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AULA 5

Quando uma partícula se move ao longo de uma circunferência de raio 𝑟, dizemos que seu
movimento é circular. Nesta aula estudaremos a cinemática deste movimento.

5.1 Posição
A Figura 5.1 mostra a trajetória circular de uma partícula em um plano, que chamaremos de
plano 𝑥𝑦, com os eixos 𝑥 e 𝑦 no plano e o eixo 𝑧 perpendicular a ele. Em um instante
qualquer a posição da partícula é
𝑟⃗ = 𝑥𝚤̂ + 𝑦𝚥̂ (5.1)

Figura 5.1 – Coordenadas da trajetória circular de uma partícula.

As coordenadas 𝑥 e 𝑦, pela Figura 5.1, em termos do raio 𝑟 do círculo e do ângulo 𝜃, são


𝑥 = 𝑟𝑐𝑜𝑠𝜃, 𝑦 = 𝑟𝑠𝑒𝑛𝜃 (5.2)
tal que podemos escrever (5.1) como
𝑟⃗ = 𝑟𝑐𝑜𝑠𝜃𝚤̂ + 𝑟𝑠𝑒𝑛𝜃𝚥̂ = 𝑟𝑟̂ (5.3)
onde
𝑟̂ = 𝑐𝑜𝑠𝜃𝚤̂ + 𝑠𝑒𝑛𝜃𝚥̂ (5.4)
é o versor (vetor unitário) da posição.

5.2 Velocidade
A derivada de (5.3) nos dá a velocidade da partícula:
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𝑑𝑟⃗ 𝑑𝜃 𝑑𝜃
𝑣⃗ = = −𝑟𝑠𝑒𝑛𝜃 𝚤̂ + 𝑟𝑐𝑜𝑠𝜃 𝚥̂ (5.5)
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡
A derivada do ângulo em relação ao tempo é a velocidade angular
𝑑𝜃
𝜔 = (5.6)
𝑑𝑡
O índice "𝑧" em 𝜔 significa que o vetor velocidade angular 𝜔⃗ é na direção do eixo 𝑧,
perpendicular ao plano 𝑥𝑦. O sinal de 𝜔 é positivo se a rotação é no sentido anti-horário,
quando 𝜃 aumenta, e é negativa se a rotação é no sentido horário, quando 𝜃 diminui.
Usando (5.6), temos
𝑣⃗ = 𝑟𝜔 (−𝑠𝑒𝑛𝜃𝚤̂ + 𝑐𝑜𝑠𝜃𝚥̂) (5.7)
onde o versor
𝑡̂ = −𝑠𝑒𝑛𝜃𝚤̂ + 𝑐𝑜𝑠𝜃𝚥̂ (5.8)
é tangente à trajetória circular no ponto onde a partícula está, e no sentido anti-horário de
rotação.
Assim, podemos escrever
𝑣⃗ = 𝑟𝜔 𝑡̂ (5.9)
onde 𝜔 é positiva se a partícula gira no sentido anti-horário (sentido +𝑡̂), e é negativa se a
partícula gira no sentido horário (sentido −𝑡̂), ou seja, a velocidade angular é um vetor, pois
possui módulo, direção e sentido.
Definimos 𝜔⃗ como sendo ao longo do eixo 𝑧, tal que
𝜔⃗ = 𝜔 𝑘 (5.10)
onde, por convenção, 𝑘 é definido pelo produto vetorial
𝑘 = 𝚤̂ × 𝚥̂ (5.11)
tal que 𝜔⃗ aponta no sentido positivo do eixo 𝑧 se a partícula gira no sentido anti-horário, e
aponta no sentido negativo do eixo 𝑧 se a rotação é no sentido horário.
A Figura 5.2 ilustra a velocidade 𝑣⃗ de uma partícula em movimento circular no sentido anti-
horário. A velocidade angular 𝜔⃗, no centro do círculo, tem sua direção e sentido
representados pelo símbolo ⨀, que significa que este vetor está saindo perpendicularmente do
plano 𝑥𝑦. A Figura 5.3 ilustra a situação em que a partícula está em movimento circular no
sentido horário. Neste caso, a velocidade angular 𝜔⃗ tem sua direção e sentido representados
pelo símbolo ⨂, que significa que este vetor está entrando perpendicularmente do plano 𝑥𝑦.
Observe que se você der “joia” com sua mão direita tal que seu polegar saia
perpendicularmente do plano 𝑥𝑦, os outros dedos indicarão o sentido anti-horário de rotação.
Mas se o polegar entrar perpendicularmente no plano, os outros dedos indicarão o sentido
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horário de rotação. Em ambos os casos o seu polegar dará o sentido da velocidade angular 𝜔⃗.
Esta é a famosa regra da mão direita para a rotação.

