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SISTEMA FINANCEIRO

INTERNACIONAL
AULA 5

Profª. Polyanna Rodrigues Gondin


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, a atenção será voltada especialmente para o estudo do


neoliberalismo econômico. O objetivo geral é compreender o papel e a
importância do Estado na dinâmica do crescimento econômico.
Para isso, a primeira seção dedica-se à comparação entre o
neoliberalismo e o keynesianismo, buscando compreender suas principais
diferenças, ideias e críticas. A segunda seção reporta-se à análise do
neoliberalismo na década de 1990 e seus principais efeitos na sociedade. Por
sua vez, a terceira seção diz respeito ao Consenso de Washington, seus
objetivos e premissas, já que é considerado um “exemplar” da cartilha neoliberal.
A quarta seção, refere-se ao estudo dos empréstimos concedidos aos países em
desenvolvimento e à abertura financeira da década de 1990. E a última seção
busca contrapor os aspectos positivos e negativos das finanças neoliberais,
apresentando a visão dos defensores e dos críticos do neoliberalismo.

TEMA 1 – NEOLIBERALISMO X KEYNESIANISMO


Na economia, existem teorias que se dedicam ao estudo da atuação do
Estado, explicando suas funções, a sua forma de organização, até onde deve
atuar e quais seus direitos e obrigações. Entre essas teorias, podemos citar o
Neoliberalismo e Keynesianismo. O Neoliberalismo baseia-se na teoria do
Liberalismo Econômico de Adam Smith e John Stuart Mill. Eles defendem que o
próprio capitalismo contém mecanismos eficientes de autorregulação (mão
invisível). Para Smith, na esfera econômica, cada indivíduo agindo livremente
em função dos seus interesses próprios produz um resultado não intencional que
beneficia toda a sociedade: o progresso e a riqueza da nação (Paulani, 1999).
Ainda segundo Paulani (1999), esse progresso abrangeria toda a sociedade,
incluindo as classes mais baixas. Desse modo, o papel do Estado deveria
limitar-se a cumprir contratos e garantir a propriedade privada.
A teoria liberal foi predominante até a Crise de 1929, quando a eficiência
do capitalismo foi amplamente questionada. Contrapondo-se totalmente à visão
liberal, nasceu então a teoria keynesiana, afirmando a relevância da atuação do
Estado na sociedade, na economia e nas demais áreas necessárias. Esse
modelo intervencionista ganhou força após a crise de 1929 e foi adotado por

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muitas economias após a Segunda Guerra Mundial, ficou conhecido como
Estado do Bem-Estar Social (Welfare State).
A teoria Keynesiana prega a intervenção estatal na sociedade, na
economia e em quaisquer áreas necessárias. Porém, com o processo de
globalização e a crise do capitalismo na década de 1970, o neoliberalismo
ganhou força, tomando o lugar da teoria keynesiana nas economias capitalistas.
O principal protagonista da teoria neoliberal é Hayek. Essa teoria, assim como o
liberalismo, prega menos participação do Estado e mais mercado (Hofling,
2001). Paulani (1999) afirma que o neoliberalismo se apresenta
fundamentalmente como uma receita de política econômica em que abertura
comercial, Estado mínimo e desregulamentação são os principais ingredientes.
Assim, a partir de 1970, o Estado surge como vilão e o mercado como panaceia,
e todos os males do Estado do Bem-Estar Social podem ser resolvidos, de
acordo com os neoliberalistas, pela abertura econômica, diminuição do Estado
e contração dos gastos.

TEMA 2 – NEOLIBERALISMO NOS ANOS DE 1990


A década de 1980 é marcada pelo fenômeno da crise fiscal do Estado.
Essa crise foi consequência, segundo Bresser-Pereira (1998, p. 55-56) de alguns
fatores:

[...] seja da captura do Estado por interesses privados, seja da ineficiência de sua
administração, seja do desequilíbrio entre as demandas da população e sua
capacidade de atendê-las, o Estado foi entrando em crise fiscal [...]. Por outro lado,
o processo de globalização [...] impôs uma pressão adicional para a reforma do
Estado.

