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grandes grupos principais estão divididos em 16 grupos,

sendo que 14 destes já vivem em áreas demarcadas para


si pela Fundação Nacional do Índio – FUNAI.

ORIGEM DO NOME MARANHÃO


OS PRIMEIROS HABITANTES DO MARANHÃO
Há diversas hipóteses correntes sobre a origem do
No século XVII, a população indígena do Maranhão, nome do Maranhão. Mas a teoria mais aceita é que Mara-
era formada por aproximadamente 250 mil nativos, de cer- nhão era o nome dado ao Rio Amazonas pelos nativos da
ca de 30 etnias diferentes, a maioria não mais existente na região antes dos navegantes europeus aqui abordassem,
atualidade. Povos indígenas como os Tupinambás que ha- ou que o mesmo tivesse alguma relação com o Rio
bitavam o que hoje é a cidade de São Luis, os Barbado, os Marañon no Peru. Porém temos outros possíveis significa-
Amanajó, os Tremembé, os Araioses, os Kapiekrã, os Cay- dos, alguns perpassando o imaginário como: grande menti-
cayses entre outros, foram simplesmente exterminados ou ra ou mexerico. Outra hipótese seria pelo fato do território
dissolvidos tanto social, quanto culturalmente. Outras etnias conter um grande “emaranhado” de rios. Também pode
existentes na época, como os Krikati, Canela, Guajajara- significar mar grande ou mar corrente.
Tenetehara e Gavião, continuam presentes até hoje.
PRIMÓRDIOS DA COLONIZAÇÃO
DO ATUAL MARANHÃO

Com o Advento das Capitanias Hereditárias, em 1534


D. João III divide o Brasil (colônia portuguesa) em grandes
lotes de terras distribuídos a donatários que eram geral-
mente membros da nobreza lusitana, sendo o atual estado
do Maranhão englobado em quatro dessas capitanias (Ma-
ranhão lote 1, Maranhão lote 2, Ceará e Rio Grande). As
duas capitanias de nome Maranhão couberam a João de
Barros e Fernando Álvares de Andrade que se associan-
do a Aires da Cunha, tentaram apossar-se delas, através
de um projeto de colonização, sem êxito porém. Pois em
sua tentativa de iniciar um projeto de ocupação no litoral
Cerimônia religiosa dos índios Tupinambás das hoje terras maranhenses toda a frota de 10 navios,
perdeu-se em um naufrágio na bacia do Boqueirão, de-
São notórias as causas do desaparecimento de cerca fronte da ilha do Medo.
de 20 povos indígenas no Maranhão: as guerras de expe-
dição visando a escravização, as doenças importadas, a A FRANÇA EQUINOCIAL
miscigenação forçada, a imposição de novos modelos cul-
turais e formas de organização social. Os povos indígenas Durante o século XVI (1501-1600), navegadores france-
presentes no Maranhão hoje, são distribuídos em dois ses passaram a frequentar o litoral do que é hoje o estado
grandes grupos: os Tupis-guaranis e os Macro-Jê. Essa do Maranhão. Um fator explicativo da regularidade de tais
distribuição, dá-se com base na classificação lingüístico- expedições foi a própria ausência portuguesa após várias
cultural utilizada para identificar e caracterizar as línguas e tentativas frustradas de seus donatários de ocuparem as
culturas indígenas presentes no Brasil. Seu numero é esti- terras maranhenses vindo pelo litoral (1535, 1554 e 1573) e
mado em pouco mais de 12,2 mil habitantes. E os dois
HISTÓRIA DO MARANHÃO

do fracasso de outras expedições por terra (1591, 1603 e


1607)
Em maio de 1594, o capitão francês Jacques Riffault
estabeleceu em Upaon-Açu (Ilha Grande, nome indígena
para a ilha de São Luís) uma feitoria, deixando-a a cargo de
seu compatriota Charles des Vaux, que havia conquistado
a amizade dos povos e comunidades indígenas tupinam-
bás. Des Vaux, retornando à França, incitou a vinda de Da-
niel de La Touche (nobre francês, Senhor de La Ravardié-
re, protestante huguenote), por ordem de Henrique IV, Rei
da França, em uma expedição de reconhecimento do terri-
tório.

Jerônimo de Albuquerque.

Os portugueses decidiram reivindicar o território ocupa-


do sob o comando de Jerônimo de Albuquerque e Ale-
xandre Moura, que ao lado de algumas tribos indígenas,
iniciaram uma guerra contra os franceses que foram defini-
tivamente expulsos em novembro de 1615, após sua derro-
ta ante os portugueses na Batalha de Guaxenduba, deci-
sivo confronto militar ocorrido entre forças portuguesas e
francesas onde hoje se localiza a cidade de Icatu. A batalha
foi um importante passo dado pelos portugueses para a ex-
pulsão definitiva dos franceses do Maranhão. Findava-se
assim a França Equinocial.
Busto de Daniel de la Touche em frente à Prefeitura de São Luís

Apesar do assassinato do rei ocorrido nesse meio-


tempo − fruto das lutas entre protestantes e católicos em
meio ao contexto de Reforma Protestante na França −, La
Touche, conseguiu com Maria de Medicis (Rainha regente
da França, ante a incipiente idade do rei menino Luís XIII)
concessão para estabelecer uma colônia ao sul do Equa-
dor, 50 léguas para cada lado do forte a ser construído.
Nascia o projeto da França Equinocial (1612-1615).
Em 26 de julho de 1612 chega ao Maranhão, a expedi-
ção francesa, comandada por Daniel de La Touche e Jac-
ques Riffault, e contando com a presença de padres capu-
chinhos franceses com a missão de catequizar as comu-
nidades indígenas habitantes da região e espalhar a fé
católica pelo novo mundo.
Em 12 de agosto, tendo os franceses se estabelecido SUBDIVISÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS
em São Luís, foi rezada a primeira missa e erguida uma
cruz. Iniciou-se ainda o estabelecimento de relações com No ano de 1621, em meio ao contexto da União Ibérica
os povos tupinambás e a exploração da Região. No entan- − união entre Portugal e Espanha sob a direção de um
to, a manutenção do projeto colonial francês no Maranhão mesmo monarca espanhol, que perdurou de 1580 a 1640 −,
dependia cada vez mais de novos recursos materiais e hu- a Coroa portuguesa nomeou as divisões territoriais de Ma-
manos, que deveriam ser conseguidos junto à Coroa na- ranhão, é criado o Estado do Maranhão, ao Norte, com
quele momento. capital em São Luís, abrangendo as Capitanias do Pará,
A 8 de setembro, solenemente foi fundada a colônia, a Maranhão e Ceará, e o Estado do Brasil, ao sul, com ca-
França EquinociaL. Teve início a construção do forte ain- pital em Salvador, abrangendo as demais capitanias. A di-
da de madeira, chamado “São Luís”, em homenagem ao visão objetivava a melhor defesa da costa marítima do país
rei-menino francês. e o estabelecimento de um maior contato com a metrópole.

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

INVASÕES HOLANDESAS Liderada por Manuel Beckman (conhecido Localmente


como Bequimão) em 1684, a revolta nativista tinha caráter
Depois de terem invadido a maior parte do terri- reivindicatório, mas não separatista em relação a Portugal.
tório do atual Nordeste Brasileiro, os holandeses invadem Os revoltosos tinham como reivindicações principais o fim
a Capitania do Maranhão em 1641. Os povos neerlande- da Companhia de Comércio do Maranhão e a expulsão dos
ses desembarcaram em São Luís com 18 navios, transpor- jesuítas, uma vez que a Companhia de Jesus era contra a
tando em torno de 2.000 homens comandados pelo Almi- escravidão indígena, principal fonte de mão-de-obra dos co-
rante Jan Cornelli Zoon Lichtard, e o coronel Koin An- lonos na época.
derson, desembarcaram no Desterro e tomaram a cidade.
Depois consolidaram o domínio partindo para o interior, es-
pecialmente Tapuitapera (hoje Alcântara) e Itapecuru, regi-
ão de mais intensa movimentação econômica.

Os revoltosos aprisionaram o Capitão-mor de São Luís


e algumas autoridades portuguesas, e expulsaram os jesuí-
Os representantes da Coroa Lusitana, juntamen- tas, Tomás Beckman (irmão de Manuel Beckman) foi à Por-
te com os colonos locais ainda tentaram esboçar uma rea- tugal falar diretamente com o rei sobre os motivo da revolta.
ção, porém devido a fragilidade das defesas militares da i- Mas o Estado Português acabou reprimindo duramente o
lha de São Luís, o então governador Bento Maciel Parente, movimento, uma vez derrotados os colonos, Manuel Beck-
impossibilitado rendeu-se. Visando à expansão da indústria man foi condenado à morte e enforcado em praça pública.
açucareira com novas áreas de produção de cana-de- O movimento conseguiu fazer com que a Companhia
açúcar, os batavos ainda, expandiram-se para o interior da fosse extinta mas não foram atendidos quanto a expulsão
Capitania. Porém os colonos locais, insatisfeitos com a dos jesuítas.
presença holandesa, uma vez que como forma de intimida-
ção os holandeses destruíram casas, queimaram igrejas (e- MARANHÃO NO SÉCULO XVIII
ram protestantes, enquanto os colonos eram católicos), e
saquearam a cidade, iniciando movimentos para a expul- A 31 de janeiro de 1751, o Estado do Maranhão passou
são dos holandeses em 1642. As lutas só findaram em a denominar-se Estado do Grão-Pará e Maranhão, tendo
1644. a sua capital sido transferida da cidade de São Luís para a
cidade de Belém, no Pará. O seu território compreendia as
REVOLTA DE BECKMAN (1684) regiões dos atuais estados do Amazonas, Roraima, Pará,
Amapá, Maranhão e Piauí, divisão político-administrativa
Em 1682, a Coroa Portuguesa criou a Companhia de que perdurou até 1753, quando o estado foi repartido em
Comércio do Maranhão, para desenvolver o comércio da quatro capitanias: São José do Piauí, Maranhão, Grão-
região, enviando ao Estado do Maranhão um navio por mês Pará e São José do Rio Negro. Em 1772 novamente a regi-
carregado de escravos, ferramentas e alimentos, tais como ão foi reorganizada em termos administrativos, dividindo-se
bacalhau, azeite e vinho, além de negociar a produção a- em dois Estados Grão-Pará e São José do Rio Negro e Ma-
grícola local. ranhão e Piauí, até que em 1777 as capitanias que forma-
A Companhia, porém, adotava preços altos quanto aos vam o antigo Estado do Grão Pará e Maranhão foram su-
produtos que trazia, falsificava pesos e medidas, pagava bordinadas ao Estado do Brasil, com sede na cidade do Rio
pouco quanto aos produtos da terra, trazia produtos de bai- de Janeiro.
xa qualidade (algumas vezes estragados) e ainda atrasava Adotando ao modelo de déspota esclarecido, D. José
os navios, criando um clima de hostilidade dos colonos lo- I nomeou a Primeiro-Ministro, em Portugal, o Marquês de
cais contra a Metrópole. Pombal. Pombal expulsou os jesuítas e criou a Companhia
Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão cuja atua-
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HISTÓRIA DO MARANHÃO

ção desenvolveu a economia maranhense. Na fase pomba- A compra de escravos era financiada pela Companhia,
lina, a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão em troca do monopólio do comércio que ocorria no porto de
incentivou as migrações de portugueses, principalmen- São Luís. Os colonos passaram a utilizar-se de braços vin-
te açorianos, e aumentou o tráfico de escravos e produtos dos de Cacheu, Bissau e Angola, em suas lavouras de ar-
para a região. Tal fato fez com que o cultivo roz e algodão.
de arroz e algodão ganhasse força e logo colocou o Mara- A entrada crescente de escravos africanos no Maranhão
nhão dentro do sistema agroexportador. culminou com a chegada de 41 mil pessoas entre 1812 e
1820. Como resultado, às vésperas da Independência, 55%
dos habitantes do Maranhão eram escravos. Tal número
correspondia à mais alta porcentagem de população escra-
va do Império. Ela concentrava-se nas fazendas situadas
na baixada ocidental e nos vales dos Rios Itapecuru, Mea-
rim e Pindaré.

Marquês de Pombal

Essa prosperidade econômica se refletiu no perfil urba-


no de São Luís, pois nessa época foi construída a maior
parte dos casarões que hoje compõem o Centro Histórico Esses locais tinham uma grande quantidade de matas,
de São Luís que hoje é Patrimônio Mundial da Humanida- rios e riachos. Tal aspecto foi decisivo no momento de ocu-
de. A região enriqueceu e ficou fortemente ligada à Metró- pação dos territórios pelos colonizadores: os espaços foram
pole, quase inexistindo relação comercial com o sul do país. utilizados de forma bastante rarefeita. Essa conformação
Mas os projetos do Marquês de Pombal foram abalados criou condições para o surgimento de quilombos em ca-
quando subiu ao trono D. Maria I que extinguiu a Compa- beceiras de rios e locais mais distantes nas florestas. Tra-
nhia de comércio e muitas outras ações do Marquês na Co- tava-se de lugares que escapavam ao controle do Estado,
lônia. O objetivo principal da companhia foi fortalecer o co- permitindo que as formas de resistência se multiplicassem
mércio mercantilista com Portugal. e suas populações se sentissem relativamente seguras.
Os quilombos do Maranhão também se comunicavam
entre si. Desse modo, eles trocavam notícias e planejavam
ações comuns. Como a Insurreição de Escravos em Vi-
ana. As iniciativas dos quilombolas, algumas vezes, combi-
naram-se ainda com as atividades políticas das camadas
populares maranhenses. Tal foi o caso da Balaiada (1838-
1941), o maior conflito ocorrido no Maranhão.

