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Figuras de linguagem

Profª Claire Quirino


Som ou
Harmonia

Sintaxe ou
Construção Figuras Palavras

Pensamento
Figuras de
Palavras
Caracterizam-se pela substituição de uma palavra por
outra, com emprego simbólico, que pode ocorrer por
associação, comparação ou semelhança.
Comparação
Aproximação entre dois elementos que se identificam. Essa relação é estabelecida através
de conectivos comparativos explícitos (feito, assim como, tal, como, tal qual, tal como,
qual, que nem, ...)

“Amou daquela vez como se fosse máquina. “Estava mais angustiado que um goleiro na hora do
Beijou seu mulher como se fosse lógico. gol, quando você entrou em mim como um
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas. sol no quintal.” (Belchior)
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro.
E flutuou no ar como se fosse um príncipe.
E acabou no chão feito um pacote bêbado.”
(Chico Buarque)
Metáfora
É a substituição de um termo por outro, tendo em vista uma
relação de semelhança entre esses termos. Em outras palavras,
a metáfora é uma comparação abreviada, em que o conectivo
comparativo não está expresso.

“a vida é cigana “Pensem nas feridas


é caravana Como rosas cálidas
é pedra de gelo ao sol” Mas oh não se esqueçam
(Geraldo Azevedo e Alceu Valença) Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.”
(Vinícius de Moraes)
Catacrese

O bico do bule estava sujo.


Ocorre catacrese quando,
diante da falta de uma A batata da minha perna
ficou dolorida após os
palavra específica para exercícios.
designar determinado
Ela sentia uma dor no pé da
referente, usa-se um termo barriga.
a partir de alguma O café queimou o céu da
semelhança conceitual. minha boca.
Consiste, então, no emprego, entre outras possibilidades:
• da causa pelo efeito e vice-versa:
Sou alérgico a cigarro. (= à fumaça)
“E assim o operário ia / com suor e com cimento

Metonímia (= com trabalho)


Erguendo uma casa aqui / adiante um apartamento.”
(Vinícius de Morais)
• do concreto pelo abstrato e vice-versa:
Não devemos contar com seu coração. (= sentimento)
O amor não vê defeitos. (= quem ama)
• do continente pelo conteúdo:

É a substituição de Antes de sair, tomamos um cálice de licor.


uma palavra por outra, • do nome do autor pela obra:
devido a uma ligação Ele comprou um Portinari. (= tela)
objetiva de sentido • da marca pelo produto:
entre elas. Pela receita, devemos usar duas latas de Leite Moça.
Tipos especiais de Metonímia

Sinédoque Perífrase ou Antonomásia


Ocorre quando há uma ampliação ou uma É a designação de uma pessoa, um ser ou
redução no sentido usual da palavra objeto por uma qualidade, característica ou
empregada.
feito que a identifique.
• Emprego do todo pela parte e vice-versa:
O Rei do Futebol nasceu no Brasil. (= Pelé)
“A cidade inteira viu assombrada, de queixo
caído, o pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos O Poeta dos Escravos. (= Castro Alves)
cascos de seu cavalo.” (J. Cândido de A Cidade Maravilhosa é muito visitada por
Carvalho) turistas. (= Rio de Janeiro)
• Emprego do singular pelo plural e vice- “Última flor do Lácio, inculta e bela, / És a um
versa: tempo esplendor e sepultura.” (Olavo Bilac)

O paulista é tímido; o carioca, atrevido. (= Língua Portuguesa)


Sinestesia
É a aproximação de
sensações percebidas
por diferentes órgãos
dos sentidos ou de
diferentes formas.
“Vem da sala de
linotipos a doce
música mecânica.”
(Carlos Drummond
de Andrade)
“Oh sonora audição
colorida do aroma!”
(Alphonsus de
Guimaraens)
Constituem alterações intencionais das estruturas sintáticas.
Podem ser inversões, omissões ou até repetições que levam a
uma maior expressividade.
Elipse
Consiste na omissão de uma palavra ou expressão
facilmente subentendidas.
“Tão bom se ela estivesse viva me ver assim.” (Antº Olavo Pereira)
(Tão bom seria se ela estivesse viva para me ver assim.)
Tipos especiais de Elipse