Figura 5.2 – Movimento circular no sentido anti-horário.

Figura 5.3 – Movimento circular no sentido horário.

Figura 5.4 – Regra da mão direita.


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5.3 Aceleração
Como a aceleração é a derivada da velocidade, temos
𝑑𝑣⃗ 𝑑 𝑑𝜔 𝑑𝑡̂
𝑎⃗ = = (𝑟𝜔 𝑡̂) = 𝑟 𝑡̂ + 𝑟𝜔 (5.12)
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡
A derivada de 𝜔 em relação ao tempo é a aceleração angular
𝑑𝜔
𝛼 = (5.13)
𝑑𝑡
𝑑𝑡̂ 𝑑𝜃
= (−𝑐𝑜𝑠𝜃𝚤̂ − 𝑠𝑒𝑛𝜃𝚥̂) = −𝜔 𝑟̂ (5.14)
𝑑𝑡 𝑑𝑡
segue que
𝑎⃗ = 𝑟𝛼 𝑡̂ + 𝑟𝜔 𝑛 (5.15)
onde definimos o versor normal 𝑛 (ou centrípeto) do movimento curvilíneo em cada ponto da
trajetória
𝑟̂ = −𝑛 (5.16)
Por (5.15) vemos que a aceleração da partícula tem duas componentes, uma tangencial à
trajetória,
𝑎⃗ = 𝑟𝛼 𝑡̂ (5.17)
e outra centrípeta (radial apontando para o centro do círculo, ou na direção normal),
𝑣
𝑎⃗ = 𝑎⃗ = 𝑟𝜔 𝑛 = 𝑛 (5.18)
𝑟
Para obter a última igualdade em (5.18) usamos (5.9), tal que
𝑣
𝜔 = |𝜔 | = (5.19)
𝑟
onde 𝑣 = |𝑣 | é o módulo da velocidade, ou rapidez, da partícula.
Portanto, uma vez que 𝑡̂ e 𝑛 são perpendiculares, o módulo da aceleração é

𝑎= 𝑎 +𝑎 (5.20)

com
𝑎 = 𝑟𝛼 (5.21)
e
𝑣
𝑎 = 𝑟𝜔 = (5.22)
𝑟
Enquanto a componente tangencial provoca a variação na rapidez da partícula, a componente
centrípeta é responsável pela mudança da direção da velocidade fazendo com que a partícula
descreva a trajetória circular.
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No exemplo da Figura 5.5, a aceleração tangencial está no sentido oposto ao da velocidade,


logo 𝑣 está diminuindo com o tempo. Observe que a velocidade angular (não desenhada) da
partícula aponta para fora do plano, ou seja, 𝜔⃗ = 𝜔 ⨀ ≡ 𝜔 𝑘, e que a aceleração angular
aponta para dentro do plano, 𝛼⃗ = 𝛼 ⨂ ≡ −𝛼 𝑘.

Figura 5.5 – Movimento circular no sentido anti-horário, com aceleração angular no sentido horário.

Exemplo 5.1: Um carro exibe aceleração constante de 0,300 m/s paralela à estrada. Ele
passa em cima de uma elevação na estrada, que tem a parte de cima em formato de círculo
com raio de 500 m. No momento em que o carro está em cima da elevação, seu vetor
velocidade é horizontal e tem módulo de 6,00 m/s. Quais são o módulo e a direção da
aceleração total do carro neste instante?
Solução: Além da aceleração paralela à estrada, que é a aceleração tangencial (𝑎⃗ ) à trajetória
circular quando o carro passa em cima da elevação, há também a aceleração centrípeta (𝑎⃗ )
neste ponto mais alto, Figura 5.6. A aceleração total é a soma vetorial destas duas
componentes.

Figura 5.6 – Ilustração da situação-problema do Exemplo 5.1.

Uma vez que


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𝑎⃗ = −(0,300 m/s )𝑡̂


e sendo a aceleração centrípeta dada por
𝑣 6,00
𝑎⃗ = 𝑛= 𝑛 = (0,072 m/s )𝑛
𝑟 500
temos uma aceleração resultante igual à
𝑎⃗ = 𝑎⃗ + 𝑎⃗ = (−0,300𝑡̂ + 0,072 𝑛) m/s
com módulo

