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HISTÓRIA DO

MARANHÃO
HISTÓRIA DO MARANHÃO

MARANHÃO COLÔNIA

FRANÇA EQUINOCIAL: OS FRANCESES NO MARANHÃO

Desde o século XVI e especialmente no século XVII, os europeus deflagraram uma agressiva corrida colonial
como parte das disputas mercantilistas travadas entre as potências européias. Ao longo do século XVI, as tentativas de
contato e conquista de São Luís, malograram, inclusive a Expedição de Aires da Cunha em 1534, que naufragou no
golfão maranhense, próximo a ilha de Upaon-Açu. No início do século XVII, navegantes franceses mantêm contato com
a ilha e com os índios Tupinambás que aqui habitavam. A conquista tinha implicações: as terras da costa norte pertenciam
às nações ibéricas. O primeiro grande passo no afã de remover obstáculos à expansão francesa foi o manifesto denun-
ciando a manobra luso-espanhola que garantia a posse das terras americanas através do Tratado de Tordesilhas. Afirmou
com tom desafiador, o monarca francês, que “gostaria de saber em qual cartório da Europa foi assinado o testamento de
Adão que deixava como herança aos portugueses e espanhóis, as terras do novo mundo”1. Assim a França não aceitava
a exclusividade ibérica além mar. Agindo dessa forma, os franceses procuravam ocupar áreas da América ainda não
colonizadas.
A expansão francesa foi construída em três direções: na América do Norte fixaram-se costa leste e através
do rio São Lourenço penetraram no atual Canadá e fundaram Montreal. Em 1606 fundaram Quebec na região dos Gran-
des Lagos e ocuparam a Louisiana, no vale do Mississipi. No Caribe ocuparam as ilhas de Martinica, Guadalupe, Tobago
e São Domingos. Por fim, na América do Sul conquistaram parte da Guiana e tentaram ainda estabelecer domínios
coloniais no Brasil, no Rio de Janeiro (França Antártica2) e no Maranhão (França Equinocial), além de realizar atos de
pirataria em parte do litoral brasileiro.
No Brasil, desde 1504 se tem notícias de comerciantes franceses traficando pau-brasil ao longo da costa
brasileira, documentos escritos por Jean Lery e André Thevet3, denunciam a presença francesa no litoral brasileiro, infor-
mando inclusive sobre os primeiros contatos com os aborígenes, mas é em 1555 que tiveram início as incursões de
conquista no Brasil, com a fundação da França Antártica, colônia que serviu de refúgio para calvinistas franceses. Foram
expulsos em 1567 pelos portugueses.
Em 1612 será construída uma segunda ocupação em terras brasileiras. Desta vez mais ao norte, no Mara-
nhão. A conquista foi motivada pela ausência luso-espanhola na costa norte, a boa posição geográfica da região em
relação aos portos da Europa e o potencial econômico da região, além das disputas mercantilistas que vislumbravam a
instalação de um domínio colonial. A França Equinocial se estabelece entre 1612 e 1615, momento em que Portugal é
dominado pela Espanha através da União Ibérica4.
Os primeiros navegantes gauleses que colheram informações sobre o litoral norte foram: Roussel em 1524
e posteriormente Xaintegeois e Vaude Claaye. No final do século XVI, Jacques Riffault e Charles des Vaux chegam ao

1 As acirradas disputas mercantilistas travadas no início da Idade Moderna e, a princípio, hegemonizadas por Portugal e Espanha, obrigou a França a buscar
inserção nos domínios coloniais. O rei Francisco I, ao defender a expansão francesa se insurgiu contra o Tratado de Tordesilhas, o qual denominou sarcastica-
mente de “testamento de Adão”. (N.A.)
2 Entre 1555 os franceses se estabelecem pela primeira vez no Brasil. O local escolhido foi o Rio de Janeiro, cujo domínio durou até 1567, quando foram expul-

sos.
3 Jean Lery e André Thevet foram navegantes franceses que estiveram no Brasil logo após a conquista portuguesa no início do século XVI e deixaram impor-

tantes registros sobre a exploração de pau-brasil, os aborígenes e os seus costumes.


4 Entre 1580 e 1640 Portugal foi dominado pela Espanha através da União Ibérica, ou domínio espanhol.

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Maranhão, na ilha de Upaon-Açu e mantêm contato com a terra e os silvícolas aliados dos franceses aos quais denomi-
navam de “mair”5. Entusiasmado com o Maranhão, des Vaux retorna à França e revela ao rei Henrique IV o potencial do
Maranhão. O rei envia imediatamente uma expedição de reconhecimento para confirmar as informações de des Vaux.
Na França o assassinato de Henrique IV projetou a ascensão de Maria de Médicis, que deu continuidade ao projeto, já
que Luís XIII contava com pouca idade para governar o país.
A empresa marítima desperta interesse de particulares calvinistas como o banqueiro Nicolau de Harley e de
François de Rasilly, que em conjunto com a coroa francesa disponibilizam recursos necessários ao êxito do empreendi-
mento. Em 1612 partem do porto de Cancelle, na França, as naus La Regente, La Charlotte e Santana. Trazendo a bordo,
além dos capuchinhos Ives d’Vreux, Claude d’Abbeville, Arsênio de Paris e Ambrósio de Amiens, Daniel de La Touche,
senhor de La Ravardière, comandante da esquadra. Apesar do primeiro fracasso no deslocamento das naus, chegou-se
enfim a Fernando de Noronha, e em julho de 1612, os franceses desembarcaram na ilha de Upaon-Mirim6, transferindo-
se para Upaon-Açu, onde mantêm aliança com os índios e fundam um forte de pau-a-pique, denominando-o de Forte
São Luís, em homenagem a Luís XIII, rei da França. O Forte está localizado estrategicamente entre os rios Anil e Ba-
canga, de frente para o Golfão Maranhense, mantendo uma visão privilegiada e estratégica de parte do litoral da ilha. O
capuchinho Claude d’Abeville assim descreveu o local onde se instalou o forte:

Escolheram uma bela praça, muito indicada para esse fim por se achar numa alta montanha e na ponta de
um rochedo inacessível e mais elevado do que todos os outros e donde se descortina o terreno a perder de
vista; assim entrincheirado, formando um baluarte ao lado da terra firme, é inconquistável e tanto mais forte
quanto cercado quase por completo por dois rios muito profundos e largos que desembocam no mar ao pé
do dito rochedo. (ABEVILLE: 1975, 57-58.)

Após a fundação do Forte São Luís, os franceses visitam tribos indígenas para a consolidação de uma
aliança com os aborígenes e realizam o reconhecimento da ilha. Pontos estratégicos como Vinhais, Turu, Timbuba e São
José dos Índios foram reconhecidos, fundando-se alguns fortins e construção de capelas portáteis. Exploraram também
os rios Mearim e Gurupi e iniciaram plantação de algodão, tabaco e cana fístula.
O domínio francês na costa norte alertou os países que compunham a União Ibérica (1580-1640), Portugal
e Espanha. Com o objetivo de conhecer a conquista francesa, foi enviado ao Maranhão o português Martim Soares
Moreno, que incendiou armazéns franceses. Nesse momento os franceses dividiam-se em três grupos: um de reconhe-
cimento ao rio Amazonas sob o comando de Daniel de La Touche, outro com destino à França buscar recursos e um
terceiro se manteve em Upaon-Açu.
O governador-geral Gaspar de Sousa enviou ao Maranhão uma expedição comandada por Jerônimo de
Albuquerque, objetivando expulsar os franceses do Maranhão. Em 15 de junho de 1614 ocorre um combate entre portu-
gueses e franceses em Jericoacoara ou buraco das tartarugas, vencido pelos lusitanos. Posteriormente Alexandre de
Moura consolidou o processo de expulsão. Em Guaxenduba, na região do Munim, os portugueses ergueram o Forte de
Santa Maria e neste local ocorreu uma batalha entre franceses e luso-espanhóis (Batalha de Guaxenduba)7, vencida
pelos países que formavam a União Ibérica. A vitória luso-espanhola foi inexplicável, já que os franceses eram maioria e
possuíam melhor infra-estrutura de guerra. Por outro lado, os reforços solicitados pelos franceses não chegaram a tempo,
soma-se a isso além o desinteresse francês motivado por questões dinásticas. Derrotados, os franceses assinaram um

5 “Mair” e “peró” eram as denominações dadas pelos índios do litoral maranhense aos franceses, seus principais aliados, e portugueses.
6 Upaon-Mirim era a denominação dada pelos indígenas à porção territorial localizada no litoral, hoje Ilha de Santana, localizada em Humberto de Campos.
7 A Batalha de Guaxenduba foi travada entre portugueses e franceses e vencida pelos primeiros. Alguns autores tradicionais mencionam a intervenção de uma

santa, que teria garantido a vitória portuguesa, daí a denominação “jornada milagrosa”.

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armistício de paz, decidindo enviar embaixadores à Europa, transferindo assim a decisão da questão da propriedade da
terra aos países contendores. O reino português não reconheceu o armistício e deu um ultimatum para a retirada dos
franceses num prazo de cinco meses. Assim, os franceses embarcam para a Europa depois de um fracassado projeto
de conquista. O Maranhão seria incorporado ao domínio de Portugal, iniciando-se a colonização.

ESTADO COLONIAL DO MARANHÃO

A expulsão dos franceses do Maranhão em 1615 demonstrou que era necessária e urgente a intervenção
da coroa na região norte dos domínios coloniais de Portugal. O processo de conquista e colonização da porção norte do
Brasil era bastante tardia, pois em relação ao centro colonizador, entre Pernambuco e São Vicente, o atraso era de quase
cem anos, já que a colonização portuguesa se iniciou em São Vicente no ano de 1530, com a expedição colonizadora de
Martim Afonso de Sousa. A primeira intervenção política exercida pelo reino no Maranhão deu-se no sentido de sua
elevação à categoria de capitania, subordinada à metrópole portuguesa. Portugal nomeou como primeiros cargos admi-
nistrativos: o Capitão-mor e para auxiliá-lo, Auditor-geral, Sargento-mor, Capitães do mar e Capitães das entradas. Foram
nomeados capitães-mores: Jerônimo de Albuquerque, Antônio de Albuquerque, Antônio Muniz Barreiros Filho e Diogo da
Costa Machado. A elevação do Maranhão à condição de capitania não resolveu a problemática da colonização, o que
forçou o reino português a decidir, através de documento régio, em 1618, sobre a criação do Estado Colonial do Mara-
nhão, mas seu estabelecimento deu-se somente em 1621. Não era a primeira vez que Portugal dividia politicamente a
administração colonial. Entre 1573 e 1578 o Brasil foi dividido entre um governo do norte, com capital na Bahia, e um
governo do sul, com sede no Rio de Janeiro. Posteriormente outra experiência foi aplicada no Brasil: ao sul, entre 1608
e 1612, como decorrência das informações sobre descobertas auríferas, já se criara um novo governo separado, a cha-
mada “repartição do sul”.
Foram vários os motivos que levaram a coroa portuguesa a criar o Estado Colonial do Maranhão: a grande
extensão territorial da costa norte, o que tornava totalmente vulnerável o litoral em relação às investidas de corso dos
franceses, holandeses e ingleses. Isso explica a fundação e ocupação de uma dezena de fortes entre o período de
dominação de franceses e holandeses. Aliado a isso, a estratégica esperança de Portugal encontrar uma saída fluvial
para a região da Prata do Potosi, de modo a facilitar a sua remessa para a Europa. Outro aspecto relevante foi a impos-
sibilidade de colonização do norte a partir da Bahia, centro colonizador metropolitano. Ao criar esse Estado, a coroa
constatava o isolamento da região com o centro-sul, ao mesmo tempo em que explorava a facilidade de navegação entre
a Europa e o litoral norte, beneficiada pela existência de correntes marinhas, o que possibilitava uma maior rapidez no
deslocamento entre a costa norte e a Europa. Por último, o desejo da metrópole em efetivar a colonização já bastante
tardia, através da exploração econômica da região, rica em drogas do sertão, clima tropical, boa terra e abundância de
rios, o que possibilitava a montagem de uma exploração agrícola.
A criação do Estado Colonial, em 1621, determinou a divisão político-administrativa dos domínios de Portu-
gal na América. O Estado do Maranhão, com sede em São Luís, posteriormente Estado do Grão-Pará e Maranhão,
transferindo-se a sede para Belém, e Estado do Brasil, com jurisdição em Salvador, a partir de 1763, com sede no Rio
de Janeiro. Tanto o Estado do Maranhão como o Estado do Brasil eram subordinados diretamente a Lisboa. O Estado do
Maranhão era independente do Estado do Brasil, possuindo estrutura própria de funcionamento administrativo.
A extensão do Estado do Maranhão compreendia terras entre o atual Estado do Rio Grande do Norte ao
Vale Amazônico, fronteira com as Guianas e possessões espanholas limítrofes com o norte amazônico. Assim, o Mara-
nhão englobava terras do Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Tocantins, Amazonas, Acre, Mato Grosso,
Rondônia, Amapá, Goiás e Mato Grosso. De 1633 a 1637 foram criadas quatro capitanias que compunham o Estado:

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Tapuytapera, Gurupi, Cametá e Cabo Norte, e posteriormente Joanes (Marajó), Cumã (baixada maranhense), Xingu e
São José do Rio Negro, o que garantiu o domínio português entre São Luís e o Cabo Orange, embora teoricamente.
Em 1652, o Estado colonial do Maranhão foi extinto momentaneamente, dando origem a duas capitanias:
Maranhão e Pará, independentes entre si e separadas pelo rio Gurupi. Em 1751, foi transferida a capital do Estado do
Maranhão para o Pará, sendo a nova capital, a cidade de Belém8. A nova denominação passou a ser, Estado do Grão-
Pará e Maranhão, por resolução real estabelecida em 1654. Em 1753, repartiu-se o Estado em quatro capitanias: São
José do Piauí, Maranhão, Grão-Pará e São José do Rio Negro. E a seguir, em 1772, a região recebeu uma nova organi-
zação administrativa, repartindo-se em dois Estados: Estado do Grão-Pará e Rio Negro, e o Estado do Maranhão e Piauí.
Finalmente, através de decreto, Dom José I extinguiu estes Estados no ano de 1777.

A COLONIZAÇÃO DO MARANHÃO

São exatamente oitenta e cinco anos que separam a colonização de uma parte do nordeste e centro-sul do
Brasil, do norte, cuja união de capitanias em Estado convencionou-se chamar de Maranhão. A colonização deste Estado
inicia-se em 1615, após a expulsão dos franceses deste chão, e está intimamente vinculada à manutenção da posse da
terra, demarcada pelo meridiano de Tordesilhas em benefício de Portugal e Espanha. A primeira medida tomada pela
coroa foi a instalação de um Governo-Geral cujo primeiro capitão-mor foi Jerônimo de Albuquerque.
O processo de colonização do Maranhão foi lento, enfrentou diversos obstáculos, o que deu especificidades
próprias à colonização dessa parte do Brasil. O isolamento do Estado do Maranhão em relação ao Estado do Brasil foi
fundamental para explicar essa lentidão, leve-se também em consideração a extensão da região e o seu difícil acesso.
Some-se a isso a quase total ausência de degredados e escravos no início da colonização, que, diferentemente do
Maranhão, contribuíram na ocupação do nordeste e centro-sul. A colonização da costa norte é resultado da implantação
de fortificações de defesa contra as incursões estrangeiras. Sobre este contexto, assim escreveu César Marques:

Se os degredados concorreram para a povoação desta província, foi em escala muito diminuta, e sobretudo,
inferior de outras capitanias, e que seus verdadeiros elementos de povoação e colonização encontram-se
nas expedições militares, nas remessas de tropas para a guarnição das diversas capitanias e fortalezas, e
nos casais de colonos, que por dezenas partiam das ilhas e do continente do reino. (MARQUES: 1970, 204.)

