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FIGURAS DE LINGUAGEM

Figuras de linguagem são formas de expressão que destoam da linguagem comum


ou denotativa. Elas dão ao texto um significado que vai além do sentido
literal, portanto permitem uma plurissignificação do enunciado. Por exemplo, na frase
“Fabiano tem muita cara de pau em aparecer aqui depois de tudo que ele me fez”, a
expressão “cara de pau” indica que Fabiano não tem vergonha na cara e não que a
cara dele, literalmente, é feita de madeira.

Assim, temos as figuras:

 de palavras ou semântica;
 de sintaxe ou construção;
 de pensamento;
 de som ou harmonia.

A figura de linguagem é uma forma de expressão que se distancia das regras


da linguagem denotativa. Assim, ela pode ser plurissignificativa. Queremos dizer com
isso que, ao empregar uma figura de linguagem, o enunciador possibilita uma
interpretação para o seu enunciado que extrapola o sentido original, este associado a
uma leitura literal dos fatos, isto é, não interpretativa. Por exemplo:

A pedra chorou de tristeza.

Figuras de palavras ou semântica

COMPARAÇÃO

Uma relação de comparação explícita entre dois termos, marcada pela presença
de conjunção comparativa.

O pensamento é como um diamante bruto.

O pensamento é tal qual um diamante bruto.

O pensamento é igual a um diamante bruto.

METÁFORA

Comparação implícita.

A razão é a luz na escuridão.

Observe que a “razão” está sendo comparada com a “luz”. No entanto, não há
nenhuma conjunção comparativa explicitada entre os dois termos. Portanto, se a
frase fosse “A razão é como a luz na escuridão”, não teríamos mais uma metáfora,
mas sim uma comparação.
No primeiro exemplo, temos uma metáfora impura, assim classificada quando os
dois elementos da comparação implícita estão explicitados – no caso, “razão” e “luz”.
Já na metáfora pura, isso não acontece:

Pensem nas crianças


Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

No poema A rosa de Hiroshima, de Vinicius de Moraes (1913-1980), a “rosa” a que


o eu lírico se refere é uma metáfora para a bomba atômica, ou seja, ela é comparada a
uma rosa. No entanto, em nenhum momento, a bomba é explicitamente mencionada
no poema. Para saber mais sobre essa figura de linguagem, acesse: metáfora.

METONÍMIA

Substituição de um termo por outro, desde que haja uma relação entre eles.

Assim, pode haver a substituição:

do autor pela obra:

Você não vai acreditar: comprei um Caravaggio.


(isto é: comprar um quadro do Caravaggio.)

do possuidor pelo possuído:

Amanhã, vou ao médico e não se fala mais nisso!


(isto é: ir ao consultório do médico.)

do lugar pelo produto:

Ela só fumava havana e nada mais.


(isto é: fumar charuto produzido em Havana.)

do efeito pela causa:


Aqueles líderes insuflaram a guerra no coração dos jovens.
(isto é: insuflar o ódio, causa da guerra.)

do continente pelo conteúdo:

Todos os dias, bebo uma xícara de chá de boldo.


(isto é: beber o chá que está na xícara.)

do instrumento pelo agente:

Amanda é um bisturi excepcional.


(isto é: é uma cirurgiã excepcional.)

da coisa pela sua representação:

Ninguém fala mal da minha terra sem antes me pedir permissão.


(isto é: falar mal do país, estado ou cidade.)

do inventor pelo invento:

O Linux é um sistema operacional gratuito.


(isto é: linux é a invenção de Linus Torvalds; a palavra vem da união do nome de seu
inventor “Linus” com “Unix”.)

do concreto pelo abstrato:

Na minha vida, encontrei muita gente sem coração.


(isto é: gente sem sentimento.)

Uma pessoa “sem coração” não se importa com o sofrimento alheio.

da parte pelo todo:

Este foi um livro escrito a quatro mãos.


(isto é: escrito por duas pessoas.)

da qualidade pela espécie:

Os irracionais também têm seus direitos.


(isto é: os animais também têm seus direitos.)

do singular pelo plural:

O artista é livre para expressar pensamentos e emoções.


(isto é: os artistas são livres.)

da matéria pelo objeto:

“Quem com ferro fere, com ferro será ferido.”


(isto é: ferir com espada.)
do indivíduo pela classe:

Era mais um camões incompreendido.


(isto é: ser mais um poeta incompreendido.)

CATACRESE

Emprego inadequado de um termo devido à perda de seu sentido original.

A quarentena já dura dois meses.


Não podíamos embarcar no ônibus sem tirar aquelas fotos.

No primeiro exemplo, a palavra “quarentena”, em seu sentido original, refere-se a um


período de quarenta dias. No entanto, o termo passou a ser empregado com o sentido
de “isolamento”. O mesmo fenômeno acontece no segundo exemplo, em que
“embarcar” deixou de ser apenas o ato de entrar em uma embarcação e teve
seu sentido ampliado para o ato de entrar em qualquer veículo de transporte.

