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SÍNTESE DO PROCESSO DE DELIMITAÇÃO DAS FRONTEIRAS EM

MOÇAMBIQUE
Quando as colónias se tornaram uma componente fundamental do estádio imperialista
do modo capitalista de produção na segunda metade do século XIX e, em especial, na sua
ponta final, os principais financiadores e credores de Portugal – Inglaterra Alemanha e
França – procuraram tirar o máximo partido da exploração das colónias portuguesas
(UEM, 2000:182).

A questão das fronteiras tem como a necessidade de “ocupação efectiva dos


territórios” determinada pela conferência de Berlim. Esta questão foi resolvida em 1891,
com assinaturas de tratados entre Portugal e a Inglaterra. Foi entre conflitos, arbitragens e
tratados que se inseriu o traçado das actuais fronteiras de Moçambique como se mostra a
seguir (ROCHA, 2006:34).

1.1.Fronteira Sul
A questão dos conflitos pela posse da baia de Lourenço Marques agravou-se na
década de 1820, com a chegada dos ingleses nesta região, alegadamente com fins
científicos. A partir de então, os Ingleses expandindo-se a partir do Cabo, não cessaram
de pressionar os lugares na altura ocupados por Portugueses e Boers. Assim sendo os
Ingleses pretendiam controlar todas as vias de comunicação, especialmente o rio Maputo,
por onde os Zulos continuavam a importar armas de fogo através de Lourenço Marques.
Ignorando os direitos os direitos históricos de ocupação que os portugueses invocavam, o
Capitão inglês William F. Owen assinou vários tratados com chefes do sul de Lourenço
Marques e deu inicio uma campanha diplomática para fazer valer os direitos ingleses
(UEM, 2000:185).

A questão da fronteira Sul e Sul Ocidental de Moçambique foi resolvida de forma


mas rápida quando em 1872 Portugal e Inglaterra enviam a arbitragem do presidente
francês a questão da posse de Lourenço Marques. Esta vai ser decidida pelo presidente
Mac Mahon em 24 de Julho de 1875, a favor de Portugal. Em 1888 foi delimitada a
fronteira entre Moçambique e Suazilândia. O tratado assinado em Pretória 1869 entre
Portugal e Transval estabeleceu os limites entre Moçambique e África do sul ao estipular
que os limites sul de Lourenço Marques atingiam a latitude de 26º e 30'que compreendia
da baia de Maputo até aos montes Libombos (Idem:35).
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É digno de nota que o argumento supramencionado de ROCHA, recebe


sustentação na obra de POLISSIER (s/d:136-137) que advoga o seguinte:

“Antes da conferência de Berlim o problema das fronteiras e, portanto da real


consistência de Moçambique, não se revestiu de grande severidade a não ser no Sul. Tal
como acontecia com Molembo, Cabinda e Ambriz em Angola e com Bolama na Guine, a
posse da bacia de Lourenço Marques esteve de facto em jogo, mas a disputa foi resolvida
a 24 de Julho de 1876 pelo presidente da república francesa, o marechal de Mac –
Mahon, a favor de Portugal”.

1.2.Fronteira Centro
Segundo obra UEM, (2000:185), no centro a questão de delimitação foi mais
difícil e complexa. Era plano dos Ingleses e, nomeadamente de Cecil Rhodes (1) criar um
domínio britânico entre o Cabo e o Cairo, o que pressupunha, portanto, o questionamento
do domínio português que desejava colocar o mapa cor-de-rosa (2) de Moçambique até
Angola.

Diante das pressões dos oponentes Ingleses, o livro UEM, (2000:186) admite que
o governo português tentou sem sucesso obter uma conferência internacional, o que não
conseguiu pois nem a Alemanha nem a Franca intervieram no conflito em seu favor,
Cecil Rhodes ordenava a uma força da British South África Company que avançasse para
a parte de Manica controlada pelos portugueses em Macequesse, onde a coluna
aprisionou Paiva de Andrade.

