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30512017 3507
Abstract This study aimed to estimate the inci- Resumo Objetivou-se estimar a incidência de
dence of falls among the elderly and to determine quedas entre os idosos e determinar os fatores
the predictive factors of falls and recurrent falls. preditivos de quedas e quedas recorrentes. Estu-
This is a longitudinal study (2014-2016) conduc- do longitudinal (2014-2016) conduzido com 345
ted with 345 elderly in the urban area of Uberaba idosos da área urbana em Uberaba-MG. Utilizou-
-MG. A structured tool related to socioeconomic se: instrumento estruturado referente aos dados
data and occurrence of falls, Katz and Lawton socioeconômicos e à ocorrência de quedas; Escalas
-Brody Scales, the Short Physical Performance de Katz e Lawton e Brody; Short Physical Perfor-
Battery (SPPB) and Falls Efficacy Scale-Interna- mance Battery (SPPB) e Falls Efficacy Scale-In-
tional (FES-I) Brazil were used. The multinomial ternational (FES-I) Brasil. Procedeu-se à análise
logistic regression analysis was performed (p < de regressão logística multinomial (p < 0,05). A
0.05). The incidence of falls in the follow-up pe- incidência de quedas no período de acompanha-
riod was 37.1%, with 20% recurrent falls and mento representou 37,1%, sendo 20% recorrentes
17.1% single-event falls. The final model showed e 17,1% em um único evento. O modelo final in-
that the increase in one SPPB unit decreased by dicou que o aumento em uma unidade do SPPB
approximately 15% and 17%, respectively, the diminuiu em aproximadamente 15% e 17%, res-
1
Curso de Graduação probability of falls and recurrent falls. The highest pectivamente, a chance de quedas e quedas recor-
em Terapia Ocupacional, FES-I Brazil score was associated with a higher rentes. O maior escore da FES-I Brasil associou-se
Universidade Federal
do Triângulo Mineiro occurrence of recurrent falls. The results found on à maior ocorrência de quedas recorrentes. Os re-
(UFTM). Pç. Manoel Terra the occurrence of falls and recurrent falls and their sultados encontrados sobre a ocorrência de quedas
330, Centro. 38015-050 association with worse physical performance and e quedas recorrentes e sua associação com pior de-
Uberaba MG Brasil.
amandaqueiroz612@ fear of falling provide subsidies for actions direc- sempenho físico e ao medo de cair fornecem subsí-
gmail.com ted to the monitoring and control of the interfe- dios para ações direcionadas ao monitoramento e
2
Curso de Graduação em ring factors. controle dos fatores interferentes.
Fisioterapia, Universidade
Federal do Amapá. Macapá Key words Elderly, Fall accidents, Risk factors, Palavras-chave Idoso, Acidentes por quedas, Fa-
AP Brasil. Psychomotor performance, Primary health care tores de risco, Desempenho psicomotor, Prevenção
3
Curso de Graduação primária
em Terapia Ocupacional,
Universidade Federal do
Rio de Janeiro RJ Brasil.
4
Curso de Graduação
em Enfermagem, UFTM.
Uberaba MG Brasil.
3508
Souza AQ et al.
(FES-I Brasil), que é uma escala adaptada e va- foram identificados com as estimativas de razão
lidada por Camargos18 e apresenta questões so- de chances (odds ratio), por meio do modelo de
bre a preocupação com a possibilidade de cair regressão logística multinomial, considerando
ao realizar 16 atividades, com respectivos escores um nível de significância de 5% (p < 0,05) e in-
de um a quatro19. O escore total é calculado pela tervalo de confiança (IC) de 95%.
soma dos valores obtidos em cada item e pode O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
variar de 16 a 64; o menor valor corresponde à em Pesquisa com Seres Humanos da Universida-
ausência de preocupação mediante a possibilida- de Federal do Triângulo Mineiro - UFTM e se-
de de cair, e o maior valor à preocupação extrema guiu os princípios éticos presentes na Resolução
em relação às quedas19. nº. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Os
A ocorrência de quedas e número de vezes sujeitos foram convidados a participação e socia-
que o idoso referiu cair foi verificado a partir de lização de informações sobre a natureza e objeti-
duas questões pertencentes ao instrumento ela- vos da pesquisa. Após a anuência do entrevistado
borado por Schiavetto20. e assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Para o presente estudo foram utilizadas as Esclarecido, o estudo foi conduzido.
