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ISBN: 978-85-922779-0-1
17-03313 CDD-869.8
Índices para catálogo sistemático:
Celsol Editora.
Blog:
http://celsol-diariodeumaposentando.blogspot.com.br/
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MEMÓRIAS
Do blog Diário de Um AposentaNdo
(2009 – 2017)
3
NOTA DO AUTOR
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MEMÓRIAS
Do blog Diário de Um AposentaNdo
(2009 – 2017)
I – MEMÓRIAS MUNICIPÁRIAS
II – MEMÓRIAS PESSOAIS
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I - MEMÓRIAS MUNICIPÁRIAS
Do blog Diário de Um AposentaNdo
Índice:
10
101 –O ÚLTIMO ANIVERSÁRIO DA MADRINHA DA DVM NO DMAE
102 - A MADRINHA DA DVM SE APOSENTOU, ACREDITEM!
103 – O ÚLTIMO DIA DA ÚLTIMA SEMANA DO ÚLTIMO ANO
104 – A EXTINÇÃO DO ÚLTIMO DINOSSAURO
105 – A ÚLTIMA CASCA DE BANANA DO ÚLTIMO DINOSSAURO
106 – UM ESTRANHO NO NINHO DO DMAE & O FIM DA AFM
107 - A ILUSÃO DA PARIDADE NA APOSENTADORIA
108 - A EMPULHAÇÃO DO ABONO PERMNANÊNCIA
109 - PLANO DE CARREIRA & EFEITO CASCATA
110 - GREVE CONTRA O EFEITO CASCATA DE PERDAS SALARIAIS
111 - SONHOS FRUSTRADOS DE DOIS APOSENTADOS DO DMAE
112 - HISTÓRICO E RISCOS DAS APOSENTADORIAS NO PREVIMPA
113 - A VOZ DA EXPERIÊNCIA DOS APOSENTADOS NO PREVIMPA
114 - CRÔNICA DA MORTE ANUNCIADA DA AFM
115 - O ÚLTIMO CONTRACHEQUE EM PAPEL
116 - OCASO DO MONTEPIO DOS MUNICIPÁRIOS
117 - MUNICIPÁRIOS AMPARADOS NA AMPA
118 - LIVRO DO RESGATE HISTÓRICO DA FUNDAÇÃO DO SIMPA
119 - AS JUSTAS RAZÕES DA MAIOR GREVE DOS MUNICIPÁRIOS
11
II – MEMÓRIAS PESSOAIS
Do blog Diário de Um AposentaNdo
Índice:
12
MEMÓRIAS
Do blog Diário de Um AposentaNdo
17
2 - AVISO PRÉVIO NO FINAL DE 2009
3 - UM SONHO DE LIBERDADE
5 - BARNABETISMO DMAEANO
6 - CONSULTA JURÍDICA
(segunda-feira/16/nov/2009)
No dia seguinte enviei um e-mail para a minha advogada:
Ana Vellinho, fiz um levantamento de quantos plantões eu havia
feito nos últimos dois anos, pois estes constituem uma espécie de
“poupança em potencial”. O sonho de liberdade deste aposentando
(saio no final de 2010!) é comemorar a sua alforria se auto
presenteando com uma viagem à Europa, ao Velho Mundo, pelo
menos contemplando Espanha, Itália e Portugal. O plano de fuga
para uns quinze dias na Europa é o seguinte: como a empresa não
paga as horas em que os plantonistas ficam de “sobreaviso”, a
disposição com o celular da própria empresa para eventuais
chamados de urgência, todos os plantonistas pensam que este
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período de horas-extras poderá ser requerido na justiça como um
direito trabalhista.
A memória de cálculo estimado é de que cada plantão (das
17:30 horas da sexta-feira até as 8 horas da manhã de segunda feira)
totaliza 62 horas, e como a empresa paga apenas 8 horas (que
corresponde a dois meio-turnos cumpridos efetivamente com o
cartão-ponto batido), resta de sobreaviso 54hs por cada plantão.
Como eu fiz 16 plantões nestes dois últimos anos (e que ainda não
prescreveram legalmente), resultam 864 horas (16 x 54hs) que,
supondo que a justiça exija o pagamento de 25% destas horas
(usual no regime celetista) como em “regime de sobreaviso” (864 x
0,25), são 216 horas que deverão ser pagas; a um custo de cerca de
R$ 43,00/hora, resulta uma indenização devida (216 x 43) de R$
9.288,00 = 5.160 dólares!!!
Mesmo descontando os custos advocatícios e tirando a
parte do leão do imposto de renda, deve dar pra custear o básico
desta viagem dos sonhos.
Ana, estude com carinho as viabilidades jurídicas desta
minha pretensão de petição. Fico na expectativa. Abraço.
7 - BANCO DE PRAÇA
(terça-feira -24/11/09)
Em tempos de globalização e de busca de qualificação dos
serviços públicos, um projeto de reestruturação da empresa está
agitando o quadro funcional. Hoje fui convocado para participar de
uma reunião sobre a definição do uso dos espaços físicos para se
adaptar ao funcionamento da nova estrutura operacional a ser
implantada, se possível, ainda este ano, pois o próximo é ano
eleitoral e a coisa se complica para a sua aprovação na Câmara de
Vereadores.
Levei para a reunião uma caneta e uma folha em branco,
onde fiquei desenhando abstrações, sei lá porque, sob uma
temática musical: desenhei uma grande cortina aberta, como a boca
de um palco, onde se via um piano de calda, um saxofone, um
contrabaixo, uma coluna de caixas de som e uma bateria completa
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em cujo bumbo, no lugar do nome da banda, estava escrito “The
Last Year”.
Ao final da reunião, onde várias reformas e novas obras
foram relacionadas como demandas necessárias para a tal
reestruturação, apenas reafirmei a minha única reivindicação, que
já é antiga e não contemplada em reformas físicas anteriores do
meu local de trabalho. Solicitei que seja colocado um banco de
praça no pequeno recanto gramado e arborizado que conseguimos
desenvolver no pátio interno, rodeado de concreto, nas
dependências da Divisão de Manutenção; nem que seja para eu
usufruir depois de aposentado, quando vier visitar os ex-colegas.
8 - O CABALÍSTICO NÚMERO 95
25/11/09
Hoje um dos meus colegas de cela, o Álvaro Silveira Neto,
está fazendo aniversário, comemorando 56 anos de idade. Mais do
que a pirâmide etária brasileira que já acusa uma acelerada
tendência ao envelhecimento, o quadro funcional do órgão público
em que trabalho está ficando predominantemente grisalho e
cinquentenário. O assunto de cada festinha de aniversário,
portanto, gira em torno das perspectivas relativas aos critérios de
aposentadoria. A pergunta usual agora é a seguinte: Quanto soma
a nova idade e o tempo de serviço do aniversariante?
Atualmente, após as sucessivas “Reformas da Previdência”,
implantadas inicialmente pelo Presidente Fernando Henrique
Cardoso, que passou a exigir a idade mínima de 53 anos, seguida
pela do Presidente Lula, emendada com a PEC do Senador Paim, que
estabeleceu a idade mínima para aposentadoria em 60 anos, criou-
se um processo de transição que exige que a soma da idade e do
tempo de serviço seja igual a um número cabalístico: 95 para os
homens e 85 para as mulheres. Atualmente somo 93, portanto no
ano que vem, com mais um ano de idade e completando mais um
ano de tempo de serviço, fecho os 95 e posso sair pra nova etapa da
vida, sem prejuízo dos meus vencimentos.
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9 - SENTENÇA CUMPRIDA
26/11/09
O outro meu companheiro de cela, o Jalba Dias da Rosa,
acabou de cumprir este mês a sua sentença, no caso dele somou os
95 com 58 de idade e 37 anos de serviço. Ele inclusive já
experimentou antecipadamente dois meses consecutivos de regime
semiaberto em casa, usufruindo de licenças-prêmio, período em
que ficou cuidando dos cachorros e servindo de motorista para a
família. Agora, apenas espera a virada do ano para gozar o
derradeiro período de férias, com direito a recebimento do 1/3 em
pecúnia, para poder entrar em estado de gozo permanente, para
não mais retornar ao regime de confinamento por oito horas
diárias.
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No refeitório há uma mesa de sinuca, onde depois de
assistir vários colegas que jogam muito bem, sem me animar a
entrar na roda (cujo critério é de quem perde sai e quem ganha
continua na mesa), até que desafiei o Maiocchi, outro aprendiz que
nem eu, e fizemos tão feio que espantamos todo o público que até
então vinha acompanhando as partidas.
Pois esta mesa de sinuca está sendo objeto de
questionamento nas reuniões de reestruturação da empresa, ela
deverá ser eliminada por conturbar o ambiente onde os
funcionários fazem as refeições...ela é de uma outra época, do
século passado, quando eu era diretor da manutenção e a recreação
saudável dos trabalhadores, visando competir com o alcoolismo dos
botecos no intervalo do meio-dia era, uma importante diretriz
gerencial.
Isto me faz lembrar dos velhos tempos em que tínhamos
apenas uma mesa de ping-pong apertadinha dentro do vestiário, em
que eu ainda era um técnico de grau médio “boia-fria”, isto é, trazia
marmita de casa (na verdade “boia-quente”, pois sempre tivemos
forno industrial aquecedor de marmitas), tempos das grandes festas
de natal da manutenção, final de década de 70 e início de 80, onde
eu fazia a animação no microfone, estilo Silvio Santos, dos sorteios
dos presentes especiais, adquiridos com contribuições que eram
feitas durante o ano inteiro pelos próprios funcionários...o Seu
Alonço, do administrativo, pacientemente cobrava todos os meses
as contribuições de cada um das dezenas de funcionários que
participavam da festa. Bons tempos, éramos quase uma grande
família. Aprendi muito com aquela geração antiga, hoje todos
aposentados ou falecidos, pessoal simples, sem formação escolar,
mas profissionais com grande experiência de vida, que foram como
uns pais para mim, um jovem técnico hippie que praticamente não
usufruiu da convivência paterna.
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12 - A ÚLTIMA NOVA MISSÃO
17/dezembro/09
Na sala do cafezinho, com a “engenheirada” da manutenção
reunida, inventei de dar uma ideia, como palpiteiro que sou, de um
problema que tínhamos para solucionar, e bastou isso para eu ser
incluído na equipe da nossa área de trabalho inscrita no evento
denominado CMC – Circuito de Melhoria Continua, como parte do
PGQP – Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade do Setor
Público. A nossa equipe eu batizei como o nome de “Equipe
M.A.R.C.A. da MANUTENÇÃO” (MARCA = Maiochi, Álvaro, Rogério,
Celso, Adriano).
O lançamento do tal CMC, Circuito de Melhoria Contínua,
foi num prestigiado evento no auditório do Instituto Goethe, com
intervenção criativa de um grupo teatral e direito a um qualificado
cofee-break aos participantes das 39 equipes, que envolvem mais
de 150 funcionários, cerca de 10% do corpo funcional da empresa.
A ideia da melhoria continua é simples e muito interessante, é a de
criar a seguinte cultura: a equipe identifica um problema em sua
área de atuação, elabora em conjunto um projeto para solucionar
este problema e implanta esta solução, dentro de um prazo de seis
meses, quando haverá um Seminário de Compartilhamento e uma
feira de exposição dos resultados obtidos.
A nova onda gerencial é conquistar os prêmios de qualidade
do PGQP, de Certificações ISO 9000 e Gestão Total. A empresa já
conquistou o bronze no ano passado, este ano recebeu o troféu de
prata e está correndo atrás do ouro. Reconheço como elogiável este
trabalho que a atual administração, capitaneada pelo prefeito
Fogaça, tem desenvolvido na prefeitura de Porto Alegre. O DMAE,
nesta gestão, está servindo de “laboratório piloto” para se buscar a
qualificação e modernização dos métodos e estruturas gerenciais
do serviço público municipal, dentro do Programa de Melhoria da
Gestão Pública - PMGP. Com seus equívocos e acertos, estas
iniciativas têm o mérito do pioneirismo de enfrentar velhos
paradigmas e de tentar introduzir novos parâmetros de eficiência e
redução de custos.
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Apesar de, como qualquer aposentando, não querer mais
me envolver em nenhum novo projeto de melhoria, de querer
apenas chegar com dignidade ao final de minha carreira de barnabé,
acho que vou ter que me envolver neste CMC, como sendo a minha
derradeira e melancólica contribuição neste sentido.
13 - O ACHADO DE NATAL
28/12/2009
Mexendo nas minhas papeladas de documentos pessoais
em casa no dia de natal, na busca de comprovantes escolares de
que frequentei escolas públicas a vida inteira, tendo em vista estar
concorrendo por esta cota no vestibular da UFRGS, encontrei uma
relíquia valiosa...Achei perdido em meus arquivos 1 ano e 10 meses
e 4 dias de tempo de serviço público, atestado por uma Certidão de
Tempo de Serviço, fornecida em 1985 pela Escola Técnica Parobé,
na condição de aluno aprendiz do Curso Ginasial Industrial nos anos
de 1972 e 1973.
De imediato, protocolei hoje mesmo um requerimento para
ser averbado este tempo. Passo, então, a viver a expectativa de
poder me aposentar a qualquer momento que queira daqui pra
frente, pois talvez até já pudesse estar aposentado e não sabia. Mas,
sobretudo, pra não ficar lamentando o tempo perdido, há também
a possibilidade de retroagir o direito ao recebimento do chamado
“abono permanência” e, quem sabe, pegar uma grana boa. Poderia
até conquistar a libertação do jugo trabalhista sob pagamento de
fiança, ou seja, pagando as parcelas que faltam do financiamento
do carro....
14 - BRINDE AO APOSENTANDO
29/12/2009
Está se acabando o ano de 2009, é réveillon!...Este ano não
teve amigo secreto, mas ficou mantida a tradição do nosso local de
trabalho de os homens trazerem champanhe e as mulheres
abastecerem a mesa de reunião com refrigerantes, petiscos e
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docinhos para a confraternização do brinde dos votos de Feliz Ano
Novo!
Neste ano o brinde, antecipado por muitos estarem de folga
amanhã, vai envolver a segunda despedida do aposentando Jalba
que, novamente, sai de férias, como já fez seis meses atrás e ficou
três meses em casa de licença prêmio, mas que resolveu voltar para
ganhar mais uma grana de férias. Desta vez ele deve voltar apenas
por um dia para protocolar o requerimento de aposentadoria no
PREVIMPA, o Instituto de Previdência do Município de Porto Alegre.
Mas sempre fica a expectativa de que bata o horror da vida de
“inativo” e o cara volte correndo para se encarcerar em sua “pseudo
nobre atividade” na repartição pública.
Quanto a mim, estarei saindo de férias por quinze dias, a
partir do primeiro dia útil de 2010, com o objetivo específico de me
envolver com o vestibular da UFRGS, a princípio é para servir como
suporte nos estudos de preparação da minha filha e, também, me
dedicar minimamente aos meus próprios estudos. Esta loucura de
enfrentar mais um vestibular nesta minha idade é um esforço
extremo, o qual também é contabilizado no meu propósito de
“construir, com riqueza de opções saudáveis e criativas, uma rotina
interessante para a minha nova vida de aposentado”.
15 - A REVELAÇÃO DO MESTRE
30/12/2009
O último ensinamento do Mestre Jalba, antes de se retirar
para as montanhas do Himalaia da Vila Jardim onde mora, foi o de
nos mostrar o sentido maior do exercício físico na vida. As
caminhadas que o Álvaro me iniciou consistia apenas em incorporar
uma rotina de manter um horário semanal de exercícios aeróbicos,
através de caminhadas nas raias de uma pista atlética de um parque
público. Portanto, não é uma prática mensurável e sujeita a metas
de aperfeiçoamento pessoal. Até aqui eu já havia assimilado o
ensinamento do Jalba e estabelecido uma meta imediata de
performance, que é a de reduzir o meu tempo médio por volta de
caminhada na pista.
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Hoje, entretanto, foi-me revelado pelo Mestre a meta
maior, a realização absoluta da prática do exercício físico na vida,
qual seja, a de adquirir o Certificado Médico de Bom Estado Físico
no teste de esteira ergométrica, e superar o status de estado físico
apenas “razoável” que obtive neste ano. Aliás este exame me foi
solicitado por um cardiologista, especialidade médica que, por
orientação do Mestre Jalba, consultei este ano pela primeira vez na
vida. Segundo o Mestre Jalba, o referido Certificado Médico de Bom
Estado Físico para a nossa faixa etária é obtido ao se conseguir
percorrer 2.400 metros em 12 minutos! Esta é a grande meta final,
o sentido da vida saudável.
Assim, a partir de hoje começa a se desmantelar uma
equipe que cumpriu pena por dez anos juntos, na mesma cela,
prestando serviços à comunidade, e por mais de três décadas
trabalhando juntos no mesmo presídio semiaberto de assalariados
da empresa de saneamento público porto-alegrense.
19 - AR CONDICIONADO GRÁTIS
03/02/2010
Porto Alegre, verão 41 graus! A gigantesca procissão da
Nossa Senhora de Navegantes realizada ontem sob um sol
escaldante exigiu muita fé dos fieis. O aquecimento global do efeito
estufa está derretendo as geleiras e, junto com o efeito do El Niño,
estão cozinhando os porto-alegrenses de calor, tanto que se
esgotaram os estoques dos ventiladores e aparelhos de ar
condicionado no comércio da cidade. Os jornais anunciam que o
calor bateu o recorde dos últimos cem anos na capital, e foi
reconhecido internacionalmente que nestes dias Porto Alegre tem
sido a cidade mais quente do mundo, chegando a ultrapassar os 42
graus!
Esta é uma variável que deveria ter um peso importante na
decisão que tomamos de se aposentar ou continuar na ativa,
especialmente para quem trabalha em escritórios e dispõe de ar
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condicionado oito horas por dia, tanto para os rigores dos inverno
gaúcho quanto para os calorões do verão.
Mas esta melhoria diária na “qualidade de vida”
disponibilizada no ambiente de trabalho com ar condicionado
geralmente não é computada no rol das perdas, juntamente com o
vale transporte-tri, auxílio alimentação e o abono permanência de
quem se aposenta.
É que com esta benesse do ambiente com ar refrigerado
vem, de contrabando, o estresse dos compromissos de horários e
atividades funcionais. A solução é instalar um aparelho moderno
tipo split de ar condicionado em casa e assimilar os custos com
energia elétrica. Em compensação, podemos computar no rol das
“vantagens de se aposentar” o fato da gente se livrar do barulho
contínuo e irritante que tivemos que conviver, por décadas,
provenientes dos barulhentos aparelhos de ar condicionados
tradicionais que continuam sendo usados no Departamento.
20 - O FOTÓGRAFO DA MANUTENÇÃO
21 - AS GARÇAS NO DMAE
23 - AVISO DE JUBILAMENTO
41
Parece muito, até eu me assombrei quando realizei agora
estes cálculos. Mas se eu tivesse utilizado o limite máximo
permitido de 1/3 da carga horária semanal previsto na legislação,
em sete anos eu poderia ter passado 2,5 anos assistindo aulas
interessantes na universidade; mas preferi fazer apenas uma
disciplina por semestre para poder me dedicar com profundidade a
cada uma delas. Está de ótimo tamanho, esta é uma lacuna da
minha vida que foi preenchida espetacularmente. Valeu biXo 2003!
Valeu DMAE!
44
Então migramos todos do nostálgico “discar para alguém” dos
telefones de disco para o moderno “teclar”.
Entretanto, como demonstram todas as maquininhas
deixadas pelo mago Steve Jobs, nas tecnologias pós-modernas as
teclas já foram abolidas. Ele profetizou que não íamos mais “teclar
para alguém”, tudo aconteceria em telas sensíveis ao toque (touch
screen): Enviaríamos toques! Novamente resisti o quanto pude,
continuo lendo jornais e livros de papel e não em e-books, e muito
menos em tablets sem teclas.
Conservador, eu? Não, sou apenas um velho pirata lerdo
que somente agora aderiu ao smartphone com processador
Android e touch screen... Vou ter que começar a surfar na onda de
baixar aplicativos na internet móvel do meu celular, não podemos
ficar pra trás que o processo de exclusão digital é permanente. Os
aposentados pós-modernos têm, portanto, dois mundos para
povoar: o ciberespaço da vida virtual (agora portável no bolso) e o
espaço mundano da vida real. Acreditem, falta tempo!
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que não teriam acesso se não fosse através das bolsas de estudo:
Valeu DMAE!
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No final das contas, diante de tantos transtornos e
insatisfações geradas no meio de seus funcionários, cabe ainda
perguntar: será que valeu a pena vender a folha de pagamento dos
servidores municipais como se eles fossem um lote de escravos?...
Este texto, que até aqui escrevi originalmente em março/2008,
quando da imposição da CEF como monopolista da folha de
pagamento da prefeitura, está sendo atualizado hoje por termos
verificado no decorrer do tempo que os nosso prejuízos não foram
só financeiros, mas também na perda da qualidade e da quantidade
dos serviços prestados.
