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História de Alagoas

A história de Alagoas se inicia antes do descobrimento do Brasil pelos


portugueses, o estado era povoada pelos índios caetés. A costa do atual
Estado de Alagoas, reconhecida desde as primeiras expedições portuguesas,
desde cedo também foi visitada por embarcações de outras nacionalidades
para o escambo de pau-brasil (Caesalpinia echinata).
Quando da instituição do sistema de Capitanias Hereditárias (1534), integrava
a Capitania de Pernambuco, e a sua ocupação remonta à fundação da vila do
Penedo (1545), às margens do rio São Francisco, pelo donatário Duarte
Coelho Pereira, que incentivou a fundação de engenhos na região. Palco do
naufrágio da Nau Nossa Senhora da Ajuda e subsequente massacre dos
sobreviventes, entre os quais o Bispo D. Pero Fernandes Sardinha,
pelos Caeté (1556), o episódio serviu de justificativa para a guerra de
extermínio movida contra esse grupo indígena pela Coroa portuguesa. Ao se
iniciar o século XVII, além da lavoura de cana-de-açúcar, a região de Alagoas
era expressiva produtora regional
de farinha de mandioca, tabaco, gado e peixe seco, consumidos na Capitania
de Pernambuco. Durante as invasões holandesas do Brasil (1630-1654), o seu
litoral se tornou palco de violentos combates, enquanto que, nas serras de seu
interior, se multiplicaram os quilombos, com os africanos evadidos dos
engenhos de Pernambuco e da Bahia. Palmares, o mais famoso, chegou a
contar com vinte mil pessoas no seu apogeu. Constituiu-se em a Comarca de
Alagoas em 1711, e foi desmembrado da Capitania de Pernambuco (Decreto
assinado pelo Rei de Portugal, Dom João VI, em 16 de setembro de 1817),
dada a importância de Alagoas para a Corte Portuguesa. O seu primeiro
governador, Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, assumiu a função a 22 de
janeiro de 1819.
Durante o Brasil Império (1822-1889), sofreu os reflexos de movimentos como
a Confederação do Equador (1824) e a Cabanagem (1835-1840). A Lei
Provincial de 9 de dezembro de 1839 transferiu a capital da Província da
cidade de Alagoas (hoje Marechal Deodoro), para a vila de Maceió, então
elevada a cidade.
A primeira Constituição do Estado foi assinada em 11 de junho de 1891, em
meio a graves agitações políticas que assinalaram o início da vida republicana.
Os dois primeiros presidentes da República do Brasil, Deodoro da
Fonseca e Floriano Peixoto, foram alagoanos.[2] os quais receberam
homenagens ao terem seus nomes vinculados as cidades de, Marechal
Deodoro - Alagoas (homenagem a Marechal Deodoro da Fonseca)
e Florianópolis - Santa Catarina (homenagem a Marechal Floriano Peixoto).

Primeiros habitantes
Por volta do século XVI, o litoral do atual estado de Alagoas foi invadido por
povos de língua tupi procedentes amazônicos. Eles expulsaram os antigos
habitantes, falantes de línguas do tronco linguístico macro-jê, para o interior do
continente. No século XVI, quando os primeiros europeus chegaram ao litoral
de Alagoas, ele era habitado pela nação tupi dos caetés.