ADESÃO DO MARANHÃO
A atuação da Companhia acarretou muitas mudanças À INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
na sociedade maranhense, como a proibição da escravi-
dão indígena. No Maranhão, as elites agrícolas e pecuaristas eram
A partir da fundação da Companhia Geral do Grão-Pará muito ligadas à Metrópole e a exemplo de outras províncias
e Maranhão, houve ainda um crescimento significativo se recusaram a aderir à Independência do Brasil. À época,
de africanos escravizados na região. Até 1755, calcula-se o Maranhão era uma das mais ricas regiões do Brasil. O in-
que entraram 3 mil escravos no Maranhão. No período de tenso tráfego marítimo com a Metrópole, justificado pela
existência da companhia comercial, entre 1755 e 1777, este maior proximidade com a Europa, tornava mais fácil o a-
número saltou para 12 mil (Santos, 1983: 14-15).
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HISTÓRIA DO MARANHÃO

cesso e as trocas comerciais com Lisboa do que com o sul las lutas partidárias da aristocracia rural. Como líderes ti-
do país. Os filhos dos comerciantes ricos estudavam em veram: Manuel Francisco dos Anjos Ferreira (O Balaio), o
Portugal. A região era conservadora e avessa aos coman- vaqueiro Raimundo Gomes e Cosme dos Santos (Negro
dos vindos do Rio de Janeiro. Foi da Junta Governativa da Cosme). Os revoltosos conseguiram tomar a cidade de Ca-
Capital, São Luís, que partiu a iniciativa da repressão ao xias e estender o movimento até o Piauí, porém, as tropas
movimento da Independência no Piauí. A Junta controlava do imperador, lideradas pelo major Luís Alves de Lima e
ainda a região produtora do vale do rio Itapecuru, onde o Silva, reprimiram o movimento.
principal centro era a vila de Caxias. Esta foi a localidade Os envolvidos foram anistiados e Manuel dos Anjos Fer-
escolhida pelo Major Fidié para se fortificar após a derrota reira e Negro Cosme foram mortos. O major Lima e Silva,
definitiva na Batalha do Jenipapo, no Piauí, imposta pelas responsável por sufocar o movimento, recebeu do impera-
tropas brasileiras, compostas por contingentes oriundos do dor D. Pedro II o título de Barão de Caxias.
Piauí e do Ceará. Fidié teve que capitular, sendo preso em
Caxias e depois mandado para Portugal, onde foi recebido
como herói. São Luís, a bela capital e tradicional reduto
português, foi finalmente bloqueada por mar e ameaçada
de bombardeio pela esquadra do Lord Cochrane, sendo
obrigada a aderir à Independência em 28 de julho de 1823.
Os anos imperiais que seguiram foram cruéis com o Mara-
nhão: o abandono e descaso com a rica região levaram a
um lendo e gradual processo de empobrecimento secular.

Barão de Caxias

Entre 1838 e 1841 o Maranhão passava por uma grave


crise que vinha estendendo-se a pelo menos uma década
e afetava principalmente o setor da agroexportação do al-
godão, devido predominantemente a concorrência com o
algodão do Sul dos Estados Unidos da América. Na política
havia uma disputa entre os liberais (bem-te-vis) e os con-
Lorde Thomas John Cochrane, Conde de Dundonald, Marquês do Maranhão. servadores (cabanos). A Balaiada nasce da disputa de
poder entre eles e pela alta pobreza e exclusão social exis-
tente na região.
O MARANHÃO NA PRIMEIRA METADEDO SÉCULO XIX. Os liberais divulgam uma campanha para retirar o total
controle das eleições dos prefeitos das mãos dos conser-
A primeira metade do século XIX foi marcada, no Mara- vadores. Com essa campanha, a disputa se tornou intensa
nhão, por um avanço simultâneo das plantações de algo- e envolveu muitos escravos e pobres que também tinham
dão e cana-de-açúcar, que condicionaram fortemente a o- interesse em mudar a sua situação de pobreza, fome e mi-
cupação das regiões leste e central do Estado. A população séria social. Com ânimos já acirrados, a revolta foi iminente.
se expande, chegando à marca dos 175.000 habitantes, O ponto de partida para a Balaiada foi a detenção de
dos quais cerca de 90.000 eram escravos, além de uma um irmão de Raimundo Gomes, capataz de um líder libe-
grande massa de trabalhadores formada por sertanejos li- ral, invade então a prisão para libertar o irmão, preso a
gados à atividade pastoril e à lavoura. Registre-se que a mando dos conservadores. em dezembro de 1838, gerando
capital São Luís vive por volta da independência do país um motim na cadeia da Vila da Manga do Iguará. A rebelião
(1822) um significativo crescimento populacional, chegando conta com o reforço de Manuel Balaio (Manuel Francisco
a configurar-se na quarta maior cidade do país, com cerca dos Anjos Ferreira), que teve a filha violentada por um capi-
de 30.000 habitantes, atrás apenas de Salvador, Rio de Ja- tão de polícia. A luta generaliza-se com a agitação promo-
neiro e Recife. vida pelos liberais e a adesão do Negro Cosme Bento das
Chagas, chefe de um quilombo com 3 mil escravos fugidos.
A BALAIADA (1838-1841) Em outubro de 1839, 2 mil sertanejos tomam Caxias, a se-
gunda maior cidade da província, e a transformam em sede
de um governo provisório.
Em linhas gerais, foi o mais importante movimento
popular do Maranhão e ocorreu entre Período Regencial e
o primeiro ano do império de D. Pedro II. Os revoltosos exi-
giam melhores condições sociais e foram influenciados pe-

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

SÃO LUÍS, A ATENAS BRASILEIRA

O cenário político e econômico do Maranhão do século


XIX permeado pela crise econômica na qual o estado mer-
gulhou depois da segunda metade do século XVIII foi o ter-
reno no qual surgiu o chamado “Grupo Maranhense”. De
inspiração neoclássica e romântica, os intelectuais que
compuseram este grupo – Odorico Mendes, Sotero dos
Reis, João Francisco Lisboa e Gonçalves Dias e outros -
não podem ser abrigados sob um mesmo pensamento es-
tético e/ou literário.

O movimento cresceu adquirindo cada vez mais adep-


tos da classe populares. Diversas vitórias foram realizadas
pelos balaios. Preocupado com isso, o governo formou um
grupo com a finalidade de dissolver essa crescente força. O
tinha como comandante Luís Alves de Lima e Silva, nome-
ado Presidente da Província.
Utilizando-se do recurso da anistia, o governo imperial
consegue, em 22 de agosto de 1840, a rendição de muitos
rebeldes, utilizando-se de tropas em movimento constante A partir dessa busca por uma identidade local - com re-
e concedendo anistia aos chefes sob a condição de ajuda- ferências distantes dos portugueses por força da indepen-
rem na perseguição dos que continuavam rebelados, a re- dência, contudo sem romper com os laços europeus - a eli-
pressão, foi assim liderada por Caxias, que conseguiu aca- te intelectual de São Luís inventa a ideia de uma “Atenas
bar com o movimento que povoou a Província do Maranhão Brasileira”, na crença de que a cidade de São Luís, a partir
até 1841. de um número significativo de intelectuais nas mais diver-
Em uma das batalhas o comandante dos balaios, Rai- sas áreas, teria sido um espaço exemplar de efervescência
mundo Gomes se rendeu; após a sua morte, o ex-escravo científica, literária, política, jornalística, educacional em
Cosme (Chefe do quilombo Lagoa Amarela), um dos princi- meio à invenção da nação. O nascimento dessa intelectua-
pais chefes da revolta, assumiu a liderança do movimento. lidade foi possível graças à ida dos filhos de fazendeiros e
Os líderes balaios, aos poucos, foram mortos em batalha comerciantes da época para países da Europa, em especial
ou capturados. A força da rebelião diminuiu até que, em para Portugal.
1840, boas partes dos balaios se renderam diante da anis-
tia. Com a completa queda dos balaios, Cosme foi enforca-
do. Como o resultado da repressão ao movimento que fora
cruel, resultando em mortes e prisões, principalmente junto
aos setores populares e sua diluição, Luis Alves de Lima e
Silva é designado Barão de Caxias.

ADESÃO DO MARANHÃO À REPÚBLICA

No Maranhão, os antecedentes da Republica estão li-


gados a disseminação de ideias liberais que entraram na
província ao longo da segunda metade do século XIX. Con-
flitos ocorridos contra a ordem monárquica atestam esse
fato como a Republica de Pastos Bons, conflito ocorrido
nesse município que culminou com o assassinato do chefe
de policia dessa localidade. Impressos de critica a Monar-
quia e artigos em periódicos e jornais também passaram a
crescer conforme o próprio império entrava em crise e o
movimento republicano cresceu no Maranhão na década de
1880, tanto na capital, quanto no interior.

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HISTÓRIA DO MARANHÃO

Mas, a República chegou ao Maranhão como uma cisão maio de 1888. A abolição da escravidão desorganizou as
das oligarquias e facções políticas que comandaram a polí- relações de produção existentes, ponto de partida para a
tica local, principalmente, nas últimas décadas do regime segunda fase da história econômica do Maranhão, ca-
monárquico, representada por uma nova geração de políti- racterizada pelo aumento da importância dos produtos têx-
cos, a maioria bacharéis em Direito. Tal situação possibili- teis na pauta de exportações.
tou a emergência do político de carreira, personagem que A desvalorização das terras foi a maior consequência da
dominou os momentos iniciais da história política local. Na mudança no eixo econômico. Com a estagnação econômi-
realidade, o que se viu por parte das oligarquias locais foi ca, os grandes latifundiários de então passaram a diversifi-
uma busca de legitimar seu domínio através do diploma de car suas atividades, investindo em outras áreas de produ-
bacharel, que fez com que muitos filhos ou até mesmo pa- ção, em especial a indústria. O Parque Fabril Maranhen-
triarcas frequentassem as aulas em centros universitários se tinha sua produção voltada para a fiação, tecelagem de
fora do Estado. Verificou-se que o novo regime proporcio- algodão, sabão, pregos, calçados, cerâmicas etc. Pode-se
nou um paradoxo político no Maranhão, já que o Partido dizer que os capitais empregados no parque fabril têxtil fo-
Conservador, considerado reacionário na Monarquia, pas- ram provenientes da economia algodoeira
sou a ser dominante, sob a condição de Partido Federalis- Mas a euforia dessa nova matriz econômica maranhen-
ta, enquanto o Partido Liberal, que deu sustentáculo à im- se, durou pouco: Vários fatores levaram o parque ao declí-
plantação da República no cenário nacional, passara a ser nio: altos impostos, incapacidade gerencial, baixo incentivo
o Partido Republicano, configurando-se em oposição no do governo, baixo investimento em tecnologia, escassez de
cenário político maranhense. Portanto, os partidos tiveram mão-de-obra e energia elétrica.
que se reorganizar dentro da nova situação política do país.
Esse novo rearranjo colocou de frente as duas facções, o Principais Indústrias do Setor Algodoeiro e de Fi-
Partido Federalista e o Partido Republicano, que protagoni- bras Animais e Vegetais no Maranhão durante a Primei-
zaram os jogos políticos durante toda a Primeira República. ra Republica:
Neste campo de amplas dissidências políticas e oligár- - Companhia de Fiação e Tecidos Maranhense: Criada
quicas alguns nomes se destacaram por sua influência na em 1888/1890, localizada no bairro da Camboa. Faliu
região, pelos laços familiares e também por suas desenvol- em 1970. Era a mais antiga fábrica do Maranhão; 300
turas como pessoas públicas. Dentre estes nomes, se so- teares, produção 1.800.000 metros de riscados anuais
bressaiu o de Benedito Leite. em seu auge.
- Companhia de Fiação e Tecelagem de São Luis: Cri-
ada em 1894. Localizada a Rua São Pantaleão junto à
CÂNHAMO. Faliu em 1960. Empregava em seu auge 55
teares para uma produção anual de 350.000 metros de
tecidos.
- Companhia Lanifícios Maranhenses: Era localizada
na atual Rua Cândido Ribeiro (mais tarde passou a de-
nominar-se Fábrica Santa Amélia), integrando o grupo
cotonifício Candido Ribeiro. Faliu em 1969, produzia
440.000 metros/ano empregando em média 50 operá-
rios.
- Companhia Progresso Maranhense: Criada em 1892,
na Rua Antonio Rayol. Teve vida efêmera. Operava com
Benedito Leite em 1908
150 teares para uma produção anual de 70.000 me-
Considerado um homem das letras e um político por ex- tros/ano, 160 operários.
celência, este agente tornou-se o principal personagem po- - Companhia Manufatureira e Agrícola do Maranhão:
lítico durante a Primeira República. Sua trajetória política Fábrica de tecido de Codó, criação em 1893. Produzia
não fugiu a regra dos demais jovens políticos maranhenses. 750.000 metros/ano, 250 operários na fiação e tecela-
Bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Recife e retor- gem.
nou a sua terra, onde foi um participante ativo na adminis- - Companhia Fabril Maranhense: Criada em 1893, era
tração pública do estado. Benedito Leite consagrou-se co- localizada na Rua Senador João Pedro, Apicum. Produ-
mo chefe do Partido Federalista e comandou a política local ção anual 3 milhões de metros, 600 operários. Faliu em
por quinze anos. 1971.

