Você está na página 1de 28

Aulas Multimídias – Santa Cecília

Profª André Araújo


Disciplina: Língua Portuguesa, Redação e Literatura
Série: 9º ano EF
INTERTEXTUALIDADE
Para entender o que é o conceito de
"intertextualidade", um exemplo divertido. O jogo
do "não confunda":

· Não confunda "bife à milanesa" com "bife ali


na mesa",

· Não confunda "conhaque de alcatrão" com


"catraca de canhão",

· Não confunda "força da opinião pública" com


"opinião da força pública".
Como se vê, é possível elaborar um texto novo a
partir de um texto já existente. É assim que os
textos "conversam" entre si. É comum encontrar
ecos ou referências de um texto em outro. A essa
relação se dá o nome de intertextualidade.

Para entender melhor a palavra, pense em sua


estrutura. O sufixo inter, de origem latina, se
refere à noção de relação (entre). Logo,
intertextualidade é a propriedade de textos se
relacionarem.
Intertextualidade acontece quando há uma
referência explícita ou implícita de um texto em outro.
Também pode ocorrer com outras formas além do
texto, música, pintura, filme, novela etc. Toda vez que
uma obra fizer alusão à outra ocorre a
intertextualidade.

Por isso é importante para o leitor o conhecimento de


mundo, um saber prévio, para reconhecer e identificar
quando há um diálogo entre os textos. A
intertextualidade pode ocorrer afirmando as mesmas
idéias da obra citada ou contestando-as. Há duas
formas: a Paráfrase e a Paródia.
Paráfrase

Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a


idéia do texto é confirmada pelo novo texto, a
alusão ocorre para atualizar, reafirmar os
sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É
dizer com outras palavras o que já foi dito.
Temos um exemplo citado por Affonso Romano
Sant'Anna em seu livro "Paródia, paráfrase &
Cia" (p. 23):
INTERTEXTUALIDADE
 Texto Original  Paráfrase

Minha terra tem Meus olhos brasileiros


palmeiras se fecham saudosos
Minha boca procura a
Onde canta o sabiá, ‘Canção do Exílio’.
As aves que aqui Como era mesmo a
gorjeiam ‘Canção do Exílio’?
Não gorjeiam como Eu tão esquecido de
lá. minha terra...
(Gonçalves Dias, Ai terra que tem
palmeiras
“Canção do exílio”). Onde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de
Andrade, “Europa,
França e Bahia”).
Este texto de Gonçalves Dias, “Canção do
Exílio”, é muito utilizado como exemplo de
paráfrase e de paródia, aqui o poeta Carlos
Drummond de Andrade retoma o texto
primitivo conservando suas idéias, não há
mudança do sentido principal do texto que é a
saudade da terra natal.
Paródia
A paródia é uma forma de contestar ou
ridicularizar outros textos, há uma ruptura com
as ideologias impostas e por isso é objeto de
interesse para os estudiosos da língua e das
artes. Ocorre, aqui, um choque de
interpretação, a voz do texto original é
retomada para transformar seu sentido, leva o
leitor a uma reflexão crítica de suas verdades
incontestadas anteriormente, com esse
processo há uma indagação sobre os dogmas
estabelecidos e uma busca pela verdade real,
concebida através do raciocínio e da crítica.
Os programas humorísticos fazem uso contínuo
dessa arte, freqüentemente os discursos de políticos
são abordados de maneira cômica e contestadora,
provocando risos e também reflexão a respeito da
demagogia praticada pela classe dominante. Com o
mesmo texto utilizado anteriormente, teremos,
agora, uma paródia.
PARÓDIA
 Texto Original  Paródia
Minha terra tem palmares
Minha terra tem onde gorjeia o mar
palmeiras os passarinhos daqui
Onde canta o sabiá, não cantam como os de lá.
(Oswald de Andrade, “Canto
As aves que aqui de regresso à pátria”).
gorjeiam
O nome Palmares, escrito com
Não gorjeiam como lá. letra minúscula, substitui a
(Gonçalves Dias, palavra palmeiras, há um
“Canção do exílio”). contexto histórico, social e
racial neste texto, Palmares é
o quilombo liderado por Zumbi,
foi dizimado em 1695, há uma
inversão do sentido do texto
primitivo que foi substituído
pela crítica à escravidão
existente no Brasil.
Outro exemplo de paródia é a propaganda que faz
referência à obra prima de Leonardo Da Vinci,
Mona Lisa:
Chico Buarque inverte os provérbios,
questionando-os e olhando-os sob outro
ângulo, atribuindo-lhes novos sentidos.
Bom Conselho
Provérbios populares Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
“Uma boa noite de sono Inútil dormir que a dor não passa
combate os males” Espere sentado
Ou você se cansa
“Quem espera sempre Está provado, quem espera nunca
alcança
alcança” Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
“Faça o que eu digo, Brinque com meu fogo
não faça o que eu Venha se queimar
Faça como eu digo
faço“ Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
“Pense, antes de agir” Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
“Devagar se vai longe” Devagar é que não se vai longe
Eu semeio vento na minha cidade
“Quem semeia vento, Vou pra rua e bebo a
colhe tempestade” tempestade
(Chico Buarque, 1972
Há vários exemplos de intertextualidade na
literatura. Veja, a seguir, como Ricardo Azevedo
brinca com o famoso poema Quadrilha, de Carlos
Drummond de Andrade.
 Quadrilha  Quadrilha da sujeira
João amava Teresa que amava João joga um palitinho de sorvete na
Raimundo rua de Teresa que joga uma latinha de
que amava Maria que amava Joaquim refrigerante na rua de Raimundo que
que amava Lili que não amava joga um saquinho plástico na rua de
ninguém. Joaquim que joga uma garrafinha
João foi para os Estados Unidos, velha na rua de Lili.
Teresa para o convento, Raimundo Lili joga um pedacinho de isopor na
morreu de desastre, Maria ficou para rua de João que joga uma
tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou-se embalagenzinha
com J. Pinto Fernandes que não tinha de não sei o quê na rua de Teresa que
entrado na história. (Carlos Drummond joga um lencinho de papel na rua de
de Andrade) Raimundo que joga uma tampinha de
refrigerante na rua de Joaquim que
joga
um papelzinho de bala na rua de
J.Pinto
Fernandes que ainda nem tinha
entrado na história. Ricardo Azevedo
(”Você Diz Que Sabe Muito, Borboleta
Sabe Mais”, Fundação Cargill)
Enquanto um texto trata do amor não correspondido, por meio da
comparação com uma dança (quadrilha), o outro critica o mau hábito
de jogar lixo na rua - e mostra como as pessoas prejudicam as outras.

