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Conferência de

Berlim
Conferência internacional entre as
potências européias

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A Conferência de Berlim, também


conhecida como conferência da África
Ocidental[1] ou Conferência do Congo,
realizou-se em Berlim, de 15 de
novembro de 1884 a 26 de fevereiro de
1885, marcando a colaboração europeia
na partição e divisão territorial da África.
Organizado pelo Chanceler do Império
Alemão, Otto von Bismarck, o evento
contou com a participação de países
europeus (Alemanha, Áustria-Hungria,
Bélgica, Dinamarca, Espanha, França,
Grã-Bretanha, Itália, Noruega, Países
Baixos, Portugal, Rússia e Suécia), mas
também do Império Otomano e dos
Estados Unidos. O objetivo declarado era
o de "regulamentar a liberdade do
comércio nas bacias do Congo e do
Níger, assim como novas ocupações de
territórios sobre a costa ocidental da
África".[2] É de realçar a participação de
estados que não possuíam colónias ou
territórios em África na conferência,
como os países escandinavos ou os
Estados Unidos.

O Congresso de Berlim, em gravura


da época

Mapa de África Colonial em 1913.


Bélgica
França
Alemanha
Grã-Bretanha
Itália
Portugal
Espanha
Estados independentes

Esta Conferência foi uma das mais


importantes realizadas na segunda
metade do século XIX, visando, entre
outras questões, regular o Direito
Internacional Colonial, sendo que na
conferência, entre outros temas, foram
discutidos e estabelecidos princípios
relativos à navegação de rios
internacionais, a liberdade de comércio
ao longo da bacia do Zaire, e também o
estabelecimento de “regras uniformes
nas relações internacionais
relativamente às ocupações que poderão
realizar-se no futuro nas costas do
continente africano”. Adicionalmente, o
tráfico de escravos, e a escravatura no
geral constituíram pontos importantes
na agenda da conferência.
Uma conferência anterior (Conferência
geográfica de Bruxelas, em 1876) iniciou
o debate sobre a partição da região do
Congo, que foi dividido em três partes:
Congo-Léopoldville, que coube aos
belgas; Congo-Brazzaville, atribuída aos
franceses; e Angola, que historicamente
já pertencia a Portugal. Todas essas
regiões formavam o antigo Reino do
Kongo. O principal resultado da
conferência de Berlim foi o
estabelecimento de regras oficiais de
colonização, mas, além disso, a
conferência gerou uma onda de
assinaturas de tratados entre os vários
países europeus.
A Alemanha, país vencedor da guerra
franco-prussiana, não possuía colônias
na África, mas tinha esse desejo e viu-o
satisfeito, passando a administrar o
“Sudoeste Africano” (atual Namíbia),
Tanganica, Camarões e Togolândia; os
Estados Unidos na altura não tinham
mais a colônia da Libéria, independente
desde 1847, mas, como potência em
ascensão, foram convidados; o Império
Otomano possuía províncias na África,
notadamente o Egito (incluindo o futuro
Sudão Anglo-Egípcio) e Trípoli, mas seus
domínios foram vastamente
desconsiderados no curso das
negociações e foram arrebatados de seu
controle até 1914.
Durante a conferência, Portugal
apresentou um projeto, o famoso "mapa
cor-de-rosa", que consistia em ligar
Angola a Moçambique, criando uma
comunicação entre as duas colônias, de
modo a facilitar o comércio e o
transporte de mercadorias. Sucedeu que,
apesar de todos concordarem com o
projeto,[carece de fontes

] mais tarde a Inglaterra, à margem do


Tratado de Windsor, surpreendentemente
recusou o projeto, dando um ultimato a
Portugal, ameaçando declarar-lhe guerra
se a proposta não fosse retirada.
Portugal, com receio de colocar em
causa o tratado de amizade e
cooperação militar mais antigo do
mundo,[carece de fontes

] cedeu às pretensões inglesas, retirando


o projeto do mapa cor-de-rosa.

Como resultado da conferência, a Grã-


Bretanha passou a administrar toda a
África Austral (com exceção das
colônias alemã da Namíbia, portuguesas
de Angola e Moçambique e da ilha
francesa de Madagáscar) e o Sudoeste
Africano, toda a África Oriental (com
exceção da Tanganica) e partilhou a
costa ocidental e o norte da África com a
França, a Espanha e Portugal (Guiné-
Bissau e Cabo Verde); o Congo – que
estava no centro da disputa, o próprio
nome da Conferência em alemão é
"Conferência do Congo" – continuou
como "propriedade" da Associação
Internacional do Congo, cujo principal
acionista era o rei Leopoldo II da Bélgica;
este país passou ainda a administrar os
pequenos reinos das montanhas a leste,
o Ruanda e o Burundi.