A FORMAÇÃO DO PARQUE FABRIL MARANHENSE

No Maranhão a economia agrária e escravagista sofreu


um duro golpe após a promulgação da Lei Áurea, em 13 de
VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE. 149
HISTÓRIA DO MARANHÃO

- Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil: Criada


em 1893, localizada no bairro do Anil (atualmente Cen-
tro Integrado do Rio Anil - CINTRA). Faliu em 1966. Per-
tenceu ao grupo Jorge & Santos. Produção 1 milhão
metros/ano, 100 operários em média.
- Cotoniere Brasil Ltda.: Criada na década de trinta.
Empresa de origem francesa Abastecia de algodão de
alta qualidade. Desativada após 1945.

O MARANHÃO DURANTE A REVOLUÇÃO DE 1930 E NA


ERA VARGAS

A Revolução de 1930, irá diminuir a influência política


das oligarquias e grupos políticos que dominavam o cenário
local durante a Republica Velha, constituídos principalmen-
te por grandes proprietários de terras ligados ao Partido
Republicano local, liderados por Magalhães de Almeida.
Selo da Companhia Fabril Maranhense

- Companhia de Fiação e Tecido do Cânhamo: Criada


em 189-1, atualmente transformada no Centro de Pro-
dução Artesanal do Maranhão – CEPRAMA, na Rua
Senador Costa Rodrigues. Pertenceu ao Grupo Neves
Sousa. Faliu em 1969. Produção anual de 1.500.000
metros/ano, 250 operários.
- Companhia Industrial Caxiense (Caxias Industrial):
Criada em 1880, 130 teares para 250 operários.
- Companhia de Fiação e Tecidos: Fábrica criada em
1889, na Praça Pedro II, atualmente transformada em
Centro de Produção Cultural de Caxias. Faliu em 1950. José Maria Magalhães de Almeida – Governador do MA 1926-1930
Operavam 220 teares para 350 operários.
- Companhia Industrial Maranhense: Criada em 1894, Durante o período pré-Estado Novo (1930-1936) os ce-
na Rua dos Prazeres em São Luis. 22 teares para 50 nários político e econômico do Maranhão estavam deses-
operários, 120 t/ano. truturados. No campo econômico ocorriam constantes a-
- Fábrica de Tecidos e Malhas Ewerton: Criada em balos na exportação e as frequentes oscilações nos preços
1892, na Rua de Santana, em São Luís. Produzia 500 dos produtos agrícolas maranhenses. Na política, se suce-
metros de tecidos e 400 dúzias de meias/mês. diam conflitos entre os grupos que controlavam o aparelho
- Fábrica Sanharô: Erguida em Trizidela, município de estatal, principalmente na fase das interventorias
Caxias; 300 mil metros de tecidos/ano. (1930/1935).
- Fábrica São Tiago (Martins Irmão & Cia): Localizada No período de 1930 a 1945, em razão dos poderes ex-
no antigo prédio da CINORTE e Depósito Martins, em traordinários que o movimento revolucionário colocou nas
São Luís. mãos do presidente Getúlio Vargas, a ele foi atribuída a fa-
- culdade de nomear os interventores estaduais. Para gover-
nar o Maranhão, Getúlio nomeou cinco interventores: Luso
Torres, Reis Perdigão, Astolfo Serra, Seroa da Mota e An-
tônio Martins de Almeida.

Sede da Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil em 1908

150 VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE.


HISTÓRIA DO MARANHÃO

interventores (Luso Torres, José Maria dos Reis Perdigão,


Astolfo Serra e Seroa da Mota), Martins de Almeida e Victo-
rino receberam instruções de Getúlio Vargas para afastar
da cena política local os antigos membros do Partido Repu-
blicano (PR), representantes das antigas oligarquias locais.
Uma das tarefas de Victorino foi organizar o Partido Social
Democrático (PSD) para as eleições de 1933, quando seri-
am definidos os representantes maranhenses na Assem-
bleia Nacional Constituinte do ano seguinte.
Após estruturar o PSD maranhense, Victorino se candi-
datou a deputado federal pelo partido, porém não foi eleito,
devido à impopularidade de sua administração associada
ao interventor Martins de Almeida. Apelidado de “bala na
agulha”, Almeida era conhecido por sua truculência ao
combater os adversários políticos. Em 1935, o cientista A-
Os interventores Astolfo Serra e Reis Perdigão quiles Lisboa foi eleito indiretamente pela Assembleia Le-
gislativa como substituto de Martins de Almeida no coman-
Grupos políticos representados pelas oligarquias locais
do do Executivo maranhense. Com o declínio de Martins de
formaram alianças para enfrentar os interventores e garantir
Almeida e consequente perda de espaço político no Estado,
o controle do governo, através das eleições de 1933 e
Victorino Freire retornou à Capital Federal para assumir o
1934. Durante o governo Vargas, Martins de Almeida era
cargo na Câmara dos Deputados.
o interventor. O ex-interventor Paulo Ramos (1936-1945) não obteve
As oligarquias retomaram o poder em junho de 1935, e sucesso em viabilizar uma base de apoio após a queda do
permaneceram no governo por um ano. Economicamente,
Estado Novo. A saída de Ramos do Executivo Estadual
o Maranhão sofreia com os reflexos da crise que atingia o
possibilitou a volta ao cenário político maranhense de Victo-
setor de exportação. No período de 1931 a 1935, a produ-
rino Freire, que naquele momento ocupava um cargo no
ção maranhense permaneceu estática, tanto pela falta de
Ministério da Viação, sob o comando do General João
modernização dos meios de produção, quanto pela preser-
Mendonça Lima, articulando-se como um tradicional aliado
vação das relações de produção que tinham por base a
do poder central.
grande propriedade. Na sua volta ao Maranhão, Victorino Freire reorganizou
Em 1937, com o advento do Estado Novo (1937-1945), o PSD com vistas às eleições para a Constituinte de 1945,
período de intensa centralização política comandada por na qual o partido elegeria a maioria dos deputados, dentre
Getúlio Vargas, Paulo Ramos ascende ao poder político no
os quais o próprio Victorino. Em 1946, o líder político re-
Maranhão, se tornando chefe de governo e poderosa figura
nunciou ao mandato para concorrer ao Senado Federal em
política. eleições suplementares, elegendo-se no mesmo momento
em que Sebastião Archer da Silva, assumiu o Governo do
Maranhão. Após divergências com o PSD, Victorino Freire
apresentou-se como candidato avulso pelo Partido Social
Trabalhista (PST) no pleito de outubro de 1950, que elegeu
Getúlio Vargas presidente e Café Filho vice. Victorino foi
Senador por três legislaturas: 1947 a 1955, 1955 a 1963 e
de 1963 a 1971.
Victorino enfrentou Paulo Ramos mediante a formação
de bases políticas no Maranhão, obtendo verbas e cargos
junto ao Governo Federal, além de intervir no Legislativo e
Judiciário para legitimar suas decisões. O pernambucano
retornou ao Maranhão durante a campanha do General Eu-
rico Gaspar Dutra à Presidência da República e arregimen-
tou lideranças políticas tradicionais no Estado como Gené-
sio Rego e Clodomir Cardoso.
No mesmo ano, o PSD elegeu dois senadores e seis
dos nove deputados federais constituintes (incluindo o pró-
VITORINISMO NO MARANHÃO (1945-1966) prio Victorino), além de ter indicado Saturnino Belo para a
Interventoria Estadual. O cenário político favoreceu a as-
Victorino Freire recebeu o convite do interventor do Ma- censão de Victorino ao poder, dando início ao período co-
ranhão, Antônio Martins de Almeida, para ocupar a Se- mumente denominado pela historiografia maranhense de
cretaria-Geral do Maranhão. Com o fracasso dos ex- Vitorinismo.
VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE. 151
HISTÓRIA DO MARANHÃO

O veto à candidatura de Archer, com a interferência ex-


plícita do presidente da República, marechal Humberto de
Alencar Castelo Branco, gerou nova crise no PSD, decor-
rente da disputa pela indicação do candidato pessedista
que enfrentaria o udenista José Sarney, agora um dos prin-
cipais membros das Oposições Coligadas. Sem chegar a
um consenso no âmbito do PSD, Victorino Freire e Newton
Bello romperam definitivamente, forçando a saída do go-
vernador do partido, ao passo que Victorino garantiu apoio
à candidatura de Archer.
Os rumos tomados pela política do país com a chegada
dos militares ao poder em 1964 contribuíram para a derro-
cada do PSD, uma vez que o movimento militar daria nova
forma à política maranhense, com o apoio as Oposições
Coligadas, viabilizando a eleição do deputado José Sarney
A primeira crise do novo governo foi o rompimento com ao Governo do Estado em 1965.
Genésio Rego e Clodomir Cardoso. Ambos assumiram o O Vitorinismo logo foi identificado como a principal cau-
controle do PSD, obrigando os “vitorinistas” a ingressarem sa da decadência econômica do Maranhão e óbice para a
em legendas de aluguel nas eleições de 1947 e 1950, implantação do projeto político dos militares. A vitória das
senPPB e o PST. O PSD se sustentava no mandonismo lo- Oposições Coligadas representou o fim do Vitorinismo.
cal e o bom relacionamento com as lideranças nacionais A reação ao mando político de Victorino Freire se inten-
ajudou Victorino a manter sua influência na política regional sificou com o passar do tempo, mediante as sucessivas
e hegemonia como a principal liderança no Maranhão. tentativas do oligarca de se perpetuar no poder através da
Em 1954, Victorino Freire recuperou o comando do fraude eleitoral, facilitando o acesso de seus candidatos à
PSD, afastando definitivamente Genésio Rêgo e Clodomir chefia do executivo estadual. Com a formação das Oposi-
Cardoso. O PSD maranhense sofreria outro abalo, quando ções, Victorino finalmente enfrentou uma forte rejeição do
Victorino viabilizou o apoio do Governador Eugênio de Bar- eleitorado maranhense. Diariamente eram divulgadas as
ros à eleição do empresário, jornalista e político paraibano ações de corrupção e descalabro administrativo de seu go-
Assis Chateaubriand, o que gerou divergências dentro do verno.
partido e críticas veementes de alguns membros, dentre os O uso da força associado à habilidade de manipular
quais os deputados José Sarney, Cunha Machado e Nunes cargos junto ao poder central facilitou sua permanência no
Freire, que formaram uma dissidência da legenda. Maranhão por duas décadas. O estilo “truculento” de repri-
mir os opositores e o descaso administrativo dos governos
sob sua tutela, marcados por corrupção e violência, simbo-
lizou o atraso social no Estado, provocando uma série de
acusações contra seu Governo.

AS OPOSIÇÕES COLIGADAS
Denominou-se Oposições Coligadas a frente oposicio-
nista que exerceu durante os vinte anos de domínio ininter-
rupto de Victorino um contraponto na esfera política esta-
dual. Até sua chegada ao poder nas eleições de 1965, com
a vitória de José Sarney, as Oposições Coligadas participa-
Assis Chateaubriand ram de todas as eleições maranhenses de 1950 até 1965.
Fizeram parte do grupo oposicionista tradicionais adversá-
Em 1960, Victorino Freire indicou Newton Bello ao Go- rios de Victorino, tais como Neiva Moreira e Clodomir Mil-
verno do Maranhão, demonstrando mais uma vez sua habi- let e ex-situacionistas como Saturnino Belo, José Neiva e
lidade em manipular a política estadual. Entretanto, sua li- José Sarney.
derança seria mais uma vez contestada, com a rebelião de Genésio Rêgo e Clodomir Cardoso faziam parte do gru-
seis deputados federais contrários ao apoio de Victorino à po. Nas fileiras oposicionistas estavam ainda Collares Mo-
UDN, de José Sarney, os parlamentares se desligaram do reira, Erasmo Dias e Carvalho Branco. Pelo PTB, ainda em
PSD e ingressaram no PTB. Para completar o quadro de estruturação, surgia como liderança oposicionista o ex-
desestabilização do PSD no Maranhão, Newton Bello lan- interventor Paulo Ramos. Pela UDN, os deputados Alarico
çou a candidatura de Renato Archer sem o consentimento Pacheco e Antenor Bogéa. Aos poucos, o Jornal do Povo
de Victorino Freire. foi se transformando no reduto das Oposições Coligadas,

152 VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE.


HISTÓRIA DO MARANHÃO

com sua linha editorial atuante contra o governo estadual, por Victorino Freire e de Getúlio Vargas, apoiado pelas O-
em particular contra Victorino Freire. Outro oposicionista posições Coligadas. No Maranhão, Saturnino Belo era favo-
era Neiva Moreira, membro do PSP. O partido criado pelo rito, todavia, a estranha anulação de 16 mil votos pelo Tri-
paulista Adhemar de Barros se transformaria na principal bunal Regional Eleitoral possibilitou a Eugênio de Barros
legenda de combate ao Vitorinismo, tendo em Clodomir Mil- (candidato apoiado por Victorino e Machado) ultrapassar a
let o seu mentor no Estado. contagem, enfurecendo as Oposições Coligadas. Apesar
A prisão arbitrária de Neiva Moreira, em 27 de julho das suspeitas de fraude, a Justiça Eleitoral diplomou Eugê-
de 1949, provocou na capital uma forte indignação popular, nio de Barros como Governador do Maranhão. Em 16 de
além de repercutir na opinião pública nacional. O tumulto da janeiro de 1951, Saturnino Belo sofreu um enfarte fulminan-
prisão de Neiva provocou a vinda ao Maranhão de Adroaldo te, causando enorme comoção no estado.
Junqueira Ayres, funcionário do alto-escalão do Ministério
da Justiça, no intuito de interceder pelo jornalista, por or-
dem expressa do Presidente da República, General Eurico
Gaspar Dutra. Moreira se candidatou a Deputado Estadual
e obteve grande votação na capital e no interior, em elei-
ções bastante tumultuadas.

