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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

VICISSITUDES DA POLÍTICA E DA ECONOMIA OITOCENTISTA NO


ALTO SERTÃO DA BAHIA: A TRAJETÓRIA DA FAMÍLIA BRITO
GONDIM (1810-1899).
Projeto de Pesquisa apresentado a Linha 2:
Sociedade, relações de poder e região, do Programa
de Pós Graduação em História (Doutorado) da
Universidade Federal da Bahia, por exigência
processo seletivo/ 2015.

SALVADOR/BA
OUTUBRO/2014
2

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .........................................................................................................03
JUSTIFICATIVA ...........................................................................................................07
CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS................................................. 11
OBJETIVOS................................................................................................................... 18
FONTES......................................................................................................................... 19
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................ 20
CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO.............................................................................. 23
3

1. INTRODUÇÃO:

Este projeto de pesquisa destina-se a análise das vicissitudes da economia e da


política no alto sertão da Bahia1, tendo como foco a trajetória2 da família Brito Gondim,
entre os anos de 1810, quando é criada a Vila Nova do Príncipe e Santana de Caetité 3, e
1899, uma década após o advento da República, quando se observa não só uma
decadência na atuação política dessa família, como também, um abalo econômico
ocasionado pelas mudanças nas formas de riqueza e implementação de uma economia
capitalista no Brasil.4 Nessa perspectiva, visa também mapear e estudar as mais de vinte
fazendas5 que pertenceram a esse grupo familiar ao longo do século XIX, analisando os
aspectos que levaram a perca ou fragmentação dessas propriedades e a reestruturação
territorial, econômica e política do alto sertão baiano no final dos oitocentos.
As terras do alto sertão baiano foram doadas pelo Governo Português, através do
sistema de sesmarias, a Antônio Guedes de Brito, grande latifundiário, o que, em linhas
gerais, já tem sido abordado em alguns estudos6. No século XVIII, seus herdeiros e

1
Segundo NEVES (1998, p. 22), a “Região do Alto Sertão da Bahia, é referenciada na posição relativa ao
curso do Rio São Francisco na Bahia e ao relevo baiano, que ali projeta maiores altitudes.” Para Ely Estrela
(2003, p.37): A utilização do termo alto sertão [designa] uma vasta área do interior do Brasil, situada na
atualidade nos limites de dois Estados diferentes [Bahia e Minas Gerais].
2
Na perspectiva de FRAGOSO (2007, p. 29), entende-se por trajetória “a ação [dos] sujeitos no tempo, ou
seja, as opções assumidas ao longo de suas vidas e, portanto, em meio a confrontos. Dessa forma pretende-
se identificar aqueles valores e recursos, assim como as mudanças neles verificadas diante de limites
impostos por outros atores e demais fatores. A partir desse procedimento procuramos entender os grupos e
hierarquias sociais como resultado de relações sociais recorrentes no tempo, porém continuamente
submetidas a mudanças.”
3
Na Corografia Brazílica, o primeiro livro editado no Brasil, é possível encontrar referências sobre a vila
de Caetité, desmembrada de Rio de Contas em 1810: “Villanova do Príncipe, anteriormente Caytité, creada
em mil oitocentos e dez, está num sítio lavado dos ventos junto à margem d’uma ribeira, que vai engrossar
o rio do Antonio, obra dezaseis léguas ao Oessudoeste da de Rio de Contas[...] Nos seus arredores cria-se
muito gado vaccum, e fazem-se grandes algodoes”. (CASAL, 1976, p.137).
4
O estudo de Zélia Cardoso de Melo (1990) discute as mudanças econômicas ocorridas no Brasil na
segunda metade do século XIX, a consolidação de uma economia capitalista e de novas formas de riqueza
social. Trata da cidade de São Paulo, impactada pela expansão da produção cafeeira. Entretanto, não se
deve desconsiderar os reflexos dessas transformações econômicas para outras regiões do Brasil.
5
Foram elas: Faz. Boa Vista (1854); Brejo dos Padres (1842); Cachoeira (ou Cachoeirinha) (1800); Copiar
(1854); Escadinha (1874); Gamileira (Igaporã) (1882); Gameleira (Pindaí) (1871); Hospício (1842); Isabel
(1844); Jatobá (1861); Juazeiro (1854); Junco (1867); Lagoa Real (1864); Morros (1843); Poço Dantas
(1853-1881); Quebradas (1839); Riacho (1817); Rio do Antônio (1854); Santo Antonio (1839); São João
(1836); Tamanduá (1839); Umbuzeiro (1817); Vargens (1841). Estas informações foram reunidas a partir
dos documentos do Arquivo Público do Estado da Bahia – APEB, especialmente inventários de bens e
declarações de compra e venda de terras no alto sertão baiano, citados pelo Profº Erivaldo Neves Fagundes
em sua tese de doutorado (2007). O ano em parêntese, refere-se a data do documento (declaração ou
inventário) em que aparecem registradas as propriedades. Ressalta-se que, para além dos dados
quantitativos, a análise mais detida destes e de outros documentos do APEB e do Arquivo Público
Municipal de Caetité evidenciam não somente outras propriedades de terras pertencentes a essa família,
como também, trazem indícios de vida econômica e social a elas relacionadas.
6
FREIRE (1998); IVO (2008; 2012); NEVES (1998; 2003); SANTOS (2009; 2010).
4

sucessores iniciaram o loteamento dessas vastas regiões, vendendo “glebas aos


arrendatários e outros interessados” e, depois de 1809, “liquidaram tudo que restava dos
antigos latifúndios vendendo as fazendas pecuaristas, parcelando e comercializando as
glebas arrendadas” (NEVES, 2003, p. 22-3).
Nesse processo de arrendamento, Francisco de Brito Gondim, natural do Rio Pardo,
Minas Gerais, adquiriu as terras da Fazenda Alegre, onde em 1754 foi erguida uma capela
e criada a Freguesia Santana de Caetité7.
Relatos de viajantes que atravessaram os sertões da Bahia no século XIX
evidenciam rotas comerciais que interligavam a Vila Nova do Príncipe e Santana de
Caetité à Vila do Rio Pardo: “Vila do Príncipe é quase fronteira à região das Minas [...]
observa-se alguma atividade no comércio de ametistas de cor carregada, encontradas a
umas dez léguas de Vila Nova do Príncipe, no caminho de Rio Pardo.” (D’ORBIGNY,
1976, p.111 – grifos meus); “Para Minas Gerais partem, também, duas estradas principais:
a que leva ao rio São Francisco [...], e outra na direção do sul pelos furados e freguesia
das Almas, levando, de um lado, à vila do Rio Pardo [...]” (SAMPAIO, 2002, p. 219-20
– grifos meus); “O algodão dahi despachado, não é só producto dos arredores, tambem
vem do districto de Minas-Geraes [...]. A parte norte e leste dessa provincia manda o
algodão do logar de origem, arraial do Rio Pardo, para a Bahia [...]” (SPIX; MARTIUS,
1938, p. 42-43, grifos meus). Certamente, a rota comercial existente entre essas regiões
de Minas Gerais e da Bahia, bem como os interesses vislumbrados de uma ponta a outra,
tenham motivado o estabelecimento dos Brito Gondim no alto sertão baiano desde o
século XVIII.
Esse grupo familiar também se destacou no âmbito político. Em 1810, quando foi
criada a Vila Nova do Príncipe e Santana de Caetité, Francisco de Brito Gondim (filho)
ocupou o cargo de Juiz Ordinário8 e, um ano depois, o de Sargento Mor: “natural desta
Vila, cazado, procede das principais famílias deste continente, e tem a necessária
pocibilidade para se tractar no disto Posto.9

