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HISTÓRIA 02 CURSO ASCENSÃO

I - A IMPORTÂNCIA DA MARINHA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO ESTADO


BRASILEIRO, 1822 A 1831
1 – FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DO BRASIL
Junto com a família real, todo o aparato burocrático e administrativo foi transferido para o Rio de Janeiro. Dentre
as primeiras decisões de D. João, já no dia 11 de março de 1808, está a instalação do Ministério dos Negócios da
Marinha e Ultramar, que continuou a ter o mesmo regulamento instituído pelo Alvará de 1736 em Portugal.
A seguir, foram sucessivamente criadas ou estabelecidas várias repartições necessárias ao funcionamento do
Ministério da Marinha, tais como: Quartel-General da Armada, Intendência e Contadoria, Arquivo Militar, Hospital
de Marinha, Fábrica de Pólvora e Conselho Supremo Militar1.
A Academia Real de Guardas-Marinha, que também acompanhou a família real, teve sua instalação nas
dependências do Mosteiro de São Bento, se tornando, desta feita, o primeiro estabelecimento de ensino superior no
Brasil.
No tocante à infraestrutura já existente no Rio de Janeiro, observamos que o Arsenal Real da Marinha, localizado
então ao pé do morro do Mosteiro de São Bento, cuja criação data de 29 de dezembro de 1763, teve sua capacidade
ampliada para poder apoiar a recém-chegada Esquadra2.

1.1 – POLÍTICA EXTERNA DE D. JOÃO E A ATUAÇÃO DA MARINHA

1.1.1 - A CONQUISTA DE CAIENA


Diante da invasão do território continental português pelas tropas do General Junot, D. João assinou, a 1o de
maio de 1808, manifesto declarando guerra à França, considerando nulos todos os tratados que o imperador dos
franceses o obrigara a assinar, principalmente o de Badajó e de Madri, ambos de 1801, e o de neutralidade, de 1804.
Os limites entre o Brasil e a Guiana Francesa voltaram a ser questionados.
Como a guerra não poderia ser levada a cabo no território europeu, e sendo importante a ocupação de território
inimigo em qualquer guerra, o objetivo ideal se tornou a colônia francesa. Determinou então a Corte ao Capitão-
General da Capitania do Grão-Pará, Tenente-Coronel José Narciso Magalhães de Meneses, que ocupasse
militarmente as margens do Rio Oiapoque. Ordem recebida, tratou de arregimentar pessoal e material, se valendo
inclusive (diante dos escassos recursos existentes nos cofres da capitania) de subscrição popular.
Em outubro de 1808 a força estava pronta. Sob o comando do Tenente-Coronel Manuel Marques d’Elvas
Portugal, compunha-se de duas companhias de granadeiros, duas companhias de caçadores e uma bateria de
artilharia, totalizando 400 homens de armas. Para conduzir essa força ao lugar de destino, aprestou-se uma
esquadrilha composta por dez embarcações3. A 3 de novembro, a esquadrilha foi acrescida de três navios vindos da
Corte: Corveta inglesa Confidence (comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra James Lucas Yeo), Brigue Voador
(comando do Capitão-Tenente José Antônio Salgado), Brigue Infante D. Pedro (comando do Capitão-Tenente Luís
da Cunha Moreira)4. Juntos traziam um reforço de 300 homens. Tinham ordens de ocupar o território da Guiana
Francesa e submeter Caiena.
A 1º de dezembro, nossas tropas desembarcaram no território inimigo, ficando o comando da expedição assim
repartido: o Tenente-Coronel Manuel Marques dirigiria as forças terrestres; os navios ficariam sob as ordens do
Comodoro Yeo. Este, com os navios menores (os demais, foram bloquear Caiena por mar), subiu o Oiapoque e foi
dominando, sem maior resistência, os pontos fortificados que ia encontrando. Quatro escunas francesas foram
aprisionadas, incorporadas e rebatizadas de Lusitana, D. Carlos, Sydney Smith e Invencível Meneses.
O governador de Caiena, Victor Hughes, tratou, em vão, de preparar a resistência, levantando baterias,
fortificando os melhores pontos estratégicos e guarnecendo os fortes. As forças de ataque foram ganhando terreno,
apertando cada vez mais o cerco à Caiena, até sua rendição final, a 12 de janeiro de 1809. A importância dessa
operação recai na condição de ter sido o primeiro ato consistente de política externa de D. João realizada por meio
militar, contando com forças navais e terrestres anglo-luso-brasileira.
1
Salvo o Conselho Supremo, o Arquivo, a Contadoria e a Fábrica de Pólvora, as demais repartições citadas eram verdadeiro desdobramento
das já existentes em Portugal.
2
O primeiro estaleiro organizado oficialmente foi a Ribeira das Naus de Salvador, depois Arsenal de Marinha da Bahia, fundada
oficialmente no final do século XVI. Apesar das dificuldades, o estaleiro de Salvador desenvolveu-se rapidamente, tornando-se o mais
importante centro de construção naval do Brasil durante todo o período colonial, e mesmo até meados do século XIX. Além de Salvador e do
Rio de Janeiro, a construção naval desenvolveu-se também em vários outros pontos do nosso litoral: Belém, Recife, Maranhão, Pernambuco,
Alagoas, São Paulo e Santa Catarina; sendo que os de Recife e Belém existiram como arsenais de Marinha.
3
Escuna General Magalhães (capitânia); Cúteres Vingança e Leão; três barcas-canhoneiras; Sumaca Ninfa; dois obuseiros; Iate Santo
Antônio; e a Lancha São Narciso.
4
O Almirante Luís da Cunha Moreira teve carreira brilhante, sendo após a proclamação da Independência nomeado ministro da Marinha, se
tornando portanto o primeiro ministro brasileiro nato da nossa Marinha. No combate de Caiena, praticamente seu batismo de fogo, se
destacou em combate, sendo ferido por golpe de sabre, cuja cicatriz o acompanhou por toda vida.
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A ocupação portuguesa da Guiana Francesa durou mais de oito anos. Embora temporária, esta ocupação foi da
maior valia para a fixação dos limites do País, porquanto, na ocasião de sua devolução, em 1817, ficaram tacitamente
estabelecidos os limites do Oiapoque.
1.1.2 - A BANDA ORIENTAL
Outro movimento importante de D. João na política externa foi a ocupação da Banda Oriental, com grande
destaque para o papel que desempenhou a Marinha, não só no transporte das tropas, desde Portugal5 (já liberado do
domínio francês), como também em todo o desenrolar da ocupação.
O movimento de independência da América espanhola provocou o aparecimento de novas nações americanas,
cada qual com lideranças individuais. Foi o caso do Uruguai, então chamado de Banda Oriental, que se recusava a
fazer parte das Províncias Unidas do Rio da Prata, encabeçada por Buenos Aires. Seu líder, José Gervásio Artigas6
arregimentou as camadas populares contra o domínio espanhol e também contra o ideal da anexação promovido por
Buenos Aires. Neste intento, invadiu as fronteiras portenhas e brasileiras, o que ocasionou o acordo entre as duas
últimas para uma ação conjunta contra Artigas.
A 12 de junho de 1816, partiu do Rio de Janeiro uma divisão naval, composta de uma fragata, uma corveta, cinco
naus (das quais uma era inglesa e outra francesa) e de seis brigues, capitaneada pela Nau Vasco da Gama, onde
achavam-se embarcados o Chefe-de-Divisão Rodrigo José Ferreira Lobo, responsável pelas atividades navais da
expedição, e o Tenente-Coronel Carlos Frederico Lecor, então nomeado governador e capitão-general da Praça e
Capitania de Montevidéu. Foi se reunir com o 1o escalão, composto por seis navios7, que já havia seguido para Santa
Catarina em janeiro.
Aportando a divisão na Ilha de Santa Catarina a 26 de junho, Lecor decidiu seguir por terra com sua tropa para o
Rio Grande do Sul e, então iniciar a invasão, visto que as condições climáticas só eram favoráveis à navegação no
Rio da Prata em outubro. Seguiu então à frente dos seus 6 mil comandados, margeando o mar até as proximidades de
Maldonado. A Esquadra, por sua vez, rumou em direção ao Rio da Prata, devendo antes estacionar naquele porto.
Do Rio de Janeiro, a 4 de agosto, partiu nova flotilha, composta por quatro navios8 com a missão de operar em
combinação com a Divisão dos Voluntários Reais. A 22 de novembro de 1816, deu-se o desembarque em Maldonado
pelas forças navais de Rodrigo José Ferreira Lobo. Com a ocupação da cidade, e a vitória pelas forças terrestres em
Índia Morta, o caminho para Montevidéu ficou livre. Lecor encontrava-se acampado no passo de São Miguel, quando
recebeu uma deputação de Montevidéu, que apresentou-lhe as chaves da cidade, seu submisso respeito e completa
adesão ao governo de D. João VI.
Nessa época, o governo das Províncias do Rio da Prata não mais apoiava a intervenção armada do Brasil na
Banda Oriental, deixando-nos em campo sozinhos.
Não foi imediata a completa submissão da Banda Oriental. Ainda por alguns anos, José Artigas fez tenaz
resistência à dominação portuguesa, até sua derrota final na Batalha de Taquarembó, a 22 de janeiro de 1820.
Durante esse período, os partidários de Artigas valiam-se de corsários que, com base na Colônia de Sacramento9,
ocasionavam grandes prejuízos ao comércio da Marinha Mercante luso-brasileira. Com recursos navais reduzidos
para liquidar a nova ameaça, o comando português empregou tropas terrestres para tentar destruir as bases inimigas.
Assim, o Tenente-Coronel Manuel Jorge Rodrigues, auxiliado por forças navais, atacou e conquistou Colônia,
Paissandu e outros locais às margens do Uruguai, tendo conseguido aprisionar vários corsários que se encontravam
em Sacramento.
Para as operações realizadas no Rio Uruguai, foi constituída uma pequena flotilha, sob o comando do Capitão-
Tenente Jacinto Roque de Sena Pereira, formada pela Escuna Oriental e Barcas Cossaca, Mameluca e Infante D.
Sebastião. Esta flotilha prestou auxílio inestimável às forças de terra, tanto na tomada de Arroio de La China, quanto
na tomada de Calera de Barquin, Perucho Verna e Hervidero. Em Perucho Verna, doze embarcações inimigas, uma
lancha artilhada e um escaler foram apresados.
No mar, o último episódio em que a força naval atuou, ocorrido em 15 de junho de 1820, foi o aprisionamento do
corsário General Rivera, com a recuperação dos mercantes Ulisses e Triunfantes pela Corveta Maria da Glória,
comandada pelo Capitão-de-Fragata Diogo Jorge de Brito.
A 31 de julho de 1821, em assembleia formada por deputados representantes de todas as localidades orientais, foi
aprovada por unanimidade, a incorporação da Banda Oriental à coroa portuguesa, fazendo parte do domínio do Brasil
com o nome de Província Cisplatina.

5
De Portugal veio uma divisão de Voluntários Reais, sob o comando do Tenente-Coronel Carlos Frederico Lecor, embarcados em dez
navios. O comboio, que entrou no Rio de Janeiro no dia 30 de março de 1816, trazia a última tropa de Lisboa.
6
José Gervásio Artigas se intitulava Chefe dos Orientais e Protetor dos Povos Livres.
7
Fragatas Graça e Príncipe Real, Charrua Voador, Brigues Lebre, Providente e Atrevido.
8
Era composta da Corveta Calipso (capitânia), sob o comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra D. José Manuel de Meneses; Escuna Tártara,
comando do Primeiro-Tenente Vitorino A. J. Gregório; Brigue Real Pedro, comando do Segundo-Tenente José da Costa Couto; e Transporte
Patrimônio, comando do Mestre Antonio Francisco Firmo.
9
Também nos portos de Buenos Aires e de Baltimore (EUA), armaram-se a princípio muitos corsários contra nós; porém devido a
reclamações do governo português, tal irregularidade cessou.
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2 – A REVOLTA NATIVISTA DE 1817 E A ATUAÇÃO DA MARINHA


Em paralelo ao que ocorria no Sul, teve a Corte que se mobilizar para fazer frente ao movimento separatista que
eclodiu em Pernambuco, em março de 1817.
As primeiras providências para o restabelecimento da ordem legal em Pernambuco foram tomadas pelo Conde
dos Arcos, Governador da Bahia, que fez armar em guerra alguns navios mercantes e mandou seguir para
Pernambuco, sob o comando do Capitão-Tenente Rufino Peres Batista. A esquadrilha era composta por três navios10,
e tinha como missão o bloqueio do porto do Recife.
A 2 de abril partiu da Corte uma divisão sob o comando do Chefe-de-Esquadra Rodrigo José Ferreira Lobo,
composta por três navios11, enquanto da Bahia seguiram por terra dois regimentos de cavalaria e dois de infantaria. A
4 de maio, outra Divisão Naval, sob o comando do Chefe-de-Divisão Brás Caetano Barreto Cogomilho, partiu do Rio
de Janeiro12.
O cerco da cidade de Recife por terra e o bloqueio efetuado por mar fizeram com que os rebeldes abandonassem
a cidade a 20 de maio, dando fim ao movimento separatista.

