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Dia Nacional da Consciência Negra

 
Além do tratamento degradante conferido à população negra escravizada no Brasil entre 1536 e 1888
(ano da libertação dos escravos via Lei Áurea), as heranças da escravidão permaneceram. Quando os
escravos foram libertos, em 13 de maio de 1888, por meio da promulgação da Lei Áurea, após intensa luta
de ativistas abolicionistas, a população negra permaneceu sem qualquer tipo de assistência. Muitos escravos
recém libertos permaneceram nas fazendas onde eram cativos por não terem para onde ir. A grande maioria
dessa população era analfabeta e não sabia outro ofício, além do trabalho intenso e pesado das lavouras. No
Rio de Janeiro, muitos escravos foram procurar as regiões difíceis de erguer construções na cidade (os
morros) para construírem suas moradias, configurando as primeiras favelas.
Marginalizada, sem assistência e com uma vida precária, a população negra no Brasil continuou a
enfrentar muita dificuldade. Os negros eram discriminados socialmente, não tinham acesso aos mesmos
direitos que os brancos e foram perseguidos. Diante dessa realidade, muitas comunidades negras (algumas
inclusive remanescentes de quilombos), além de organizações sociais formadas por pessoas negras nas
cidades, passaram a lutar pela igualdade racial e pela inserção da população negra na comunidade sem
restrição de direitos.
Na década de 1970, ativistas ligados a um grupo de quilombolas situado no Rio Grande do Sul
passaram a reivindicar a celebração do Dia da Consciência Negra no Brasil na data de 20 de novembro. Em
1978, surgiu o Movimento Negro Unificado no País, que passou a promover uma série de ações para pensar
a consciência negra e lutar contra o racismo. Graças ao movimento, o Dia da Consciência Negra tornou-se
uma data lembrada todo ano como representativa da luta da população negra.
A escolha do dia 20 de novembro não foi aleatória, foi feita por ser a data de morte de Zumbi dos
Palmares, no dia 20 de novembro de 1695. Zumbi foi o maior líder do Quilombo dos Palmares. Os
quilombos eram comunidades formadas por negros escravizados que fugiam da tirania de seus senhores e
escondiam-se em lugares de difícil acesso no meio das matas. O Quilombo dos Palmares foi o maior e mais
duradouro dos quilombos registrados pelos estudos historiográficos. Estima-se que a sua formação tenha
durado cerca de 100 anos e abrigado entre 20 mil e 30 mil habitantes. A localização territorial do Quilombo
dos Palmares era na região da Serra da Barriga, atual estado de Alagoas.
Zumbi foi um grande líder e representante da resistência negra em sua época. Fontes antigas apontam
que ele nasceu em Palmares, porém foi capturado e tomado como escravo aos sete anos de idade. Nessa
época, Zumbi teria ficado sob os cuidados de um padre jesuíta, que o batizou e o alfabetizou em português e
latim. Aos quinze anos de idade, Zumbi teria fugido para o Quilombo dos Palmares e, depois, destacado-se
como uma liderança por lá.
Foram muitas as batalhas que os quilombolas de Palmares lutaram contra o exército português e
contra expedições promovidas por capitães e por fazendeiros colonos. Zumbi despontou-se como uma
grande liderança justamente por ser um grande estrategista militar e representante de forte resistência contra
os colonos escravocratas. Em 1694, tropas organizadas pela expedição do bandeirante Domingos Jorge
Velho conseguiram êxito, capturando vários quilombolas. Na expedição, os bandeirantes utilizaram
inclusive artilharia pesada, como canhões de guerra. Dessa maneira, a bandeira capturou o quilombola
Antonio Soares e prometeu-o a liberdade em troca da revelação do esconderijo do líder Zumbi.
Antonio Soares cedeu e traiu o líder de Palmares, revelando o seu esconderijo. Em novembro de
1695, as tropas de Domingos Jorge Velho capturaram Zumbi e mataram-no, degolando a sua cabeça e
expondo-a numa praça. Os habitantes do quilombo que não foram mortos ou capturados tiveram que fugir
do local. Assim, o dia 20 de novembro foi escolhido para representar o Dia Nacional da Consciência Negra
por conta da importância da figura de Zumbi na luta e resistência contra a escravidão de povos de origem
africana .
Se por um lado temos motivos para comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra, por outro,
temos motivos para discutir o racismo e promover a ideia de integração igual da população negra na
sociedade, lutando contra a exclusão e a desigualdade social. Nesse sentido, as ações promovidas no dia 20
não devem ser de comemoração, mas de conscientização e reflexão. Devido à evidente desigualdade social e
exclusão da população negra, somadas ao racismo, a celebração do Dia da Consciência Negra deve ocorrer
por meio de atividades de reconhecimento da cultura negra como parte integrante da cultura brasileira e por
meio de atividades de discussão e conscientização sobre o problema do racismo e da exclusão dos negros na
sociedade brasileira.

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