PERÍFRASE OU ANTONOMÁSIA

É a substituição de um termo por outro que o caracterize, como se fosse uma espécie
de apelido.

O leão é considerado o rei das selvas.

O rei das selvas ainda não é uma espécie em extinção.


O Boca do Inferno não tinha papas na língua.

No primeiro exemplo, “rei das selvas” é uma expressão que se refere ao leão. Já
“Boca do Inferno”, no segundo exemplo, era como o poeta barroco Gregório de
Matos (1636-1695) era chamado.

É importante fazer uma distinção: a perífrase refere-se a coisas ou animais, já a


antonomásia refere-se a pessoas. Nessa perspectiva, o primeiro exemplo é uma
perífrase; e o segundo, uma antonomásia.

SINESTESIA

Combinação de dois ou mais sentidos, ou seja, visão, olfato, audição, paladar e tato.

No doce caminho que percorri, ouvi cantarem os pássaros no calor da manhã.

Perceba que a palavra “doce” aciona o paladar; o verbo “cantarem”, a audição; e o


substantivo “calor”, o tato. Se quiser saber mais sobre essa figura, leia o nosso
texto: sinestesia.

Figuras de sintaxe ou construção

ELIPSE
Ocultação de palavra ou expressão na estrutura do enunciado.

— Vou te ligar. Qual o seu número?

Nesse exemplo, foi omitida a expressão “de telefone”: Qual o seu número de
telefone?

ZEUGMA

Um tipo de elipse caracterizado pela omissão de um termo mencionado anteriormente.

Preferia os caminhos difíceis aos fáceis.

Ou seja: Preferia os caminhos difíceis aos (caminhos) fáceis.

ANÁFORA

Repetição de uma ou mais palavras no início dos versos ou orações.

Eu não devo ter medo. Eu não devo parar. Eu não devo retroceder.

PLEONASMO

É o uso de algum termo dispensável, repetitivo, com o objetivo de enfatizar


determinada ideia.

— Vi a abdução com meus próprios olhos — ele afirmou. — Você precisa acreditar
em mim!

Atenção! Esse tipo de ênfase é aceitável quando utilizado para melhor expressar uma
ideia; do contrário, é apenas uma redundância, um vício de linguagem. A fim de
conhecer mais detalhes sobre essa figura de linguagem, acesse: pleonasmo.

ANACOLUTO

Falta de conexão sintática entre o início de uma frase e a sequência de ideias.

Aquela atriz não sei de quem você está falando.

SILEPSE

Concordância ideológica, ou seja, com a ideia, e não com o termo expresso.

Existem três tipos:

Silepse de gênero:

A gente ficou chocado com o que aconteceu ontem.


Nesse caso, o enunciador é masculino e refere-se a pessoas do gênero masculino,
então faz a concordância com a ideia, e não com o sujeito “A gente”: A gente ficou
chocada com o que aconteceu ontem.

Silepse de número:

O povo exigiu uma satisfação, pois não suportavam mais aquele silêncio.

Nesse exemplo, o verbo “suportavam” tem como sujeito “eles/ elas” (não expresso no
período), pois o enunciador pensa em povo como uma quantidade de pessoas.
Assim, em vez de fazer a concordância com a palavra, no singular, “povo” (O povo
não suportava mais aquele silêncio), o enunciador faz a concordância com a ideia, ou
seja, “eles/ elas”, uma quantidade de pessoas chamadas de “povo”, portanto no plural.

Silepse de pessoa:

Os ciclistas corremos grande perigo no trânsito.

Observe que, ao conjugar o verbo “correr” na primeira pessoa do plural (nós), o


enunciador coloca-se na categoria de ciclista, o que não ficaria evidente se ele fizesse
a concordância gramaticalmente esperada: Os ciclistas correm grande perigo no
trânsito.

A imprudência é uma das causas de acidentes com ciclistas.

HIPÉRBATO

Inversão da ordem direta dos elementos de uma oração ou período.

A ordem direta é composta de sujeito, verbo, complemento ou predicativo:

As manifestações culturais brasileiras são muito valorizadas no exterior.

Assim, temos:

Sujeito: As manifestações culturais brasileiras.

Verbo: são.

Predicativo: valorizadas.

Se ocorrer o hipérbato, a inversão, temos:

Muito valorizadas são as manifestações culturais brasileiras no exterior.

POLISSÍNDETO
Repetição da conjunção “e”.

E o cachorro latia, e corria, e babava em tudo que via pela frente.

Figuras de pensamento

HIPÉRBOLE

Exagero na declaração.

Estava com tanta fome que podia comer um boi inteiro.

Comer um boi inteiro, de uma só vez, por ser humanamente impossível, é um


exagero.

LITOTES

Afirmação realizada pela negação do contrário.

Ariosto não é nada bonito, mas gosto dele mesmo assim.