variáveis da seguinte forma: socioeconômicas,
demográficas: sexo (masculino e feminino); faixa Resultados
etária, em anos (60-75, 75 e mais); escolaridade,
em anos de estudo; arranjo de moradia (sozinho
e acompanhado); número de morbidades e me- Dentre os 345 idosos entrevistados em 2014, a
dicamentos; percepção de saúde: péssima/ruim/ maioria era do sexo feminino, faixa etária 60├75
regular (negativa) e boa/ótima (positiva); hospi- anos e moravam acompanhados. A Tabela 1
talização nos últimos doze meses: sim e não; capa- apresenta a distribuição das variáveis socioe-
cidade funcional nas ABVD e AIVD: dependente conômicas, clínicas e de saúde de acordo com a
e independente; quedas: 0 (ausência), 1 (ocorrên- ocorrência de quedas na linha de base.
cia de 1 evento) e 2 ou mais (quedas recorrentes); Durante o período de acompanhamento
medo de cair e desempenho físico de membros (2014-2016), 20% (n = 69) dos idosos apresenta-
inferiores: operacionalizado de forma contínua. ram quedas recorrentes, 17,1% (n = 59) um úni-
Foi constituída uma planilha eletrônica para co evento e 62,9% (217) nenhuma queda.
o armazenamento dos dados, por meio do pro- De acordo com o critério estabelecido (p <
grama Microsoft Office 2007 Excel®. Os dados 0,10) para a seleção das variáveis na análise bi-
coletados foram digitados por duas pessoas, com variada, foram submetidas ao modelo de regres-
dupla entrada, para posterior verificação da exis- são multivariado: sexo, faixa etária, percepção de
tência de inconsistências. Na ocorrência de diver- saúde, número de doenças e medicamentos; hos-
gências, os pesquisadores retomavam a entrevista pitalização no último ano, escore total da FES-I
original para a realização das correções perti- Brasil e da SPPB; e incapacidade funcional para
nentes. Este banco foi importado para o software as AVD e AIVD (Tabela 2).
“Statistical Package for Social Sciences” (SPSS) O modelo final de regressão logística mul-
versão 17.0, para análise. tinomial evidenciou fatores preditivos para
Inicialmente, foi calculada a taxa de incidên- ocorrência de quedas (escore total da SPPB) e
cia e para caracterizar a população realizou-se quedas recorrentes (escore total da FES-I Bra-
análise estatística por meio de distribuição de sil e da SPPB) no período de acompanhamento
frequências absolutas e percentuais para as va- (2014-2016). Os resultados indicaram que o au-
riáveis categóricas, e medidas de centralidade mento em uma unidade do SPPB diminuiu em
(média) e de dispersão (desvio padrão) para as aproximadamente 15% e 17%, respectivamente,
variáveis quantitativas. a chance de quedas e quedas recorrentes entre
Procedeu-se às análises bivariada e multiva- idosos. Para a FES-I Brasil, o maior escore asso-
riada por meio da regressão logística multino- ciou-se à maior ocorrência de quedas recorrentes
mial para verificar a associação entre as variáveis (Tabela 3).
exploratórias com a variável dependente (ausên-
cia de quedas, uma queda e quedas recorrentes).