Chegada dos europeus


Barra Grande deve ter sido o primeiro ponto do território das Alagoas visitado
pelos descobridores portugueses, por ocasião da viagem de Américo Vespúcio,
em 1501. Embora não haja referência àquele porto, excelente para a acolhida
de navios, como a expedição vinha do norte para o sul, cabe crer que tenha
ocorrido ali o primeiro contato com a terra alagoana. A 29 de setembro,
Vespúcio assinalou um rio a que chamou São Miguel, no território percorrido; a
4 de outubro, denominou São Francisco o rio então descoberto, hoje limite de
Alagoas com Sergipe.
Sem sombra de dúvida, nas décadas seguintes, os franceses andaram pela
costa alagoana, no tráfico do pau-brasil com os nativos dos arredores. Até hoje,
o porto do Francês documenta a presença, ali, daquele povo.
Duarte Coelho, primeiro donatário da capitania de Pernambuco,[5] realizou uma
excursão ao sul; não há documentos que a comprove, mas há evidências de
que tenha sido realizada em 1545 e de que dela resulte a fundação de Penedo
- Alagoas (patrimônio artístico e cultural de grande valor), tendo sido palco de
importantes acontecimentos do Brasil Colonial), às margens do rio São
Francisco.
Em 1556, voltava da Bahia para Portugal o bispo dom Pero Fernandes
Sardinha, quando seu navio naufragou defronte da enseada do hoje pontal do
Coruripe. Sardinha foi morto e devorado pelos caetés, uma das numerosas
tribos indígenas então existentes na região. Perdura a crença popular de que a
ira divina secou e esterilizou todo o chão manchado pelo sangue do religioso.
Para vingá-lo, Jerônimo de Albuquerque comandou uma expedição guerreira
contra os caetés, destruindo-os quase completamente e escravizando os
sobreviventes.
Em 1570, uma segunda bandeira enviada por Duarte Coelho, comandada por
Cristóvão Lins, explorou o norte de Alagoas, onde fundou Porto Calvo e cinco
engenhos, dos quais subsistem dois, o Buenos Aires e o Escurial. Neste último
repousou, em 1601, o corsário inglês Anthony Knivet, que viajara por terra após
fugir da Bahia, onde estivera prisioneiro dos portugueses.

A guerra holandesa

Retrato anônimo de Filipe Camarão, século XVII, Museu do Estado de


Pernambuco.
No princípio do século XVII, Penedo, Porto Calvo e Alagoas já eram freguesias,
[13]
 admitindo-se que tais títulos lhes tivessem sido conferidos ainda no século
anterior. Foram vilas, porém, em 1636. Repousando a economia regional
na atividade açucareira, tornaram-se os engenhos de açúcar os núcleos
principais da ocupação da terra. A partir de 1630, Alagoas, atingida
pela invasão holandesa, teve povoados, igrejas e engenhos incendiados e
saqueados.[10]
Os portugueses reagiram duramente. Batidos por sucessivos reveses,
os holandeses já desanimavam, pensando em retirar-se, quando para eles se
passa o mameluco Domingos Fernandes Calabar, de Porto Calvo. Grande
conhecedor do terreno, orientou os holandeses em uma nova expedição a
Alagoas. Os invasores aportaram à Barra Grande, de onde passaram a vários
pontos, sempre com bom êxito. Em Santa Luzia do Norte, a população,
prevenida, ofereceu resistência. Após encarniçada peleja,
os holandeses recuaram e retornaram a Recife. Mas, caindo em seu poder o
arraial do Bom Jesus, entre Recife e Olinda, obtiveram várias vitórias.
Alagoas, Penedo e Porto Calvo: eis os pontos principais onde se trava a luta
em terras alagoanas. Por fim, os portugueses retomaram Porto Calvo e
aprisionaram Calabar, que morreu na forca em 1635. Clara Camarão, uma
porto-calvense de sangue indígena, também se salientou na luta contra
os holandeses. Acompanhou o marido, o índio Filipe Camarão, em quase todos
os lances e arregimentou outras mulheres, tomando-lhes a frente.

Guerra dos Palmares


Por volta de 1641, afirmava um chefe holandês estar quase despovoada a
região. Maurício de Nassau pensou em repovoá-la, mas o projeto não foi
adiante. Na época também se produzia fumo em Alagoas, considerado de
excelente qualidade o de Barra Grande. Em 1645, a população participou da
reação nacionalista, integrando-se na luta sob o comando de Cristóvão Lins,
neto e homônimo do primeiro povoador de Porto Calvo. Expulsos os
holandeses do território alagoano, em setembro de 1645, prossegue a
população em sua luta contra eles, já agora, todavia, em território
pernambucano.
Em fins do século XVII intensificam-se as lutas contra os quilombos negros
reunidos nos Palmares. Frustradas as primeiras tentativas de Domingos Jorge
Velho, sobretudo em 1692, dois anos depois o quilombo é derrotado, com o
ataque simultâneo de três colunas: uma, dos paulistas de Domingos Jorge;
outra, de pernambucanos, sob o comando de Bernardo Vieira de Melo; e a
terceira, de alagoanos, comandados por Sebastião Dias. Palmares começara a
formar-se ainda nos fins do século XVI, e resistiu a sucessivos ataques durante
quase um século.

Domingos Jorge Velho.