Nesse exemplo, o enunciador afirma que Ariosto é feio a partir


da negação do adjetivo contrário a feio, ou seja, bonito: não é nada bonito. Se quiser
se aprofundar melhor nessa figura de linguagem, acesse: litotes.

EUFEMISMO

Palavras ou expressões agradáveis para amenizar a declaração.

Segundo o juiz, a deputada faltou à verdade em seu depoimento.

Note que, em vez de dizer que a deputada mentiu, é usada a expressão “faltou à
verdade”, o que torna a afirmação menos desagradável.

IRONIA

Sugerir o contrário do que se afirma.

A pontualidade daquele médico é britânica. Só esperei duas horas para ser atendido.

A ironia depende muito de um contexto, ou seja, da situação em que é inserida, do


conhecimento do interlocutor sobre o fato ironizado, além de outros elementos, como
gestos (na linguagem oral).

PROSOPOPEIA

Personificação, atribuição de características humanas a seres irracionais ou a coisas.

O lobo conversou com Chapeuzinho, e decidiram fazer as pazes.


Falar é uma característica humana.

ANTÍTESE

Oposição entre palavras, expressões ou ideias.

O bem e o mal caminham de mãos dadas no coração humano.

PARADOXO OU OXIMORO

Antítese que expressa uma contradição.

Ninguém parecia ouvir, mas a menina gritava em silêncio.

Note que é contraditório alguém gritar em silêncio, já que o grito se configura em


um som.

APÓSTROFE

Interrupção da frase para interpelar ou invocar.

Não podia acreditar, ó céus, que aquilo acontecera.

GRADAÇÃO

Sequência de ideias.

Ele era um porco, um jumento, um dinossauro. Impossível lidar com alguém assim.

Figuras de som ou harmonia

ALITERAÇÃO

Repetição de consoantes ou sílabas.

Minha mãe me mandou fazer o meu melhor.

É importante lembrar que essa é uma figura usada em textos literários. Em uma
linguagem objetiva, ela é considerada um vício de linguagem. Para conhecer melhor
essa figura sonora, leia o nosso texto: aliteração.

ASSONÂNCIA

Repetição de vogais.

Por onde andam o amor e a dor do trovador?

ONOMATOPEIA
Palavra cuja sonoridade está associada à coisa representada.

O cocoricó se faz ouvir toda manhã.

O bem-te-vi estava mais triste naquele dia.

Veja que, no primeiro exemplo, “cocoricó” é um substantivo que, em


sua sonoridade, representa aquilo a que se refere, ou seja, imita o canto do galo. Já
no segundo exemplo, o substantivo “bem-te-vi” refere-se a um pássaro cujo canto tem
essa sonoridade. Se quiser aprender com maior profundidade essa figura sonora muito
utilizada em quadrinhos, leia: onomatopeia.

PARONOMÁSIA

Uso de palavras parecidas, mas com grafia, som e significado distintos.

Depois que fiz a descrição do meu chefe, pedi discrição aos meus colegas de
trabalho.

Resumo → Figuras de linguagem são expressões conotativas.

→ Figuras de palavras ou semântica:

Comparação: relação de comparação entre dois ou mais termos, separados


por conjunção.

Metáfora: comparação implícita entre dois ou mais termos.

Metonímia: substituição de um termo por outro equivalente.

Catacrese: emprego inadequado de um termo devido à perda de seu sentido


original.

Perífrase ou antonomásia: substituição de um termo por outro que o


caracterize.

Sinestesia: combinação de dois ou mais sentidos do corpo humano.

→ Figuras de sintaxe ou construção:

Elipse: ocultação de palavra ou expressão na estrutura do enunciado.

Zeugma: omissão de um termo mencionado anteriormente.

Anáfora: repetição de uma ou mais palavras no início dos versos ou orações.

Pleonasmo: uso de termo dispensável para enfatizar determinada ideia.

Anacoluto: falta de conexão sintática entre o início de uma frase e a sequência


de ideias.
Silepse: concordância ideológica.

Hipérbato: inversão da ordem direta dos elementos de uma oração ou


período.

Polissíndeto: repetição da conjunção “e”.

→ Figuras de pensamento:

Hipérbole: exagero na declaração.

Litotes: afirmação realizada pela negação do contrário.

Eufemismo: palavras ou expressões agradáveis para amenizar a declaração.

Ironia: sugerir o contrário do que se afirma.

Prosopopeia: personificação.

Antítese: oposição entre palavras, expressões ou ideias.

Paradoxo ou oximoro: antítese que expressa uma contradição.

Apóstrofe: interrupção da frase para interpelar ou invocar.

Gradação: sequência de ideias.

→ Figuras de som ou harmonia:

Aliteração: repetição de consoantes ou sílabas.

Assonância: repetição de vogais.

Onomatopeia: palavra cuja sonoridade está associada à coisa representada.

Paronomásia: palavras parecidas, mas com grafia, som e significado distintos.

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