Portanto, é estratégica a ocupação militar do Maranhão pelos portugueses, o que fornece uma feição inicial
à colonização. É a fundação de fortes avançados e fortalezas a principal preocupação dos primeiros mandatários do
Maranhão, bem como o primeiro contingente populacional dessa capitania é formado por soldados arregimentados nas
demais capitanias do domínio luso-espanhol, em luta contra os franceses. Nesse contexto Feitosa é enfático:

A ocupação e o povoamento português iniciam-se em 1615. Para isto os portugueses tiveram que travar
guerra com os franceses que aqui se instalaram, vencendo-os e expulsando-os na batalha de Guaxenduba.
Dessa forma, assegura-se aos portugueses a posse e a propriedade da terra conquistada, conforme esta-
belecia o Tratado de Tordesilhas que vinha sendo questionado diplomaticamente e negado, na prática, pelos

8A transferência da sede do Estado do Grão-Pará para Belém vincula-se à condição estratégica do Pará na região amazônica, rica em drogas do sertão, além
de ser base para a conquista e o povoamento de vilas e cidades da Amazônia.

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reis da França, desde Francisco I, em 1494, por ocasião da assinatura desse Tratado entre Portugal e Es-
panha. (FEITOSA: 1998, 12.)

A posse da terra pelos portugueses não revelou a perspectiva de povoamento imediato; ele foi sempre muito
lento. Assim é que, em 1616, de uma população de aproximadamente 500 habitantes, 313 é de soldados, estes últimos
em número superior à Bahia (140) e Pernambuco (100). Isso mostra a importância estratégico-militar na consolidação da
conquista.
Foram vários os fortes fundados por franceses e luso-espanhóis no Maranhão, inclusive em São Luís. no
inicio da colonização: Forte São Luís, posteriormente chamado de São Felipe pelos portugueses, Sardinha, no São Fran-
cisco, São José do Itapari, próximo a São José de Ribamar e Forte do Calvário em Itapecuru-Mirim9. Instalou-se também
no inicio da colonização, a Câmara Municipal de São Luis, a 4ª mais antiga do Brasil, em 1619, cujo primeiro presidente
foi Simão Estácio da Silveira. A formação da Câmara Municipal contemplava, além do presidente, um procurador, juiz
ordinário e vereadores escolhidos pelos homens-bons10. A Câmara do Maranhão foi uma das mais polêmicas na primeira
etapa da colonização, pois na defesa dos colonos enfrentou os padres jesuítas, que eram contrários à preação dos índios,
decretando por várias vezes a expulsão dos padres do Maranhão.
O que mais marcou a colonização do Maranhão nessa primeira etapa foi a extrema pobreza do Estado e os
diversos conflitos envolvendo colonos, comerciantes, jesuítas e indígenas. Todos os cronistas da época denunciam a
miséria predominante no Maranhão11. Poucos eram os colonos que plantavam, porque estavam a serviço da tropa. O
padre Antônio Vieira denuncia a pobreza do Estado. Eis o retrato de 1680 feito por ele:

O estilo ou pouco governo, com que se vive naquelas partes, porque exceto a cidade de São Luís do Mara-
nhão, onde de poucos tempos para cá se corta carne algumas vezes, em todo o Estado não há açougue
nem ribeira, nem horta, nem tenda onde se vendam as coisas usuais para o comer ordinário, nem ainda um
arrátel de açúcar com que se fazer na terra. E, sendo que no Pará todos os caminhos são por água, não há
em toda a cidade um barco ou canoa de aluguel para nenhuma passagem, de que tudo se segue, e vem a
ser o estilo de viver ordinário que para um homem ter o pão da terra, há de ter roça; para comer carne, há
de ter caçador; para comer peixe, pescador; para vestir roupa lavada, lavadeira; e para ir à missa ou qual-
quer parte, canoa e remeiros... Na Ilha do Maranhão, responde muito mal a terra com o pão natural daquelas
partes, que é a mandioca, e no Pará por serem as terras todas alagadas, são tão poucos os lugares capazes
da planta da dita mandioca, que é necessário aos moradores mudarem muitas vezes suas casas e fazendas,
deixando perdidas e despovoadas as que tinham, e ir fabricar outras de novo dali a muitas léguas, com
excessivos trabalhos e despesas. As madeiras com o fabrico dos navios, a destruição das roças, em que se
derrubam e queimam, já são menos e muito distantes. As canas-de-açúcar não se plantam uma só vez
como no Brasil, mas quase é necessário que se vão replantando todos os anos. As terras capazes de tabaco
também se vão já buscar muito longe. O comer ordinário é caça e pescado, e a caça, sendo antigamente
tanta, que quase se metia pelas casas, hoje, pela continuação com que se tem batido os matos, está quase

9 A colonização tomará uma nova dimensão a partir de 1618, quando chegam ao Maranhão 300 açorianos; em 1619 mais 200 e entre 1621 e 1627 desembarcaram
em São Luís mais de 700. Por todo o século XVII, até meados do século XVIII, o crescimento populacional é muito lento e as estatísticas são desencontradas e
parecem incluir somente a população de São Luís. Estima-se que em 1637 a população do Maranhão seja de 310 habitantes; em 1649 era de somente 480 habitan-
tes, em 1655, 700 habitantes e, em 1683, aproximadamente 1000 almas.
10 A denominação “homens-bons” está relacionada ao poder exercido pelos proprietários rurais escolhidos para exercer a função de vereadores.
11A situação era de miséria: todos andavam descalços, os escravos nus, nas cidades e nas fazendas, as pessoas mais importantes com vestes de panos de

algodão tinturadas de preto. Em 61, famílias nobres deixaram de ir à missa, no Natal, por não terem as moças o que vestir. “Na vida dos índios consiste toda a
riqueza e remédio dos moradores...” (LIMA, Carlos de.)

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extinta. E no peixe se tem experimentado quase o mesmo, sendo no princípio infinito. E a razão de tudo é
não serem as terras da América tão criadoras, como também mostrou a experiência no Brasil, para onde se
carrega de Portugal tanto peixe seco; ajudando muito no Maranhão a esterilizar os mares e rios os modos
de pescar, que se usam sem nenhuma providência; com que é mais o que destroem, que o que se aproveita,
e se perde totalmente a criação; e como a gente cresce, e o sustento diminui, é força que se padeça muito.
(VERNHAGEM. In: LIMA, p. 75.)

A pobreza do Maranhão era um verdadeiro obstáculo à colonização, não só pelo isolamento em relação ao
centro-sul, mas pela escassez de escravos negros, o que gerava a polêmica entre jesuítas e colonos. Além disso, os
colonos ou não tinham nada ou suas rendas eram muito baixas, o que se agravava com o estabelecimento do regime de
monopólio que impedia o fluxo de comércio com outras praças. A pobreza era tanta que não circulavam moedas de
metais na região. Segundo Caio Prado Jr.:

Exportou-se algodão, ocasionalmente, em pequenas quantidades; e na falta de moeda, os novelos de fio e


panos de algodão chegaram a circular em certas regiões como tal hábito que tanto se arraigou, que no
Maranhão, por exemplo, exprimiam-se ainda naquelas mercadorias, em princípios do século XIX, os valores
monetários locais: novelos de fio, por 100 réis; rolo de pano, por 100.000. (PRADO JR.: 1961, 118)

Além da pequena lavoura que contemplava alguns produtos como açúcar, tabaco, mandioca, arroz e man-
dioca, o Maranhão, inclusive São Luís, explorava a coleta das drogas do sertão. Nesse período a estrutura urbana de
São Luís era acanhada. Elevada à condição de Vila em 1621 e à categoria de cidade em 1677, estava bem distante de
outros centros como Recife, Salvador e Rio de Janeiro. A cidade estava circunscrita ao eixo Praia Grande e Desterro.
Desenho urbano desordenado, ruas sem calçamento e casas de palha e pau-a-pique. Desde os franceses, se conhecia
pontos da ilha como São Francisco, Turu, Vinhais, Timbuba e, posteriormente, Araçagi e Cutim. Além de São Luís exis-
tiam vilas e freguesias, tais como: Tapuytapera (Alcântara), Cumã (Guimarães), Icatu. Em seguida, a partir do século
XVIII, surgiram novas vilas e cidades.

A INVASÃO HOLANDESA

O século XVII ficou marcado pela acirrada disputa de hegemonia envolvendo nações mercantilistas como
França, Espanha e Holanda, cujo eixo central gravitava em torno das conquistas coloniais. O Tratado de Tordesilhas há
muito não era mais respeitado por
França e Holanda. Nesse sentido, o processo de conquista do Maranhão por franceses e holandeses insere-
se nas disputas mercantilistas, travadas pelas potências européias no decorrer da Idade Moderna.
A formação da Holanda como nação capitalista dá-se ainda na Baixa Idade Média, beneficiada pela estra-
tégica localização da rota de Flandres, projetando os flamengos comercialmente no cenário internacional. Na Idade Mo-
derna, embora em luta contra a Espanha em defesa da autonomia dos Países Baixos, firmou-se no comércio ultramarino,
financiando projetos econômicos, industrializando produtos e sobretudo dominando mercados. O comércio do açúcar foi
largamente hegemonizado pelos flamengos (holandeses) que financiaram a construção de engenhos, transportavam,
refinavam e distribuíam o açúcar na Europa. A boa relação comercial com Portugal, em torno do açúcar, durou somente

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até 1580, quando a Espanha, ao dominar Portugal (União Ibérica), decretou o embargo espanhol 12. A Holanda, sentindo-
se prejudicada pelo embargo, resolve rompê-lo no afã de conquistar os centros produtores de cana-de-açúcar no nor-
deste. Em 1624 fracassa a primeira expedição à Bahia. Em 1630 os holandeses invadiram Pernambuco, domínio que se
estabeleceu até 1654, quando foram expulsos.
A conquista de Pernambuco e a montagem de um domínio colonial sob a administração do conde Maurício
de Nassau, assumiu certos desdobramentos. Além da retomada da hegemonia sobre o mercado açucareiro, a conquista
de mercados escravistas na África, resolvem os holandeses deflagrar a expansão da conquista por todo o nordeste. Com
exceção da Bahia, o domínio flamengo estende-se de Pernambuco ao Maranhão, passando por terras do Piauí, Ceará,
Sergipe, Alagoas e Paraíba.
O processo de invasão holandesa em São Luís do Maranhão iniciou-se em 1641, porém desde 1637 já
havia proposta na Câmara holandesa sobre a ocupação desse território 13. Além do caráter colonialista, com o estabele-
cimento de um domínio em São Luís, pretendiam os flamengos a conquista de engenhos existentes nas regiões do
Itapecuru e Mearim. Embora distante da produção pernambucana, o Maranhão possuía uma dezena de engenhos de
açúcar, produto que se firmava como um dos principais, no âmbito agrícola deste Estado, embora não possuísse o mesmo
respaldo que a coleta das drogas do sertão. Assim, em novembro de 1641, 18 navios e 2 mil holandeses chegam ao
Maranhão sob o comando de Jan Kornelizoon e Koin Anderson. Velejam pelo Araçagi e desembarcam na praia do Des-
terro, onde não encontram qualquer resistência portuguesa. Os lusos são tomados de surpresa, pois findo o domínio
espanhol (1640), Portugal negociava um acordo com a Holanda.
Após desembarcarem no Desterro, os holandeses saquearam a igreja, o comércio e as casas, obrigando a
população a entregar mantimentos e dinheiro aos conquistadores. A população, frente ao ocorrido, põe-se em fuga da
cidade, pois até o governador foi preso e enviado a Pernambuco. 150 cidadãos foram desterrados para as Antilhas e em
ato contínuo impõe-se o juramento de fidelidade à bandeira neterlandesa (Holanda), além da imposição do culto protes-
tante calvinista para uma população católica. Em seguida os holandeses conquistaram os engenhos do Itapecuru e Me-
arim, exigindo o butim de 5 mil arrobas de açúcar como indenização. Depois enviaram uma coluna a Tapuytapera (Alcân-
tara), região produtora de açúcar, e em outras partes do Maranhão, deflagraram a conquista de fortes estratégicos des-
tacando-se Calvário, São Felipe e Itapari.
O domínio holandês sobre o Maranhão foi curto (1641-1644), Já nos primeiros meses de conquista, nascia
um clima de revolta pela forma implacável de dominação. O padre Lopo do Couto incentivava a população a reagir. A
isso associou-se a resistência comandada por Antônio Muniz Barreiros e Teixeira de Melo, que impuseram espetacular
derrota aos flamengos nas batalhas travadas em Sã Luís, do Convento do Carmo e Outeiro da Cruz. Mesmo com reforços
enviados de Pernambuco, os holandeses não conseguiram conter a guerra de guerrilhas. Foram expulsos definitivamente
em 1644. A expulsão holandesa do Maranhão tornou-se marco importante como parte da reação de brasileiros e portu-
gueses contra o domínio flamengo.

A REVOLTA DE BECKMAN

A colonização tardia da porção norte do Brasil definiu certas especificidades no processo de evolução nessa
parte do Brasil. A criação do Estado Colonial do Maranhão em 1621 não resolveu a problemática da colonização, e ainda

12 Embargo espanhol é a denominação dada ao estabelecimento de barreiras protecionistas que impediam o comércio entre Portugal e Holanda.
13 Em 1637 o holandês Gedeon Morris propôs no Parlamento holandês a conquista do Maranhão, região possuidora de grande potencial econômico em maté-
rias-primas como açúcar, fumo, algodão, laranja, anil, tintas, óleos, gengibres, cera e madeira.

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agravou o quadro econômico, pois o Maranhão isolou-se do centro-sul do Brasil, vivendo predominantemente da subsis-
tência, além da ausência de escravos negros, o que fez com que os colonos lançassem mão da escravidão indígena. A
situação vivenciada no Maranhão ao longo do século XVII era de total pobreza, não trazendo resultados financeiros para
Portugal. Matias de Albuquerque, em 1628, informa sobre o rendimento das capitanias do Maranhão, Pará e Ceará:

De presente não rendem nada a S. M. coisa alguma; antes, S. M. lhe tem consignado por ano a cada uma
delas o seguinte: Maranhão – 9.706$920, Ceará – 6.013$920, Pará – 7.134$000. (VIVEIROS, 1954: 17.)

Desde cedo se instalou um clima de ansiedade no Maranhão. Não bastassem os conflitos envolvendo por-
tugueses, franceses e holandeses pela posse da terra, os governantes conflitavam-se com clérigos, colonos e comerci-
antes. Já os padres jesuítas viviam em clima hostil com os colonos, a Câmara Municipal de São Luis e demais ordens
religiosas, em torno do seu poder político e da exploração do silvícola.
É neste quadro que eclode, no ano de 1684, último quartel do século XVII, a Revolta de Beckman, movi-
mento apresentado pela historiografia tradicional como nativista, mas que na verdade foi o primeiro grande movimento
da história do Brasil a questionar a ordem colonial colocando em xeque o poder local, o sistema de monopólios e a
ausência de escravos africanos na região. A Revolta de Beckman foi motivada pelos desmandos e abusos cometidos
pelas autoridades locais,14principalmente em São Luis. O governador Francisco de Sá Menezes governava o Maranhão
e residia em Belém. O seu preposto era o capitão Baltasar Fernandes, homem cujos atos eram desprezados pela popu-
lação de São Luís. Outro aspecto motivador da revolta foi a implantação do estanco na região a partir da criação da
Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão, no ano de 1682. O estanco era uma forma de monopólio comer-
cial exercido pela Companhia, ao mesmo tempo em que se estancava o comércio com outras regiões. O estanco, cujo
monopólio era de 20 anos, estava proibido a particulares, cabendo exclusivamente à coroa, que se comprometia em
abastecer a colônia com gêneros de primeira necessidade como facas, ferros, azeite e avelórios, monopolizando também
o comércio de resgate. O ponto nevrálgico dessa relação entre a companhia e o Maranhão era a introdução de negros
escravos como mão-de-obra. No contrato devia a Companhia garantir a vinda de 10 mil escravos para o Maranhão, na
razão de 500 por ano. Devia também a Companhia de Comércio garantir a vinda regular de um navio por ano a fim de
abastecer o Maranhão. Os produtos enviados ao Maranhão eram caros, de má qualidade, roubava-se nos pesos e me-
didas; quanto aos escravos foram enviados poucos a preços exorbitantes, além de o percurso do navio não ser regular
e ainda passava direto para Belém.
A política exercida pela Companhia de Comércio gerou uma insatisfação geral, com exceção das autorida-
des da Câmara, governador e eclesiásticos que foram comprados por Pascoal Pereira Jansen em troca do silêncio e
conivência.
A terceira causa que norteia a Revolta de Beckman foi o choque envolvendo colonos, comerciantes, contra
os padres jesuítas, relativa ao escravismo indígena. Desde a chegada da missão jesuítica ao Maranhão, a sua relação
foi sempre polêmica, pela influência que desfrutava na Europa, pelos cabedais econômicos construídos, mas, sobretudo
pela disputa da tutela do silvícola com o Estado português. A vinda do padre Antônio Vieira ao Maranhão em meados do
século XVII, reforçou esta posição. Os jesuítas empenharam-se em proibir a escravidão do aborígene, o que atingia os
interesses de colonos e comerciantes, desejosos na escravidão do gentil, como única forma de superação da ausência
de mão-de-obra negra na região. Além disso, os inacianos exerciam um forte poderio sobre a economia local, explorando

14 Às vésperas da Revolta de Beckman, o Pe. Antônio Vieira denunciava ao rei a situação política do Estado do Maranhão, que era de total abandono.