Um dos maiores redutos de escravos foragidos do Brasil colonial,[23] Palmares
ocupava inicialmente a vasta área que se estendia, coberta de palmeiras,
do cabo de Santo Agostinho ao rio São Francisco. A superfície do quilombo,
progressivamente reduzida com o passar do tempo, concentrar-se-ia, em fins
do século XVII, na ainda extensa região delimitada pelas vilas
de Una e Serinhaém, em Pernambuco, e Porto Calvo, Alagoas e São Francisco
(Penedo), em Alagoas. Os escravos haviam organizado no reduto um
verdadeiro estado, segundo os moldes africanos, com o quilombo constituído
de povoações diversas (mocambos), pelo menos 11, governadas por oligarcas,
sob a chefia suprema do rei Ganga-Zumba. A partir de 1667, amiudaram-se as
entradas contra os negros, a princípio com a finalidade de recapturá-los, em
seguida com a de conquistar as terras de que se haviam apoderado.[22] As
investidas do sargento-mor Manuel Lopes (1675) e de Fernão
Carrilho (1677) seriam desastrosas para os quilombolas, obrigados a aceitar a
paz em condições desfavoráveis. Apesar desse revés, a luta prosseguiria,
liderada por Zumbi, sobrinho de Ganga-Zumba, contra cujas hostes aguerridas,
em seguida a uma primeira expedição punitiva, em 1679, e a diferentes
entradas sem maiores consequências, se voltaria finalmente o bandeirante
paulista Domingos Jorge Velho, para tanto contratado pelo governador de
Pernambuco, João da Cunha Souto Maior. Nos primeiros meses de 1694,
aliado a destacamentos alagoanos e pernambucanos, sob o comando,
respectivamente, de Sebastião Dias e Bernardo Vieira de Melo, Velho liquidaria
a derradeira resistência do quilombo. Zumbi lograria escapar, arregimentando
novos combatentes, mas, traído, ver-se-ia envolvido por forças inimigas, com
cerca de vinte de seus homens, perecendo em luta, a 20 de novembro de
1695. Desaparecia, após mais de sessenta anos, o quilombo dos Palmares, "o
maior protesto ao despotismo que uma raça infeliz traçou à face do mundo", no
dizer de Craveiro Costa.

Criação da comarca
Já então apresentavam as Alagoas indícios de prosperidade e
desenvolvimento, quer do ponto de vista econômico, quer do cultural. Sua
principal riqueza era o açúcar, sendo além disso produzidos, embora em menor
escala, mandioca, fumo e milho; couros, peles e pau-brasil eram exportados.
As matas abundantes forneciam madeira para a construção de naus. Nos
conventos de Penedo e das Alagoas os franciscanos mantinham cursos e
publicavam sermões e poesias. Tudo isso justificou o ato régio de 9 de outubro
de 1710, criando a comarca das Alagoas, que somente se instalou em
1711. Daí em diante, a organização judiciária restringia o arbítrio feudal dos
senhores, e até o dos representantes da metrópole. A comarca desenvolvia-
se. Já em 1730 o governador de Pernambuco, propondo a el-rei a extinção da
decadente capitania da Paraíba, assinalava a prosperidade de Alagoas, com
seus quase cinquenta engenhos, dez freguesias, e apreciável renda para
o erário real. Ao lado do açúcar, incrementou-se a cultura do algodão. Seu
cultivo foi introduzido na década de 1770; em 1778, já se exportavam
para Lisboa amostras de algodão tecido nas Alagoas. Em Penedo e Porto
Calvo, fabricava-se pano ordinário, para uso, sobretudo, de escravos. Em
1754, frei João de Santa Ângela publicou, em Lisboa, seu livro de sermões e
poesias; é a primeira obra de um alagoano. A população crescia, distribuindo-
se em várias atividades. Um cômputo demográfico mandado realizar em 1816
pelo ouvidor Antônio Ferreira Batalha registrava uma população de 89.589
pessoas.