Eugênio de Barros toma posse como governador do Maranhão

A GREVE DE 51
A organização do reduto oposicionista permitiu a eclo-
são do movimento político conhecido como Greve de 51,
uma série de paralisações em todos os setores da econo-
mia e administração da capital por vários meses. O movi-
Neiva Moreira, diretor do Jornal do Povo. mento, de reação ao domínio político vitorinista, foi uma
manifestação violenta da população de São Luís contra os
Nas eleições de 1950, porém, as Oposições Coligadas excessos da corrupção eleitoral, então ostensivamente pra-
apresentaram como candidato Saturnino Belo, um ex- ticada no estado.
vitorinista, que arregimentou forte apoio popular durante a A Greve de 51 foi um movimento organizado pelas O-
campanha eleitoral, transformando-se rapidamente em posições Coligadas contra a posse do Governador Eugênio
símbolo da luta oposicionista. O ingresso de Saturnino Belo de Barros (PST), após contestada vitória nas eleições do
nos quadros das Oposições Coligadas deu-se através da ano anterior. Com forte mobilização popular, os “soldados
ruptura política com Victorino Freire, já que “Satu” não fora da liberdade”, como ficaram conhecidos os participantes
indicado pelo oligarca à sucessiva eleitoral em 1950. dos protestos, organizaram uma série de protestos que pa-
ralisaram a capital maranhense e tiveram reflexos no interi-
or do Estado. Barricadas, incêndios, ataques a sedes de
jornais do Governo, instituições e residências eram co-
muns. Por volta de 26 de setembro daquele ano São Luís
chegou ao caos generalizado nos setores de abastecimen-
to, comércio e segurança; o que provocou o envio de tropas
federais para garantir a posse do Governador eleito.

Líderes das Oposições Coligadas

Sob o clima de forte tensão, as eleições ocorreram com


a indicação de Cristiano Machado para Presidente, apoiado
VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE. 153
HISTÓRIA DO MARANHÃO

Canhão do 24º BC para reforço da segurança nas ruas da capital.


Sarney, deputado federal em 1959
A ELEIÇÃO DE JOSÉ SARNEY
No pleito para a sucessão do governador Eugênio de
José Sarney, um ex-vitorinista, rapidamente se trans- Barros, o PSD apresentou José de Mattos Carvalho como
formou em autêntico representante da luta das Oposições, candidato. Com a indicação de Mattos Carvalho, uma fac-
ao reclamar para si a imagem de “libertador” do Maranhão. ção do PSD liderada por José Sarney decidiu romper com o
Os dissidentes do PSD, dentre eles o próprio José Sarney, partido, ingressando nas Oposições Coligadas, em apoio
passaram a representar autênticos símbolos da resistência ao candidato Hugo da Cunha Machado, outro ex-aliado de
popular contra o Vitorinismo, sistema do qual fizeram parte. Victorino. O rompimento da facção pessedista não foi sufi-
Por outro lado, antigos detentores do poder local como ciente para evitar a eleição de Mattos Carvalho, marcada
Paulo Ramos, Genésio Rego e Lino Machado evocavam a pela fraude eleitoral nas urnas.
defesa das tradições maranhenses contra a usurpação dos José Sarney ampliou seu espaço de ação política, trans-
poderes pelo “forasteiro” Victorino Freire. formando-se em uma das principais figuras oposicionistas
Enquanto Saturnino Belo não logrou êxito em derrotar a no Maranhão e com grande e popularidade, o que possibili-
máquina eleitoral do Vitorinismo, Sarney, conquistou espa- tou o lançamento de sua candidatura ao Governo do Esta-
ço nas Oposições, para finalmente lançar-se como candida- do. A eleição de Sarney ocorreria com o apoio dos milita-
to no pleito de 1965. Com o apoio dos militares, o deputado res, somente possível pelo fato do político pertencer aos
udenista venceu as eleições de 1965 e ampliou seu próprio quadros da UDN, principal base de apoio do movimento de
projeto político, iniciando uma nova fase na política mara- 1964. A extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional
nhense. Após a vitória nas urnas em 1965, a participação nº 2 e a instituição do bipartidarismo minou as expectativas
de Sarney na política maranhense se assemelharia à do de novo embate entre as facções, uma vez que Sarney e
próprio Victorino Freire, forjando sua própria hegemonia po- Victorino Freire passaram a coexistir temporariamente na
lítica ao longo dos anos, garantindo dessa maneira a sua ARENA. Durante a eleição de José Sarney, o Maranhão foi
influência nas decisões políticas do Maranhão. tomado pelo sentimento de mudança, na esperança de que
o jovem governador daria início a uma nova era de
JOSÉ SARNEY E O MARANHÃO NOVO prosperidade no Estado.
Sarney foi recebido como um “libertador do Maranhão”
Jornalista e bacharel em direito, José Sarney participou em 31 de janeiro de 1966, na Praça Pedro II, para ser em-
da Geração de 45, corrente estética que inovou a criação possado. De imediato, foi lançado o Maranhão Novo,
literária maranhense. Como estudante do Liceu Maranhen- programa de governo que abrangeu uma série de obras
se, o jovem José Sarney participou de manifestações na para o desenvolvimento do Estado, tais como a Ponte
capital contra o interventor Paulo Ramos. Em 1945, a ativa sobre a foz do Rio Anil; a Usina Hidrelétrica de Boa
militância estudantil e seu bom relacionamento com a cúpu- Esperança; o Porto do Itaqui e a Barragem do Bacanga,
la do PSD local levaram Sarney a ser eleito quarto suplente dentre outras.
de deputado federal pelo partido.

154 VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE.


HISTÓRIA DO MARANHÃO

Apresentação do programa de governo Maranhão Novo

Um dos recursos utilizados para realização deste


projeto foi a criação de um corpo de gestores eficiente,
com uma mão de obra qualificada. Para tanto, José JOÃO CASTELO (1979-1982) – Indicado por
Sarney compôs seu governo com técnicos de elevado Sarney foi o último governador eleito por via indireta. Caste-
gabarito. Outro alicerce da política de Sarney foram os lo renuncia ao governo em maio de 1982, para concorrer ao
meios de comunicação de massa do Maranhão, que Senado. O vice-governador, Artur Carvalho falece antes de
garantiram o político o apoio popular e dos grupos acabar o mandato, por isso, Castelo, rompido politicamente
com o senador José Sarney, transmite o poder ao deputado
intelectuais do Estado. Por meio dos jornais O
Ivar Saldanha, presidente da Assembleia. No Governo Cas-
Imparcial (do grupo dos “Diários Associados”), Jornal telo ocorreu A Greve da Meia Passagem (1979), greve es-
do Dia, Jornal de Bolso, da rádio Timbira o governo tudantil em São Luís em 1979, marcada por forte repressão
implantou uma verdadeira e eficiente assessoria de policial às passeatas e assembleias. Seu programa de go-
comunicação, uma vanguarda para a época, que verno Bom Preço foi fundamentado em uma política assis-
difundia notícias para todo o Maranhão e às vezes tencialista de distribuição de gêneros alimentícios a preços
para o nordeste. baixos. Castelo construiu o sistema ITALUIS, para melhorar
O projeto Maranhão Novo foi fruto de uma aliança a oferta de água na capital.
entre o executivo nacional e o estadual. O primeiro,
precisava garantir a continuidade do poder dos
militares e o segundo, aproveitara a situação para
garantir o controle do Estado e projetar-se na política
IVAR SALDANHA (1982-1983) – Deputado es-
do país.
tadual e federal, prefeito de São Luís.

GOVERNADORES DEPOIS DE JOSÉ SARNEY


(1971-2016)
LUIZ ROCHA (1983-1987) – Ex-vereador de
São Luís, deputado estadual em duas legislaturas e dois
mandatos de deputado federal.

PEDRO NEIVA DE SANTANA (1971-1975) -


Secretário da Fazenda do Maranhão durante o governo
Sarney. Eleito em 1970 pela Assembleia Legislativa para EPITÁCIO CAFETEIRA (1987-1990) – Deputa-
substituir o vice-governador Antônio Dino, que assumira o do federal e autor da Emenda Constitucional que deu fim à
governo do estado com saída de Sarney, que concorreria nomeação dos prefeitos das capitais pelos governadores
ao Senado. Cria a Federação das Escolas Superiores do estaduais, fato que o leva, em outubro de 1965, à prefeitura
Maranhão (FESM). de São Luís. Em novembro de 1986, apoiado por Sarney,
elege-se governador do Maranhão, tendo como vice João
Alberto. Renuncia ao cargo em abril de 1990 para ser can-
didato ao Senado. No governo, Cafeteira impulsionou as
obras de recuperação do Centro Histórico de São Luís, o
Projeto Reviver, que garantiria o título de Cidade Patrimô-
OSWALDO NUNES FREIRE (1975-1979) - em nio Cultural da Humanidade.
junho de 1974 é convocado pelo Palácio do Planalto para
governar o Maranhão e conciliar o embate político entre o
senador José Sarney e o ex-senador Vitorino Freire. Eleito
indiretamente pela Assembleia Legislativa em outubro de
1974. No meio do mandato de governador, que exerce de JOÃO ALBERTO (1990-1991) – Deputado es-
1975 a 1979, rompe com o senador José Sarney. tadual e federal. Para ocupar o lugar de Cafeteira, o vice,
João Alberto recorre ao Supremo Tribunal Federal para
cassar liminar do Tribunal de Justiça do Maranhão, que o
impedia de investir-se no cargo.

VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE. 155


HISTÓRIA DO MARANHÃO

EDISON LOBÃO (1991-1994) - Recebe o gover- JACKSON LAGO (2007-2009) – Três vezes
no das mãos de João Alberto, junto com o vice, Ribamar prefeito eleito de São Luís. Elege-se governador, mas em
Fiquene, em solenidade pública, na Avenida Pedro II. A 2 maio de 2009, perde o mandato, sendo substituído por Ro-
de abril de 1994, Lobão renuncia ao cargo, para se candi- seana Sarney.
datar ao Senado, sendo eleito com expressiva votação.

JOSÉ RIBAMAR FIQUENE (1994-1995) – Ad- FLAVIO DINO (2015-atualmente) - Em 2014,


vogado, professor, juiz de Direito, transmite o cargo à eleita, foi eleito governador do Maranhão. Foi o primeiro gover-
Roseana Sarney. nador que o PCdoB conseguiu eleger no Brasil. Em 2016,
em meio ao pedido de impeachment da presidente Dilma
Rousseff, liderou o movimento Rede da Legalidade, contra
a iniciativa.

ROSEANA SARNEY (1994- REORGANIZAÇÃO ECONÔMICA


1999/1999-2002/2009-2011) – Deputada federal e senado- E CORRENTES MIGRATÓRIAS NO SÉCULO XX
ra. Primeira governadora eleita no Brasil. Reeleita em 1998.
No ano seguinte, renuncia ao cargo para se candidatar ao Com o esgotamento do ciclo das plantations, a pecuária
Senado da República, em 2002. Já senadora, em maio de extensiva e a agricultura familiar voltaram a predominar na
2009, após a cassação do mandato de Jackson Lago, pelo maior parte do Estado, com destaque para o extrativismo,
Tribunal Superior Eleitoral, assume, como segunda coloca- criação extensiva (animais de pequeno porte), pesca e o
da na eleição de 2006, pela terceira vez o comando do Po- uso comum dos recursos naturais para reprodução nas á-
der Executivo do Estado. No seu primeiro governo, Rosea- reas de uso comum, em geral, campos de cerrado, de on-
na adotou o lema “Maranhão, um Novo Tempo”, em refe- de são extraídos lenha, madeira, frutos, fibras, etc. A partir
rência à reestruturação do Estado, por meio da criação de das últimas décadas do Século XIX, mas especialmente
Gerências Regionais, política de privatização de estatais nas décadas de 1920 a 1950 a região leste do Estado pas-
como o BEM e a CEMAR. Criou o programa Tele-Ensino, sa a receber um expressivo contingente de imigrantes
bastante criticado pela baixa qualidade. Outro insucesso foi provenientes das regiões semiáridas do Nordeste, especi-
a tentativa de revitalização do parque fabril, através do Polo almente o Ceará e o Piauí. Ocorre o crescimento do núme-
de Confecções de Rosário. Criou os projetos Viva e Farol ro de pequenas propriedades que se integrarão ao sistema
da Educação. Em 2002, foi envolvida no escândalo da Lu- econômico local.
nus Participações, empresa da qual é sócia, com a desco- O Maranhão recebeu duas importantes correntes migra-
berta de R$ 1.340.000 não-declarados. A repercussão ne- tórias ao longo do século XX. Nos primeiros anos chegaram
gativa do fato culminou com a desistência de sua candida- ao estado uma leva de imigrantes sírio-libaneses, que i-
tura à Presidência da República. nicialmente desenvolveram atividades ligadas ao pequeno
comércio, passando em seguida a constituir empreendi-
mentos maiores, e também carreiras como profissionais li-
berais e políticos. Entre as décadas de 1940 e 1960 o esta-
do recebeu ainda um grande fluxo de migrantes originá-
JOSÉ REINALDO TAVARES (2002-2007) – rios de estados nordestinos, principalmente advindos do
Na condição de vice, assume o governo do Maranhão em Ceará, fugindo das estiagens e secas constantes e em
abril de 2002, substituindo Roseana Sarney, candidata ao busca de melhores condições de vida. Dedicaram-se prin-
Senado. É eleito em 2002. No ano seguinte, rompe com o cipalmente ao cultivo de arroz, produzido em pequenas e
grupo Sarney. Nas oposições, apoia Jackson Lago e elege- médias propriedades de agricultura predominantemente
o no pleito de 2006 para substituí-lo no Palácio dos Leões. familiar e de subsistência, mas cujos excedentes eram ven-
didos.

MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA
NO MARANHÃO (1966-2012)

156 VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE.


HISTÓRIA DO MARANHÃO

A partir dos anos 60 e 70, a modernização do Maranhão Tópicos relevantes sobre Modernização conservadora
ganha impulso com os investimentos da Superintendência no Maranhão (1966-2012):
de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e da Supe- 1. Modelo de desenvolvimento e expansão capitalista da
rintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDE- Amazônia: domínio do grande capital nacional e estran-
NE) na agropecuária e no extrativismo vegetal e mineral. geiro, sob patrocínio do Estado.
Os grandes projetos, como Carajás, aumentam a concen- 2. Domínio político oligárquico / propaganda e legitimação
tração fundiária e as migrações, além de provocar devasta- através de um discurso modernizador.
ção na Floresta Amazônica. No final dos anos 70, a mata já 3. Caráter patrimonialista do Estado / laços entre grupos
havia perdido quase a metade de sua formação original. políticos e capital privado (mineradoras / construtoras /
Esses projetos também impulsionam disputas de terra e outras empresas).
conflitos com a população indígena, causando tensão e vio- 4. Caráter de enclave exportador: alumínio / minérios / fer-
lência. ro-gusa / soja.
Os grandes projetos foram desenhados a partir do II 5. Expansão do agronegócio e do latifúndio, com a destru-
PND (Governo Geisel, 1974-1978), sob a bandeira do Pro- ição da agricultura familiar.
jeto Grande Carajás, com a instalação da Companhia Vale 6. Caráter de devastação ambiental, com o esgotamento
do Rio Doce na Ilha do Maranhão, o aproveitamento da es- dos recursos naturais.
trada de ferro existente e a instalação da Alumar (consór- 7. Caráter socialmente excludente: hiper-concentração de
cio multinacional voltado à produção e exportação de alu- renda / pobreza estrutural / exclusão da cidadania e vio-
mínio em lingotes), além da expansão, com incentivos e lação dos direitos humanos.
subsídios federais e estaduais de projetos agroindustriais
tais como eucalipto e bambu para celulose, pecuária bovi- OS “GRANDES PROJETOS” NA SEGUNDA
na, cana de açúcar e álcool. METADE DO SÉCULO XX

Nesse período, ocorreu gradativamente o processo de


expansão do capital monopolista para a Amazônia, patroci-
nado pelo Regime Militar, com o apoio de grupos oligárqui-
cos estaduais (a partir dos anos 1960), com continuidade
após a redemocratização do país (Nova República), nos
governos José Sarney, Fernando Collor, FHC e Lula.
Investimentos em infraestrutura de transportes (Tran-
samazônica), comunicações e energia (Tucuruí), uma polí-
tica de incentivos fiscais (promovida pela SUDAM e SUDE-
NE) caracterizaram a tentativa de modernização, com a
transformação e agravamento dos problemas sociais, sob o
signo do autoritarismo estatal.

TRANSFORMAÇÕES NO CAMPO
NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX
A instalação de guserias no Maranhão e no Pará levou
também, a partir do início da década de 1980, à expansão - Expansão do capitalismo no campo: processo de con-
da atividade de desmatamento voltado à produção de car- centração da propriedade da terra.
vão que impactou de forma significativa as regiões Central - Marco acelerador: Lei de Terras no governo Sarney
e Leste do Estado. Mais recentemente, a diminuição da o- (1969): transferência de terras devolutas para o domínio
ferta de madeira proveniente de matas nativas do Pará e de empresas particulares.
Maranhão e as crescentes restrições interpostas pela legis- - Incentivos fiscais ao agronegócio (SUDAM e SUDENE):
lação ambiental estão trazendo investimentos no Estado pecuária, madeireiras, soja, produção de cana de açú-
com vistas à produção de carvão a partir de reflorestamento car, plantio de eucalipto, mamona.
de eucalipto. Ao final da década de 1970 uma nova frente - Agronegócio e capital multinacional: Cargill Agrícola e
de ocupação econômica se delineia com o avanço da agri- Bunge Alimentos / Suzano Papel e Celulose.
cultura graneleira mecanizada (principalmente soja, mas
também milho, arroz e algodão) no sul do Estado, a partir
da região de Balsas. Ao final da década de 1980, tem lugar
o avanço de um segundo pólo de agricultura graneleira me-
canizada, na região Leste do Estado (nas microrregiões de
Chapadinha e do Baixo Parnaíba).

VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE. 157


HISTÓRIA DO MARANHÃO

A crise econômica em que o Brasil se encontrava tam-


bém influenciou na Proclamação da República, pois fez
com que aumentasse o descontentamento da população
brasileira. Esta crise foi agravada com a Guerra do Para-
guai, pois o Brasil recorreu aos empréstimos ingleses, au-
História do Brasil mentando assim a dívida externa.
Militares, profissionais liberais e intelectuais defendiam
os ideais positivistas. Estes ideais eram favoráveis ao regi-
me republicano e, portanto, contrários à Monarquia. A ins-
crição "Ordem e Progresso" na bandeira brasileira, criada
após a Proclamação da República, refletiu a importância do
Positivismo no processo republicano brasileiro.

ANTECEDENTES DA REPÚBLICA

O sistema monárquico encontrava-se desgastado e


A REPÚBLICA DA ESPADA (1889-1896)
era questionado por vários setores da população brasileira.
O Exército reclamava da imobilidade do governo monárqui-
co. Algumas imposições feitas pelo imperador também e-
ram questionadas pelos militares, dentre elas, a proibição
de oficiais do Exército Brasileiro em se manifestar na im-
prensa, sem a autorização do Ministro da Guerra. Os mem-
bros da Igreja Católica, por sua vez, também estavam
descontentes com o governo de Dom Pedro II, pois havia O Governo Provisório de Deodoro da
muita interferência real nos assuntos religiosos. Fonseca acentuou as divergências entre o Exército e o
Por volta de 1880, a monarquia era um sistema enfra- Partido Republicano Paulista (PRP), representante dos
quecido no contexto mundial do final do século XIX. Muitos grandes latifundiários. Os latifundiários defendiam
países importantes já haviam adotado a República, que prioridade para a agroexportação. A especulação financeira
possibilitava maior participação política dos cidadãos. No desencadeada, a inflação e os boicotes através de
Brasil, a classe média, estudantes e profissionais liberais, empresas-fantasmas e ações sem lastro desencadearam,
simpáticos ao regime republicano, passaram a fazer oposi- em 1890, a Crise do Encilhamento, após Rui Barbosa,
ção à Monarquia brasileira. Queriam a implantação da Re- então Ministro da Fazenda, adotar uma política de emissão
pública, para que pudessem ganhar poder e influenciar de papel-moeda baseada em créditos livres aos
mais nas decisões políticas e administrativas do país. investimentos industriais, garantidos pelas emissões
Havia também um grande descontentamento dos fa- monetárias
zendeiros, a elite conservadora do país. Antes adeptos da
Monarquia, retiraram o apoio político que davam à Monar-
quia após a abolição da escravatura em 1888. Proprietários
de grandes quantidades de escravos, não receberam inde-
nização do governo após a abolição.
Os setores progressistas do Brasil eram contrários a
uma série de situações mantidas pelo regime monárqui-
co, tais como: voto censitário, falta de justiça social, misé-
ria, ensino público para poucos, elevado índice de analfabe-
tismo.
158 VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE.
HISTÓRIA DO MARANHÃO

Com o voto de cabresto os coronéis dominavam as


clientelas rurais e manipulavam as eleições; a política dos
governadores consagrava a troca de apoio entre o governo
federal e as oligarquias estaduais e tudo isso viabilizava a
Política do Café com Leite, ou seja, o domínio federal
pelos cafeicultores de São Paulo e de Minas Gerais.
As difíceis condições de vida e a marginalização política
impostas à maioria dos brasileiros explicam genericamente
as principais revoltas que abalaram a I República. Assim,
os movimentos messiânicos de Canudos (1896-97) e do
Contestado (1911-15), as revoltas da Vacina (1904) e da
Chibata (1910), na Capital, e a Greve Geral de 1917 foram
sintomas dos problemas sociais da época.
A Constituição de 1891 foi promulgada pela
Constituinte que elegeu o Marechal Deodoro presidente da A Revolta dos Tenentes
República. Seu governo, no entanto, não resistiria à crise
política interna. Pressionado por adversários e aliados, Somente nos anos vinte amadureceram as formas de
Deodoro decretou estado de sítio e dissolveu o Congresso resistência organizadas contra o domínio das oligarquias
em 3 de novembro do mesmo ano. Vinte dias depois, num paulistas e mineiras e sua política de socialização das
contra-golpe, foi deposto pelos militares. perdas do café. Em 1922, a Semana de Arte Moderna pôs
Após assumir a presidência, Floriano Peixoto, vice de a contestação na ordem do dia.
Deodoro enfrentou, em 1893, a Revolução Federalista no a Reação Republicana lançou Nilo Peçanha contra
Rio Grande do Sul e a Revolta da Armada. A primeira Artur Bernardes, candidato do regime; no dia 25 de março
contrapôs “Pica-Paus” e “Maragatos” pelo governo gaúcho; foi fundado o Partido Comunista do Brasil (PCB). Após a I
a segunda foi a última tentativa sangrenta de restauração Guerra Mundial, o Clube Militar voltou a ser o articulador
da monarquia no Brasil. A repressão a ambas valeu a político.
alcunha de “Marechal de Ferro” ao presidente Floriano. O Tenentismo se expôs, então, como principal ameaça
à hegemonia coronelista. Era um movimento
A REPUBLICA OLIGÁRQUICA essencialmente militar, elitista e reformista, além de
OU DO CAFÉ COM LEITE (1896-1930) ideologicamente heterogêneo. Manifestou-se primeiro no
episódio da Revolta dos 18 do Forte Copacabana, em
Prudente de Morais, eleito pelo voto direto, foi o primeiro 1922. Depois fez de São Paulo um campo de batalha na
presidente civil. Teve seu governo marcado pela Guerra de Revolução de 1924 e viveu seu apogeu na marcha da
Canudos, entre 1896 e 1897. Coluna Prestes pelo país, entre 1924 e 1927.

Coube Campos Sales e Rodrigues Alves, sucessores de Eram intelectuais, artistas, operários e até latifundiários
Prudente de Moraes, a montagem do regime das e militares se organizando. A vanguarda tenentista sabia
oligarquias. bem o que não queria, sonhava com reformas sociais,
O primeiro renegociou a dívida externa através do políticas e econômicas, mas não tinha clareza de como
Funding Loan, em 1898, e o segundo estabeleceu a executá-las. Foi, assim, útil braço armado na Revolução de
política de valorização do café pelo Convênio de Taubaté 1930.
(1906). Fixavam-se os tempos da hegemonia dos
cafeicultores.
VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE. 159
HISTÓRIA DO MARANHÃO

A REVOLUÇÃO DE 1930

Na promulgação da Constituição de 1934, Vargas foi


eleito indiretamente presidente da República Nova. A época
era de radicalização. Surgiram a Ação Integralista Brasileira
“Problema de salário é caso de polícia”: esta e a Aliança Nacional Libertadora, representando
frase do Presidente Washington Luís ilustra bem a visão respectivamente a vertente nacional do fascismo e uma
das oligarquias agrárias sobre as questões sociais. frente anti-fascista. A cassação da A.N.L. gerou a Intentona
“Façamos a revolução antes que o povo a faça”, foi o Comunista de 1935 e a repressão. Em 1937, uma falsa
clamor do governador mineiro Antônio Carlos prenunciando conspiração comunista, o Plano Cohen, gerou o pretexto
o fim da 1ª República. Era 1930. para o golpe de 10 de novembro: as eleições foram
As oligarquias dissidentes do regime uniram-se na canceladas e o Congresso fechado.
Aliança Liberal e lançaram Getúlio Vargas à presidência
contra o candidato do PRP, Júlio Prestes. A derrota de
Getúlio aproximou-as dos tenentistas e o assassinato de
João Pessoa, vice na chapa da Aliança Liberal,
desencadeou a prepara-ção do golpe final. Em 3 de
outubro, começou a revolta e no dia 24, Washington Luís foi
deposto. Iniciava-se a Era Vargas.