Zeugma Assíndeto
Ocorre quando o termo omitido já tiver sido Ocorre quando o termo omitido é um
expresso anteriormente. conectivo.
• “Foi saqueada a vila e assassinados os “Clara passeava no jardim com as crianças.
partidários dos Filipes.” O céu era verde sobre o gramado,
(Camilo Castelo Branco) a água era dourada sob as pontes,

• “A dona pede ao marido que não grite e ao outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
filho que não responda.” (Dalton Trevisan) o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era
tranquilo ao redor de Clara.”
(Carlos Drummond de Andrade)
Polissíndeto
É a repetição expressiva de um conectivo.

“Vão chegando as burguesinhas pobres,


e as crianças das burguesinhas ricas,
e as mulheres do povo,
e as lavadeiras da redondeza.”
(Manuel Bandeira)

“Trabalha, e teima, e sofre, e sua!”


(Olavo Bilac)
Silepse É a concordância com a ideia, com as palavras implícitas, e não
com as palavras expressas na oração.

• SILEPSE DE GÊNERO • SILEPSE DE PESSOA


Ocorre quando há discordância entre os Ocorre quando há discordância entre o sujeito
gêneros gramaticais (feminino ou masculino). expresso e a pessoa verbal.

“Admitindo a ideia de que eu fosse capaz de “Os torcedores, mais uma vez, ficamos
semelhante vilania, Sua Majestade foi indignados.”
cruelmente injusto comigo.”
“Os mineiros somos muito quietos.”

“Quando a gente é novo, gosta de fazer


bonito.” (Guimarães Rosa)
• SILEPSE DE NÚMERO
Ocorre quando há discordância envolvendo o número gramatical (singular ou plural).
“Esta gente está furiosa e com medo; por consequência, capazes de tudo.” (Garrett)
“O pobre povo da terra viviam quase como índios.” (Raquel de Queiroz)

“... Mais da metade da população mundial somos crianças.” SILPESE DE NÚMERO


3ª pessoa do singular 1ª pessoa do plural E DE PESSOA
Anáfora É a repetição constante de certos elementos no início dos
versos, períodos ou orações.

“Eu quase não saio


Eu quase não tenho amigo
Eu quase não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado.”
(Gilberto Gil)

“É preciso casar João,


é preciso suportar Antônio
é preciso odiar Melquíades.”
(C. D. Andrade)
Epífora Símploce
É a repetição da mesma palavra no final de É a simultaneidade da anáfora e da epífora.
um período, verso ou texto.
“Como é misterioso nascer!
Como é escuro nascer!
“Não sou nada
Como é úmido nascer!”
nunca serei nada.”
(Augusto Frederico Schmidt)
(Fernando Pessoa)

“Sempre uma coisa defronte da outra,


“Gostos largos, vaidades largas, consciências Sempre uma coisa tão inútil como a outra.”
largas.” (Heitor Pinto) (Fernando Pessoa)
Hipérbato
É a inversão da ordem direta dos termos
de uma oração ou de um período.

“Passeiam, à tarde, as belas na Avenida.”


(Carlos Drummond de Andrade)

“Passarinho, desisti de ter.”


(Rubem Braga)
Sínquise
É uma espécie de hipérbato em que há uma inversão violenta de distantes
partes da frase.
Anacoluto
Consiste na quebra da estrutura lógica da oração, fazendo com que
um termo fique praticamente desligado do restante do período.
“Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas.
(Alcântara Machado)
Umas carabinas que guardava atrás do guarda-roupa, a gente
brincava com elas de tão imprestáveis.
Meu filho, não admito que falem mal dele.
“O homem daqui, seu conceito de felicidade é muito mais subjetivo.”
(Rachel de Queiroz)
Pleonasmo
Consiste no emprego de termos redundantes que reforçam a expressão.
“Iam vinte anos desde aquele dia
Quando com os olhos eu quis ver de perto
Quanto em visão com os da saudade via.” (Alberto de Oliveira)

“Morrerás morte vil na mão de um forte.” (Gonçalves Dias)


Atenção!
Pleonasmo vicioso
Figuras de
Pensamento

As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao


significado das palavras, ao seu aspecto semântico. Traduzem uma
intencionalidade do emissor, que consegue “dizer sem que seja dito”.
Antítese É a aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.