As variáveis de interesse de acordo com o critério Discussão
estabelecido (p < 0,10) foram incluídas no mo-
delo de regressão multivariado. Os fatores predi- Este estudo demonstrou que o melhor desempe-
tores associados às quedas e quedas recorrentes nho de membros inferiores diminuiu a chance
3511
de quedas e quedas recorrentes durante o se- mente a fatores extrínsecos, enquanto as recor-
guimento. Além disso, o maior escore da FES-I rentes a fatores intrínsecos, acompanhados de
Brasil associou-se à maior ocorrência de quedas risco ambiental21.
recorrentes. Os resultados referentes à incidência A partir dos resultados encontrados, verifica-
de quedas foram inferiores a estudo realizado na se a necessidade de articulação entre as equipes
cidade de Ohama (62,5%)4. Da mesma maneira, multiprofissionais de saúde em todos os níveis
investigação realizada em contexto diferente do de atenção, em especial, na atenção básica, com
presente estudo, em hospital, constatou incidên- intuito de detectar os idosos com riscos poten-
cia de 12,6 por 1.000 pacientes/dia (sobrevida ciais de quedas e com histórico prévio e, ainda, de
global = 42,0%) entre idosos hospitalizados6. minimizar a sua ocorrência. Isso evitará a neces-
Dentre os estudos longitudinais identifica- sidade de procedimentos emergenciais de média
dos, nenhum apresentou separadamente a inci- e alta complexidades, em unidades hospitalares.
dência de quedas (uma única vez nos 12 meses) Além de as equipes estarem treinadas para
e de quedas recorrentes (duas ou mais)4-6, o que essa avaliação, uma vez que há uma preocupação
inviabilizou a comparação dos resultados do pre- em relação à dificuldade dos idosos relatarem a
sente estudo. No entanto, verificou-se neste estu- ocorrência da queda ao longo de um período de
do uma maior incidência de quedas recorrentes. 12 meses, em especial, aquelas que não provoca-
A ocorrência das quedas ocasionais, ou seja, que ram lesões22, bem como de compreenderem esse
acontecem uma única vez, é atribuída principal- evento com um problema a ser prevenido e que
3512
Souza AQ et al.
Tabela 2. Análise bivariada para os fatores preditivos associados às quedas e quedas recorrentes entre idosos da
comunidade. Uberaba, Minas Gerais, Brasil, 2014-2016 (n = 345).
Quedas Quedas recorrentes
Variáveis
OR IC95% p* OR IC95% p*
Sexo
Masculino 1 1
Feminino 1,72 0,92-3,21 0,090 2,73 1,43-5,21 0,002
Faixa etária (em anos)
60├75 1 1
75 e mais 1,22 0,64-2,32 0,541 2,19 1,24-3,86 0,007
Escolaridade (em anos) 0,98 0,91-1,05 0,535 0,94 0,87-1,01 0,104
Arranjo de Moradia
Acompanhado 1 1
Sozinho 1,34 0,67-2,66 0,411 1,40 0,73-2,67 0,303
Percepção de saúde
Positiva 1 1
Negativa 1,79 0,98-3,25 0,055 2,30 1,27-4,04 0,006
Número de doenças 1,15 1,05-1,24 0,001 1,15 1,06-1,24 <0,001
Número de medicamentos 1,10 0,99-1,23 0,069 1,07 0,97-1,19 0,176
Hospitalização no último ano
Sim 0,52 0,25-1,05 0,069 0,95 0,44-2,05 0,889
Não 1 1
FES-I Brasil (escore total) 1,03 1,0-1,05 0,065 1,07 1,05-1,10 <0,001
SPPB (escore total) 0,80 0,70-0,90 <0,001 0,71 0,63-0,81 <0,001
Dependência para ABVD
Sim 2,41 1,20-4,83 0,013 1,96 1,0-3,87 0,054
Não 1 1
Dependência para AIVD
Sim 1,22 0,68-2,17 0,502 2,06 1,17-3,62 0,013
Não 1 1
OR: Odds Ratio; IC: Intervalo de confiança; 1: Categoria de referência; *p < 0,1; FES-I Brasil: Falls Efficacy Scale - International
em idosos Brasileiros; SPPB: Short Physical Performance Battery; ABVD: Atividades Básicas de Vida Diária; AIVD: Atividades
Instrumentais de Vida Diária.