O processo de globalização, de acordo com o autor, foi relevante pois o


aumento do comércio mundial, dos financiamentos internacionais e dos
investimentos diretos das empresas multinacionais enfraqueceu as barreiras
criadas pelos Estados nacionais. Em consequência a todos esses
acontecimentos, a capacidade de intervenção estatal diminui de forma
dramática, imobilizando sua atuação (Bresser-Pereira, 1998). Esses fatores
levaram a uma reconstrução e reforma do Estado na década de 1990.
Foi então que o “Banco Mundial e o Banco Interamericano de
Desenvolvimento tornaram os empréstimos para a reforma do Estado

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prioritários”, tornando a reforma estatal o lema dos anos de 1990
(Bresser-Pereira, 1998, p. 59). O autor afirma ainda que houve quatro
componentes básicos nessa reforma que levaram ao Estado Social-Liberal.

(a) a delimitação das funções do Estado, reduzindo seu tamanho em termos


principalmente de pessoal através de programas de privatização, terceirização
e “publicização” [...];
(b) a redução do grau de interferência do Estado ao efetivamente necessário
através de programas de desregulação que aumentem o recurso aos
mecanismos de controle via mercado [...];
(c) o aumento da governança do Estado, ou seja, da sua capacidade de tornar
efetivas as decisões do governo, através do ajuste fiscal, que devolve
autonomia financeira ao Estado, da reforma administrativa rumo a uma
administração pública gerencial [...];
(d) o aumento da governabilidade, ou seja, do poder do governo (Bresser-Pereira,
1998, p. 60).

TEMA 3 – CONSENSO DE WASHINGTON


O Consenso de Washington é um exemplo do protocolo neoliberal,
formulado no ano de 1989. Esse consenso agrega uma conjunção de medidas
visando o desenvolvimento e a ampliação do neoliberalismo nos países da
América Latina. Suas recomendações tinham alicerce em dez pontos principais:

1) disciplina fiscal; 2) redução dos gastos públicos; 3) reforma tributária; 4)


determinação dos juros pelo mercado; 5) câmbio dependente igualmente do
mercado; 6) liberalização do comércio; 7) eliminação de restrições para o
investimento estrangeiro direto; 8) privatização das empresas estatais; 9)
desregulamentação; 10) respeito e acesso regulamentado à propriedade intelectual
(Lopes, 2011, p. 4).

Salienta-se que esse exemplar de protocolo neoliberal ficou conhecido


como consenso pelo fato de que essas ideias eram partilhadas, à época, pelos
círculos de poder de Washington, incluindo o congresso e a administração dos
Estados Unidos da América, por um lado, e por instituições internacionais
sediadas em Washington, como o FMI e o Banco Mundial, por outro. No entanto,
as políticas do Consenso de Washington foram implementadas de modo
excessivo e rápido, o que gerou crises.
De acordo com Vicente (2009), Stiglitz é um dos principais críticos a esse
consenso. Segundo este autor, as medidas adotadas no Consenso de

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Washington favorecem o desemprego, a instabilidade econômica, a elevação
dos preços e o retalhamento social. Além disso, Stiglitz também afirma que esse
consenso não tratou de questões relevantes, como distribuição de renda e justiça
social. Assim, como resultado, em grande parte da América Latina, depois de
uma curta explosão de crescimento, no início da década de 1990,
estabeleceram-se a estagnação e a recessão, com aumento da desigualdade e
da miséria (VICENTE, 2009).