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

as drogas do sertão, daí a reação dos padres em relação à instalação de uma Companhia de Comércio, o que exaltou
os ânimos em São Luís15.
O movimento se iniciou em fevereiro de 1684. Seus líderes foram Manuel Beckman, Tomás Beckman, An-
tônio Dias Deiró, Jorge de Sampaio e Eugênio Maranhão. Os irmãos Beckman, principais lideranças, eram considerados
polêmicos. Manoel fora vereador atuante e ao criticar a nomeação de Pedro Maciel Parente, foi processado, preso e
desterrado. Já Tomás era advogado, homem de letras e boa oratória. Foi denunciado à visitação do Santo Ofício. A
militância dos Beckman foi decisiva para a deflagração e expansão do movimento, cujos rebelados depuseram o gover-
nador, prenderam o capitão-mor, decretaram a expulsão dos jesuítas e fecharam os armazéns do estanco localizados no
Desterro, em São Luís.
Em ato continuo, foi formada uma Junta Governativa em São Luís, que substituiu o governador e era com-
posta por membros da nobreza (Manuel Beckman e Eugênio Ribeiro Maranhão), clero (freis Inácio da Fonseca e Inácio
da Assunção) e povo (Belchior Gonçalves e Francisco Dias Deiró). Uma importante determinação da Junta Governativa,
mas que teve pouca prática, foi a criação de uma Guarda Cívica para defender a cidade.
Uma vez instalado o movimento em São Luís, enviou-se representante para Belém e Tapuytapera (Alcân-
tara) no afã de conseguir adesão à revolta. Esta missão foi fracassada. Tanto uma quanto a outra cidade negou-se a
aderir ao movimento de Beckman. Temendo a repressão da Coroa, os revoltosos enviam uma representação à Metrópole,
que também fracassou. Assim é que o temor da repressão foi arrefecendo a luta dos rebelados. Isolados praticamente
em São Luís e pressionados por notícias em torno da chegada de navios do reino, eles tentaram uma cartada definitiva
tardiamente. Embarcaram para o reino português uma missão sob a liderança de Tomás Beckman, para demonstrar ao
rei que a revolta não pretendia a ruptura com Portugal, que o Maranhão desejava continuar fiel a Portugal. Esta comitiva
nem foi recebida pelo rei, já previamente informado sobre os acontecimentos reinantes no Maranhão. Em ato contínuo,
os rebeldes representantes da revolta foram presos e enviados à colônia na companhia do novo governador, Gomes
Freire de Andrade que, chegando ao Maranhão, procurou ganhar confiança da população decretando anistia aos partici-
pantes, com exceção dos líderes, que desejava prender, julgar e enforcar. Mesmo com poucas forças, Beckman ainda
tentou reagir, mas já era tarde. Fugiu então para o seu engenho no Mearim. Foi preso, trazido a São Luís e condenado
à forca, juntamente com Jorge de Sampaio e Francisco Dias Deiró (em efígie).
Contrariamente à Balaiada, a Revolta de Beckman ficará para sempre na memória dos maranhenses. Talvez
pelo seu caráter elitista, ou pela coragem de Beckman em denunciar os desmandos administrativos e econômicos dos
representantes da coroa, ou ainda por ser uma revolta libertária, a primeira do Brasil. Hoje a cidade reverencia Manuel
Beckman, que é nome de loja maçônica, escola, praça, conjunto habitacional, nome de município, palácio da Assembléia
Legislativa, tem estátua e é inclusive medalha de mérito agraciada pelo Conselho Regional de Engenharia.

15 Os jesuítas cresceram em número e poderio, em mando e intolerância. Era natural que contra eles novas rebentinas fossem lentamente se formando, na
medida oposta àquelas atividades em defesa dos índios. Os germes de novos tumultos vicejavam sem cessar, contra os padres. Avultaram, nesse império de
batina, as fazendas de criação de gado, o plantio de grandes roças e a colheita de toneladas de produtos servindo-se os padres, se bem que de modo cristão e
inteligente, do braço dos selvagens, que a eles se submetiam dóceis... Cobertos pela legislação reinol, que a eles dava jurisdição eclesiástica e temporal sobre
os ameríndios, os soldados de Santo Inácio cavaram fundo o fosso que os separou das autoridades civis no Maranhão e Grão-Pará, ao tempo em que mais
votavam ódio contra eles os religiosos de outras ordens, relegados a um segundo plano. (COUTINHO, Milson. A Revolta de Bequimão. São Luís: SIOGE, p.
40.)

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

MARANHÃO IMPÉRIO

O MARANHÃO NO SÉCULO XIX

No início do século XIX, o Brasil sofreu um forte impacto gerado pela abertura dos portos, que, além de
romper o desgastado sistema colonial, garantiu aos ingleses privilégios comerciais. Pelo tratado de Comércio e Navega-
ção a Inglaterra conseguirá ter privilégios comerciais através de concessões tarifárias. Os britânicos pagavam no Brasil,
15%, Portugal 16% enquanto outros países 24%. No início do século XIX, a Revolução Industrial estava em expansão e
a Inglaterra necessitava de áreas fornecedoras de matéria-prima e novos mercados consumidores para absorção de
industrializados. Eram muitas as novidades da Europa que entravam pelos portos do Brasil: cerveja em barril, chapéus,
cordoalha, queijos, tecidos, sapatos, carteiras porta cédulas, até patins para o gelo.
No Maranhão, a abertura dos portos se fez sentir, segundo o historiador Chico Alencar,

Portos como o de Belém, São Luís, Recife, Salvador e Rio de Janeiro conheceram novidades da revolucio-
nária Europa. (ALENCAR: 1985, 82.)

A economia maranhense já sofrera um impacto positivo desde 1755, com a implantação da Companhia de
Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que incentivou de forma decisiva o comércio agro-exportador. Nessa época, o
principal produto da agroexportação maranhense era o algodão, produto exportado para a Inglaterra, país cuja indústria
têxtil dependia dessa matéria-prima. O algodão despertou interesse dos britânicos que, a partir de 1808, se estabelece-
ram no Maranhão, sobretudo em São Luís, disputando espaço comercial com os portugueses, brasileiros e até franceses.
Os ingleses fundaram várias casas comerciais na região central de São Luís. A historiadora Maria Januária Vilela Santos
nos informa sobre o impacto promovido pela abertura dos portos e o estabelecimento de firmas inglesas no Maranhão:

Com a abertura dos portos brasileiros às nações amigas (1808) e o posterior Tratado de Comércio (1810),
a afluência inglesa se fez sentir decisivamente na praça comercial do Maranhão16. Atraído pelo algodão, o
comércio inglês, a partir de 1812, multiplicou a ação das suas firmas no Maranhão, sobretudo em São Luis:
Wellstood e Bingham; Heskethe; Wilson e Cia.; Peterson; Lillie e Cia; Henrique e João Moon e Cia; Haddon
Clark e Cia; Henrique Season; Bolly Chavanes e Cia; B. Hocart e Cia.; W. Granger; Joseph Willcox; George
Turner e Cia. - para citar algumas delas. São Luís recebeu o primeiro cônsul inglês, Robert Heskethe, que
“entrou no Maranhão como se estivesse pisando em fazenda de feitoria inglesa”. O domínio da Inglaterra
no transporte marítimo dos produtos maranhenses tornou-se um fato inevitável. (SANTOS: 1983, 36)

Os ingleses, ao se estabelecerem comercialmente no Maranhão, assumiram condição própria e mantiveram


certo isolamento social. Ao lado desse comércio, várias firmas estabeleceram praça na capital, impulsionadas pela

16A grande produção algodoeira maranhense do final do século XVIII foi foco de atração para o estabelecimento de um grande número de comerciantes ingle-
ses na província do Maranhão no início do século XIX. Àquela época o algodão movimentava o comércio inglês, o que beneficiava grandemente a sua produ-
ção têxtil, que capitaneava a Revolução Industrial. (N .A.)

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

política de crédito inglesa17. Jerônimo de Viveiros, destaca em sua obra,“História do Comércio do Maranhão”, que os
ingleses...

Enriqueceram-se no meio social maranhense, mas não se deixaram por ele absorver. Com o seu tempera-
mento pouco expansivo e visíveis traços etnocêntricos, viviam quase que exclusivamente para os seus in-
teresses mercantilistas, abstiveram-se de qualquer fusão com os naturais da região, tanto que muito poucos
contraíram núpcias com maranhenses. Para isso, não deixou de influir a diversidade de religião, o que os
levou a terem igrejas, escolas e até cemitérios próprios, além de viverem em bairros isolados da comunidade
sanluisense. (VIVEIROS: 1954, 98)

Além dos comerciantes ingleses, franceses também se estabeleceram no Maranhão, disputando o comércio
de jóias e bijuterias. Portugueses e brasileiros dominavam o comércio do arroz, do cravo e outros setores do comércio.
A disputa pelo controle do comércio e da agroexportação levou os lusitanos a barrar os avanços do comércio francês,
que, através de Alvará expedido pela Câmara de São Luís, estabeleceu:

Fica proibido a quaisquer estrangeiros, que não sejam ingleses, abrir loja de retalho nesta cidade por si ou
por entrepostas pessoas, subsistindo unicamente até o fim do corrente ano as licenças que lhes tiverem
passado esta Câmara, e devendo fechar-se em continente as lojas daqueles que não tiverem licenças. (“O
Conciliador”, nº 41, 1821.)

As relações comerciais, no entanto, conservavam as mesmas características mercantilistas estabelecidas


com Portugal, o que garantia certos privilégios aos comerciantes da coroa e, é claro, aos ingleses.
No âmbito social, o início do século XIX assistiu ao crescimento da população escrava, principalmente em
São Luís, Alcântara e Itapecuru. impulsionada pela exportação de algodão. Afirmava-se também a classe social em torno
da pecuária em expansão desde o final do século XVIII. Eram vaqueiros e fazendeiros que se estabeleceram, sobretudo
no centro-sul do Maranhão, vivendo dos negócios propiciados pelo comércio da carne e do couro. Além dessas classes,
existia uma aristocracia rural maranhense ou classe produtora e comerciantes portugueses privilegiados.
O final do primeiro quartel do século XIX, será marcado por uma profunda crise que abalou toda a estrutura
econômica, política e social da província, causada pelo colapso da agroexportação e que trouxe conseqüências marcan-
tes para o Maranhão, expressas na instabilidade política que norteou a nossa história no final da década de 20 e por toda
a década seguinte.

Seria grande ingenuidade limitarmos a infiltração inglesa na economia maranhense apenas sob o prisma do volume do transporte e da exportação. Ela foi
17

muito mais profunda. Atingiu a própria natureza do comércio externo; interferiu nos preços (do algodão e dos escravos especialmente); afetou os hábitos dos
maranhenses, que se afeiçoaram ao luxo e ao conforto. (SANTOS, Maria Januária Vilela)

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

A BALAIADA

O período da história do Brasil entre a Revolução Pernambucana e a Revolução Praieira, é marcado pela
existência de lutas sangrentas nas províncias, como resultado dos conflitos entre brasileiros e portugueses, os anseios
de autonomia em confronto com a centralização política e as precárias condições sócio-econômicas em que viviam as
classes subalternas. Em várias províncias, na década de 20 do século XIX, as lutas se aguçam em torno da indepen-
dência, mas é na década de 30, no período denominado de Regencial (1831-1840), que o processo de lutas se agrava,
instabilizando a “ordem”, agravando o cenário econômico e ameaçando a própria unidade nacional. As lutas pela adesão
do Maranhão à independência do Brasil promoveram um clima de instabilidade No Maranhão, principalmente em São
Luís, sede do governo provincial, presidente da junta governativa jura fidelidade ao reino português. A adesão foi con-
quistada após o cerco de Lorde Cochrane a São Luís, além das tropas de Salvador de Oliveira que marcharam para a
capital pelo Itapecuru. A Setembrada, por sua vez, foi um movimento lusófobo, que eclodiu em São Luís, quando as
tropas de linha do quartel do campo de ourique, se rebelaram exigindo a demissão dos portugueses e brasileiros não
natos, dos postos da milícia e demais cargos públicos. Mas, de todos estes, o grande destaque foi a Balaiada.
O Período Regencial não pode ser caracterizado apenas como uma fase da história onde campeou a vio-
lência e a instabilidade, caracterizou-se também pelas experiências de autonomia, república e formação político-partidária
além dos gritos de liberdade expressos nas revoltas que eclodiram em grande parte das províncias. Entre essas revoltas
destacamos a Farroupilha, no Rio Grande do Sul, maior guerra civil brasileira, a Sabinada e a Revolta dos Escravos
Malês, na Bahia, a Cabanagem, movimento popular que eclodiu na província do Pará e a Balaiada, ou Guerra dos Bem-
te-vis, movimento social e popular que eclodiu na província do Maranhão18.
Só é possível estudar a Balaiada contextualizando-a com a história do Brasil e do Maranhão nas décadas
de 20 e 30. Nesse período ocorrem os movimentos da independência, abdicação e ascensão das regências que se
configuram pelos conflitos envolvendo brasileiros e portugueses, além da tentativa de afirmação da aristocracia rural no
poder. A monarquia não conseguiu consolidar-se na década de 20, o que apressou o processo abdicatório. O cenário era
de fraudes eleitorais, desconfiança, conflito e violência, além do que o Brasil neste momento, não possui uma economia
consistente, pois o café aparecera há pouco no cenário nacional, não sendo ainda uma economia de expressão. No
Maranhão os atritos políticos se iniciam mesmo antes da década de 20, contudo é o processo de adesão do Maranhão
à independência e a Guerra dos Três Bês, que projetaram o cenário de lutas na província. Em 1831 a Setembrada, ou
Motim do Campo D’Ourique, acirrou o processo de lutas entre brasileiros e portugueses, desencadeando no Maranhão
um clima de tensão que irá desaguar no grande conflito da Balaiada.
O historiador Mathias Röhrig Assunção19 assim descreve a Balaiada:

A revolta que entrou na historiografia com o nome de Balaiada, foi, sem dúvida, uma das maiores insurrei-
ções populares ocorridas durante o Brasil-Império. Mobilizou pelo menos 12.000 homens contra os governos
de duas províncias, controlou extensas faixas do território nacional durante os anos 1839-40 e requereu a
intervenção maciça do governo central para ser finalmente subjugada. Apesar disto, não tem recebido muita
atenção por parte da historiografia e tem sido frequentemente mal interpretada. (ASSUNÇÃO: 1998, 67)

18 Guerra do Conrado, do Bem-te-vi, e do Balaio são designações para uma só: a Balaiada. A guerra do Paraguai aconteceu mais de vinte anos depois da
Balaiada. Em geral não se faz mais distinção clara entre elas. Esta confusão entre as duas guerras resulta não somente da grande distância no tempo, mas
também do fato de que elas têm, do ponto de vista do camponês, uma coisa essencial em comum: são guerras do “tempo de pegação de gente”. (ASSUNÇÃO,
Matthias Röhrig. A Guerra dos Bem-te-vis. A Balaiada na memória oral. São Luis: SIOGE, 1988.)
19 Texto extraído da Revista da Associação Brasileira de História Oral. n° 1, junho de 1998.