Além de praticamente não existir terminais de
autoatendimento para pagamentos de contas fora das agências
bancárias da CEF pela cidade, os terminais instalados no entorno do
DMAE estão sempre com problemas. Quando não estão com
sistema congelado, estão sem papel ou os seus leitores óticos de
código de barras estão analfabetos ou as máquinas estão
desligadas. Como já é praticamente de costume, hoje percorri
inutilmente os três terminais da redondeza e decidi recorrer ao
recurso especial que a CEF oferece, que é o uso das lotéricas. Esta
opção para pagamento de contas, entretanto, tem a restrição de
funcionar dentro do limite de saques, o que não possibilita o
pagamento de muitas contas e, às vezes, nem uma única conta alta
tipo a do cartão de crédito da própria CEF. Hoje, convenhamos, foi
um caso extremo: a lotérica estava fechada com um cartaz
anunciando “férias coletivas”!...
32 - QUARTA-FEIRA DE CINZAS
17/fevereiro/2010
Passado o feriadão de carnaval, chegamos à última quarta-
feira de cinzas que tenho que retornar ao serviço, com horário
diferenciado, com pegada ao meio-dia. A bem da verdade, eu
sempre fui rebelado contra este horário da quarta-feira de cinzas
que nos obriga a almoçar às 11 horas da manhã ou antes.
Sistematicamente, como muita gente boa, eu costumava bater o
ponto uns quinze minutos antes do meio-dia e saia para almoçar
num restaurante próximo, para somente depois retornar ao
expediente normal.
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Neste ano em que a minha mãe faz 86 anos no dia de hoje,
porém, como estou “zen” nesta onda de curtir cada dia como o
derradeiro de sua espécie, resolvi cumprir à risca as determinações
e almocei, como de costume, no restaurante denominado Onze &
meia na Rua Demétrio Ribeiro, mas antes desta hora nominal.
Os relatórios sobre as ocorrências de serviços do
plantonista da manutenção do carnaval dão conta que a coisa foi
tumultuada, tanto que por falta d’água a prefeitura foi obrigada a
fechar os banheiros públicos do sambódromo em plena noite de
desfiles de carnaval. Isso envolve o plantonista dar explicações para
a imprensa, que é como dar nó em pingo d’água, pois é quase uma
calamidade pública aquela multidão tomando tantas
cervejas...Ainda bem que saltei fora a tempo da escala de plantão
dos engenheiros da manutenção!
Sem ressaca, neste verão atípico em que eu não vi o mar
ainda este ano, vamos para uma semana curta até o enterro dos
ossos carnavalesco no próximo final de semana com as escolas de
samba campeãs no Rio e aqui.
64
que lamentavelmente o mal de Parkinson aposentou
precocemente.
Também nos visitou naqueles dias e tomou “muitos
cafezinhos” conosco o Engº Valmor, vindo de uma consulta com o
seu psiquiatra (o homem tinha parado de fumar, mas continuava
tomando café pra caramba!), ao qual a colega Catarina elogiou de
viva voz como sendo o melhor engenheiro mecânico que ela
conheceu no DMAE, ao que ele próprio remendou dizendo “mas
depois eu enlouqueci”; e eu complementei: o louco quando sabe
que é louco é por que já está curado! (O problema dele se refere, os
antigos sabem bem, a um caso clássico de amor entre ele como
diretor casado e a sua secretária que, tornado escândalo público, foi
interrompido bruscamente e deixou nele sequelas psíquicas).
Naqueles dias também eu havia encontrado o aposentado
Olírio, vulgo Liquinho, no meio do caminho da Gastão Rhodes, o
melhor centro-avante que o nosso time já teve (estilo Romário), que
é um daqueles que nunca mais entrou na Divisão. Olírio era
radioamador e tinha uma máquina de filmagem com a qual fez a
cobertura do aniversário de um ano da minha filha Luíza, relíquia
entre os meus recuerdos.
-Belos anos, valeu velharia medonha da manutenção!
67
Hoje em dia eu estou com a visão cada vez pior (devido à
catarata), ouvindo cada vez menos (pela idade) e falando com
dificuldades maiores ainda (pelos lapsos de memória da velhice);
mas em compensação estou escrevendo tudo o que lembro, vejo,
ouço ou falo como sendo o mesmo Qui-qui-qui que sempre fui. Dos
verdadeiros nomes do Faísca, do Cachorro e do Boca eu não lembro
mais, mas em compensação, deles mesmos, dos apelidos e, por
enquanto, do meu nome eu ainda lembro:
- Valeu Vulgos Faísca, Cachorro e Boca de Cinzeiro!
68
Esta foi a minha estratégia durante o meu último ano na
“ativa”: trabalhar intensamente neste propósito de estabelecer
tentáculos na rede para manter contato com o mundo externo.
Agora, cerca de dois anos após ter me retirado para a minha caverna
de aposentado nas montanhas da Cidade Baixa, feito um Zaratustra,
igual ao meu amigo Samurai do Campeche que eu tanto invejava,
posso dizer que o propósito foi executado com sucesso.
Porém, esta semana aconteceram duas coisas que me
fizeram voltar a refletir sobre emails e a “Síndrome da Caixa Vazia
dos Aposentados”. Primeiro, uma colega de aula da faculdade me
enviou um arquivo sobre Estética de Hegel, não por email como eu
esperava, mas pelo Facebook. Fiquei surpreso. E ontem, depois de
passar mais de uma semana correndo atrás do próprio rabo e sem
abrir meus emails, ao acessar a caixa de correio eletrônico fiquei
sabendo que anteontem “haveria” a reunião que eu próprio havia
solicitado da Diretoria da associação AEAPOPPA (que de fato houve
sem mim). Moral da história, a ferramenta do email não é mais
aquele instrumento poderoso de comunicação de tempos atrás.
Fora do mundo corporativo do trabalho, onde se acessa
diariamente por força das rotinas funcionais, os emails já estão
anacrônicos e, por desuso, se tornaram um serviço ineficiente de
correio eletrônico.
Com o advento das redes sociais, os jovens abandonaram
radicalmente o uso de emails entre eles e, na onda deles que
determinam as tendências tecnológicas, vamos todos migrando
para a plataforma de relacionamentos por redes. No Facebook é
possível visualizarmos seletivamente o que interessa e passar mais
lenta ou rapidamente por cima (rolando a tela) do que pouco ou
nada nos atrai nas postagens dos nossos amigos...Mais prático, não
fica acumulando as mensagens “não lidas” que tanto nos
angustiam, é como um rio de informações, o que passou sem ser
visto vai desaparecendo na linha do horizonte do tempo...
Emails são como os sinais de fumaça, objetos para estudos
antropológicos de tribos em extinção. Assim, pessoal da ativa, se
quiserem convidar ou mesmo convocar um aposentado para algum
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evento, sem terem a opção do Facebook no Dmae (que fica
bloqueado no horário de expediente), não fique achando que o
recado está dado apenas enviando um email, use o velho e bom
telefone ou uma mensagem de texto para o celular, isso não falha
nunca!
À DVH
Tomei conhecimento do parecer indeferindo o meu
requerimento baseando-se em argumentos burocráticos sobre
prazos e regras legislativas, sem entrar no mérito da questão,
motivo pelo qual não concordo e apresento um RECURSO conforme
segue:
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Os três dias de ausência ao serviço foram motivados pelo
fato da minha filha ter baixado às pressas na maternidade por estar
grávida de 8 meses e, por complicações clínicas, teve que ser
submetida a uma cirurgia cesariana, dando origem a um parto
prematuro. A gravidade do quadro pode ser avaliada pelo fato do
recém-nascido ter ficado na UTI por cerca de trinta dias, e a mãe do
nenê, por já ter quarenta anos e constituir um grupo de risco, ter
ficado hospitalizada por cinco dias.
Foi no meio daqueles dias que foram de acompanhamento,
expectativas e até rezas durante dias e noites, devido à grande
aflição familiar, que após comunicar por telefone os motivos da
minha ausência ao meu EQAD, fui orientada para regularizar a
minha ausência ao trabalho junto ao Gabinete Médico. Na ocasião
compareci e expliquei o meu caso ao próprio médico da Perícia
Médica, o Dr. Renato Ferreira, informando que a médica da minha
filha forneceria um atestado, o qual falou que eu já havia perdido o
prazo hábil e que deveria entrar com um processo quando tivesse o
tal atestado.
Como pode se constatar na minha ficha de Qualificação
Básica em anexo ao presente processo, não consta em toda a minha
vida funcional nenhuma falta ao serviço, e isto que eu já possuo
todas as exigências para me aposentar no momento que quiser.
Esperava que este meu histórico de dedicação profissional
orientasse a burocracia do DMAE quando entrei com o presente
requerimento, que pelo menos eu fosse ouvida antes de enviarem
a sentença para no DOPA, o que lamentavelmente não aconteceu,
onde foi publicado o parecer da Equipe de Apoio Técnico-
profissional, o qual em considero injusto e peço reconsideração.
Peço reconsideração por considerar falho o argumento do
parecer que diz que “a servidora não se apresentou à Perícia e o
que o médico informa que na situação médica apresentada o
paciente pode ou não necessitar de acompanhamento familiar,
impossibilitando a verificação da concessão ou não de Licença por
Motivo de Doença em Pessoa da Família”.
71
Sou operária, e em nenhum momento deste procedimento
fui orientada, e deve haver um “Serviço Social” no DMAE para isso,
no sentido de que deveria requerer Licença por Motivo de Doença
em Pessoa da Família. A única orientação que recebi, como já
relatei, é que deveria entrar com um processo anexando o atestado
médico requerendo o abono das “ausências”. Além de ser inverídica
a alegação que eu não compareci na Perícia, o parecer se baseia na
resposta genérica e sem conhecimento de causa do médico da
Perícia, simplesmente ignorando o atestado anexo da Drª Suzane C.
Matte, que estava atendendo o caso no Hospital Divina Providência,
e que afirma com conhecimento de causa que “a paciente necessita
de cuidados e acompanhamentos nos dias 25, 26 e 27 de
novembro/2009”.
Como a própria existência deste processo se deve ao fato
de não ter-se cumprido os prazos e regras burocráticas, o seu
indeferimento argumentando estas mesmas causas, sem entrar no
mérito do caso humano e de suas necessidades e urgências, bem
como de suas decorrentes priorizações e atrapalhações, é o mesmo
que tornar nula qualquer possibilidade de requerimento de “abono
de faltas” por estes motivos.
Portanto, solicito Reconsideração do Parecer Nº 412/2009
motivado, não pelos prejuízos financeiros decorrentes, mas por não
achar justo que a minha ficha funcional fique “suja” com estas três
faltas ao final da minha carreira profissional*.
...........................
* = Toda esta luta para uma servidora com trinta e tantos ano de
serviços prestados à empresa obter três dias de abono no cartão
ponto e notoriamente por razões nobres. Coisa que a chefia
imediata fazia, antigamente, sem o kafkiano “processo” burocrático
atual. E ainda tem muita gente querendo dourar a pílula do “mundo
do trabalho” em serviço público como sendo um paraíso e não uma
prisão... **= Três meses depois de apresentado este recurso, ainda
não houve uma decisão sobre o caso... ***= Mais de um ano depois,
quando eu já estava aposentado, soube que foram abonadas as
faltas da Dona Malvina, aleluia!
72
37 - DA BAIXA À ALTA HOSPITALAR DO MATTOS
84
44 - A QUESTÃO DA SOCIALIZAÇÃO NO TRABALHO
87
Lembro, inclusive, de termos feito uma grande campanha
denominada de “Caça Buracos” (claro que em ano eleitoral!), onde
tapávamos tudo que é buraco encontrado que fora provocado pelos
órgãos de Prefeitura, especialmente os do “primo pobre” DEP.
Também desenvolvemos um programa conjunto com a SMOV,
órgão que acaba sempre herdando as “cicatrizes que fazemos nas
vias públicas”, e que por ser a secretaria responsável pela ruas da
cidade, lhe compete reclamar da morosidade, da qualidade
e sobretudo por não possuir controle nenhum sobre a buraqueira
que o Dmae faz diariamente. Abrimos, então, um escritório da
Repavimentação do DMAE na SMOV do Beco do Salso, onde
disponibilizávamos diariamente todos os pontos em aberto, os em
execução e os concluídos para submetê-los à fiscalização dos
especialistas em “obras e viação”. Evidentemente que a SMOV não
teve pernas para fiscalizar tamanha carga diária, e o tal escritório
avançado da Repavimentação do DMAE foi desativado em poucos
meses.
A Repavimentação, naquela época, era um mero setor da
Divisão de Água, apesar de atender não só aos serviços gerados pela
DVA, mas também aos das instalações (DVI), aos do esgoto (DVE) e
aos das obras (DVO); já propúnhamos desde então a elevação deste
setor para o nível de Serviço, com status de Divisão, a exemplo do
SVP e SVG, o que acabará inexoravelmente acontecendo.
- Valeu pessoal da repavimentação da velha guarda!
Mas, como tudo na vida anda em círculos, com altos e baixos,
fiquei muito chocado quando tomei conhecimento, há dois anos
atrás, que o serviço de repavimentação havia regredido aos tempos
das cavernas pré-informatizada-em-redes, que havia retornado
para o controle manual digitado em planilhas de Excel. Esse
cataclisma, semelhante àquele que extinguiu com os dinossauros,
ocorreu desde que o Sistema-195 foi substituído pelo Sistema-115,
no qual não foram contempladas aquelas funções de
gerenciamento em rede dos tapa-buracos que nós havíamos
desenvolvido.
88
Ainda bem que nem tudo daquela época foi perdido, pois foi
nesta atividade de chefiar o tapa buracos que, de tanto dar em cima
dos fiscais exigindo desempenho e eficiência, acabei “assediando” a
ruiva fiscal da Distrital Centro, por ela me divorciei e
apaixonadamente a tomei por minha mulher, e desde então temos
sido felizes para sempre enquanto dure. Esta foi uma
repavimentação bem feita, não deu refazer. Foi uma predestinação.
Como nós, Celso e Magda, há dezenas de casais predestinados que
se formaram e juramentaram nos altares, confessionários e
sacristias do “São Dmae Casamenteiro”: Elizete e Roberto, Valdir e
Magda, Milton e Maria, Rosana e Luiz, Aloma e Darci, Melo e Carla,
Marcos e Jovanes, Marisa e Alexandre, Edison e Paula, Ester e
Prado, Ana e André, Mainieri e Geneci, Tupi e Vera, Leontina e
Antônio, Carla Altério e André, Carla Rodrigues e Jorge, Marjorie e
Henrique, Tavanielo e Fantinel...(complemente você esta lista nos
comentários do blog com outros bem sucedidos casais dmaeanos
que conheces).
O FAZENDEIRO DO MEL
O Meleiro Hugo (o Pilha Fraca), estava pensando em se
aposentar junto comigo, e já tinha o seu projeto do que fazer após
a aposentadoria: se dedicar ao apiário, atividade que normalmente
já lhe proporcionava duas colheitas ao ano de 600 kg de mel, nas
florações de outono e primavera. Às vezes, quando a floração é
muito boa, “dá sobre-caixas” (que é uma terceira colheita no verão).
Para acessar os sítios desabitados onde o Hugo tem suas caixas de
abelha, ele costuma ir armado de espingarda 12, e conta que fica
com a arma engatilhada enquanto a mulher abre os portões e
portas das instalações prediais, tendo em vista que as casas
seguidamente são invadidas por vadios da região. O Hugo dizia que
estando aposentado vai cuidar melhor e dar manutenção às
estruturas das colmeias que ficam distribuídas num raio de 5 km. Na
época ele já tinha encomendado 15 mil mudas de eucaliptos para
plantar nos sítios dos seus abelheiros, para aumentar a
produtividade. Já estava também estabelecendo entrepostos de
distribuição da sua produção de mel nas diversas divisões do DMAE,
treinando colegas para servirem de intermediários mediante
recebimento de comissões nas vendas. E ainda assim, com toda esta
programação de atividades dele para após aposentadoria, ele me
revelou que estava sentindo um “medinho” por estar se
aproximando a data da aposentadoria, ao mesmo tempo que me
interrogava se não ocorria o mesmo comigo...
-Normal, respondi, é um salto no escuro sem volta! Dá um frio na
barriga, dá medo....
107
Hoje, aposentado, o meleiro Hugo me conta que anda
viajando tudo o quanto pode por este Brasil imenso; o Pilha Fraca
recarregou as pilhas e está voando mais que as suas abelhas!
O SORTEIO DA TELEVISÃO
O Romeu (o Buldogue) compunha comigo (o Grazziotin)
mais o Hélio (o Azeitona) e o Ranyr (o Grilo) os “Quatro Cavaleiros
do Pátio”, técnicos industriais que chefiávamos as seções da
manutenção na década de oitenta (Veículos, Preventiva, Mecânica
e Elétrica, respectivamente). Trabalhamos na mesma sala por mais
de uma década em perfeita harmonia, eles foram meus mestres e
ajudaram a formatar o órfão de pai que eu era na pessoa
humanizada que me tornei. O Romeu, com toda a sua aplicação e
excelência profissional, apesar de ter cara de sisudo, era um baita
gozador, adorava empulhar aos desavisados. Certa época tinha um
estagiário de engenharia mecânica, um guri de origem italiana do
tipo que busca levar vantagem em tudo, o Moretti, que no fundo
era um baita de um ingênuo e filhinho de mamãe. Acontece que no
refeitório da Manutenção havia uma televisão que já estava velha e
dando defeitos. Como era da cultura da Divisão, foi feita uma
“vaquinha” de contribuições entre os funcionários e foi adquirido
um novo aparelho. Ao ver chegar a caixa com a nova televisão, em
pleno mês de dezembro, o Moretti quis saber para quem era o
receptor. Com a rapidez e perspicácia que era própria do Romeu,
ele inventou que a TV era para ser sorteada na festa de natal da
DVM. Logo entrou todo mundo na onda, alimentando a expectativa
do estagiário “olho grande”. Não deu outra, no churrasco natalino
em que tradicionalmente, como locutor ao estilo Sílvio Santos era
eu que promovia os sorteios dos prêmios. Cabe registrar que os
comes e bebes da festa e os prêmios eram adquiridos com o fundo
recolhido durante o ano inteiro de cada participante, cobrado
mensalmente pelo falecido Alonço, o Camundongo.
A propósito de apelidos, tem os vulgos oficiais, que são ditos
diretamente para o dito cujo; mas têm aqueles que são apenas
sugeridos ou falados pelas costas. O Camundongo era chamado
diretamente de Miau (sugerindo o Camundongo), e o Buldogue era
108
referido sorrateiramente por medo que o Romeu, com suas
bochechas de buldogue, ficasse brabo e mordesse. Mas era só cara
de brabo, o Romeu Flávio Danilo Garcia (nome múltiplo como o
próprio cara, mas não necessariamente nesta ordem) era um
amigão e um gênio em mecânica, mente brilhante que tristemente
a doença de Parkinson fez ele se aposentar muito, muito, muito
precocemente!
Então, voltando ao sorteio natalino, o último e mais
importante presente sorteado na noite foi a dita televisão e o
felizardo ganhador, é claro, foi o estagiário Moretti. Que felicidade
de criança a dele ao receber o presente que tanto almejava!...Não
lembro se deixamos ele levar para casa e descobrir sozinho que
dentro da caixa estava a velha e sucateada TV valvulada, ou se o
poupamos desse vexame familiar com a sua mamãe...
- Valeu Romeu, Hélio e Ranyr pelos muitos mates e causos
exemplares!
52 - FAROESTE MATUNGO
13 de maio/Zumbi/2010
Tem bagulho bom aí! Saiu dois filmes simultâneos sobre o
Renato Russo, um sobre a vida dele (Éramos tão jovens) e o outro
com o roteiro baseado na letra da música Faroeste Caboclo, canção
consagrada pelo lendário grupo roqueiro Legião Urbana. Assisti
apenas ao segundo, e achei que o roteiro acertou a mão nas
adaptações para a linguagem cinematográfica, mas foi sacanagem
deixarem a música tema para rodar só depois do fim, “fazendo todo
mundo dançar” lendo os nomes dos créditos até a última letrinha!...
A propósito de faroestes, tem vivente que é contador de
história nato, que sabe levar o suspense e manter o ouvinte atento
na oralidade. Mas geralmente estes proseadores têm o defeito de
alongarem e enfeitarem com detalhes demais o causo. E, pior do
que isto, costumam emendar uma aventura na outra, num prosear
sem fim. Este é o caso do Gervásio, mais conhecido como o
Matungo, colega eletromecânico da DVM e morador do topo da Vila
São José, criado no alto do Morro da Cruz, que é um conhecido
109
ponto de tráfico e bandidagem em que nem a polícia pacificadora
entra, onde o faroeste corre solto, e que se tornou célebre por ser
o tradicional local da crucificação do Cristo na encenação da via-
sacra da procissão da Semana Santa. Lá, até o Cristo todo ano baila!
