise nas Malvinas é apenas mais um capítulo de uma longa disputa entre
Argentina e Inglaterra pela posse destas ilhas de localização estratégica e com recursos
petrolíferos ainda por serem mapeados.
A disputa remonta ao século XIX,
quando a Inglaterra invadiu e anexou as ilhas.
A Inglaterra, que já era a maior potência naval
do mundo, considerava as ilhas importantes
como base para a Royal Navy, pois sua
localização permitia vigiar facilmente a única
passagem existente entre o Atlântico Sul e o
Pacífico – a “Passagem de Drake”, entre a
América do Sul e a Antártida.
A utilidade da ilha foi comprovada
As Malvinas e a “Passagem de Drake” entre o Atlântico
Sul e o Pacífico Sul durante a I Guerra Mundial, quando sua posse
deu grande vantagem à Royal Navy da
Inglaterra, na luta contra Kaiserliche Marine, a marinha imperial da Alemanha, durante o
episódio que ficou conhecido como “Batalha das Falklands“, em dezembro de 1914.
Posteriormente a posse das Malvinas e outras ilhas do Atlântico Sul seriam usadas como
justificativa para tentar legitimar reivindicações
territoriais do Reino Unido sobre territórios na
Antártida. Embora reivindicações desta natureza
tenham sido suspensas (ao menos por enquanto)
pelo Tratado da Antártida de 1959, continuavam
interessantes para o futuro. Isto porque, para a
Inglaterra, manter a posse das ilhas significava
(e talvez ainda tenha este significado), a
perspectiva futura de voltar a reivindicar
territórios na Antártida quando a vigência do
tratado se encerrar, e possivelmente, este
Antártida Britânica: reivindicação territorial da
Inglaterra na Antártida
continente puder vir a ser ocupado para fins
econômicos.
Entretanto, na sequência, o acordo de cooperação nuclear para fins pacíficos entre Brasil
e Argentina foi relegado ao segundo plano. Nunca foi criada uma empresa binacional de
energia atômica e os investimentos necessários para tal empreendimento nunca foram
viabilizados. Sem cooperação de verdade, os dois países continuaram relativamente
dependentes de tecnologias estrangeiras, de alto custo, mas estratégicas para a manutenção de
suas usinas nucleares ou para a construção de novas usinas.
Na prática os programas nucleares da
Argentina e do Brasil foram paralisados nos
anos 1990 devido ao corte de verbas para a
área militar ou para áreas civis estratégicas,
durante os governos neoliberais. Isto
significou o fechamento ou atraso no
desenvolvimento de uma série de tecnologias
estratégicas de uso dual, como as áreas
nuclear e aeroespacial, ou no setor de
informática e computação, setores que
representam grande peso na balança
comercial destes países até hoje.
Como parte deste processo, nos anos 1980 a 1990, a indústria de defesa dos dois países
foi desmontada, o que colaborou para encerrar todo um ciclo de desenvolvimento tecnológico
autônomo que os dois países vinham tentando desenvolver ao longo do século XX.
No auge do ufanismo neoliberal dos anos 1990, muitos defenderam que o Brasil não
precisaria mais ter Forças Armadas, pois o mundo pós-Guerra Fria seria pacífico e o país não
teria inimigos. Bastava ser um país pacífico, não fazer mal a ninguém e ninguém faria mal ao
Brasil. No máximo, diziam, o país deveria manter uma parte do exército, mas apenas para
usar como força de polícia especial, de forma esporádica ou ocasional, como, por exemplo,
para ocupar favelas no Rio de Janeiro. O resultado foi que muitos aceitaram este discurso
liberal e o país “desmontou” grande parte da sua capacidade defensiva, acreditando em um
período de “paz e prosperidade” sob a hegemonia dos EUA. Além disso, foi desmontada uma
capacidade industrial já instalada em setores de alta tecnologia, que envolviam tecnologias de
uso dual, muitas das quais o país levara anos para desenvolver em escala laboratorial, mas
que nunca foram transformadas em produtos ou serviços que, finalmente, pudessem ajudar o
povo brasileiro.