7
Conforme NEVES (2003): Fazenda para a qual se transferiu o povoado formado na vizinha Caetité Velho,
onde se instalou, em 1754, a freguesia de Santa Ana de Caetité.
8
Segundo CEZARIO (2010), os Juízes Ordinários eram “eleitos pela comunidade, não sendo letrados, que
apreciavam as causas em que se aplicavam os forais, isto é, o direito local, e cuja jurisdição era simbolizada
pelo bastão vermelho que empunhavam.”
9
APMC. Fundo: Camera de Vereadores. Série: Atas das Sessões de Vereação. Caixa 01, Maço, 06. Livro
de Sessões das Vereações da Villa Nova do Príncipe e Sant’Anna de Caetité. 24/04/1811, p. 55 – grifos
meus.
5

Ao longo da primeira metade do século XIX, irmãos e filhos de Francisco de Brito


Gondim (filho) dilataram a influência política da família, a exemplo do seu filho Bernardo
de Brito Gondim, grande proprietário da Fazenda Santo Antônio e líder político do arraial
do Bonito (atual Igaporã/BA); do Capitão Porfírio de Brito Gondim, Intendente
Municipal (1853-1858), Membro do Conselho (1864-1868), Juiz de Paz “mais votado”
(1872): “Aos [30/08/1872] n’esta cidade de Caetité reunidos os membros da Assembléa
Parochial sob a presidência do Juiz de Paz mais votado o Capitão Porfirio de Britto
Gondim[...]10; ou do Padre Policarpo de Brito Gondim que atuou como Deputado
Provincial entre 1866-1867, foi vigário em Caetité por três décadas e líder do Partido
Conservador11.
Nas atas da Câmara de Vereadores, preservadas no Arquivo Público Municipal de
Caetité (APMC), registra-se ainda a aquisição das patentes da Guarda Nacional12, após
1840, por parte do Major Bernardino de Brito Gondim, do Tenente Coronel Bernardo de
Brito Gondim, do Alferes Filotheo de Brito Gondim, do Capitão Porfírio de Brito
Gondim13 e outros membros da família. São trajetórias que se refazem ante os percursos
políticos do Império.
A literatura memorialista também indica que os Britto Gondim “eram grandes
proprietários, com numerosa escravatura, viviam em suas fazendas [...] possuindo casas
no comércio, como se dizia então, referindo-se à sede.” (SANTOS, 1997, p. 138).
Ao longo do século XIX, a economia alto sertaneja se destacou pela produção de
gêneros diversos. Existiam fazendas importantes que dinamizavam e interligavam essa
região a diferentes lugares do Brasil. De forma cada vez mais inovadora estudos recentes,
como o de Paulo Henrique Santos (2013, p. 205), apontam:
[...] a existência de uma economia diversificada no alto sertão e
caracterizada por uma pecuária e lavoura que produziam para o

10
Fundo: Casa do Barão de Caetité. Série: Documentos Jurídicos/ Atas eleitorais. Caixa 01, Mç: 01- grifos
meus.
11
José Murilo de Carvalho (2003) analisa, a partir de diversos autores, as configurações dos partidos
políticos do Império. A princípio, evita-se definições neste projeto, uma vez que até 1870 o Partido
Conservador foi predominante no alto sertão da Bahia. De acordo com a memorialista Helena Santos (1997,
p. 219), somente com a morte do Padre Policarpo de Brito Gondim o Partido Liberal foi criado, sob a
liderança de José Antônio Gomes Neto (que em 1880 recebeu o título de Barão de Caetité). Com a criação
do novo partido desencadearam-se acirradas disputas partidárias no alto sertão da Bahia. São processos que
ainda necessitam de um estudo mais detido.
12
Conforme aponta Ronaldo Vainfas (2002, 319-20), a Guarda Nacional foi criada em 1831, fundamentada
pela concepção do “cidadão armado”. A Guarda Nacional baseava sua atuação no município, paróquias e
curatos, subordinada diretamente aos juízes de paz. A exigência de cem mil reis anuais para ser um eleitor
de primeiro grau e membro da Guarda Nacional, conforme a Carta de 1824, excluía a maioria da população.
Os postos mais elevados eram ocupados por indicação do presidente da província ou governo central.
13
APMC. Fundo: Câmara Municipal. Grupo: Conselho Municipal de Recursos. Série: Atas das sessões do
Conselho Municipal de Recursos. 1848-1856.
6

abastecimento interno e para exportação; [...] um comércio de produtos


para exportação e de importados que intensificava o contato com o
litoral. Atividades como a criação de gado e a lavoura, os pequenos
engenhos, alambiques e casas de farinha, a “indústria” extrativa de sal,
ametista e demais minérios, os empréstimos a juros e o tropeirismo
dinamizaram a economia do alto sertão e mantiveram padrões de
enriquecimento para parcela reduzida da sua população [...].

Nesse contexto, as atas de vereações revelam os impostos cobrados na vila de


Caetité, tanto sobre os gêneros que ali chegavam, quanto sobre os que dali saíam. Em
muitos casos, as próprias fazendas eram postos de cobrança desses impostos, quer pela
larga produção que delas escoavam, ou pela localização estratégica, à beira das principais
estradas da região:
Para cobrador do imposto nas cargas de algodão, cargas de aguardente,
e de bestas muares, que passarem pela Fazenda Bom Jesus, nomearam
a João Leite.”14;
Para cobrador dos ditos impostos na Fazenda da Alagoa, nomearão a
Francisco Pereira da Costa. Para cobrador do novo Registro da Fazenda
das Quebradas15, nomearão a José Alz Caldas.”16

Em 1839, a viúva Maria Feliciana de Brito Gondim inventariou a Fazenda


Quebradas, mas, também era titular de outras partes de terras na Fazenda Brejo dos
Padres, Fazenda Hospício, Fazenda Isabel, todas elas de grande relevância para aquele
contexto econômico. (NEVES, 2003).
Outro dado que reitera a importância dessas fazendas refere-se ao abastecimento
de carne verde na vila de Caetité. Nas atas das vereações observa-se a indicação dos
proprietários (e das respectivas fazendas) responsáveis por esse abastecimento, mês a
mês, sob pena de “seis mil reis de condenação”. Uma exceção foi notada no ano de 1812,
quando Francisco de Brito Gondim foi designado para abastecer a Vila de Caetité por três
meses consecutivos, sem especificação de propriedades: “Julho, Julho e Agosto:
Francisco de Brito Gondim por suas Fazendas” 17.