Quando o Gervásio puxa conversa e engrena, eu costumo
delimitar de antemão: um causo por dia! Outro dia ele me contou
rapidinho um dos seus infindáveis causos inéditos. Relatou o causo
do Fala-fanha, sujeito que morava na vizinhança e que teve a sua
mãe agredida durante um assalto por um vagabundo do morro
cheirador de crack. Conta o Matungo que, conforme o próprio Fala-
fanha teria lhe contado (técnica de proseador para poder relatar na
primeira pessoa com maior emoção), uma vez localizado o
malandro num boteco das redondezas, o Fala-fanha enfiou o cano
do seu revólver calibre 38 na boca do ladrãozinho agressor de sua
mãe e detonou, sem dó nem piedade.
Depois, quando o pistoleiro já tinha virado as costa para ir
embora, ele foi questionado pelo seu irmão, que ajudava na
vingança: E se o danado não morrer do tiro? - O Fala-fanha não teve
dúvida, voltou e degolou a agonizante vítima, depois virou-se
respondendo ao seu mano: esse vai morrer com certeza! Depois
saíram a passo... – E o corpo, eu perguntei? - O defunto foi dado
como queima de arquivo pela polícia, pois o cara tinha longa ficha
corrida, complementou o Matungo narrador. Como disse, tem
vivente que é nato trovador repentista de ficções em prosa,
aventuras como esta do Morro da Cruz ele contava uma atrás da
outra...
O Gervásio Matungo também é um aposentando, mas com
“n” minúsculo, fechou as condições para se aposentar em 2010, mas
não consegue se decidir, por não saber o que vai fazer depois.
Concluiu que os seus antigos biscates, de consertar refrigeradores e
televisores, estão em baixa no mercado. O cara era do tempo dos
aparelhos de rádios e TVs valvulados e, como eu também fui
“fuçador” em eletrônica, denominei de “vulcão” o monte de peças
e sucatas de chassis que ele tinha no pátio da casa dele, o qual
funcionava como um depósito a céu aberto, para serem
110
aproveitadas em seus consertos. O Matungo contabiliza que tinha
prejuízos atendendo à freguesia do Morro da Cruz, pois ficou
“engatado” com tantos refrigeradores e televisões, de clientes que
mandaram consertar e que não foram buscar, que chegou a pensar
em abrir um brique de aparelhos usados em casa. Mas, pondera o
ex-biscateiro, que nem pra isso dá mais, pois os eletrodomésticos se
tornaram descartáveis, com o incentivo do governo para que as
pessoas troquem os aparelhos velhos por modernos, que têm
menor consumo de energia elétrica.
A exemplo dos “coiotes” que servem de guia aos
“cucarachos” que tentam imigrar clandestinamente nas fronteiras
dos EUA, o Matungo também nos serviu de “coiote” quando
recorremos, em desespero de causa pela enxaqueca crônica da
minha mulher, a um tratamento espírita com o Dr. Queirós, médium
incorporado que atende justamente no “olho do furacão” do Morro
da Cruz. Somente acompanhado de um nativo da vila para nos
arriscarmos a subir à noite até o centro espírita do renomado
médium, no topo da morro, onde sempre tinha fila de pessoas para
serem atendidas, feito o SUS. As enxaquecas da minha mulher
continuam até hoje, mas nos valeu muito a experiência vivida no
território do Faroeste Matungo.
Conforme conta o folclore interno da DVM, após a
ocorrência do caso do acidente de trabalho fatal do jovem
eletricista Ubirajara Teixeira, o colega Bira, quando entregaram para
a viúva os objetos pessoais que o falecido tinha no armário do
vestiário da Manutenção, deu problemas de infidelidades
póstumas, pois lá havia cartas de casos extraconjugais...talvez até
com a vizinha. Conforme conta o Matungo, algum tempo antes do
acidente fatal, ele foi fazer uma visita na casa do Bira e, por engano,
entrou na casa do lado, de estranhos, como se fosse pessoa íntima.
Mas, por extremo azar, o tal vizinho do Bira estava desconfiado que
a sua mulher estava lhe traindo e, ao ver aquele negão entrar bem
faceiro em sua casa, caiu de pau em cima do Matungo. O Gervásio
não teve nem tempo de entender o que é que estava acontecendo,
o duelo foi desigual, foi pego pelas costas. O fato é verídico, pois
111
acompanhamos o drama do colega nos dias seguintes, já que o
estrago foi tanto que ele passou uma semana no hospital: todo
quebrado e deformado por inchaços e hematomas. Quase cegaram
de vez o Matungo!
Mas o causo mais pitoresco, que ele não se cansava de
contar, é o susto que ele deu num guri no banheiro coletivo de um
camping da Barra do Ribeiro, onde costumava passar as férias
pescando. Percebendo que o garoto ficou assustado com o lance
dele retirar a chapa dentária da boca para escovar os dentes na pia,
só de sacanagem, ele retirou também o seu olho de vidro (prótese
que usa no seu imperceptível olho cego), e pediu para que o guri o
ajudasse segurando o seu olho um pouquinho; o menino saiu
correndo apavorado!...
- Valeu Matungo, exímio narrador da “realidade fora da lei” que viu
de perto, enriquecida pela sua oralidade dramática, sem nunca se
deixar amedrontar ou envolver pela bandidagem: -Valeu Gervásio!
53 - O CARIMBADOR MALUCO
113
54 - O PAULO BUGIO FEZ 60 ANOS
115
55 - O “APITA JOÃO!”
19/12/2010
O João, que estava entre aqueles aposentados
desaparecidos há muitos anos, outro dia reapareceu. O encontrei
no “Caminho dos Aposentados”, na trilha que leva do Gabinete
Médico do Dmae até a farmácia Panvel conveniada mais próxima,
que fica no posto de gasolina na Av. Ipiranga. O cara trabalhava no
refeitório da DVM, num tempo em que a cozinha fazia café com leite
pela manhã para oferecer para todos os funcionários que
quisessem. Nessa época a cozinha também fornecia café preto em
térmicas para todos os setores e equipes, tanto pela manhã quanto
pela tarde, e até para o pessoal em serviços extraordinários
noturnos e de finais de semana.
Naquele tempo, antes do Prefeito Collares acabar com o
fornecimento de café para os servidores (medida tomada com
estardalhaço, como sendo uma grande economia para os cofres
públicos), o refeitório era um local de encontro e de recreação da
peonada. Era onde se jogava dominó e carteados rapidinhos, nos
intervalos do trabalho. É, havia intervalos do trabalho! A coisa era
super ordenada, havia horários limites para tudo: para encerrar o
café da manhã, para a hora do lanche matinal e do vespertino (que
ocorriam no meio de cada turno de expediente) e para abrir o
refeitório para o almoço. Fora destes horários o refeitório ficava
fechado para os demais servidores que não trabalhassem na
cozinha. Na época do João, era a Vera, hoje já falecida, quem fazia
o café para todos e também o almoço para aqueles que contribuíam
financeiramente para a compra dos mantimentos.
Então, todos estes horários para abertura e fechamento do
refeitório eram anunciados por uma sirene que soava no pátio de
DVM. Como na década de 80 ainda não havia automações
eletrônicas, a tal sirene era acionada manualmente pelo João.
Assim, quando se aproximavam os respectivos horários de liberar o
refeitório para o livre acesso da peonada, o pessoal começava a
gritar, pelas portas dos pavilhões, por pura algazarra coletiva, até a
sirene apitar:
116
- Apita João!
O João, que no Dmae trabalhava como auxiliar de serviços
gerais com a nobre função de apitar a sirene e levar as garrafas
térmicas para os escritórios, costumava fazer biscates como garçom
em bares e eventos noturnos. Seguidamente, portanto, ele vinha
trabalhar “virado”, direto da sua atividade de garçom e aproveitava
para recuperar o sono durante os horários em que o refeitório
estava fechado. Costumava dormir deitado nos bancos de madeira
entre as mesas. Então, para não correr o risco do dorminhoco
perder a hora de apitar a sirene, o pessoal começou a tradição de
gritar o que depois virou um folclore:
- Apita João!
Com o passar do tempo veio a inexorável evolução
tecnológica, e a sirene foi então conectada diretamente ao relógio
ponto, de forma que ela passou a apitar automaticamente, sem
precisar mais da intervenção do João. Contudo, pelo divertido
espírito de gozação, permaneceu o ritual de anunciar os horários de
abertura do refeitório com os gritos pipocando pelo pátio:
-Apita João!
Mas o João passou a se irritar com aquela ”zoação” pro seu
lado todo o santo dia nos horários de se liberar o refeitório para a
peonada, e começou a responder aos gritos:
- Quem apita é a mãe!
Por um longo período ainda se ouvia esta trova no páteo da
DVM:
- Apita João!
- É a mãe!
Assim, o João acabou incorporando a sua função como um
apelido, e passou a ser conhecido como “O Apita João!”.
Quando o vi eu gritei do outro lado da rua abanando para
ele:
-Apita João!
-É a mãe! – Respondeu ele, rindo com sua boca nua escancarada.
Então conversei rapidamente com o Apita João no Caminho
dos Aposentados, ele disse que continuava atuando como garçom.
117
Mas vendo ele tão envelhecido e completamente sem dentes, saí
convencido que com a decrepitude da idade a gente não apita mais
nada mesmo...
-Valeu Apita João!
120
Eu havia pensado em começar contando de quando nós
dois, jovens colegas de Dmae, frequentamos juntos o Cursinho Pré-
Vestibular Mauá, no tempo dos professores Édison de Oliveira e
Túlio, de português e matemática respectivamente, ano em que
nenhum de nós passou no vestibular da UFRGS, e que ele foi fazer o
curso de engenharia mecânica na PUC, enquanto eu fiquei tentando
mais algumas vezes até conseguir entrar na engenharia da
faculdade federal.
Também cogitei de resgatar como introdução o trecho da
matéria que publiquei aqui no blog (em dez/2010) sobre a grande
incidência de ”pais e filhos” trabalharem como colegas no Dmae,
em que eu citava o Cafuringa: “tem os casos de filhos de pais de
outras divisões do Dmae, tais como os numerosos irmãos Jorge
Cafu, Aurélio Charuto e Victor da DVM (irmãos da Isabel (Bela) da
DVA) que são filhos do Getúlio (falecido boêmio e tocador de
cavaquinho da DVA)”.
Outra abordagem que pensei em fazer foi a futebolística.
Teria tudo a ver fazer o texto com o enfoque de futebol, pois o Jorge
ganhou este apelido de Cafuringa (nome de um antigo jogador
profissional famoso) por ser um ponteiro direito muito rápido e
habilidoso, que marcou época na vasta galeria de conquistas de
troféus dos sucessivos times de futebol de campo que se formaram
na manutenção, os quais até hoje sempre têm tido pelo menos um
dos seus irmão jogando e ele atuando como técnico e/ou cartola.
Outras vezes pensava que o central numa matéria sobre o
Cafuringa deveria ser os entrelaçamentos que nossas vidas
profissionais tiveram desde o início de nossas carreiras. Isso ocorreu
especialmente porque a DVM se caracteriza por ser o único lugar do
DMAE onde os funcionários praticamente não mudam de local de
trabalho ao longo de toda a vida profissional. As mesmas pessoas
acabam convivendo por décadas consecutivas, devido às
especificidades técnicas dos ofícios e cargos que só existem na
Manutenção. Em verdade nossa história se entrelaça desde antes,
pois tivemos a mesma origem de formação técnica, que foi a Escola
Parobé, e onde o Cafuringa posteriormente tornou-se professor e
121
permanece lecionando. Ainda assim, tanto ele como eu estivemos
trabalhando em outras divisões por alguns anos, ele na Divisão de
Esgotos e eu na Divisão de Água e na de Planejamento, e ambos
voltamos para o nosso lugar natural e de origem no Dmae, que é a
Manutenção.
Outra alternativa considerada foi abordar o seu gosto
especial pelo leva-e-traz de coisas que alguém ouviu contar sobre o
fulano ou/com a fulana em tais ou quais causos ou fofocas, que no
fundo todo mundo gosta. Todavia, é sabido que para as histórias
contadas pelo Cafú tem que se dar muito desconto, pois que ele não
aumenta só um ponto, costuma incrementar temperos
apimentados e hipóteses de duplo sentido para dar maior emoção
e impacto ao causo. Esses disse-me-disse do Cafuringa podem ser
verídicos ou podem ser de origem fictícia ou inventada por ele
mesmo, nunca se sabe ao certo...Nisso consiste o seu sucesso como
revelador de supostas intimidades alheias, posto que é feito sem
maldade e com a sua autêntica ingenuidade.
Pensei ainda em relembrar algumas passagens nossas,
quando já estávamos os dois formados em engenharia, e fizemos
juntos estudos preparatórios para o concurso de engenheiro do
DMLU. Estudávamos na minha casa e nos plantões de final de
semana no DMAE, concurso que ele, por ser muito festeiro naquela
época, infelizmente acabou não conseguindo aprovação. Queria
relembrar de como, décadas depois, como Diretor da DVM, eu fui
chefe do Cafuringa e tentei inutilmente conseguir um Cargo em
Comissão pra ele, posto que ele não era petista e eram tantos
companheiros esperando a boquinha, tantos que sistematicamente
uns tiravam férias pra outros de fora assumirem.
Certamente que teria que comentar que participei de sua
festança de casamento, e falar de como acompanhamos à distância,
por duas décadas, os nascimentos e crescimentos de nossos
respectivos filhos, os meus divórcios e a fatalidade do recente
falecimento da esposa e grande coordenadora da vida familiar do
meu amigo. Que sacanagem do destino, deixou órfãos dois
adolescentes e o próprio Cafú!...
122
Contudo, eu sempre ficava com a sensação de que nada
disso captava o essencialmente peculiar no Jorge Cafuringa, que
ficava faltando alguma coisa, até que a crônica da Martha Medeiros
publicada na ZH de ontem com o título “Falando Sozinho” me deu o
gancho que faltava para a elaboração da minha postagem sobre o
Cafú. A cronista conta que, alertada por suas filhas, teve que
sucumbir às evidências e admitir que fala sozinha. Diz que, sem
perceber, o pensamento sai pela boca e não raro gesticula, mas que
não chega àquele nível de maluquice que acomete andarilhos que
falam num volume tão audível que a gente chega a se perguntar se
estariam mesmo sozinhos.
Agora, com o testemunho da Martha Medeiros, eu próprio
já posso assumir que também falo sozinho em casa, e posso
escrever sem melindres nesta crônica que o Cafuringa é desses que
falam a altos prados e gesticulam com empolgação pelas ruas.
Quem o conhece sabe, é folclórico vê-lo discutindo consigo mesmo,
isso é uma peculiaridade dele e desde sempre foi assim. Mas, como
hoje em dia é até muito comum vermos pessoas falando sozinhas,
às quais supomos que estão falando em celular com fones de ouvido
camuflados, ninguém mais estranha o Cafuringa em seus
monólogos andarilhos. Finalmente posso escancarar, pois que
agora tenho referência de gente famosa para poder afirmar: Cafú,
nós que falamos sozinhos somos normais! Segundo a Martha
Medeiros falar sozinho é um ato de generosidade, pois vá saber o
estrago que causaríamos se falássemos tudo, olho no olho. Melhor
soltar as frases ao vento...
- Valeu meu irmão negão!
58 - O ARMANDINHO DENTISTA
124
Juntamente com o Joel Emer, o Ivo Deboita, a Fátima Silvello
e eu, o Armandinho participou da composição de uma chapa para
associação ASDMAE, tendo ele como candidato a presidente. O
nosso propósito na época era romper com o assistencialismo da
entidade, que era presidida há décadas pelo hoje saudoso Seu
Pinheiro, e transformar a associação numa organização combativa
e engajada no movimento de sindicalização dos servidores públicos,
que até então era proibido pelo regime autoritário.
Ganhamos a eleição e, com uma administração austera do
Joel como tesoureiro, passamos a desenvolver uma nova dinâmica
de mobilização dos servidores do Dmae em prol do movimento pré-
sindical de constituição da AMPA (Associação dos Municipários de
Porto Alegre) que mais tarde, fortalecida, se auto converteria no
SIMPA.
Todavia, conforme a democratização avançava, a
conjuntura ia modificando a correlação de forças no movimento
dos servidores. Com a eleição do Prefeito Collares e a ascensão do
PDT ao governo, os quadros militantes do partido naturalmente
foram guindados para cargos da administração do DMAE, e o
Armandinho foi ficando meio sozinho na ASDMAE, uma vez que eu
estava assumindo como presidente da AMPA (antes dela se
transformar no SIMPA), devido ter havido vacância do cargo (O
presidente Rigotti foi ocupar um cargo no governo do Estado com o
Pedro Simon).
Só hoje pude reconstituir esta passagem do final do
mandato do Armandinho na ASDMAE, tamanha era a loucura da
minha entrega pessoal ao movimento naquela época. Naturalmente
ele relembrou um episódio que adora comentar comigo, caso
ocorrido numa assembleia geral dos municipários no Colégio
Rosário, em que deu uma brigalhada e destituíram a mesa diretora
em que ele estava como representante da Asdmae. Quando
literalmente viraram a mesa que ele tentava segurar! Pois agora ele
nos contou que depois daquilo ele havia sido convencido a se filiar
no PDT e posteriormente a se candidatar a vereador pelo partido.
Porém, como mais adiante o então diretor Diretor Geral, Carlos
125
Petersen, resolveu também se candidatar ao cargo de vereador pelo
PDT, aos poucos o Armandinho foi sendo coagido a recuar da sua
candidatura, de tal forma que foi convidado a sair do DMAE para
deixar o campo livre. Foi quando, repentinamente, ficamos sabendo
que o Armandinho tinha sido transferido para o DMLU.
Com o final do mandato do Armandinho começou a
desgraça da ASDMAE, foi a partir da ascensão democrática de um
operário corrupto eleito ao poder, um tal de Arildo. O cara roubou
o que deu tão escancaradamente que teve que pedir demissão e
sair fugido do DMAE. Diz o Armandinho que o Arildo foi visto como
carroceiro posteriormente. Depois disso, a associação dos
servidores do Dmae vem minguando de mão e mão, cada vez mais
depauperada...
Tem males que vêm pra bem, diz o dentista, posto que no
DMLU passou a trabalhar meio turno apenas e, assim, pode
desenvolver o seu consultório particular que, após a sua
aposentadoria, tem sido a sua ocupação principal com grande
clientela. Como empreendedor nato, também desenvolveu duas
casas de geriatria na Cidade Baixa e, aos 68 anos de idade, o
baixinho está muito bem de vida, graças à Deus!
Curioso, citei o caso da mulher do vice-presidente da Dilma,
o Temer que acabou de assumir o cargo aos 70 anos de idade
exibindo sua jovem mulher ex-miss de 28 anos (a Carla Bruni
tupiniquim!), e perguntei brincando se ele estava na mesma onda:
- Quase, a minha mulher tem 33 anos. Mas já estou me separando
hoje!
Todos na sala ficamos abismados:
-Hoje? Por quê? Quer uma mais nova?
- Ela é muito ciumenta!... (caímos na risada!)
O Armadinho é uma Temeridade, o Temer que se cuide.
- Valeu Armandinho!
126
59 - DEMISSÕES A BEM DO SERVIÇO PÚBLICO
Agosto/2010
Essas chuvaradas de verão pelo pais todo, enchentes,
deslizamentos e mortes...Estas inundações no entorno do DMAE
nas ruas Gastão Rhodes e Princesa Isabel fazem a gente ficar com
cara de “abobados da enchente” olhando a chuva pela janela e
relembrando causos...As más línguas sempre comentam que a
carreira de funcionário público é absolutamente estável, que
ninguém vai pra rua, que ninguém é demitido por mais vagabundo
e por mais besteiras que faça. Por vagabundagem, depois do estágio
probatório, realmente nunca vi acontecer nenhuma demissão.
Geralmente os acasos mais problemáticos são os de alcoolistas, que
são classificados como doentes portadores de dependência química
e ficam batendo o ponto e dormindo pelos vestiários. Mas quanto
às besteiras, não é bem assim. Conheço pelo menos dois casos de
“demissão a bem do serviço público”.
Num desses casos, pelo que se soube de boca em boca, o
Geraldão, que trabalhava na seção administrativa da DVA, naquele
verão estava exercendo a chefia da Seção em substituição à Neusa,
que estava em férias. Ocorreu que o seu colega Normando procurou
a chefia substituta para que registrasse na folha ponto daquele mês
determinado número de horas extras, “como de praxe”.
Inocentemente e tentando se preservar de escorregar em possíveis
“cascas de bananas” durante seu breve exercício da chefia, o
Geraldão submeteu o pedido do Normando à aprovação prévia da
diretora da Divisão. Surgia aí o estopim da maior bomba de
“escândalo administrativo” que tive conhecimento em toda a minha
carreira de servidor público, a qual ao ser detonada deixou pelo
menos três vítimas com gravíssimas sequelas para o resto de suas
vidas.