3 – GUERRAS DE INDEPENDÊNCIA
3.1 - ELEVAÇÃO DO BRASIL A REINO UNIDO
Do mesmo modo que transferência para o Brasil da sede do reino português foi motivada pela ameaça
representada pelo expansionismo francês na Europa, seria esperado o retorno do Rei D. João VI a Lisboa e a
restauração do pacto colonial13. Com a derrota da França nas Guerras Napoleônicas (1804-1815) e o movimento
conduzido pelo Congresso de Viena14 para a restauração das monarquias absolutistas, muitas delas derrubadas por
Napoleão, os portugueses esperavam que seu rei retornasse a Portugal e levasse a corte de volta para Lisboa.
Entretanto, o monarca permaneceu no Rio de Janeiro. E para calar os que falavam que o rei ia ficando na colônia,
mas deveria estar em Portugal, já que lá era a sede do Reino, elevou o Brasil a uma condição equivalente de Portugal
com a formação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Nesta condição e com a Abertura dos Portos às Nações Amigas, os comerciantes e fazendeiros brasileiros
passaram a desfrutar da mesma liberdade de comerciar com todos os países amigos de Portugal. A vinda da corte
portuguesa para o Brasil provocou também uma série de modernizações na cidade do Rio de Janeiro, deixando nela
um aspecto de capital do reino e não mais uma simples cidade colonial.
3.2 - O RETORNO DE D. JOÃO VI PARA PORTUGAL
Contudo, Portugal e os portugueses se sentiam esquecidos pelo seu rei, com o território luso sendo administrado
por estrangeiros, uma junta sob controle de um militar britânico e os comerciantes não podendo ganhar tanto com o
fim do monopólio comercial.
Tal estado de abrasileiramento da monarquia portuguesa não era bem visto por muitos portugueses. Alguns
setores da sociedade portuguesa – comerciantes, intelectuais e alguns nobres – também não queriam que o poder do
rei continuasse absoluto15. Em 24 de agosto de 1820, estourou na Cidade do Porto um movimento revolucionário
liberal que reivindicava uma monarquia constitucionalista para Portugal16. Logo a revolução se espalhou por todo o
Portugal e foi instalada uma assembleia nacional constituinte (Cortes). O estado revolucionário da antiga metrópole
provocou o retorno do Rei D. João VI em 26 de abril de 1821, deixando seu filho D. Pedro como príncipe regente do

10
Corveta Carrasco, Brigue Mercúrio e uma escuna.
11
Brigues Benjamin, comando do Capitão-Tenente Fernando José Melo; Aurora, comando do Capitão-de-Fragata José Felix Pereira de
Campos; e pela Escuna Maria Teresa, comando do Capitão-Tenente D. Nuno José de Sousa Manuel de Melo.
12
Era constituída pela Nau Vasco da Gama (capitânia), e dos transportes Santiago Maior, comando do Capitão-Tenente José de Oliveira;
Almirante, comando do Segundo-Tenente Luís Antonio Ribeiro; Harmonia, comando do Primeiro-Tenente Isidoro da Costa Chaves; Feliz
Eugenia, comando do Segundo-Tenente Francisco José Damásio; Joaquim Guilherme, comando do Capitão Bernardo José Carreirão;
Olímpia, comando do Capitão-Tenente José Domingues; Ateneu, comando do Primeiro-Tenente Estevão do Vale; Bela Americana, comando
do Primeiro-Tenente Cipriano J. Pires; e Bonfim, comando do Segundo-Tenente José da Fonseca Figueiredo. Mais tarde, a Divisão foi
acrescida da Fragata Pérola, comando do Capitão-Tenente José Maria Monteiro.
13
Pacto Colonial foi o nome dado às relações entre a metrópole e a colônia, que implicavam sempre na subordinação da segunda à primeira.
O pacto colonial implicava que todo o comércio dos produtos produzidos na colônia só poderia ser feito com a metrópole. De maneira
inversa, todos os produtos que os colonos quisessem importar só poderia ser vendido pela metrópole, isto se chama monopólio comercial ou
exclusivismo mercantil.
14
O Congresso de Viena (1814-1815) foi a reunião dos representantes dos países que derrotaram a França de Napoleão para restaurar a
organização política dos paises da Europa afetados pela Revolução francesa e pela invasão das tropas de Napoleão. Os principais objetivos
dos representantes das grandes potências que derrotaram a França (Inglaterra, Prússia, Áustria e Rússia) era refazer o mapa político europeu,
promovendo a volta do Antigo Regime, e com ele das monarquias absolutistas derrubadas por Napoleão.
15
Absolutismo foi o regime político que caracterizou as monarquias da chamada Época Moderna, entre os séculos XVI e XVII. Nessa forma
de organização do governo de um Estado, o rei concentrava poderes amplos. Dentro do regime monárquico, seu oposto era a monarquia
constitucional, onde o rei obedecia a uma constituição redigida pelos representantes eleitos pela sociedade.
16
O rei, para governar, tinha que obedecer às leis que eram emanadas de uma carta constitucional, que seria feita por um conjunto de
representantes do povo escolhidos em uma eleição
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Brasil. Tentava, assim, D. João manter sua dinastia, a de Bragança, no controle do Brasil e de Portugal, deixando as
duas partes de seu reino longe dos ventos liberais.
Mesmo com o retorno do rei, as cortes reunidas em Lisboa continuaram querendo impor uma monarquia
constitucional a D. João VI. Contudo, grande parte dos membros das cortes defendia que o Brasil deveria retornar a
posição que se encontrava antes de 1808. Isto é, muitos dos portugueses que defendiam mais liberdade em sua terra
gostaria que o Brasil voltasse a condição de simples colônia de Portugal, queriam o retorno do pacto colonial e do
monopólio comercial.

3.3 - DIA DO FICO


A oposição que as cortes faziam à dinastia de Bragança em Portugal e suas crescentes imposições ao príncipe
regente no Brasil, provocaram reações de D. Pedro I. As cortes emanavam ordens para os governadores de cada
província brasileira, mas D. Pedro determinava que as ordens de Portugal só poderiam ser cumpridas com a
permissão dele, que afinal era o príncipe regente deixado pelo rei de Portugal. Logo, as cortes ordenaram que D.
Pedro retornasse a Portugal, como tinha feito seu pai. Em 9 de janeiro de 1822, no que ficou conhecido como Dia do
Fico, D. Pedro declarou que permaneceria no Brasil apesar da determinação das cortes para que retornasse a Lisboa.
Ao mesmo tempo, o príncipe nomeou um novo gabinete de ministros sob a liderança de José Bonifácio de Andrada e
Silva, que defendia a emancipação do Brasil sob uma monarquia constitucional encabeçada pelo príncipe regente.
A pressão das cortes pela restauração do pacto colonial, com a consequente perda de poder de D. Pedro, levaram-
no a defender a autonomia brasileira perante Portugal. Se seu pai, D. João VI, não estava conseguindo impor seu
poder em Portugal, D. Pedro não descuidou de manter o Brasil sob o governo de um Bragança.

3.4 - A INDEPENDÊNCIA
Em 7 de setembro de 1822, o Príncipe D. Pedro declarava a Independência do Brasil. Porém, só as províncias do
Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais atenderam de imediato à conclamação emanada das margens do Riacho
Ipiranga. Até pela proximidade geográfica, estas mantiveram-se fiéis às decisões emanadas do Paço17 mesmo após a
partida de D. João VI. As capitais das capitanias ao norte do País mantiveram sua ligação com a metrópole, pois as
características da navegação a vela e a falta de estradas as colocavam mais próximas de Lisboa do que do Rio de
Janeiro, sede do governo brasileiro.
Mesmo com o grande número de patriotas no interior destas províncias, nas capitais da Bahia, do Maranhão, do
Pará e da Banda Oriental e nas suas poucas principais cidades as elites de comerciantes eram em sua grande maioria
portuguesa e adepta da restauração colonial realizada pelo movimento liberal português. Durante a queda-de-braço
empreendida entre as cortes e D. Pedro, foram reforçadas as guarnições militares das capitanias do Norte e Nordeste
para manter a ligação dessas províncias com Lisboa.
A resistência mais forte estava justamente em Salvador, Bahia, onde essa guarnição era mais numerosa. No sul, a
recém-incorporada Província Cisplatina viu as guarnições militares que lá ainda estavam dividirem-se perante a causa
da Independência, enquanto o comandante das tropas de ocupação, General Carlos Frederico Lecor, colocou-se ao
lado dos brasileiros, seu subcomandante, D. Álvaro da Costa de Souza Macedo, e a maior parte das tropas
defenderam o pacto com Lisboa. A situação geral parecia cada vez pior para o processo de Independência. Mesmo
que as forças brasileiras no interior, constituídas de militares e milícias patrióticas, atacassem as guarnições
portuguesas, o mar era um caminho aberto para o recebimento de reforços de outras capitais de províncias leais às
cortes ou mesmo de tropas vindas de Portugal.
E assim foi feito, Portugal reforçou com tropas, suprimentos e navios de guerra a guarnição de Salvador,
comandada pelo Governador das Armas da Província, Brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo.

3.5 - A FORMAÇÃO DE UMA ESQUADRA BRASILEIRA


José Bonifácio, o chefe do Gabinete de Ministros, percebeu que só o domínio do mar manteria a unidade da ex-
colônia portuguesa, pois as ligações entre as províncias litorâneas, onde estava concentrada a maior parte da
população e da força produtiva brasileira, eram inteiramente feitas pelo transporte marítimo ao longo de um extenso
litoral de mais de 7 mil quilômetros. A rápida formação de uma Marinha de Guerra nacional era o meio mais eficaz
de transportar e concentrar tropas brasileiras e suprimentos para as áreas dominadas pelos portugueses com a rapidez
e segurança que os caminhos terrestres não permitiam.
Este conjunto de navios de guerra, a Esquadra, impediria que chegassem aos portos das cidades brasileiras
ocupadas pelos portugueses os reforços que Portugal enviasse, interceptando e combatendo os navios que os
trouxessem. Privando as guarnições portuguesas de mais soldados e armas vindos por mar, as bombardeando com
canhões embarcados e transportando soldados brasileiros para reforçar os patriotas que lutavam contra os portugueses
no interior, a Marinha Brasileira contribuiu para a Independência do Brasil, permitindo que do território da colônia
portuguesa na América emergisse um só país, com um grande território.
17
Paço Imperial foi a sede administrativa do governo brasileiro durante o período de reinado de D. João VI e por todo o Império, localiza-se
na Praça XV de Novembro, no centro da Cidade do Rio de Janeiro.
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A organização da Marinha Imperial se deu nesse regime de urgência, aproveitando os navios que tinham sido
deixados no porto do Rio de Janeiro pelos portugueses, que estavam em mal estado de conservação, e os oficiais e
praças da Marinha portuguesa que aderiram a Independência.
Durante todo este grande esforço de formação de uma força naval que pudesse garantir a Independência
proclamada por D. Pedro, os navios foram reparados em um intenso trabalho do Arsenal de Marinha do Rio de
Janeiro e foram adquiridos outros, tanto pelo governo como por subscrição pública18.
As lacunas encontradas nos corpos de oficiais e praças foram completadas com a contratação de estrangeiros.
Sobretudo os experientes marinheiros britânicos remanescentes das lutas da Marinha inglesa contra os navios de
guerra da França durante as guerras napoleônicas.
Ter uma força naval forte, bem equipada de navios e homens e podendo operar em todo litoral brasileiro era um
bom argumento para afastar as pretensões de reconquista dos portugueses. Assim, além formar uma Esquadra com
navios de guerra reformados ou comprados, o governo imperial procurou um homem com grande experiência em
guerra naval para comandar o conjunto desses navios. Esse homem foi Lorde Thomas Cochrane, um brilhante e
experiente oficial da Marinha inglesa, contratado pelo governo brasileiro para exercer o comando-em-chefe da recém-
criada Esquadra19.

3.6 - OPERAÇÕES NAVAIS NA BAHIA


A 1º de abril de 1823, a Esquadra brasileira comandada por Cochrane deixava a Baía de Guanabara com destino
à Bahia, com a missão de bloquear o porto de Salvador e dar combate às forças navais portuguesas que lá se
concentravam sob o comando do Chefe-de-Divisão Félix dos Campos.
A primeira tentativa de dar combate aos navios portugueses foi desfavorável à Cochrane, tendo enfrentado, além
do inimigo, a indisposição para luta dos marinheiros portugueses que tinham optado por servir na Marinha brasileira
depois da nossa Independência. Muitos desses marinheiros portugueses guarneciam os canhões dos navios brasileiros.
Quando chegou a hora de disparar contra os navios portugueses, seus conterrâneos, “erravam” o alvo. Houve até os
que se rebelassem contra o comando dos navios e fechassem os paióis de munição, impedindo novos disparos.
Depois de reorganizar suas forças e retirar os portugueses que tinham demonstrado pouca vontade de lutar contra
seus patrícios, Cochrane colocou o porto de Salvador sob bloqueio naval20, capturando os navios que abasteciam a
cidade. Salvador já estava sitiada por terra pelas forças brasileiras desembarcadas de navios e vindas do interior
comandadas pelo General Pierre Labatut. Pressionados pela falta de alimentos e pela pressão das tropas e dos navios,
as tropas portuguesas abandonaram a cidade em 2 de julho, em um comboio21 de mais de 70 navios, escoltados por
17 navios de guerra.
O comboio português foi acossado pela Esquadra brasileira. Foi celebre a atuação da Fragata Niterói, comandada
pelo Capitão-de-Fragata John Taylor, que, apresando vários navios, atacou o comboio português até a foz do Rio
Tejo, em Portugal.

3.7 - O BLEFE NO MARANHÃO E A CONQUISTA DO PARÁ


O próximo passo para expulsão dos portugueses do norte-nordeste brasileiro era o Maranhão. Cochrane,
utilizando-se de um hábil ardil, comunicou à junta portuguesa que governava São Luís, capital da Província do
Maranhão, que a Nau Pedro I era a ponta de lança de uma grande força naval que viria próxima, transportando um
grande Exército nacional que tomaria aquela província. Porém, tudo não passava de um blefe para levar à deposição
dos portugueses que governavam o Maranhão e se mantinham fiéis a Lisboa, o que aconteceu em 27 de julho de
1823.
Seguiu-se a utilização do mesmo ardil no Pará, conduzido pelo Capitão-Tenente John Pascoe Grenfell, no
comando do Brigue Maranhão. Tais blefes, que conduziram à aceitação da Independência brasileira pelas juntas de
governo, formada em sua maioria de portugueses, em São Luís e em Belém não se deram tão facilmente como pode
18
A população por meio da reunião de pequenas doações comprava navios para a Marinha
19
Trecho da carta (4 de novembro de 1822) de Antônio Correa da Câmara, representante brasileiro na Argentina, que foi encarregado por
José Bonifácio de convidar Lord Thomas Cochrane, que estava naquele momento contratado pela Marinha chilena, para servir na Marinha
brasileira:
“Venha meu Lord. A Honra o convida, a Glória o chama. Um generoso Príncipe e toda uma nação o esperam. Venha, Hércules redivivo, e
com seus nobres esforços, ajude a dominar a Hidra de cem cabeças de um terrível Despotismo. O Ocidente da América está salvo pela
virtude de seu Braço...O Sagrado Estandarte da Independência está vitoriosamente desfraldado dos Galápagos às ilhas de Cedro na
Califórnia! Venha já e proporcione às nossas Armas Navais a maravilhosa ordem e incomparável Disciplina da Poderosa Albion...” (Retirado
de História Naval Brasileira, Terceiro Volume, Tomo I. p73-74)
20
Bloqueio naval – Impedir a entrada ou saída de navios mercantes e de guerra de um porto, base ou área confinada, pela ameaça de atacá-
los com forças navais superiores. O bloqueio naval poderá ser comercial ou militar. O bloqueio comercial, mais que isolar e não permitir o
abastecimento por via marítima do adversário, impede o comércio marítimo no porto bloqueado. O bloqueio militar destina-se a manter no
porto ou confinada numa área restrita a força naval adversária, sem que esta possa perturbar o bloqueio comercial.
21
Comboio é ainda hoje considerado o melhor meio de proteger os navios mercantes de uma força naval inimiga. Seja essa força naval
atacante constituída de submarinos, como na Primeira e Segunda Guerras Mundiais, seja ela uma Esquadra composta de navios de guerra a
vela, como era a força naval brasileira que atacou o comboio que retornava para Portugal. O comboio é o agrupamento de navios mercantes
que, navegando juntos de um destino a outro, é acompanhado e protegido, isto é escoltado, por navios de guerra amigos.
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parecer. A luta pelo poder nas províncias entre brasileiros nativos e portugueses recém-adeptos da Independência fez
com que os contingentes da Marinha naquelas cidades, que representavam o imperador, atuassem tanto tentando
apaziguar as disputas entre os dois grupos, brasileiros e portugueses, como impondo a ordem pela força das armas.