Portugal e a Conferência de
Berlim

Os representantes portugueses a esta


Conferência foram António Serpa
Pimentel, António José da Serra Gomes
(Marquês de Penafiel), Luciano Cordeiro,
Carlos Roma du Bocage (adido militar),
José P. Ferreira Felício (adido) e Manuel
de Sousa Coutinho (segundo-
secretário).[3]

Uma das mais importantes questões


para Portugal, no contexto da
conferência, relacionou-se com o
conteúdo do Capítulo VI do Ato Geral de
Berlim, com a “declaração relativa às
condições essenciais a preencher para
que as novas ocupações na costa do
continente africano sejam consideradas
efetivas".[2]
A Conferência de Berlim consagrou
como regra de Direito Internacional o
princípio de “uti possidetis jure” do litoral
africano, afastando definitivamente os
denominados “direitos históricos”
(defendidos por Portugal). A referida
norma, que vinha a ser idealizada, e a
ganhar apoiantes na década antecedente
à conferência, veio exigir de qualquer
Estado a posse efetiva do território sobre
o qual reclame a sua soberania, com o
objetivo de evitar que os Estados
reclamassem direitos sobre territórios
onde não tinham qualquer tipo de
presença. Apesar de algumas potências,
nomeadamente o Reino Unido,
defenderem que este princípio se deva
aplicar a todo o continente africano, na
declaração final de Berlim o princípio de
“uti possidetis jure” restringe-se às áreas
costeiras do continente. Surge assim o
imperativo de alargamento da ocupação
efetiva ao interior do continente através
da definição de “esferas de influência” e
que no caso português foi
consubstanciado no projeto conhecido
como “Mapa Cor-de-Rosa”.[3]

A divulgação do “Mapa cor-de-rosa”


(documento cartográfico elaborado com
base nas explorações portuguesas do
território entre Angola e Moçambique),
provocou a intervenção do Governo
inglês que fez chegar a Lisboa um
protesto, em resposta ao qual o Governo
Português procurou, através de termos
conciliatórios e ao dar garantias da
integridade dos direitos ingleses,
defender a sua posição, e
simultaneamente evitar o escalar da
situação. No entanto, a pressão
internacional exercida sobre o Reino
Unido e consequentemente sobre
Portugal para definição de esferas de
influência e ocupação de territórios,
aliada às dificuldades governativas de
Portugal, que levaram a uma certa
negligência relativamente a questões de
política externa, viriam a impedir a
negociação de contrapartidas ao projeto,
levando a Grã-Bretanha a impor um
ultimato.[3]

Com efeito, o Governo de Lord Salisbury,


apresentou, em 11 de janeiro de 1890,
através do seu Enviado em Lisboa,
George Prette, um ultimato, exigindo a
retirada portuguesa das terras em
disputa. Os termos em que estava
redigido, bem como o curto prazo
concedido, não davam margem de
manobra para quaisquer negociações,
nem apoios externos. Para evitar um
conflito bélico, o Governo português
cedeu às pressões britânicos,
protestando, no entanto, os seus direitos
aos territórios em disputa e pretendendo,
no âmbito do artigo 12.º do Ato Geral da
Conferência de Berlim, ver a contenda
resolvida através de mediação e
arbitragem. O Governo de João
Crisóstomo continuou as negociações
que conduziram à assinatura de um
tratado definitivo em 11 de junho de
1891.[3]

Para Portugal acrescia ainda a questão


da escravatura, que serviu frequentes
vezes de pretexto para ingerências das
potências estrangeiras. A Inglaterra,
após abolir o tráfico em 1807, e com
interesses coincidentes com a França
nesta questão, pretendia estender a
abolição da escravatura aos restantes
países europeus; sendo que a totalidade
do tráfico escravo só veio a ser abolida
em todos os territórios portugueses em
1869, apesar de datarem do século XVIII
os primeiros decretos que viriam a abolir
a instituição da escravatura no território
metropolitano português. A questão da
escravatura viria a marcar a política
portuguesa durante o século XIX, sendo
que o primeiro decreto de abolição do
tráfico nos domínios portugueses é da
lavra do Marquês de Sá da Bandeira,
publicado em 10 de dezembro de 1836.
Este decreto proibia o tráfico de escravos
em todos os territórios portugueses a sul
do Equador. No entanto, muito
pressionado pelo governo inglês para
não só abolir o tráfico, mas também para
ajudar na sua repressão, o Governo de
Lisboa foi tentando escalonar no tempo
e no espaço, as ações a desenvolver de
modo a não criar ruturas e não prejudicar
a economia.[3]

Como resultado da conferência, Portugal


viria a consolidar o seu controlo sobre os
seus territórios em África, que viria a
administrar até 1974.

Ver também

Mapa Cor-de-rosa
Ultimato britânico de 1890
Referências

1. "L'écriture du diable. Discours


précolonial, posture ethnographique
et tensions dans l'administration
coloniale allemande des Samoa" (ht
tp://www.persee.fr/docAsPDF/polix
_0295-2319_2004_num_17_66_101
6.pdf) , por George Steinmetz.
Politix, vol 17 nº 66, 2004, p.49-80,
p. 5
2. «Ata Geral da Conferência de
Berlim» (https://web.archive.org/we
b/20131029200637/http://www.cas
adehistoria.com.br/sites/default/fil
es/conf_berlim.pdf) (PDF).
Consultado em 16 de agosto de
2017. Arquivado do original (http://
www.casadehistoria.com.br/sites/d
efault/files/conf_berlim.pdf) (PDF)
em 29 de outubro de 2013
3. «Conferência de Berlim» (https://ww
w.portaldiplomatico.mne.gov.pt/rela
coesbilaterais/paises-geral/confere
ncia-de-berlim) . Portal Diplomático.
Consultado em 30 de abril de 2021

Bibliografia

MAGNOLI, Demetrio. História da Paz.


São Paulo: Editora Contexto, 2008.
448p. ISBN 85-7244-396-7-32
Obtida de "https://pt.wikipedia.org/w/index.php?
title=Conferência_de_Berlim&oldid=64556183"

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