𝑎= 𝑎 +𝑎 = 0,300 + 0,072 = 0,309 m/s

5.4 Movimento circular uniforme


No movimento circular uniforme a partícula se move com velocidade constante, logo, são
constantes também
𝑣
𝜔 = |𝜔 | = (5.23)
𝑟
𝑣
𝑎 = 𝑟𝜔 = (5.24)
𝑟
𝛼 = 𝛼 = 0 (5.25)
𝑎 = 0 (5.26)
Pelo fato do movimento circular uniforme ter velocidade constante, a partícula realiza uma
volta completa em um tempo 𝑇 constante que chamamos de período. Em termos deste tempo,
e sabendo que a distância total percorrida pela partícula em uma volta completa é igual ao
perímetro 2𝜋𝑟 do círculo de raio 𝑟, temos que sua rapidez é dada pela razão desta distância
pelo período:
2𝜋𝑟
𝑣= (5.27)
𝑇

Exemplo 5.2: Qual é a aceleração centrípeta da Terra em sua órbita ao redor do Sol?
Compare com a aceleração da gravidade na superfície da Terra. O raio médio da órbita da
Terra é 1,5 × 10 km.
Solução: O módulo da aceleração centrípeta é
𝑣
𝑎 =
𝑟
A velocidade média orbital da Terra é igual o perímetro de sua órbita circular, de raio igual à
distância média da Terra até o Sol, dividido pelo período orbital, que é um ano, expresso em
segundos:
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2𝜋𝑟 2𝜋(1,5 × 10 × 10 ) 𝑚
𝑣= = = 2,99 × 10 m/s
𝑇 365 × 24 × 60 × 60 𝑠
Logo a aceleração centrípeta é
𝑣 (2,99 × 10 )
𝑎 = = = 6,0 × 10 m/s
𝑟 1,5 × 10 × 10
que é um valor 1633 vezes menor que a aceleração da gravidade ao nível do mar.

FORMULÁRIO

1) Velocidade:
𝑣⃗ = 𝑣 𝑡̂
𝑣 = 𝑟𝜔
𝑣 = |𝑣 | = 𝑟𝜔
𝑑𝜃
𝜔 =
𝑑𝑡
𝑣
𝜔 = |𝜔 | =
𝑟
2) Aceleração:
𝑎⃗ = 𝑎 𝑡̂ + 𝑎 𝑛
𝑟̂ = −𝑛

𝑎= 𝑎 +𝑎

Componente tangencial:
𝑎⃗ = 𝑟𝛼 𝑡̂
|𝑎 | = 𝑟𝛼
𝑑𝜔
𝛼 =
𝑑𝑡
𝛼 = |𝛼 |
Componente centrípeta:
𝑣
𝑎⃗ = 𝑎⃗ = 𝑟𝜔 𝑛 = 𝑛
𝑟
𝑣
𝑎 = 𝑟𝜔 =
𝑟

*Correções, sugestões e críticas para a melhoria deste texto são bem vindas para lima.neemias@gmail.com.
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ATIVIDADES

1. (a) Uma partícula se movendo com velocidade instantânea de 3,00 m/s em uma trajetória
com raio de curvatura 2,00 m pode ter uma aceleração de módulo 6,00 m/s ? (b) Ela pode ter
uma aceleração de módulo 4,00 m/s ? Em cada caso, se a resposta for sim, explique como
pode acontecer; se a resposta é não, explique por que não.

2. A Figura representa a aceleração total 𝑎⃗ (𝑎 = 15,0 m/s ,


𝜃 = 30,0°) de uma partícula se movendo em sentido horário
em um círculo de raio 𝑅 = 2,50 m em um determinado
instante de tempo. Para aquele instante, encontre (a) a
aceleração radial da partícula, (b) a velocidade da partícula e
(c) sua aceleração tangencial.

3. A Figura ilustra o que acontece quando atiramos um


projétil com uma velocidade cada vez maior. Suponha que se
atire um projétil do pico de uma montanha, se desprezamos a
resistência do ar, qual será a menor velocidade de lançamento
horizontal para que ele nunca mais toque o solo a menos que
colida com um objeto?

4. Um trem entra em uma seção curva horizontal dos trilhos a uma velocidade de 100 km/h, e
diminui a velocidade com uma desaceleração constante para 50 km/h em 12 segundos. Um
acelerômetro montado dentro do trem grava a aceleração horizontal de 2 m/s quando o trem
já está há 6 segundos na curva. Calcule o raio de curvatura 𝑅 dos trilhos nesse instante.