3.8 - A CISPLATINA TAMBÉM FOI BRASILEIRA


As operações navais na Cisplatina foram parecidas com as realizadas na Bahia, sendo feito um bloqueio naval
pela Marinha, enquanto as tropas fieis a D. Pedro cercavam Montevidéu, a capital da Província Cisplatina, isolando
as tropas portuguesas comandadas por D. Álvaro Macedo que lá estavam.
O Capitão-de-Mar-e-Guerra Pedro Antônio Nunes comandava a força naval no Sul quando os navios de guerra
portugueses tentaram romper o bloqueio em 21 de outubro de 1823. A batalha que se seguiu, embora violenta,
terminou sem a vitória de nenhum dos oponentes, isto é, nenhum dos lados conseguiu danificar ou afundar navios
inimigos. Mas esse combate foi uma vitória estratégica das forças brasileiras, pois os navios portugueses foram
impedidos de sair do porto de Montevidéu e foi mantido o isolamento das tropas de D. Álvaro Macedo naquela
cidade. O desanimo das tropas portuguesas com a falta de alimentos e armamento provocada pelo bloqueio e pelo
cerco por terra foi aumentado pela notícia que Montevidéu era o último ponto de resistência portuguesa na ex-
colônia, pois as províncias do Norte e Nordeste do Brasil tinham aderido à Independência. Completamente isolado,
D. Álvaro Macedo ordenou às suas tropas a evacuação da Cisplatina em novembro de 1823.

4 - LEITURA COMPLEMENTAR (500 ANOS DE HISTÓRIA DO BRASIL)

4.1 - O PRIMEIRO REINADO

4.1.1 - A GUERRA NAS PROVÍNCIAS


A presença de forças militares fiéis ao governo português, sediadas em algumas províncias, constituía o
maior empecilho à rápida organização interna. Tornava-se necessário expulsá-las, acarretando um período de
lutas, as quais já se desenrolavam durante o mês de setembro de 1822.
Ao novo país importava possuir uma força militar com que pudesse contar para a sua defesa. Por isso, D.
Pedro, declarando-se dela seu generalíssimo, permitiu que portugueses optassem pelo Brasil sendo-lhes
concedido o prazo de quatro meses; abriu o voluntariado e criou (08.01.1823) um batalhão de estrangeiros,
engajando bávaros e irlandeses. Merece destaque, além de Pierre Labatut, já citado, outro francês, Emille Louis
Mallet, que, em 1822, ingressava como cadete na Academia Imperial, tornando-se brasileiro quando segundo
tenente.
O imperador sabia que a sorte da independência seria travada no mar: uma marinha de guerra eficaz era o que
contava no momento. Por isso, reaparelhou todos os navios que pôde obter, no Arsenal do Rio de Janeiro, graças ao
que se apurou de uma subscrição pública, e, mesmo, chegou a comprar o brigue Maipu com seus dinheiros, do norte-
americano David Jewett, que na nossa Marinha se engajou, recebendo o posto de capitão-de-mar-e-guerra. Seguindo
a sugestão de Felisberto Caldeira Brant, contratou Lorde Thomas Cochrane, 10º Conde de Dundonald, que acabara de
distinguir-se na guerra de independência do Chile, apodado pelos espanhóis de EI Diablo, por causa de suas incríveis
façanhas. Com ele, vinham diversos oficiais para ocuparem, precipuamente, os postos inferiores. Quinhentos marujos
completavam a contratação.

4.1.2 - A GUERRA NA BAHIA


Pierre Labatut desembarcara em Alagoas no Porto de Jaraguá; recebeu reforços pernambucanos (Major José
Barros Falcão de Lacerda) e juntou-se às forças baianas organizadas por Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque,
os voluntários do príncipe, apelidados de periquitos. Alguns índios mansos aderiram. O efetivo total atingia 9.515
homens. Imediatamente, Labatut estabeleceu o cerco contra o Brigadeiro Madeira de Mello, desde 2 de novembro,
dificultando a sua posição, embora a esquadra do Chefe-de-Divisão João Felix Pereira de Campos (nau D. João VI,
fragata Constituição, corvetas Dez de Fevereiro, Regeneração e Princesa Real, charruas Princesa Real e Orestes,
brigues Audaz e Prontidão) permitisse o domínio do mar. No combate de Pirajá (8 de novembro), depois de cinco
horas de luta, venceram os nossos, graças a um estratagema do corneteiro Luiz Lopes, tocando avançar uma cavalaria
imaginária, obrigando a Madeira de Mello a concentrar-se em Salvador. Mantinham os nossos o cerco, onde
frequentes eram os lances heroicos, distinguindo-se Maria Quitéria de Jesus que, como soldado, demonstrou
desempenho notável.
Com a patente de primeiro-almirante, Cochrane arvorou o seu pavilhão na nau Pedro I e rumou, a 3 de abril,
para águas baianas. Sete navios ao todo; pobre em tamanho, mas não em valor: os voluntários brasileiros (entre eles
Joaquim Marques Lisboa) lutavam pela sua Pátria Cochrane não confiava, porém, nos portugueses. A 4 de maio de
1823, encontra-se com Felix de Campos travando um combate indeciso, prejudicada sua atuação pelo motim dos
marujos portugueses na capitânia, permitindo-lhe, contudo, cercar o Porto de Salvador, baseado na enseada do Morro
de São Paulo.
EAD – QAA/AFN – MÓDULO 3 6 CURSOASCENSAO.COM.BR
HISTÓRIA 02 CURSO ASCENSÃO
Alguns pequenos combates deram continuidade à ação bélica sem resultados expressivos. Em 7 de janeiro,
tentaram os lusos firmar-se em Itaparica, mas o marinheiro português João de Oliveira Bottas, depois tenente da
Marinha Imperial, organizou uma pequena flotilha de barcos pesqueiros que muito incomodou os adversários,
impedindo-os de ocuparem esse ponto estratégico.
Houve, depois, encontro das forças oponentes em Conceição (15 de fevereiro) E, em 22 de fevereiro, chegaram
reforços para Labatut: o Batalhão do Imperador, comandado pelo Coronel José Joaquim de Lima e Silva, em cujas
fileiras encontrava-se o alferes Luís Alves de Lima e Silva. Outro encontro em Itapoã (3 de maio) dava vitória aos
imperiais Madeira de Mello perdia a esperança de abrir uma brecha no anel de assédio que o sufocava.
Mas a discórdia atingiu o nosso acampamento; desagradando Labatut e seus oficiais por causa da prisão do
Coronel Felisberto Gomes Caldeira, foi substituído no comando (21.051823) pelo Coronel José Joaquim de Lima e
Silva (depois Visconde de Magé).
Sentindo que a sua posição se apresentava difícil de sustentar, Madeira de Mello preferiu retirar-se. Embarcou a
sua gente e todos os que desejaram partir na maior ordem, em 48 navios, entre os de guerra e mercantes, e, a 2 de
julho, velejaram para o Reino. Saiu-lhes ao encontro o primeiro-almirante com o desejo de impedir que arribassem
para outro porto brasileiro, onde o ideal de separação não estivesse firmado. Concluindo, porém, que se dirigiam
mesmo para Lisboa, já nos 4º de latitude norte, encarregou ao comandante da Nictheroy John Taylor, proceder à
continuidade da perseguição. Escreveu, então, a elegante fragata e sua tripulação uma das páginas mais destemidas e
belas da Marinha de todos os tempos Taylor apresou 16 navios componentes do comboio português.

4.1.3 - A GUERRA NO MARANHÃO E PIAUÍ


O presidente da junta governativa do Maranhão, Bispo D. Joaquim de Nazaré, liderava o partido luso,
encontrando aliado no Coronel João José da Cunha Fidié, governador de armas do Piauí. Proclamada a adesão à
independência, a 19 de outubro, na Vila de S. João da Parnaíba, organizada pelo opulento negociante Simplício Dias
da Silva, contra ela dirigiu-se o Coronel Fidié, restabelecendo a autoridade portuguesa: os patriotas revoltavam a Vila
de Oeiras e solicitavam auxílio do Ceará, tendo sua junta governativa enviada o Coronel José Pereira Filgueiras com
soldados voluntários. Encontrou-se em 13 de março de 1823 em Genipapo, Piauí, vencendo Fidié, que, em seguida,
sem tirar proveito dessa vantagem, retirou-se para a Vila de Caxias, no Maranhão. Ficou o Piauí em mãos dos
partidários da independência, os quais juntaram suas forças com as maranhenses, impondo a Caxias longo cerco,
capitulando Fidié a 31 de julho Remetido preso para a Bahia e daí para o Rio de Janeiro, permitiu-lhe o imperador
retirar-se para Portugal, aonde veio a ser diretor do Colégio Militar de Lisboa.
No dia 26 de julho, chegava Lorde Cochrane a São Luís do Maranhão (onde não se sabia dos eventos sertanejos),
a bordo da nau Pedro I, dizendo-se a vanguarda de poderosa esquadra, ameaçando de destruição a cidade indefesa
com disparos elevados. Os habitantes, ociosos de seus haveres, preferiram aderir à independência (28 de julho).
Cochrane considerou a cidade sua presa, apoderando-se de várias propriedades móveis.

4.1.4 - A GUERRA NO PARÁ


Na região do Pará, a fidelidade a Lisboa mostrava-se sólida.
Conspiraram os patriotas paraenses provocando um levante a 14 de abril de 1823, sufocado pela guarnição
portuguesa, comandada pelo General José Maria de Moura, que prendeu a todos na fortaleza da barra e na cadeia
pública.
Determinou o primeiro-almirante que John Grenfell se dirigisse a Belém do Pará, no brigue Infante D. Miguel,
apresado e rebatizado de Maranhão. Grenfell chegou a Belém a 10 de agosto e usou do mesmo estratagema de
Cochrane, obtendo da junta, na reunião do dia seguinte, a adesão à independência.
Verificando-se grande agitação popular (15 de outubro), incitada pelo cônego Batista Campos, Grenfell
restabeleceu a ordem, apoiando-se em seus marujos e alguns habitantes. Prendeu muitos, fuzilou cinco para exemplo,
remeteu o cônego preso para o Rio de Janeiro e confinou 256 exaltados no porão do navio S. José Diligente (depois
chamado Palhaço), os quais sofreram atrocidades da sede, agonizando, depois de vários acessos de furor, com a cal
virgem derramada pelos seus guardas (comando do Tenente Joaquim Lúcio de Araújo). Somente quatro escaparam
com vida. Submetido a Conselho de Guerra, Grenfell logrou demonstrar a sua inocência.
A 9 de novembro, quando Lorde Cochrane retornou ao Rio de Janeiro, recebeu grandes homenagens e o título de
Marquês do Maranhão.

4.1.5 - A SITUAÇÃO NA CISPLATINA


Na Província Cisplatina, as tropas de Carlos Frederico Lecór (português de nascimento) aderiram ao Ato de D.
Pedro e sitiaram a Divisão de Voluntários Reais, que se recusava a aceitar a independência, com D. Alvaro da Costa
Souza de Macedo em comando na cidade de Montevidéu. Completava o bloqueio os navios de Rodrigo Lobo, que
empregava a fragata Thetis por capitânia, recebendo mais reforços de David Jewett que se fez de vela do Rio de
Janeiro em 14 de novembro de 1822, com as fragatas Ypiranga e Paragaçu, estas logo retornaram à capital em janeiro
de 1823, corveta Liberal e cinco transportes. Em janeiro de 1823, seguiu para Montevidéu o Capitão-de-Mar-e-

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HISTÓRIA 02 CURSO ASCENSÃO
Guerra Pedro Antônio Nunes, nomeado comandante das forças navais em operações na Cisplatina, a bordo do brigue
Real Pedro. O sítio prolongou-se por 17 meses. Ainda tentou D. Alvaro uma reação; mas perdeu o combate naval de
Montevidéu (21 de outubro), no qual nenhum dos contentares se engajou a fundo, havendo, apenas, troca de tiros. D.
Alvaro e sua gente retiraram-se, 18 de novembro, para Portugal.
Estava, assim, consolidada a independência no território que a história consagrara como Brasil. O sangue
derramado, os sacrifícios que se impuseram os embates vigorosos não produziram uma simples vitória de armas, mas
a definição do sentimento nacional. Forjara uma epopeia.

4.1.6 - CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR22


Ainda no reinado de D. Pedro I, uma revolta na Província de Pernambuco colocou em perigo a integridade
territorial do Império. A Marinha atuou contra a revolta em algumas províncias do Nordeste, principalmente em
Pernambuco, chamada Confederação do Equador, a partir de abril de 1824. Porém, o aumento do combate à revolta
só se deu com o envio da força naval comandada por Cochrane, onde foi embarcada a 3ª Brigada do Exército
Imperial, com 1.200 homens, comandada pelo Brigadeiro Francisco Lima e Silva. As tropas foram desembarcadas em
Alagoas e seguiram por terra para a província rebelada, enquanto a força naval alcançou Recife em 18 de agosto de
1824, instituindo severo bloqueio naval. Com a Marinha e o Exército atuando conjuntamente, as forças rebeldes de
Recife foram derrotadas em 18 de setembro.

