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SALVADOR/BA
OUTUBRO/2014
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .........................................................................................................03
JUSTIFICATIVA ...........................................................................................................07
CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS................................................. 11
OBJETIVOS................................................................................................................... 18
FONTES......................................................................................................................... 19
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................ 20
CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO.............................................................................. 23
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1. INTRODUÇÃO:
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Segundo NEVES (1998, p. 22), a “Região do Alto Sertão da Bahia, é referenciada na posição relativa ao
curso do Rio São Francisco na Bahia e ao relevo baiano, que ali projeta maiores altitudes.” Para Ely Estrela
(2003, p.37): A utilização do termo alto sertão [designa] uma vasta área do interior do Brasil, situada na
atualidade nos limites de dois Estados diferentes [Bahia e Minas Gerais].
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Na perspectiva de FRAGOSO (2007, p. 29), entende-se por trajetória “a ação [dos] sujeitos no tempo, ou
seja, as opções assumidas ao longo de suas vidas e, portanto, em meio a confrontos. Dessa forma pretende-
se identificar aqueles valores e recursos, assim como as mudanças neles verificadas diante de limites
impostos por outros atores e demais fatores. A partir desse procedimento procuramos entender os grupos e
hierarquias sociais como resultado de relações sociais recorrentes no tempo, porém continuamente
submetidas a mudanças.”
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Na Corografia Brazílica, o primeiro livro editado no Brasil, é possível encontrar referências sobre a vila
de Caetité, desmembrada de Rio de Contas em 1810: “Villanova do Príncipe, anteriormente Caytité, creada
em mil oitocentos e dez, está num sítio lavado dos ventos junto à margem d’uma ribeira, que vai engrossar
o rio do Antonio, obra dezaseis léguas ao Oessudoeste da de Rio de Contas[...] Nos seus arredores cria-se
muito gado vaccum, e fazem-se grandes algodoes”. (CASAL, 1976, p.137).
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O estudo de Zélia Cardoso de Melo (1990) discute as mudanças econômicas ocorridas no Brasil na
segunda metade do século XIX, a consolidação de uma economia capitalista e de novas formas de riqueza
social. Trata da cidade de São Paulo, impactada pela expansão da produção cafeeira. Entretanto, não se
deve desconsiderar os reflexos dessas transformações econômicas para outras regiões do Brasil.
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Foram elas: Faz. Boa Vista (1854); Brejo dos Padres (1842); Cachoeira (ou Cachoeirinha) (1800); Copiar
(1854); Escadinha (1874); Gamileira (Igaporã) (1882); Gameleira (Pindaí) (1871); Hospício (1842); Isabel
(1844); Jatobá (1861); Juazeiro (1854); Junco (1867); Lagoa Real (1864); Morros (1843); Poço Dantas
(1853-1881); Quebradas (1839); Riacho (1817); Rio do Antônio (1854); Santo Antonio (1839); São João
(1836); Tamanduá (1839); Umbuzeiro (1817); Vargens (1841). Estas informações foram reunidas a partir
dos documentos do Arquivo Público do Estado da Bahia – APEB, especialmente inventários de bens e
declarações de compra e venda de terras no alto sertão baiano, citados pelo Profº Erivaldo Neves Fagundes
em sua tese de doutorado (2007). O ano em parêntese, refere-se a data do documento (declaração ou
inventário) em que aparecem registradas as propriedades. Ressalta-se que, para além dos dados
quantitativos, a análise mais detida destes e de outros documentos do APEB e do Arquivo Público
Municipal de Caetité evidenciam não somente outras propriedades de terras pertencentes a essa família,
como também, trazem indícios de vida econômica e social a elas relacionadas.
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FREIRE (1998); IVO (2008; 2012); NEVES (1998; 2003); SANTOS (2009; 2010).
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Conforme NEVES (2003): Fazenda para a qual se transferiu o povoado formado na vizinha Caetité Velho,
onde se instalou, em 1754, a freguesia de Santa Ana de Caetité.
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Segundo CEZARIO (2010), os Juízes Ordinários eram “eleitos pela comunidade, não sendo letrados, que
apreciavam as causas em que se aplicavam os forais, isto é, o direito local, e cuja jurisdição era simbolizada
pelo bastão vermelho que empunhavam.”