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

É neste cenário que eclode a Balaiada em 1838, prolongando-se até 1841 no 2º Reinado. Trata-se de um
movimento popular e social que envolveu as mais diversas camadas da população maranhense. O movimento foi hege-
monizado pelas classes subalternas, tais como escravos, negros forros, vaqueiros, camponeses e artesãos, embora
contasse também com a presença de profissionais liberais e intelectuais ligados ao partido Bem-te-vi. O entendimento
da Balaiada passa, sobretudo, pelas condições sócio-políticas e econômicas predominantes no Maranhão da época:
possuía a província uma população de 200 mil almas, onde a metade era de escravos e a outra parte formada por
camponeses, artesãos, comerciantes, proprietários e burocratas20. A economia maranhense, que tivera o seu primeiro
apogeu entre o final do século XVIII até 1820 com o algodão, entrara em profunda decadência, sobretudo após a reto-
mada da produção norte-americana. Vincula-se a isso a desagregação da economia e uma acirrada disputa pelo controle
do comércio, o que excluía as classes menos favorecidas e privilegiava uma minoria. O quadro político era de gravidade.
O ódio se expressava nas disputas entre brasileiros e portugueses, entre portugueses e ingleses, fato que vai desaguar
no campo político. Governava a província o partido Cabano, do senhor Felisardo de Sousa, que sofria forte oposição dos
políticos bem-te-vis, sendo a arena dessas disputas os pasquins e jornais que circulavam no Maranhão da época. O
poder era centralizado e a política dos prefeitos e vice-prefeitos ampliou a concentração de poderes nas mãos do Exe-
cutivo. Por outro lado, a Guarda Nacional, instrumento de repressão das regências, era controlada pelos grandes propri-
etários locais que recebiam patentes de oficiais, tornando-se um aparelho de repressão e vingança contra opositores. O
alistamento obrigatório causou revolta daqueles que não queriam servir na Guarda Nacional e eram obrigados através
da política dos “pegas”21.
É preciso ressaltar que, por muito tempo, a história oficial discriminou o movimento dos balaios, denomi-
nando esta revolta como sendo de “bandidos”, “facínoras”, “facciosos”, deflagrada por membros da “ralé”, indicando os
membros da revolta como saqueadores, violentos e proclamadores do clima de instabilidade e revolta 22. Historiadores
como Astolfo Serra, Carlota Carvalho, Maria Januária Vilela Santos, Röhrig Assunção e a professora Maria de Lourdes
Janotti estabeleceram nas suas pesquisas um novo olhar para a Balaiada, que passou a ser analisada também sob o
prisma dos vencidos, das classes subalternas oprimidas pelo poder e que tiveram parte da sua memória resgatada. A
Balaiada, enquanto revolta social e popular, eclodiu no interior do Maranhão, expandindo-se para as províncias do Piauí
e Ceará. Os seus líderes eram gente do povo, como Negro Cosme, que comandou um exército de 3 mil escravos qui-
lombolas e se intitulava tutor e imperador das liberdades bem-te-vis, o vaqueiro Raimundo Gomes, o “Cara Preta”, Manuel
dos Anjos Ferreira, o “Balaio”, Lívio Castelo Branco, “Coque”, “Mulungueta”, Milhomem, “João Bunda”, o índio Matruá,
dentre outros, gente do povo que aspirava pela liberdade, fim das discriminações e repressão. A este respeito nos informa
Maria Januária Vilela Santos:

Naturalmente, estas aspirações incentivaram a luta dos escravos. As reivindicações da população mestiça
e pobre da província, que lutou contra a sujeição em que vivia, abriram novas perspectivas de resistência à
escravidão. Torna-se necessário, no entanto, reconhecer que vigorosa manifestação nacional se fez sentir
durante a Balaiada, vinculada ideologicamente à independência. Tanto no Maranhão como no Piauí, para
onde a revolta se alastrou, encontramos entre os homens que pegaram nas armas e deram as suas vidas

20 Na época, a província do Maranhão contava com cerca de 200 000 habitantes, sendo 90 000 escravos e o restante composto por sertanejos ligados à la-
voura e à pecuária. Após a Guerra de Independência dos Estados Unidos, o principal produto maranhense, o algodão, sofreu grande declínio. O poder estava
nas mãos dos proprietários rurais e comerciantes das principais cidades, e a população sertaneja foi a que mais sofreu com a crise por que passou o Maranhão
e todo o país durante a regência. (ALENCAR, Francisco & CARPI, Lúcia. História da Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: 1985. p. 122.)
21 O “pega”, isto é, o recrutamento ao qual o camponês procurava se subtrair fugindo para o mato, é uma categoria fundamental para a compreensão da visão

popular da guerra. [...] “No tempo da pegação eles se escondiam pelos matos até quando passava a pegação. Aqui era tudo mato. (...)” (ASSUNÇÃO, Matthias
Röhrig. A Guerra dos Bem-te-vis. A Balaiada na memória oral. São Luis: SIOGE, 1988.)
22 Domingos José Gonçalves de Magalhães, na “Revolução da Província do Maranhão”, José Ribeiro do Amaral, em “Apontamentos para a História da Revolução

da Balaiada na Província do Maranhão”, Viriato Corrêa, em “A Balaiada”, romance histórico do tempo da Regência assim descrevem os revoltosos, como bandidos,
facínoras, facciosos e violentos.

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

não só os “pobres e deserdados”, mas também ricos proprietários de terras e famílias influentes, cujas as-
pirações não coincidiam exatamente com as teses liberais defendidas em São Luís pelos arautos do partido.
(SANTOS: 1983, 51)

Convém destacar a participação dos bem-te-vis, que incitavam os revoltosos contra o governo cabano atra-
vés dos jornais, destacando-se João Francisco Lisboa.
Oficialmente a Balaiada se inicia no lugar denominado Vila da Manga do Iguará, próximo a Vargem Grande,
quando o vaqueiro Raimundo Gomes invadiu o cárcere da vila proclamando a soltura de todos os indivíduos que estavam
presos. Este foi apenas o estopim de um movimento que se expandiu por quase todo o interior da província alcançando
inclusive as terras do Piauí. Deslocamento de tropas e batalhas envolvendo grupos do poder central e revoltosos se
espalharam, dentre outros locais, por Alcântara, Guimarães, Viana, Rosário, Itapecuru, Manga do Iguará, Vargem
Grande, Freguesia de N. Sra. das Dores da Chapadinha (hoje só Chapadinha), Brejo, Barra do Corda, Caxias, São José
dos Matões, São Bernardo, Balsas, Icatu, Grajaú, Codó, Miritiba (Humberto de Campos) e São Luís. Os rebelados eram
grande maioria, oficialmente cerca de 6 mil, mas sabe-se hoje que esse número ultrapassou 10 mil revoltosos, que se
envolveram em conflitos sangrentos no enfrentamento com as tropas legalistas. Usando armas rústicas e utilizando o
sistema de guerra de guerrilhas, os balaios saíram vitoriosos em diversas batalhas, mas a falta de unidade, aliada a uma
forte repressão do governo central, acabou fragilizando o movimento, que foi debelado em 1841.
Os rebeldes balaios não conseguiram conquistar a capital, São Luís, porém invadiram e conquistaram a
segunda cidade da província, Caxias, onde instalaram uma Junta Governativa e fizeram um rol de exigências, dentre as
quais indenização em dinheiro, os oficiais da revolta assumiriam os mesmos postos na força legal imperial e anistia a
todos os rebeldes. Foi curto o domínio balaio em Caxias. Além da falta de entendimento entre os líderes balaios, o
governo central enviou tropas para esta cidade sob o comando militar de Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de
Caxias, que ocupou estrategicamente o morro do Alecrim combatendo os rebelados, decretando anistia para alguns,
processos para outros e massacre para a maioria.
A Balaiada foi debelada mas ficou na memória dos maranhenses, embora ela não faça parte do orgulho
nacional nem do Maranhão, diferentemente da Revolta de Beckman, cujos loiros são proclamados nos quatro cantos do
Estado.

MARANHÃO REPÚBLICA

O MARANHÃO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX: O GOLPE DE 1930

O golpe militar de 1930 no Maranhão também teve nas forças armadas o seu principal agente. Em 1930 foi
deposto o presidente Washington Luís, sendo substituído por uma junta governativa que tinha como um de seus compo-
nentes, o maranhense Tasso Fragoso. A junta empossou Getúlio Vargas. Entre os anos de 1930 e 1945, houve a predo-
minância da adoção de um regime de interventorias no Maranhão. A presença de Interventores, substituindo os gover-
nadores, reflete o autoritarismo getulista além de aguçar a instabilidade política no estado. Só entre 1930 e 1937,

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

governaram o Maranhão, sete interventores. O primeiro Interventor Federal no Maranhão, foi o General Luso Torres,
assumiu em caráter de urgência quando da deposição do governador Magalhães de Almeida. Foi logo substituído pelo
“Tarquinista” Reis Perdigão, um dos principais responsáveis pela eclosão do golpe de 1930 no Maranhão, Posteriormente,
assumiu a interventoria, o padre, escritor e jornalista, Astolfo Serra. Sobre o seu governo, o historiador João Ricardo é
enfático.

“Exerce a interventoria federal no estado, entre janeiro e agosto de 1931, No seu governo, Astolfo Serra
procurou obter apoio das mais diversos grupos sociais (comerciantes, importadores, exportadores, proprie-
tários de fábricas, trabalhadores do comércio e indústria) com vistas a legitimar-se como governante. Toda-
via logo perde o apoio de diversos desses grupos, contando apenas com a sustentação da pequena massa
de operários e comerciários da cidade de São Luís, que conclama a apoiá-lo quando se vê abandonado
pelas mais poderosas forças políticas do estado p 102 e 103.

Astolfo Serra foi substituído por Lourival Seroa da Mota, cuja administração foi de enfrentamento com a
Associação Comercial, motivo de sua demissão, sendo substituído por Álvaro Jansen, posteriormente Serra Lima Salda-
nha, depois Antonio Martins de Almeida. Esta última administração foi marcada por intensos choques novamente com a
Associação Comercial por causa da política de elevação de impostos sobre o comércio. Ao assumir o poder, procurou
conter as despesa, efetuou demissões, reduziu salários, porém não recorreu a empréstimos, tudo isso para equilibrar o
orçamento do estado. Foi um Interventor bastante truculento, usava cotidianamente a força policial para reprimir os mo-
vimentos populares. Substituiu Martins de Almeida, o Dr. Aquiles Lisboa, que foi eleito por via indireta, através de uma
constituinte, onde os representantes escolhiam os governador e os dois senadores. Não era de confiança de Getúlio
Vargas. pressionado, sofreu impeachment, sendo nomeado um novo Interventor, Humberto Carneiro Mendonça, substi-
tuído por Paulo Ramos, que governou de 1935 a 1945.
O maranhão era um estado bastante acanhado, nas décadas de 30 e 40. O historiador João Ricardo nos
mostra dados importantes da época:

“Em 2935, por exemplo, o estado possuía um total de 1.168.167 habitantes, enquanto sua capital, o centro
urbano mais populoso, contava com 70.278 habitantes. Em 1933 nele existiam apenas 650 escolas de en-
sino primário?, 18 de ensino secundário e 6 de ensino superior...entre os principais produtos da economia
do estado, incluíam-se o arroz e o algodão com as seguintes médias de produção anual entre 1932 e 1935:
arroz, 548.500 sacas de 60 quilos e algodão. 28.273 toneladas, enquanto a atividade fabril contava com 44
fábricas entre as quais predominavam as do ramo têxtil e alimentos, que empregavam 3.105 operários em
1920. A o longo da década de 1930, a quantidade de fábricas e operários permanecem muito pouco alterada,
e ainda diante da população economicamente ativa da região majoritariamente ocupada nas atividades agrí-
colas e extrativas vegetais – esse número de operários era pouco significativo”Ricardo João p 16

Paulo Ramos foi governador de forma indireta e Interventor. Homem de confiança de Vargas, no poder devia
atingir duas diretrizes: Dirigir os interesses da política getulista no estado e controlar e controlar as instabilidades viven-
ciadas nos governos anteriores. Para ele qualquer manifestação contra o governo era considerada crime passível de
punição. Extremamente autoritário e complexado, mandou empastelar o jornal do seu opositor Marcelino Machado. Por
mais simples que fossem as críticas, recorria à repressão policial, como em 1937 quando a população protestou contra

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

o aumento dos preços dos alimentos. Em relação a economia, realizou empréstimos, na esperança de sanear as finanças
do estado. No seu governo houve um crescimento da produção de carnaúba, babaçu e algodão e principalmente arroz
no Maranhão, porém se acentuou a crise industrial. No setor da saúde fundou o Hospital do Pronto Socorro, a Materni-
dade Benedito Leite, Hospital Infantil, o Sanatório Getúlio Vargas, o Leprosário do Bom Fim e a Colônia Nina Rodrigues.
Com a queda do Estado Novo, renunciou ao cargo e candidatou-se pelo PTB, ao cargo de Deputado Federal e entre
1950 e 1954 exerceu o mandato.

O MARANHÃO NA 2ª METADE DO SÉCULO XX

Vitorinismo

Victorino Freire Nasceu em Pernambuco, onde na condição de tenente apoiou o golpe de 1930. No Maranhão,
a sua história se inicia, mais precisamente em 1933, quando chega ao Maranhão advindo de Pernambuco para assumir a
chefia do Gabinete do interventor Martins de Almeida cumprindo funções burocráticas.Depois de uma fracassada tentativa
de eleger parlamentares no âmbito federal e estadual, viaja para o Rio de Janeiro, a convite do presidente Getúlio Vargas,
onde assumiu cargo na Câmara Federal e exerceu oposto de Ministro da Viação e Obras Públicas. A influência de Victorino
cresce em nível nacional: remete verbas ao estado e nomeia aliados em cargos estratégicos. Victorino Freire, retorna ao
Maranhão na década de 40, para articular a campanha do candidato Eurico Gaspar Dutra, seu amigo pessoal. No estado,
passa a dirigir a política, em torno da qual é ele o maior nome. É nesta década que victorino monta a sua trajetória rumo ao
poder, exercido até meados da década de 60 quando ascendeu, José Sarney. Obteve uma consagradora vitória em 1945,
elegendo os dois senadores do Estado e a quase totalidade da bancada federal.
Victorino exercia um forte controle sobre os poderes público e privado: controlava a justiça, a política, as
repartições, nomeava delegados de polícia, procuradores, elegia governadores, parlamentares. Exerceu tutela sobre
políticos como, Renato Archer, Matos Carvalho e Eugenio de Barros. Dessa forma, exercia a chefia do Estado. Possuía
influência junto ao presidente Eurico Gaspar Dutra, possuindo uma forte articulação com o centro da política nacional,
além de manter aliança com chefes políticos locais, e de realizar frequentemente mediações entre os interesses econô-
micos do empresariado e o estado . Foi um dos principais articuladores da campanha do Gal. Eurico Gaspar Dutra à
presidência da República, e responsável direto pela organização do PSD no Maranhão. É dele a frase “vou ao Maranhão
apertar as cangalhas”, o que demonstra, de um lado, o desprezo pela população que o acolheu, e do outro, o poder de
chefe autoritário, de cacique, características imanentes ao vitorinismo. Além de Influenciar na distribuição dos cargos
públicos, exercer o clientelismo, a cooptação política, o controle dos partidos e perseguir a oposição, Victorino usava as
verbas públicas em benefício próprio. Veja o que diz Carlos Lima sobre o tema:

“ O vitorinismo caracterizou-se graças ao prestígio pessoas de Victorino nas altas esferas administrativas e
junto aos figurões do país (prestígio que se conservou em alta e efetivo, passando de presidente a presi-
dente, até sua morte e além dela) como uma época de grandes vantagens para o estado, com o carrea-
mento de vultosas verbas, que, se bem aplicadas, teriam dado ao Maranhão um grande progresso. Desvia-
das, porém, pelos amigos e correligionários, aos quais se garantia todas as imunidades e forneciam meio
para aniquilamento dos contrários. Os próprios órgãos federais foram manipulados como instrumentos de
vingança política e suborno, os inimigos do governo tendo fechadas todas as portas, suspensos os créditos
nos bancos oficiais, contra si todas as pressões da máquina administrativa, enquanto aos apaniguados era

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

dispensado tratamento inverso e especial com todas as facilidades para todo tipo de fraudes e corrupções,
desde as eleitorais até o escândalo da verba aplicada em hipotética ponte, que não passou de três ou quatro
sapatas, tão mal assentadas que a maré deslocou. Mas os esfaimados gatunos tiveram ainda a desfaçatez
de pleitear novos recursos para pintar a ponte, instruindo o processo com fotografias da obra. (LIMA, Carlos
de . História do Maranhão . 1981).