5. A velocidade de um carro aumenta uniformemente com o tempo de 50 km/h em A para 100


km/h em B durante 10 segundos. O raio de curvatura da elevação em A é de 40 m. Se o
módulo da aceleração total do centro de massa do carro é o mesmo em B e em A, determine o
raio de curvatura 𝜌 da depressão na estrada em B. O centro de massa do carro está a 0,60 m
da estrada.
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Soluções
1. (a) Uma partícula se movendo com velocidade instantânea de 3,00 m/s em uma trajetória
com raio de curvatura 2,00 m pode ter uma aceleração de módulo 6,00 m/s ? (b) Ela pode ter
uma aceleração de módulo 4,00 m/s ? Em cada caso, se a resposta for sim, explique como
pode acontecer; se a resposta é não, explique por que não.
(a) Sim. A partícula pode estar perdendo ou ganhando velocidade, com componente de

aceleração tangencial de módulo 6,00 − 4,50 = 3,97 m/s . (b) Não. O módulo da
aceleração não pode ser menor que 𝑣 /𝑅 = 4,50 m/s .

2. A Figura representa a aceleração total 𝑎⃗ (𝑎 = 15,0 m/s , 𝜃 = 30,0°) de uma partícula se


movendo em sentido horário em um círculo de raio 𝑅 = 2,50 m em um determinado instante
de tempo. Para aquele instante, encontre (a) a aceleração radial da partícula, (b) a velocidade
da partícula e (c) sua aceleração tangencial.

(a) A aceleração radial da partícula, ou centrípeta, é


𝑎 =𝑎 = 𝑎𝑐𝑜𝑠 𝜃 = 15,0 cos(30,0°) = 12,9904 = 13,0 m/s
(b) A velocidade da partícula calcula-se por
𝑣
𝑎 = → 𝑣= 𝑎 𝑅= (12,9904 )(2,50) = 5,69877 = 5,70 m/s
𝑅
(c) A aceleração tangencial é
𝑎 =𝑎 = 𝑎𝑐𝑜𝑠 𝜃 = 15,0 sen(30,0°) = 7,50 m/s

3. A Figura ilustra o que acontece quando atiramos um projétil com uma velocidade cada vez
maior. Suponha que se atire um projétil do pico de uma montanha, se desprezamos a
resistência do ar, qual será a menor velocidade de lançamento horizontal para que ele nunca
mais toque o solo a menos que colida com um objeto?
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Este cálculo despreza a resistência do ar. O projétil deve ser lançado com velocidade (relativa
à superfície da Terra) tal que a sua trajetória seja circular de raio igual ao do ponto em que foi
lançado. Quando isso acontece, a aceleração centrípeta é justamente a aceleração da
gravidade, assim, temos:
𝑣
𝑎 =𝑔= →𝑣= 𝑔𝑅
𝑅
O raio da Terra é aproximadamente 6371 km, logo:
𝑣= 𝑔𝑅 = 9,8(6371 × 10 ) = 7901,63 m/s = 7,9 km/s (28000 km/h)

4. Um trem entra em uma seção curva horizontal dos trilhos a uma velocidade de 100 km/h, e
diminui a velocidade com uma desaceleração constante para 50 km/h em 12 segundos. Um
acelerômetro montado dentro do trem grava a aceleração horizontal de 2 m/s quando o trem
já está há 6 segundos na curva. Calcule o raio de curvatura 𝑅 dos trilhos nesse instante.
A aceleração tangencial do trem entre 0 e 12 s é
∆𝑣 50 − 100
𝑎 = = = −1,157 m/s 2
∆𝑡 3,6(12)
Para calcular o raio da curvatura 𝑅 dos trilhos após 6 s na curva podemos usar a equação da
aceleração total (conhecida) do trem neste instante:

𝑣 𝑣
𝑎 =𝑎 +𝑎 =𝑎 + → 𝑅=
𝑅 𝑎 −𝑎

A velocidade neste instante é


100
𝑣 =𝑣 +𝑎 𝑡 = − 1,157(6) = 20,836 m/s
3,6
Substituindo este resultado na fórmula de 𝑅 temos:

20,836
𝑅= = 266 m
2 − 1,157
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5. A velocidade de um carro aumenta uniformemente com o tempo de 50 km/h em A para 100


km/h em B durante 10 segundos. O raio de curvatura da elevação em A é de 40 m. Se o
módulo da aceleração total do centro de massa do carro é o mesmo em B e em A, determine o
raio de curvatura 𝜌 da depressão na estrada em B. O centro de massa do carro está a 0,60 m
da estrada.
Se o módulo da aceleração total do carro é o mesmo nos pontos A e B e a aceleração
tangencial é uniforme, temos:

𝑣 𝑣
𝑎 =𝑎 → 𝑎 + =𝑎 +
𝑅 𝑅
onde
𝑅 = 40 + 0,60, 𝑅 = 𝜌 − 0,60
Portanto:
𝑣 𝑣 𝑣 100
= → 𝑅 =𝑅 = 40,60 = 162,4 m
𝑅 𝑅 𝑣 50
Logo
𝜌 = 𝑅 + 0,60 = 163 m

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