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APMC. Fundo: Camera de Vereadores. Série: Atas das Sessões de Vereação. Caixa 01, Maço, 06. Livro
de Sessões das Vereações da Villa Nova do Príncipe e Sant’Anna de Caetité. 24/04/1811, p. 55 – grifos
meus.
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Fundo: Casa do Barão de Caetité. Série: Documentos Jurídicos/ Atas eleitorais. Caixa 01, Mç: 01- grifos
meus.
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José Murilo de Carvalho (2003) analisa, a partir de diversos autores, as configurações dos partidos
políticos do Império. A princípio, evita-se definições neste projeto, uma vez que até 1870 o Partido
Conservador foi predominante no alto sertão da Bahia. De acordo com a memorialista Helena Santos (1997,
p. 219), somente com a morte do Padre Policarpo de Brito Gondim o Partido Liberal foi criado, sob a
liderança de José Antônio Gomes Neto (que em 1880 recebeu o título de Barão de Caetité). Com a criação
do novo partido desencadearam-se acirradas disputas partidárias no alto sertão da Bahia. São processos que
ainda necessitam de um estudo mais detido.
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Conforme aponta Ronaldo Vainfas (2002, 319-20), a Guarda Nacional foi criada em 1831, fundamentada
pela concepção do “cidadão armado”. A Guarda Nacional baseava sua atuação no município, paróquias e
curatos, subordinada diretamente aos juízes de paz. A exigência de cem mil reis anuais para ser um eleitor
de primeiro grau e membro da Guarda Nacional, conforme a Carta de 1824, excluía a maioria da população.
Os postos mais elevados eram ocupados por indicação do presidente da província ou governo central.
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APMC. Fundo: Câmara Municipal. Grupo: Conselho Municipal de Recursos. Série: Atas das sessões do
Conselho Municipal de Recursos. 1848-1856.
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APMC. Fundo: Câmara de Vereadores. Série: Livro das Vereações. Caixa 01. Maço 06, p. 38f. Termo
da Vereação de 04/12/1810.
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Fazenda hoje em Lagoa Real, entre Gameleira das Frotas, Lajes, Juazeiro e Lagoa, citada em 1731-1734,
no roteiro de Quaresma Delgado e, em 1758, na Planta Corográfica da estrada de Monte Alto ao porto de
São Félix. A viúva Maria Feliciana de Brito Gondim inventariou uma porção de Quebradas por 590 mil
545 réis, em 1839, com 15 escravos, jóias e utensílios como três tachos de cobre, duas camas de vento, um
par de caixas encouradas, um jogo de pistolas, uma arma de fogo grossa e outra fina. (NEVES, 2003, p.
390)
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APMC. Fundo: Câmara de Vereadores. Série: Livro das Vereações. Caixa 01. Maço 06, p. 41f. Termo
da Vereação de 02/01/1811 – grifos meus.
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APMC. Fundo: Câmara de Vereadores. Série: Livro das Vereações. Caixa 01. Maço 06, p. 77f. Termo
da Vereação de 02/01/1812 – grifos meus.
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2. JUSTIFICATIVA:
O interesse por essa pesquisa se formou a partir de duas experiências distintas. A
primeira, muito pessoal, tem a ver com as histórias contadas pelo Sr. Deoclídes Pereira
acerca da Casa da Chácara.
Ele adquiriu esse imóvel na década de 1960, objetivando viver mais próximo a
cidade para ingressar os filhos na escola. Na época, curioso, buscou incessantemente
informações sobre essa casa construída no alto de uma colina ainda afastada da cidade, a
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Joaquim Manuel Rodrigues Lima era sobrinho do Barão de Caetité. Formado em medicina, rico
proprietário de terras e envolvido com as questões políticas locais, como os demais da sua família. Fazia
parte de um grupo político que se opôs aos Brito Gondim e outras famílias durante as disputas que marcaram
a região na última década do Império. Foi Senador Estadual na República e deixou o cargo para assumir o
Governo da Bahia, em 1892, momento em que seus adversários perderam total espaço político no alto sertão
da Bahia.
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beira de uma antiga estrada de tropeiros e vaqueiros, no caminho para Bom Jesus da Lapa.