 Deuses do futebol:
 Shakespeare Urucubaco

Olímpico leitor, divinal leitora,


“Há mais coisas entre o há mais coisas entre o céu dos
céu e a terra do que deuses e a terra do futebol do
que sonha a nossa vã crônica
supõe a nossa vã esportiva.
filosofia Determinadas situações do
jogo e certas fases pelas quais
os times passam não são,
como pensam alguns, obra do
acaso. Ao contrário, são uma
manifestação da vontade de
seres superiores, seres que
controlam a nossa vida desde
o dia em que o Caos gerou a
Noite.(trecho de crônica de
José Roberto Torero, Folha de
S.Paulo, em17/9/02-pag.D3)
Agora, leia o poema a seguir e veja como ele
se parece com um outro tipo de texto...
Receita de herói

Tome-se um homem feito de nada


Como nós em tamanho natural
Embeba-se-lhe a carne
Lentamente
De uma certeza aguda, irracional
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois perto do fim
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim
Serve-se morto.
(Reinaldo Ferreira em "Portos de Passagem" - João Wanderley
Geraldi, São Paulo: Martins Fontes, 1991)
Ao falar do como se faz um herói, o poeta usa elementos de
uma receita de cozinha. Analise, por exemplo:
· os verbos que indicam ordem (imperativo): "Tome-se",
"Embeba-se-lhe", "Agite-se", "toque-se", "Serve-se";
· o advérbio de modo: "lentamente", ou seja, o "modo de
fazer", próprio das receitas culinárias;
· em geral, a receita de cozinha termina com a expressão:
"Serve-se... (gelado ou frio ou quente etc.). O último verso do
poema retoma essa forma da receita, mas o faz de uma maneira
realista ou crítica, isto é, um herói "Serve-se morto."
O poema de Reinaldo Ferreira faz uma referência "implícita" às
receitas culinárias - a referência não é clara, direta, a nenhuma
receita em específico, mas o modo como o texto é construído
lembra as tais receitas.
Para terminar, outro exemplo interessante, também de
Drummond. Ele fala da "medicalização" do mundo
moderno, por meio da criação de palavras que
lembram os nomes de diversos remédios...
Receituário Sortido
Calma.
É preciso ter calma no Brasil
calmina
calmarian
calmogen
calmovita.
Que negócio é esse de ansiedade?
Não quero ver ninguém ansioso.
O cordão dos ansiosos enfrentemos:
aspiran!
ansiotex!
ansiex ansiax ansiolax
ansiopax, amigos!
Uma proposta de classificação
Apresentaremos a seguir uma proposta de
classificação de intertextos com base no corpus
selecionado a fim de trabalhá-lo em sala de aula de
Português e de Literatura.
Clichê: é o enunciado que se transformou em
uma unidade lingüística estereotipada por ser
muito proferido pelas pessoas. Num jornal
sobre esportes foi criada uma charge com o
enunciado: “Por trás de todo grande time há
um grande treinador”. Tal enunciado remete a
outro pertencente ao patrimônio social “Por
trás de todo grande homem há uma grande
mulher”. O enunciado do jornal, na época,
pretendia elogiar a conduta do treinador pelo
fato do time Vasco ter ganhado o campeonato.
BULA DE REMÉDIO
Viva saudável com os livrosDIOGENES
Os Livros Diógenes acham-se internacionalmente
Introduzidos na biblioterapia.