Capitania independente

D. João VI de Portugal
Alagoas torna-se um distrito judiciário em 1711 e se separa oficialmente de
Pernambuco em 1817 para se tornar uma capitania independente, decreto
assinado pelo Rei de Portugal, Dom João VI. Esta separação se deu, dada a
importância de Alagoas para a Corte Portuguesa. Do ponto de vista econômico,
Alagoas possuía a cultura da cana de açúcar, latifúndios, fazia divisa
estrategicamente com a Bahia e Pernambuco (onde estava estourando o
movimento republicano, que assumiu o poder em Pernambuco, traindo a
coroa).
Para o Rei Dom João VI, firmar uma base política em Alagoas era muito
importante para o reino de Portugal, uma vez que economicamente falando era
um distrito rico, tanto que o rei assinou um decreto elevando o distrito de
Alagoas a Capitania de Alagoas (totalmente independente da Capitania de
Pernambuco).
Muitos livros contam de forma errônea a história da emancipação política de
Alagoas, o qual, sempre é contada do ponto de vista dos historiadores
pernambucanos. Alagoas aparece sempre como um sujeito passivo, fruto de
um heroísmo pernambucano, e como um prêmio aos alagoanos por não terem
aderido a revolução de 1817. A Revolução Pernambucana de 1817, também
conhecida como Revolução dos Padres, teve influência na separação do
distrito de Alagoas da Comarca de Pernambuco.
Três anos depois, em 1819, novo recenseamento acusou uma população de
111 973 pessoas. Contavam-se, então, na província, oito vilas.[28] Alagoas já se
constituíra capitania independente de Pernambuco, criada pelo decreto real de
16 de setembro de 1817. A repercussão da Revolução Pernambucana desse
ano não teve relevância na facilitação do processo de emancipação. O ouvidor
Batalha foi o principal mentor do povo alagoano, desmembrando a comarca da
jurisdição de Pernambuco e nela constituiu um governo provisório. Esses atos,
somados a importância de Alagoas para o Reino de Portugal, foram suficientes
para abrir caminhos que levaram o Rei, D. João a sancionar o
desmembramento. Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, governador
nomeado, só assumiu o governo a 22 de janeiro de 1819.
Acentuou-se a partir de então o surto de prosperidade de Alagoas. Em 17 de
agosto de 1831 apareceu o Íris Alagoense, primeiro jornal publicado na
província, assim considerada a partir da independência do Brasil e organização
do império. É certo que os primeiros anos de independência não foram fáceis.
Uma sequência de movimentos abalou a vida provincial: em 1824,
a Confederação do Equador; em 1832-1835, a Cabanada; em 1844, a rebelião
conhecida como Lisos e Cabeludos; em 1849, a repercussão da revolução
praieira.

Mudança da capital

Visconde de Sinimbu
Em 1839 a capital, então situada na velha cidade das Alagoas, foi transferida
para a vila de Maceió, localizada à beira-mar, no caminho entre o norte, o
centro e o sul da província. No processo de mudança defrontaram-se as duas
facções políticas mais importantes, uma chefiada pelo mais tarde visconde de
Sinimbu, outra pelo juiz Tavares Bastos, pai do futuro pensador Tavares
Bastos, nascido, aliás, nesse ano de 1839. Naquele momento a província
possuía oito vilas. Desde 1835 funcionava a assembleia provincial.
No governo da província sucediam-se os presidentes nomeados
pelo imperador, nem sempre interessados pelos destinos da terra, outras vezes
envolvidos por lutas partidárias. A província, contudo, progredia. No campo da
economia, vale salientar a fundação, em 1857, da primeira fábrica alagoana de
tecidos, a Companhia União Mercantil, no distrito de Fernão Velho. Idealizou-a
o barão de Jaraguá, contribuindo dessa forma para o fomento da economia
regional. Trinta anos mais tarde, fundou-se a Companhia Alagoana de Fiação e
Tecidos, que em 15 de outubro de 1888 se instalou em Rio Largo. Seguiu-se a
esta, em 30 de setembro de 1892, a fundação da Companhia Progresso
Alagoano, em Cachoeira. Em seguida, em 1924, nasce a Companhia de Fiação
e Tecidos Norte-Alagoas, a "Fábrica de Saúde". Dessa atividade têxtil
surgiram, com grande prestígio nacional, as toalhas da Alagoana.
Escola Normal de Aracaju.
O ensino recebeu incentivo com a instalação em 1849, do Liceu Alagoano,
destinado ao nível médio; é hoje o Colégio Estadual de Alagoas. O ensino
primário, já beneficiado em 1864 pelo estabelecimento de uma escola normal,
hoje funcionando sob a denominação de Instituto de Educação, recebeu
expressivo impulso com a criação de novas escolas. Com a fundação, em
1869, do Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano, hoje Instituto Histórico
e Geográfico de Alagoas,  desenvolveram-se os estudos históricos e
geográficos. Do final do império ao início da república, incrementou-se o
movimento para a construção de engenhos centrais e aperfeiçoamento técnico
da fabricação de açúcar, o que iria dar origem às usinas, a primeira delas
constituída, todavia, já no período republicano.
Os movimentos abolicionista e republicano dos últimos anos da monarquia
atingiriam a província, o primeiro deles através da Sociedade Libertadora
Alagoana[42] e dos jornais Gutenberg e Lincoln. A campanha abolicionista
mobilizou a intelectualidade alagoana, sem entretanto chegar aos excessos da
violência. Professores e jornalistas atraíram a mocidade para a campanha, e
após a abolição, em 1888, foi um mestre como Francisco Domingues da Silva
que teve a iniciativa da criação de um instituto de ensino profissional, destinado
aos filhos dos ex-escravos.