Foi uma andança quase sem sucesso. Por sorte, ainda conseguiu falar com um senhor
muito idoso, já acamado, que lhe disse sobre um tal “Capitão Porfírio” e sobre escravos
de “cinco aldeias” que trabalharam na construção da casa.
Essa memória, mesmo fragmentada e incompleta, foi repetida anos a fio pelo Sr.
Deoclídes, “Seu Dió da Chácara”, que assistiu da janela da sua casa a chegada dos
primeiros vizinhos, da luz elétrica, do calçamento e a formação de um bairro novo no
contorno da cidade de Caetité, o Bairro da Chácara, onde resido há muitos anos. Eu tive
o privilégio de crescer ouvindo essas histórias, correndo pelo casarão que “Porfírio”
supostamente tinha mandado construir. Mas, somente em 2010, poucos meses antes do
falecimento de Seu Dió, foi que pela primeira vez me deparei com o nome Porfírio em
um documento histórico. Tratava-se de um inventário de bens, de 1899, cujo inventariado
chamava-se Porfírio de Brito de Gondim, listado no Arquivo Público do Estado da Bahia
(APEB). Entusiasmada, me dirigi até Salvador e, para minha surpresa, o documento havia
sido lavrado na casa sede de uma propriedade chamada Chácara, uma gleba retirada da
Fazenda Jatobá que, por sua vez, também foi desmembrada de uma propriedade maior, a
Fazenda Alegre, pertencente à mesma família. Terras que atualmente compreendem um
vasto território urbano e rural do município de Caetité.
Me chamou atenção o fato de ser um inventário “empobrecido”, constando “três
vacas”, dois “tachos de cobre furados”, um engenho e um alambique inutilizados, além
de dívidas que comprometeram mais da metade dos bens deixados19. Essa realidade me
inquietou, pois dissonava da ideia de prosperidade que ainda inspira o casarão da Chácara.
O que teria acontecido com esse proprietário? Desde então, sabendo que se tratava de um
Brito Gondim, passei a buscar indícios dessa família e de sua atuação no alto sertão
baiano.
O segundo fator que contribuiu para delinear melhor essa proposta de pesquisa se
deu durante os meus estudos de Mestrado, quando analisei a trajetória política da Família
Teixeira20 buscando perceber as estratégias empreendidas por esse grupo durante toda
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APEB. Sessão: Judiciário. Série: Inventários. ID: Porfírio de Britto Gondim, 1899. Notação:
01.320.615.6.
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A dissertação intitulada “Agora um pouco da política sertaneja”: A trajetória da família Teixeira no alto
sertão da Bahia (Caetité, 1885-1924), defendida no Programa de Pós Graduação em História Regional e
Local (UNEB), em 2011, destaca a atuação política de Deocleciano Pires Teixeira e de sua família no
contexto da Primeira República, quando diversas estratégias de consolidação foram engendradas a fim de
driblarem os reveses da política baiana na Primeira República e, dessa forma, alcançarem grande
proeminência na região alto-sertaneja. Destacam-se as diversas alianças estabelecidas não só em âmbito
local, mas também, estadual e federal. A correspondência pessoal, ao lado de uma gama variada de outros
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Primeira República. Trata-se de uma família que ascendeu nos últimos anos do Império,
sobressaindo-se frente a outros grupos que mantiveram uma atuação marcante ao longo
do oitocentos. Naquele momento, as indagações sobre o que teria acontecido com os
grupos políticos que não se sustentaram após a República já era uma constante. Foi nessa
época que tive contato com o inventário do Capitão Porfírio de Brito Gondim. Mais que
um documento que provocou enorme satisfação pessoal, ele me alertou para as dimensões
econômicas que acompanharam a trajetória política da família Brito Gondim.
Desde então, a cidade de Caetité ampliou os acervos históricos de natureza
diversa. Aos do Arquivo Público Municipal, somam-se a rica documentação reunida pela
família do Barão de Caetité21 e os achados arqueológicos do Museu do Alto Sertão da
Bahia – MASB22, provenientes de pesquisas iniciadas recentemente na região, as quais
trouxeram à tona um vasto registro da cultura material de antigas propriedades rurais desta
região. Tais vestígios reiteram o que a historiografia sobre a região já vinha sinalizando
há algum tempo:
documentos produzidos pela família Teixeira, foi a principal fonte utilizada nesta pesquisa. Trata-se de um
estudo pioneiro no que diz respeito a política nessa região.