14
APMC. Fundo: Câmara de Vereadores. Série: Livro das Vereações. Caixa 01. Maço 06, p. 38f. Termo
da Vereação de 04/12/1810.
15
Fazenda hoje em Lagoa Real, entre Gameleira das Frotas, Lajes, Juazeiro e Lagoa, citada em 1731-1734,
no roteiro de Quaresma Delgado e, em 1758, na Planta Corográfica da estrada de Monte Alto ao porto de
São Félix. A viúva Maria Feliciana de Brito Gondim inventariou uma porção de Quebradas por 590 mil
545 réis, em 1839, com 15 escravos, jóias e utensílios como três tachos de cobre, duas camas de vento, um
par de caixas encouradas, um jogo de pistolas, uma arma de fogo grossa e outra fina. (NEVES, 2003, p.
390)
16
APMC. Fundo: Câmara de Vereadores. Série: Livro das Vereações. Caixa 01. Maço 06, p. 41f. Termo
da Vereação de 02/01/1811 – grifos meus.
17
APMC. Fundo: Câmara de Vereadores. Série: Livro das Vereações. Caixa 01. Maço 06, p. 77f. Termo
da Vereação de 02/01/1812 – grifos meus.
7

Se a documentação judicial (inventários de bens, testamentos, registros de compra


e venda de terras, entre outros) permite acessar a vida econômica desses sujeitos, os
registros eclesiásticos (livros de batismos, óbito e casamento), bem como os registros da
Irmandade de São Benedicto, da qual faziam parte, tratam das relações sociais desses
sujeitos entre si, seus pares e/ou entre escravizados seus. Há também os Livros de
Vereações, Livros de atas da Câmera Municipal, Livros de Registros de Atas eleitorais,
entre outros documentos que evidenciam a expressão política dessa família, suas alianças
e conflitos.
Mas, assim como aconteceu em outros lugares do país, mudanças econômicas e
uma conjuntura de disputas partidárias modificou o cenário político no final do século
XIX. Se, por um lado, a região ganhou uma projeção nacional com a nomeação de
Joaquim Manuel Rodrigues Lima18 a Governador da Bahia (1892-1896); por outro,
diversos grupos atuantes foram perdendo espaço no cenário político local. Sendo assim,
alguns questionamentos se delineiam em torno desses acontecimentos: Que tramas sociais
separaram os sujeitos do final do oitocentos daqueles de 1810? Que transformações
econômicas e políticas os diferenciaram? Como os abalos na política e na economia
interferiram na posse da terra e redefiniram poderes nessa região? Em suma, que
acontecimentos atravessaram as histórias de vida no alto sertão da Bahia ao longo desses
anos? São questões iniciais que este projeto busca responder. Para tanto, busca ancorar-
se nas discussões centradas na Linha de Pesquisa: Sociedade, relações de poder e região,
do Programa de Pós Graduação em História da UFBA.

2. JUSTIFICATIVA:
O interesse por essa pesquisa se formou a partir de duas experiências distintas. A
primeira, muito pessoal, tem a ver com as histórias contadas pelo Sr. Deoclídes Pereira
acerca da Casa da Chácara.
Ele adquiriu esse imóvel na década de 1960, objetivando viver mais próximo a
cidade para ingressar os filhos na escola. Na época, curioso, buscou incessantemente
informações sobre essa casa construída no alto de uma colina ainda afastada da cidade, a

18
Joaquim Manuel Rodrigues Lima era sobrinho do Barão de Caetité. Formado em medicina, rico
proprietário de terras e envolvido com as questões políticas locais, como os demais da sua família. Fazia
parte de um grupo político que se opôs aos Brito Gondim e outras famílias durante as disputas que marcaram
a região na última década do Império. Foi Senador Estadual na República e deixou o cargo para assumir o
Governo da Bahia, em 1892, momento em que seus adversários perderam total espaço político no alto sertão
da Bahia.
8

beira de uma antiga estrada de tropeiros e vaqueiros, no caminho para Bom Jesus da Lapa.
Foi uma andança quase sem sucesso. Por sorte, ainda conseguiu falar com um senhor
muito idoso, já acamado, que lhe disse sobre um tal “Capitão Porfírio” e sobre escravos
de “cinco aldeias” que trabalharam na construção da casa.
Essa memória, mesmo fragmentada e incompleta, foi repetida anos a fio pelo Sr.
Deoclídes, “Seu Dió da Chácara”, que assistiu da janela da sua casa a chegada dos
primeiros vizinhos, da luz elétrica, do calçamento e a formação de um bairro novo no
contorno da cidade de Caetité, o Bairro da Chácara, onde resido há muitos anos. Eu tive
o privilégio de crescer ouvindo essas histórias, correndo pelo casarão que “Porfírio”
supostamente tinha mandado construir. Mas, somente em 2010, poucos meses antes do
falecimento de Seu Dió, foi que pela primeira vez me deparei com o nome Porfírio em
um documento histórico. Tratava-se de um inventário de bens, de 1899, cujo inventariado
chamava-se Porfírio de Brito de Gondim, listado no Arquivo Público do Estado da Bahia
(APEB). Entusiasmada, me dirigi até Salvador e, para minha surpresa, o documento havia
sido lavrado na casa sede de uma propriedade chamada Chácara, uma gleba retirada da
Fazenda Jatobá que, por sua vez, também foi desmembrada de uma propriedade maior, a
Fazenda Alegre, pertencente à mesma família. Terras que atualmente compreendem um
vasto território urbano e rural do município de Caetité.
Me chamou atenção o fato de ser um inventário “empobrecido”, constando “três
vacas”, dois “tachos de cobre furados”, um engenho e um alambique inutilizados, além
de dívidas que comprometeram mais da metade dos bens deixados19. Essa realidade me
inquietou, pois dissonava da ideia de prosperidade que ainda inspira o casarão da Chácara.
O que teria acontecido com esse proprietário? Desde então, sabendo que se tratava de um
Brito Gondim, passei a buscar indícios dessa família e de sua atuação no alto sertão
baiano.
O segundo fator que contribuiu para delinear melhor essa proposta de pesquisa se
deu durante os meus estudos de Mestrado, quando analisei a trajetória política da Família
Teixeira20 buscando perceber as estratégias empreendidas por esse grupo durante toda