A ERA VARGAS (1930-1945)

O ESTADO NOVO (1937-1945)

A Constituição de 1937 foi outorgada e instituiu um


A Era Vargas criou o Ministério do Trabalho, os regime nacionalista autoritário, baseado no corporativismo.
sindicatos urbanos e sua imagem de “pai dos pobres”. A Os sindicatos atrelados ao governo, a burguesia industrial e
política econômica da nova era caminhou sobre duas as forças armadas sustentavam a ditadura. O
pernas: a queima do café e a industrialização. Assim, Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e a
nasceu o populismo de Getúlio: um regime baseado no Polícia Especial garantiam o controle social. A
Estado paternalista, nos sindicatos atrelados, numa políticia industrialização priorizou o setor de base, através de
trabalhista e em projetos nacionalistas. empresas estatais montadas com financiamentos norte-
Mas em São Paulo, o Movimento Constitucionalista americanos.
de 1932 exigiu a Assembléia Constituinte. A 23 de maio, a O apoio do Brasil aos Aliados na II Guerra Mundial
morte de quatro jovens (Martins, Miragaia, Dráusio, permitiu a industrialização pesada, mas custou o poder a
Camargo), numa manifestação, gerou o M.M.D.C. e a Getúlio. Afinal, os mesmos militares que sustentavam a
mobilização para a guerra. Entre 9 de julho e 1º de outubro, ditadura aqui foram mobilizados na luta contra o fascismo.
travou-se o confronto militar. E a vitória federal gerou a O envio da Força Expedicionária Brasileira (FEB) à Itália
Constituinte de 1933. sinalizou a redemocratização, que derrubou um dos pilares
do tripé de apoio do Estado Novo.

160 VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE.


HISTÓRIA DO MARANHÃO

UDN, liderada pelo deputado e jornalista Carlos Lacerda, os


aliados do governo promoveram a campanha “O Petróleo
é Nosso”, em 1953.

Em 1945, Getúlio concedeu a anistia política, viu


Com a vitória e a fundação da Petrobrás, Vargas tinha
surgirem novos partidos e convocou a Constituinte.
forças para prosseguir seu projeto nacionalista. Na noite de
Organizou o Movimento Queremista para apoiá-lo. Mas a
5 de agosto de 1954, seu inimigo Lacerda sofreu o atentado
conjuntura mundial desfavorável aos regimes ditatoriais e
da rua Tonelero, resultando na morte do major da
as pressões internas, civis e militares (contra o ultra-
Aeronáutica Robem Vaz. As investigações sobre o crime
nacionalismo getulista) o levaram à deposição por militares
revelaram um grande esquema de corrupção e desvio de
no dia 29 de outubro. Morreu o Estado Novo, mas não o
verbas na alta cúpula do governo, liderado por Gregório
populismo getulista.
Fortunato, chefe da segurança pessoal de Getúlio. Acusado
de responsabilidade no crime e sem condições de enfrentar
a crise, Getúlio suicidou-se na manhã de 24 de agosto.

A Constituinte de 1946 abriu a polêmica questão do


desenvolvimento. O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) A morte de Getúlio Vargas gerou tensão nas eleições
defendia o nacionalismo radical, seu aliado Partido Social pro-movidas pelo presidente Café Filho. A vitória de
Democrático (PSD) advogava o desenvolvimentismo, Juscelino Kubitschek (PSD) e João Goulart (PTB) foi
enquanto a anti-populista União Democrática Nacional contestada pela UDN. Em novembro de 1955, o Ministro da
(UDN) preferia o desenvolvimento associado aos Guerra, General Lott, mobilizou o exército para garantir a
investimentos estrangeiros maciços no país. posse de JK e Jango.
No início da Guerra Fria, o governo Dutra cassou o
PCB, legalizado em 1945, e fundou a Escola Superior de
Guerra. Seu Plano SALTE estabeleceu saúde,
alimentação, transportes e energia como prioridades de
desenvolvimento, mas empréstimos e importações deram o
tom de sua gestão.
De volta ao poder pelo voto direto, Getúlio Vargas
fundou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
(BNDE) com a função de gerenciar os investimentos nas Nasceu então o último governo estável
empresas estatais. Para enfrentar a feroz oposição da do regime. Juscelino Kubitschek tinha apoio dos dois
maiores partidos e dos militares e pôde pôr em prática seu
VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE. 161
HISTÓRIA DO MARANHÃO

Plano de Metas desenvolvimentista. O slogan “50 anos Chocou-se frontalmente com a UDN, que o apoiara, e com
em 5” orientou os investimentos em transportes, energia e os militares. A 25 de agosto de 1961, renunciou.
indústria pesada. A indústria automobilística, a criação da
SUDENE (Superintendência para o Desenvolvimento do
Nordeste) e a construção da nova capital, Brasília,
cimentaram a popularidade de JK.

A renúncia de Jânio gerou uma crise entre os militares


contrários e os favoráveis à posse do vice João Goulart. A
saída conciliatória foi o Parlamentarismo. Três Primeiros
Ministros tentaram enfrentar a situação econômica
Mas o lado bom do crescimento econômico não agravada por greves e boicotes.
encobriu os problemas resultantes do programa
desenvolvimentista. A multiplicação da dívida externa, o
disparo da inflação e a desnacionalização de setores da
economia contribuíram para a derrota da dobradinha PSD-
PTB nas eleições presidenciais de 1960. O Plano de Metas
mostrou que não pode haver desenvolvimento sem
crescimento econômico mas o contrário parece possível.
Jânio Quadros, o candidato do “tostão contra o milhão”, No plebiscito de 1963, a República
teve uma ascensão meteórica na política. De vereador a voltou ao Presidencialismo. Jango passou, então, à
presidente, explorou sempre seu formidável carisma como ofensiva contra a inflação, com o Plano Trienal. Propôs um
paladino da honestidade e da austeridade contra a amplo programa de reformas de base (agrária, tributária,
corrupção. educacional, etc.) e procurou limitar as remessas de lucros
das empresas estrangeiras.

Com sua exótica vassoura moralista, chegou ao poder


desprezando partidos e programas. Postura autoritária que
lhe custou caro. Diante das dívidas internas e externas
herdadas do governo anterior, optou por uma política
eqüidistante de comércio exterior. Pretendia estabelecer Em resposta, as conspirações antipopulistas uniram
relações com países socialistas em plena Guerra Fria. militares, empresários do Instituto de Pesquisas e Estudos
Sociais (IPES) e do Instituto Brasileiro de Ação

162 VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE.


HISTÓRIA DO MARANHÃO

Democrática (IBAD), a UDN e a Agência Central de


Inteligência (CIA) e culminaram no Golpe Militar de 1964.

O general Emílio Garrastazu Médici, terceiro presidente


militar, impôs o 1º Plano Nacional de Desenvolvimento
(PND) sob orientação da Escola Superior de Guerra. A
acumulação de capital foi realizada através de
investimentos estrangeiros e estatais.
O arrocho salarial garantiu mão-de-obra barata. A
repressão calou as oposições e as esquerdas armadas. Era
a política de “segurança e desenvolvimento” para “fazer o
bolo econômico crescer”, como dizia o Ministro Delfim
Netto. “Brasil, ame-o ou deixe-o” era a propaganda ufanista
O governo Castelo Branco buscou restabelecer a ordem
política e econômica, preparando os alicerces do “milagre do país tri-campeão de futebol em 1970.
brasileiro”. Criou o Conselho de Segurança Nacional e o
Serviço Nacional de Informações para a controle dos
setores mais radicais dos setores dissidentes. Em seguida,
instituiu o Banco Nacional da Habitação e o Instituto
Nacional de Previdência Social para resgatar apoio das
classes médias.
Depois, através do Banco Central e do P.A.E.G.
(Programa de Ação Econômica do Governo), abriu a
economia ao capital estrangeiro, aumentou investimentos
estatais e arrochou salários.
Finalmente, o Ato Institucional nº 2 (AI-2) extinguiu os
partidos políticos, permanecendo apenas a Aliança
Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento
Democrático Brasileiro (MDB). Promulgada a Constituição
de 1967, a “linha dura” militar passou a controlar o poder,
com o Marechal Costa e Silva e depois com os general
Médici.
Sem sindicatos livres, sem partidos e com a imprensa Enquanto isso, a inflação fugia ao controle, a dívida
calada, as últimas trincheiras da oposição foram os externa explodia e a renda se concentrava. Em 1974, o
estudantes, alguns religiosos de esquerda e artistas. Em MDB recebeu uma avalanche de votos nas eleições
1967, Jango, JK e (pasmem!) Carlos Lacerda tentaram legislativas. A Guerra do Vietnã acabou e o apoio externo
articular a Frente Ampla de oposição. As agitações às ditaduras também.
estudantis fizeram a cara de 1968 e a resposta foi o Ato Começou, então, a distensão política do governo
Institucional nº 5 (AI-5). Historicamente, o período seguinte Geisel, que culminou no fim do AI-5, em dezembro de
foi conhecido como os “anos de chumbo”. 1978.O governo do General João Figueiredo foi o da
abertura “lenta, gradual e segura”, planejada por Geisel.
A reforma partidária criou os seguintes partidos: PDS,
(oriundo da ARENA), PTB, PMDB, PT e o PDT.

VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE. 163


HISTÓRIA DO MARANHÃO

Democrático Brasileiro, de oposição. Venceu em 15 de ja-


neiro de 1985, data que simboliza o fim de mais de vinte
anos de ditadura militar.
A tão esperada posse, no entanto, nunca ocorreu. No
dia 14 de março, véspera de assumir o cargo, o ex-
governador de Minas Gerais teve de ser operado às pres-
Em 1984, o deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-
sas no Hospital de Base, em Brasília. Era o início de um
MT) enviou uma proposta de emenda para que fosse resta-
pesadelo que exigiria outras seis intervenções cirúrgicas e
belecido o direito de eleições diretas. A Primeira Emenda
se estenderia até sua morte, anunciada em 21 de abril.
Constitucional nº5 de 1983 ficou conhecida com Emenda
Dante de Oliveira e foi o primeiro passo para que findasse
o Regime Militar (1964-1985). Durante o regime, os presi-
dentes eram eleitos indiretamente, sem consulta popular,
rompendo com o processo democrático.
A Emenda Dante de Oliveira transformou-se em um dos
maiores movimentos políticos para acabar com a repressão
da Ditadura. Conhecido como “Diretas Já”, o movimento
representava a aprovação popular da emenda: segundo
dados do Ibope da época, mais de 80% dos brasileiros e-
ram a favor da emenda.
Em praticamente todas as capitais brasileiras manifes-
tantes do “Diretas Já” saíram às ruas para protestar o fim
da ditadura. No Rio de Janeiro, cerca de 1 milhão de parti-
cipantes se reuniram. Em São Paulo, mais de 1,7 milhão de
manifestantes ocuparam o Vale do Anhangabaú.
Com a morte de Tancredo, assumiu a Presidência seu
vice. Político contraditório, José Sarney havia apoiado o
regime militar, inclusive votando contra a emenda Dante de
Oliveira, que garantiria eleições diretas em 1985. Ainda as-
sim, foi eleito na chapa favorável a redemocratização do
país. Tentando superar esta imagem negativa, Sarney as-
sumiu o governo prometendo cumprir as propostas firma-
das anteriormente por Tancredo. Permitiu que as eleições
para prefeito naquele ano fossem realizadas pelo voto po-
pular.
Sarney encontrou um Brasil arruinado. Os índices de in-
flação eram altíssimos, a população sofria com desempre-
go, miséria e a dívidas externa e interna herdadas do perí-
No dia 25 de abril de 1984 a proposta de emenda foi à odo militar assolavam ainda mais o país.
votação. Para que a emenda constitucional fosse aprovada No início de 1986, o governo lançou um plano econômi-
e diretamente encaminhada para o Senado, era necessário co que visava, principalmente, o controle da inflação. Lide-
mais de 2/3 de aprovação dos deputados. Porém, mesmo rado pelo ministro da Fazenda, Dílson Funaro, o Plano
com a pressão popular, a emenda não foi adiante. Decidiu- Cruzado previa as seguintes medidas: criação de uma no-
se, então, que as eleições presidenciais fossem realizadas va moeda (Cruzado), em substituição ao Cruzeiro que esta-
sem consulta popular, dando prosseguimento ao governo va muito desvalorizado; congelamento do preço das mer-
ditatorial. Mas a Ditadura já estava em desgaste, com a o- cadorias; congelamento de salários, adotando o “gatilho sa-
posição da imprensa, da população e da maioria do Con- larial” (reajuste de salários quando a inflação atingisse valor
gresso Nacional, que pertencia ao PMDB. Em votação no igual ou maior que 20%); fim da correção monetária.
Colégio Eleitoral no dia 15 de janeiro de 1985, o candidato O Plano foi muito criticado. Empresários, prejudicados
do PMDB Tancredo Neves saiu vitorioso. pelo congelamento de preços, indicavam os gastos abusi-
Quando a Emenda Dante de Oliveira foi rejeitada pelo vos do governo como causa da superinflação. A população,
Congresso Nacional, em 1984, um dos líderes do movimen- porém, aprovou a iniciativa do novo presidente. Os consu-
to que incendiara o país em defesa do voto livre sentiu que midores passaram a fiscalizar os preços e a denunciar se
chegara sua hora. Mesmo tendo de concorrer no Colégio houvesse remarcação. Mas a euforia durou pouco. Os pro-
Eleitoral composto em sua maioria por deputados e sena- dutos começaram a sumir das prateleiras, o preço dos alu-
dores do governista Partido Democrático e Social, Tancre- guéis disparou e a inflação voltou a subir. Foram lançados
do Neves lançou-se candidato pelo Partido do Movimento outros planos para combater a inflação: Cruzado I-
164 VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE.
HISTÓRIA DO MARANHÃO