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O arquivo da família do Barão de Caetité é de propriedade particular, composto por uma vasta, rica e
diversificada documentação de suma importância para o alto sertão da Bahia. A temporalidade dos
documentos varia entre os anos finais do século XVIII e as primeiras décadas do século XX. Desde 2012
passei a coordenar o projeto de reorganização desse acervo, ao lado de estudantes de IC e monitoras
voluntárias. A finalidade deste trabalho é divulgar e dar acesso a tais documentos por meio do APMC.
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O projeto do Museu do Alto Sertão da Bahia - MASB nasceu no ano de 2011, a partir da iniciativa de
diversos segmentos da sociedade caetiteense. O objetivo principal é criar um espaço para a guarda dos
acervos arqueológicos encontrados, a princípio nos municípios baianos Caetité, Guanambi, Igaporã e
Pindaí, especialmente após os licenciamentos realizados pelas empresas de Energia Eólica. Este projeto
integra o Catavento, programa social da Renova Energia, é coordenado pela empresa Zanettini Arqueologia
e envolve a participação de um Grupo de Trabalho, do qual eu faço parte.
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O Grupo de Pesquisa Cultura, Sociedade e Linguagem (GPCSL) inscreve-se na perspectiva de
interlocução de diversas áreas do conhecimento [...]. Prima pelo desenvolvimento de pesquisas acadêmicas
compatíveis e articuladas aos contextos históricos, políticos e socioculturais do alto sertão da Bahia. No
entanto, não se restringe ao espaço regional. Ver: http://www.gruposertoes.uneb.br/
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3. CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS:
Essa proposta de estudo se constrói no contorno do que, em outros momentos,
foram aspectos “renunciados” pela historiografia, justamente porque aborda questões
políticas, dando enfoque a uma família (até certo ponto) abastada, retornando ao século
XIX e abordando os sertões baianos.
Felizmente, as transformações ocorridas na historiografia nas últimas décadas
possibilitaram congregar análises diferenciadas de uma maneira muito mais crítica e
consistente, inclusive de temas já considerados clássicos e muito explorados. A esse
respeito, René Rémond (2003, p. 13) chama atenção para as “oscilações do movimento
das ideias”, lembrando que “uma geração abre uma passagem em alguma direção que
descortina novas perspectivas e enriquece o conhecimento global.”
Tratando do Oitocentos, Maria Odila Leite (1998) chamou atenção para a
“consolidação da hegemonia política das elites” que, durante muito tempo, marcou a
“historiografia do Império”. De acordo com essa autora, “era impossível – dentro dessa
visão de sistema, de equilíbrio maior de uma sociedade que se via pelo prisma do poder
– chegar a documentar a pluralidade, as diferenças, os regionalismos [...].” (LEITE, 1998,
p. 57).
Também apontando novas interpretações sobre esse período, Maria Silva Golvêia
(2007, p. 9), afirmou que a política do XIX foi “algo muito mais complexo e sofisticado
do que o simples favoritismo e clientelismo geridos a partir da grande política que se
desenrolava na sede da monarquia” (GOLVÊIA, 2007, p. 11). Disputas entre portugueses
e brasileiros, leis de terras, implantação do aparato burocrático do Império, defesa do
regime escravista, manutenção da economia agrária, criação da Guarda Nacional,
aberturas ou contenções nas participações eleitorais, divergências partidárias, conflitos
sociais, fim da escravidão e da Monarquia... Esses temas, superficialmente nivelados pela
historiografia, tornam-se inesgotáveis quando se tratam dos sertões baianos. De que
maneira os acontecimentos mais amplos da história oitocentista brasileira foram
vivenciados nessas regiões?
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De acordo com HEINZ (2006, p. 7), entende-se por esta palavra, ‘os dirigentes’, as pessoas ‘influentes’,
os ‘abastados’ ou os ‘privilegiados’ [...] o termo elite aponta tão somente para uma vasta zona de
investigação científica cobrindo profissionais da política, empresários, legisladores, etc. e não evoca
nenhuma implicação teórica particular.