19
APEB. Sessão: Judiciário. Série: Inventários. ID: Porfírio de Britto Gondim, 1899. Notação:
01.320.615.6.
20
A dissertação intitulada “Agora um pouco da política sertaneja”: A trajetória da família Teixeira no alto
sertão da Bahia (Caetité, 1885-1924), defendida no Programa de Pós Graduação em História Regional e
Local (UNEB), em 2011, destaca a atuação política de Deocleciano Pires Teixeira e de sua família no
contexto da Primeira República, quando diversas estratégias de consolidação foram engendradas a fim de
driblarem os reveses da política baiana na Primeira República e, dessa forma, alcançarem grande
proeminência na região alto-sertaneja. Destacam-se as diversas alianças estabelecidas não só em âmbito
local, mas também, estadual e federal. A correspondência pessoal, ao lado de uma gama variada de outros
9

Primeira República. Trata-se de uma família que ascendeu nos últimos anos do Império,
sobressaindo-se frente a outros grupos que mantiveram uma atuação marcante ao longo
do oitocentos. Naquele momento, as indagações sobre o que teria acontecido com os
grupos políticos que não se sustentaram após a República já era uma constante. Foi nessa
época que tive contato com o inventário do Capitão Porfírio de Brito Gondim. Mais que
um documento que provocou enorme satisfação pessoal, ele me alertou para as dimensões
econômicas que acompanharam a trajetória política da família Brito Gondim.
Desde então, a cidade de Caetité ampliou os acervos históricos de natureza
diversa. Aos do Arquivo Público Municipal, somam-se a rica documentação reunida pela
família do Barão de Caetité21 e os achados arqueológicos do Museu do Alto Sertão da
Bahia – MASB22, provenientes de pesquisas iniciadas recentemente na região, as quais
trouxeram à tona um vasto registro da cultura material de antigas propriedades rurais desta
região. Tais vestígios reiteram o que a historiografia sobre a região já vinha sinalizando
há algum tempo:

Uma primeira avaliação intersítios aponta em direção à densidade e à


dinâmica ocupacional nesta região, em termos de sistemas de produção.
A existência de unidades produtivas como as de farinha ou olarias, e,
por outro lado, as extrações de minério representados pelas cavas de
mineração [...], indicam atividades de cunho econômico relacionadas
ao abastecimento intra-sertão e a relação desta área sertaneja com as
regiões envoltórias, contrariando a ideia clássica de um sertão
eminentemente estagnado, estático e isolado. (ZANETTINI, 2013).
Ao sobrepor o território que é alvo destes licenciamentos arqueológicos com o
levantamento das fazendas pertencentes aos Brito Gondim, no século XIX, é possível
afirmar que uma grande parcela desse território integra antigas propriedades desta família.
Para mensurar a importância de se explicar historicamente a dinâmica de tais fazendas e
conferir maior sentido aos vestígios arqueológicos ali encontrados, resta dizer que a Casa
Chácara, após a morte do Sr. Deoclídes Pereira, foi cedida ao Museu do Alto Sertão da

documentos produzidos pela família Teixeira, foi a principal fonte utilizada nesta pesquisa. Trata-se de um
estudo pioneiro no que diz respeito a política nessa região.
21
O arquivo da família do Barão de Caetité é de propriedade particular, composto por uma vasta, rica e
diversificada documentação de suma importância para o alto sertão da Bahia. A temporalidade dos
documentos varia entre os anos finais do século XVIII e as primeiras décadas do século XX. Desde 2012
passei a coordenar o projeto de reorganização desse acervo, ao lado de estudantes de IC e monitoras
voluntárias. A finalidade deste trabalho é divulgar e dar acesso a tais documentos por meio do APMC.
22
O projeto do Museu do Alto Sertão da Bahia - MASB nasceu no ano de 2011, a partir da iniciativa de
diversos segmentos da sociedade caetiteense. O objetivo principal é criar um espaço para a guarda dos
acervos arqueológicos encontrados, a princípio nos municípios baianos Caetité, Guanambi, Igaporã e
Pindaí, especialmente após os licenciamentos realizados pelas empresas de Energia Eólica. Este projeto
integra o Catavento, programa social da Renova Energia, é coordenado pela empresa Zanettini Arqueologia
e envolve a participação de um Grupo de Trabalho, do qual eu faço parte.
10

Bahia. Vale lembrar que o acervo do MASB é, majoritariamente, composto por


fragmentos de antigas propriedades rurais desta região e a Casa da Chácara é um imóvel
de caráter rural absolvido pela área urbana da cidade de Caetité.
Mesmo com a inauguração prevista para o próximo ano, as etapas de escavação
no entorno desse imóvel já revelam um complexo de estruturas não encontrado em outras
propriedades da região. Entretanto, nem os familiares que cederam a casa, nem os
arqueólogos, nem os moradores do Bairro da Chácara, ou mesmo aqueles que hoje
ocupam as terras de outras antigas fazendas da região sabem da vinculação destes espaços
com a família Brito Gondim. São história que se perderam ao longo do tempo... Tal
situação favorece o desenvolvimento desta pesquisa, conferindo a esta proposta de estudo
maior amplitude e significado.
É importante ressaltar que o alto sertão da Bahia é uma região pouco estudada em
seus diversos aspectos. Em virtude disso, este projeto integra as reflexões promovidas
pelo Grupo de Pesquisa Cultura Sociedade e Linguagens (GPCSL/CNPq)23, que tem
atuado como espaço de estímulo às novas pesquisas sobre os sertões baianos. Conforme
demonstra o historiador Márcio Santos (2009, p. 09), a importância de novas pesquisas
se dá no sentido de dirimir o “impacto desse silêncio”:
Há regiões inteiras que permanecem ainda na sombra, sobre as quais
pouco ou quase nada se escreveu. O impacto desse silêncio tem
consequências que extrapolam a questão mais genérica dos objetos de
estudo, o que seria facilmente superado com o avanço inexorável de
novas frentes de investigação.
Sendo assim, a relevância da presente proposta envolve diversas razões. A
primeira delas, já dita, é porque se insere entre os novos estudos de uma região pouco
notada pela historiografia. Depois, porque vai de encontro com a ausência de estudos que
analisem questões políticas no alto sertão baiano (campo iniciado com as minhas
pesquisas de mestrado). Além disso, porque visa reconstituir um contexto de mudanças
sociais, econômicas e políticas do Brasil a partir das singularidades da região alto
sertaneja e das ações de quem ali viveu. Mais que isso, é um estudo que busca mapear
importantes propriedades rurais do século XIX, analisando a fragmentação desses
terrenos e a construção de novas fronteiras territoriais na região, uma contribuição para
se pensar antigos caminhos dos sertões baianos.