I, Bresser, Verão. Mas todos fracassaram. Sarney deixou a imagem validou a ideia de renovação. Collor acabar com os
presidência em 1990, sem conseguir equilibrar as contas do chamados “marajás”, funcionários públicos com altos salá-
país e a inflação. rios, que só oneravam a administração pública.
Sua primeira medida, ao tomar posse no dia 15 de mar-
ço de 1990, foi anunciar seu pacote de modernização ad-
ministrativa e reestruturação da economia, através do Pla-
no Collor I, que previa, entre outras coisas: volta do Cru-
zeiro como moeda; congelamento de preços e salários;
bloqueio de contas correntes e poupanças no prazo de 18
meses (confisco); demissão de funcionários e extinção de
órgãos públicos;
O objetivo deste plano era conter a inflação e cortar
gastos desnecessários do governo. Porém, estas medidas
não tiveram sucesso, causando profunda recessão, de-
semprego e insatisfação popular. Trabalhadores, empresá-
rios, foram surpreendidos com o confisco em suas contas
bancárias. O governo chegou a bloquear em moeda nacio-
nal o equivalente a 80 bilhões de dólares.
A fim de mostrar seu interesse na redemocratização do O governo Collor também deu início às privatizações
país, Sarney convocou no início de 1987 uma Assembleia das estatais e à redução das tarifas alfandegárias. Com
Constituinte, para elaborar uma nova Constituição. Repre- produtos importados a preços menores, a indústria nacional
sentantes da sociedade acompanharam de perto os traba- percebeu a necessidade de se modernizar e correr atrás do
lhos da Constituinte. O fim da ditadura militar ainda era re- prejuízo. Seis meses após o primeiro pacote econômico,
cente, por isso um dos principais objetivos da Constituição Collor lançou um segundo plano, o Collor II, que também
era estabelecer a democracia no Brasil. Depois de 20 me- previa a diminuição da inflação e outros cortes orçamentá-
ses de trabalhos, discussões, em 05 de outubro de 1988 foi rios. Novamente, o presidente não obteve êxito e só fez
promulgada a nova Constituição do Brasil, que foi apelidada aumentar o descontentamento da população.
“Constituição Cidadã”. A ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, não
O mandato de José Sarney terminou em 1990. No ano suportou a pressão e em maio de 1991 pediu demissão do
anterior foram realizadas as eleições. Depois de 20 anos, o cargo. A esta altura, surgiram várias denúncias de corrup-
povo pode ir às urnas para eleger seu candidato à presi- ção na administração Collor, envolvendo ministros, amigos
dente. Sarney não se opôs à campanha eleitoral, em ne- pessoais e principalmente Paulo César Farias, ex-
nhum momento. Mesmo porque este direito estava garanti- tesoureiro da campanha e amigo do presidente, acusado de
do na Constituição, promulgada em 1988. Seu sucessor, tráfico de influência, lavagem e desvio de dinheiro. Em en-
eleito pelo voto popular, foi Fernando Collor de Mello. trevista à revista Veja, Pedro Collor, irmão do presidente,
revelou os esquemas que envolviam também Fernando
Collor. A notícia caiu como uma bomba. A população, já in-
satisfeita com a crise econômica e social, revoltou-se contra
o governo.

Após quase trinta anos sem eleições diretas para Presiden-


te da República, os brasileiros puderam votar e escolher
um, entre os 22 candidatos que faziam oposição presidente
José Sarney. Após uma campanha agitada, com muitas
trocas de acusações, Collor venceu seu principal adversá- Ficou conhecido no Brasil inteiro, durante o início da dé-
rio, Luís Inácio Lula da Silva. Collor conquistou a simpatia cada de 90, o movimento dos "caras-pintadas", que con-
da população, que o elegeu com mais de 42% dos votos sistiu em multidões de jovens, adolescentes em sua maiori-
válidos. Seu discurso era de modernização e sua própria a, que saíram às ruas de todo o país com os rostos pinta-

VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE. 165


HISTÓRIA DO MARANHÃO

dos em protesto devido aos acontecimentos dramáticos que de real de valor (URV) para todos os produtos, desvincula-
vinham abalando o governo do então presidente Fernando da da moeda vigente, o Cruzeiro Real.
Collor de Mello. Desta forma, cada URV correspondia a US$ 1. Posteri-
Foi instalada uma CPI (Comissão Parlamentar de Inqué- ormente a URV veio a ser denominada “Real”, a nova moe-
rito), a fim de investigar a participação de Collor da brasileira. O Plano Real foi eficiente, já que proporcionou
no esquema chefiado por PC Farias. Num ato desesperado o aumento do poder de compra dos brasileiros e o controle
para salvar seu mandato, Collor fez um discurso em rede da inflação.
nacional e pediu para que os brasileiros fossem às ruas,
vestidos de verde e amarelo, em gesto de apoio ao presi-
dente. Realmente, o povo foi às ruas, mas vestido de preto
e exigindo o Impeachment de Collor.
No dia 29 de setembro de 1992 a Câmara dos Deputa-
dos se reuniu para votar o impeachment do presidente, ou
seja, sua destituição do cargo. Foram 441 votos a favor do
impeachment e somente 38 contra. Era o fim do “caçador
de marajás”. No lugar de Collor, assumiu o vice-
presidente, Itamar Franco.

Mesmo tendo sofrido as consequências das investigações


da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso
Nacional, entre 1993 e 1994, em virtude de denúncias de
irregularidades no desenvolvimento do Orçamento da Uni-
ão, Itamar Franco terminou seu mandato com um grande
índice de popularidade. Uma prova disso foi o seu bem-
sucedido apoio a Fernando Henrique Cardoso para a dispu-
ta eleitoral.
Fernando Henrique governou o Brasil durante oito anos,
de 1995 a 2002. Foi o primeiro presidente da República a
governar por dois mandatos consecutivos. FHC teve notori-
Itamar Franco assumiu a presidência após o Impeach- edade com o Plano Real. Como ministro da Fazenda no
ment de Fernando Collor de Mello de forma interina entre Governo de Itamar Franco, ele reuniu um grupo de econo-
outubro e dezembro de 92, e em caráter definitivo em 29 de mistas que elaborou um plano capaz de estabilizar a eco-
dezembro daquele ano. O Brasil vivia um dos momentos nomia. Com uma moeda estável, o país pode voltar a cres-
mais difíceis de sua história: recessão prolongada, inflação cer nos governos subsequentes. Um ano depois, FHC era
aguda e crônica, desemprego, etc. Em meio a todos esses eleito Presidente da República já no primeiro turno. Derro-
problemas e o recém Impeachment de Fernando Collor de tou seu principal adversário, Luís Inácio Lula da Silva, com
Mello, os brasileiros se encontravam em uma situação de mais de 54% dos votos válidos.
descrença geral nas instituições e de baixa auto-estima. Fernando Henrique tomou posse em 1º de janeiro de
O novo presidente se concentrou em arrumar o cenário 1995, sucedendo ao presidente Itamar Franco. Com o su-
que encontrara. Itamar procurou realizar uma gestão trans- cesso da nova moeda, a principal preocupação era contro-
parente, algo tão almejado pela sociedade brasileira. Para lar a inflação. Para isto, o governo elevou as taxas de juros
fazer uma gestão tranquila, sem turbulências, procurou o da economia. Outra iniciativa de destaque de FHC foi priva-
apoio de partidos mais à esquerda. tizar empresas estatais, como a Vale do Rio Doce e Siste-
Em abril de 1993, cumprindo com o previsto na Consti- ma Telebrás. Enfrentou muitas críticas de vários setores da
tuição, o governo fez um plebiscito para a escolha da forma sociedade, principalmente de partidos de oposição, como o
e do sistema de governo no Brasil. O povo decidiu manter PT.
tudo como estava: escolheu a República (66% contra 10% Surgiram muitas denúncias relacionadas às privatiza-
da Monarquia) e o Presidencialismo (55% contra 25% do ções, de favorecimentos para determinadas empresas in-
Parlamentarismo). ternacionais na compra das estatais. Porém, não impediram
No governo de Itamar Franco foi elaborado o mais bem- o plano do governo de levantar verbas para promover as
sucedido plano de controle inflacionário da Nova República: reformas necessárias no plano político. Em 1997, foi apro-
o Plano Real. Montado pelo seu Ministro da Fazenda, Fer- vada pelo Congresso uma emenda constitucional permitin-
nando Henrique Cardoso, o plano visava criar uma unida- do a reeleição para cargos executivos: Presidente da Re-
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HISTÓRIA DO MARANHÃO

pública, Governadores e Prefeitos. Manobra política que dato do ex-presidente FHC e em 2006, quando foi reeleito
beneficiaria FHC nas eleições de 1998. Outra vez o gover- na realização de um segundo turno contra Geraldo Alckmin,
no foi acusado de corrupção, por compra de parlamentares da coligação PSDB/PFL. A eleição de 2002 foi surpreen-
em troca do voto favorável à proposta de reeleição. A opo- dente, o então candidato Lula conquistou mais de 58 mi-
sição tentou criar CPIs (Comissão Parlamentar de Inquéri- lhões de votos, atingindo um índice de aprovação não al-
to) para investigar as denúncias, mas não houve sucesso. cançado em nenhuma de suas três tentativas anteriores.
Calcado na estabilidade econômica e controle da infla- Seu mandato caracterizou-se pela não interrupção da
ção, Fernando Henrique conseguiu se reeleger, em 1998. estabilidade econômica do governo anterior, manutenção
Disputou a eleição e venceu novamente no primeiro turno. da balança comercial com um superávit – quando há ex-
Entretanto, seu segundo mandato começou em meio a cri- cesso da receita sobre a despesa num orçamento -, em fa-
ses. O país estava mergulhado em uma recessão econômi- se de crescimento, e intensas negociações com a Organi-
ca. Para controlar a inflação, as medidas desestimularam o zação Mundial do Comércio (OMC). Obteve êxito com a
consumo interno e, consequentemente, elevaram o desem- diminuição, em cerca de 168 bilhões de reais, da dívida ex-
prego. terna, porém não conseguiu frear o aumento da dívida in-
terna que pulou do patamar de 731 bilhões de reais no ano
de 2002 para um trilhão de reais em fevereiro de 2006.

Para piorar, uma crise internacional atingiu o Brasil no


início de 1999. Os investidores, receosos, tiraram bilhões
de dólares do Brasil. Não houve como manter a paridade No campo da política fiscal e monetária, no entanto, o
Dólar/Real. O governo foi obrigado a desvalorizar a moeda governo se mostrou relutante em fazer grandes transforma-
e também recorrer ao FMI (Fundo Monetário Internacional). ções, optando pela manutenção do estado centralizador;
Com os empréstimos do FMI em mãos, teve de adotar um facultou ao Banco Central a autonomia política para manter
rígido controle sobre os gastos públicos, diminuir investi- a taxa de inflação sob controle, seguindo o objetivo deter-
mentos públicos e elevar ainda mais as taxas de juros. minado pelo governo.
Em 2000, foi criada a Lei de Responsabilidade Fiscal O governo Lula empregou grande parte do orçamento
(Lei Complementar 101), que contribui de forma expressiva em programas sociais, dentre eles:
para o controle das contas públicas em todo o país. a) Bolsa Família: instituído no ano de 2004, reformulado e
Em 2001, o governo se viu abalado novamente, desta vez fundido em um só programa de transferência de renda, pro-
com uma crise política. Três senadores da base aliada fo- vê famílias que se encontram em estado de pobreza e tam-
ram desmascarados com uma série de denúncias e acaba- bém as que estão em um nível baixíssimo de pobreza. Foi
ram renunciando ao mandato: Jader Barbalho, Antonio Car- o programa mais importante do governo Lula. Segundo le-
los Magalhães e José Roberto Arruda. vantamentos estatísticos, cerca de 15 milhões de famílias já
Ainda em 2001, ocorreu o chamado “apagão”. Foi uma foram contempladas.
crise nacional que afetou o fornecimento e a distribuição de b) Luz para todos: criado em novembro de 2003 com o ob-
energia elétrica. A população teve que reduzir o consumo jetivo de proporcionar energia elétrica a 10 milhões de bra-
de energia. Foi estipulada uma meta mínima de consumo, sileiros moradores de áreas rurais, até o ano de 2008, con-
que todos deveriam cumprir: residências, indústrias, comér- cedendo a todos os brasileiros o direito à luz.
cio, etc. c) ProUni: Instituído em 2004, o Programa Universidade
Luiz Inácio Lula da Silva participou de várias eleições para Todos tem como meta possibilitar a admissão de jo-
antes de subir a rampa do Palácio do Planalto como chefe vens – com baixa renda - no ensino superior, por meio de
maior da Nação. Candidatou-se no ano de 1989 – derrota- bolsas de estudo integrais ou parciais. São contemplados
do por Fernando Collor de Mello -, em 1994 e 1998 – ven- os estudantes que cursam a graduação em escolas priva-
cido por Fernando Henrique Cardoso. Em 2002 saiu vitorio- das de nível superior. A seleção é feita levando-se em con-
so das eleições na corrida contra José Serra, então candi-
VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE. 167
HISTÓRIA DO MARANHÃO