Já o poeta José Chagas versejou de forma critica sobre a hipotética ponte:

“A ponte assim
Sem inicio nem fim
Feita de nada
Foi inaugurada
Fotografada
Comemorada
Consagrada
Só não pintada
Se a ponte é feita de furto
Torne a ponte furtacor
Daí porque a ponte é isso:
Arco-íris da ilusão
Sempre visto sem ser visto
Nos ares do Maranhão.

O poder exercido por Victorino era tanto que conseguiu eleger para o senado, depois de uma grande ma-
nobra, Assis Chateaubriand, proprietário dos Diários Associados. Benedito Buzar Narra este fato da seguinte forma:

“Quando em 1954 Victorino se elegeu para o Senado, aconteceu um fato inesperado. Na Paraíba o jorna-
lista Assis Chateaubriand proprietário da Cadeia Associada, não foi reeleito senador. A derrota de Chateau-
briand provocou um cataclismo no PSD, pois a presença dele no cenário nacional era crucial para a viabi-
lização da candidatura de Juscelino à Presidência da Republica . Para o equacionamento do impasse, a
solução viria do Maranhão. A Victorino foi confiada a missão de convencer o Governador Eugênio Barros à
apoiar aquela candidatura e persuadir o senador Antonio Bayma a renunciar ao mandato” (BUZAR, Bene-
dito. Vitorinistas e Oposicionistas. Lithograf. 2001. p.20)

O vitorinismo e a Greve de 1951

A Balaiada de São Luís, como ficou conhecida, a greve de 1951, foi o mais formidável movimento urbano
da história do Maranhão. Mobilizou a “massa urbana” em forma de movimento popular, cuja reação às praticas fraudu-
lentas e coronelescas de Victorino Freire, teve graves conseqüências. A greve de 1951 girou em torno do poder exercido
por Victorino Freire que corrompeu o processo eleitoral garantindo a vitória de seu candidato, Eugênio Barros.

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

Saturnino Bello, ex aliado de Victorino, era candidato das classes empresariais, Vice-Governador e ex-inter-
ventor, foi candidato por uma aliança partidária que reunia o PSD, PR, PSP , PL, UDN e o PTB foi um dos principais
personagens dessa greve, pois havia sido nomeado interventor do Maranhão, em 1947, sendo indicado ao cargo por
Victorino Freire. Em 1950 foi preterido por Victorino unindo-se às Oposições Coligadas. Por outro lado, o candidato vito-
rinista ao cargo de Governador do Maranhão era o ex-prefeito de Caxias Eugênio Barros, que disputou a eleição pelo
Partido Social Trabalhista – PST. O pleito foi cercado de expectativas e de denúncias de fraude. Estava em jogo o poder
de Victorino Freire no Maranhão. Abertas as urnas, o candidato das Oposições Coligadas, Saturnino Bello, saiu na frente,
principalmente em São Luís. Estava ameaçada a vitória do candidato da oligarquia. Victorino Freire preocupado com o
quadro eleitoral desvantajoso, entra em cena: conseguiu anular via TRE, 31 seções eleitorais, algo em torno de 16.000
votos, o suficiente para garantir a ultrapassagem de Eugênio Barros sobre Saturnino Bello e “vencer” o pleito com uma
margem mínima de 6.000 votos.
A declaração do resultado pelo TRE, acirrou os ânimos. A população de São Luís, reagiu de forma violenta
à posse de Eugênio Barros. Passeatas foram organizadas, piquetes e discursos inflamados em praça pública. Os “sol-
dados da liberdade” agora iam à forra contra o poder fraudulento. Assim, o povo radicalizou suas ações, influenciado
pelos oposicionistas. Dentre eles estava, Neiva Moreira, fluente jornalista, líder do movimento, acusado injustamente de
incendiar vários bairros como Caratatiua , Goiabal e Cavaco, provocando o desabrigo de centenas de pessoas e levando-
as inclusive ao desespero. Este líder da Greve de 51, era chamado de “Caramuru: Deus do fogo”. Durante o desfecho
do movimento, como estratégia, os rebeldes fecharam o porto de São Luís, diminuindo a oferta de alimentos no estado.
São Luís ficou totalmente paralisada por uma greve geral nos meses de fevereiro e março posteriormente setembro e
outubro. A Morte do candidato das Oposições Coligadas, Saturnino Bello , ampliou os conflitos, seu funeral foi acompa-
nhado por aproximadamente 40 mil pessoas o que equivalia a 33% da população. Os ânimos se acirraram e as posições
de ambos os lados tornaram-se radicais. Os rebeldes atearam fogo no edifício do TRE. Através da violência as forças
militares tentavam calar a multidão incontida. O conflito foi inevitável, mortos e feridos em praça pública demonstrando o
despreparo policial e o desespero da oligarquia em abafar o movimento. Nem a vinda do Ministro Negrão de Lima e de
tropas federais a São Luís, arrefeceram os ânimos. O poeta Nauro Machado assim narrou a violência estabelecida na
Greve de 51:

“Mudo, antes o tiroteio comeu alto, roçou de ponta a ponta: a lei falou sua fala. Sim, a fala-força dos fuzis,
das balas, não belas, amarelas. Bolos de mortos. Para se ir à morte não é preciso passaporte. Um quieto
domina a Praça Dom Pedro II. Gente morrida matada, corpo sangrando, lares sem pais, filhos, tudo, a pros-
tituição. As gentes estavam rebeladas: a corrupção, as velhas estruturas, o caciquismo e o sindicato da
fraude. Universidade da fraude (A mão maquiavélica de Victorino. ‘Uma porca será eleita, até pro senado,
se ele desejar – diziam) assim chamaram”.
“-Escuta esta, fala baixo, dizem que foi muita gente enterrada viva, só com a perna quebrada, por exemplo,
mas era ordem superior. Moradores dali de junto do cemitério de São Pantaleão contam que ouviam os
gemidos, os apelos” ( CABRAL, Wagner da Costa In O “SALTO DO CANGURU”)

Apesar da forte reação popular, foi diplomado o candidato vitorinista Eugênio Barros . Em conseqüência
disso, houve uma ampla mobilização popular contra a posse de Eugenio Barros, o que possibilitou uma intervenção
federal do governo Vargas, através do Ministro Negrão de Lima que foi acompanhado de perto por populares numa atitude
de pressão e denuncismo. A intervenção promoveu inclusive o controle militar da capital, que foi ocupada por tropas do
Ceara, Piauí, Pará e aviões da FAB, sob o comando geral do Gal. Edgardino Comandante da 10ª Região Militar, que em
represália ao movimento impôs as seguintes determinações:

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

1) “Permitir reuniões públicas somente das 8 às 10h e das 17 às 19h, exclusivamente na Praça João Lisboa.
2) Proibir agrupamentos fora da Praça João Lisboa.
3) Proibir porte de armas mesmo as licenciadas.
4) Considerar como condição de hostilidade o porte de cassetetes, canos, pedras e outros objetos que possam
servir para depredação.
5) Considerar desacato às suas ordens a propagação de boatos tendenciosos ou pregação de desordens, motins
ou violências contra pessoas ou propriedades.
6) Proibir aos militares da ativa o uso de trajes civis durante o período de prontidão da tropa...(MOREIRA, Neiva In
O PILÃO DA MADRUGADA)

A estratégia adotada pelas oposições era o acirramento do conflito que tinha o apoio das camadas populares
urbanas. A Greve de 1951 tinha o apoio de trabalhadores, estudantes, classe média, políticos e até empresários. O
movimento alcançou grande repercussão nacional e internacional , transformando-se num campanha de libertação contra
o jugo vitorinista, era a “Balaiada Urbana”. São Luís, passa a ser considerada a “Ilha Rebelde”. Além de São Luís, hou-
veram atos de rebeldia como São João dos Patos, Coroatá e Grajaú.
É importante ressaltar além da presença do trabalhador urbano, a grande contribuição das mulheres que
tiveram participação expressiva no movimento, denunciando a fraude e coletando alimentos e dinheiro para minorar o
sofrimento das vitimas dos incêndios, contribuindo inclusive para garantir a permanência da população no processo de
mobilização.

O SARNEYSISMO

Estudar o a trajetória política de José Sarney é fundamental para que se possa responder certas perguntas
capazes de explicar o cenário do Maranhão na contemporaneidade.
Sarney possui um forte vinculação com a ”geração de 45” jovens políticos, escritores, poetas, jornalistas,
estudantes e bacharéis, um grupo considerado renovador,a em relação à cultura maranhense. Atuavam nesse grupo:
Ferreira Goulart, Bandeira Tribuzzi, Domingos Vieira Filho, Nascimento de Morais Filho, além de José Sarney.
José Sarney tem no inicio da sua trajetória política pelas mãos de Victorino que o indicou ao cargo de as-
sessor do governador Eugênio Barros. Sua filiação inicial foi no PSD de Victorino Freire, porém fez carreira na UDN ao
se eleger Deputado Federal em 1958, pelas “Oposições Coligadas” candidatara-se em 1954 ficando apenas com a
quarta suplência. A partir de então ascende politicamente e torna-se um forte opositor de Victorino. Nas eleições de 1952,
Sarney reelege-se folgadamente. Foi o deputado Federal mais votado da oposição e o segundo no cômputo geral. Con-
solida-se então como um dos principais nomes da oposição. Faltava o governo do Estado, o golpe de misericórdia no
vitorinismo. A Consolidação de José Sarney ao poder do Maranhão se constrói, a partir da vitória eleitoral sobre o grupo
vitorinista, nas eleições de 1965, sob tutela do regime militar. O golpe militar de 1964 foi fundamental para os anseios de
José Sarney, pois forneceu as condições materiais para a consolidação da nova oligarquia, frente ao Vitorinismo deca-
dente, Os militares perseguiram os poucos militantes de esquerda e até de oposição no Estado. Pelo AI 1, a médica
Maria José Aragão foi perseguida, presa e torturada e Neiva Moreira foi cassado. Assim, o governo militar criava um “anel
de proteção” em torno de Sarney pois enfraquecia, o vitorinismo e o PDS e alijava a esquerda e a oposição de Neiva
Moreira. Estava aberto o caminho para Sarney chegar ao poder. A revisão eleitoral também beneficiou José Sarney, ao
desmontar a universidade da fraude, promove-se a fiscalização do pleito e a revisão eleitoral com eliminação, de 200 mil

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eleitores fantasmas no universo de 470 mil. Os militares promoveram inclusive uma intervenção nas eleições, fiscalizadas
pelas tropas do exército. O “xeque-mate em favor do Sarneysismo ainda estava por vir: se expressou através da crise
interno que atingiu o vitorinismo enfraquecendo-o ainda mais. tudo girou em torno da indicação do sucessor de Newton
Bello ao governo do Estado. Victorino indicou Renato Archer que foi rechaçado pelos militares. Newton Bello adiantou-
se ao seu “chefe político” e indicou como candidato o político Costa Rodrigues, à sucessão governamental. Esta insubor-
dinação custou-lhe a filiação partidária. Expulso do PSD, filiou-se ao PDC, juntamente com o seu candidato. Em ato
continuo, Victorino consegue a liberação da candidatura de Renato Archer, mesmo a contra-gosto dos militares. O cenário
se completa com a candidatura de Sarney, pelas Oposições Coligadas”. O resultado eleitoral foi o seguinte: Sarney –
112.062 votos, Costa Rodrigues – 68.560 votos e Renato Archer – 36.103 votos.
Uma vez eleito(1966-1970), Sarney elabora um discurso pautado na modernização, no desenvolvimentismo
em moda na década de 50. É a idéia do novo, do moderno. Esse discurso é corporificado no lema Maranhão Novo, como
oposição ao vitorinismo que representava o atraso, a fraude e a truculência. nesse sentido a fase anterior ao seu
governo é de total atraso. Sarney pretende reestruturar e não romper com o sistema oligárquico e patrimonial de domi-
nação. O discurso de posse de Sarney é pautado da dicotomia atraso x modernidade. Exerceu o poder no Maranhão a
partir de 1966 e, apesar de perder recentemente as eleições no Estado, ainda é cedo para se afirmar que a dinastia
Sarney está desaparecendo. Ademais, este oligarca privatizou o estado onde possui empresas, terras, inclusive ilha. A
mirante é a mais potente empresa de comunicação do Maranhão.

A QUESTÃO DA TERRA NO MARANHÃO

A partir da década de 50, ocorrerá transformações no Estado do Maranhão, há princípio, sobretudo no


Campo. A implantação da Rodovia Belém-Brasília e a transferência do centro político do pais, para Brasília, no Planalto
Central, proporcionaram a valorização das terras do sudoeste e sul do Maranhão, promovendo a grilagem, o confisco de
grandes extensões de terra no Estado. Mas é na década seguinte que os latifúndios e conflitos irão se implantar no
Maranhão. Nesse período, enquanto Espírito Santo, Sergipe, e Santa Catarina representam baixa concentração fundiária
na década de 60, já, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Bahia, Paraíba e Ceará, nestes estados a concentração é
média, enquanto, Maranhão, São Paulo, Minas Geria, dentre outros, representam unidades de alta concentração fundi-
ária, sendo superados por alguns Estados, segundo o gráfico acima. Segundo Alberto Passos Guimarães, é a partir da
década de 40 que crescem os percentuais de concentração fundiária no Maranhão, o seu ápice acontece justamente
entre as décadas de 1950 e 1970. Segundo este mesmo autor, em 1960, o número de posseiros era significativo no
Maranhão. A partir da Lei de Terras, este número cai vertiginosamente. A terra acabou sendo grilada e os posseiros
expulsos. Em 1960 famílias de não proprietários mas que ocupavam a terra, no Maranhão, alcançavam o percentual de
86%.
O discurso modernizador do governo Sarney se tornou mais evidente a partir da criação da Lei de Terras
em 1966, que provocou a reestruturação do mercado formal de terras possibilitando a concentração da terra, a grilagem
na Amazônia Legal, cuja a conseqüência mais flagrante foi a usurpação das terras dos camponeses que causou um
grande êxodo rural e sobretudo conflito na região sudoeste maranhense. Municípios como Imperatriz, João Lisboa, Ama-
rante, Buriticupu, Santa Luzia, dentre outros passaram a ser focos da grilagem por particulares, empresas nacionais e
multinacionais que de uma hora para a outra apareciam com seus representantes nessas regiões portando documentos
cartoriais de centenas de hectares de terras. até os estados unidos compravam terras no maranhão com anuência do
regime militar.