23
O Grupo de Pesquisa Cultura, Sociedade e Linguagem (GPCSL) inscreve-se na perspectiva de
interlocução de diversas áreas do conhecimento [...]. Prima pelo desenvolvimento de pesquisas acadêmicas
compatíveis e articuladas aos contextos históricos, políticos e socioculturais do alto sertão da Bahia. No
entanto, não se restringe ao espaço regional. Ver: http://www.gruposertoes.uneb.br/
11

É inovadora não só a proposta, mas também a possibilidade de diálogo com fontes


inéditas, a exemplo do arquivo particular da Família do Barão de Caetité e, também, dos
acervos arqueológicos do MASB que abrem um leque inexplorado de pesquisa sobre essa
região.

3. CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS:
Essa proposta de estudo se constrói no contorno do que, em outros momentos,
foram aspectos “renunciados” pela historiografia, justamente porque aborda questões
políticas, dando enfoque a uma família (até certo ponto) abastada, retornando ao século
XIX e abordando os sertões baianos.
Felizmente, as transformações ocorridas na historiografia nas últimas décadas
possibilitaram congregar análises diferenciadas de uma maneira muito mais crítica e
consistente, inclusive de temas já considerados clássicos e muito explorados. A esse
respeito, René Rémond (2003, p. 13) chama atenção para as “oscilações do movimento
das ideias”, lembrando que “uma geração abre uma passagem em alguma direção que
descortina novas perspectivas e enriquece o conhecimento global.”
Tratando do Oitocentos, Maria Odila Leite (1998) chamou atenção para a
“consolidação da hegemonia política das elites” que, durante muito tempo, marcou a
“historiografia do Império”. De acordo com essa autora, “era impossível – dentro dessa
visão de sistema, de equilíbrio maior de uma sociedade que se via pelo prisma do poder
– chegar a documentar a pluralidade, as diferenças, os regionalismos [...].” (LEITE, 1998,
p. 57).
Também apontando novas interpretações sobre esse período, Maria Silva Golvêia
(2007, p. 9), afirmou que a política do XIX foi “algo muito mais complexo e sofisticado
do que o simples favoritismo e clientelismo geridos a partir da grande política que se
desenrolava na sede da monarquia” (GOLVÊIA, 2007, p. 11). Disputas entre portugueses
e brasileiros, leis de terras, implantação do aparato burocrático do Império, defesa do
regime escravista, manutenção da economia agrária, criação da Guarda Nacional,
aberturas ou contenções nas participações eleitorais, divergências partidárias, conflitos
sociais, fim da escravidão e da Monarquia... Esses temas, superficialmente nivelados pela
historiografia, tornam-se inesgotáveis quando se tratam dos sertões baianos. De que
maneira os acontecimentos mais amplos da história oitocentista brasileira foram
vivenciados nessas regiões?
12

Em publicação recente, José Murilo de Carvalho e Adriana Dantas (2011)


realçaram a existência de um “robusto movimento historiográfico voltado para o século
XIX”, em que temas aparentemente tão massificados têm sido submetidos “a novo
escrutínio por número cada vez maior e mais diversificado de historiadores”
(CARVALHO e DANTAS, 2011, p. 10). Tratando ainda sobre a complexidade e as
inesgotáveis possibilidades de olhares para esse período, Izabel Marson (1998, p. 73)
ressalta o quanto os conflitos políticos e sociais ocorridos no Brasil durante o Império “se
exteriorizaram numa multiplicidade de acontecimentos que revelam uma sociedade
complexa em sua configuração e interesses”. Para o caso específico dos Brito Gondim,
de ascendência portuguesa, instalados no alto sertão baiano, proprietários de terras e
escravos, atuantes na política, importa investigar de que forma a conjuntura
socioeconômica do país reverberou em sua trajetória, definindo atuações e papeis naquela
sociedade.
Se um dos receios com a historiografia voltada para o oitocentos era a reiteração
de uma história das elites24, Maria Martins (2007, p. 405) ressalta: “para além de todas as
vantagens que estudos dessa natureza podem oferecer, deve ainda proporcionar algumas
reflexões acerca das continuidades nas relações de poder no que se refere ao Brasil
oitocentista.” José Murilo de Carvalho (2003, p. 20) é mais enfático. Ele aponta o
constrangimento que ainda impera quando se pronuncia a palavra “elite” no Brasil, de
modo que os historiadores se sintam “forçados a pedir desculpas” por tratar do assunto.
Mas, também reitera a importância de olhar para os “grupos minoritários” e perceber o
real papel que exerceram na sociedade. René Rémond (2003, p. 07), alerta para a
amplitude de sujeitos passíveis de análise pela nova história política: “ao se ocupar do
estudo da participação na vida política e dos processos eleitorais, integra todos os atores,
mesmo os mais modestos, perdendo assim seu caráter elitista e individualista.” Na mesma
perspectiva, Flávio Heinz (2004, p. 8) propõe um novo olhar, em vez de uma história
acrítica e enaltecedora, uma proposta que compreenda “através da análise mais ‘fina’ dos
atores situados no topo da hierarquia social, a complexidade de suas relações e de seus
laços objetivos com o conjunto ou com os setores da sociedade.”

24
De acordo com HEINZ (2006, p. 7), entende-se por esta palavra, ‘os dirigentes’, as pessoas ‘influentes’,
os ‘abastados’ ou os ‘privilegiados’ [...] o termo elite aponta tão somente para uma vasta zona de
investigação científica cobrindo profissionais da política, empresários, legisladores, etc. e não evoca
nenhuma implicação teórica particular.
13

Considerando a relevância das “relações” e dos “laços” com sujeitos diversos, a


proposta aqui apresentada não se sustenta na contramão de estudos que têm buscado
evidenciar ações de sujeitos historicamente invisibilizados. Ao contrário, os estudos
voltados para o âmbito político e que tenham como foco os grupos mais abastados não
deixam de flagrar contextos históricos partilhados por diferentes grupos sociais, nem
mesmo ações singulares de sujeitos menos abonados. A esse respeito vale ressaltar que,
mesmo em fontes majoritariamente elitistas, é possível capturar as experiências de
“sujeitos menos afortunados e com organizações familiares não tradicionais, os quais
dividiram os espaços e as experiências de vida sertaneja” com as famílias mais
enriquecidas. (AGUIAR, 2011, p. 33).
Como exemplo, observa-se o processo de partilha dos bens de D. Ritta Antonia
de Brito Gondim, proprietária da Fazenda Umbuzeiro (1858). Junto a esse documento
encontra-se um fragmento da vida da escrava Vitória, criola, de quatorze anos de idade,
que foi levada a leilão em praça pública na vila de Caetité, “pelo tempo de oito dias e
della não teve lanço algum”25. Assim como Vitória, que foi “partilhada emocionalmente”,
talvez sendo afastada da propriedade em que vivia com algum familiar, pelo menos outros
vinte e cinco escravos, uma quantidade acima da média para as fazendas da região,26
também foram arrolados neste inventário, todos morando nas terras da Fazenda
Umbuzeiro, onde teceram suas histórias de vida.
Em geral, além dos familiares e da “parentela mais ampla”, uma fazenda ou sítio
do século XIX também era dividida(o) entre os escravos e agregados (trabalhadores
livres, forros, entre outros). Como demonstra Alida Metcalf (1987, p. 231. Apud:
FREIRE, 2009, p. 49), nos casos em que “os escravos não podiam formar famílias auto-
suficientes e independentes [estes] eram obrigados a constituí-las dentro ou nas
proximidades do domicílio de seu senhor.”
Nessa perspectiva, os inventários de bens constituem fontes primordiais, pois
permitem apreender informações diversas, tanto do proprietário e de seus familiares,
quanto de escravos, agregados, além de outras informações sobre o funcionamento da
propriedade e da cultura material ali presente. Maria Luíza Oliveira (2005, p. 25) discute
que, embora necessitem de análise miúda, os inventários são fontes complexas e se abrem