Posologia
As áreas de aplicação são muitas. Principalmente
resfriados, corizas, dores de garganta e
rouquidão, mas também nervosismo, irritações
em geral e fraqueza de concentração. Em geral,
os Livros Diógenes atuam no processo de cura de
quase todas as doenças para as quais prescreve-
se descanso. Sucessos especiais foram registrados
em casos de convalescença.
Propriedades

O efeito se faz notar pouco tempo após iniciada a


leitura e tem grande durabilidade.
Livros Diógenes aliviam rapidamente a dor,
estimulam a circulação sangüínea e o estado geral
melhora.

Precauções/riscos
Em geral, os Livros Diógenes são bem tolerados.
Para miopia aconselham-se meios de auxílio à
leitura. São conhecidos casos isolados nos quais o
uso prolongado produziu dependência.
Dosagem
Caso não houver outra indicação, sugere-se um livro
a cada dois ou três dias. Regularidade no uso é o
pressuposto essencial para a cura. Leitura diagonal
ou desistência prematura pode interferir no efeito.

Composição
Papel, cola e cores na impressão.
Livros Diógenes são ecologicamente produzidos.
Neles são usados somente papéis de madeira sem
cloro e sem ácidos, o que garante alta
durabilidade.Também no caso de boa saúde
garante-se ótima distração.

LIVROS DIOGENES
São menos aborrecidos
BULA DE REMÉDIO

Nome: HeinzC.Flex
Indicação: Todos os males da alma, corpo e mente.

Composição: amor, paixão, simpatia, cortesia, amizade


sanidade, verdade, inteligência e di-sinceridade².

Posologia: Use durante o dia com moderação. À noite


use sem restrição pois o reagente ativo Paixão funciona
com a escuridão em proporções desproporcionais.
Modo de Usar: Sorria quando ingerir, faça um cafuné
para estimular toda a composição. Após o uso,
mantenha o sorriso e alegria.
Reações: Boas risadas, excelente viver, beijos de tirar
o fôlego, carícias que arrepiam.

Contra indicações: Somente pode ser usado por uma


mulher.
Se a mulher não usar conforme a bula, pode provocar
alergia severa.
Homens não podem usar sob nenhuma hipótese.
Estudos de diversos artigos científicos indicam que a
falência múltipla de todos os órgãos do homem é
certa, sendo usado o produto por qualquer lado.

Promoção: Na compra do HeinzC.Flex você ganha de


brinde inteiramente grátis um buquê de rosas.
Observem a intertextualidade nos
exemplos abaixo.
“Elvis Presley que estais no Este texto é uma
Céu
propaganda de uma
Muito escutado seja Bill
Haley. emissora de rádio.
Venha a nós o Chuck Berry O autor construiu o seu
Seja feito barulho à vontade texto a partir da
(...) Oração do “Pai Nosso”.
E não deixeis cair o volume
do som
102,1 de estação
Mas livrai-nos do Axé
Amém!”
Vejam outro exemplo de
intertextualidade.

A autora escreveu um poema


a partir de uma reportagem
VITÓRIA DA VIDA
Um choro saúda a manhã E aquela que no ventre,
tal qual a aurora que se a esperança trazia,
rompe na madrugada. ali, no vazio, sem culpa
sua verdade deixou.
Ouve-se o som da vida
que se faz mais forte
que o abandono. Autora: Jaciara Santos
Quem viu a vida vencer
alegremente comemorou.

Você também pode gostar