A direção da DVA, que desconhecia a “prática de praxe”, ao
investigar o assunto descobriu que havia um esquema de corrupção
instalado no seu setor administrativo. Aperta daqui, pergunta dali e
revelou-se como mentor do esquema o Alemão Valter (que já fora
chefe do administrativo por muito tempo) e como operadora a
127
Neusa. Ambos eram pessoas muito bem conceituadas por todos: o
Valter era um sujeito empreendedor (numa época sei que teve uma
loja de floricultura e picaretava com vendas de carros usados) e a
Neusa era uma pessoa seríssima e dedicada ao trabalho. O
Normando, que era um auxiliar administrativo, o peão da jogada,
entrou de carona nesta mamata para fazer o serviço sujo, na qual
mamaram os três por muito tempo...até que a teta explodiu como
uma bomba!
O esquema de corrupção consistia em acrescentar cerca de
cem horas extras para cada um na Folha Ponto, após ela ser
assinada pela Direção (que nesta época era exercida pela Engª
Susana), e antes da Folha ser enviada para a Seção de Pagamentos
da DVH. Resultou da instalação de uma Comissão de Sindicância um
relatório que determinou a abertura de um Inquérito
Administrativo, e o inquérito sentenciou a demissão sumária dos
três envolvidos “a bem do serviço público”.
Deu pena de ver, pois eram todos funcionários da velha
guarda, tanto que durante o processo o Valter aposentou-se e,
quando todos pensavam que ele tinha se escapado do castigo, salvo
pelo gongo, teve a sua aposentadoria revogada em decorrência da
sentença de demissão. Ficaram todos desempregados....
O único outro caso semelhante que tive conhecimento foi o
ocorrido com o Engº Bins. Consta que um funcionário desafeto dele
teria documentado com fatos & fotos e denunciado o desvio de
caliças (e outras “coisitas”) de obras do DMAE, desvios que o Bins
fazia para uma obra de sua propriedade. Não soube de maiores
detalhes, mas no final do processo o ex-colega, já careca de tanto
tempo de trabalho, também foi demitido “a bem do serviço
público”. Mas, segundo comentários recentes, parece que o Bins fez
um novo concurso público e estaria prestes a ser readmitido como
engenheiro na Prefeitura de Porto Alegre...Será?...Será que o cara
deu uma de político experto e se demitiu antes de ser cassado do
cargo?...
128
60 - SE FICAR OU CORRER O BICHO PEGA IGUAL?
julho/2010
Ontem houve comemoração com vinho chileno Casillero
Del Diablo (malbec!) e telepizza da Oca de Savóia, alusiva à data de
28 de julho de 2010; com direito a queima de um charuto cubano
Romeo y Julieta, em cujo selo a dedicatória faz homenagem ao
grande acontecimento desta data. No dia de hoje se configura o
direito adquirido da absolvição do jugo do trabalho: data a partir da
qual passo a dispor da minha Carta de Alforria para usá-la no
momento que quiser. Fechei ontem o número cabalístico 95, da
minha idade somada ao meu tempo de serviço, finalmente!
Agora estou definitivamente na reta da bandeirada final de
chegada no Grande Prêmio da Aposentadoria. Recebi a minha
última vantagem de fim de carreira, o meu último “avanço trienal
de 5%” em maio/2010, não restando mais nada o que acrescentar
aos meus vencimentos, só surgem pela frente cada vez mais
ameaças de perdas salariais, as quais não são poucas e vêm de todos
os lados.
Daqui pra frente passo a correr pelo resultado com o
regulamento embaixo do braço, como se diz no futebol, pois já
incorporei todas as vantagens previstas e tenho a minha carta de
alforria guardada na manga como um coringa no jogo de carteado.
Qualquer coisa, se o bicho for muito feio e der pra correr sem que o
bicho pegue, corro que nem o Jalba até o Previmpa e cadastro o
meu pedido de aposentadoria imediatamente!
Recentemente já apareceram bichos bastante feiosos, mas
que não ameaçaram o suficiente para me botar em pânico, mas
quase, como foi a ameaça de corte da insalubridade em decorrência
da implantação do novo laudo da perícia na DVM. Passado o susto
inicial, a racionalidade voltou a imperar e, por enquanto, parece que
tudo serenou sobre esta ameaça de perda salarial às portas da
aposentadoria.
Mas a SMA comunicou em seu informativo online que o
“Comitê de Política Salarial da prefeitura reuniu-se com
representantes do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre
129
(Simpa) para nova rodada de conversações. Dentre os temas
tratados, o Simpa mostrou especial preocupação com a ação civil
pública movida pela Promotoria de Defesa do Patrimônio Público da
Capital, sobre o cálculo de concessão das gratificações adicionais e
por regime especial (RTI e RDE) dos servidores municipais de
determinadas autarquias. O governo enfatizou, durante a reunião,
que o tema da ação também é uma preocupação do executivo
municipal. “O governo, através da Procuradoria Geral do Município,
está buscando a defesa jurídica para preservar os vencimentos dos
servidores. A prefeitura foi notificada para prestar informações ao
juiz”.
Quando a gente menos espera, às vezes, surgem os piores
monstros. Como parece ser o caso desta ameaça do “Exterminador
do Efeito Cascata” lançada pelo Ministério Público Estadual, que
considerou irregular o cálculo de gratificações concedidas a
servidores públicos municipais de Porto Alegre. Quebrando em
miúdos, o tal efeito cascata que pretendem exterminar se refere à
incidência do Regime de Dedicação Exclusiva (de 100%) sobre os
avanços adicionais (de 15% e 25%) e às funções gratificadas
incorporadas. Consideram que há vantagens incidindo sobre
vantagens, o que constituiria um efeito cascata. É o anúncio de um
rombo bem maior do que todas as outras ameaças de perdas
anteriores, e ainda é extensiva a todos ativos e inativos. O promotor
também pede a revisão de todos os benefícios já concedidos
anteriormente. É pouco?...
O pior, é que o bicho que estão pintando é do tipo que não
adianta correr para o Previmpa e se esconder no pijama de
aposentado que ele pega igual!...
138
pessoas, que possivelmente teriam que mudar imediatamente de
colégio seus filhos;
-A limitação de inscrição de apenas dois filhos como beneficiários
(os pais teriam que escolher quais dos seus filhos seriam excluídos);
- O Critério de Sorteio de Bolsas Integrais até o final do curso do
dependente, foi o ponto no qual a assembleia dos servidores
decidiu concentrar a sua rejeição, por considerá-lo excludente, uma
vez que reduzia em mais de 50% o número de beneficiários por ser
um critério que dava tudo para poucos e nada para muitos.
Por ocasião dessa assembleia, da qual a Administração se
retirou no meio, depois de se ver veementemente contestada, os
servidores assumiram o comando da reunião e constituíram uma
Comissão de Representantes dos Funcionários (composta por Valdir
Flores/DVO, Silvia Fabbrin/COJ, Antônio Coelho/DVI, Magda
Granata/DVO, Dione Borges/DVR, Denise Regina/DVR, Maria de
Fátima Rodrigues/DVH, Mara Lúcia Diel/SVG, Eduardo Dias/COJ,
Iara Morandi/DVP e Marco Guimarães e eu pela DVM). A Comissão
buscou, inutilmente, por vários dias estabelecer um canal de
comunicação, até conseguir arrombar uma brecha diretamente no
Gabinete do Diretor Geral, através de um ”Ato Público” (com
cartazes e pirulitos) realizado nos Jardins da ETA Moinhos de Vento.
Durante a evolução deste movimento foi se destacando a
liderança carismática do colega Valdir Flores, e se revelando a sua
talentosa capacidade oratória de se comunicar com a multidão
reunida, o qual acabou assumindo naturalmente a coordenação
daquela luta; enquanto eu passei a funcionar como uma espécie de
consultor de estratégias de ação do movimento, devido à minha
larga experiência sindical.
O Diretor Geral, após finalmente se dignar a ouvir a nossa
reivindicação de que a Instrução fosse suspensa para se estudar
formas alternativas de “rateios” aos invés do critério de “sorteios”,
delegou ao Superintendente Administrativo, na época o todo
poderoso Ricardo Collar (que havia sido cogitado para ser o DG do
DMAE, e acabou ficando apenas no segundo escalão do poder), para
fazer as tratativas e discussões com os funcionários.
139
Em reuniões manipuladas em que a Administração insistia
em pautar a discussão dos “Procedimentos Operacionais do Sorteio
das Bolsas”, enquanto em vão a Comissão de Representantes
sugeria a discussão de um “Rateio Escalonado” por faixas salariais,
esgotou-se todas as alternativas de se romper com a intransigência
da Superintendência Administrava (incluída a DVH do Júlio
Abrantes). Resultou que a Administração publicou o Regulamento
do Sorteio com ostensiva prepotência, inclusive posteriormente ao
período de inscrições dos candidatos ao benefício, e com alterações
(para pior) dos critérios estabelecidos na Instrução, restringindo
para apenas a “faixa 1” a concessão de bolsa integral até a conclusão
do respectivo nível de ensino (Infantil, Fundamental e Médio).
A Administração Popular seguiu atropelando todos como
um tanque de guerra, desenvolvendo uma repressão ao movimento
contestatório, através de proibição expressa para que as chefias não
permitissem que funcionários participassem de reuniões sobre as
bolsas de estudos. Espalharam tamanha onda de terror e medo que
conseguiram esvaziar o movimento. Lembro que eu fiquei
tristemente impressionado de como a esquerda era mais eficiente
na repressão aos movimentos dos trabalhadores do que toda a
nossa longa experiência anterior durante a luta pela
democratização do país no período do final da ditadura já
agonizante. Só nos restou publicar uma “Carta Aberta aos
Funcionários”, denunciando todas as arbitrariedades ocorridas no
processo e assimilar o refluxo do movimento.
Confesso que entrei meio de gaiato nesta peleja, pois na
verdade eu queria protestar era contra a extinção da minha bolsa
de estudo na PUC do curso de Jornalismo. Até então, antes deste
tumulto todo, as minhas filhas estudavam em escolas particulares,
mas não conveniadas com as bolsas de estudo do DMAE. Eu preferia
pagar e poder escolher livremente a escola do que ficar
condicionado por uma pequena ajuda de custo oferecida pelo
Departamento até então. Mas, com a proposição da Administração
de oferecer “bolsas de estudo integral e até o final do Curso
Fundamental”, resolvi concorrer na loteria deste verdadeiro
140
“prêmio da sorte grande”, inscrevendo as minhas filhas para se
candidatarem às vagas de bolsas na caríssima e ótima Escola João
XXIII.
O pitoresco é que no famigerado sorteio, nós que éramos
radicalmente contra ele, por ser um critério que dava tudo para
poucos e nada para muitos, fomos sorteados: o Valdir com uma e
eu com duas bolsas, e as nossas mulheres, as Magdas, também
foram sorteadas com uma bolsa cada uma...Provamos que
estávamos certos ficando com tudo entre poucos!
A batalha não acabou por aí, ocorreu que no regulamento
do sorteio, escrito em cima da perna com a soberba de “manda
quem pode e obedece quem precisa”, foi determinado que o Ensino
Fundamental seria dividido em dois sub-níveis: da primeira à quinta
série e da sexta à oitava série. Assim, segundo o entendimento da
Administração, as bolsas sorteadas seriam integrais até o final de
cada um destes sub-níveis, mas apenas para os servidores da faixa
salarial mais baixa. Para os demais níveis haveria novos sorteios
todos os anos, o que significava ficar sujeito à tortura de trocar as
crianças de colégio a cada ano!
A minha guria menor entrou na primeira série e a maior na
quinta série na nova escola por força do famigerado sorteio, mas foi
preciso que recorrêssemos à justiça para garantir o que estava
determinado na IDG295/01, ou seja, que a bolsa seria integral até o
final do Curso de Ensino Fundamental para os servidores de todas
as faixas salariais. O fato é que somente através da IDG301
publicada em outubro/2002 é que foi modificada a redação da
instrução anterior, restringindo para apenas a “faixa 1” a bolsa
integral até a conclusão do nível de ensino, subdividindo o Ensino
Fundamental em dois sub-níveis (portanto, válida para os novos
sorteados!).
A primeira vitória foi a conquista de uma “liminar judicial”
e, por fim, a sentença nos dando ganho pelo mérito da causa, com
a qual garantimos o benefício do “grande prêmio” que ganhamos
no sorteio: por praticamente toda a vida escolar as minhas filhas
tiveram literalmente a “sorte” de estudarem numa boa escola que
141
não teriam acesso se não fosse através das bolsas de estudo do
DMAE.
64 - OS CAMPEÕES DE TUDO
08/2010
Na entrega da Taça Libertadores da América 2010 ao
campeão, realizada ao final do jogo em que o Inter venceu por 3x2
ao time Chivas do México no estádio da Beira Rio (Já pensou mudar
o nome para Estádio Beira Lago? – Nem pensar!), as medalhas
foram colocadas no peito dos atletas colorados e a taça foi entregue
ao capitão da equipe pelo lendário Pelé, que se apresentou trajando
um vistoso paletó vermelho em homenagem aos “campeões de
tudo”.
Guardadas as devidas proporções, igualmente na entrega
de premiação do Campeonato de Futebol Sete do Dmae 2010,
Categoria Máster, realizada no campo de futebol sete do SESC, as
medalhas foram colocadas no peito dos atletas do time da DVM e
as taças de “campeões de tudo” foram entregues ao capitão da
equipe pelo lendário ex-jogador Emerson, que foi da seleção
brasileira em duas Copas do Mundo(1998 e 2006) e pelo Grêmio foi
campeão da Libertadores de 1995 e do Campeonato Brasileiro de
1996.
A DVM foi a “campeão de tudo” no campeonato porque,
além de ganhar a Taça de Campeão, também conquistou a Taça de
Goleador (Américo) e a Taça de Goleiro Menos Vasado (Ederson). A
vida é assim mesmo, enquanto o Pelé recebe cachê milionário para
ser o mestre de cerimônia no estádio lotado e televisionado para o
mundo todo, o Emerson faz os seus biscates por cachês bem
menores e em competições com menor repercussão na mídia.
146
foi a minha surpresa ao saber que eram distribuídos cachorros
quentes com refrigerantes durante as sessões!
- Quantos cachorros quentes para cada um? – Indaguei, guloso.
- Até agora não tem havido reclamações, todos têm comido à
vontade. Respondeu a Sílvia.
- Então tá, que bom, resolvido o problema do rango vou assistir.
E fui meio temeroso pela minha fome canina habitual no
almoço. Fui no dia 17 de dezembro/2010 no Auditório da CNL, cuja
programação era de passar dois filmes baseados em textos do livro
de contos “Mistérios de Porto Alegre” do Moacyr Scliar (Hotel dos
Corações Solitários e Aventuras no Carnaval); além de um
documentário bem-humorado sobre o Twitter, a nova coqueluche
de relacionamentos virtuais na Internet.
A boa qualidade dos filmes dispensa comentários, pois os
dois primeiros foram produzidos pela RBS-TV, no padrão global de
produção, mas na linguagem irreverente própria dos curtas, que são
contos cinematográficos. Gostei muito dos personagens solitários
do Hotel do Scliar.
Além do programado, passou o curta Os Batedores, que são
jovens vagabundos batedores de carteira do centro de Porto Alegre,
excelente Curta!
A programação inicial previa que após a projeção dos filmes
haveria um debate com Goida e André, críticos e membros do Clube
de Cinema de Porto Alegre. Mas, com a inclusão de um filme extra,
o tempo ficou curto para tantos curtas, e acabou ultrapassando o
horário do meio-dia, que vai até as 13h30m. Foi bom e ao mesmo
tempo foi uma pena, pois foi ótimo ver o filme extra e foi uma pena
não ter dado tempo para o debate com quem entende da matéria.
Fica pra próxima vez, fiquei com o gostinho de “quero mais”!
O evento “Curtas ao meio dia no DMAE” é um sucesso
também de público, o auditório estava completamente lotado (com
mais de 50 pessoas), e o esquema todo montado pela DVH
funcionou perfeitamente bem, disponibilizando inclusive
transporte para o local do evento. Eu que sou um crítico ferrenho,
147
desde sempre, das práticas teóricas dos recursos humanos, tenho
que aplaudir estas duas iniciativas: Coral & Curtas no DMAE.
Quanto à minha fome canina? – Ficou completamente
saciada! Comi vários cachorrinhos gostosíssimos e, realmente,
todos comeram à vontade e continuou sem haver reclamações.
Valeu mesmo, não deixem de curtir a temporada 2011 do Ciclo de
Cinemas – Curtas ao meio dia!
152
69 - QUANDO OS ENGENHEIROS COMEÇARAM A BATER PONTO
NO DMAE
154
Lembro que quando entrei como escriturário no DMAE, os
engenheiros não batiam ponto, estavam liberados desta
humilhação proletária. Este paraíso durou até o início da década
de 90, quando na Era Petista iniciou-se a saga do Universo em
Desencanto dos engenheiros que, até então, eram os todo-
poderosos do Departamento. É, acreditem ou não, houve uma
época em que por todo o território portoalegrense predominava a
espécie dos engenheiros, hoje ameaçada de extinção por seus
predadores naturais, com a ascensão dos procuradores e advogados
na cadeia alimentar dos benefícios municipais.
Naquele tempo antigo, todos nós arigós, subespécies não
técnico-científicos, queríamos ser engenheiros e usufruir das
regalias desses semideuses. Os engenheiros dispunham de um carro
locado com motorista para fazer o leva-e-traz de casa para o Dmae,
e vice-versa, tanto na pegada de manhã como ao meio dia e na saída
do expediente. Era uma vida de senador, conforme eu imaginava
para me motivar a terminar o meu curso de engenheiro, enquanto
pegava quatro ônibus por dia, pois eu ainda não tinha carro. É de
se imaginar também, pelo que se conhece do bicho homem, que
alguns engenheiros abusavam, e estendiam estes benefícios para
levar e trazer a mulher do supermercado e do cabelereiro, as filhas
do colégio e até convocavam estes carros locados para passearem
alguns finais de semana com a família...
Depois os tempos mudaram, a poderosa Associação dos
Engenheiros do Dmae (AED) teve que ceder o seu lugar para as
demais classes de técnicos científicos, misturando-se com eles
mediante o surgimento da ASTED no Dmae. Por sua vez, também a
ASTED se extinguiu por ter que se diluir no grande buraco negro de
todos os técnicos científicos da prefeitura, numa tentativa
desesperada de unificação na ASTEC, na luta de todos contra a
ideologia bem sucedida dos Procuradores e Advogados de que
“cada cargo deve lutar por si” em busca de suas vantagens.
Sei que quando eu finalmente consegui me formar e
assumir o cargo de engenheiro em 1992, via concurso público, já
não havia mais nada daquele antigo glamour no cargo de
155
engenheiro do Dmae. Havíamos caído na arena comum dos mortais:
correndo no seu próprio carro para bater o “santíssimo ponto”
quatro vezes por dia, no horário e sem atrasos para não ter que
beijar a mão da chefia em troca de um mísero abono no
cartão...Decaímos até o limite do orgulho profissional da nossa
função social, o qual tem nos levado a reagir e sair na luta dos
Capacetes Brancos pelo recebimento de uma “Verba de
Responsabilidade Técnica” (mas isso é tema para uma outra matéria
no blog!).
Enquanto tudo isso acontecia no Planeta Dmae, em termos
de mega evolução tecnológica na gestão dos horários de efetivo
trabalho dos seus servidores, a maioria dos demais planetas do
Sistema Solar da Prefeitura Porto-alegrense permaneceu na
romântica e humanística gestão do início da era industrial, da
assinatura pura e simples no lendário Livro Ponto.
70 - ESTRATÉGIAS DE PRÉ-APOSENTADORIA
agosto/2010
Há várias estratégias consagradas de como se migrar da
ativa para a aposentadoria, todas desenvolvidas intuitivamente por
cada um, conforme suas peculiaridades pessoais.
Uma estratégia muito comum é a dos que acumulam Licenças
Prêmios (LPs) por muitos anos para as usarem no final da carreira.
Um caso extremo deste perfil típico foi o do Seu Joãozinho da DVA,
que foi trabalhando até o último dia, ao fazer 70 anos caiu na
compulsória sem tirar as suas várias LPs acumuladas. Depois,
magoado por ser mandado embora por força da lei, solicitou que
pelo menos suas LPs fossem “compradas” pela Administração,
como uma forma de reconhecimento e compensação à sua vida
dedicada quase que integralmente ao DMAE. Não levou nada, suas
LPs foram perdidas.
Há, no meu ver, várias problemáticas nesta estratégia de
acumular LPs. A primeira problemática é o próprio perfil de quem
não goza LPs por vários anos seguidos, pois é um forte indicativo de
se tratar de alguém dependente do meio ambiente profissional e
156
que não encontra o que fazer, quando fica por muito tempo fora do
trabalho.