25
APEB. Sessão: Judiciário. Série: Inventários. ID: Rita Antônia de Brito Gondim, 1858.
26
Maria de Fátima Pires (2003, p. 61) indica, a partir dos estudos de NEVES (2008), para o período de 1768
– 1883, que “a média correspondia a aproximadamente 18 escravos por unidade produtiva”, não deixando
de apontar, em suas pesquisas, a recorrência de fazendas com números mais expressivos.
14

a múltiplas possibilidades de abordagem, pois “fornecem dados que dizem respeito à


origem social da pessoa [...], à família [...], à organização do capital [...], à vida material
[...], à vida imobiliária [...], etc.”
Os inventários podem ser ainda mais enriquecedores quando analisados em
conjunto com outras fontes. Assim, observa-se na outra ponta do tecido social, em 1838,
os membros da Câmara Municipal – da qual faziam partes representantes da família Brito
Gondim – reunindo esforços para a construção de uma estrada que atravessasse “da do
Rio de Contas para a do Umbuzeiro [...] com vinte palmos de largura”, de modo que se
pudesse “nela passar carros”.
Esses registros, presentes em ata da Câmara, deixam entrever a dinâmica social e
econômica desta propriedade, intensificada por obras públicas provenientes da atuação
política de seus proprietários e/ou aliados. O que significava, para esse período, colocar
a Fazenda Umbuzeiro na rota para Rio de Contas? A exigência de uma estrada carroçável
indica a necessidade de escoamento de produtos e maior dinamismo comercial. Conforme
demonstra Maria de Fátima Pires (2003, p. 11):
Rio de Contas e Caetité [...] eram polos de abastecimento de gado e
gêneros de primeira necessidade, como farinha de mandioca, toucinho,
feijão, algodão, rapadura e aguardente para as povoações
circunvizinhas e para Minas Novas, em Minas Gerais, algumas vilas de
Goiás, Jacobina e Salvador. Caetité e Rio de Contas eram polos de
irradiação de negociantes com firmas de tropeiros, que desde à época
da mineração estavam em contato com os caminhos do comércio de
abastecimento, que descia até Sorocaba, em São Paulo, abrangiam
Goiás, o Recôncavo baiano e, através de Jacobina e Juazeiro, os sertões
do Ceará, do Piauí e de Pernambuco.

Iniciativas como essa, marcadas por interesses financeiros e conquistadas através


da atuação política definiram não só caminhos e fronteiras mas, também, condições de
vida na região. Para tanto, destaca-se a relevância de documentos como Atas da Câmara
Municipal, que apesar de serem “fontes oficiais” e corresponderem a um “suporte
documental próprio do âmbito político-administrativo”, “podem constituir importante
fonte de análise da dinâmica interna da sociedade, revelando aspectos econômicos e
sociais, assim como as relações de poder que se estabelecem em seu interior”.
(MARTINY, 2008, p. 03)
Do ponto de vista econômico, novos estudos afirmam que não apenas a agricultura
de exportação assumiu importância no âmbito econômico brasileiro, ao contrário, “havia
também importantes setores de uma economia de subsistência que interligava
economicamente diferentes áreas do Brasil” (GOLVÊIA, 2007, p. 20). Conforme
15

analisado anteriormente, no século XIX Caetité se destacou pela criação de gado,


produção e comércio de algodão e de outros gêneros alimentícios de primeira
necessidade. Sendo assim, qual o papel das fazendas dos Brito Gondim na dinâmica
socioeconômica regional?
Para mensurar essa participação é importante considerar o quanto as trajetórias de
famílias são, também, trajetórias patrimoniais. Ainda numa época de grande prosperidade
da família Brito Gondim, aparecem arroladas no inventário de bens do Major Francisco
Manuel de Brito Gondim (1842), partes de importantes fazendas da região: Junco,
Cachoeira, Morro, Brejo Grande, Tapera do Maxado, Caldeirão, São Domingos e Campo
Seco, esta última, partilhada com a família Pinheiro Cangussú27, em virtude de uniões
matrimoniais28. Diante disso, não se pode desconsiderar a importância dos casamentos no
processo de dilatação das propriedades dessa família. Como aborda Jonis Freire (2009, p.
39):
A historiografia tem demonstrado que, em algumas regiões do país,
uma estratégia muito utilizada pelas famílias da elite foi a união a outras
de igual status. Por meio do casamento entre seus pares, elas
objetivaram manter, formar e/ou aumentar suas fortunas e prestígio.

Ao observar a genealogia dos Brito Gondim, nota-se que uma geração inteira
dessa família se uniu a de outra família proprietária, a Xavier Cotrim, o que representa o
domínio de uma extensa posse de terras nessa região e, mais que isso, “uniões que se
tornam uma corrente contínua de obrigações e de reciprocidades e que ajudam a realizar
e reforçar relações sociais” (CANCELA, 2009, p. 29).
Ao lado das uniões matrimoniais estavam os apadrinhamentos e compadrios,
registrados nos livros da Freguesia de Caetité, bem como a atuação na Irmandade de São
Benedicto, registrada em documentos preservados pela família do Barão de Caetité.
Mas, conforme discute a historiadora Zélia Cardoso de Mello (1990), ao longo do
século XIX observam-se “mudanças nas formas de riqueza social”. No alto sertão da
Bahia, a crise da extração do ouro em Rio de Contas (1844) e, posteriormente, da extração
de diamantes na Chapada Diamantina (1870) alteraram a economia e os fluxos da região.
As leis abolicionistas (1871; 1885), intensificadas a partir de 1850 com o fim do Tráfico