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

a região sudoeste do maranhão tornava-se estratégica a partir da década de 50 com a construção da belém-
brasília, além do que a descoberta de riquezas minerais no norte do Brasil projetou uma intensa atividade de compra e
venda de terras. esta região t A construção de Brasília mudou a face da região e Imperatriz torna-se então uma cidade
localizada estrategicamente na rota de confluência entre o norte e centro-oeste. No inicio da década de 60 chegaram a
Imperatriz imigrantes mineiros, paranaenses, baianos e capixabas que traziam capital e ocupavam de duzentos a qui-
nhentos hectares de terra. Em 1968 o governador Sarney criou a Delegacia de Terras em Imperatriz, objetivando disci-
plinar a ocupação e titular as áreas, transferindo o domínio público para o domínio particular. Segundo Victor Asselin:

“(...) Com esse acontecimento, estourou de verdade a problemática da grilagem. Sua atuação veio posteri-
ormente, pela Lei das Terras Nº 2949 de 17-06-69 do Estado do Maranhão, (...) que manifestava obviamente
seu propósito de entregar o território maranhense às empresas e fazendeiros de fora, mediante a criação
das sociedade anônimas.”(ASSELIN, Victor p-29)

O MARANHÃO E OS GRANDES PROJETOS

O Projeto Grande Carajás

No final da década de 60, a região amazônica a ser o local privilegiado para investimento por parte do
grande capital nacional e estrangeiro. Esse processo foi apoiado pelo estado, quer investindo em infra-estrutura, quer
através de subsídios e incentivos. Foi nesse contexto que, nos anos 80 se iniciou o Programa Grande Carajás, que
objetivava o aproveitamento das jazidas minerais da Amazônia Oriental (Serra de Carajás no Sul do Pará) deslocando
para a região norte parte da exploração mineral, cuja matéria-prima é abundante, como nova alternativa já que as minas
da área explorada no Sudeste apresentavam exaustão. A área de abrangência do PGC é de 11% do território brasileiro,
abrangendo os estados do Maranhão, Pará e Tocantins. O projeto foi pensado a partir da tendência do mercado mundial
no contexto da globalização. A Companhia Vale do Rio Doce, criada em 1942, no Governo Getúlio Vargas, é a empresa
executante do projeto, tem o cabedal de ser uma das maiores mineradoras do mundo. O P.G.C foi criado pelo Decreto-
Lei nº 1813, publicado no Diário Oficial da União em 24-11-1980. O Maranhão foi atingido por esses grandes projetos
tornando-se corredor de exportação. O projeto atua em quatro áreas: minério, alumínio, celulose e papel e centro corpo-
rativo. A instalação do Programa Grande Carajás foi lastreado pelo discurso do governo de integração d Amazônia orien-
tal. No final da década de 90, em 1997., a Vale do Rio Doce foi privatizada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Assim é que após comprar 49% pertencente a empresa (N. S. STEEL), com quem formava a Amazônia Mineração S.A.
(AMZA), passa a conduzir o empreendimento econômico. Este empresa exporta minério hegemonicamente para o Japão,
Alemanha e EUA São 12 trens, cerca de 1.200 vagões carregados de minério, onde cada vagão tem capacidade de
carregar 90 toneladas de riquezas escoadas de Carajás.
A serra de Carajás está localizada na região norte do Brasil, no estado do Pará, no município de Paraua-
pebas. Trata-se de uma área rica em exploração de minério de ferro e derivados, Tem potencial para a exploração de
minerais em no mínimo 500 anos. É a maior província mineral do planeta, cuja reserva é estimada em 18 bilhões de
toneladas de minério de ferro, 1 bilhão de toneladas de cobre, 40 milhões de toneladas de bauxita, 60 milhões de tone-
ladas de manganês e 124 milhões de toneladas de níquel.
A construção de uma ferrovia, transporte seguro e de baixo custo, são 890 quilômetros de estrada de ferro
ligando a serra de Carajás no Pará ao Itaqui, em São Luís.

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

construção do Porto da Ponta da Madeira para escoamento da produção. O porto estrategicamente locali-
zado, na baia de São Marcos, a 9 quilômetros Do centro de São Luís, propicia o carregamento de navios de até 400.000
toneladas. Possui um canal de 100 quilômetros de extensão, 23 metros de profundidade, possuindo dois piers (cais para
estrutura de carregamento de navios) com capacidade com capacidade para carregamento de soja, ferro gusa, minério
de ferro e outros minérios, movimentando cerca de mais de 4.000.000 de toneladas por ano....
Os investimentos realizados pela Companhia Vale do Rio Doce estão em constante expansão. Além de
minério de ferro, a empresa explora, níquel, tungstênio, cobre e manganês, além de empreendimentos como papel de
celulose.As estimativas de exploração, produção e exportação, são fantásticas. A Vale, até maio de 2006, já aplicou 1
bilhão de dólares em negócios no Brasil e no exterior, tem perspectivas para 2010 de movimentação de 100.000.000 de
toneladas de minério de ferro e 15 milhões de toneladas de soja. A receita bruta da Vale do Rio Doce, somente nos seis
primeiros meses de 2006, foi de 18,4 bilhões de reais de sua receita bruta o que representa um volume de 40% mais do
que a soma de todas as riquezas no Maranhão. Obteve ainda, um lucro líquido recorde: foram 38,8 milhões de toneladas
em cargas, sendo 35.8 milhões de toneladas em minério de ferro, 1.4 de tonelada de ferro gusa, 896 mil toneladas de
soja, 560 mil toneladas de manganês e 174.8 mil toneladas de cobre. Entre 1991 e 1992, a CODOMAR registrou, entre
navios de longo curso e cabotagem, o atracamento de 591 e 605 navios respectivamente.....
Segundo Franz Guinstelinck:

“Com a implantação da Ferrovia Carajás, conseqüência da descoberta de jazidas de minério no estado do


Pará, um grande número de famílias deixa a roça e vai a procura de dinheiro, outras vão destacar-se atrás
de trabalho nas hidrelétricas (a exemplo de Tucuruí) e nos diversos garimpos que vão ser descobertos no
região Norte e Nordeste.
As regiões cortadas pela Rodovia são hipervalorizadas e ocupadas por grandes projetos agropecuários,
nem sempre efetivados, que ocupam terras devolutas, reservas indígenas e as propriedades de pequenos
agricultores. A população periférica ou próxima às regiões de grandes projetos, se constituirá em mão de
obra no período da implantação (peões), como assalariados nas fazendas ou vivendo do subemprego (bis-
cates), os empreendimentos ficam com extensas regiões. Os pequenos proprietários que vão ter os seus
terrenos comprados ou vão migrar para outras zonas de colonização, irão constituir-se em um problema,
uma vez que deixarão de produzir alimentos e terão que buscar outras alternativas de sobrevivência.
Em tempos de globalização, a CVRD, promove transformações profundas nas relações de trabalho, visando
aumentar e racionalizar a produção, economizar tempo, desgaste, visando alcançar a “qualidade total” tam-
bém controlar o trabalhador, adequando-o a modelos importados, principalmente do Japão, é o Toyotismo.
Trata-se da adoção de uma prática modernizadora que se expressa na estratégia de Gerência de Qualidade
Total (GQT) , bem como alcançar metas de produção. Isso tem contribuído para a disciplina do trabalhador
– poucas greves na empresa. Uma das estratégias de implantação, no Maranhão é a exploração de mão-
de-obra barata: são peões e técnicos, estes últimos formados geralmente pelo CEFET ou Universidades
locais. Muitas vezes, a empresa utiliza estudantes universitários, contratados como estagiários, pagando
baixos salários. A terceirização é outra marca do empreendimento, cuja estratégia é ”enxugar “ o quadro e
contratar empresas de prestação de serviços nos mais variados setores de atuação. São dezenas de em-
presas terceirizadas prestando serviço para a CVRD, que visando acumular lucros, pagam baixos salários,
aumentam a jornada, e negam direitos sociais ao trabalhador.
A implantação do Projeto Carajás tem gerado debates no seio da sociedade, sobretudo em relação aos
fortes impactos, conseqüência da dimensão do investimento e atuação do empreendimento em variados

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

ramos, sobretudo o minero-metalúrgico. Ao se implantar, retirou centenas de famílias de suas terras, inclu-
sive da periferia de São Luís, contribuindo para o crescimento desordenado da cidade, existência de conflitos
na área de influência do projeto, com populações indígenas, quilombolas, garimpeiros e posseiros, a espe-
culação imobiliária e o constante perigo de desastre ambiental.

A ALUMAR: O consórcio ALUMAR do Maranhão, é formado pela associação ALCOA do Brasil S.A e BIL-
LINTON metais S.A. É a maior e mais importante fábrica de alumínio do Brasil. Dedica-se à produção de Alumínio e
Alumina, industrializados a partir da bauxita cujo minério e extraído das minas de Trombetas no estado do Pará. O
investimento, para a implantação do projeto, foi na ordem de 1.5 bilhão de dólares, objetivando produzir 500.000 tonela-
das de alumina e 235 toneladas de alumínio por ano.
A implantação da ALUMAR no estado do Maranhão, foi bastante problemática, gerando debates e protestos,
pareceres técnico-ambientais contra. Mobilizou a sociedade civil, temerosa com o impacto ambiental e desapropriação
de terras da ilha. Mesmo assim foi uma implanta de forma autoritária, cuja carta de consulta foi transformada em contrato
deferido pelo então governador nomeado pela ditadura, João Castelo Ribeiro Gonçalves. A justificativa de sua implanta-
ção era a geração de empregos em larga escala, utilização de tecnologia de ponta e geração de receita tributária para o
estado. Sabe-se porém que a instalação de empreendimentos desta envergadura nos países periféricos, responde às
exigências do capitalismo globalizado e sua ávida busca de mercados, áreas produtoras de matéria-prima (bauxita exis-
tente em Trombetas, mão-de-obra barata, proximidade com os mercados da Ásia, EUA e Europa, incentivos fiscais, áreas
com disponibilidade de água e energia, além da posição estratégica e capacidade portuária. O Maranhão atende perfei-
tamente a estas condições.
Quando da sua implantação na década de 80, a empresa ocupou 10.000 hectares de terras, cerca de 11%
da totalidade das terras da ilha. Este foi o primeiro impacto gerado por esse projeto, pois causou a desapropriação de
centenas de famílias de suas terras, para ser mais preciso, 1654 famílias que viviam da subsistência da pesca, da captura
de mariscos, da lavoura e produção de hortifrutigranjeiros, cujos produtos eram utilizados na alimentação diária, ou
gerando renda com a venda nas feiras de ao Luis, e que receberam uma indenização irrisória.
A ALUMAR exporta alumina em cuja industrialização utiliza o processo de refinação, e o alumínio através
do processo de redução, transformado em tarugos, é exportado para o exterior Os estudiosos Maria Vilma Moreira e
Moacir Feitosa nos instruem sobre produção de alumina e alumínio:

“Na primeira realiza-se a separação da água usada para a lavagem da bauxita e de outros minérios, os
quais são considerados “impurezas”. Essa separação realiza-se pela soma do hidróxido de sódio (solução
de soda cáustica) à bauxita. A mistura é aquecida à temperatura variada, até todas as impurezas estarem
separadas da alumina. (Moreira in Moacir p 131)
“Na segunda, efetua-se a fabricação do alumínio primário, a partir da alumina já obtida pelo processo pri-
mário. Esse é um processo denominado eletrólise e exige o consumo de imensas quantidades de energia,
de mo do que para a eletrólise de uma tonelada de alumínio são consumidos 15 mil kw/h de energia. É por
esta razão que se costuma dizer que quando estamos exportando alumínio, na verdade estamos exportando
energia” (Moacir p 13)

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

Inicialmente eram 3 mil trabalhadores, houve redução. Esta empresa promove Impacto ambiental, a partir
da transformação da bauxita em alumina, quando ocorre uma grande descarga de fluoretos e resíduos tóxicos (lama
vermelha).

A produção de soja no Maranhão

A implantação da cultura da soja no Maranhão está vinculada ao discurso modernizador do governo Sarney
na década de 1960. O agronegócio da soja no estado, passou a parte integrante dos grandes projetos, o principal do
setor agrícola, a partir da decadência da produção de arroz. Quando da sua implantação, foram adquiridas 1.000, 2.000,
até 5.000 hectares de terra.
Até a década de 1960, o Maranhão não produzia soja, É a partir da década de 1970, com a vinda de em-
presários gaúchos ao Maranhão, que o estado assume a condição de grande produtor nacional. A produção de soja
substituiu a rizicultura, cuja lavoura o Maranhão chegou mesmo a ser o segundo maior produtor do país. A princípio os
grandes produtores usaram a estratégia de plantar arroz, que na década de 1980, foi substituído pela grande lavoura da
soja. Em 1981, três países produziam 90% da soja mundial: os EUA, 60%, o Brasil, 20%, e a China 10%. Em meados da
década citada, a produção de soja maranhense já conquistava 16% do mercado mundial, e o Brasil produzia, 18 milhões
de toneladas, enquanto isso, a produção de arroz diminuía drasticamente. Entre 1986 e 1987 a produção de arroz alcan-
çou 200 hectares, enquanto que de 1987 a 1988, caiu para 120 hectare.
Em 1996 houve uma queda da produção de soja no Estado, cujas causas foram a estiagem e as fortes
chuvas. A safra que era estimada em 1,3 milhão de toneladas, caiu para 390 mil toneladas, alcançando portanto, uma
queda de 70%. A queda do dólar fez a saca despencar para 18 R$, no mercado internacional, no entanto, na opinião dos
produtores, são necessários 28 R$ para produzir essa mesma saca. Para os produtores, a saída é a ajuda do governo
para sanar os empréstimos realizados nos bancos, ou seja dos lucros desfrutam os empresário, as perdas são repassa-
das ao estado.
Na atualidade, o Maranhão é um pólo produtor de grãos, voltado para o mercado externo através do corredor
norte de produção, exportada pelos portos do Itaqui e Ponta da Madeira, a soja alcança o mercado internacional.
A produção de soja, apresenta problemas: em relação à exploração da força de trabalho, como o trabalho
temporário e precário. Os “gatos” contratam os peões para catar raiz, esse trabalhador não desfruta de direitos. A ocu-
pação de terras em grandes extensões, grandes propriedades, prejudicando a lavoura de subsistência, diminuindo a
oferta de alimentos para a população local. Devastação do serrado, a partir da devastação incontrolável, não havendo
manejo florestal (replantio), poluição do rios, contaminação de pessoas com o uso de agrotóxicos, grilagem de terras,
conflitos agrários, redução da produção de alimentos e o deslocamento da população do setor rural para a cidade.
A produção está em plena expansão, sobretudo com a ocupação de novas áreas na região do baixo Parna-
íba. Modelo excludente a produção de soja gera impactos ambientais.

Impactos gerados pela implantação dos grandes projetos

O crescimento desordenado das cidades, o “inchaço” com o aparecimento de inúmeras ocupações (inva-
sões) na periferia, é a favelização. A falta de um planejamento urbano, nessas áreas, proporciona o surgimento de aglo-
merados, onde não há qualidade divida. A ausência de políticas públicas nas áreas ocupadas é flagrante. Água potável,

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sistema de esgoto, luz elétricas, escola, lazer, posto de saúde, segurança, Há carência por toda parte. Surgem bairros
sem infra-estrutura ou em outros casos bairro “incham”, é o caso do Anjo da Guarda, que recebeu parte da população
das áreas desocupadas para instalação do Projeto Carajás.
Os grandes projetos interferem geograficamente e populacionalmente, nas áreas de atuação. É o caso da
influência da Ferrovia, construída pela Companhia Vale do Rio Doce, em cidades como São Luis, Santa Inês, Açailândia
e Imperatriz.
Impacto ambiental: os grandes projetos agridem o meio ambiente. As empresas produzem ou trabalham
com elementos poluentes. É o caso das empresas que produzem ferro gusa e ferro liga, bauxita, manganês e minério
de ferro e que produzem rejeitos sólidos, além da soja em Balsas em relação a aplicação de agrotóxicos. Geralmente os
projetos quando de suas implantações, foram condenados pela legislação ambiental segundo estudos e relatórios de
impacto ambiental.
Exploração indiscriminada de madeira em larga escala a fim de alimentar os fornos das usinas de carvão
vegetal, além do comércio de madeira, muitas vezes realizado de forma ilegal. A agressão da natureza atendendo os
grandes projetos, tem gerado o desmatamento de grandes áreas como a soja no baixo Parnaíba, e sobretudo na Pré-
Amazônia, no sudoeste maranhense. Em Açailândia e Buriticupu há uma proliferação de serrarias. Entre 1989 e 1993,
foi consumida no Maranhão, uma área correspondente a 510 quilômetros quadrados de vegetação.
O desmatamento promove de forma acelerada o desaparecimento de plantas nativas, causando desertifi-
cação. Pequi, bacuri são frutas típicas do serrado, atingidas pela instalação dos grandes projetos
A desagregação de famílias que viviam da subsistência nas áreas de influência dos grandes projetos. É o
caso de Trabalhadores rurais de Balsas e de famílias que viviam da subsistência da lavoura, pesca e captura de mariscos
na periferia de São Luís e que foram atingidas pala instalação da CVRD e ALUMAR.
O baixo valor das terras no maranhão, tem promovido a aquisição de milhares de hectares por empresas e
particulares, promovendo a desapropriação, muitas vezes forçada. Todos os grandes projetos, sem exceção, utilizaram
essa forma de violência. Os pequenos proprietários são obrigados a vender suas terras por um valor irrisório. Parte da
terra ocupada pertencia aos índios, quilombolas e posseiros. Só em São Luís, a ALUMAR desapropriou 1.654 famílias,
cuja indenização foi irrisória. No caso da instalação da Base de Mísseis em Alcântara, a população foi morar em agrovilas.
Os grandes projetos atingem áreas de manguezais, agredindo o ecossistema, diminuindo a oferta de peixes
e mariscos, fontes de alimento e renda da população ribeirinha.
Especulação e inflacionamento do setor imobiliário: casas aluguéis e terrenos tiveram os seus valores acres-
cidos a partir da implantação dos grandes projetos além da hiper valorização das terras próximas à ferrovia.
Concentração do consumo de água e energia elétrica nas áreas de implantação dos grandes projetos
Transformações aceleradas no mundo do trabalho: Exploração de Mão-de-obra barata, o estímulo à tercei-
rização têm gerado um forte impacto nas relações de trabalho. Estas empresas utilizam estagiários e universitários,
pagando baixos salários pelo serviço prestado. Têm reduzido o número de trabalhadores do quadro para contratar em-
presas prestadoras de serviços, é a terceirização, onde o trabalho geralmente é precário. Há denúncias de trabalhadores
exercendo atividade laborial em guserias, sem equipamentos, exposto a queimaduras, havendo inclusive casos de morte.
Há também denúncia de exploração do trabalho escravo na área de atuação dos grandes projetos, é o caso do produção
de carvão mineral, fabricados em carvoarias onde as condições de trabalho são precárias. Esta atividade é realizada por
trabalhadores rurais transformam-se em carvoeiros ou carvoejadores, até crianças são encontradas neste ambiente de
trabalho.