De acordo com a obra UEM, (2000:188), isto levou a um ultimato inglês


apresentado a 11 de Janeiro de 1890 e intimidava Portugal, exigindo a força estacionada
no Chire, na região dos Macololos e na Mashonalandia. Portugal foi obrigado a ceder e
assinou em 1886 um tratado com Alemanha no qual fazia concessões no sul de Angola. A
20 de Agosto de 1890 foi assinado um acordo no qual as exigências portuguesas eram
grandes para a delimitação das fronteiras, com o tratado assinado a 11 de Julho de 1891
iniciou-se o período de estabilidade definitiva das fronteiras, processo este que vai
prolongar ate no século XX.

(1) Aventureiro inglês enriquecido nas minas de diamantes de Kimberley e nos jazigos auríferos do
Transval.

(2) Este mapa surge na sequência da tendência imperialista de Portugal em África. E por meio do mesmo
se pretendia ligar geograficamente os territórios compreendidos entre Angola e Moçambique, incluindo
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alguns territórios como Zâmbia, Malawi, Zimbabwe. E pelo facto dos territórios estarem requintados a
cor-de-rosa, e dai chamar-se lhe “mapa cor-de-rosa” (MARIO & LEMOS, 2001:990).

1.3. Fronteira Norte


No extremo norte, finalmente a fixação de fronteira deu origem a conflitos
militares com a Alemanha. Esta, que tinha ocupado o Tanganhica (hoje Tanzânia) e
hasteado a sua imperial bandeira em ambas as margens do Rovuma, penetrou em 1894,
na margem sul, expulsando a reduzida guarnição portuguesa ali estacionada e
substituindo-a por uma alemã. O governo português que tentara “ganhar” a Alemanha em
1886 aquando do conflito com a Inglaterra, como vimos, apresentou um protesto formal
contra a ocupação (UEM, 2000:188).

Apesar disso, os alemães alargaram a sua ocupação a Quionga, área que só


voltaria a Portugal no fim da 1ª Guerra Mundial de 1914 – 1918. Por essa região transitou
uma forca militar alemã, no decorrer da guerra, que chegou ate Namacura, destruindo
vidas, casas e haveres do campesinato e atacando uma fábrica da companhia do Boror
(Idem).
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Conclusão
Tendo se feito a abordagem referente a Delimitação das Fronteiras em
Moçambique, chegou-se de concluir que o tal processo, não se conseguiu num simples
piscar dos olhos, mas sim, este foi um longo e complexo processo de negociações
impulsionado por um lado pela Conferencia de Berlim, envolvendo algumas potências
com tendências imperialistas.

A delimitação da região sul foi mais simples em relação ao Centro-norte. No sul


está vai ser decidida pelo presidente Mac Mahon em 24 de Julho de 1875, a favor de
Portugal. Em 1888 foi delimitada a fronteira entre Moçambique Suazilândia e África do
sul. Ao passo que nas regiões centro e norte verificaram-se disputas sem precedente antes
que se concretiza-se as delimitações, mas finalmente a 20 de Agosto de 1890 com as
pressões do inglês Cecil Rhodes, deu-se um desfecho das delimitações e Portugal não
conseguiu concretizar suas pretensões envolvendo o mapa cor-de-rosa. E finalmente no
norte depois de conflitos militares com a Alemanha, Portugal volta a anexar seus
territórios logo depois da 1ª Guerra Mundial e assim inicia-se um período de estabilidade
definitiva das fronteiras.
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Bibliografia
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA, UEM. História de Moçambique – volume 1;
Livraria Universitária; 1ª ed. Maputo, 2000.

MATOS, Mário & LEMOS. Dicionário de História Universal. Editorial inquérito.


Lisboa, 2001.

PELISSIER, Rene. História de Moçambique: Formação e oposição 1854-1918; editora


estampa; s/d.

ROCHA, Aurélio. Associativismo e Nativismo em Moçambique; 1ª ed. Texto editores;


Maputo, 2006.

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