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APEB. Sessão: Judiciário. Série: Inventários. ID: Rita Antônia de Brito Gondim, 1858.
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Maria de Fátima Pires (2003, p. 61) indica, a partir dos estudos de NEVES (2008), para o período de 1768
– 1883, que “a média correspondia a aproximadamente 18 escravos por unidade produtiva”, não deixando
de apontar, em suas pesquisas, a recorrência de fazendas com números mais expressivos.
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Ao observar a genealogia dos Brito Gondim, nota-se que uma geração inteira
dessa família se uniu a de outra família proprietária, a Xavier Cotrim, o que representa o
domínio de uma extensa posse de terras nessa região e, mais que isso, “uniões que se
tornam uma corrente contínua de obrigações e de reciprocidades e que ajudam a realizar
e reforçar relações sociais” (CANCELA, 2009, p. 29).
Ao lado das uniões matrimoniais estavam os apadrinhamentos e compadrios,
registrados nos livros da Freguesia de Caetité, bem como a atuação na Irmandade de São
Benedicto, registrada em documentos preservados pela família do Barão de Caetité.
Mas, conforme discute a historiadora Zélia Cardoso de Mello (1990), ao longo do
século XIX observam-se “mudanças nas formas de riqueza social”. No alto sertão da
Bahia, a crise da extração do ouro em Rio de Contas (1844) e, posteriormente, da extração
de diamantes na Chapada Diamantina (1870) alteraram a economia e os fluxos da região.
As leis abolicionistas (1871; 1885), intensificadas a partir de 1850 com o fim do Tráfico
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A obra de Lycurgo Santos Filho (1956), intitulada Uma comunidade rural do Brasil antigo, detalha a
história da família Pinheiro Canguçu e de suas ações no alto sertão da Bahia. Em alguns momentos explicita
as relações de envolvimento entre esta família e os Brito Gondim, ainda na primeira metade do século XIX
quando ambas as famílias gozavam de maior prestígio econômico e social.
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APEB. Sessão: Judiciário. Série: Inventários. ID: Francisco Manuel de Brito Gondim (1842). Notação:
2.585.1037.14.
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Atlântico, foram aos poucos mudando as relações entre proprietários e escravos. Muitos
dos primeiros, encontraram no tráfico interprovincial uma opção lucrativa mediante as
transformações econômicas e políticas daquele contexto, conforme demonstra o recente
estudo de Laiane Silva (2014)29. Entre eles estava Joaquim Manoel de Brito Gondim,
identificado nos estudos de Maria de Fátima Pires (2009) e Erivado Neves (2000)30. Além
disso, a dura seca que atravessou a década de 1890 trouxe uma crise econômica sem
precedentes, abalou a produção algodoeira, sacrificou rebanhos de criações e impactou
ricos e pobres, provocando, de acordo com Alinny Alves (2012) os maiores índices de
mortandade registrados entre os anos de 1890-1920 em Caetité. As estradas de ferro
construídas na segunda metade do século XIX, também ajudaram a reconfigurar as rotas
de comércio na Bahia. Por fim, a Abolição (1888) repercutiu entre aqueles proprietários
escravistas da região que ainda se prendiam exclusivamente a uma “economia
tradicional”.
Entretanto, a diversificação na economia brasileira, bem como as mudanças nas
formas de riqueza no final do século XIX, foram sentidas de modos diferentes pelos
proprietários do alto sertão baiano. Aqueles mais articulados, como Deocleciano Pires
Teixeira, José Antônio Gomes Neto (Barão de Caetité) e Joaquim Manuel Rodrigues
Lima, acompanharam os novos investimentos, adquirindo títulos da dívida pública, ações
da estrada de Ferro da Bahia e de firmas comerciais, tornando-se representantes de
empresas comissárias e bancos da Bahia (Salvador) e do Rio de Janeiro. De forma
particular, emprestaram dinheiro a juros e diversificaram seus rendimentos. (AGUIAR,
2011).
Os poucos inventários dos Brito Gondim analisados até o momento, apontam em
outra direção. Sem escravos, os bens de maior valor ainda eram as partes de terras que
lhes restaram, às vezes terrenos conflituosos e disputados como a Fazenda Salinas31.