Alguns adotam a tática de usufruírem de todas as LPs
emendadas no período imediatamente anterior ao da
aposentadoria, como uma forma de antecipá-la. Esta é uma prática
bem comum e se constitui numa cultura desenvolvida em função do
pessoal ter ficado sempre na expectativa de que num “belo dia” a
Prefeitura voltaria a “comprar” as LPs, o que há décadas não
acontece. Significa dizer que muitos colegas acumularam várias LPs
que podem totalizar até um ano ou mais de licença para gozarem.
Uma variável deste procedimento é, ao invés do gozar todas LPs de
forma consecutiva, preferirem a estratégia de usufruí-las em meses
alternados: trabalhar um mês e folgar outro, ou folgar dois, etc.
Uma problemática dessas estratégias de “batida em
retirada” do trabalho através de usufruir de licenças prêmios
seguidas, é que há o risco de se ficar numa situação funcional
fragilizada, ficando sujeito inclusive a ser hostilizado por alguns
colegas (por não sermos nem uma coisa nem outra – nem se está
aposentado e nem se está mais desenvolvendo plenamente as
atividades, as quais passam a sobrecarregar os outros). Corre-se o
risco de ser prejudicado por uma chefia adversa por ter deixado de
exercer atividades que garantiam benefícios como gratificações
tributárias, insalubridade, incentivo técnico, etc. É, portanto, uma
tática de alto risco às vésperas de se levar tudo para sempre no
soldo de aposentado!
Há uma outra variável desta mesma estratégia de LPs
acumuladas, que foi a adotada pelo ex-colega Jalba, qual seja, de
gozar dois ou três meses consecutivos, ao longo do ano anterior ao
da data prevista de “baixa do quartel dos barnabés”, para servir
como um ensaio prático da vivência de aposentado; guardando
apenas um mês de LP para usar quando entrar efetivamente com o
pedido de aposentadoria no PREVIMPA.
A minha estratégia, porém, tem sido sempre de gozar as LPs
anualmente, gozando-as por trinta ou quinze dias como férias de
inverno, de forma que se acabe uma LP quando já vou adquirir a
157
próxima, sem jamais deixar acumular LPs. Assim, por uma lado
fiquei limitado, pois não teria como antecipar nem como ensaiar a
minha aposentadoria ficando vários meses em casa; porém, por
outro lado, fiquei livre para sair a qualquer momento a partir de
28/julho/2010, se alguma situação de “alto risco” surgisse de perda
salarial, sem correr o risco de ter que abrir mão de LPs acumuladas,
se me deparasse diante da necessidade de uma saída de
emergência.
É preciso que se registre que estamos vivendo tempos
conturbados de desconstrução dos chamados “direitos adquiridos”
(Tarso Genro, quando Ministro da Justiça, já disse que não existe
direito adquirido!). O meu planejamento inicial, registrado aqui
neste blog, era de que sairia de férias no início de fevereiro de 2011.
Por este cronograma, eu não voltaria mais a trabalhar depois de
entrar em férias, pois protocolaria o meu pedido de aposentadoria
no primeiro dia do retorno das férias e emendaria uma licença
prêmio em março, para ficar na Licença Aguardando Aposentadoria.
A partir de 1º abril estaria aguardando a oficialização da
aposentadoria em casa, definitivamente sem retorno...
Mas o tal Abono Permanência (11% de acréscimo no salário)
pesa, é um anzol que está fisgando todo mundo que está meio
atrapalhado financeiramente. E quem não está, não é mesmo?
Especialmente no retorno das férias, quando sempre volto
completamente falido, sem grana, operando no negativo do cartão
e pagando juros. Normalmente só consigo me reabilitar com a
restituição do Imposto de Renda (no primeiro lote!)...ou com a
antecipação da restituição na rede bancária....
Assim, como cada um sabe onde o sapato lhe aperta, não
há uma estratégia melhor do que a outra, você é quem decide qual
será a sua estratégia pré-aposentadoria e o momento certo de
saltar fora. No meu caso, daqui pra frente, após pagar a última
parcela do financiamento do carro no contracheque de
fevereiro/2011, nada mais está previamente definido, apenas está
certo que volto para trabalhar o mês de março inteiro. Pra diante
vou avaliar mês a mês: com cuidado para não sair correndo e
158
cambaleando por falta de dinheiro, mas não tão cuidadoso para não
cair na cilada de ficar trabalhando 8 horas por dia por menos de 10%
do meu salário! Meu “Sonho de Liberdade” é outro...
164
A feitura deste blog é uma ocupação prazerosa que ocupa
tempo, muito tempo! Primeiro na elaboração dos textos, como esta
tarde agora em que estou escrevendo esta matéria sobre o tempo;
e outro tanto do meu tempo ocupo “blogando” propriamente, ou
seja, editando no blog os textos com a busca das figuras e fotos para
suas ilustrações. Escrever é a minha compulsão, e sempre o texto
mais recente é o mais importante do que os outros que já foram os
mais importantes ontem e anteontem, e todos tentam furar a fila
de espera para postagem no blog. Muitos textos conseguem furo na
publicação pela atualidade do tema, tipo o texto sobre a greve dos
municipários que tinha que ser publicado na época da greve, senão
perdia o impacto e o interesse de ser notícia quentinha.
Também tomei providências para oferecer outras opções
de ocupação do meu tempo, tais como aumentar
consideravelmente a capacidade do meu provedor de banda larga
na internet, para poder acessar mais e melhores conteúdos da rede
mundial; como também tratei de adquirir acesso ilimitado aos
canais fechados de televisão, para ter a possibilidade de finalmente
conhecer o que está sendo disponibilizado nesta infinidade de
canais. Por enquanto, só encontrei tempo de assistir aos jogos de
futebol do meu time, o Internacional; nem ao canal TVEspañola
consegui assistir ainda para reforçar minhas aulas de español.
Tudo bem, somando e subtraindo e tirando os “noves
foras”, sobra algum tempo que tem que ser otimizado com
racionalidade para que eu possa dar conta, gradativamente, da
minha “Lista de 100 coisas para fazer da aposentadoria”.
167
75 - BLOGAR OU PUBLICAR LIVROS?
07/08/2011
Naturalmente que toda a pessoa que gosta de escrever
almeja ter um livro seu publicado. Eu gosto de escrever e desejo
publicar um livro escrito por mim (antes que livro vire raridade feito
disco de vinil). Mas também tenho a noção do quanto de fantasioso
é este desejo, pois publicar um livro é criar um “elefante branco” de
difícil distribuição. Que grande realização pessoal é esta de publicar
um livro para ficar encalhado ou para ser distribuído
(gratuitamente!) entre os familiares e amigos convocados para a
sessão de autógrafos?...
Ainda bem que a informática desenvolveu o mundo
maravilhoso dos blogs, onde caras como eu (que gostam de
escrever sem pretensões de se profissionalizarem nem de se
tornarem bem sucedidos cronistas de jornais) podem bater sua
bolinha como amadores da várzea das letras, com a possibilidade de
alguma galera de internautas acessarem seus escritos. Nos blogs os
caras como eu podem publicar seus escritos e ficarmos chuleando
possíveis leitores à deriva no ciberespaço, sem precisarmos pagar o
mico de ficarmos com centenas de livros encalhados em casa, ou
entulhando as estantes (sem ser lidos) pelos coitados dos nossos
amigos e parentes.
Contudo, publicar um livro com distribuição e público leitor
garantido é o que todo o ”escrevinhador” sonha. No último mês
este blog bateu o seu próprio recorde de acessos, ultrapassou 1.100
visitas mensais: Uau, público leitor temos! A propósito, aguardem
que em breve relatarei o resultado das tratativas que estou
articulando junto a diretoria do Dmae, visando a publicação de um
Livro dos AposentaNdos da PMPA, contendo uma seleção de
crônicas deste blog, para ser distribuído gratuitamente no Kit do
Previmpa e pela SMA no Curso de Preparação para Aposentadoria.
Não é uma boa ideia? Então, mas vou precisar do apoio de todos
vocês nesta cruzada difícil para acessar aos meios de produção,
168
batalha que já dura alguns meses. Depois eu conto timtim por
timtim...tomara que com uma boa notícia no final!
169
A sorte da minha geração de aposentaNdos é que a
informática desenvolveu o mundo maravilhoso dos blogs. Assim, os
novos aposeNtados, com N maiúsculo, estão trocando a tediosa sina
caricata de ficarem operando o controle remoto em frente da
televisão pelas navegações virtuais nas redes de relacionamentos e,
principalmente, publicando conteúdos e habilidades de suas longas
experiências de vida...
Acompanhe o blog BRECHÓ DE POEMAS, consuma em dose
homeopática um poema semanal, faz bem para o espírito e não
engorda o corpo, as vezes até dói mas não custa nada, é só fazer um
clic com o mouse no link http://celsoletras3.blogspot.com.br/.
176
80 - CHÁ E ELEIÇÕES DE CHEFIAS NO DMAE
Jan/2013
Hoje, lendo a Revista da Astec de dezembro de 2012, fiquei
sabendo que o DMAE foi a única instituição pública agraciada com
o prêmio “Top Ser Humano – Categoria Empresa”, conferido pela
Associação Brasileira de Recursos Humanos. Desta vez o DMAE
participou com o case “Gestão por Competências como ferramenta
para o desenvolvimento de líderes em instituições públicas”. Diz a
matéria na revista que os resultados, medidos por meio da Pesquisa
de Clima Organizacional, demonstraram que evoluiu a avaliação que
os servidores fazem das suas lideranças e gestores.
A propósito, lá pelo final de 2010 fui “convocado!” a
participar de uma Oficina de Preparação para Avaliação do
Desempenho Funcional, atividade promovida pela UNIDMAE (que é
a antiga seção de treinamento da DVH rebatizada com o pomposo
título de Universidade Corporativa do DMAE, com reitora e tudo!).
O objetivo principal era “Avaliar para Desenvolver”, pois o resultado
da avaliação constituiria um Plano de Desenvolvimento Individual
(PDI), obtido por meio de reuniões de consenso entre o gestor e o
servidor, que estabeleceriam ações de desenvolvimento com o
suporte institucional da DVH, digo, UNIDMAE...
Resumindo, o método determinava que todo mundo seria
submetido a uma avaliação por sua respectiva chefia. O
questionamento do público-alvo da oficina, e o meu inclusive, era
que estas avaliações seriam apenas de cima para baixo, ou seja, as
chefias não iam também ser avaliadas por seus subordinados?
Como este processo de avaliação estava gerando uma tensão tão
grande entre avaliados e avaliadores, questionava-se a validade de
fazer tanta agitação para resultar em pífios planos de treinamentos
que, na melhor das hipóteses, atingiriam menos de 10% do quadro
funcional. Seria como mover uma montanha para aproveitar um
punhado do seu conteúdo e ainda deixar relações degradadas no
ambiente pelo método!
A réplica dos instrutores da oficina era de que, justamente
por esta avaliação ser “apenas para fins de treinamento”, seria uma
177
oportunidade de se retirar a tensão entre as partes e treinar práticas
de avaliações, por ser um indicador operacional consagrado de
gestão de pessoal, portanto necessário para a qualificação do
DMAE. É o famoso “CHA de Competências”: Conhecer, ter
Habilidade de fazer e ter Atitude de querer fazer (Conhecer-
Habilidade-Atitude = CHA). Seria o momento mágico, consideram os
acadêmicos da Unidmae, de aparecerem os problemas que estão
embaixo do tapete do condicionamento hierárquico...
Por sua vez, esta tensão entre chefias e subordinados me
reportou a uma passagem marcante da história recente do DMAE,
que foram as famigeradas “Eleições de Chefias do Dmae”. Oh! Meu
Deus! Não é tão recente assim, foi em 1989, já faz mais de 20 anos!
Parece que foi ontem...
180
Confesso que foi duro ver oportunistas se locupletando e
ver quem construiu a ideia do petismo desde a sua fundação ficar
de fora, chupando o dedo e assistindo a coisa toda, pelo que
tínhamos dedicados vários anos da nossas vidas, se deturpar... Mas
isto já é uma outra história que me levou à minha desfiliação do PT
dez anos depois, por ocasião da reforma da previdência do “Lula Lá”
presidente, que eu conto um dia desses para vocês.
Avalio que a decisão do Diretor Geral de acatar a proposta
de realização de eleições de chefia no DMAE se deu por um
interesse estratégico dele em provocar a ruptura do forte
corporativismo estabelecido no Departamento. Penso que o
Guilherme Barbosa sentiu a necessidade de abrir espaço para os
servidores mais alinhados ideologicamente com a visão petista, os
quais tinham ficado à margem devido à cultura vigente de que o DG
escolhe os superintendentes e estes indicam os diretores e assim
por diante. Como os superintendentes eram da Velha Guarda, sem
vinculações petistas, nada mudou, ficaram os mesmos chefes. Com
as eleições, além de conseguir dar um outro perfil na composição
das chefias, de cima abaixo, pois até os superintendentes
demissionários foram substituídos, a nova administração passou a
dominar com absoluto controle todo o quadro funcional. Nem
precisaria mais de sua antiga assessoria sindical, que era eu. Foi
quando voltei de fato para exercer a minha função no meu local de
trabalho na DVM.
Assim, uma vez conseguido o seu objetivo, não era mais de
interesse da administração petista tumultuar sua gestão com novas
eleições de chefias; de modo que nunca mais se falou neste assunto
e tudo voltou à “normalidade” da calmaria de antes daqueles dias
que pareciam tão revolucionários.
Por isso, quando hoje os novos gestores falam em avaliação
funcional de chefias, os mais antigos tremem nas bases e torcem o
nariz, pois sabem que vem confusão por aí...
181
82 - O ÚLTIMO DIA COM AS CARAS DO DMAE
03/2011
Esta semana eu literalmente queimei arquivos ateando fogo
em uma sacola imensa de papéis recolhidos das minhas prateleiras
e gavetas do meu local de trabalho no DMAE. É impressionante
como se junta papeladas inúteis que se vai carregando na espera de
surgir uma boa oportunidade de descarte que não chega nunca.
Agora é a hora, às vésperas da aposentadoria, do feng-shui final, de
limpar e desovar tantos os arquivos físicos quanto os virtuais
contidos no disco rígido do computador.
Queimei na churrasqueira do meu apartamento docs e
carnês de pagamentos de contas, extratos bancários e canhotos de
talões cheques, em suma, papeis que contém dados pessoais que
ninguém mais se anima a jogar simplesmente no lixo, com medo
que possam cair em mãos de marginais golpistas.
Vinha me dedicando também a rastrear pasta por pasta dos
meus arquivos digitais no computador do DMAE, selecionando o
que deve ser repassado para os colegas que vão dar continuidade
nos serviços que me competia fazer e, cautelosamente, deletei mais
de 1.000 arquivos caducos como lixo eletrônico. Nesse processo dos
últimos dias, é claro, vinha preparando o kit de viagem para a
aposentadoria, empacotando os arquivos que me interessam levar
como “recuerdos”, especialmente o dossiê de fotos das caras dos
colegas e de locais do DMAE.
Para a bagagem da viagem adquiri uma mala grande, ou
seja, comprei um HD-Externo de 120GB para acomodar meu breve
histórico de registros digitais. Breve sim, pois, por incrível que
pareça, faz pouco mais do que uma década apenas que dispomos
de computadores individualizados, embora pareça que já faz muito
mais tempo, ou até que sempre tivemos este recurso, desde
criancinhas. Faz menos tempo ainda que dispomos de máquinas
digitais de fotografias: bem diz o ditado que o tempo da era da
informática parece que voa aceleradamente!
Paradoxalmente, porém, para a minha casa eu levo todas as
fotos. Mas para fins de doação como acervo da DVM, este breve
182
histórico se constituiria numa verdadeira imensidão de arquivos
que armazenei na memória do meu computador, pois são milhares
de fotos dmaeanas batidas por mim. Motivo pelo qual tive que fazer
uma seleção drástica, deletando grande parte, para poder
disponibilizá-las como um produto minimamente interessante a um
herdeiro deste legado, no caso, escolhi o colega Carlos Maiocchi
Casagrande para quem repassei a herança deste arquivos digitais de
fotos das estações de bombeamento do Dmae..
Sobre hoje, o meu último dia de trabalho, evitando ao
máximo me tornar emotivo, apenas registro que o dia transcorreu
normal, sendo que ontem houve uma confraternização dos
aniversariantes da DVM do mês de abril, onde brindamos com
champanhe a minha alforria! Está ainda na programação do meu
“bota-fora” fazermos futuramente um tradicional churrasco no
campo de futebol sete da Catumbi, com uma pelada de futebol do
pessoal do pátio, o que possivelmente seja objeto de uma
postagem posteriormente aqui no blog. Nunca se sabe...
Neste último dia ainda tive a oportunidade de participar do
ato público do Movimento pela VRT (Valorização pela
Responsabilidade Técnica) dos Engenheiros, realizado na esquina
do meu local de trabalho, onde pude despedir-me de vários colegas
e exibir com sucesso a camiseta que havia ganho de presente na
festinha do dia anterior do amigo Konrad, com os dizeres: Eu fui,
DMAE!
A última hora do último dia dediquei a percorrer os diversos
recantos da Divisão de Manutenção (que está em obras e revirada
como um campo de batalha), despedindo-me individualmente de
cada colega, deixando claro que não vou desaparecer, pelo
contrário, vou ficar revoando feito um fantasma o local onde viveu,
pelo fato da minha mulher continuar trabalhando no DMAE por
mais alguns anos e eu ser o seu motorista e, também, pelo meu
vínculo de ser membro da diretoria da associação AEAPOPPA.
No final do expediente tratei com especial solenidade o
último movimento desta formidável ópera de cumprimento da
sentença trabalhista do tempo de serviço para se ganhar direito a
183
uma aposentadoria integral, qual seja, o ato solene da última batida
de cartão ponto. Fiz questão de registrar fotograficamente, com as
testemunhas oculares e companheiros de sina, este momento
culminante em que se abre definitivamente a algema eletrônica do
cartão ponto e se rompem as grades das janelas pelas quais assistia
passar os dias, as semanas, os meses, os anos...a vida.
Carreguei comigo todas as tralhas que acumulei durante
todo esse tempo no meu reduto inicial e final, que foi a manutenção
de equipamentos do DMAE (com um breve hiato devido a minha
passagem pelas Divisões de Água e de Planejamento, como
engenheiro recém-formado); bem como carrego as fortes
influências de formação humanísticas das várias gerações de
colegas com quem convivi no Departamento.
Estou partindo do convívio diário com os colegas, mas não
vamos perder o contato, pois certamente há vida depois da
aposentadoria, e eu serei uma voz no além a relatar como se dá esta
transição do mundo dos ativos para o mundo dos inativos. O Blog
Diário de Um AposentaNdo continuará vivo, fique ligado!
Assim, cumprido o ritual do derradeiro dia útil deste mês
de abril de 2011, rumando para a liberdade incondicional da
disponibilidade do tempo do resto da minha vida, em comemoração
ao meu último dia de servidor público municipal em atividade, vou
disponibilizar exclusivamente para os leitores do blog, como uma
homenagem póstuma, a minha coleção favorita de fotos, acervo
que cobre mais de dez anos de convívio com os colegas dmaeanos,
fotos em close dos colegas, coleção que chamo de “As Caras do
DMAE”: - VALEU DMAE!!!!!!!!
187
Os municipários aprovaram, na assembleia geral da
categoria realizada dia 19/maio/2011, greve em tempo
indeterminado por 18% Já! Mais de 3.000 municipários lotaram o
Centro de Eventos do Parque Harmonia e rejeitaram a proposta do
governo, que apenas repõe a inflação pelo IPCA (6,51%) e dá
aumento no vale-alimentação de 0,78 centavos de real.
O fim da greve dos municipários coincidiu com o
recebimento do meu primeiro contracheque de aposentado, e este
a gente nunca esquece. O Jalba, que tinha tudo calculadinho com
duas casas decimais, quando se aposentou no início do ano passado,
comentou que o impacto do primeiro mês foi surpreendente até pra
ele. Uma coisa é falar de números genericamente, outra bem
diferente é ver os números do teu contracheque sem o valor do
abono permanência e sem o auxílio alimentação (nunca tinha dado
importância para essa merreca!).
Ainda bem que sempre tem um ”ainda bem”, pois ainda
bem que, com uma vitória histórica da greve dos muncipários que
atropelou o “abusado do Buzzato” como interlocutor da
administração e negociou diretamente com o prefeito Fortunati,
conseguimos um reajuste com aumento salarial, a título de
reposição de parte das perdas salariais da categoria. Com os 7%
conquistados na greve de 8 dias recupero parte das perdas no meu
salário devidas ao meu pedido de aposentadoria, perdas estas que
deixarão de existir quando sair a portaria do Previmpa, uma vez que
estar oficialmente aposentado implica em passar a pagar a
previdência apenas sobre o valor que exceder o teto previdenciário.
A minha mensagem aos novos aposentaNdos é que fiquem
espertos, pois este rito de passagem é cheio de nuanças nebulosas.