pode causar impactos que vão além do contexto faixa etária de 75 anos e mais8, autopercepção
de saúde2. Somado a isso, torna-se fundamental de saúde negativa7,10, maior número de doenças,
o desenvolvimento de um trabalho de prevenção, pior desempenho físico de MMII4,7, baixa auto-
envolvendo toda a comunidade, a fim de sensibi- eficácia para quedas7e incapacidade funcional
lizar em relação a esse evento tão recorrente entre para AIVD.
os idosos. Apresentar melhor desempenho físico de
Outro desafio tão relevante quanto à ocor- MMII manteve-se como um fator de proteção
rência de quedas é identificar os fatores predito- para quedas e quedas recorrentes entre os idosos,
res ao evento de interesse21. É importante frizar respectivamente (p<0,039; p<0,14). Ainda em re-
que existem poucos estudos disponíveis sobre lação às quedas recorrentes, a baixa autoeficácia
quedas na população idosa brasileira que deter- para quedas permaneceu como fator de risco (p
miram a sua incidência, assim como que utiliza- < 0,001).
ram o delineamento longitudinal. A identificação precoce das alterações rela-
Os resultados da análise preliminar são con- cionadas ao declínio do desempenho físico, mes-
dizentes com outros estudos que evidenciaram mo entre idosos mais jovens e da comunidade, e
que queda única está associada ao maior número a realização da intervenção adequada são essen-
de doenças4, pior desempenho físico de MMII7 ciais para a prevenção de quedas25, contribuindo
e incapacidade para as AVD23,24. Para quedas re- para manutenção da independência e participa-
correntes há associação com o sexo feminino8,10, ção em atividades comunitárias e sociais. Estudo
3513
que afetam a mobilidade funcional, promovem ser uma coorte de população fechada impediu
dependência física e até mesmo institucionaliza- que o tamanho e a distribuição das variáveis de
ção precoce30. interesse se mantivessem constantes ao longo do
Dessa forma, os profissionais de saúde po- seguimento.
dem favorecer a criação de espaços que permi- Os dados permitem concluir que a incidên-
tam o desenvolvimento de estratégias para abor- cia de quedas correspondeu a 37,1% e que o me-
dar o tema com os idosos; o esclarecimento dessa lhor desempenho físico de membros inferiores
condição e de suas repercussões aos familiares e está associado à menor probabilidade de quedas
cuidadores; a intervenção em relação aos fatores e quedas recorrentes entre idosos. Além disso, o
de risco modificáveis e o treino das atividades co- medo de cair está associado à maior ocorrência
tidianas31. de quedas recorrentes.
Recomenda-se ainda que os profissionais, ap- Os resultados deste estudo podem contribuir
tos para isso, intervenham em relação à memória para ampliar o conhecimento sobre os fatores
de trabalho, em especial, a memória visuoes- pretidores de quedas em idosos, evento ainda fre-
pacial das características ambientais; a nature- quente nesta população. Os achados reforçam a
za dinâmica da tarefa, envolvendo a postura na necessidade de os profissionais de saúde estarem
posição ortostática e a deambulação; a atenção aptos para avaliar o desempenho físico e o medo
(sustentada e dividida), durante a execução das de cair dos idosos.
tarefas29 e a prática de exercícios físicos, visto Além disso, ressaltam a importância de ações
que pode aumentar a confiança e segurança em interdisciplinares que envolvam intervenções
deambular e melhorar o equilíbrio corporal e a individuais e/ou coletivas, que considerem os
flexibilidade32. aspectos físicos, mas também os psicológicos,
Destaca-se como limitação este estudo ter como o medo de cair, tendo em vista que essa
considerado o declínio cognitivo como um cri- condição pode levar os idosos a limitarem a sua
tério de inclusão, visto que esta condição pode participação em atividades essenciais e desejadas
interferir no desfecho quedas. Ademais, o fato de no seu cotidiano.
Colaboradores
1. Resende CP, Gaede-Carrilho MRG, Sebastião ECO. 15. Santos RL, Virtuoso Júnior JS. Confiabilidade da ver-
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