Esses documentos também registram dívidas e, às vezes, uma criação inexpressiva.
Questões como a Lei de Terras (1850) e a Lei Saraiva (1881) também devem ser
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É um estudo que aborda a trajetória política da família Faria Fraga no alto sertão da Bahia e seu
envolvimento no tráfico interprovincial que abasteceu as fazendas de café no Oeste Paulista. Foi defendido
em 2014, como TCC do curso de História (UNEB/Campus VI), sob minha orientação.
30
Segundo dados do historiador Erivaldo Neves (2000, p. 125), de uma listagem de quase cem traficantes,
seu nome aparece entre os cinco mais expressivos do alto sertão baiano
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Em 1892, as terras da Fazenda Salinas foram alvos de disputas judiciais envolvendo Porfírio de Brito
Gondim e Manuel Joaquim Pinheiro, este último acusado de se apropriar indevidamente das terras do
primeiro. Posteriormente, no ano de 1897, o jornal A Penna, de Caetité, publicou um protesto de Teotônio
Alexandrino de Carvalho, que se dizia herdeiro de parte das terras da Fazenda Salinas, declarando ser filho
legítimo do Capitão Francisco de Brito Gondim.
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consideradas no decorrer desse estudo, pois interferiram nas condições de acesso à terra
e na participação política durante o oitocentos. Não se sabe, contudo, em que medida
essas leis intervieram na trajetória patrimonial e política dos Brito Gondim. Tomando
como base o estudo de Zélia Cardoso de Mello (1990, p. 26), considera-se que
Investigar as transformações da riqueza significa produzir informações
adicionais que permitem compreender o modo como se deu a passagem
da economia tradicional à capitalista no final do século XIX. Outra
ideia, como a primeira relacionada, é a de que a mudança na forma de
riqueza indica a constituição e fortalecimento de um grupo social que
personifica interesses diversificados, financeiros, comerciais,
industriais, agrários.
Embora não tenha sido especificado por essa autora, entre aqueles que
conseguiram lidar melhor com a passagem da “economia tradicional” também observa-
se o fortalecimento de interesses políticos. As atas da Câmara Municipal de Caetité,
especialmente a partir da década 1880, revelam uma mudança nas lideranças políticas
locais, ao passo que demonstram um declínio na atuação dos Brito Gondim:
“[13/10/1880] reunidos sob a presidência do Dr. Rodrigues Lima [...] que convidava
os vereadores para fazer apuração dos votos [...]: Te Cel José Antonio Rodrigues Lima –
2.835 votos [...]; Milinardo de Brito Gondim – 41 [votos].32
A discrepância de votos entre candidatos de diferentes grupos políticos foi
intensificada nos anos posteriores, chegando a registrar-se apenas um voto para o
candidato Brito Gondim. Após a República, aqueles que ainda conseguiram se manter em
algum emprego público foram substituídos, conforme demonstram indícios presentes na
documentação pessoal do político José Antônio Rodrigues Lima: “[...] Exonerar o actual
agente do correio da mesma povoação de Duas Barras Geminiano de Brito Gondim e
nomear pª o mmo. Cargo a Ottílio Soares Carvalho.”33.
A notável decadência dessa família também foi relatada pela memorialista Helena
Santos (1997, p. 138- grifos meus):
Decaíram de importância com a Abolição da Escravatura, alianças
desiguais e o domínio do Partido Liberal. A falta de braços para a
lavoura e criação levou-os a abandonar suas terras, vendendo ou
abandonando o meio rural, procurando ocupação na cidade. Os atuais
descendentes desconhecem a posse da Fazenda Alegre34, que deve
32
Fundo: Casa do Barão de Caetité. Série: Documentos Jurídicos/ Atas. Caixa 03, Mç: 04- grifos meus.
33
Fundo: Arquivo da Família do Barão de Caetité. Série: José Antônio Rodrigues Lima. Subsérie:
Correspondências enviadas. Nota sem destinatário e data, possivelmente enviada ao irmão Joaquim Manoel
Rodrigues Lima.