22
Movimento revolucionário, de caráter emancipacionista e republicano, ocorrido em 1824 no Nordeste brasileiro. Tem raízes na Revolução
Pernambucana de 1817.
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II - A ATUAÇÃO DA MARINHA NOS CONFLITOS INTERNOS E EXTERNOS


A peculiar Independência brasileira, que pôs a frente do processo de emancipação da ex-colônia o herdeiro do
trono real português, produziu uma divisão na política brasileira que marcaria o reinado de D. Pedro I: a separação
entre brasileiros, liberais que defendiam a monarquia constitucional, e portugueses, que propunham a maior
concentração de poder nas mãos do imperador.
O Imperador D. Pedro I tornava-se cada vez mais autoritário, buscando o apoio da facção dos portugueses que
defendiam maior poder ao monarca. Já a facção dos brasileiros queria que o poder do Estado brasileiro fosse dividido
entre o imperador e a Assembleia Legislativa, constituída de representantes eleitos da sociedade, que redigiria a Carta
Constitucional e faria as leis. Ou seja, defendiam que a monarquia de D. Pedro fosse uma monarquia constitucional.
A Assembleia Constituinte foi reunida para redigir a primeira Constituição brasileira. Contudo, a maioria dos
deputados constituintes queria uma Constituição que limitasse os poderes do imperador. Tal fato desagradava o D.
Pedro e os homens que o apoiavam, já que o monarca queria no Brasil uma monarquia absolutista, como seu pai, D.
João, reinou em Portugal.
O conflito entre D. Pedro e a os deputados constituintes acabou quando o Imperador dissolveu a Assembleia
Constituinte em 1823. Em seguida, nomeou um Conselho de Estado composto por dez membros, com a tarefa de
redigir um projeto de Constituição. O resultado é que impôs uma Constituição, outorgada em 1824, que praticamente
resgatava o regime absolutista. A atitude autoritária do Imperador aumentou em muito uma oposição liberal a ele,
representada pelo Partido Brasileiro23.
Foram vários anos de disputa política entre os Partidos Português e Brasileiro, e de críticas cada vez mais
violentas ao Imperador vindas dos políticos do Partido Brasileiro e de todos que defendiam que o poder do Estado
não ficasse tão concentrado nas mãos de D. Pedro. Também desagradava muito aos brasileiros naturais a influência
que os portugueses, que tinham aderido a nacionalidade brasileira com a Independência, tinham junto ao Imperador.
Logo os portugueses, que os nativos brasileiros acusavam de monopolizar o comércio com o exterior.24
O embate entre portugueses e brasileiros na Assembleia Geral Legislativa transparece na imprensa, que ataca o
Imperador, e vai para as ruas, onde partidários do imperador entram em choque com defensores do Partido Brasileiro.
Preocupava D. Pedro I não somente a oposição a seu reinado, que crescia entre os brasileiros, como a situação
política em sua terra natal, Portugal, onde ele próprio e seus descendentes tinham direitos sobre o trono.
Em 7 de abril de 1831, D. Pedro I abdicou do trono25 em favor de seu filho, D. Pedro de Alcântara, então com
cinco anos de idade. Enquanto o herdeiro do trono não tinha idade para assumir o trono, instalou-se no Brasil um
governo regencial. O Poder Executivo seria composto por três membros, uma regência trina, conforme determinava a
Carta Constitucional. Posteriormente, a regência seria constituída de uma só pessoa, a regência una.
No período regencial, o conturbado ambiente político da Corte se refletiu nas províncias do Império, em
movimentos armados que explodiram por todos os principais centros regionais, desde 1831, até os anos de
consolidação do reinado de D. Pedro II. A Marinha da Independência e da Guerra Cisplatina, constituída por elevado
número de navios de relativo grande porte, foi sendo transformada em uma Marinha de unidades menores, próprias
para enfrentar as conflagrações nas Províncias, como também de acordo com as limitações orçamentárias.
Revoltas deflagradas em diversas províncias foram abafadas pelo governo regencial com a utilização da Marinha
e do Exército. A Marinha se fez mais presente nos combates no Pará (Cabanagem), no Rio Grande do Sul (Guerra

23
Esta divisão entre o imperador e o Partido Português e o Partido Brasileiro se tornou mais radical pela crise econômica que o Brasil tinha
entrado logo no começo de sua história como Estado autônomo, causada pelos gastos com o reconhecimento da Independência brasileira e
com a guerra empreendida pela posse da Província Cisplatina, da qual trataremos mais tarde.
24
Os donos das casas comerciais que tratavam do movimento de produtos importados e exportados pelos portos brasileiros eram, em sua
grande maioria, portugueses de nascimento. Esses estabelecimentos intermediavam a exportação da produção agrícola das grandes
propriedades, como o café, o algodão e o açúcar. Também eram os intermediários na importação da mão-de-obra que trabalhava nas
plantações, os escravos trazidos da África.
25
CRONOLOGIA: 26 de abril de 1821 – partida de seu pai, D. João VI, para Portugal, declarando Pedro I regente do Brasil. Em
conseqüência de sua permanência do Brasil e por apoiar os constitucionalistas do Porto, Pedro é destituído, mais tarde, da regência do Brasil.
9 de janeiro de 1822 (Dia do Fico) – Pedro I vai contra as ordens das Cortes Portuguesas e do próprio pai, que exigiam sua volta, ficando no
Brasil. 7 de setembro de 1822 – a notícia de destituição de Pedro I e de nova ordem de D. João VI para regressar em vergonha a Portugal
chega até ele, que declara a Independência do Brasil. 1825 – João VI nomeia Pedro I seu sucessor, apesar da rebeldia demonstrada, numa
tentativa de reunir Portugal e Brasil sob a mesma coroa. 10 de março de 1826 – morre D. João VI e Pedro torna-se Pedro IV de Portugal,
apesar de a constituição brasileira o proibir. Reina durante um período de sete dias (entre 26 de abril e 2 de maio de 1826, abdicando da
coroa de Portugal para a filha Maria da Glória (Maria II), ficando seu irmão Miguel como regente e noivo de sua sobrinha.
23 de junho de 1828 – Dom Miguel, absolutista, autoproclama-se rei de Portugal e anula a constituição emitida por seu irmão Pedro,
desencadeando as Guerras Liberais entre seus partidários e os constitucionalistas (liberais) de Dona Maria II e Pedro I. Enquanto isto, no
Brasil, Pedro, por seu absolutismo, tornava-se cada vez mais impopular. 7 de abril de 1831 – Tendo em vista a situação de Portugal, Pedro I é
forçado a abdicar para o filho Pedro II (com apenas cinco anos de idade) e regressa a Portugal, onde se viviam as Guerras Liberais entre os
miguelistas, partidários do absolutismo defendido por Miguel, que usurpara a coroa a Maria II, e os liberais, defensores do
constitucionalismo. 24 de julho 1834 – depois da Batalha de Lisboa, os liberais derrotam os miguelistas e Pedro repõe a filha no trono
português.
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HISTÓRIA 02 CURSO ASCENSÃO
dos Farrapos ou Revolução Farroupilha), na Bahia (Sabinada), no Maranhão e Piauí (Balaiada) e em Pernambuco
(Revolta Praieira), esta já anos após a coroação de D. Pedro II.
Em todas estas revoltas, a Marinha não enfrentou nenhum grande inimigo no mar. Embora na Guerra dos
Farrapos os rebeldes tenham formado uma pequena flotilha de embarcações armadas, que foi prontamente combatida
e vencida, a Marinha se fez presente no rápido transporte de tropas do Exército Imperial da Corte e de outras
províncias até às províncias conflagradas. Também dependeu do transporte por mar, em grande parte realizado pela
Marinha, o abastecimento das tropas que lutavam nas províncias rebeladas, pois não existiam estradas que ligassem a
Corte as províncias do Norte e do Sul.
A Marinha também cumpriu ações de bloqueio nos portos ocupados pelos rebeldes nas províncias, evitando que
recebessem qualquer abastecimento vindo do mar, como armas e munições desviadas de outras províncias ou
compradas no estrangeiro. Finalmente, militares da Marinha Imperial atuaram diversas vezes em desembarques,
lutando com grupos rebelados lado a lado com tropas do Exército, da Guarda Nacional e milicianos.
Os dois grandes conflitos externos que o Império brasileiro se envolveu, desde sua Independência até o início das
hostilidades que levariam à guerra contra o Paraguai, foram a Guerra Cisplatina, entre 1825 e 1828, e a Guerra contra
Manuel Oribe e Juan Manuel de Rosas, em 1851 e 1852. A área marítimo-fluvial que se desenrolaram a grande
maioria das operações navais destes dois conflitos, separados no tempo por quase um quarto de século, foi a mesma,
o grande estuário do Rio da Prata, que separa o Uruguai da Argentina. Foi com as forças militares destas duas
repúblicas que o Império brasileiro lutou.
Na Guerra Cisplatina, Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata, atual Argentina, lutaram pela posse, ou
influência no território uruguaio, ainda não independente. Nesta guerra, que custou muito à economia de um país
recém-formado como o Brasil, a Marinha lutou longe de sua base principal, o Rio de Janeiro, contra a Marinha
argentina que, embora menor, atuava muito perto de sua principal base de apoio, Buenos Aires, e conhecendo muito
um teatro de operações repleto de obstáculos naturais à navegação, o Rio da Prata.
A Marinha Imperial Brasileira, além das atividades de abastecimento das tropas em combate, operou de modo
ofensivo no Rio da Prata. A força naval brasileira efetuou um bloqueio naval sobre Buenos Aires visando a isolar a
capital adversária de abastecimento vindo do exterior e impedir que embarcações argentinas transportassem tropas e
armamento para reforçar argentinos e orientais que lutavam contra as tropas brasileiras no território uruguaio.
Além do bloqueio, a força naval brasileira combateu a Esquadra argentina até seu desmembramento, privando o
adversário do principal e primeiro braço do Poder Naval. Os navios da Marinha que não foram deslocados para
aquela guerra não deixaram de se envolver no conflito. A Marinha defendeu as linhas de comunicação marítimas,
dando combate aos corsários armados pela Argentina e pelos rebeldes uruguaios que atacaram a navegação mercante
brasileira ao longo de toda a nossa costa.
A próxima guerra que o Brasil se envolveria no Rio da Prata seria contra Juan Manuel de Rosas, ditador
argentino e Manuel Oribe, presidente da República Oriental do Uruguai e líder do Partido Blanco uruguaio. Tendo
como seus aliados os governadores das províncias argentinas de Entre Rios e Correntes e o Partido Colorado
uruguaio, o Império brasileiro se interpôs a uma tentativa de união de seus vizinhos do Sul, que enfraqueceria a
posição brasileira no Rio da Prata e se tornaria uma ameaça na fronteira do Rio Grande do Sul, a pouco pacificado e
impedido de se separar do Brasil na Guerra dos Farrapos.
Coube à Marinha um grande momento neste curto conflito: a Passagem de Tonelero. Pela primeira vez se
utilizando navios a vapor em um conflito externo, a Força Naval brasileira ultrapassou em ávida troca de fogos o
ponto fortificado adversário no Rio Paraná, o Passo de Tonelero, e conduziu as tropas aliadas rio acima para uma
posição de desembarque favorável onde, foi possível o ataque e a posterior vitória sobre as tropas adversárias.

1 - CONFLITOS INTERNOS
1.1 - CABANAGEM
A primeira sublevação ocorrida contra a Regência foi a Cabanagem, no Pará, que se generalizou em 1835, com a
ocupação da capital da província, Belém. O governo central enviou uma força interventora constituída de elementos
da Marinha e do Exército Imperial que, após primeira tentativa frustrada de reconquistar a capital, desembarcou e a
ocupou sem a resistência dos rebeldes. Contudo, os cabanos retomaram o fôlego para a luta com o crescimento da
revolta no interior e retomaram a capital em agosto de 1835.
Durante todo o conflito, as forças legais atuaram contra focos rebeldes espalhados por um território inóspito e
desconhecido, a floresta amazônica. A Marinha bloqueou o porto de Belém, dificultando o seu abastecimento, mas
também bombardeou posições rebeldes, desembarcou tropas do Exército e embrenhou-se nos rios amazônicos para
dar combate aos mais isolados focos de revolta. O desgaste que as forças militares impuseram aos cabanos levou ao
abandono da capital em maio de 1836. A luta se estendeu até 1840, com a ação conjunta da Força Naval e das tropas
do Exército debelando a resistência dos cabanos por todo o Pará.