TEMA 4 – EMPRÉSTIMO A PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO


Abertura financeira e comercial da década de 1990 favoreceu a entrada
de capitais nas economias em desenvolvimento. Esse cenário pôde ser visto,
inclusive nos países da América Latina. Mas o que favoreceu essa entrada de
capitais? Os aspectos relevantes foram a intensificação do processo de
globalização, a queda da taxa de juros americana, a expansão da liquidez no
mercado internacional de capitais e ao processo de securitização da dívida
externa. Internamente, fatores como programas de ajuste e as reformas
neoliberais, foram os principais condicionantes desse fluxo
(Sambatti; Rissato, 2005). Economias em desenvolvimento, como o Brasil,
passavam por problemas como o processo inflacionário, as barreiras comerciais,
forte onda de privatização e a desregulamentação do mercado, impostas pela
cartilha neoliberal.
Esses fatores em conjunto foram os determinantes da reinserção dos
países em desenvolvimento no mercado financeiro internacional. Essa
reinserção e a consequente entrada de capitais nos países em desenvolvimento
promoveu grande atenção no meio econômico. Isso porque os fluxos externos
de capitais exercem diversas funções sobre as economias nacionais. A esse
respeito, Sambatti e Rissato (2005, p. 2) afirmam que, por um lado, esses fluxos
são importantes para “o financiamento do crescimento econômico, a
estabilização dos ciclos econômicos e o ajustamento das contas externas”. Por
outro lado, segundo os autores, a constante movimentação de capitais e a
ausência de restrições a esses movimentos, provoca uma maior vulnerabilidade
externa, principalmente em países em desenvolvimento, como o Brasil.

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TEMA 5 – DEFENSORES E CRÍTICOS À TEORIA NEOLIBERAL
Existem defensores e críticos à teoria neoliberal. Eles promovem grandes
embates há muito tempo na economia, principalmente em períodos de
implementação de suas bases ideológicas como foi na década de 1990. Os
defensores da teoria neoliberal afirmam que o papel do Estado deveria limitar-se
a cumprir contratos e garantir a propriedade privada e, assim, haveria promoção
do desenvolvimento econômico e social. Como consequência, a economia se
tornaria mais competitiva, proporcionando um salto no desenvolvimento
tecnológico e queda dos preços e da inflação pela via da livre concorrência.
Contudo, os críticos a essa teoria afirmam que, ao pregar o livre comércio
e a menor atuação do Estado, a teoria neoliberal está apenas servindo como
instrumento de dominação para as economias mais desenvolvidas. Desse modo,
para os críticos à teoria neoliberal, os países em desenvolvimento, sofreriam com
essa dominação, apresentando problemas como desemprego, baixos salários,
aumento das diferenças sociais e dependência de capital internacional, pois
consideram as premissas dessa corrente simplistas, afirmando que as mesmas
poderiam ser válidas caso uma transação envolvesse apenas duas partes, cada
uma decidindo o que é melhor para si. Porém, não se sustenta, quando, uma
transação envolvendo duas partes, prejudica ou beneficia um terceiro, que não
participou da transação.

TROCANDO IDEIAS
Tema 1
Leitura complementar: para complementar as leituras obrigatórias, leia o texto
“Balanço do Neoliberalismo” de Perry Anderson. Acesse em:

ANDERSON, P. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, E. & GENTILI, P. (Orgs.)


Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1995. p. 09-23. Disponível em:
<http://www.portalmodulo.com.br/userfiles/BALAN%C3%87O%20DO%20NEOL
IBERALISMO.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2016

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Tema 2

Saiba mais: compreenda o neoliberalismo da década de 1990 e a crise da


América do Sul por meio do texto de Luiz Alberto Moniz Bandeira. Leia em
BANDEIRA, L. A. M. As políticas neoliberais e a crise na América do Sul. Revista
Brasileira de Política Internacional, v. 45, n. 2, jul./dez. 2002. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
73292002000200007>. Acesso em: 14 dez. 2016.

Tema 3
Leitura complementar: para compreender melhor sobre a crise da América
Latina, leia o texto complementar do Tema 2, que retrata sobre as políticas
neoliberais implementadas a partir do Consenso de Washington e suas
implicações na América do Sul. Acesse em: BANDEIRA, L. A. M. As políticas
neoliberais e a crise na América do Sul. Revista Brasileira de Política
Internacional, v. 45, n. 2, jul./dez. 2002. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
73292002000200007>. Acesso em: 14 dez. 2016.