sideração o resultado final dos estudantes no Enem – Exa- A reeleição de Dilma no segundo turno da eleição presi-
me Nacional do ensino Médio. dencial de 2014 garantiu-lhe o direito a um segun-
O pior aspecto do governo Lula, contudo, foram os su- do mandato eletivo presidencial que teve início em 1º. de
cessivos escândalos políticos. Na oposição, o PT se mos- janeiro de 2015 e foi temporariamente encerrado por seu
trava como uma alternativa ao fisiologismo político, o corpo- afastamento do governo, em 12 de maio de 2016. Seu afas-
rativismo e a corrupção que reinava entre os partidos. Uma tamento foi consequência da instauração de processo de
vez no poder, aderiu às mesmas práticas. O “mensalão”, Impeachment pelo Senado Federal.
em 2005, foi o divisor de águas na era Lula. O esquema Em dezembro de 2015 o presidente da Câmara dos De-
envolvia o pagamento de propinas a parlamentares em tro- putados, Eduardo Cunha, acolheu o pedido
ca de apoio ao governo em votações no Congresso. Na é- de impeachment contra Dilma, que havia sido protocolado
poca, o presidente contava com apenas 31% de aprovação. pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína
As denúncias derrubaram o principal ministro de Lula, José Paschoal, e entregue a Cunha pouco mais de dois meses
Dirceu (Casa Civil), e atingiram toda a cúpula do PT. No antes. No requerimento original foram incluídas denúncias
segundo mandato, Lula refez sua base política e “construiu” de decretos assinados pela presidente em 2015, para libe-
a candidata Dilma Rousseff para sucedê-lo no cargo. rar R$ 2,5 bilhões, sem o aval do Congresso, nem previsão
no orçamento. Essa operação é conhecida como pedalada
fiscal, e caracterizaria improbidade administrativa.
O acolhimento do pedido de impeachment foi conside-
rado por parte da mídia como uma retaliação de Eduardo
Cunha contra o PT e a presidente, diante da ameaça contra
Cunha no Conselho de Ética, onde é investigado por supos-
ta participação no esquema denunciado na Operação Lava
Jato.

No dia 31 de outubro de 2010, Dilma Rousseff foi eleita


presidente do Brasil, cargo a ser ocupado pela primeira vez
na história do país por uma mulher. Dilma Roussef obteve
55.752.529 votos, que contabilizaram 56,05% do total de
votos válidos.
Mesmo com a estabilidade macro-econômica presentes
nos governos petistas, que reduziu as taxas de inflação e
de juros e aumentou a renda per capita, colocando o país Deflagrada em 2014 pela Justiça Federal, a Operação
em uma lista dos países mais promissores do mundo, ao Lava Jato investiga um grande esquema de lavagem e des-
lado de China, Rússia, Índia e África do Sul, as diferenças vio de dinheiro no país. As investigações que deram origem
sociais ainda existem entre a população urbana e rural, os a essa operação começaram em 2009 com a apuração de
estados do norte e do sul, os pobres e os ricos. Alguns dos um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo o ex-
desafios a serem alcançados incluem a necessidade de deputado federal José Janene (Londrina-PR) e os doleiros
promover melhor infraestrutura, modernizar o sistema de Alberto Youssef e Carlos Habib Chater. Nas primeiras fases
impostos, as leis de trabalho e reduzir a desigualdade de da apuração, foi identificada uma rede de doleiros atuava
renda. em várias regiões do Brasil por meio de empresas de fa-
A economia contém uma indústria e agricultura mista, chada, contas em paraísos fiscais e contratos de importa-
que são cada vez mais dominadas pelo setor de serviços. ção fictícios. De acordo com o Ministério Público Federal,
As administrações recentes expandiram a concorrência em nas duas primeiras fases da operação, foram executados
portos marítimos, estradas de ferro, em telecomunicações, 119 mandatos de busca e apreensão, 30 mandatos de pri-
em geração de eletricidade, em distribuição do gás natural são e 25 mandatos de condução coercitiva. Entre os pre-
e em aeroportos com o alvo de promover o melhoramento sos, estavam Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras)
da infra-estrutura. O Brasil começou à voltar-se para as e Alberto Youssef.
exportações em 2004, e apesar de um real valorizado Com o aprofundamento das investigações, favorecido
atingiu em 2007 exportações de US$ 160,649 bilhões, pelas delações premiadas, descobriu-se um grande es-
importações de US$ 120,610 bilhões, o que coloca o país quema de corrupção envolvendo a Petrobras (maior em-
entre os 21 maiores exportadores do planeta. presa pública do país), vários políticos do pa-
ís (principalmente do PP, PT e PMDB), as maiores emprei-
teiras brasileiras (Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS,
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HISTÓRIA DO MARANHÃO

Camargo Correia, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, - Foi a de maior vigência (durou mais de 65 anos)
Mendes Júnior, Engevix e UTC) e diversas empresas de - Obs.: foi emendada em pelo Ato Adicional de 1834,
outros ramos. durante o período regencial, para proporcionar mais
Uma das consequências dessa operação é o agrava- autonomia para as províncias. Essa emenda foi
mento da crise política e econômica no país causado pela cancelada pela lei interpretativa do Ato Adicional, em
insatisfação popular e pela perda de credibilidade do país a 1840.
nível internacional. Com a descoberta desse grande es-
quema de corrupção, elevou-se a insatisfação popular com CONSTITUIÇÃO DE 1891
o desenvolvimento da política brasileira e houve a intensifi-
cação de protestos de opositores ao governo, que pedem a
renúncia ou o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Além disso, em razão dessa instabilidade política e da des-
coberta do esquema de desvio e lavagem de dinheiro públi-
co, o país perdeu credibilidade internacional.
CONTEXTO: Logo após a Proclamação da
República predominaram interesses ligados à oligarquia
latifundiária, com destaque para os cafeicultores. Essas
elites influenciando o eleitorado ou fraudando as eleições
através do "voto de cabresto" impuseram seu domínio
sobre o país ou coronelismo.

A CONSTITUIÇÃO DE 1824 Características


- Nome do país – Estados Unidos do Brasil
- Carta promulgada.
- Estado Federativo / República Presidencialista
- Três poderes (extinto o Poder Moderador)
- Voto Universal (para todos aptos / muitas exceções, ex.
CONTEXTO: Após a Independência do analfabetos)
Brasil ocorreu uma intensa disputa entre as principais - Estado Laico (separado da Igreja)
forças políticas pelo poder: O Partido Brasileiro, - Modelo externo – constituição norte-americana
representando principalmente a elite latifundiária escravista, - Obs: as províncias viraram estados, o que pressupõe
produziu um anteprojeto, apelidado "constituição da maior autonomia.
mandioca", que limitava a poder imperial (anti absolutista) e
discriminava os portugueses (anti lusitano). CONSTITUIÇÃO DE 1934
Dom Pedro I, apoiado pelo Partido Português, formado
por ricos comerciantes portugueses e altos funcionários
públicos, em 1823 dissolveu a Assembléia Constituinte
brasileira e no ano seguinte impôs seu próprio projeto, que
se tornou nossa primeira constituição.
CONTEXTO: Os primeiros anos da Era de
Características Vargas caracterizaram-se por um governo provisório (sem
- Nome do país – Império do Brasil constituição). Só em 1933, após a derrota da Revolução
- Carta outorgada (imposta, apesar de aprovada por Constitucionalista de 1932, em São Paulo, é que foi eleita
algumas câmaras municipais da confiança de D.Pedro a Assembléia Constituinte que redigiu a nova constituição.
I).
- Estado centralizado / Monarquia hereditária e Características
constitucional. - Nome do país – Estados Unidos do Brasil
- Quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e - Carta promulgada.
Moderador (exercido pelo imperador). - Reforma Eleitoral – introduzidos o voto secreto e o voto
- O mandato vitalício dos senadores. feminino.
- Voto censitário e em dois graus (eleitores de paróquia / - Criação da Justiça do Trabalho e Leis Trabalhistas –
eleitores de província) jornada de 8 horas diárias, repouso semanal, férias
- Estado confessional (ligado à Igreja – catolicismo como remuneradas (13º salário só mais tarde com João
religião oficial). Goulart).
- Modelo externo – monarquias européias restauradas - Foi a de menor duração / já em 1935, Vargas suspendia
(após o Congresso de Viena); suas garantias através do estado de sítio.
VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE. 169
HISTÓRIA DO MARANHÃO

- Obs.: Vargas foi eleito indiretamente para a presidência. relações patrão x empregado) com medidas
liberais(favorecimento ao empresariado).
CONSTITUIÇÃO DE 1937 - lObs.: Através da emenda de 1961 foi implantado o
Parlamentarismo, com situação para a crise sucessória
após a renúncia de Jânio Quadros. Em 1962, através de
plebiscito, os brasileiros optam pela volta do
presidencialismo.

CONSTITUIÇÃO DE 1967
CONTEXTO: Como seu mandato
terminaria em 1938, para permanecer no poder Vargas deu
um golpe de estado tornando-se ditador. Usou como
justificativa a necessidade de poderes extraordinários para
proteger a sociedade brasileira da ameaça comunista
("perigo vermelho") exemplificada pelo Plano Cohen (falso CONTEXTO: Essa constituição na
plano comunista inventado por seguidores de Getúlio).O passagem do governo Castelo Branco para o Costa e Silva,
regime implantado, de clara inspiração fascista, ficou contexto no qual predominavam o autoritarismo e o
conhecido como Estado Novo. arbítrio político. Documento autoritário e constituição de
1967 foi largamente emendada em 1969, absorvendo
Características instrumentos ditatoriais como os do AI-5 (ato institucional nº
- Nome do país – Estados Unidos do Brasil. 5) de 1968.
- Carta outorgada (imposta)
- Inspiração fascista – regime ditatorial, perseguição e Características
opositores, intervenção do estado na economia. - Nome do país – República Federativa do Brasil
- Abolidos os partidos políticos e a liberdade de imprensa. - Documento promulgado (foi aprovado por um
- Mandato presidencial prorrogado até a realização de um Congresso Nacional mutilado pelas cassações)
plebiscito (que nunca foi realizado) - Confirmava os Atos Institucionais e os Atos
- Modelo externo – Ditaduras fascistas (ex., Itália, Complementares do governo militar.
Polônia, Alemanha) - Obs.: reflexo da conjuntura de "guerra fria" na qual
- Obs.: Apelidada de "polaca" (inspirada na Constituição sobressaiu a "Doutrina da Segurança Nacional"
Polonesa) (combater os inimigos internos rotulados de subversivos
(opositores de esquerda).
CONSTITUIÇÃO DE 1946
CONSTITUIÇÃO DE 1988

CONTEXTO: Devido ao processo de


redemocratização posterior a queda de Vargas fazia-se
CONTEXTO: "Constituição Cidadã".
necessária uma nova ordem constitucional. Daí o
Desde os últimos governos militares (Geisel e Figueiredo)
Congresso Nacional, recém eleito, assumir tarefas
nosso país experimentou um novo momento de
constituintes.
redemocratização, conhecido como abertura. Esse
processo se acelerou a partir do governo Sarney no qual o
Características
Congresso Nacional produziu nossa atual constituição.
- Nome do país – Estados Unidos do Brasil
- Carta promulgada.
- Características
- Mandato presidencial de 5 anos (quinqüênio)
Nome do país – República Federativa do Brasil
- Ampla autonomia político-administrativa para estados e
- Carta promulgada.
municípios.
- Reforma eleitoral (voto para analfabetos e para
- Defesa da propriedade privada (e do latifúndio)
brasileiros de 16 e 17 anos).
- Assegurava direito de greve e de livre associação
- Terra com função social (base para uma futura reforma
sindical
agrária?)
- Garantia liberdade de opinião e de expressão.
- Combate ao racismo (sua prática constitui crime
- Contraditória na medida em que conciliava resquícios
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão)
do autoritarismo anterior (intervenção do Estado nas

170 VOCÊ FAZ. VOCÊ ACONTECE.


HISTÓRIA DO MARANHÃO

- Garantia aos índios da posse de suas terras (a serem


demarcadas)
- Novos direitos trabalhistas – redução da jornada
semanal, seguro desemprego, férias remuneradas
acrescidas de 1/3 do salário, os direitos trabalhistas
aplicam-se aos trabalhadores urbanos e rurais e se
estendem aos trabalhadores domésticos.
- Obs.: Em 1993, 5 anos após a promulgação da
constituição, o povo foi chamado a definir, através de
plebiscito, alguns pontos sobre os quais os constituintes
não haviam chegado a acordo, forma e sistema de
governo. O resultado foi a manutenção da república
presidencialista.

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