- Valeu a luta companheiros municipários grevistas!
89 - O DOPA VERDE
29/10/2011
Recentemente o Diário Oficial da Porto Alegre (DOPA), que
tinha uma tiragem determinada para ser distribuída entre os
setores de todas as Secretarias e Departamentos, de modo a dar
transparência e manter informados os seus servidores dos atos e
despachos governamentais, também deixou de existir fisicamente e
passou a ser uma publicação virtualmente “verde”, para poupar
papel e evitar desmatamentos.
Dava gosto de ver os colegas lendo atos e portarias, dos
“designa, cessa, nomeia, lota e até os pune, exonera”; de minha
parte eu sempre lia apenas as matérias culturais de capa e
contracapa, mas ficava sabendo pelos demais das “novidades”. O
jornal DOPA passava de mesa em mesa, cada um o rubricava como
lido e passava adiante, percorrendo inclusive vários setores. Isso
acontecia desde sempre, de antes do DOPA, quando já era tradição
nos órgãos das repartições na época em que eu comecei a trabalhar
na Secretaria Municipal da Fazenda – Divisão de Tributos
Imobiliários em 1974, quando o Diário era ainda um Boletim
Informativo impresso em folhas de papel ofício grampeadas.
Agora, virtual, é como se tivesse deixado de existir.
Culturalmente se destinava um momento do dia para folhear o
DOPA a fim de se poder passá-lo adiante para o próximo leitor.
Agora, como o que não é visto não é lembrado, o DOPA tornou-se
absolutamente inútil para os servidores, não gasta papel mas
também não serve mais ao que se destinava.
198
Na verdade o DOPA passou a funcionar como um arquivo
morto, ou seja, temos que descobrir por outros caminhos
transversos em qual edição foi publicada tal ou qual portaria ou ato,
e depois fazer a busca para acessar online. Deixou de ser uma fonte
de informação e, em nome de poupar talvez os papeis mais bem
usados e aproveitados da administração (que não recicla sequer
seus próprios papeis descartados no lixo!), o DOPA passou a ser um
mero recurso de pesquisa, um google da burocracia municipal.
Por baixo do poncho de proteção do verde patronal sempre
tem alguma armadilha tipo “pega-bobo”, de desinformação
sistemática da plebe rude. Tanto é assim que o ato da minha
aposentadoria foi publicado no dia 18/10/2011 e ninguém do
DMAE ficou sabendo até que eu divulgasse aqui no blog; nos tempos
em que o DOPA era impresso em papel isso jamais aconteceria,
sempre alguém espalharia a novidade. Assim, sabe-se lá quantas
coisas vão passar por baixo do poncho verde sem que ninguém fique
sabendo que já foi “dopado”. Hein?...
201
Há, porém, controvérsias sobre estes argumentos
“teologicamente corretos”, uma vez que prevalece em vários
estados e cidades do Brasil a premissa da higiene e saúde pública
nas vias urbanas, que restringem o exercício dessa liberdade de
culto ao âmbito privado das seitas, em respeito à liberdade de ir e
vir dos cidadãos, sem terem que conviver com carniças em
putrefação que tornam fedorentas e intransitáveis as encruzilhadas
de algumas ruas da cidade.
Os funcionários do DMAE que trabalham nos prédios do
bairro Santana conhecem bem o que é conviver com este problema
de despachos na encruzilhada da Av. Princesa Isabel com a Rua Dr.
Gastão Rhodes. Eu, que trabalhei na região por mais de trinta anos,
no mínimo uma vez por mês presenciei velas acesas em oferendas
religiosas nesta esquina (em que eu passava quatro vezes por dia),
geralmente contendo animais sacrificados e bebidas alcoólicas,
comidas e charutos e, naturalmente, muito fedor!
Certa vez eu assisti pessoalmente o alto risco que a pessoa
que estava fazendo a oferenda corria ao, não contente em colocar
junto ao meio fio da calçada, como era costume, enfrentou o
incessante fluxo de carros até conseguir colocar uma galinha e velas
acessas bem no meio da pista de rodagem da Av. Princesa Isabel. É
mole? Naturalmente que os carros passaram perigosamente por
cima das velas acesas, sujeitos a incendiarem, até destruírem
completamente com o despacho. Mas o pior foi que, de tantos os
pneus dos veículos passarem por cima, o cadáver da galinha
praticamente virou partículas de fósseis impregnados junto aos
paralelepípedos da rua; e a região toda até o colégio São Francisco
ficou tomada pelo fedor de carniça podre. Por muito tempo os
funcionários do Dmae e as crianças do colégio tiveram que suportar
as consequências prejudiciais à saúde pública do exercício de
liberdade de culto daquele único cidadão!
Assim como a fé move montanhas, ela também faz as
pessoas cometerem loucuras, provocando tanto guerras religiosas
como casos pitorescos, como o de um certo despacho em que o
sujeito colocou um galo vivo amarrado como oferenda. Alguém se
202
apiedou do bichano e o soltou no pátio do jardim cercado em frente
à Divisão de Água do Dmae.
A Magda, servidora do Dmae que trabalha numa sala com
janela justamente para aquela esquina favorita dos despachos, que
já tem cadastro no DMLU e talvez seja a maior solicitadora do
serviço de “recolhimento de cadáveres de animais da via pública”
de Porto Alegre, passou a levar milho pro galo, que se aquerenciou
naquele território gradeado em que ficava protegido dos cães
noturnos. Assim, vários outros funcionários simpatizaram com o
galo solitário que até ganhou o nome de Romário e, por brincadeira
de alguém, andava ciscando pelo jardim portando pendurado no
pescoço um crachá de servidor do Dmae!
Romário, após viver dois meses naquele cercado, protegido
como talismã do sobrevivente de corpo fechado, foi ficando
audacioso dono do terreiro e começou a bicar as pessoas que
invadiam o seu território. Por causa disso, lá pelas tantas, ele foi
doado por consenso para um dos funcionários que tinha um
galinheiro em casa. Romário foi então viver no equivalente ao
paraíso islâmico, onde tinha várias galinhas disponíveis para cobrir.
Marrento, Romário abusou da sorte na vida boa e andou bicando o
pai do seu dono, que era diabético e sofreu muito para curar os
ferimentos causados pelo sobrevivente do despacho e metido a
galo de rinha. Foi então que o Romário cumpriu sua sina de servir
de oferenda, mas não foi para os deuses ou pais de santos e orixás.
Sacrificado, o galo foi feito galinha pra panela e acabou servido ao
molho pardo num almoço dominical aos mortais comuns da família.
203
último concurso do DMAE. Foi natural tentar descobrir "no que eu
estava me metendo": É bom trabalhar no Dmae?
Caro Jovem Engenheiro, o que posso dizer é que o DMAE é
o melhor lugar para se trabalhar em toda a Prefeitura de Porto
Alegre, tem a melhor estrutura por ter arrecadação própria das
taxas de água e esgoto. Quanto a política salarial, geralmente os
reajustes anuais obedecem aos índices de inflação. Mais
recentemente, graças ao “Movimento dos Capacetes Brancos”, os
engenheiros e arquitetos conseguiram obter uma proposta que,
mesmo não atingindo plenamente a isonomia salarial almejada com
os procuradores do município, consagrou como vitoriosa a
bandeira de luta ( que era de 2,5 básicos) conquistando um avanço
significativo de 1 salário básico.
A grande vantagem é a tal "estabilidade no emprego" do
serviço público. Trabalhando direitinho, sem se matar muito e sem
fazer besteiras, até aqui tem dado pra se planejar a longo prazo e
até pensar na aposentadoria, sem medo das crises de mercado e
seus desempregos. É uma rara oportunidade para quem pretende
continuar estudando, como parece ser o seu caso e também foi o
fator determinante para a minha permanência no DMAE, após eu
ter me formado engenheiro. Durante toda a minha carreira
profissional nunca parei de frequentar algum curso universitário,
sem nunca pretender me formar em mais nenhum: fiz engenharia
civil e jornalismo na PUC e na UFRGS fiz filosofia e atualmente faço
Letras. Mas, por outro lado, como alguém já disse, se pretendes
ganhar muito dinheiro na vida, se queres ficar rico não entre no
serviço público, só os corruptos conseguem realizar esta mágica.
Até aqui, sobre estes questionamentos, penso que estava
conseguindo esclarecer o jovem candidato a servidor público
dmaeano, até com algum tom professoral do alto dos meus
experientes cabelos brancos. Mas comecei a ficar embaraçado
quando ele naturalmente entrou com perguntas sobre o adicional
de insalubridade e o plano de previdência dos municipários.
Agora, Jovem Engenheiro, já começo a gaguejar... O
adicional de insalubridade é questionado a cada nova eleição para
204
a prefeitura, novos laudos de perícias são contratados pelas novas
administrações e a angústia de saber “quem vai perder quanto e
quando” se repete num ciclo permanente. São ócios do ofício de
órgãos públicos, onde nada é o que é de fato, tudo depende de
interpretações políticas e ideológicas.
Quanto à questão da previdência, que era um caos, depois
de muitos anos empurrando com a barriga, finalmente foi criado em
2002 o instituto PREVIMPA, Departamento que assumiu o encargo
das aposentadorias e pensões, para o qual cada servidor público
municipal contribui com 11% do seu salário. Resolveu-se o caos!
Porém, apenas os servidores “dinossáuricos” ainda tem
aposentadoria integral. Após a última reforma da previdência
pública, quem foi admitido no serviço público depois de 2003 não
mais terá aposentadoria integral nem paritária com os da ativa, terá
vencimentos definidos por exotéricos cálculos das
contribuições...com perdas é claro, mas ainda (até a próxima
reforma da previdência que o governo já anuncia como necessária)
sem teto salarial limite pra ser pago pela prefeitura!
Valeu Jovem Engenheiro pela oportunidade que me deu de
desabafar sobre estas questões municipárias. Espero não ter te
assustado muito. Fico torcendo para que sejas chamado no
concurso para assumir o cargo de engenheiro do Dmae e aí: Você
decide!
213
96 - BALNEABILIDADE AO GUAÍBA, JÁ!
214
percurso, a porcaria evacuada pelo cidadão vai percorrer um longo
trecho em tubulações submersas no fundo do Guaíba até chegar
finalmente na ETE no bairro Serraria, onde será devidamente
tratada de modo que volte a ser simplesmente água, sem resíduos
fecais.
A ideia básica do projeto apresentado em 2010 era
realmente impressionante: coletar o esgoto da cidade que é
reunido no Gasômetro, na Estação Ponta da Cadeia e, ao invés de
continuarmos jogando o esgoto bruto no Guaíba, conduzi-lo
canalizado em tubos de aço pela Av. Beira Rio até o Hipódromo do
Cristal. Ali haveria uma estação de bombeamento e um mirante
elevado como atração turística, dotado de um sistema de
abatimento de gases para minimizar o mal cheiro do esgoto aos
visitantes, que do mirante poderiam admirar o pôr do sol no Guaíba.
Na data do aniversário da Capital, 26 de março de 2014, a prefeitura
efetivamente inaugurou esta parte do conjunto de obras
integrantes do Pisa, a chaminé de equilíbrio do Sistema de
Esgotamento Sanitário com o Mirante do Cristal, instalado ao lado
do BarraShoppingSul no Cristal. O mirante foi destacado pela
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes-RS)
como uma solução criativa que aproxima a população do tema
saneamento básico.
A grande inovação do projeto apresentado, para a época,
era a condução do esgoto por tubulação subaquática e ancorada por
mergulhadores no leito do Guaíba. Somente após um tratamento
terciário do esgoto que geraria lodo ativado, vale dizer,
descontaminado, é que devolveríamos a água devidamente tratada
ao seu manancial de origem. Estimativas atuais dão conta que a
capacidade total da Estação de Tratamento de Esgoto Serraria
inaugurada só vai ser atingida após decorridos 15 anos, em função
da migração lenta e gradual das ligações residenciais de esgoto do
sistema fluvial para este de coleta exclusivamente cloacal. De
qualquer forma o Pisa passa a ter singular importância na história
da cidade, porque tem potencial para triplicar a capacidade de
tratamento de esgotos, de 27% para 80%, e promover uma
215
expressiva melhoria na qualidade de vida dos moradores. Resta
monitorarmos os resultados na expectativa de recuperarmos de
fato a balneabilidade do Guaíba.
Na época da palestra, lembro que restavam ainda algumas
questões ambientais a serem resolvidas, tais como: - O que fazer
com os 150 m3/dia de lodo que o sistema de tratamento vai gerar?
– O que fazer com o gás poluente que o tratamento de esgoto libera
para o ambiente?... Estudos estavam sendo feitos para o
aproveitamento do gás como uma alternativa para gerar energia
elétrica para o funcionamento da própria ETE Serraria, ou para a
secagem do lodo que reduziria o seu volume para cerca de
30m3/dia... Desses pormenores as notícias da mídia sobre a
concorrida inauguração em ano eleitoral não comentaram nada.
Contudo, registrei aqui mesmo no blog, em 2010, que sairia mais
tranquilo para o meu retiro de “inativo”, como aposentaNdo que
ainda era na ocasião, pois sabia que o mega projeto de saneamento
(que envolvia altas granas) estava em boas mãos. Sempre considerei
que o Engº Valdir Flores, que já foi meu chefe por duas vezes, era
um dos técnicos mais completos e versáteis do Departamento. Por
isto acreditei que desta vez a coisa ia acontecer, e aconteceu: foi
inaugurado o PISA com letras maiúsculas!
De lá pra cá, à equipe de técnicos do Pisa foram se somando
boas cabeças da ativa (Farias, Carla...) e, especialmente, agregando
engenheiro(a)s que iam se aposentando e que tinham grande
domínio da área de saneamento cloacal (Jovenil, Paulo Kessler,
Sérgio, Nina...). Tanto que, a título de brincadeira interna, dizia-se
que Pisa significava “Programa de Incentivo Social aos
Aposentados” (kkkk). A missão impossível desta tropa de elite do
Dmae foi, no simbólico, nada menos do que recuperar a
balneabilidade das praias de Pedra Redonda, Ipanema e Guarujá. Já
pensou o que significa a gente poder voltar, como nos nossos
tempos de guri, a nadar novamente nestas praias? Seria como
podermos entregar aos nossos netos a cidade com a mesma
qualidade de vida que a recebemos dos nossos pais, apesar do
imenso aumento populacional. Eu não alcancei a realização desta
216
meta em atividade no Dmae, mas aposentado espero estar vivo
ainda para poder comemorar este verdadeiro “Dia D’Glória” porto-
alegrense, o dia de podermos mergulhar novamente em plena
prainha do Gasômetro sob um pôr-do-sol, sonho meu!...
217
Porém os astros conspiraram pela soltura em caráter de
emergência das suas amarras trabalhistas, com a vida se
encarregando de fazer surgir-lhe uma demanda familiar
emergencial. Exigida pelas circunstâncias, necessitou propiciar um
processo de dignidade ao seu pai que, caducando, se dirige
atrapalhado para a fatídica barreira dos noventa anos de idade. O
Seu José Rolim, o pai da Magda, entrou derrapando no triste
purgatório da falta de autonomia da quarta idade (a velhice senil),
quando precisamos ser pais de nossos pais; conforme a inspirada
crônica do Carpinejar: Fase de retribuir o amor com a amizade da
escolta.
O Seu Gugo, apelido e nome da loja do pai da Magda, foi um
comerciante durante toda a vida, e há mais de quarenta anos esteve
atrás de um mesmo balcão comprando de fornecedores e vendendo
para consumidores na sua loja na Avenida Alberto Bins. Decaiu, ao
longo do tempo, do comércio de novidades estrangeiras para o de
peças de fogão a gás e liquidificadores. Ele precisava ser convencido
gradativamente de que era chegado o momento de fechar as
portas, liquidar o estoque, desocupar a loja alugada e dar baixa na
sua pessoa jurídica, registrando o óbito de sua empresa com toda a
dor do luto de quem está morrendo junto como pessoa física. Era
preciso abandonar a vizinhança que povoava a sua vida de vozinho
solitário. E alguém precisava fazer isto por ele e com ele, de forma
que o seu luto incapacitante fosse elaborado da melhor maneira
possível. Para cumprir esta missão, a Magda surpreendeu a todos
os seus colegas do Dmae, antecipou em um ano o seu pedido de
aposentadoria e, com isso, abriu mão de vantagens financeiras que
teria pelo resto da vida. Coube à filha ser mãe de seu pai, coube à
ela cuidar de Seu José.
Assim, todas as planificações que fizemos pré-
aposentadoria podem ser atropeladas (o que pode acontecer com
qualquer um de nós), e de repente nos vermos lançados numa
grande missão com integral envolvimento físico e emocional.
Quando a mente envelhecida penetra dentro de uma
névoa, quando os olhos já não distinguem com nitidez a realidade
218
tomada de vultos e esquecimentos, quando a audição enfraquecida
isola a velhice senil numa ilha de silêncio, quando as pernas
cambaleantes provocam tombos perigosos e tudo fica longe, é
quando a perda de autossuficiência dos nossos pais os tornam
nossos filhos. Isso é um ônus e um prêmio, pois só acontece para
aqueles que têm a sorte grande de ainda terem seus pais vivos, e
isso todos gostaríamos de ter para sempre. A propósito, Carpinejar
sentencia: Feliz do filho que é pai do seu pai antes da morte, e triste
do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco
por dia.
Li em algum lugar que a última fronteira da vida é quando
nos tornamos órfãos adultos, quando ficamos sem pai nem mãe,
quando não há mais nenhuma geração se interpondo entre nós e a
morte. É quando nós passamos a ser a bola da vez, é quando se inicia
o rito do prelúdio do fim. É quando nós, os recém ou quase idosos,
que já fomos pais de nossos pais, provavelmente nos destinamos
para o derradeiro rito de passagem existencial, que é o de também
nos tornarmos filhos dos nossos filhos antes de partirmos desta
vida, queiramos ou não!...
223
100 - A MADRINHA DA MANUTENÇÃO DO DMAE
2009&2010&2012
Comentei aqui que em outubro/2010, que ninguém no meu
local de trabalho lembrou que era a data de aniversário de fundação
da DVM, data em que a Divisão de Manutenção completava 43 anos
de existência. Até mesmo a eng.ª Catarina, única remanescente dos
fundadores, quem sempre promovia algum tipo de celebração para
esta data, esqueceu daquela vez e, quando lembrada por mim,
acrescentou:
-Não temos nada o que comemorar, estão destruindo com a
Divisão!
A data era conhecida de todos, até poucos anos atrás, por
que a senha de acesso ao antigo sistema de manutenção MAN era
061067 (do tempo que era uma senha única para todos os
usuários!), senha alusiva à data de inauguração da Divisão de
Manutenção.
Em termos organizacionais, avalio que há três momentos distintos
marcantes a serem destacados nesta longa história desde a EME
(antiga sigla da Manutenção: Engenharia-Manutenção-
Equipamentos) até a DVM. O primeiro grande momento foi já na
fundação estrutural e operacional, com a visão progressista de
gestor público do mentor da Divisão, o Engº Lourenço Melchiona. O
“Cacique”, como era conhecido, contratou um serviço de
consultoria para desenvolver os Planos de Manutenções
Preventivas dos equipamentos eletromecânicos das estações de
tratamento e bombeamento do DMAE, bem como o organograma
funcional dividido entre equipes de Manutenção Corretivas e
Preventivas.
Já nesse período de implantação e consolidação do serviço
de manutenção de equipamentos operacionais do Dmae, na década
de 60, se destacou o trabalho de uma jovem engenheira elétrica.
Pioneira, enquanto mulher numa área até então exclusivamente
masculina, a Engª Catarina se destacou por ser literalmente muito
elétrica em suas atividades (como é até hoje), e também por sua
simpatia e empatia com o pessoal das turmas das oficinas e das
224
equipes de rua, tanto que passou a ser tratada carinhosamente por
todos como “A Madrinha”.
O segundo grande momento foi na década de 80, que com
o boom da informatização de todos os procedimentos que já se
praticavam manualmente, como emissão de Ordens de Serviços e
Relatórios Gerenciais, foram transpostos para o sistema MAN,
desenvolvido e aprimorado continuamente pela PROCEMPA na
plataforma “DOS”. A Madrinha foi a grande condutora do enorme
“trabalho formiguinha” que se fez necessário para digitar todas as
características técnicas de todos os equipamentos na nova
ferramenta de trabalho que passou a ser o tal de computador,
através do uso do programa MAN.
O terceiro grande momento da DVM foi na década de 90,
quando se visou modernizar o programa que estava operando numa
plataforma tornada obsoleta, sendo feitas diversas buscas no
mercado de softwares especializados em manutenção de
equipamentos, mas que nenhum se igualava ao velho MAN. Acabou
que o colega técnico industrial (e micreiro nas horas vagas), Eduardo
Mattos, foi desenvolvendo o sistema SIGES, como uma réplica das
funções do antigo MAN, mas em linguagens atualizadas para a
moderna plataforma operacional do Windows.