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Perigo de um desastre ambiental devido ao fluxo de navios na baia de São Marcos que recebem carrega-
mento de alumina, alumínio, minério de ferro, ferro gusa, ferro liga, manganês, cobre, tungstênio etc. A bauxita, por
exemplo, industrializada pela ALUMAR, produz resíduos sólidos (lama vermelha) altamente poluente, ameaçando a con-
taminação do solo e riachos.
As empresas que se instalam no Maranhão recebem Incentivos fiscais ou deixam de recolher impostos como
o ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias), o que prejudica o orçamento de um estado que está entre os mais
pobre do país.

O TRABALHO ESCRAVO NO MARANHÃO

Na atualidade, o Maranhão é o Estado que mais exporta mão-de-obra escrava, compõe a rota do trabalho
escravo, segundo dados da Delegacia Regional do Trabalho (DRT). Além de exportar escravos, empresas, fazendas no
Estado, exploram esta mão-de-obra. A maior incidência de exploração de trabalho escravo está na região tocantina,
próximo ao Pará.
Trabalho escravo é a exploração ilegal de seres humanos, oriundos de famílias pobres da periferia, desem-
pregados que são cooptados por “gatos” e destinados a outros estados como Pará, Goiás, Mato Grosso, Bahia, Piauí,
São Paulo, inclusive no Maranhão com promessa de emprega e bom salário. Ao chegar à fazenda, o trabalhador, não
mais retorna, vivendo permanentemente ameaçado, levando uma vida bastante precária: não é assinada sua carteira de
trabalho, as jornadas são longas, o trabalho exige dispêndio de força física, dorme em barracões improvisados, tem uma
péssima alimentação, em suma não vive em condições dignas no ambiente de trabalho, além de estar sempre devendo
a empresa, desde o início, pois tem que pagar as passagens pelo seu deslocamento. Há de se destacar a exploração de
trabalho escravo nas carvoarias, onde além da falta de equipamentos o que constitui um risco, o peso é excessivo,
longas jornadas, negação de direitos trabalhistas, utilizando-se inclusive mão-de-obra infantil. Nas carvoarias, o traba-
lhador enfrenta várias etapas: O cortador, responsável pelo corte da lenha, o Enchedor, realiza o enchimento do forno, o
Carbonizador, o Barreador, o Forneiro, trabalham em alta temperatura, sem equipamento de segurança. Por último o
enchedor de “gaiola”, responsável pelo enchimento do Caminhão. Em 1997, os técnicos do Ministério do Trabalho de-
nunciaram as seguintes irregularidades encontradas nas carvoarias:

“Deixar de fornecer alojamento com adequadas condições sanitárias e de higiene aos trabalhadores; deixar
de fornecer água potável em condições higiênicas aos trabalhadores; não doar de abrigo ainda que rústico
capaz de proteger os trabalhadores contra intempéries, nos trabalhos realizados a céu aberto; deixar de
realizar o exame médico admissional dos empregados, não oferecer aos trabalhadores condições de con-
forto e higiene que lhes garanta refeições adequadas. Admitir empregado que não possuam CTPS ; manter
trabalhador sem o respectivo registro; não depositar mensalmente o FGTS do trabalhador, pagar salário
inferior ao mínimo...”

Fazendeiros, latifundiários, inclusive empresários políticos exploram trabalho escravo. É o caso do Depu-
tado Inocêncio de Oliveira, que foi condenado pela DRT-MA por explorar este tipo de trabalho, pois foram encontrados
53 trabalhadores escravos em sua fazenda, no Município de Gonçalves Dias. Há de se reconhecer o empenho de alguns
órgãos públicos, ONGS e instituições no combate ao trabalho escravo, porém a situação de impunidade é predominante,
mesmo o crime já sendo previsto pelo Código Penal, o que favorece a expansão desta prática, pois só há poucos casos

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

de condenação, onde os culpados pagam geralmente em cestas básicas ou indenização irrisória. Em 2005, 264 traba-
lhadores escravizados, foram resgatados em fazendas localizadas em Açailândia, Buritirana, João Lisboa, Codó, Vila
Nova dos Martírios, Campestre, Itinga, Porto Franco, Imperatriz, Alto Alegre de Pindaré, Campestre, Gonçalves Dias,
Capinzal do Norte e Tasso Fragoso. Segundo a Cartilha do Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo no
Maranhão, quase 40% da totalidades de trabalhadores escravos, utilizados no Brasil, tem origem no Maranhão. Em 2006
dos 25.000 trabalhadores escravos no Brasil, 8. 000 eram maranhenses.
Apesar de alguns esforços, ainda está muito longe de se erradicar o trabalho escravo no Brasil. Recente-
mente foi aprovada a Emenda Constitucional ( PEC) de número 438-01, que propõe duras penalidades aos que exploram
este tipo de trabalho: expropriação das terás, não disponibilidade de crédito, além do Código Penal que prevê a não
obtenção de crédito em bancos públicos e agências de desenvolvimento.Por sua vez, o Maranhão foi o primeiro Estado
a sancionar uma lei de combate efetivo ao trabalho escravo. É a Lei 8566 que veta a contratação de empresas que
mantiverem trabalho escravo em sua propriedade e que constem do cadastro de empregadores do Ministério do Trabalho
(MTE). Mais recentemente, Maranhão, Piauí Pará e Bahia, assinaram uma carta-compromisso, onde as autoridades
reconhecem a gravidade do problema e articulam ações no combata à nova escravidão.

A QUESTÃO INDÍGENA

Um dos mais graves problemas que afeta o Maranhão na atualidade, gira em torno da questão indigna.
Escravizado, aculturado, discriminados e quase totalmente exterminados, os índios maranhenses têm ocupado quase
que diariamente as primeiras páginas dos jornais, são notícias horrendas: ocupação de rodovias e ferrovias, seqüestro
de funcionários públicos, invasão de terras, plantando maconha, inclusive assassinando brancos. A questão se agrava
na medida em que o Estado não propõe políticas públicas de saúde, educação e produção agrícola para atender os
índios que vivem abandonados à própria sorte. É o mesmo Estado que o tutela e considera o índio, relativamente capaz.
Assim, Para “cuidar” da política indígena, foi criado, na primeira República, o SPI, já extinto e em 1967, a FUNAI. Estes
órgãos, não foram capazes de proporcionar vida digna aos primeiros habitantes e nem garantia de direitos, ao contrário,
muitas vezes até corroboraram ilegalmente com os brancos, por exemplo com a expulsão dos ameríndios de suas terras.
Os índios do Maranhão, estão distribuídos em 16 áreas localizadas nos municípios de Bom Jardim, Zé Doca,
Monção, Carutapera, Amarante, Montes Altos, Grajaú, Barra do Corda, Alto Turiaçu, Pindaré e Bom Jardim. Atualmente
ainda existem cerca de 14.996 índios no Estado, apresentando até crescimento nos últimos 20 anos. A maior população
de ameríndios está situada em Barra do Corda e Grajaú, em número de 6.310. Por outro lado a população dos Guajás
decresce. São índios nômades, sem agricultura e de difícil contato.
Desde os tempos da colonização, os índios são vistos como seres bárbaros, violentos e perigosos, aumen-
tando o antagonismo entre brancos e índios. Com o avanço da colonização, os índios foram expulso de suas terras,
muitos grupos indígenas resistiram, é o caso dos Guajajaras de Grajaú e Barra do Corda. Neste município, em 1901,
ocorreu um grande conflito entre brancos e índios que passou para a história como o “Massacre de Alto Alegre”, conflito
que custou a vida de religiosos capuchinhos e índios e que serviu para agravar as relações entre brancos e índios.
É sobretudo a questão de demarcação de limites e de reservas indígenas o cerne desta problemática. As
terras são invadidas por fazendeiros, lavradores, grileiros, madeireiros, inclusive pelo Projeto Carajás, já que a ferrovia
corta as reservas indígenas. Duas área indígenas ainda não foram demarcadas: dos Guajás e Krikatis. Estas constantes
invasões de áreas indígenas promovem o acirramento dos conflitos. Como exemplo podemos citar a presença de povo-
ados como Alto Alegre e São Pedro dos Cacetes (famílias retiradas em 1977) em área indígena de Barra do Corda. Os

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índios lutam em defesa de suas terras, geralmente são presos, inclusive mortos. O INCRA tem contribuído para aumentar
o conflito entre brancos e índios, a partir da implantação de projetos de colonização em área indígena, promovendo a
expulsão destes de seu território. Somado a tudo isso, há em marcha , a constante invasão de madeireiros nos territórios
inclusive demarcados, transformando totalmente o habitat natural do silvícola. A BR 226 ligando Teresina a Belém passa
em Barra do Corda e Grajaú deixando s índios expostos aos vícios dos transeuntes que circulam na região.
Frente a tudo isso, os índios do Maranhão resistem: corriqueiramente ocupam a rodovia em ato de protesto.
A Ferrovia Carajás vive sendo obstruída, ônibus são assaltados, funcionários da Funai e Funasa transformam-se em
reféns. Recentemente os índios ameaçaram derrubar a torre de transmissão da ELETRONORTE, na tentativa de chamar
a atenção das autoridades para a gravidade do problema enfrentado por eles.

O MARANHÃO E A POBREZA

O aprofundamento da miséria no Estado [do Maranhão] é atribuído a uma legislação aprovada no fim do
seu governo, em 1969 [José Sarney governou o Maranhão entre 1966 e 1969]. A Lei de Terras foi uma maneira de burlar
a limitação imposta pela Constituição Federal à doação de grandes áreas. Ela permitia a formação de sociedades anôni-
mas para explorar o agronegócio.
Até hoje, a cessão de terras é limitada a 3 mil hectares. Acima disso, os governos estaduais são obrigados
a pedir autorização ao Senado. A Lei de Terras abriu uma brecha ao permitir que cada acionista de uma sociedade
anônima recebesse em seu nome até o limite de 3 mil hectares. Grandes conglomerados econômicos como a Mesbla e
o Grupo Leão, do Paraná, conseguiram se apossar, por esse esquema, de mais de 100 mil hectares. A defesa do projeto
baseou-se no discurso da modernização. Essas grandes empresas, diziam os defensores da lei, tornariam a agricultura
maranhense eficiente e multiplicariam os empregos no campo.
O efeito foi o oposto. Nenhum grande agronegócio se estabeleceu. No lugar floresceu a exploração preda-
tória de madeira e uma criação de gado arcaica. O Maranhão perdeu o posto de segundo maior produtor de arroz do
País, então cultivado em pequenas e médias propriedades. No início dos anos 70, produzia 2,2 milhões de toneladas.
Em 2005, mesmo com o crescimento meteórico da plantação de soja, o Estado deve produzir 2,1 milhões de grãos.
A Lei de Terras teve também um efeito sobre o fluxo migratório. Por não ser atingido pela seca, o Estado
recebeu grandes levas de imigrantes no início do século. A redistribuição inverteu a situação e aumentou a violência no
campo. Estima-se que 30% da população do Amapá e 70% de Roraima são formadas por descendentes de maranhen-
ses. Dos 19 colonos mortos no massacre de Eldorado dos Carajás (PA), em 1996, 11 haviam nascido no Maranhão.

Maranhão lidera ranking de cidades miseráveis23

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou ontem um ranking de miserabilidade das idades brasileiras,
tendo como base o Censo 2000. O levantamento mostra que as cidades com maior proporção de miseráveis estão
no Maranhão, e as com um menor número de pessoas carentes, no Rio Grande do Sul. O estudo contabilizou 50
milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza no Brasil e 2,7 milhões no Rio de Janeiro.

23 Redação Terra: www.terra.com.br (26/09/2003)

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

No ranking nacional, divulgado como referência para o Mapa da Fome no Rio de Janeiro, foram considera-
das miseráveis pessoas com renda menor que R$ 80, incluindo crianças e idosos.
A partir do levantamento por municípios, foi elaborado também um ranking com Estados com a maior e a
menor proporção de miseráveis. Entre os mais pobres, o Maranhão aparece na primeira posição, com 68,42% de
miseráveis. São Paulo se destaca como a unidade com menor proporção de miseráveis, com 14,25%.
Conforme o estudo coordenado pelo professor Marcelo Cortes Neri, entre as dez cidades com menos pes-
soas pobres, nove estão no Rio Grande do Sul e uma, em São Paulo. Os índices variam de 1,16% a 3,35% da
população. Já dos dez municípios com o maior número de famílias carentes, quatro deles estão no Maranhão e três,
no Piauí.
Conforme a FGV, a cidade que tem mais habitantes vivendo abaixo da linha da miséria é Centro do Gui-
lherme (MA), onde 95,32% da população recebe menos do que R$ 80 per capita mensais.
A renda de R$ 80 corresponde ao custo monetário do consumo diário de 2.280 calorias, recomendado pela
Organização Mundial de Saúde. O mapa da miséria revela que ela pode ser erradicado se cada brasileiro não-mise-
rável contribuir com R$ 15 mensais.
O estudo indica que no Brasil em 2000, havia 50 milhões de miseráveis, o mesmo número estimado no
Mapa do Fim da Fome 1, divulgado em 2001 e elaborado com base em dados do IBGE recolhidos entre 1996 e 1999.

Dados socioeconômicos do Maranhão24

✓ 5,6 milhões de habitantes, dos quais 68,42% são de miseráveis que vivem com até R$ 80,00 por mês — maior índice
percentual de miseráveis do Brasil, seguido por Alagoas (63,75%) e Piauí (63,30%).
✓ Dos 100 municípios mais pobres do País, 83 estão no Maranhão.
✓ De cada mil bebês nascidos no Maranhão, 42 morrem antes dos 5 anos — maior taxa de mortalidade infantil entre
os estados brasileiros.
✓ 50,3% da população maranhense não tem acesso à água encanada.
✓ 39,8% das casas no Maranhão não possuem banheiro (utilizam fossa séptica).
✓ 35,2% dos maranhenses com mais de 10 anos são analfabetos.