27
A obra de Lycurgo Santos Filho (1956), intitulada Uma comunidade rural do Brasil antigo, detalha a
história da família Pinheiro Canguçu e de suas ações no alto sertão da Bahia. Em alguns momentos explicita
as relações de envolvimento entre esta família e os Brito Gondim, ainda na primeira metade do século XIX
quando ambas as famílias gozavam de maior prestígio econômico e social.
28
APEB. Sessão: Judiciário. Série: Inventários. ID: Francisco Manuel de Brito Gondim (1842). Notação:
2.585.1037.14.
16

Atlântico, foram aos poucos mudando as relações entre proprietários e escravos. Muitos
dos primeiros, encontraram no tráfico interprovincial uma opção lucrativa mediante as
transformações econômicas e políticas daquele contexto, conforme demonstra o recente
estudo de Laiane Silva (2014)29. Entre eles estava Joaquim Manoel de Brito Gondim,
identificado nos estudos de Maria de Fátima Pires (2009) e Erivado Neves (2000)30. Além
disso, a dura seca que atravessou a década de 1890 trouxe uma crise econômica sem
precedentes, abalou a produção algodoeira, sacrificou rebanhos de criações e impactou
ricos e pobres, provocando, de acordo com Alinny Alves (2012) os maiores índices de
mortandade registrados entre os anos de 1890-1920 em Caetité. As estradas de ferro
construídas na segunda metade do século XIX, também ajudaram a reconfigurar as rotas
de comércio na Bahia. Por fim, a Abolição (1888) repercutiu entre aqueles proprietários
escravistas da região que ainda se prendiam exclusivamente a uma “economia
tradicional”.
Entretanto, a diversificação na economia brasileira, bem como as mudanças nas
formas de riqueza no final do século XIX, foram sentidas de modos diferentes pelos
proprietários do alto sertão baiano. Aqueles mais articulados, como Deocleciano Pires
Teixeira, José Antônio Gomes Neto (Barão de Caetité) e Joaquim Manuel Rodrigues
Lima, acompanharam os novos investimentos, adquirindo títulos da dívida pública, ações
da estrada de Ferro da Bahia e de firmas comerciais, tornando-se representantes de
empresas comissárias e bancos da Bahia (Salvador) e do Rio de Janeiro. De forma
particular, emprestaram dinheiro a juros e diversificaram seus rendimentos. (AGUIAR,
2011).
Os poucos inventários dos Brito Gondim analisados até o momento, apontam em
outra direção. Sem escravos, os bens de maior valor ainda eram as partes de terras que
lhes restaram, às vezes terrenos conflituosos e disputados como a Fazenda Salinas31.
Esses documentos também registram dívidas e, às vezes, uma criação inexpressiva.
Questões como a Lei de Terras (1850) e a Lei Saraiva (1881) também devem ser

29
É um estudo que aborda a trajetória política da família Faria Fraga no alto sertão da Bahia e seu
envolvimento no tráfico interprovincial que abasteceu as fazendas de café no Oeste Paulista. Foi defendido
em 2014, como TCC do curso de História (UNEB/Campus VI), sob minha orientação.
30
Segundo dados do historiador Erivaldo Neves (2000, p. 125), de uma listagem de quase cem traficantes,
seu nome aparece entre os cinco mais expressivos do alto sertão baiano
31
Em 1892, as terras da Fazenda Salinas foram alvos de disputas judiciais envolvendo Porfírio de Brito
Gondim e Manuel Joaquim Pinheiro, este último acusado de se apropriar indevidamente das terras do
primeiro. Posteriormente, no ano de 1897, o jornal A Penna, de Caetité, publicou um protesto de Teotônio
Alexandrino de Carvalho, que se dizia herdeiro de parte das terras da Fazenda Salinas, declarando ser filho
legítimo do Capitão Francisco de Brito Gondim.
17

consideradas no decorrer desse estudo, pois interferiram nas condições de acesso à terra
e na participação política durante o oitocentos. Não se sabe, contudo, em que medida
essas leis intervieram na trajetória patrimonial e política dos Brito Gondim. Tomando
como base o estudo de Zélia Cardoso de Mello (1990, p. 26), considera-se que
Investigar as transformações da riqueza significa produzir informações
adicionais que permitem compreender o modo como se deu a passagem
da economia tradicional à capitalista no final do século XIX. Outra
ideia, como a primeira relacionada, é a de que a mudança na forma de
riqueza indica a constituição e fortalecimento de um grupo social que
personifica interesses diversificados, financeiros, comerciais,
industriais, agrários.

Embora não tenha sido especificado por essa autora, entre aqueles que
conseguiram lidar melhor com a passagem da “economia tradicional” também observa-
se o fortalecimento de interesses políticos. As atas da Câmara Municipal de Caetité,
especialmente a partir da década 1880, revelam uma mudança nas lideranças políticas
locais, ao passo que demonstram um declínio na atuação dos Brito Gondim:
“[13/10/1880] reunidos sob a presidência do Dr. Rodrigues Lima [...] que convidava
os vereadores para fazer apuração dos votos [...]: Te Cel José Antonio Rodrigues Lima –
2.835 votos [...]; Milinardo de Brito Gondim – 41 [votos].32
A discrepância de votos entre candidatos de diferentes grupos políticos foi
intensificada nos anos posteriores, chegando a registrar-se apenas um voto para o
candidato Brito Gondim. Após a República, aqueles que ainda conseguiram se manter em
algum emprego público foram substituídos, conforme demonstram indícios presentes na
documentação pessoal do político José Antônio Rodrigues Lima: “[...] Exonerar o actual
agente do correio da mesma povoação de Duas Barras Geminiano de Brito Gondim e
nomear pª o mmo. Cargo a Ottílio Soares Carvalho.”33.
A notável decadência dessa família também foi relatada pela memorialista Helena
Santos (1997, p. 138- grifos meus):
Decaíram de importância com a Abolição da Escravatura, alianças
desiguais e o domínio do Partido Liberal. A falta de braços para a
lavoura e criação levou-os a abandonar suas terras, vendendo ou
abandonando o meio rural, procurando ocupação na cidade. Os atuais
descendentes desconhecem a posse da Fazenda Alegre34, que deve

32
Fundo: Casa do Barão de Caetité. Série: Documentos Jurídicos/ Atas. Caixa 03, Mç: 04- grifos meus.
33
Fundo: Arquivo da Família do Barão de Caetité. Série: José Antônio Rodrigues Lima. Subsérie:
Correspondências enviadas. Nota sem destinatário e data, possivelmente enviada ao irmão Joaquim Manoel
Rodrigues Lima.
34
Fazenda onde foi instalada, em 1754, a Freguesia de Santana de Caetité. Quando a Vila de Caetité foi
formada, em 1810, parte dessa fazenda deu lugar ao Largo do Alegre, principal centro comercial da região
até a década de 1970. No início do século XX esse largo recebeu o nome de Praça Joaquim Manuel
18

ter passado a outros donos, mas João Gumes35 em suas notas históricas,
conta que conheceu, quando jovem, um descendente da família Brito
Gondim, já muito velho e pobre, que lhe disse uma vez, com orgulho:
‘tudo isto foi de meu avô!”, apontando o velho sobrado.