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HISTÓRIA 02 CURSO ASCENSÃO
1.2 - GUERRA DOS FARRAPOS
A Guerra dos Farrapos, rebelião no sul do Império que durou dez anos, de 1835 a 1845, atingiu uma região de
fronteira já conturbada por conflitos externos. A Marinha novamente atuaria em cooperação com o Exército no
transporte e abastecimento das tropas e apoiando ações em terra com o fogo dos canhões embarcados.
Porém, na Guerra dos Farrapos os navios de guerra estiveram envolvidos em pequenos combates navais com os
farroupilhas. Os combates não ocorreriam em mar aberto, mas em águas restritas, como as Lagoas dos Patos e Mirim.
O primeiro combate naval da Guerra dos Farrapos opôs o Iate Oceano, da Marinha Imperial, e o Cúter Minuano, dos
revoltosos, na Lagoa Mirim, quando o navio rebelde foi posto a pique.
A pequena força naval que os farroupilhas mantinham na Lagoa dos Patos foi completamente vencida em agosto
de 1839, quando o Chefe-de-Divisão John Pascoe Grenfell, comandante das Forças Navais no Rio Grande, apresou
dois lanchões rebeldes em Camaquã. A rebelião rio-grandense estendeu-se para Santa Catarina, onde os farroupilhas
formaram uma pequena força naval com navios mercantes apresados e lanchões remanescentes das operações na
Lagoa dos Patos e Mirim, que foi vencida pela Marinha em um combate no porto de Laguna. Foi neste conflito
regional que pela primeira vez a Marinha brasileira empregou um navio movido a vapor em operações de guerra.
1.3 - SABINADA
A Sabinada, revolta que eclodiu contra a autoridade da Regência na Bahia, em novembro de 1837, foi combatida
pela Marinha Imperial com um bloqueio da província, e o combate a uma diminuta força naval montada pelos
rebeldes com navios apresados. A revolta foi finalmente sufocada em 1838.
1.4 - BALAIADA
A Balaiada, agitação que tomou conta das Províncias do Maranhão e do Piauí, entre 1838 e 1841, reuniu a
população pobre e os escravos contra as autoridades constituídas da própria Província. Em agosto de 1839, seguiu
para o Maranhão o Capitão-Tenente Joaquim Marques Lisboa, futuro Marquês de Tamandaré, nomeado Comandante
da Força Naval em operação contra os insurretos.
O após estudar a região, armou pequenas embarcações que, enviadas para diversos pontos dos principais rios
maranhenses, combateriam os rebeldes isoladamente ou apoiando forças em terra. A partir de 1840 e até o final da
Balaiada, o Capitão-Tenente Joaquim Marques Lisboa atuaria em cooperação com o então Coronel Luís Alves de
Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, que comandava a Divisão Pacificadora do Norte, reunida para debelar a
revolta. A união dos futuros patronos das forças singulares de mar e terra no combate a Balaiada simboliza uma
situação recorrente em todos os conflitos internos durante a Regência e o Segundo Império: a atuação conjunta da
Marinha e do Exercito na manutenção da ordem constituída e da unidade do Império.
1.5 - REVOLTA PRAIEIRA
A Revolta Praieira estourou em Pernambuco em novembro de 1848. Iniciada na capital, tomou corpo nas vilas e
engenhos da zona da mata e interior pernambucanos. Para combatê-la, tropas leais ao governo provincial deixaram
Recife, a capital da província, para engajar as forças praieiras que estariam no interior. Ao ver a capital
desguarnecida, forças praieiras atacaram-na, em 2 de fevereiro de 1849. O pequeno contingente militar que guarnecia
a cidade foi imediatamente apoiado pela força naval fundeada no porto. Contingentes de marinheiros e fuzileiros
navais desembarcaram dos navios para reunir-se aos defensores da capital na batalha, enquanto os canhões da
Marinha fustigaram as investidas dos revoltosos. A atuação da Marinha nesta revolta, embora breve, evitou que a
capital provincial caísse nas mãos dos rebeldes.

2 - CONFLITOS EXTERNOS
2.1 - GUERRA CISPLATINA
O Brasil recém-independente envolveu-se numa guerra com as Províncias Unidas do Rio da Prata, atual
Argentina, pela posse da então província brasileira da Cisplatina, atual República Oriental do Uruguai, anexada ainda
por D. João VI, em 1821. Esta guerra pouco aparece nos livros de história e, mesmo tendo durado quatro anos, entre
1825 e 1828, é desconhecida para a maioria dos brasileiros.
O interesse pelo domínio daquelas terras não era novo, o Império do Brasil e a Argentina, herdaram as aspirações
e as disputas dos colonizadores portugueses e espanhóis pela margem esquerda do estuário do Rio da Prata. Nos
séculos XVII e XVIII, o centro da disputa era a Colônia de Sacramento, o enclave português na região. No início do
século XIX, com os movimentos de independência na América espanhola e portuguesa, a conflagração atingiu o
Brasil e a Argentina, no conflito conhecido como Guerra Cisplatina.
A guerra não envolvia só a disputa pela posse do território da Província Cisplatina que, além do gado criado nos
pampas e de dois portos comerciais importantes, Montevidéu e Maldonado, não continha recursos naturais de monta,
mas tinha como objetivo o controle do Rio da Prata, área geográfica de suma importância estratégica desde o início
da colonização europeia na América do Sul. No estuário do Rio da Prata desembocavam dois grandes rios (Uruguai e
Paraná), que constituíam o caminho natural para a penetração no continente sul-americano, representando uma

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HISTÓRIA 02 CURSO ASCENSÃO
estrada fluvial para a colonização, o acesso aos recursos naturais e a viabilização das trocas comerciais por todo
interior da América do Sul.
Apesar do controle português e, depois de 1822, brasileiro, a Cisplatina, ou Banda Oriental, mantinha uma
população de ascendência e hábitos hispânicos, logo culturalmente distantes dos brasileiros. Os cisplatinos, liderados
por Juan Antonio Lavalleja, iniciaram um levante buscando independência, procurando apoio das Províncias Unidas
do Rio da Prata, o Estado nacional à época constituído que poderia rivalizar com o Império brasileiro.
O Estado argentino, naquela época, era formado por várias províncias com alto grau de autonomia, que
reconheciam a liderança exercida pela província de Buenos Aires. A confederação de províncias argentinas tinha um
interesse comum na sublevação de cisplatinos contra o Império brasileiro, visando a possibilidade de incorporar a
Banda Oriental. Assim, imediatamente deram apoio político, militar e financeiro à revolta, passando, posteriormente,
a envolver-se oficialmente na luta.
Para se opor à sublevação, nitidamente suportada pela Argentina, o Brasil desenvolveu uma campanha militar na
Banda Oriental entre os anos de 1825 e 1828. Além de tropas, deslocou vários meios navais da Esquadra recém-
formada nas Guerras da Independência para o estuário da Prata, comandadas pelo Vice-Almirante Rodrigo Lobo.
Com o fortalecimento das forças de Lavalleja na Banda Oriental, as Províncias Unidas do Rio da Prata oficializaram
seu apoio à revolta, declarando anexada a Banda Oriental ao território argentino, o que significava uma declaração de
guerra ao Governo Imperial.
Destacaremos aqui a participação brasileira na guerra naval, que teve como seu principal palco o estuário do Rio
da Prata. A ênfase no aspecto naval não indica que as operações de guerra conduzidas pelos Exércitos em terra
tenham sido menos importantes para a história da Guerra Cisplatina. O Exército Brasileiro e as forças de Lavalleja,
somadas ao Exército argentino, confrontaram-se em diversas batalhas, mas até o final da guerra, em 1828, nenhum
dos oponentes alcançou uma nítida vantagem na guerra terrestre.
A batalha mais significativa da Guerra Cisplatina, a Batalha do Passo do Rosário, ou Ituzaingó, como os
argentinos a chamam, ocorrida em 20 de fevereiro de 1827, teve resultados tão indecisos como toda a guerra terrestre
que se travou na Província Cisplatina. Nenhum dos lados conseguiu impor-se sobre o outro, não sendo possível
apontar vitoriosas nem derrotados. Contudo, a função desta obra é destacar a participação da Marinha brasileira na
nossa história. Assim, descreveremos as operações navais realizadas na Guerra Cisplatina.
A Marinha Imperial brasileira na Guerra Cisplatina lutou com a Força Naval argentina, mas também atuou contra
os corsários que, com cartas de corso emitidas pelas Províncias Unidas do Rio da Prata e pelo próprio Exército de
Lavalleja, atacavam os navios mercantes brasileiros por toda a nossa costa.
O embate entre a Esquadra brasileira e a Esquadra Argentina teve lugar no estuário do Rio da Prata e suas
proximidades, região com grande número de bancos de areia que dificultava a navegação. O que ajudou os argentinos
a desenvolver uma variação naval da guerra de guerrilha. Os navios argentinos atacavam e, quando repelidos,
escapavam da perseguição dos navios brasileiros pelos estreitos canais que se formavam entre os vários bancos de
areia da região, em sua maioria desconhecidos dos marinheiros brasileiros.
Como primeira ação de guerra, a Força Naval brasileira no Rio da Prata, comandada pelo Vice-Almirante
Rodrigo Lobo, estabeleceu um bloqueio naval no Rio da Prata, pretendendo impedir qualquer ligação marítima entre
as Províncias Unidas e os rebeldes de Lavalleja, e dos dois adversários com o exterior. O inimigo a ser confrontado
pela Força Naval brasileira deslocada para o estuário do Rio da Prata era liderado pelo experiente irlandês William
George Brown, que comandante da pequena esquadra sediada em Buenos Aires desde as lutas pela independência
daquele país. O adversário, apesar do menor número de navios de guerra, tinha suas ações facilitadas não só pelo
conhecimento da hidrografia26 do estuário do Rio da Prata, como também por permanecer operando próximo seu
porto base, o ancoradouro de Los Pozos, em Buenos Aires, onde seus navios eram abastecidos e reparados.
Nos primeiros meses da guerra, o bloqueio naval imposto pela Esquadra brasileira provocou o primeiro embate
entre as forças navais. O Combate de Colares ocorreu em 9 de fevereiro de 1826, quando a Esquadra argentina,
composta de 14 navios, deixou seu ancoradouro para empreender uma ação de desgaste à Força Naval brasileira em
bloqueio, também composta de 14 navios. As forças navais adversárias, dispostas em colunas, trocaram tiros de
canhão a grande distância uma da outra, causando perdas humanas e avarias materiais reduzidas de parte a parte. A
Esquadra argentina se retirou para o refúgio de Los Pozos e a Força Naval brasileira foi fundear entre os Bancos de
Ortiz e Chico.
O passo posterior do comandante das forças argentinas teria conseqüências muito mais significativas para os
destinos da guerra no mar e em terra se bem-sucedido. Seu alvo era a Colônia de Sacramento, uma praça fortificada
situada na margem esquerda do Rio da Prata e guarnecida por 1.500 homens chefiados pelo Brigadeiro Manoel Jorge
Rodrigues, complementados por uma pequena força de quatro navios, comandada pelo Capitão-de-Fragata Frederico
Mariath. Sete navios da Esquadra argentina, capitaneados pela Fragata 25 de Mayo, romperam o bloqueio brasileiro
ao largo de Buenos Aires e fizeram vela para a Colônia de Sacramento, simultaneamente aquela praça era cercada por
tropas.