24 Extraído de www.redeamigadacrianca.org.br – Agência Matraca, 14/12/2004.

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

MARANHÃO NA ATUALIDADE

SÃO LUÍS – PATRIMÔNIO DO BRASIL E DO MUNDO

Ilha do Amor, Cidade dos Azulejos, Upaon-Açu, Atenas Brasileira. Estes são alguns codinomes dados a São
Luís do Maranhão. Nesta ilha ensolarada, Portugal deixou uma das heranças mais fortes e preciosas da aventura da colo-
nização. Basta um pouco de espírito de descoberta para desvendar os tesouros que tanto fascinam (e continuam fasci-
nando) os desbravadores de hoje e antigamente. Só mesmo estando aqui você vai poder sentir porque São Luís é, aos
olhos de um visitante francês, "la petite ville aux palais de porcelaine" (a pequena vila dos palácios de porcelana).
São Luís nasceu francesa, foi invadida pelos holandeses, mas cresceu e prosperou portuguesa, como ne-
nhuma outra cidade no país. Reconhecida pela UNESCO (órgão das Nações Unidas) como Patrimônio Histórico da
Humanidade, em dezembro de 1997, São Luís guarda como herança da forte colonização lusitana a maior área de ar-
quitetura colonial portuguesa existente no Brasil e uma das mais importantes do mundo. São mais de 3500 edificações
dos séculos XVIII e XIX no centro da cidade.
O bairro da Praia Grande, antigo centro comercial da cidade, é o melhor exemplo do que foi a opulência do
passado. Os solares, sobrados residenciais da alta burguesia do século XVIII, com até quatro pavimentos, sobressaem
na paisagem e as marcas da suntuosidade aparecem estampadas em seus portais, sacadas e mirantes. Além dos so-
brados imponentes, destacam-se as ruas, ladeiras e becos de nomes exóticos (Beco da Bosta, Beco do Quebra-Bunda,
Beco do Caga Osso etc.) recobertos por pedras de cantaria.
A riqueza está nos detalhes: em nenhuma outra cidade brasileira os portugueses usaram tanto os azulejos.
Além de decorar, as peças vindas não só de Portugal como também da França, Bélgica e Alemanha, protegiam as casas
contra a ação das chuvas e dos ventos carregados de salinidade (característicos do clima da cidade). Exibindo cores e
padronagens variadas (fauna e flora, motivos geométricos), os azulejos deram fama a São Luís e o título de "Cidade dos
Azulejos". Não foi só aí que os portugueses deixaram suas marcas, mas também nos nomes de ruas, igrejas, conventos,
nas fontes, nos museus, nos palácios e até nas galerias subterrâneas que, além de escoar as águas das chuvas, serviam
como fonte para o imaginário coletivo, povoado de lendas de serpentes encantadas e estórias de amores proibidos.

Cultura popular

A história de São Luís, entretanto, não se resume apenas à contribuição portuguesa. A mistura do branco,
negro e do índio deu origem à brincadeira mais popular da cidade nos dias de hoje: o bumba-meu-boi.
O bumba-meu-boi existe em outras regiões do país, mas só no Maranhão tem três estilos, três sotaques
que se diferenciam pelos instrumentos, indumentária e pelas formas de expressão. O boi de matraca é mas explosivo,
alegre, um ritmo quente identificado por pedaços de madeira (espécie de taco de assoalho) batidos freneticamente um
no outro, além dos pandeirões (pandeiros de 1 m de diâmetro feitos de couro de bode). No boi de orquestra sobressaem
os instrumentos de sopro, como pistons, sax, clarinetes e outros. O boi de zabumba é mais africano, com presença
retumbante da percussão rústica, um ritmo mais lento puxado pelas zabumbas de couro de boi, repiques e maracás.
No ritual do boi, considerado um dos mais populares exemplos do teatro folclórico nacional, os personagens
centrais são o Amo, o Vaqueiro, o Pai Francisco, a Mãe Catirina e o figurante maior, o próprio boi, além das índias,

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

caiporas, bruxinhas, pajés e cazumbás. O auto é bastante popular e se desenrola a partir do desejo de Catirina, grávida,
de comer a língua do boi preferido do Amo. As toadas geralmente celebram acontecimentos ocorridos no ano e, no
vestuário ricamente trabalhado, os belíssimos chapéus identificam a origem e o sotaque da brincadeira.
Os tambores são característicos da cultura popular maranhense. De origem africana, eles têm presença
marcante nas festas juninas. O ritual do tambor de mina é semelhante ao candomblé baiano. Já o tambor de crioula é
uma dança sensual, excitante, conduzida por três tambores em ritmo frenético e dançada pelas negras em movimentos
sensuais.
O reggae é a mais recente sensação cultural da ilha de São Luís. Imensas caixas de som, chamadas de
radiolas, mobilizam milhares de pessoas todos os fins de semana. Dançado agarradinho ou sozinho, o reggae já conferiu
a São Luís um novo título: a Jamaica Brasileira.

Artesanato

O artesanato retrata um pouco a história de São Luís. Das mãos habilidosas dos artesãos as fibras, a madeira,
a palha, a pedra e o barro transformam-se em peças de beleza incomparável. Do antigo ofício de santeiro vem a arte de
fazer santos de madeira. Os barquinhos confeccionados com talos de buriti representam com fidelidade as embarcações
que navegam na costa do Estado. Tigelas e panelas são feitas em cerâmica pela comunidade de mulheres negras do interior
e as rendas de bilro são confeccionadas pelas mulheres dos pescadores, principalmente no município da Raposa.

Culinária

A culinária maranhense herdou o gosto português pela boa comida e recebeu forte influência dos europeus,
dos índios e do negro. O resultado foi um caldeirão de comidas fantásticas, saborosas e ao mesmo tempo excitantes.
Especiarias, peixes e mariscos são a base para receitas ancestrais de sabor inconfundível. Os doces são principalmente
mousses de frutas como cupuaçu e bacuri, além das compotas. Os licores são fartos e artesanais. As cachaças da terra,
a tiquira e a catuaba (bebida afrodisíaca) completam este verdadeiro festival de sabores e odores.

São Luís – Patrimônio Cultural da Humanidade

Em 1997 a Unesco concedeu à cidade o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Reconheceu a beleza
e importância de um dos maiores conjuntos de arquitetura civil de origem européia no mundo.
São três mil e quinhentas construções ocupando uma área de 250 hectares! Este acervo arquitetônico já
havia sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1955.
O plano de recuperação do centro histórico começou a ser executado na década de 70, quando foi constru-
ída uma barragem sobre o rio Bacanga e uma ponte sobre o rio Anil. Tais construções permitiram que a cidade se expan-
disse para o outro lado e evitaram a descaracterização das construções antigas. Em 1979 foi inaugurado o anel rodovi-
ário, que desviou o trânsito que passava nas ruas estreitas do centro.
A restauração do casario começou pela Praia Grande, no início da década de 80, com a Praça do Comércio,
Mercado Coberto, Albergue e Beco da Prensa. Em 1987, após alguns anos parado, o programa é retomado, com o nome
de Projeto Reviver. Vinte e cinco milhões de dólares são investidos para restaurar cerca de 200 construções na Praia Grande
como parte do Projeto Reviver. Postes de eletricidade foram substituídos por similares de ferro à moda antiga e praças,
jardins e calçadas foram reformadas. Hoje, o projeto Reviver é ponto de visita obrigatória para quem chega a São Luís.

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Arquitetura

Nada de igrejas suntuosas repletas de detalhes em ouro e imponentes construções militares ou públicas. O
patrimônio arquitetônico de São Luís destaca-se pela uniformidade, pela beleza simples e regular das casas que consti-
tuem seu centro histórico. Construídos pelos senhores que comandavam a produção de algodão na região, os solares e
sobrados são marcas vivas do apogeu econômico da cidade.
As escadas levam aos pavimentos de cima, onde ficam os cômodos da casa. Muitas têm portas em pedra
de cantaria e sacadas em pedra de lioz. Os sobrados, com até quatro pavimentos, tinham dupla função: no térreo funci-
onava o comércio e, nos andares superiores, as acomodações.
Alguns possuem mirantes e porão (um belo estudo sobre os detalhes das típicas construções de São Luís
e Alcântara pode ser encontrado no livro Arquitetura Luso-brasileira no Maranhão, de Olavo Pereira da Silva F.).
No final do século XVIII, uma idéia funcional começou a se transformar na principal marca do casario ludo-
vicense: trazidos de Portugal para revestir as casas e amenizar os efeitos do calor e da umidade, os azulejos são um
colorido que dá charme e autenticidade únicas às ruas do centro.
Foram usados também para decoração e elaborações de painéis nos interiores das casas, inspirando um
viajante francês a dar o título de 'Pequena vila dos palácios de porcelana' a São Luís.
A experiência bem sucedida acabou sendo 'exportada' de volta para cidades portuguesas do Porto e Lisboa,
justamente quando esta começava a ser reconstruída após o enorme terremoto que a destruiu em 1755. Mas, andando
pelas ruas de São Luís, não se deixe enganar: várias casas foram revestidas de azulejos industrializados já no século
XX, principalmente depois que uma lei municipal isentou de impostos as construções azulejadas.

MONUMENTOS

Teatro Arthur Azevedo

Segundo mais antigo do Brasil, foi fundado com o nome de Teatro da União por dois comerciantes portu-
gueses em 1817. No projeto original, o teatro se estenderia até o Largo do Carmo, mas acabou reduzido por um veto da
Igreja. Baseado no chamado teatro de platéia italiano, em formato ferradura, apenas em 1922 ganhou o nome atual.
Funcionou como cinema entre 1940 e 1966 e, abandonado, acabou em ruínas.
Em 1989, quando apenas a fachada original ainda resistia, foi demolido e reconstruído de acordo como o
projeto original. Atualmente tem capacidade para 750 espectadores, distribuídos por 4 andares. Os espetáculos são
gravados por um circuito profissional de vídeo instalado no teatro e retransmitidos pela TV Senado.

Palácio dos Leões

Aqui foi erguida pelos franceses uma fortificação em homenagem ao rei Luis XIII em 1612. A estrutura do
atual prédio foi construída no final do século XVIII e passou por inúmeras reformas, até assumir o estilo neoclássico. Hoje
é a sede do Governo do Estado.

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Museu de Artes Visuais

Gravura a nanquim de Tarsila do Amaral

Azulejo português do século XVIII

Seu acervo é composto por azulejos coloniais, murais, fotografias e obras de artistas maranhenses. Um de
seus destaques é a coleção de gravuras do escritor Arthur Azevedo.

Igreja e Convento Nossa Senhora do Carmo

Serviu de abrigo para portugueses durante a expulsão dos holandeses, em 1643. Pertencia à ordem dos
carmelitas e depois passou para o controle dos capuchinhos. Sua escadaria é em pedra de cantaria.

Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho

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Sediado num sobrado colonial de 3 pavimentos, mantém um grande acervo com peças das diversas mani-
festações culturais (bumba-meu-boi, tambor de crioula, carnaval, dança do coco etc.) e religiosas (tambor de mina, Festa
do Divino etc.) do estado. Além disto, possui objetos da cultura indígena e artesanatos.

Ceprama

Antiga fábrica têxtil Companhia de Fiação e Tecidos de Cânhamo, reúne hoje o artesanato produzido em
todo o estado.

Museu Histórico e Artístico do Maranhão

Funcionando no Solar Gomes de Souza, o museu foi inaugurado em 1973 e se destaca pela reconstituição
da decoração típica dos sobrados do séc. XIX com móveis, objetos e obras de arte.

Igreja da Sé Nossa Senhora da Vitória

Erguida por ordem do terceiro capitão-mor Diogo Machado da Costa em 1629, quando a cidade passava
por um surto de varíola. É uma homenagem à protetora dos portugueses na batalha de Guaxenduba (vitória sobre os
franceses). Foi reconstruída várias vezes até 1922, quando assumiu o aspecto neoclássico. No interior destaca-se o
altar-mor talhado em ouro.

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Convento das Mercês

Construído em 1654 e inaugurado pelo padre Antônio Vieira, aqui funcionava a sede do antigo Convento da
Ordem dos Mercedários. Hoje é a Fundação da Memória Republicana, com documentos e objetos do ex-presidente José
Sarney.

Fonte das Pedras

Serviu de base para a tropa de Jerônimo de Albuquerque durante a expulsão dos fundadores franceses em
1615. É cercada de árvores e bancos.

Solar São Luís

Considerado o maior prédio em azulejos da país (tem três pavimentos), foi construído na segunda metade
do século XIX. Teve seu interior destruído por um incêndio e ficou abandonado até ser adquirido e restaurado pela Caixa
Econômica Federal, que nele instalou um agência.

Museu de Arte Sacra

Anexo ao Museu Histórico, funciona no Solar do Barão de Grajaú. Seu acervo, que pertence em parte à
Arquidiocese de São Luís, é composto por peças dos séc. XVIII e XIX nos estilos maneirista, rococó, barroco e neoclás-
sico.

Igreja dos Nossa Senhora dos Remédios

Construída em 1719 no estilo gótico, fica na praça Gonçalves Dias, de onde se tem uma das vistas mais
bonitas da cidade.

Cafua das Mercês (Museu do Negro)

Pequeno sobrado onde funcionava o mercado de escravos que chegavam a São Luís, hoje abriga um museu
de referência da cultura negra, com peças de arte de origem africana e instrumentos musicais.

Centro de Atividades Odylo Costa, filho

Antigo armazém reformado, abriga um espaço cultural com cinema, teatro, galeria de arte, cursos e outras
atividades.

Igreja do Desterro

Considerado o primeiro templo construído no estado (em 1614), foi demolido na invasão holandesa e re-
construído por moradores.

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Palácio La Ravardiére

Construído em 1689, é a atual sede da prefeitura municipal. No largo do palácio está um busto de Daniel de
La Touche, ou senhor de La Ravardière, o fundador da cidade.

Fonte do Ribeirão

Construída em 1796 para abastecer a cidade, tem o pátio revestido com pedras de cantaria. Suas janelas
gradeadas dão acesso às galerias subterrâneas que passam pelo centro histórico.

FESTA DO DIVINO

A Festa do Divino chegou ao Brasil no século XVI e há indícios de que, no Maranhão, ela tenha chegado
com os açorianos entre 1615 e 1625. É uma das manifestações folclóricas mais ricas do estado. As mais famosas são
as que acontecem no eixo São Luís - Alcântara. Apesar da origem comum e pequena distância entre as duas cidades,
há algumas diferenças entre suas comemorações.
Em São Luís, o culto é marcado pelo sincretismo religioso. As tradição trazida pelos portugueses recebeu
contribuições das culturas indígenas e, principalmente, africanas.
O evento não acontece na data tradicional e não há uma só festa na cidade. Cada comunidade faz a sua
celebração em terreiros de mina diferentes. A Festa do Divino em São Luís está associada não só ao Espírito Santo mas
também a outros santos católicos e de casas de culto afro-maranhenses.
Uma das mais famosas festas da cidade acontece na Casa de Fanti-Ashanti, fundada em 1958 por Pai
Euclides, um dos pais-de-santo mais conhecidos e respeitados de São Luís. É o único terreiro de candomblé da região,
o que influencia fortemente os demais ritos e celebrações que acontecem na Casa. Ali, A Festa do Divino acontece no
primeiro domingo de julho, quando as tocadoras de bombos ou caixeiras, que participam de várias festas na região,
encontram-se disponíveis para o evento.
O webdoc sobre a Festa do Divino registrou o evento em julho de 2001 na Casa Fanti-Ashanti. Além da
entrevista com Pai Euclides e com o pároco da comunidade do Cruzeiro do Anil, o vídeo mostra o caminho percorrido
pelos fiéis, da igreja para o terreiro. Apesar das claras influências africanas, várias características se mantém, como a
representação do imperador que preside os rituais durante todo o tempo, a missa, a procissão e a partilha de alimentos.

ARTES & LITERATURA

Em sua Relação Sumária das Cousas do Maranhão, livro lançado em Lisboa nos idos de 1624, o português
Simão Estácio da Silveira, referindo-se à vasta porção de terra que tinha sido retomada do domínio francês, e da cidade
de São Luís em particular, assim declarou: "Eu me resolvo que esta é a melhor terra do mundo, donde os naturais são
muito fortes e vivem muitos anos, e conta-nos que, do que correram os portugueses, o melhor é o Brasil, e o Maranhão
é o Brasil melhor (...)". O comentário do cronista procede, e a ele não seria ousado demais acrescentar: e o melhor de
São Luís do Maranhão, seus artistas.

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Porque São Luís é uma cidade de artistas notáveis, Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Coelho Neto, Aluísio
de Azevedo, Arthur Azevedo, Nauro Machado, Josué Montello, Stella Leonardos, Graça Aranha, João Lisboa, Ambrósio
Amorim, Flory Gama, Dila, Vespasiano Ramos, Bandeira Tribuzzi, Dilú Quadros, Odylo Costa, filho, só para citar alguns
dentre muitos, são nomes reconhecidos e admirados nacionalmente.
E eles todos pertencem à Cidade, são artistas da Cidade independentemente de onde nasceram, da época
em que vivem - pois vivos permanecem todos, sempre - ou mesmo dos meios e técnicas que lançaram mão para expres-
sar em forma de arte o que quer que seja belo, sublime ou terrível.
Eles pertencem à Cidade por um motivo simples e forte - ela é a Pátria espiritual de cada um deles.

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