Embora a autora aponte alguns fatores que levaram ao declínio desse grupo
familiar, esses e outros aspectos precisam ser melhor analisados pela historiografia.
Atrelada a trajetória desses sujeitos está um processo de transformação social pelo qual
passou a sociedade brasileira no século XIX. De forma mais específica, também estão
embutidas mudanças econômicas e políticas vivenciadas no alto sertão baiano. Portanto,
esse é um estudo que busca compreender a sociedade alto sertaneja em transformação, a
partir dos rastros de uma família que se modificou ao longo do tempo, das gerações...

4. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL:
 Analisar, a partir da trajetória da família Brito Gondim, entre os anos de 1810-
1899, as relações de poder estabelecidas no alto sertão da Bahia, no intuito de
compreender os caminhos que levaram ao declínio desse grupo nos âmbitos
político e econômico em fins do século XIX.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:


 Identificar e mapear a atuação econômica dos Brito Gondim, analisando o papel
exercido por suas fazendas na dinâmica do alto sertão baiano ao longo do século
XIX.
 Discutir as nuances da política imperialista brasileira a partir da atuação e
articulação dos Brito Gondim, no alto sertão da Bahia.
 Estabelecer as redes de sociabilidades que envolveram os Brito Gondim,
perscrutando como as relações econômicas e sociais definiram a condição de
permanência política ao longo do Oitocentos.
 Analisar as transformações da riqueza dessa família frente ao contexto de
transformação da economia brasileira, de tradicional para capitalista, no final do
século XIX.

Rodrigues Lima mas, ainda hoje é conhecido como “Feira Velha”. O sobrado ao qual a autora se refere
pertenceu aos Brito Gondim e ainda faz parte do casario antigo dessa praça. Entretanto, não há nenhuma
ligação entre essa construção e os seus antigos proprietários. O nome dessa família foi completamente
desassociado das histórias que se propagam sobre Caetité.
35
João Antônio dos Santos Gumes (1858/1930) foi um notável intelectual caetiteense, fundador da primeira
Oficina Tipográfica do Sertão, em 1897.
19

5. FONTES:
5.1 Manuscritas:
 ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL DE CAETITÉ (APMC):
Acervo Família Teixeira (Correspondências Pessoais e Livros Contábeis) – 1885-
1899.
Atas das sessões de vereação; Atas do Conselho Municipal de Recurso; Atas
eleitorais; Atas da Câmara Municipal de Caetité (1810-1899).
Atas Paroquiais de Caetité (1810-1899)
Registros de casamento, óbito e nascimento da Paróquia de Caetité (1889-1899).
 ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA (APEB)
Escrituras Públicas de compra e venda de terras (1810-1899)
Inventários de bens: Francisco de Brito Gondim (1773); Antonio de Brito Gondim
(1817); Francisco Manuel de Brito Gondim (1842); Joaquina de Brito Gondim (1846);
Francisca de Brito Gondim (1848); Rita Antônia de Brito Gondim (1849); Angélica
Francisca de Brito Gondim (1866); João Francisco de Brito Gondim (1872); Manuel
Francisco de Brito Gondim (1879); Rita Esmeria de Brito Gondim (1881); Serafim de
Brito Gondim (escravo) – (1881); Manuel Francisco de Brito Gondim (1881); Alferes
José de Brito Gondim (1891); Inácio de Brito Gondim (1897); Porfírio de Brito Gondim
(1899); Partilha amigável de Cassiana Francisca de Brito Gondim (1966)
 ARQUIVO DA FAMÍLIA DO BARÃO DE CAETITÉ:
Atas eleitorais avulsas
Documentos da Irmandade de S. Benedito
Série: Fazendas (Livros de administração de Fazendas)
Série: José Antônio Gomes Neto (Correspondências pessoais, Livros Contábeis,
Documentação Judicial - 1850-1899).
Série: Joaquim Manuel Rodrigues Lima (Correspondências Pessoais, Livros
Contábeis e documentos administrativos – registros da política baiana – 1870-1899).
Série: José Antônio Rodrigues Lima (Correspondências Pessoais – 1870 -1899)
 CÚRIA DIOCESA DE CAETITÉ
Livros de tombo e de registros eclesiásticos (nascimento, casamento, óbito) da
Freguesia Santana de Caetité – Cúria Diocesa de Caetité (1810-1880).

5.2 Impressas:
 ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL DE CAETITÉ:
20

Jornal A Penna. Caetité: Typografia Gumes e Filhos, 1897-1900. Edições


Microfilmadas.
 LITERATURA DE VIAJANTES:
CASAL, Manuel Aires. Corografia brasílica ou Relação histórico-geográfica do
Reino do Brasil.Belo Horizonte, Ed. Itatiaia; São Paulo, Ed. da Universidade de São
Paulo, 1976.
d’ORBIGNY, Alcide. Viagem pitoresca através do Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia;
São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1976.
SAMPAIO, Teodoro. O rio São Francisco e a Chapada Diamantina. Salvador:
Imprensa Gráfica da Bahia, 1998.
SPIX, J.B. e VON MARTIUS, C.F. Através da Bahia: Exerptos da Obra Reise in
Brasilien. Imprensa Oficial do Estado, 1916.

 LITERATURA MEMORIALISTA REGIONAL:


COTRIM, Dário Teixeira: O Distrito de Paz do Gentio e a História Sucinta de sua
decadência. Montes Claros-MG, Penna, 1997.
FILHO, Lycurgo Santos. Uma comunidade Rural no Brasil Antigo: Aspectos da vida
patriarcal no Sertão da Bahia nos séculos XVIII e XIX. São Paulo: Companhia Editorial
Nacional, 2012.
GUMES, Marieta Lobão. Caetité e o Clã dos Neves, 1975.
LIMA, Francisco Fagundes. Os Expatriados. Romance dos Costumes Sertanejos
desenrolado na cidade de Caetité. 1920. Museu Regional de Vitória da Conquista.
NEVES, Flávio. Rescaldos de Saudade. Belo Horizonte: Academia Mineira de
Medicina, 1986.
SANTOS, Helena Lima. Caetité Pequenina e Ilustre, 2ª ed. Tribuna do Sertão:
Brumado, 1997.

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da família Teixeira no alto sertão da Bahia (Caetité, 1895-1924). Dissertação de
Mestrado. Santo Antônio de Jesus: UNEB, 2011.
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Sociais no Alto Sertão da Bahia. Caetité, 1890-1920. Trabalho de Conclusão do Curso de
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