República

Deodoro da Fonseca, primeiro Presidente da República do Brasil.


Floriano Peixoto, segundo Presidente da República do Brasil, alagoano igual o
seu antecessor.
O movimento republicano, intensificado pela abolição, traduziu-se nas
atividades da imprensa e clubes de propaganda. O mais importante destes foi o
Centro Republicano Federalista, também, de certo, o mais antigo; outros foram
o Clube Federal Republicano e o Clube Centro Popular Republicano
Maceioense, ambos existentes na capital no momento da proclamação. No
interior havia igualmente outros clubes de propaganda. O Gutenberg era o
órgão de imprensa mais veemente na difusão da ideia republicana.
No mesmo dia em que, no Rio de Janeiro, era proclamada a república,
em Maceió assumia a presidência Pedro Ribeiro Moreira, último delegado do
governo imperial para a província. Confirmada a mudança do regime,
organizou-se, a princípio, uma junta governativa, mas, a 19 de novembro,
o marechal Deodoro designou o irmão, Pedro Paulino da Fonseca, para
governar o novo estado. Foi ele, também, o primeiro governador eleito após
promulgada a constituição estadual em 12 de junho de 1891.
Perturbados e incertos decorreram os primeiros dez anos de vida republicana,
na província. Governos se sucediam, nomeados pelo poder central ou eleitos
pelo povo, mas quase sempre substituídos ou depostos. Constituíram-se várias
juntas governativas, numa ou noutra oportunidade. Somente no fim do século
XIX, ou melhor, já nos primeiros anos do século XX, a situação se consolidou
com os governos do barão de Traipu e de Euclides Malta, o primeiro da
chamada "oligarquia Malta", que se prolongou até 1912.[1] Euclides governou
de 1900 a 1903; sucedeu-lhe o irmão, Joaquim Paulo, no período de 1903 a
1906; Euclides voltou ao poder de 1906 a 1909, e, reelegendo-se nesse ano,
permaneceu por mais um triênio, até 1912.
Os 12 primeiros anos do século se assinalaram por lutas partidárias. Contudo,
não houve paralisação nas diferentes atividades do estado. Maceió ganhou
numerosos prédios públicos, como o palácio do governo, inaugurado a 16 de
setembro de 1902, o Teatro Deodoro e o edifício da municipalidade, ainda hoje
existentes. Com a atividade pedagógica de Alfredo Rego, procedeu-se à
reforma do ensino, atualizando a anterior, ainda dos fins do império, orientada
por Manuel Baltasar Pereira Diegues Júnior, criador do Instituto de
Professores, posteriormente chamado Pedagogium, iniciativa pioneira na
época. Nova remodelação do ensino se fez em 1912-1914, sob a orientação do
segundo daqueles educadores. Criou-se o primeiro grupo escolar.
Em 1912, o Partido Democrata conseguiu derrotar a oligarquia Malta depois de
enérgica campanha, em que se registraram ferrenhas lutas de rua, inclusive
com a morte do poeta Bráulio Cavalcanti, em praça pública, quando participava
de um comício democrático. Clodoaldo da Fonseca, governador eleito, embora
não fosse alagoano, ligava-se ao estado através da família: era sobrinho de
Deodoro e filho de Pedro Paulino e, assim, parente do marechal Hermes,
então presidente da república.
As lutas contra os Malta envolveram igualmente os grupos do culto afro-
brasileiro. Xangôs e candomblés, diziam os jornais da oposição, tinham o
governador Malta como estimulador. Entre papéis de orações, de panos com
símbolos desenhados de Ogum, de Ifá, de Exu, foram encontrados retratos dos
chefes democratas da oposição. O grupo que apoiava o governador era
chamado de Leba, por alusão a uma das figuras do orixá dos xangôs. O que
valeu de tudo isso é que o acervo apreendido pela polícia se preservou —
peças, objetos, insígnias e símbolos do culto, conservados no museu do