Também nesta transição a atuação da Madrinha da DVM foi
fundamental, tanto na concepção funcional quanto na nova
migração dos dados, agora do sistema MAN para o SIGES. Ela é
quem gerenciava a confiabilidade dos dados e concebia os
relatórios que o novo sistema devia emitir.
Com o tempo o SIGES foi ampliando suas fronteiras em
interfaces com as outras Divisões e se consagrou como um sistema
institucional do DMAE, em que pese a dolorosa perda do poder
pátrio do seu autor sobre a sua criação (que se deu no seco, por
desapropriação unilateral do direito de autoria do colega Eduardo
Mattos, sem vaselina).
Assim, a partir do final de década de 90, o antigo MAN
passou a “sobreviver” somente no computador da Engª Catarina,
mantido em cativeiro como um dinossauro sobrevivente da
225
avalanche provocada pela entrada no mercado do novo sistema
operacional Windows. O MAN vive, mas em estado de coma, sendo
alimentado seletivamente em conta-gotas unicamente pela mãos
de sua tutora, com uma dieta de dados mínimos para manter os
seus sinais vitais de fóssil pré-histórico vivo, por ainda manter
informações operacionais que não migraram para o SIGES.
A Catarina nos faz lembrar que nos tempos antigos a DVM
já tinha som ambiental nas salas, bem como serviço de autofalantes
para aviso nos pavilhões e no pátio; e foi também a primeira divisão
do Dmae a adotar, por iniciativa própria, o uso de uniformes e EPIs,
inclusive capacetes.
Mesmos antes da Era da Informática, a DVM já mantinha
um cadastro dos equipamentos de cada estação do DMAE, com
anotações de seus respectivos históricos de manutenções
corretivas e preventivas realizadas, através de anotações feitas nas
fichas dos respectivos equipamentos instalados, fichas estas que
ficavam arquivadas em pastas individualizadas de cada estação do
DMAE. Estas pastas constituíam, portanto, o grande banco de dados
dos equipamentos operacionais da era pré-informatização, as quais
sempre foram fruto da dedicação pertinaz da Egª Catarina. Até hoje
“as pastinhas da Catarina”, como são conhecidas, continuam sendo
atualizadas por ela como uma espécie de backup, para o caso da
necessidade de acessar informações mediante falta de energia
elétrica para acionar os computadores, pastas estas que também
funcionam como uma espécie de laptop para serem levadas inloco
nos trabalhos de campo.
Para que pudesse haver todo este controle gerencial, desde
sempre ficou a cargo da própria DVM fazer a colagem das placas de
numeração patrimonial dos equipamentos operacionais conforme
vão sendo adquiridos pelo Dmae. Cadastro este que serve de base
inclusive para fins contábeis de incorporação ao patrimônio do
Departamento, fornecendo dados cadastrais para o Serviço
Patrimonial (SVP), uma vez que há mais de cinco mil equipamentos
operacionais entre motores, bombas, transformadores, etc.
Também este monitoramento para patrimonização e cadastro no
226
SIGES dos novos equipamentos desde sempre tem contado com a
dedicação concentrada da Madrinha da DVM, e com sua capacidade
de mobilização do pessoal e, não raras vezes, através de suas
ásperas cobranças, sem perder a ternura jamais.
Na última década a Madrinha da DVM assumiu o
gerenciamento de todas as contas com energia elétrica do DMAE,
que totalizam cerca de R$ 20 milhões/ano e se constitui num dos
maiores gastos financeiros do Departamento. Este monitoramento
visando a minimização de custos com energia elétrica em cada
unidade operacional ou administrativo do DMAE, resultou num
trabalho reconhecido e que tem servido de modelo para os outros
órgãos da Prefeitura.
Eu trabalhei com a Madrinha desde 1978, praticamente por
cerca de trinta anos, descontado um breve período que me afastei
da DVM. Quando eu ainda era estudante de engenharia, era ela
quem fazia as traduções, do inglês para o português, dos meus
polígrafos técnicos sobre mineralogia. Nos últimos doze anos temos
trabalhado direto na mesma sala, chegamos a dividir por alguns
anos o mesmo computador. Talvez a nossa melhor obra conjunta,
tocada a quatro mãos, tenha sido a elaboração de vários volumes
de Instruções de Manutenções Preventivas para os novos
equipamentos adquiridos pelo DMAE.
Brigávamos muito, a Catarina e eu, por sermos os dois de
temperamentos fortes e de pavio curto, mas sempre prevaleceu a
minha admiração e carinho por tudo o que ela representa na vida
de todos nós, membros das várias gerações da grande família que
compõem a história da DVM.
Contudo, talvez o que mais me faça falta agora como
aposentado, são as frutinhas (maçãs e peras) que a Madrinha trazia
de casa e repartia igualmente entre os seu afilhados mais próximos
todas as manhãs pontualmente às 9:30hs, sem ficar com a melhor
parte...
- Valeu Catarina Reina Cànovas, peço sua benção Madrinha!
227
101 –O ÚLTIMO ANIVERSÁRIO DA MADRINHA DA DVM NO DMAE
Dezembro/2011
Ontem almoçamos na galeteria Bella Mamma em
comemoração do aniversário de 69 anos da Engenheira Catariana,
minha ex-colega da “sala dos dinossauros da manutenção”. Um
alerta importante, que pode ser útil para outros colegas
aposentaNdos nesta mesma situação, é que se até a data do
aniversário de 70 anos não tiver sido publicada a portaria da
aposentadoria, o servidor é aposentado compulsoriamente,
perdendo as vantagens de “integralidade e paridade”! Como o
tempo de demora entre o pedido e o ato de aposentadoria pode
demorar até seis meses, significa que até meados de junho de 2012
a Catarina deve protocolar no Previmpa o seu processo de
despedida do Dmae, depois de 44 anos de inestimáveis serviços
prestados ao Departamento e à comunidade porto-alegrense.
A partir de agora a Engenheira Catarina é definitivamente
uma aposentaNda. Ser um aposentaNdo significa viver cada dia no
trabalho como sendo o último dia com aquele número de cada mês
vivido no ambiente profissional. Rompem-se os monótonos elos
desta longa corrente de dias, semanas e meses, que parecem ser
infinitamente contínuos e que sedimentam como sendo o tempo de
serviço computados na ficha funcional de cada um. Cada dia passa
a existir como um elo diferenciado, por ser o derradeiro de sua
espécie que é definida pelo número do dia vinculado ao nome de
cada mês.
Ser um aposentaNdo no último ano é viver cada dia como
se fosse o último, é andar prestando atenção em cada detalhe da
mesma trajetória tantas vezes repetida distraidamente. É bom
prestar atenção enquanto se está na ativa, fazer um luto prévio, pra
não sermos contagiados pelo saudosismo melancólico depois,
quando já não estivermos mais revivendo esta rotina. Estou
convencido que o propagado tédio associado à vida de aposentado
é uma invenção do sistema capitalista, feita para amedrontar e
assim poder explorar por mais alguns anos os trabalhadores.
228
No seu próximo aniversário a Catarina com certeza estará
fora do Dmae. Portanto, amanhã será o último dia 20 de dezembro
em que ela se submeterá ao relógio ponto, este será o último
natal...todos os dias de um aposentaNdo passam a ser o último dia
de cada dia na ativa...AposentaNdos, aproveitem cada dia como
uma compartilhada despedida alegre com os colegas e prepararem
uma saída sem luto para um novo e definitivo desafio: viver
livremente do relógio ponto!
- Valeu muito Catarina Reina Cánovas, com sua benção Madrinha!
234
Como disse, o Alvinho é também um grande frasista, adora
lançar no ar frases que generalizem atitudes e situações universais,
tais como:
-Os políticos não são seres de outro planeta, são como a gente
deste planeta. Eles saem de entre nós.
-O macaco só não fala de esperto, para não ser feito escravo pelos
humanos.
- O tempo é um esmeril! (Referindo-se à deterioração física das
pessoas com a idade).
237
Hoje, definitivamente desiludido diante da “Morte
Anunciada da AFM”, estou migrando para o Plano de Saúde da
Unimed conveniado com o Sindicato dos Engenheiros (SENGErs).
Portanto, estou perdendo também este vínculo com o Dmae
através da Aeapoppa.
Soltaram-se todas as amarras e vínculos, tornei-me um
estranho no ninho do Dmae, em que entrei um jovem com 20 anos
e saí praticamente um idoso com 57 anos de idade...é página virada
que já faz parte de uma vida passada.
250
Cascata sem causar perdas nem danos para nenhum dos lados,
servidores e Prefeitura.
Em relação ao segundo dilema, o da exclusão da FG/CC
incorporada do Adicional de Tempo de Serviço e do Regime Especial
de Trabalho, a proposta elaborada é mais complicada de explicar:
Sugere tabelas com a definição dos valores das FG/CC acrescidos de
percentuais compensatórios para os respectivos regimes de
trabalho. O mecanismo concebido para obter as compensações de
forma que todas as remunerações de FG/CC migrem como os
mesmos valores atuais foi o de referenciá-las em um único “fator”.
Tipo assim, os valores das FG/CC “sem adicional de 15% ou 25%”
para RDE seriam tomadas como “Fator de Referência” de 100% de
cada nível de FG Incorporada. Em RDE os valores das FGs
incorporadas do respectivo nível seriam de 130% do fator de
referência para quem tem adicional de 15% e de 150% do fator para
quem tem adicional de 25%. Algo simples assim e que funciona.
Adotando os artifícios desta proposta muito bem articulada,
ficaríamos livres do maldito efeito cascata, realizando-se uma
solução mágica de não haver perdas salariais para os funcionários
nem ônus para a administração municipal. Portanto, fica claro que
basta ter vontade política para resolver este imbróglio, o que parece
não ser o caso. Pelo contrário, o prefeito parece querer empurrar
com a barriga o problema até os “capa-preta” do STF baterem o
martelo e decretarem o corte imediato, para que ele cumpra com
prazer a sangria de até 30% nos salários dos servidores municipais e
ainda com um debochado discurso de algoz inocente, dizendo que
estará apenas cumprindo determinação judicial!...
Aposentado não faz greve, mas pode tentar contribuir para o
fortalecimento consciente do movimento: participe!
251
111 - OS SONHOS FRUSTRADOS DE DOIS APOSENTADOS DO
DMAE
257
encontros no Projeto Voz da Experiência: Diálogos e Saberes entre
Aposentados.
Para um universo de cerca de 8 mil inativos, todos dispersos sem
saberem uns dos outros depois de uma vida de trabalho em
conjunto por muitos anos, era previsível que tantas demandas
reprimidas de reencontros gerassem enormes expectativas para a
construção de um espaço de convivência e interação destinado aos
aposentados.
Já no primeiro encontro, de “Acolhimento, Apresentação e
Levantamento das Expectativas”, se percebia o “brilho nos olhos de
alguns ao reverem antigos colegas de trabalho”. De um modo geral
todos colocaram que esperavam que o espaço dos aposentados na
nova sede do Previmpa propicie atividades ocupacionais, lúdicas,
artísticas e sobre seus direitos sociais; bem como encontros entre
eles e trabalhos de apoio aos aposentados deprimidos, aos inativos
que têm tido dificuldade em se adaptar afastados da convivência
dos seus colegas de serviço.
A questão que se coloca para a continuidade destes diálogos da
“voz da experiência” com a “voz dos gestores do Previmpa”,
primeiro é que tipo de espaço físico estão pensando destinar. Como
foi mencionado nos encontros, o costumeiro das associações é
fornecer uma sala minúscula para os aposentados e que eles “se
virem nos 30m2”. Outra questão é que tipo de espaço gerencial vão
disponibilizar, ou seja, se vão manter uma equipe técnica, como a
que está desenvolvendo este projeto, para dar apoio e fornecer os
meios de implementação das propostas acolhidas no grupo dos
aposentados.
Mas, como o estágio atual do projeto é o de “solte seus sonhos”,
que sonhar não custa nada, idealizei as seguintes expectativas:
- Um espaço físico amplo, gerenciado juntamente com os técnicos
do Previmpa por um grupo de aposentados eleito em encontros
presenciais e com comissões de atividades artísticas e sociais com
palestras semelhantes as do PPA; bem como de inclusão digital na
internet disponibilizando computadores e treinamentos específicos
para a terceira idade.
258
- Um espaço físico que funcione também como de encontros
ocasionais, ou seja, que seja atrativo de se estar, para que se tenha
aonde ir quando se for no centro da cidade. Para tanto, idealizo um
espaço não isolado e confinado, pelo contrário, que poderia conter
a cafeteria para todo prédio e seus funcionários, mas que
disponibilizasse recantos com estantes de livros e revistas
(mediante campanhas de doações), jogos de mesas (xadrez, dama,
dominó, etc.).
- O futuro Grupo deverá promover encontros de aposentados por
secretarias e departamentos, usando a estrutura de informática do
Previmpa para divulgar; bem como dispor de verbas para comes e
bebes e animações para agregar os inativos.
- O futuro Grupo poderá promover megas eventos destinados a
todos os aposentados, como o realizado pelo próprio Previmpa no
Araújo Viana com o Guri de Uruguaiana.
Pessoalmente espero que resulte destes diálogos um grupo
de trabalho, reunindo aposentados e técnicos do Previmpa, visando
sistematizar e apresentar à diretoria da entidade não só as
expectativas e sonhos construídos coletivamente nestes encontros,
mas também para monitorar, desde já, a definição e a ocupação do
espaço físico que será destinado aos aposentados. Queremos
construir realmente juntos este espaço de convivência e interação
na futura sede.
.....
P.S: A Voz da Experiência foi solta em meados de 2015, mas até
agora, no início de 2017, não teve eco. A questão do espaço físico
deixou de ser o foco e os encontros passaram a ser chamados para
palestras e eventos sócio recreativos. Calei minha voz da
experiência e saltei fora desse grupo de encontros de inativos.
270
aposentadoria com maior confiabilidade na competência da gestão
dos fundos de pensão e previdência geridos pelo PREVIMPA.
- Membros da Comissão Administrativa Provisória do Montepio,
Valeu!
273
hasteando a bandeira de luta de redução da carga horária de 44
para 40 horas semanais.
Fica aqui a minha homenagem aos bravos companheiros
daqueles duros e saudosos tempos de lutas, especialmente aos
colegas que compunham a Diretoria Provisória da AMPA: Ana Lúcia
D´Angelo da SMED (que posteriormente realizou a transformação
da AMPA em sindicato, sendo a última presidente da associação e a
primeira presidente do SIMPA em 1989), a Etel Gutterres da “SMEC”
(cuja casa funcionou por muitos anos como a sede da entidade e
que, posteriormente, veio a ser a mãe das minhas filhas), a Carmem
Dreyer do DEMHAB, o Padilha da SMOV, o Grego Vassili da SMF, o
Beltrão do DEMHAB e o Avelino Rodrigues da SMSSS, entre outros
menos alinhados mas igualmente importantes construtores do
movimento com autonomia política, por reunir simpatizantes de
todos os partidos. - Valeu Velha Guarda da AMPA!
276
uma década dominou e estagnou o Simpa e o movimento dos
municipários.
280
trabalhadores do município que suspendam a greve e retornem ao
trabalho.
Justamente neste momento crucial da greve,
demonstrando absurdo descompromisso e irresponsabilidade com
a coisa pública, o prefake abandonou a cidade em viagem para a
Europa, para fazer um roteiro turístico por vários países, às custas
dos cofres públicos, levando alguns vereadores da sua base de
apoio, e deixando Porto Alegre paralisada no impasse por não se
submeter a sentar democraticamente numa mesa de negociação
com os trabalhadores.
Diante da intransponível intransigência autoritária e a falta
de habilidade para gerenciar conflitos que o prefake demonstrou, a
categoria sensibilizou a opinião pública e obteve o respaldo da
Câmara de Vereadores para frearmos as perdas salariais contidas no
pacote de maldade do Marchezan. Numa histórica Assembleia
Geral, com milhares de combativos servidores em luta, a categoria
decidiu “Suspender a Greve”, por avaliar que ao completar 40 dias
de paralisação estava computando várias vitórias importantes,
nesta que foi a mais longa e forte greve dos municipários, tanto em
duração quanto em adesão e militância ativa pelas ruas fazendo a
interlocução direta com os cidadãos da capital. Decidiu suspender a
greve mas se manter em “Estado de Greve”, acumulando o saldo
organizativo do movimento e de tomada de consciência de que
estão travando uma luta de classe que certamente se estenderá
pelos três anos restantes do mandato deste desgoverno. Em estado
de greve se manterão mobilizados contra as retaliações e os
assédios desta gestão que veio para destruir com o serviço público
em benefício da exploração dos empresários empreiteiros que
comandam este país, com propinas e corrupção de toda ordem,
pela ganância de privatizarem o patrimônio público da nação.
O permanente Estado de Greve dos servidores não vai
permitir que o filhote da ditadura se crie em cima dos municipários:
#foramarchezan!
281
II – MEMÓRIAS PESSOAIS
Do blog Diário de Um AposentaNdo
Índice:
282
II – MEMÓRIAS PESSOAIS
Do blog Diário de Um AposentaNdo
283
tensa dos estudantes da UFRGS em greve no início da década de 80,
antes da redemocratização do país.
Como o Lula, eu também me envolvi com militância político-
partidária e sindical, nesta ordem, portanto na ordem contrária dele
que foi do sindicalismo para a construção do partido. Fui seguindo
suas pegadas, após acatar seu chamado para a construção de uma
ferramenta política para a classe trabalhadora, o PT, ele expoente
no ABC paulista e eu anônimo no núcleo de base comunitário do
bairro Jardim Botânico, no lendário Núcleo JB. Depois eu me joguei
de corpo e alma, por cerca de dez anos, abandonei a faculdade pela
construção de uma consciência de classe sindicalista na minha
categoria funcional dos muncipários. Lula era o nosso grande ícone
nacional que pregava, naquela época, autonomia e unidade sindical
sem aparelhamento partidário!
Como o Lula, eu também tive um período de grande
consumo alcoólico (detalhe omitido pelos marqueteiros do filme).
Juntamente com outras lideranças e militantes, costumávamos ficar
até altas horas de beberagem nos bares fazendo análises e
comentários políticos das disputas internas e externas do partido e
do sindicato. Inclusive até tomei umas cervejas e cachaças com o
próprio Lula na casa do meu falecido irmão, na campanha eleitoral
de 1982, e muitos tragos com o Olívio Dutra, com o qual fiz
campanha nas vilas com o meu fusca e que, quando prefeito,
compareceu para prestigiar a minha festa de formatura como
engenheiro da UFRGS.
Como o Lula, guardadas as proporções, eu também percorri
uma trajetória de ascensão como liderança e dirigente sindical, no
meu caso como presidente fundador da associação pré-sindical dos
municipários portoalegrenses, a AMPA (embrião do SIMPA, pois
naquela época funcionário público ainda não podia constituir
sindicato).
Como ocorreu com o Lula, do meu primeiro casamento não
ficou nenhum filho. Apenas que para mim o seu término foi menos
trágico, não fiquei viúvo e sim divorciado no litigioso. Mais do que o
Lula, que no seu segundo relacionamento conjugal teve só uma
284
filha, a Lurian (que os marqueteiros estrategicamente omitiram a
sua existência no filme), no meu segundo relacionamento eu tive
duas filhas.
Assim como o Lula, o meu terceiro relacionamento conjugal
também está sendo com uma mulher que já tinha um filho (que
passou a ser o Meu Garoto em uma feliz realização de pai), mulher
com quem eu também continuo a minha humilde caminhada por
esta vida.
Assim como o Lula vivenciou a experiência de convencer a
categoria em greve de que é hora de voltar sem a vitória, para não
ter que voltar depois derrotados e humilhados; eu também
vivenciei o engolir sapo de uma negociação tensa e matreira com o
prefeito Collares, em que tive que defender o retorno ao trabalho
em uma assembleia com milhares de colegas, mesmo sendo
chamado de “traíra”, como no filme, pelos porra-loucas radicais
new-petistas; eu também obtive o voto de confiança da categoria.
Como o Lula, eu também tenho um diploma do SENAI,
apenas que não é de torneiro-mecânico, é de tipógrafo, ofício
praticamente extinto, mas que também envolvia o risco da perda de
dedos nas guilhotinas motorizadas de cortar papel. Felizmente,
embora tantas semelhanças entre nossas trajetórias, aqui começam
as grandes diferenças de desfechos. Mantive as minhas mãos
intactas.
Lula e eu somos aposentados: ele com uma aposentadoria
especial das vítimas da ditadura, e eu por tempo de serviço e idade.
Lula e eu recebemos aposentadorias integrais, o equivalente ao
último salário na ativa; ele como metalúrgico e eu como servidor
público. Lula conquistou sua aposentadoria aos 51 anos de idade;
eu também poderia ter me aposentado com esta idade se ele não
tivesse estabelecido posteriormente a idade mínima de 60 anos em
sua Reforma da Previdência Pública como mandatário da nação.