26
Hidrografia é a topografia marítima, ciência utilizada para a produção de plantas da costa e ilhas, chamadas de cartas náuticas.
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HISTÓRIA 02 CURSO ASCENSÃO
Devido ao maior poder de combate Força Naval Argentina perante a flotilha brasileira que defendia a Colônia, as
tripulações e os canhões dos navios brasileiros foram desembarcados e incorporados às defesas de terra. Em 26 de
fevereiro de 1826, os navios argentinos e as tropas de cerco iniciaram o bombardeio, respondido pelas fortificações
da Colônia do Sacramento, que inutilizaram um dos navios adversários. Repelido o primeiro ataque, os defensores da
Colônia do Sacramento enviaram uma escuna para pedir auxílio às forças navais brasileiras estacionadas em
Montevidéu, socorro que chegaria mais rápido àquela praça sitiada.
Contudo, o Vice-Almirante Rodrigo Lobo não acudiu de imediato a cidade acossada pelo inimigo. Na noite de 1o
de março, a Força Naval argentina, reforçada por seis canhoneiras, tentou desembarcar 200 homens naquela praça.
Depois de severa luta, os atacantes argentinos foram repelidos, com a perda de duas canhoneiras e muitos homens,
não sem antes conseguirem incendiar um dos nossos navios. Os navios argentinos só desistiram do cerco em 12 de
março, escapando da Esquadra brasileira, que chegara com atraso em defesa de Sacramento.
A força naval Argentina empreendia ações mais ousadas contra a Esquadra brasileira. De uma troca de tiros sem
muitas consequências, em fevereiro, tentou a conquista de uma praça fortificada na margem esquerda do Rio da
Prata, ponto que, se conquistado, transformar-se-ia em um importante ponto de abastecimento das tropas uruguaias e
argentinas.
Uma das missões da Esquadra argentina era justamente a manutenção do abastecimento dos exércitos que
lutavam na Província Cisplatina. Como obstáculo antepunha-se a Esquadra brasileira comandada pelo Almirante
Rodrigo Lobo, que, apesar da ineficiência desse início de bloqueio naval – pelos primeiros embates navais da guerra,
observa-se que a Esquadra argentina movimentava-se com relativa facilidade – mantinha-se superior em número as
forças navais comandadas por Brown.
O Comandante da Esquadra argentina, William Brown, reuniu sua capitânia, a Fragata 25 de Mayo, e dois
brigues em uma audaciosa ação para capturar navios que se dirigissem a Montevidéu, tentando aumentar o tamanho
de sua Esquadra e tomar alguma carga de valor em navios mercantes. Em 10 de abril de 1826, conseguiu capturar a
pequena Escuna Isabel Maria. No dia seguinte, ao perseguir um navio mercante, a Fragata 25 de Mayo aproximou-se
tanto do porto de Montevidéu que foi reconhecida por navios da Esquadra brasileira, mesmo arvorando a bandeira
francesa27.
Saiu em sua perseguição a Fragata Niterói, comandada pelo hábil Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton,
ambos, navio e comandante, veteranos das Guerras da Independência e recém-chegados para reforçar a Força Naval
brasileira no Rio da Prata. Acompanharam a perseguição à capitânia Argentina quatro outros pequenos navios, mas o
combate se concentrou nos navios de maior porte, com a Fragata Niterói trocando disparos com a Fragata 25 de Mayo
e com um dos brigues que a acompanhava. Com o cair da noite, os navios argentinos, com graves avarias, retiraram-
se para Buenos Aires, dando por encerrado o embate que ficou conhecido como o Combate de Montevidéu.
Após o malogro da tentativa de capturar navios ao largo do porto de Montevidéu, Brown planejou outra ação
para reforçar sua esquadra com navios brasileiros capturados. Tencionava abordar e capturar a Fragata Niterói, o
mesmo navio que frustrou sua incursão anterior. Na noite de 27 de abril, sete navios argentinos rumaram para
próximo de Montevidéu, onde os navios brasileiros se reuniam, e tentaram identificar seu alvo. Enganados pela
escuridão, investiram contra a Fragata Imperatriz que, tendo percebido a aproximação do inimigo, se preparara para o
combate. Os navios argentinos 25 de Mayo e Independencia tentaram a abordagem, mas foram repelidos pela
tripulação da Imperatriz. O comandante do navio brasileiro, Capitão-de-Fragata Luís Barroso Pereira, liderou seus
homens na renhida luta até tombar mortalmente ferido no convés, atingido por disparos do inimigo. Foi uma das duas
vítimas fatais da Imperatriz no combate.
A 3 de maio de 1826, a Esquadra comandada por Brown foi avistada pelos navios brasileiros quando tentava
escapar do bloqueio naval ao seu porto. Os navios argentinos tentaram alcançar o Banco de Ortiz na esperança de
atrair os perseguidores, que, com navios de maior porte, encalhariam naquele banco de areia, tornando-se alvos
imóveis para seus canhões.
Contudo, no combate que ficou conhecido como o do Banco de Ortiz, foi justamente a Fragata argentina 25 de
Mayo a primeira a ficar encalhada, logo seguida pela nossa Fragata Niterói. Os dois navios imobilizados
empenharam-se em um duelo de artilharia. A Niterói conseguiu livrar-se do encalhe, logo a 25 de Mayo também
escapou do Banco de Ortiz e se reuniu ao restante da Esquadra Argentina. O Combate do Banco de Ortiz acabou sem
grandes perdas para ambos os adversários, mas mostrou o perigo que os bancos de areia do estuário do Rio da Prata
representavam para as esquadras em luta.
Em 13 de maio de 1826, o Almirante Rodrigo Pinto Guedes, o Barão do Rio da Prata, substituiu o Almirante
Rodrigo Lobo, que tinha se mostrado pouco capaz no comando da Força Naval do Império do Brasil em operações de
guerra no Rio da Prata. A primeira medida tomada pelo Almirante Pinto Guedes foi estabelecer uma nova disposição
das forças navais que reforçasse o bloqueio naval. Dividiu suas forças em quatro divisões, sob o comando de oficiais
capazes e experientes, devendo em todas oportunidades engajar o inimigo, obrigando-o a aceitar a luta. A 1a Divisão,
27
Expediente comum nas guerras no mar no tempo dos navios a vela, utilizando-se da bandeira de outra nação um navio de guerra ocultava
sua identidade perante o inimigo. Este ardil foi utilizado pelo Capitão-de-Fragata John Taylor quando no comando da Fragata Niterói na
épica perseguição aos navios portugueses em retirada, na Guerra da Independência.
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HISTÓRIA 02 CURSO ASCENSÃO
reunindo os maiores e mais poderosos navios que estavam no Rio da Prata, formaria a linha exterior do bloqueio,
impedindo que navios entrassem no Rio da Prata para abastecer a Argentina e seu Exército lutando na Cisplatina e
tentando capturar os corsários que transitassem pela região. A 2a Divisão, constituída de navios mais leves,
manobreiros e numerosos, operaria no interior do estuário, efetuando um rigoroso bloqueio naval entre a Colônia de
Sacramento, Buenos Aires e a Enseada de Barregã, isolando a Esquadra argentina no seu ancoradouro e tentando
impedir o abastecimento por mar da capital argentina. A 3a Divisão, composta de pequenos navios adequados à
navegação fluvial, defenderia a Colônia do Sacramento e patrulharia os rios Uruguai, Negro e Paraná, que formavam
a fronteira natural entre as Províncias Unidas do Rio da Prata e a Província Cisplatina, impedindo que as forças de
Lavalleja e o Exército argentino fossem supridos desde o território argentino. A 4a Divisão era formada por navios
em reparo, e foi mantida em Montevidéu, para atuar como uma força de reserva. A reorganização das forças navais
brasileiras mostrou sua eficiência na contenção dos movimentos da esquadra adversária.
No dia 15 de maio de 1826, as três linhas de bloqueio determinadas pelo novo comandante da Força Naval
brasileira no Rio da Prata já se achavam em posição. Em 23 de maio, a Esquadra argentina decidiu testar a resistência
da Força Naval brasileira responsável pelo bloqueio de Buenos Aires, a 2a Divisão da Esquadra Imperial, chefiada
pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton. Os navios brasileiros engajaram-se no Combate das Balizas Exteriores,
mesmo com o risco de encalharem nos bancos de areia em torno de Buenos Aires. Os navios argentinos perceberam a
resolução da força bloqueadora e voltaram ao seu ancoradouro, em Los Pozos. Dois dias depois, o navio capitânia da
2a Divisão, a Fragata Niterói, navegando sozinha, atraiu a Esquadra argentina para o combate, mas, novamente, a
troca de tiros não causou danos significativos a nenhum dos lados.
Mesmo a nova estratégia de bloqueio, mais agressiva, não se mostrava eficiente na destruição dos navios
argentinos que se mantinham protegidos no ancoradouro de Los Pozos.
No começo de junho de 1826, buscando um engajamento decisivo, o Almirante Rodrigo Pinto Guedes planejou
atacar a Esquadra inimiga dentro de Los Pozos. Para isso, a 2a Divisão foi reunida à 3a Divisão da Esquadra Imperial,
composta por navios menores que poderiam transpor os bancos de areia que protegiam o ancoradouro de Buenos
Aires.
Em 7 de junho, antes que as duas forças brasileiras se reunissem, cinco navios de transporte argentinos,
escoltados por navios de guerra, largaram de Buenos Aires com soldados e suprimentos para apoiar as tropas
argentinas que lutavam junto aos cisplatinos. Ao mesmo tempo, o resto da Esquadra argentina, comandada por
Brown, fez vela para atrair a atenção da força brasileira. Nem a 2a Divisão, junto a Buenos Aires, nem a 3a, ainda em
águas da Colônia de Sacramento, alcançaram os navios de transporte argentinos.
Em 11 daquele mês, as 2a e 3a Divisões, comandadas por Norton, executaram o plano de ataque e investiram
contra a Esquadra argentina em Los Pozos. Novamente, os bancos de areia protegeram os navios argentinos. O
comandante da Força Naval brasileira, Norton, desistiu do ataque que seria infrutífero. Apesar dos insucessos da ação
planejada, a Escuna Isabel Maria, apresada pelos argentinos, foi recuperada.
Considerando o malogro do último ataque brasileiro à Esquadra argentina como sua vitória, Brown preparou uma
nova investida à 2a Divisão, determinado a livrar Buenos Aires do bloqueio naval. Protegidos pela noite, em 29 de
julho de 1826, 17 navios da Esquadra Argentina tentaram surpreender os navios sob o comando do Capitão-de-Mar-
e-Guerra James Norton. Porém, alertados por uma escuna que fazia a vigilância, os brasileiros responderam ao
ataque. O combate tornou-se confuso; a mesma noite que escondia os atacantes, prejudicava a precisão dos disparos e
a identificação do inimigo. A possibilidade de atingir navios amigos determinou que ambos os lados suspendessem a
luta.
Ao alvorecer, o combate recomeçou. O Comandante da Esquadra argentina, Brown, conduziu seu navio
capitânia, a Fragata 25 de Mayo, na direção dos navios brasileiros, mas só foi acompanhado pela Escuna Rio de La
Plata Os dois navios argentinos receberam todo o peso dos disparos dos canhões brasileiros e ficaram completamente
inutilizados. O chefe das forças argentinas foi obrigado a transferir-se sob fogo para um navio argentino que ousou
aproximar-se. O restante da Esquadra argentina retirou-se para a segurança de seu ancoradouro. O Combate de Lara-
Quilmes foi a última tentativa da Esquadra argentina de destruir os navios da 2a Divisão da Esquadra Imperial,
desmantelando o bloqueio naval brasileiro em torno de Buenos Aires.
Depois dessa expressiva vitória das forças navais brasileiras, no começo do ano de 1827, a 3a Divisão, a
composta pelos menores navios da Esquadra brasileira, comandada pelo Capitão-de-Fragata Jacinto Roque Sena
Pereira, foi derrotada no Combate de Juncal.
No final do ano anterior a 3a Divisão recebeu ordens de subir o Rio Uruguai para auxiliar as operações do
Exército Imperial Brasileiro na Cisplatina. Sabendo daquela movimentação, o comandante da Esquadra argentina
reuniu uma força composta de 16 navios adaptados à navegação fluvial para destruir a 3a Divisão brasileira e permitir
o livre trânsito de reforços vindos das Províncias Unidas para os seus exércitos na Cisplatina.
Em 29 de dezembro de 1826, a Força Naval argentina atacou a 3a Divisão, fundeada na foz do Rio Iaguari, mas
foi repelida pelo intenso fogo da artilharia dos pequenos navios de Sena Pereira e recuou, descendo o Rio Uruguai.
Embora tivesse repelido o ataque argentino, a 3a Divisão brasileira se viu presa dentro do Rio Uruguai, uma vez que
os navios inimigos postaram-se na foz daquele rio.
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Foi organizada uma força naval com unidades da 2a Divisão para combater os argentinos que bloqueavam da 3a
Divisão no interior do Rio Uruguai, chamada de Divisão Auxiliadora. Apesar da urgência no socorro, a progressão desta
força naval foi lenta e difícil devido ao grande número de bancos de areia que tornavam aquelas águas pouco profundas e
inadequadas para navios de maior porte, como os que compunham a 2a Divisão brasileira.
A Corveta Maceió, a capitânia e o maior navio da divisão, ficou isolada dos outros navios brasileiros perto de um
banco de areia conhecido como Playa Honda. A Maceió era o alvo perfeito para as forças argentinas, sempre em busca de
navios para reforçar sua já diminuída Esquadra. Cinco navios inimigos aproximaram-se da corveta, que estava
acompanhada apenas da escuna Dois de Dezembro, e tentaram a abordagem. A tripulação da Maceió repeliu o inimigo
com o fogo de seus 20 canhões. Por fim, os navios argentinos recuaram, mas a missão da Divisão Auxiliadora ainda não
terminara. Os navios brasileiros da 3a Divisão permaneciam presos no Rio Uruguai.
No início de fevereiro de 1827, a 3a Divisão desceu o Rio Uruguai para combater a Força Naval argentina que a
bloqueava. Com ajuda da Divisão Auxiliadora, a planejou-se colocar o inimigo entre os canhões das duas divisões
brasileiras.
Em 8 de fevereiro, começava o Combate de Juncal, nome tomado da Ilha fluvial de Juncal, segmento do Rio Uruguai
onde os navios da 3a Divisão foram derrotados pela Força Naval argentina, pois não receberam o esperado apoio da
Divisão Auxiliadora, que permaneceu longe do local da batalha.
O bloqueio naval mais rigoroso realizado desde maio de 1826 pela 2a Divisão da Esquadra Imperial mantinha a maior
parte do tempo a Esquadra argentina confinada em seu ancoradouro. Porém, a Esquadra brasileira não conseguia uma
vitória definitiva frente ao inimigo, não evitando pequenas incursões que, algumas vezes, mostravam-se desastrosas, como
o combate fluvial em Juncal.
Já nesse período da guerra no mar, o governo de Buenos Aires concentrava seu esforço na guerra de corso, que
afetava o comércio marítimo do Império brasileiro. Mesmo a Esquadra argentina, já muito debilitada depois do Combate
de Lara-Quilmes, cedia seus navios para campanhas de corso na costa brasileira. E foi com esse propósito que os quatro
principais navios argentinos tentaram romper o bloqueio brasileiro na noite de 6 de abril de 1827.
A Força Naval argentina, composta pelos Brigues República, Congresso e Independencia, e pela Escuna Sarandi,
comandada pelo próprio comandante da Esquadra argentina, William Brown, foi interceptada pelos navios da 2a Divisão
quando tentava contornar o bloqueio naval brasileiro.
Neste último grande encontro entre as forças adversárias, conhecido como Combate de Monte Santiago, a 2a Divisão
brasileira, reforçada pelos navios das outras duas divisões bloqueadoras, fustigara os navios argentinos com os seus
canhões, que, encurralados entre a força brasileira e os bancos de areia, foram sendo destroçados. Os Brigues República e
Independencia foram abordados e capturados pelos brasileiros. O Brigue Congresso e a Escuna Sarandi, navios menores e
mais leves conseguiram passar pelos bancos de areia e refugiaram-se em Buenos Aires, ainda sim bastante atingidos pelos
canhões brasileiros e com muitos mortos e feridos a bordo.
Foi o golpe final contra a Esquadra argentina e a demonstração que o bloqueio naval organizado pelo Almirante
Rodrigo Pinto Guedes foi efetivo no combate ao inimigo.
As grandes perdas argentinas no Combate de Monte Santiago, em abril de 1827, ratificaram a opção pela guerra de
corso. Durante todo o conflito, as Províncias Unidas armaram corsários. Alguns corsários eram armados no porto de
Buenos Aires e conseguiam romper o bloqueio naval brasileiro; outros vinham das bases de corsários de Carmen de
Patagones e San Blas, em território das Províncias Unidas do Rio da Prata, e havia mesmo os que, recebendo as patentes
de corso do governo de Buenos Aires em portos do exterior, daí largavam para acossar os navios mercantes nas costas
brasileiras.
A guerra de corso empreendida contra nosso comércio marítimo (à época, como hoje, essencial para economia
nacional) foi mais efetiva contra o esforço de guerra brasileiro que a Esquadra argentina. A operação ofensiva que a
Marinha Imperial brasileira realizou com o bloqueio naval no Prata coexistiu com a ação defensiva na vigilância das
extensas águas territoriais brasileiras, defendendo nosso comércio marítimo dos corsários.
Exemplos da ação da Marinha Imperial no combate aos corsários são as duas incursões da Esquadra sediada no Rio da
Prata às bases corsárias de Carmen de Patagones e San Blas, na região da Patagônia. Ambas ocorreram em 1827 e
pretendiam destruir esses verdadeiros ninhos de corsários e recapturar alguns dos navios mercantes que estes tinham
tomado.
Contudo, as condições hidrográficas da costa argentina da Patagônia, completamente desconhecida dos brasileiros, e,
na incursão a Carmen de Patagones, a falta de informação sobre as defesas a serem enfrentadas determinou o fracasso das
duas expedições.
O combate aos corsários foi mais efetivo no bloqueio naval empreendido a outra de suas “bases”, a localizada no Rio
Salado. Outros corsários foram batidos no mar pela Marinha Imperial, como o Brigue Niger, capturado em março de 1828;
e o Brigue General Brandsen, destruído por navios brasileiros após longa campanha de corso.
A indefinição da campanha terrestre e o esgotamento econômico e militar de ambos os contendores levou o Brasil a
aceitar a mediação da Grã-Bretanha para o fim da guerra. A Convenção Preliminar de Paz foi assinada entre o Império do
Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata em 27 de agosto de 1828. O acordo estipulava que ambos os lados
renunciariam a suas pretensões sobre a Banda Oriental, que se tornaria um país independente, a Republica Oriental do
Uruguai.
O término da Guerra Cisplatina não seria o fim dos conflitos na região. A Marinha Imperial brasileira permaneceria
guarnecendo a segurança do Império do Brasil no Rio da Prata.