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Fazenda onde foi instalada, em 1754, a Freguesia de Santana de Caetité. Quando a Vila de Caetité foi
formada, em 1810, parte dessa fazenda deu lugar ao Largo do Alegre, principal centro comercial da região
até a década de 1970. No início do século XX esse largo recebeu o nome de Praça Joaquim Manuel
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ter passado a outros donos, mas João Gumes35 em suas notas históricas,
conta que conheceu, quando jovem, um descendente da família Brito
Gondim, já muito velho e pobre, que lhe disse uma vez, com orgulho:
‘tudo isto foi de meu avô!”, apontando o velho sobrado.
Embora a autora aponte alguns fatores que levaram ao declínio desse grupo
familiar, esses e outros aspectos precisam ser melhor analisados pela historiografia.
Atrelada a trajetória desses sujeitos está um processo de transformação social pelo qual
passou a sociedade brasileira no século XIX. De forma mais específica, também estão
embutidas mudanças econômicas e políticas vivenciadas no alto sertão baiano. Portanto,
esse é um estudo que busca compreender a sociedade alto sertaneja em transformação, a
partir dos rastros de uma família que se modificou ao longo do tempo, das gerações...
4. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL:
Analisar, a partir da trajetória da família Brito Gondim, entre os anos de 1810-
1899, as relações de poder estabelecidas no alto sertão da Bahia, no intuito de
compreender os caminhos que levaram ao declínio desse grupo nos âmbitos
político e econômico em fins do século XIX.
Rodrigues Lima mas, ainda hoje é conhecido como “Feira Velha”. O sobrado ao qual a autora se refere
pertenceu aos Brito Gondim e ainda faz parte do casario antigo dessa praça. Entretanto, não há nenhuma
ligação entre essa construção e os seus antigos proprietários. O nome dessa família foi completamente
desassociado das histórias que se propagam sobre Caetité.
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João Antônio dos Santos Gumes (1858/1930) foi um notável intelectual caetiteense, fundador da primeira
Oficina Tipográfica do Sertão, em 1897.
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5. FONTES:
5.1 Manuscritas:
ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL DE CAETITÉ (APMC):
Acervo Família Teixeira (Correspondências Pessoais e Livros Contábeis) – 1885-
1899.
Atas das sessões de vereação; Atas do Conselho Municipal de Recurso; Atas
eleitorais; Atas da Câmara Municipal de Caetité (1810-1899).
Atas Paroquiais de Caetité (1810-1899)
Registros de casamento, óbito e nascimento da Paróquia de Caetité (1889-1899).
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA (APEB)
Escrituras Públicas de compra e venda de terras (1810-1899)
Inventários de bens: Francisco de Brito Gondim (1773); Antonio de Brito Gondim
(1817); Francisco Manuel de Brito Gondim (1842); Joaquina de Brito Gondim (1846);
Francisca de Brito Gondim (1848); Rita Antônia de Brito Gondim (1849); Angélica
Francisca de Brito Gondim (1866); João Francisco de Brito Gondim (1872); Manuel
Francisco de Brito Gondim (1879); Rita Esmeria de Brito Gondim (1881); Serafim de
Brito Gondim (escravo) – (1881); Manuel Francisco de Brito Gondim (1881); Alferes
José de Brito Gondim (1891); Inácio de Brito Gondim (1897); Porfírio de Brito Gondim
(1899); Partilha amigável de Cassiana Francisca de Brito Gondim (1966)
ARQUIVO DA FAMÍLIA DO BARÃO DE CAETITÉ:
Atas eleitorais avulsas
Documentos da Irmandade de S. Benedito
Série: Fazendas (Livros de administração de Fazendas)
Série: José Antônio Gomes Neto (Correspondências pessoais, Livros Contábeis,
Documentação Judicial - 1850-1899).
Série: Joaquim Manuel Rodrigues Lima (Correspondências Pessoais, Livros
Contábeis e documentos administrativos – registros da política baiana – 1870-1899).
Série: José Antônio Rodrigues Lima (Correspondências Pessoais – 1870 -1899)
CÚRIA DIOCESA DE CAETITÉ
Livros de tombo e de registros eclesiásticos (nascimento, casamento, óbito) da
Freguesia Santana de Caetité – Cúria Diocesa de Caetité (1810-1880).
5.2 Impressas:
ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL DE CAETITÉ:
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6. BIBLIOGRAFIA:
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