Tema 4

Leitura complementar: para entender um pouco mais sobre a reinserção das


economias em desenvolvimento no mercado financeiro de capitais, leia o texto
“A Abertura Financeira dos Países Periféricos e os Determinantes dos Fluxos de
Capitais” de Daniela Magalhães Prates. Acesse em: PRATES, D. M. Revista de
Economia Política, v .19, n. 1, jan./mar. 1999. Disponível em:
<http://www.rep.org.br/PDF/73-3.PDF>. Acesso em: 14 dez. 2016.

Tema 5

Saiba mais: Conheça um pouco mais sobre as críticas a ideologia neoliberal no


texto de Manuel Mucheta Cureva. Acesse em: CUREVA, M. M. Crítica à
ideologia neoliberal contemporânea. Revista InterAtividade, v.1, n. 2, ago./dez.
2013. Disponível em: <
www.firb.br/editora/index.php/interatividade/article/download/56/95

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SÍNTESE
Nesta aula, nos dedicamos à temática do neoliberalismo, buscando
compreender o papel que o Estado assume perante a dinâmica de crescimento
e desenvolvimento econômico. Começamos resgatando o embate entre as
teorias neoliberal e keynesiana; a primeira prega o livre mercado e a segunda, a
ação intervencionista do Estado. Seguimos analisando a onda neoliberal que se
instaurou na década de 1990. Tanto o Consenso de Washington quanto a
entrada de capitais estrangeiros nos países em desenvolvimento fizeram parte
desse processo de abertura e foram influenciados, sobremaneira, por decisões
e medidas implementadas pela economia norte-americana.
Por fim, foi feito um contrabalanço entre os críticos e adeptos dessa teoria,
mostrando seus argumentos. E agora, após o fim dessa aula, qual sua opinião
em relação à teoria neoliberal? Ela é benéfica ou prejudicial às economias em
desenvolvimento, como o Brasil? Faça essa reflexão e bons estudos!

REFERÊNCIAS
BRESSER-PEREIRA, L. C. A reforma do Estado dos anos 90: lógica e
mecanismo de controle. Revista Lua Nova, n. 45, 1998. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ln/n45/a04n45.pdf> Acesso em: 14 dez. 2016.

HOFLING, E. M. Estado e políticas (públicas) sociais. Cadernos Cedes, a. 21,


n. 55, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v21n55/5539.pdf>
Acesso em: 14 dez. 2016.

LOPES, C. Crescimento econômico e desigualdade: as novidades pós-consenso


de Washington. Revista crítica de Ciências Sociais, n. 94, p. 03-20, 2011.
Disponível em: <https://rccs.revues.org/1475?lang=pt#tocto1n1> Acesso em: 14
dez. 2016.

PAULANI, L. M. Neoliberalismo e individualismo. Economia e sociedade,


Campinas, v. 8, n. 2, 1999. Disponível em:
<http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8643138/1068
8>. Acesso em: 14 dez. 2016.

SAMBATTI, A. P.; RISSATO, D. A relação entre os fluxos de capitais e a


vulnerabilidade externa nas economias em desenvolvimento. Seminário do
CCSA – Centro de Ciências Sociais Aplicada, 4., 2005, Cascavel. Anais...
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Cascavel: Unioeste, 2005. Disponível em:
<http://www.unioeste.br/campi/cascavel/ccsa/IVSeminario/IVSeminario/Artigos/
03.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2016.

VICENTE, M. M. A crise do estado de bem-estar social e a globalização: um


balanço. São Paulo: Ed. UNESP, 2009. Disponível em:
<http://books.scielo.org/id/b3rzk/pdf/vicente-9788598605968-08.pdf>. Acesso
em: 14 dez. 2016.

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