Instituto Histórico como uma das coleções mais preciosas do culto afro-
brasileiro.
Até 1930, o Partido Democrata manteve a situação, através dos governadores
que sucederam a Clodoaldo. Cada um deles deu uma contribuição para o
progresso do estado. Abriram-se estradas de rodagem em direção ao norte e
ao centro, e posteriormente o trecho de Atalaia e a Palmeira dos Índios,
estrada de penetração para a zona sertaneja; construíram-se grupos escolares
em quase todos os municípios; Maceió renovou-se com a abertura
de ruas e avenidas; combateu-se a criminalidade, principalmente com o
movimento contra o banditismo, que culminaria, em 1938, com o extermínio do
grupo de Lampião; promoveram-se pesquisas petrolíferas. As sucessões
políticas praticamente se fizeram sem luta, pois quase sempre predominava o
candidato único, oriundo do Partido Democrata.
Com a vitória da revolução de outubro de 1930, também sem luta armada no
estado, iniciou-se o sistema de interventores (com breve interrupção entre 1935
e 1937) até 1947, quando a redemocratização do país propiciou a promulgação
de uma nova constituição para o estado. O chamado período
das interventorias foi igualmente fecundo, malgrado a falta de continuidade nas
administrações, quase sempre de curtos períodos. Nesse período, entre outros
fatos marcantes destacaram-se os trabalhos de pesquisa do petróleo;[45] a
construção do porto de Maceió, inaugurado em 1940; o incremento das
atividades econômicas, sobretudo com a diversificação da produção agrícola e
a implantação da indústria leiteira em Jacaré dos Homens, constituindo-se a
cooperativa de laticínios para a produção de leite, manteiga e queijo; o
incremento do ensino rural e a ampliação do cooperativismo. Tal
desenvolvimento possibilitou que, no período da segunda guerra mundial,
Alagoas contribuísse, de maneira efetiva, para o abastecimento de estados
vizinhos, sem prejuízo de sua colaboração para o esforço de guerra.
Constituiu-se, com a criação da usina Caeté, a primeira cooperativa de
plantadores de cana.
As atividades intelectuais também se desenvolveram, não apenas com o
Instituto Histórico, mas ainda com a criação da Academia Alagoana de Letras,
em 1919, e a formação de centros literários de jovens como a Academia dos
Dez Unidos, o Cenáculo Alagoano de Letras e o Grêmio Literário Guimarães
Passos. Em 1931, fundou-se a Faculdade de Direito, e em 1954 a Faculdade
de Ciências Econômicas.Depois, essas duas faculdades, mais as
de odontologia, medicina, engenharia e serviço social, uniram-se para formar
a Universidade Federal de Alagoas.
As lutas políticas estaduais ganharam força na década de 1950. Quando da
tentativa de impeachment do governador Muniz Falcão, em 1957, um tiroteio
na Assembleia Legislativa de Alagoas causou a morte do deputado Humberto
Mendes, sogro do governador. E em toda a segunda metade do século
XX manteve-se a tensão política, enquanto os ganhos oriundos do sal-gema,
do açúcar e do petróleo não beneficiavam a população.
Em 1979, o ex-governador Arnon de Melo, então senador, conseguiu do
governo militar a nomeação de seu filho Fernando Afonso Collor de Melo,
para prefeito de Maceió. Em 1988, um acordo entre Collor, já
então governador, e as usinas de açúcar e álcool, principais contribuintes
do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços no estado, permitiu que
estas reduzissem sua carga tributária A queda de receita agravou a histórica
crise social e econômica do estado e gerou um quadro falimentar que levou o
governo federal a uma intervenção não oficial em 1997. Depois de nomeado
um novo secretário de Fazenda, o governador Divaldo Suruagy se afastou,
cedendo o posto ao vice-governador.

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