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HISTÓRIA 02 CURSO ASCENSÃO

3 - LEITURA COMPLEMENTAR (500 ANOS DE HISTÓRIA DO BRASIL)


3.1 - A PERDA DA CISPLATINA
A Cisplatina não passava de uma área dominada militarmente pelo Império, onde tradições e cultura
apresentavam-se diferentes das do Brasil. A República das Províncias Unidas (Argentina hoje) ansiava incorporá-la,
chegando, mesmo, a tratativas diplomáticas no Rio de Janeiro, efetuadas por D. José Valentim Gomez. Apesar de
compreender claramente estar a região anexada, o Império não desejava entregá-la à referida República, que, dela
possuidora, fecharia o Rio da Prata aos navios brasileiros, comunicação única com Mato Grosso. Por esse aspecto,
afigurava-se importante ao nosso governo a manutenção da Cisplatina.
Apresentou-se aos patriotas da Banda Oriental do Uruguai uma oportunidade propícia para desfraldarem a
bandeira de sua independência. D. Juan Antonio Lavalleja e 32 companheiros (sendo 16 uruguaios, 11 argentinos, 2
africanos, 1 francês, 1 paraguaio e 1 brasileiro), provenientes em dois grupos de Buenos Aires, pelo Rio Uruguai,
desceram na praia da Agraciada, a 19 de abril de 1825, conseguindo adesões, como a do prestigioso D. Frutuoso
Rivera, que era brigadeiro no Imperial Exército Brasileiro, e principiaram a luta. A 7 de maio, Lavalleja cercou
Montevidéu. O Marechal-de-Campo José de Abreu, comandante de armas da Província de S. Pedro, atravessou o Rio
Arapeí com mil milicianos em ajuda aos que se encontravam na capital da província e estacionou perto de Mercedes.
Ao mesmo tempo que lutava contra o Império, Lavalleja articulou um governo provisório que funcionou na vila
de Florida. Nesse mesmo local, instalou-se a Sala dos Representantes que, em 25 de agosto, declarou a independência
da Banda Oriental, anulando os atos de incorporação ao Império; no mesmo dia, reuniam-se às Províncias Unidas do
Rio da Prata. Em Buenos Aires, a população exaltada apedrejou o consulado brasileiro.
A reação de D. Pedro I não se fez esperar: designou o Chefe-de-Esquadra Rodrigo José Ferreira Lobo
comandante de uma força que velejou para o Rio da Prata bloqueando-o, ao mesmo tempo que ocupou a Ilha de
Martim Garcia. Nossa esquadra era formada, nesse momento, por 3 corvetas, 5 brigues, 2 escunas e 9 barcas-
canhoeiras.
Para Rivera impôs-se a necessidade de vencer Abreu em Mercedes antes que pudesse tomar a ofensiva. Atacou
sem muito êxito. Por ordem de Abreu, Bento Manuel Ribeiro tentou uma decisão em campo aberto. Encontraram-se
os imperiais com os rebeldes em Arbolito (04.09.1825) vencendo-os. Em Rincón de las Gallinas (24.09.1825),
pequena península entre os rios Negro e Uruguai, Rivera emboscou o 25º de Cavalaria (Coronel Jerônimo Gomes
Jardim), destroçando-o, e, logo depois, o 24º (Coronel José Luís Mena Barreto), cujo comandante morreu
combatendo. Rivera apoderou-se de uma reserva de seis mil cavalos. Tivemos 120 mortos e prisioneiros. A cidade de
Mercedes teve de ser abandonada. Em Sarandi (12.10.1825), Bento Manuel, com 1.500 homens, enfrentou as forças
uruguaias de Lavalleja e Rivera reunidas (2.600 homens). Este encontro de duas forças de cavalaria começou às 9 da
manhã; vencidos os nossos flancos, os cavalarianos do centro, Major Alencastro à frente, lutaram a espada e se
renderam ao meio-dia (o Major Alencastro evadiu-se, depois, com seus homens apoderando-se do navio que os
conduzia pelo Rio Paraná). Bento Gonçalves e Bento Manoel retiraram-se para Santana do Livramento; José de
Abreu retornou para o Rio Grande.
A aceitação, por parte do governo das Províncias Unidas, da incorporação da Cisplatina (25.10.1825) e a sua
comunicação ao governo imperial provocaram a declaração de guerra a 10 de dezembro, por representar uma afronta
à nossa soberania. A luta concentrou-se em Colônia e Montevidéu, ainda em poder do Império, pois o centro da
província encontrava-se em mãos dos orientais.
A 19 de dezembro, partiam os primeiros reforços da Corte, sob o comando do Brigadeiro Francisco de Paula
Massena Rosado. O governo imperial mudou, em janeiro, o comando militar da Cisplatina, substituindo Carlos Lecór
pelo Tenente-General Francisco de Paula Magessi.
Com o intuito de desmantelar o bloqueio naval, os argentinos contratavam o irlandês William George Brown
para comandar os seus navios. Às 6 da manhã de 9 de fevereiro de 1826, a esquadra argentina ofereceu combate
conhecido pelo nome de Corales, conseguindo os nossos afugentar os inimigos. Estes atacam, a 24 de fevereiro, a
Colônia, que estava sitiada por terra. O comandante da praça, Brigadeiro Manoel Jorge Rodrigues, auxiliado pelos
navios do Capitão-Tenente Frederico Mariath, a defendeu com galhardia, perdendo Brown o brigue Selgrana. A 11
de abril. O Capitão-de-Fragata James Norton, comandando a Nictheroy, trocou tiros com Brown (fragata 25 de Mayo
e brigue República) em frente a Montevidéu. Pensou então o chefe argentino empreender a abordagem da fragata
Imperatriz, de consequências morais importantes para nós; partiu de Buenos Aires a 27 de abril, com pessoal
treinado, mas foi reconhecido quando se avizinhava de Montevidéu, o que permitiu que a guarnição da fragata, em
comando o Capitão-de-Fragata Luis Barroso Pereira, manobrasse para receber os inimigos; o combate durou uma
hora e quinze minutos, batendo em retirada os argentinos, deixando entre os nossos mortos Barroso Pereira.
Abandonávamos inexplicavelmente a Ilha de Martim Garcia, onde Brown estabeleceu sua base de operações. Em 3
de maio, a fragata Nictheroy combateu a corveta 25 de Mayo no Banco de Ortiz.
Nesta oportunidade, o governo imperial substituiu Rodrigo Lobo pelo Chefe-de-Esquadra Rodrigo Pinto Guedes
(12 de maio). Em 11 de junho (1826), travou-se o combate de Los Pozos, sem resultados práticos em razão dos navios
oponentes não terem se aproximado suficientemente para o aproveitamento de suas artilharias. A inatividade
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HISTÓRIA 02 CURSO ASCENSÃO
incomodava aos nossos combatentes; por isso, o Capitão-de-Mar-e-Guerra (como vemos, promovido) James Norton
resolveu provocar os argentinos; a 30 de julho encontraram-se as duas esquadras na Ponta de Lara, conseguindo
Norton infligir séria derrota a Brown (nesse combate uma bala feriu gravemente Grenfell, obrigando-o a amputar
braço). No final do ano, a 16 de dezembro, Cesar Fournier, corsário francês a serviço argentino, com um lanchão e
oito baleeiras, e mais duzentos homens, tentaram apoderar-se do brigue Rio da Prata, inutilmente, tal a reação
despendida pelo seu comandante, o Segundo-Tenente José Lamego Costa, oficiais e praças. Dias depois, a 29, Brown
atacou alguns de nossos navios (comando de Jacinto Senna Pereira) na foz do Rio Jaguary (entrada do Rio Negro,
afluente do Rio Uruguai), estando os mesmos fundeados. Senna Pereira repeliu o ataque desse dia e a investida do dia
seguinte.
Enquanto se desenvolviam esses eventos navais, reuniam-se os argentinos do General Martin Rodriguez com os
patriotas uruguaios em Durazno, totalizando uns 12 mil homens; substituído Rodriguez pelo General Carlos Maria de
Alvear, este só tomou posse e começou o trabalho de organização em setembro (1826). Mantivemo-nos em defensiva
estratégica, incidindo o Brigadeiro Rosado no erro de concentrar suas forças em Santana em local insalubre e sem
bons pastos para a cavalhada.
Impacientava-se a opinião pública brasileira. Por isso, decidiu o imperador colocar-se à frente das operações
militares, iniciando, a 24 de novembro, a viagem para o sul, tendo desembarcado em Santa Catarina e atingido Porto
Alegre. Chamado às pressas por causa do falecimento da imperatriz (11 de dezembro), deixou no comando de nossas
forças o Marechal Felisberto Caldeira Brant, Marquês de Barbacena, que, assumindo o posto a 1º de janeiro, teve de
disciplinar e organizar nossos soldados mal pagos, doentes e desanimados, auxiliado pelo seu chefe de Estado-Maior,
o Marechal-de-Campo (alemão) Gustavo Henrique Brown, que recebeu a missão de reunir os homens dispersos na
fronteira.
Adotando a alternativa de deslocar-se ao encontro do inimigo, interpondo-se entre ele e a capital da província
invadida, o Marquês de Barbacena iniciou pesada marcha em 13 de janeiro (1827), com 4.500 homens e 12 peças de
artilharia, em direção a Bagé. No dia seguinte, reuniu-se com a 1ª Brigada de Cavalaria Ligeira comandada pelo
Coronel Bento Manuel Ribeiro. Em 5 de fevereiro, juntaram-se as forças do Marechal Brown. A manobra só pode ser
adjetivada como perfeita. Barbacena designou a brigada de Bento Manuel para observar os argentinos e obter
informações.
Enquanto isso, os argentinos e orientais, conduzidos pelo General Alvear deixaram Durazno e dirigiram-se para
Bagé. Entraram nesta localidade, desocupada pelos seus habitantes, entre 24 e 26 de janeiro. A cidade foi saqueada.
Somente a 3 de fevereiro, prosseguiu a marcha em direção ao Rio Santa Maria. Alvear objetivava bater por partes as
tropas brasileiras. Mas, como a junção destas se concretizou, Alvear resolveu atravessar o Passo de Rosário antes de
Barbacena que, afinal, não ocorreu, por estar o rio invadeável.
Sabedor Barbacena que os inimigos tentavam atravessar o Rio Santa Maria no Passo de Rosário, dirigiu-se
rápido para o local. E nele travou-se uma importante batalha campal, talvez a maior de toda a América Latina.
O Exército imperial dispunha de 6.338 homens, incluindo-se os 560 paisanos patriotas que formavam a coluna de
vanguarda ao comando do Marechal-de-Campo José de Abreu, Barão do Serro Largo. O exército comandado por
Alvear contava com um total de 9.803 homens, incluindo-se os orientais sob as ordens do General Lavalleja.
Vantagem numérica argentina a que se somava o terem acomodado suas forças em cotas mais elevadas do terreno.
Os primeiros movimentos ocorreram às oito da manhã de 20 de fevereiro.
Barbacena armou o seu dispositivo para tentar destroçar o que acreditava fosse a retaguarda das tropas de Alvear.
Mas teve a surpresa de ver que todo o efetivo inimigo oferecia batalha. Os nossos organizaram-se em linha, situando-
se à direita a primeira divisão (Brigadeiro Sebastião Barreto Pereira Pinto), à esquerda a segunda (Brigadeiro
Crisóstomo Calado) e no centro a artilharia. Pelo flanco esquerdo, o Marechal José de Abreu desfechou uma carga
contra a direita inimiga, mas recebeu um contragolpe dos dragões do Coronel Servando Gomez. O pânico que se
apossou desses voluntários paisanos foi enorme: retrocederam sem atender às vozes de Abreu ou às de outros oficiais
atropelando na fuga os Corpos já formados em quadrados. A segunda divisão, para não ser também contaminada pela
confusão e porque os cavalarianos inimigos se aproximavam, abriu fogo. Morreram José de Abreu e muitos outros.
Mas a segunda divisão permaneceu intacta, conservando os quadrados de sua formação inicial, com alguma artilharia
nos ângulos, conseguindo sustentar as investidas inimigas e. mesmo, avançando com o 5º de Cavalaria, ameaçando as
alas direitas inimigas. Em torno de duas horas da tarde. Calado iniciou a retirada. E teve de lutar contra o fogo que
Lavalleja mandara atear às macegas para dificultar as investidas dos brasileiros. A primeira divisão operava na
direita, correspondendo à esquerda argentina; lutou bravamente, obtendo estragos na cavalaria inimiga. Morreu
Frederico Brandsen, mercenário francês a serviço, como coronel da Argentina. Mas um grupo de alemães
mercenários, parte do 2º Batalhão de Caçadores desta nossa divisão debandou diante do ataque inimigo quando
parecia certa a vitória neste flanco. Era uma da tarde. Acabava a munição na linha de frente, estampava-se o cansaço
e a fome no rosto dos homens.
Diante da impossibilidade de prosseguir a luta, Barbacena ordenou a retirada, após oito horas consecutivas, a
qual se fez em ordem. Na opinião de oficiais e soldados a batalha já estava virtualmente ganha, bastando um pouco
mais de empenho. Alvear também determinou a retirada de suas forças, que tiveram 542 baixas. O Exército Brasileiro
contou 1.300 baixas, com os extraviados.
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HISTÓRIA 02 CURSO ASCENSÃO
Quem venceu o combate?
Paixões à parte, a batalha de Passo do Rosário (ou Ituzaingó, como preferem os argentinos) pode ser apresentada
como exemplo de batalha indecisa. Não houve vencedor nem vencido. O Marquês de Barbacena foi substituído (1º de
maio) pelo General Lecór, Visconde de Laguna. Alvear reocupou Bagé em 18 de abril.
Nesse mesmo ano de 1827, ao amanhecer do dia 18 de janeiro, a corveta Maceió, fundeada perto do banco de
Playa Honda, foi abordada pelos argentinos; o Capitão-de-Fragata Frederico Mariath, que a comandava, logrou
rechaçar os atacantes com cargas de artilharia. Nos dias 8 e 9 de fevereiro, a Divisão Naval de Jacinto Roque de Sena
Pereira era derrotada no combate de Juncal (ilha do Rio Uruguai na confluência com o Prata).
Com o intuito de prejudicar o comércio marítimo nas costas brasileiras, a Argentina autorizou a atividade de
corsários; quinhentas embarcações chegaram a ser apresadas. Tinham o seu ponto de reunião na localidade de
Carmen de Patagones. Tornou-se imperioso desalojá-los. Aprestou-se uma expedição naval à Patagônia (duas escunas
e uma corveta), comandada por Sheperd, desbaratada pelo Coronel Bysson, após o desembarque, nos combates que
se travaram (09.03.1827), completando os insucessos brasileiros a morte do comandante e o aprisionamento de vários
homens (entre eles os tenentes Joaquim Marques Lisboa, futuro Marquês de Tamandaré, e Joaquim José Ignácio,
depois Visconde de Inhaúma, que se safaram revoltando o transporte Ana onde estavam confinados). Assinale-se,
contudo, a vitória naval de Monte Santiago (07 e 08.04. 1827) obtida graças à astúcia de James Norton e de nossos
bravos marujos que conseguiram destruir dois bons navios de Brown, gravemente ferido numa perna nesse combate.
Tão profundo foi o abalo causado pela perda desse combate que o Presidente Rivadávia enviou ao Rio de Janeiro um
plenipotenciário, Manoel José Garcia, acordando-se em terminar a guerra e se devolver a Cisplatina ao Império. Mas
o povo de Buenos Aires não se conformou, e o clamor popular impediu o cumprimento do Tratado e provocou a
queda de Rivadávia, substituído por Manoel Dorrego, que prosseguiu a luta. Ao contrário do que acontecia na
República vizinha, a guerra entre nós alcançava notório índice de impopularidade, mais ainda na província ameaçada,
o Rio Grande, contribuindo para o desprestígio do imperador, que não se preocupou em esclarecer a opinião pública.
A guerra se mostrava bem evidente no mar, onde os corsários, fundamentados com a autorização que recebiam
da vizinha república, agiam prejudicando a navegação mercante. Por isso, o Almirante Pinto Guedes concebeu uma
segunda expedição à Patagônia, visando à Baía de San Blás. Em comando do Capitão-de-Fragata William Eyre,
partiram os nossos no dia 26 de setembro (1827) atingindo o objetivo em 21 de outubro. A falta de conhecimentos da
região provocou o fracasso da missão, perdendo-se dois navios e vários homens que caíram prisioneiros.
A guerra de corso e a paralisação do comércio na região provocaram a interferência da Inglaterra e França.
Chegou, mesmo, o Almirante francês Barão de Roussin exigir, de forma vexatória para o Brasil, no Rio de Janeiro, a
devolução dos navios de sua pátria por nós apresados no Prata (05.07.1828). Lorde Possomby e Robert Gordon,
representantes da Inglaterra na República das Províncias Unidas e no Império, respectivamente, atuaram com decisão.
Verificada a desnecessária continuidade da guerra pelo governo imperial, este concordou na criação de um novo país.
Assim, os generais argentinos Juan Ramón Balcarce e Tomás Guido chegaram ao Rio de Janeiro, entrando em
negociações com o Marquês de Aracati, o conselheiro José Clemente Pereira e o General Joaquim de Oliveira
Alvares. Dessas conversações resultou a Convenção Preliminar de Paz, assinada a 27 de agosto de 1828, aceitando os
dois países beligerantes a independência da Cisplatina com o nome de República da Banda Oriental do Uruguai, não
existindo, portanto, um plano preconcebido pela política inglesa. Abria-se uma nova era na diplomacia brasileira no
Prata: a defesa do Uruguai. A guerra nos custara 80 mil contos e 8 mil baixas.
3.2 - GUERRA CONTRA ORIBE E ROSAS
Terminada a longa revolta que sublevou as Províncias do Rio Grande e de Santa Catarina, o Império brasileiro
pôde retomar a vigilância na fronteira sul e ater-se ao conflito que crescia na área do Rio da Prata. Mesmo com o fim
da Guerra Cisplatina e a independência da República Oriental do Uruguai, as lideranças políticas argentinas
continuavam com a pretensão de restituir o mando de Buenos Aires sobre o território do Vice-Reinado do Prata.
O projeto de anexação do Uruguai ao território argentino encontrou em Juan Manuel de Rosas, liderança máxima
da Confederação Argentina desde 1835, e em Manuel Oribe, líder do partido de oposição ao governo uruguaio, o
Partido Blanco, seus executores.
O Império brasileiro, que se opunha frontalmente à anexação, apoiava o governo constituído do Uruguai,
exercido pelo Partido Colorado. A situação política no Uruguai aproximava-se a de uma guerra civil, com tropas
partidárias de Oribe e apoiadas por Rosas cercando a capital, Montevidéu.
Em 1851, o Governo brasileiro procedeu uma aliança com o governo legal uruguaio e com um oposicionista de
Rosas, o Governador da Província argentina de Entre Rios, Justo José de Urquiza, para defender o Uruguai do ataque
das forças de Rosas e Oribe.
A ação da Marinha novamente seria realizada em estreita colaboração com o Exército Imperial. O comando da
Força Naval foi entregue ao Chefe-de-Esquadra John Pascoe Grenfell, veterano das lutas na Independência e na
Cisplatina.
Somente com a intervenção da força terrestre, as tropas que cercavam Montevidéu capitularam, Manuel Oribe
estava derrotado. A Esquadra brasileira, disposta ao longo do Rio da Prata, impediu que as tropas vencidas pudessem
evacuar para a margem direita, o lado argentino.
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HISTÓRIA 02 CURSO ASCENSÃO
Tendo pacificado o Uruguai, a força brasileira e seus aliados platinos voltaram-se contra Rosas, que mantinha-se
como uma ameaça à estabilidade da região. Nessa nova ação militar coube à Marinha a tarefa de transportar as tropas
aliadas pelo Rio Paraná até a localidade de Diamante, para ali desembarcá-las.
A Força Naval brasileira composta por quatro navios com propulsão a vapor e três navios a vela tinha como
obstáculo o Passo de Tonelero, nas proximidades da Barranca de Acevedo, onde o inimigo instalara uma fortificação
guarnecida por 16 peças de artilharia e 2.800 homens. Devido à pouca largura do rio naquele trecho, os navios
brasileiros seriam obrigados a passar a menos de 400 metros daquela fortificação, recebendo o peso da artilharia
inimiga. A solução encontrada pelo Chefe-de-Esquadra Grenfell foi o emprego conjunto dos navios a vela e a vapor
na operação de transposição daquele obstáculo.
Os navios a vela, mais artilhados (pois tinham artilharia postada por todo seu costado, substituída nos navios a
vapor pelas rodas laterais), foram rebocados pelos navios a vapor, mais rápidos e ágeis nas manobras.
Tonelero foi vencida em 17 de dezembro de 1851, com as tropas desembarcando em Diamante com sucesso.
Naquela localidade, os navios a vapor auxiliaram também na transposição do rio pelas tropas oriundas das
províncias argentinas aliadas que tinham marchado até aquela posição.
O exército de Buenos Aires foi derrotado pelas tropas brasileiras e de seus aliados platinos, em fevereiro de
1852, e a Passagem de Tonelero representou a única operação ofensiva realizada pela Marinha Imperial naquele
conflito.
Contudo, o emprego da força naval no transporte de tropas para a área do conflito e, notadamente depois de
Tonelero, na transposição das tropas aliadas da margem uruguaia para território argentino, no Rio da Prata e Rio
Paraná, constituiu fator essencial para o sucesso das ações militares desenvolvidas pelos aliados contra Rosas e Oribe.

