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O processo de roedura do

continente africano
e conferência de Berlim

Introdução à roedura
• A Conferência de Berlim (1884-1885) é o grande
marco na expansão do processo de “roedura” do
continente africano.

• Mas o processo foi iniciado por volta de 1415 com a


entrada portuguesa em Ceuta, no Marrocos, no norte
da África.
• Impelidos, a princípio, pela necessidade de trigo e outros
cereais para abastecimento do reino e, a seguir, pelos ganhos
com metais preciosos e especiarias, a meta dos “viajantes-
exploradores” financiados pelo rei de Portugal era alcançar
as Índias por via marítima, uma vez que o acesso por terra,
lhes fora impedido pelos turcos otomanos até à batalha de
Lepanto, em 1571.
• Contornando a costa ocidental da África, os portugueses atingiram o
Cabo Bojador (1434), havendo registros de uma atividade comercial
composta pela aquisição de negros tornados cativos e de ouro dos
muçulmanos.
• Também é importante registrar a viagem de Bartolomeu Dias quando
dobrou o Cabo da Boa Esperança em 1487, um dos poucos lugares
pelos quais, dois séculos mais tarde, os europeus penetraram no
interior do continente, fundando, em 1652, a colônia do Cabo.
• Só no ano de 1530 foram retirados de Pinda e de Angola cerca de 4
mil negros.

• Por sua vez, a leste do continente africano, nas margens do Índico, a


presença portuguesa desde o século XV até fins do XIX foi bem menor.
Praticamente esteve limitada ao “reino” do Monomotapa, em
Moçambique. Quanto às trocas, obedeciam aos circuitos regionais de
comércio para o norte e para o leste e permaneciam sob o domínio
dos árabes de Omã, responsáveis pelo tráfico de escravos para o
Golfo Pérsico.
• Vale sublinhar que saíram de 10 a 11 milhões de escravos do
continente africano, em mais ou menos quatro séculos, ou seja, a
mesma quantidade registrada pelo tráfico transaariano em dez
séculos.

• Quanto à dinâmica desse processo, articuladora das duas costas do


Atlântico, vale lembrar que se alimentava da troca de negros feitos
cativos por aguardente, tabaco, cavalos para montaria,
manufaturados europeus e armas de fogo.
• A condenação ao tráfico foi definida no Congresso de Viena, em 1815.
Simultaneamente, missionários católicos franceses na bordadura do
Senegal, desde 1848, fizeram inúmeros protestos contra o
aprisionamento e a escravidão.

• Sob o argumento de que era preciso “salvar as almas dos selvagens” e


“por fim ao massacre de negros”, escondia-se a ideia da conquista da
África pela Europa.
• CONFERÊNCIA DE BERLIM E A PARTILHA

• Os quatro principais motivos da Conferência de Berlim foram:


• Primeiro, verificado na conjuntura de 1865 até a primeira metade dos
anos de 1890, refere-se aos interesses do rei Leopoldo II da Bélgica
em fundar um impero ultramarino.
• Para viabilizar esse objetivo, a partir de 1865, Leopoldo II teve como
uma de suas estratégias o estudo da exploração africana. Por isso
promoveu, em 1875, a fundação de uma cadeira de postos comerciais
e científicos que se estendiam pela África Central, de Zanzibar ao
Atlântico, em nome do combate ao comércio de escravos, promovido
pelos muçulmanos, e da proteção das missões cristãs.
• Mas o que realmente estava em questão era o
objetivo de fundar um império ultramarino
subsumido numa imagem de missão filantrópica
forjada pelo rei da Bélgica.
• Sob esse estratagema, Leopoldo patrocinou a
realização de uma conferência de geógrafos e
exploradores, a Conferência Internacional de
Geografia, mais conhecida como Conferência
Geográfica de Bruxelas, realizada em setembro de
1876.
• O segundo motivo, por sua vez, foi sem dúvida a
frustrada corrida de Portugal por seus interesses
em torno do fato da conquista do “mapa cor-de-
rosa”, anunciado em outubro de 1883 e
materializado em 1886. Esse projeto
pressupunha a ligação de Angola a Moçambique,
do Atlântico até o Índico, abrangendo quase
todo o território das atuais Zâmbia e o Zimbábue
numa só província “Angolomoçambicana”.
• Acresça-se o fato de ter sido Portugal o último
país a ser convidado para a Conferência
Geográfica de Bruxelas, o que melindrou e
alarmou sobremaneira os portugueses
interessados na África.
• O terceiro grande motivo foi o expansionismo da política francesa
expresso:
• na participação da França com a Grã-Bretanha no controle do Egito,
em 1879;
• na ratificação de tratados com Makoko (chefe dos betekes) na bacia
do Congo ( área onde eram intensos a pesca e o comércio de
escravos, madeiras para tingimento e tráfico regional de mandioca e
peixe seco);
• e no estabelecimento de sua iniciativa colonial na Tunísia e em
Madagáscar.
• Por fim, o quarto motivo foram os interesses em torno da livre
navegação e do livre comércio nas bacias do Nínger e do Congo,
manifestado de forma explícita, sobretudo pela Grã-Bretanha, que
alimentava também o sonho de um domínio do Cabo ao Cairo, cada
vez mais dificultado pelos interesses de outros países europeus na
África Central e pelos bôeres, seu grande obstáculo na África austral.
• Dessa maneira, impunha-se negociações diplomáticas
capazes de arbitrar todos esses conflitos de
interesses. Para tanto, coube a Bismarck organizar a
Conferência de Berlim, ocorrida entre 15 de
novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885.
• Uma das consequências políticas do processo de partilha,
estabelecido na Conferência de Berlim, e da formulação de tratados
(muitos bilaterais) que a complementaram foi criar as condições
necessárias para que a conquista do continente africano tivesse uma
base legal para se efetivar. Como se sabe, em nome da lei e da ordem,
utilizando-se de mecanismo e instrumentos administrativo-jurídicos,
as potências europeias mantiveram fronteiras impostas.
• Confirmados pelos Estados nacionais, os traçados das fronteiras
coloniais permanecem, no seu conjunto, até os dias de hoje, por
vezes potencializando uma série de conflitos de intensidade variável
que, rompendo os limites territoriais de cada país, encontram
condições propícias para se regionalizar.
• É preciso sublinhar que a “questão étnica”,
apontada como causa de praticamente todas as
“guerras internas” na África, é fruto da
manipulação política, em grande parte das vezes
segundo interesses econômicos e políticos de
alguns setores das elites africanas, associados às
empresas europeias e norte-americanas.
• Em resumo, é muito difícil discordar que a Europa
tem uma enorme dívida para com a África pela
escravidão atlântica, pela partilha do continente e
pelo colonialismo e suas heranças, que constituem
obstáculos para a construção de uma longa estrada
de combate à miséria e às extremas desigualdades,
assim como de enfrentamento dos vários conflitos
presentes no continente.

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