“Onde queres prazer, sou o que dói


E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido sou herói.
(Caetano Veloso)
Paradoxo
É a aproximação de ideias
que aparentemente se
contradizem. É uma
verdade enunciada com
aparência de mentira.

“Amor é fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.”
(Camões)
Ironia É o emprego de palavras em sentido contrário ao que realmente
se pretende dizer.
Eufemismo
Consiste no emprego de
expressões polidas e
suaves que abrandam
palavras desagradáveis
ou grosseiras.

“E pela paz derradeira que


enfim vai nos redimir / Deus
lhe pague.”
(Chico Buarque)

“Depois de muito
sofrimento, entregou a alma
a Deus.”
Hipérbole
É o exagero de uma ideia a fim de
proporcionar uma imagem
emocionante e de impacto.

“Rios de correrão dos olhos, se chorares.”


(Olavo Bilac)
“Um quarteirão de peruca para Clodovil
Pereira.” (José C. Carvalho)
Gradação
É o emprego sequencial de palavras
ou expressões em ordem crescente ou
decrescente, quanto à intensidade.

“O trigo nasceu, cresceu, espigou,


amadureceu, colheu-se, mediu-se.”
(Pe. Antônio Vieira)

“Dissecou-a, a tal ponto, e com tal arte, que


ela, rota, baça, nojenta, vil.”
(Raimundo Corrêa)
Prosopopeia
Consiste em atribuir a um ser
uma característica que não
lhe é inerente.
“Olha o Tejo a sorrir-me.”
(Fernando Pessoa)

“... a Lua / tal qual a dona do bordel


pedia a cada estrela fria / um brilho de
aluguel.” (João Bosco e Aldir Blanc)
Personificação Zoomorfização
É a atribuição de caraterísticas humanas a É a atribuição de características de animais
animais ou a seres inanimados. a seres humanos ou a seres inanimados.
Personificação e zoomorfização
em “Vidas secas”

Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os


seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a
quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo,
grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada,
monossilábica e gutural, que o companheiro entendia.
(RAMOS, 2003, p. 19).

Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio


de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano
enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com
ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo
ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes (RAMOS,
2003, p. 91).
Apóstrofe Consiste na interpelação ou invocação de
seres ou de coisas personificadas.

“Ó mar salgado, quanto do teu sal


são lágrimas de Portugal?”
(Fernando Pessoa)
Figuras de
Som ou
Harmonia
Caracterizam-se pelo emprego de
palavras que repitam um mesmo som ou
reproduzam um determinado ruído.
Repetição de fonemas consonantais

Aliteração “Um trino... um trinado... um tropel de trovoada...


e a tropa e os tropeiros trotando na estrada...” (Ascenso Ferreira)

“Toda gente homenageia Januária na janela.” (Chico Buarque)


Assonância
Repetição de
fonemas vocálicos
“Sou Ana, da cama,
da cana, fulana, bacana,
Sou Ana de Amsterdam.”
(Chico Buarque)
Paronomásia

Reprodução de sons semelhantes


em palavras de significações
diversas.

“Berro pelo aterro, pelo desterro,


berro por seu berro, pelo seu erro,
quero que você ganhe, que você me
apanhe,
sou o seu bezerro gritando mamãe.”
(Caetano Veloso)
Uso de palavras que representam um ruído ou som.

Onomatopeia
“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno.” (Fernando Pessoa)
“Troc... troc... troc... troc... / ligeirinhos, ligeirinhos,
troc... troc... troc... troc... / vão cantando os tamanquinhos.”
(Cecília Meireles)
É isso!
Claire

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