3.3 - A QUESTÃO COM A INGLATERRA


Compreende três incidentes a questão que redundou em atrito diplomático internacional e ruptura das relações
com a Inglaterra, em parte exagerados pelo representante inglês na Corte do Rio de Janeiro (desde fevereiro de 1860).
William Dougal Christie, homem convencido, violento e demasiadamente imbuído da supremacia britânica. Os
inúmeros atritos que prendiam ao desejo inglês de extinguir o tráfico, a aplicação do Bill Aberdeen, a recusa da Grã-
Cruz da Ordem do Cruzeiro pela Rainha Vitória e o escândalo que causou, na Corte de São Cristóvão, a rutilante
embaixada de Sir Ellis (1842) contribuíram para o desgaste do bom entendimento entre os dois governos.
Marujos da fragata inglesa Emerald que aportara ao Rio de Janeiro em julho de 1860, tripulando um escaler em
águas da Baía de Guanabara, travaram luta corporal com remadores, dois soldados e um marinheiro que se
encontravam na barca de registro da alfândega, morrendo o soldado naval Vicente Ramos Ferreira. Presos os
culpados (Francis Maye e William Langford) e remetidos para um navio britânico, acobertou-os Christie, recusando
entregá-los na fragata Constituição, a fim de aguardarem julgamento. Quase um ano depois, em junho de 1861. O
cargueiro Prince of Wales naufragou em costa do Albardão, no Rio Grande do Sul, tendo sido sua carga roubada por
desconhecidos. E, por fim, a 17 de julho de 1862, três oficiais da fragata Fort (Tenente Eliot Pringle, guarda-marinha
Geoffrey Hornby e o capelão George Clemenger), em passeio pela Tijuca, embriagaram-se e desacataram o soldado
Manoel Luiz Teixeira, sentinela do posto policial O Alferes Braz Cupertino do Amaral que comandava o posto, os
colocou em prisão, desconhecendo suas identidades. Foram entregues, no dia seguinte, ao Vice-Almirante Warren,
comandante da estação naval inglesa, sediada no Rio de Janeiro, independente de processo criminal.
Reunindo tudo num caso único, Christie exigiu a indenização de 6.525 libras, pela carga roubada no Sul, e
satisfações exageradas (castigo contra o soldado e demissão do alferes, estes diretamente implicados na prisão dos
oficiais ingleses, bem como pública censura ao Chefe de Polícia, DL Agostinho Luís da Gama) pelo vexame que
haviam sofrido os oficiais de S. Majestade, a Rainha Vitória. Contava, assim, poder apresentar serviços notáveis ao
seu governo, arrancando um tratado de comércio com tarifas preferenciais. Eis a causa real.
Recusou-se o governo imperial a atender a tais reclamos. Perderia a coroa antes de permitir intervenções desse
gênero, afirmou Pedro II. Na verdade, a conjuntura internacional não favorecia ao Império: os Estados Unidos da
América se debatiam em guerra fratricida, a França pretendia ingerir no México e dificuldades no Prata ameaçavam o
equilíbrio da América Meridional conduzindo o Brasil a uma intervenção militar.
Christie, que recebera de Lorde Russell (John, 1º Conde de Russell (à frente do Foreing Office) instruções para
agir firmemente, surpreendeu a Corte com um ultimato, a 5 de dezembro, renovado a 20, diante da resposta altiva do
Marquês de Abrantes (Miguel Calmon du Pin e Almeida), nosso Ministro dos Estrangeiros. Ordenou, então, que o
Almirante Warren apresasse cinco de nossos mercantes, conduzidos para a Enseada das Palmas (31.12.1862),
bloqueando, em seguida, o porto do Rio de Janeiro.
Esse tipo de represália, pela primeira vez empregado contra nós, ao contrário do que Christie imaginava, causou
intensa exaltação pública. O povo, indignado, solidarizou-se com o imperador, que permaneceu no Paço da Cidade
para observar os acontecimentos, providenciando alguns preparativos militares. Da efervescência política desse
momento, resultou a formação da "Liga", aliança dos liberais com os conservadores moderados.

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O governo imperial resolveu pagar, sob protesto, 3.200 libras ao governo inglês, como indenização da carga do
Prince of Wales, "por não convir à dignidade do Brasil ocupar árbitros em negócios tão mesquinhos de dinheiro ... "
Christie restituiu, então, os navios apresados.
Quanto ao procedimento das autoridades brasileiras no caso dos oficiais da Fort e a retaliação inglesa,
entregava-se ao arbitramento do Rei Leopoldo I, da Bélgica, com a finalidade de apurar onde se encontrava a razão.
Incompatibilizado, Christie solicitou uma audiência ao imperador, que não a concedeu; resolveu deixar o país,
sendo substituído por Cornwallis Elliot, seu auxiliar.
O nosso representante em Londres, Francisco Inácio de Carvalho Moreira, desenvolvia negociações para obter as
satisfações das ofensas ao Brasil. Em duas notas, datadas de 5 e 25 de maio, tentou, de Lorde Russell, uma reparação.
Não a obtendo, pediu seus passaportes, dirigindo-se para Paris. O Império aprovou a sua atitude, criando-o Barão de
Penedo e rompendo relações diplomáticas com a Inglaterra.
Em Bruxelas, o representante do Brasil. Joaquim Tomás do Amaral 2o Visconde de Cabo Frio e Lorde Howard,
representando o governo inglês, apresentavam ao rei belga as suas posições no caso dos oficiais da fragata Fort.
A 18 de junho de 1863, o Rei Leopoldo I, no castelo de Laecken, emitiu parecer favorável à atitude brasileira,
condenando, assim, as represálias do Almirante Warren.
Seguindo instruções do Rei de Portugal, D. Luis I, sobrinho de nosso imperador, o Conde de Lavradio iniciou,
em Londres, uma mediação para o reatamento das relações, efetivado a 23 de setembro de 1865, quando o delegado
inglês, Edward Thornton, apresentou as suas credenciais, em Uruguaiana, ao Imperador Pedro II.
O incidente diplomático colocara em evidência o patriotismo do imperador e de seus súditos, mas também a
fraqueza militar da Nação. Por isso, a Praça do Comércio do Rio de Janeiro realizou uma subscrição pública, com
cujo produto o Chefe-de-Divisão Joaquim de Lamare, então Ministro da Marinha, contratou a construção de um
navio encouraçado com a Societé Nouvelle des Forges et Chantiers de la Mediterranée, de Toulon (França). Primeiro
nesse gênero, pois todos os outros ainda utilizavam a madeira, recebeu o nome de Brasil e entrou em serviço a
3107.1865. Ocorreram diversas reuniões entre os chefes militares; numa delas, lançou o Marquês de Caxias a ideia do
serviço militar obrigatório, bem como a criação do cargo de ajudante-general, cujas atribuições corresponderiam hoje
às do chefe do Estado-Maior. Nasceram diversos quartéis, se bem que com material precário e perecível. E, como
proteção para o Rio de Janeiro, encetou-se a construção da fortaleza de São José, no morro da Urca, e se procedeu a
uma ampla reforma na fortaleza de Santa Cruz, em Niterói. A prontificação desses melhoramentos militares ocorreu
em 1872.

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