Talvez a grande diferença dos desfechos de nossas trajetórias é de
que, ao contrário do Lula e por culpa dele, me desvinculei do PT e
do engajamento partidário, tornei-me #umsempartido!
285
Assim como o Lula dedicou postumamente à sua mãe o seu
diploma de presidente do Brasil ao colocar o PT no poder (naquela
maravilhosa celebração da democracia que foram as cenas de sua
posse, cenas que faltaram constar no encerramento do filme), eu
também dediquei à minha mãe o meu diploma de engenheiro pela
UFRGS. Lula em sua posse como presidente já era órfão de pai e
mãe; enquanto eu, por sorte de desígnios do destino, ainda usufruo
da convivência com a minha velhinha mãe de 90 anos. Estou,
portanto, mais verdadeiramente para filho do Brasil do que ele.
Lula, como Getúlio Vargas, já entrou para a História deste país como
pai dos pobres, pois em seu governo transformou 20 milhões deles
em uma nova classe média de consumo.
291
Assim, cresci na adversidade adotando estratégias de
sobrevivência, desde a infância coletivizada e sem individualidades
das grandes instituições de internatos púbicos, e chego na velhice
como um FALSO BRILHANTE: Com alma primitiva culturizada / tenho
a rudeza do diamante bruto / sem assimilar os trejeitos da society /
vim tropeçando pelos salões / até virar seixo rolado / em anel de
brilhante lapidado / que não puxa fio da meia de ninguém.
292
período o meu intenso envolvimento com a militância política,
sindical e partidária.
Depois veio a minha fase de passar em vestibulares da
PUCRS, beneficiado pela vantagem de estudar, sem custo algum,
pelo convênio do DMAE-PUC. Primeiro em Engenharia Civil (de 1993
até 1999), para fazer disciplinas de saneamento e de língua inglesa;
depois cursei Jornalismo de 200 até 2001, até que o departamento
baixou nova diretriz vetando o acesso às bolsas aos funcionários que
já fossem formados em algum curso superior.
Foi então que, após passar um ano cumprindo o horário
integral de 8 horas diárias em 5 dias de mesmice por semana,
sentindo falta da regalia de usufruir do “direito de estudante” de
sair para assistir aulas e aprender alguma coisa durante o
expediente, passei no meu quarto vestibular na UFRGS em 2003 e
passei a frequentar o curso de Filosofia. O meu objetivo nunca foi o
de me formar, de ser um filósofo, e sim de ter a oportunidade de
fazer uma leitura orientada dos principais filósofos e escolas
filosóficas, visando adquirir autonomia neste gênero de leitura. Esta
meta foi satisfatoriamente concluída com a disciplina de Estética II
no último semestre de 2009. A partir de agora passaria a ser difícil
achar novas disciplinas interessantes disponíveis no curso de
filosofia, mas eis que surgiu esta oportunidade da preparação do
vestibular da minha filha.
Desta vez, que espero que seja a última, decidi ouvir a voz
da minha própria experiência e assumir pra mim mesmo que a coisa
que eu mais gostei de fazer durante toda a minha vida foi escrever.
Como escrever é literatura, logo o curso é Letras! Pelo aristotélico
silogismo filosófico concluo, com fundamentos lógicos, que já sei o
que quero ser quando crescer: escritor.
Ao contrário de mim, espero que a minha filha acerte de
primeira na UFRGS o que ela quer ser quando crescer: Socióloga,
pois ela já abandonou no primeiro semestre o curso de artes
plásticas que havia iniciado na UDESC em Florianópolis no ano
passado.
293
E, mantendo a tradição, mandei fazer uma faixa de dois
metros de comprimento dizendo “Valeu Luiza – Ciências Sociais e
Celso – Letras – BiXos 2010 - UFRGS”, comprei um conjunto de
vidros coloridos de têmperas e fizemos a Festa das Tintas lá em casa,
com um pintando a cara do outro e sendo pintado pelos parentes,
com direito a comes-e-bebes e, claro, cobertura fotográfica dos
“bixos” para a posteridade familiar: do primeiro ingresso dela e do
meu quinto na UFRGS!
Depois da sensação de ser “bixo” junto com a minha filha
no Listão dos Aprovados no Vestibular 2010 da UFRGS, o evento
festivo da matrícula no curso de Letras teve o seu lado melancólico.
É que encerrou-se ali o meu ciclo de estudos filosóficos, e o corte
deste cordão umbilical acadêmico com a filosofia deixou uma
espécie de sensação de vazio no meu peito, após o rompimento
irreversível com este curso que tanto contribuiu para fundamentar
de modo consistente o aspecto filosófico da vida na minha formação
pessoal. Talvez o vazio se deva ao fato que agora não alimento as
mesmas expectativas e carências vitais em relação ao curso de
Letras do que alimentava quando iniciei na filosofia. Tomara que eu
seja surpreendido e que esta licenciatura se revele tão boa de ser
cursada como se revelou o curso de Engenharia de Minas, em que
eu não botava a mínima fé (graças ao qual ganhei o meu sustento e
que está me propiciando um bom gozo na minha aposentadoria).
Assim, no período de matrículas dos biXos 2010, que
ocorrerá agora na segunda quinzena de fevereiro, sou eu quem vai
comunicar à Universidade que estarei antecipando o meu
jubilamento em Filosofia. Ao fazer a opção pelo Curso de Letras no
ato da matrícula, estarei iniciando o preenchimento de uma outra
lacuna na minha formação pessoal, que é o domínio das “Letras”,
das quais estou obeso, pois delas sempre me alimentei como um
amador guloso, sem nunca me submeter às dietas acadêmicas.
294
5 - RELATO DE UMA EMOÇÃO FORTE
Outubro/2010
No último semestre de 2010 cursei a disciplina de Produção
Textual no curso de Letras que estou frequentando na UFRGS, no
qual me foi solicitado relatar um caso de emoção forte que eu tenha
vivido e eu escrevi o seguinte texto:
Um caso de emoção forte aconteceu comigo quando um
exame de sangue serviu de sinal de alerta, o qual foi seguido de uma
biópsia que me arrastou feito um tsuname “por mares nunca dantes
navegados”...
O primeiro impacto do anúncio da má notícia diagnosticada
como sendo a difamada doença incurável denominada câncer, foi
de experiências em estreitos canais dolorosos que nos arrastam e
nos debatem em suas margens feitas de pontiagudos diagnósticos
rochosos. Com rapidez alucinante me arrastaram do pacífico
oceano da vida saudável, em que até então eu velejava em suaves
ondas de calmarias, no rumo certo de um grandioso horizonte
ensolarado, e me levaram até o agitado oceano do instinto de
sobrevivência, em que se rema contra tudo: contra a correnteza, as
ondas e o horizonte, e contra o rumo certo e inevitável do grande
final de tudo o que é mortal.
O diagnóstico de uma doença incurável divide a vida em
dois: a alegre naturalidade do antes e a angustiante resignação do
depois. No primeiro dia do resto da minha vida, que se delineava
como sombria a partir daquele momento divisor de águas,
naturalmente que uma profunda tristeza se instalou no íntimo da
minha família, onde desandou uma avalanche de lágrimas
convulsivas de desolação. Com a mente e o corpo doídos e os ossos
moídos por me sentir suportando pessoalmente a finitude humana,
desesperadamente busquei me resignar com a minha sorte e os
meus azares, e passei a compartilhar a alegria de ainda estar junto,
no aqui e agora, com os amigos, amores e familiares, aproveitando
para ensinar e aprender a dizer adeus...
295
Pela primeira vez em minha vida a morte e o medo da morte
se colocaram como uma questão real e objetiva, não mais apenas
como uma poética metáfora de quem encontra uma pedra no meio
do caminho, mas como quem cai inesperadamente num abismo e
precisa encontrar uma saída durante o curto período de queda livre
que dispõe, antes de se despedaçar no chão.
Por isso, no segundo dia do resto de nossas vidas passei a
viver uma segunda vida com hiper-realismo, onde cada detalhe do
dia, da paisagem e cada pessoa ganhou especial significação e
transcendental poesia. No segundo dia do que restou da minha vida
a sentença diagnosticada já nem parecia tão fatal...
Foi assim que no terceiro dia dos restantes da gente, após
ter batido com a besta de frente, esse monstro de sete cabeças
virou um moinho, um obstáculo a ser removido do caminho, um
alvo de guerra neste quixotesco enfrentamento que exige perícia e
rapidez nos movimentos. Ao terceiro dia desta andança de triste
figura tocou de decidir o local, a data e a postura. Tocou de
encontrar um escudeiro treinado em operar, um médico
especialista que inspirasse confiança, domínio e tino, nas mãos de
quem, cegamente, devia apostar a sorte do meu destino...
Outras questões e medos povoam, como fantasmas, nossas
mentes e corações aflitos nesta conturbada passagem, onde cresce
o medo do desconhecido além pós-morte, na tensa expectativa de
que o mal possa ser curável e não fatal...No meu caso, a opção
adotada foi pela intervenção cirúrgica através da técnica de
“videolaparoscopia”, sem cortes, por apresentar melhores
condições de pós-operatório e maiores possibilidades de
minimização das possíveis sequelas.
Concluído o procedimento, após o período de
hospitalização, em que fiquei como um ser do filme “Matrix”,
entubado no soro, no dreno e na sonda que se carrega pra casa
como uma cruz; e sobretudo com uma ansiosa expectativa no
resultado do exame laboratorial anatopatológico, que indicaria se o
bicho tinha sido totalmente extirpado ou se o danado já havia se
296
espalhado para outras regiões do corpo; voltei para casa com a
recomendação que é preciso convalescer...
Agora, completando três anos de pós-operatório, uma vez
constatado o êxito da extirpação radical e total do câncer que estava
absolutamente confinado, ainda que haja a recomendação de um
monitoramento em exames periódicos ao longo de dez anos, a
medicina finalmente diagnosticou a cura em definitivo do câncer
deste organismo vivo denominado Celso Afonso Machado Lima.
Vocês vão ter que me engolir!
297
disposição em casa com o Bip para ser acionado nos casos
emergenciais mais complexos).
Na época eu estava casado com a Dedé (Jussara Haddad),
casamento no civil e religioso que ocorreu em 1975, aos meus 21
aninhos de idade. Ela foi a minha primeira namorada (que conheci
no meu primeiro baile, no SENAI) e foi quem finalmente acabou com
a minha virgindade em 1970, em plena Copa do Mundo do
tricampeonato brasileiro transmitida ao vivo pela TV (a copa, não o
ato sexual). Nunca foi um caso de amor romântico, a Dedé era
simplesmente a única fêmea que caiu na rede do jovem macho
recém saído do longo período masturbativo do internato masculino
da FEBEM. Depois de um período de encontros e desencontros com
muitos bons momentos amorosos, eu precisava sair da casa da
minha mãe e aluguei uma peça na Cidade Baixa. Como a família da
Dedé idealizava o seu casamento por ela ser órfã de pai e a sua mãe
adoentada já estar ameaçando partir de uma hora pra outra, resolvi
abraçar a ideia indo morar na Vila Farrapos, na casa delas, juntando
o útil ao agradável (ter casa e mulher com comida e roupa lavada).
A Dedé era boa gente mas muito louca, legítima geminiana com
duas caras; sua família não sabia do seu lado B, mas eu sim. Mesmo
assim, como na época não existia divórcio, decidi casar de uma vez
para nunca mais poder cair nesta cilada e, se havia alguém que
merecia este “prêmio” era a Dedé, por ter me propiciado uma
travessia do celibato aos prazeres sexuais juvenis.
Quando da ocorrência do caso pitoresco que o Gaspar
gostava de relembrar, nos primórdios da década de 1980, Dedé e eu
(e a sogra que não tinha morrido ainda) já não morávamos mais na
casa delas (casa que reformei toda, demolindo e fazendo outra
nova), tínhamos nos mudado para o apartamento emprestado pelo
meu irmão Gildo Lima no bairro Jardim Botânico. Então, com mais
de dez anos de relacionamento conjugal sem filhos, o casamento já
não estava resistindo aos novos tempos de engajamentos políticos
e se criaram as condições que prenunciavam o seu fim... foi quando
ocorreu o caso da infidelidade acionado pelo Bip.
298
Na ocasião eu já andava querendo arrastar asa pra qualquer
mulher que caísse na minha alçada, e caiu na rede uma que
propiciou esse episódio. Como eu estava de plantão, combinei que
ia simular uma acionada do Bip quando eu estivesse junto com a
Dedé e iria até o orelhão mais perto e ligar pra ela (a amante), como
se estivesse telefonando para o Dmae, combinando em linguagem
cifrada que estava indo para atender ao “seu chamado de
emergência”. Tudo correu bem conforme o planejado, fomos para
um motel e curtimos uma noite inteira juntos, só love até o
amanhecer. Na volta, dei em casa a desculpa clássica usada pela
peonada, que tinha havido um enorme problema de abastecimento
de água lá na longínqua Hidráulica de Belém Novo, que pra resolver
tivemos que virar a noite e blá, blá, blá...
Antes de contar o final da história, para que não façam mau
juízo de mim, convém dizer que depois deste caso de infidelidade
bipada, o meu casamento com a Dedé durou pouco tempo, durou o
tempo suficiente para ocorrer a morte da mãe dela (Dona Ana) no
apartamento onde estávamos morando por último, na Rua
Riachuelo, e que foi emprestado por uma tia dela. Mas o fim não foi
sem dramas, no processo de separação a Dedé tomou até uma
overdose de remédios e foi hospitalizada para fazer lavagem
estomacal. Para poder conduzir o processo de separação que havia
descambado para a chantagem emocional de ameaças de suicídio,
decidi contratar uma psiquiatra para fazermos terapia de casal. Foi
então que em 1985, em plena sessão de terapia, eu declarei que
estava saltando fora do barco naquele momento e que o
responsável para dar suporte psicológico para ela não fazer besteira
seria o próprio psiquiatra e saí batendo a porta do consultório.
Peguei o meu carro e sumi de circulação, fui para a minha terra natal
que nem consta ainda nos mapas, São Diogo, um vilarejo de
campanha na fronteira com o Uruguai, onde nem eletricidade tinha.
Voltando ao caso da infidelidade, a Dedé, que não era boba
nem nada, fez que engoliu o meu blá, blá, blá numa boa e, no
mesmo dia, enquanto eu dormia descansando da noite de trabalhos
forçados, foi até o Dmae e procurou pelo capataz de plantão, que
299
no caso era o Gaspar, e quis saber do serviço que deu durante a
noite anterior, perguntando por mim como se eu não tivesse
voltado ainda da empreitada. Matreiro, o Gaspar logo percebeu que
tinha sacanagem na jogada e desconversou o que pode, meio
atrapalhado com contradições por não ter havido nenhum serviço
de emergência naquela noite. Sem convencer muito a Dedé, ele
confirmou a falsa ocorrência de manutenção e disse que eu havia
saído fazia pouco tempo dali e que deveria estar chegando em casa
e blá, blá, blá....
Tempos depois, decidi me separar e deu o maior fuzuê, até
umaoverdose de medicamentos a Dedé tomou para criar clima
tendo que fazer lavagem estomacal. Não adiantou, peguei o carro e
sumi no mundo, rumo à campanha onde nasci em São Diogo, na
fronteira com o Uruguai. Quando voltei da minha terra natal, depois
de vários dias andando a cavalo pelos campos e respirando ar limpo
sob o céu estrelado próximo da cabeça, a poeira tinha baixado e a
Dedé tinha mudado de postura radicalmente. Decidiu aceitar a
separação e ir de mala e cuia viver na Bahia: e foi mesmo! Ela sumiu
definitivamente, tanto que anos depois tive que fazer um processo
judicial e o juiz declarou o divórcio à revelia da Dedé que continua
em lugar incerto e não sabido.
300
Antes desse período em que trabalhamos juntos na ASSEC,
a Fátima Silvello e eu moramos no mesmo bairro quando éramos
respectivamente estudantes de sociologia e de engenharia,
convertidos para as lutas sociais de redemocratização no Brasil no
início da década de 1980. Nos mobilizamos no Núcleo Jardim
Botânico para a construção de um Partido dos Trabalhadores (dos
sonhos), e para o fortalecimento da consciência de classe de toda
uma geração de servidores do DMAE que passava a se organizar
sindicalmente como a Categoria dos Municipários. Belos tempos
utopicamente revolucionários e amorosos aqueles!...
Hoje eu fui ao cinema assistir ao “Filme dos Espíritos”, onde
pude chorar bastante em luto da Fátima Silvello, que desencarnou
e estava sendo velada e sepultada naquele mesmo horário. Agora,
sob o efeito da mensagem do espiritismo contida no filme, de que
há vida após a morte, fico refletindo sobre o ensinamento budista
de que temos muitas vidas e mortes numa mesma existência. A
Fátima foi protagonista numa das minhas vidas passadas, numa
época em que eu saía chamuscado e arisco do meu primeiro
casamento, quando mergulhamos juntos na militância sindical.
Belos tempos de sonhos utópicos aqueles!
Os dois jovens estudantes, de sociologia e de engenharia,
convertidos para as lutas sociais de redemocratização no Brasil no
início da década de 1980, constituíram os pilares de aglutinamento
de toda uma geração de servidores do DMAE que passavam a se
empenhar na organização da categoria dos municipários. Fizemos
de instrumento de luta e conscientização setorial a Associação dos
Servidores do DMAE (ASDMAE), mas tendo sempre como
perspectiva maior a construção da Associação dos Municipários
(AMPA) como uma entidade pré-sindical, até que a legislação
federal permitisse a sindicalização dos funcionários públicos. Belos
tempos utopicamente revolucionários aqueles!...
Muito trabalhávamos juntos na elaboração dos boletins,
jornais e cartazes do movimento, eu entrava com o texto e ela com
a arte e diagramação, desenhista profissional e criativa que era, e
ambos fazíamos o corpo-a-corpo da distribuição. Juntos fazíamos
301
muito barulho! De tanto nos identificarmos e nos misturarmos, nos
envolvemos afetivamente um com o outro, mas tímidos e ariscos,
ninguém tomava iniciativa, até vivenciarmos literalmente o corpo-
a-corpo numa temporada mágica no Rio de Janeiro, num
apartamento em Jacarepaguá, cedido pelo amigo Marco Arildo do
Trensurb (Valeu Marco!). Foram momentos que me fizeram voltar a
acreditar que a felicidade pode existir num relacionamento. Belos
tempos utopicamente românticos aqueles!
Depois, pelos desígnios insondáveis do existir, nos
perdemos daquela vida de envolvimento afetivo pra renascermos
em outras. Por peripécias do destino, para possibilitar que não
deixássemos nada mal resolvido nesta existência, posteriormente
trabalhamos juntos na mesma sala da Assessoria do Diretor Geral
Guilherme Barbosa, no início da era petista na Prefeitura, e
voltamos a trabalhar juntos na Assessoria Comunitária do Dmae
(ASSEC), ambos como Cargos em Comissão. Participamos juntos, a
socióloga e o engenheiro, de trabalhos comunitários de
saneamento nas vilas e das históricas reuniões noturnas do
Orçamento Participativo sob a coordenação do meu irmão Gildo
Lima, também já falecido. Belos tempos utopicamente
construtivistas eram aqueles!...
Os últimos contatos que tivemos foi há poucos anos atrás,
antes dela se aposentar definitivamente do Dmae, por ocasião da
obra de drenagem que ela fiscalizava no pátio da minha Divisão de
Manutenção. Depois soube que estava doente e passei a lhe enviar
emails com links de acesso para o blog e hoje, 23/outubro/2011,
soube que a “companheira Fátima Silvello” não está mais entre
nós...Que coisa, hein?!...
Espero que os espíritas e os budistas tenham razão e que
existam realmente reencarnações e renascimentos cármicos, para
que possamos aproveitar evolutivamente as convivências que
tivemos com pessoas especiais (como a Fátima foi para mim) em
nossa vida atual.
- Belos tempos, valeu companheira Fátima Silvello!
302
8 - RESGATE DE UM MINEIRO FEITO PELA ETEL
12/Out/2010
Na grande aldeia global midiática que é o mundo hoje em
dia, ficamos todos sofrendo solidários com a tragédia da explosão
de uma mina na Turquia, onde morreram mais de 300 mineiros.
Enquanto engenheiro de minas que sou, me sinto um sobrevivente
como os 33 mineiros que ficaram por 69 dias soterrados numa mina
subterrânea de cobre e ouro no Chile em 2010, cujos trabalhos de
resgates acompanhamos dia a dia feito um reality show; me sinto
irmanado com a aflição dos sobreviventes como sendo de meus
companheiros de trabalho. Digo isto por ter tido a experiência de
ficar oito horas por dia durante um mês numa mina subterrânea
semelhante, e saber muito bem a sensação que a gente sente ao
estar lá embaixo, trabalhando entre vultos humanos tisnados que
mais aparecem assombrações, e sob a ameaça constante de um
soterramento inesperado.
Com o curso de engenharia de minas tive o ganho cognitivo
de ter estudado mais a fundo a geologia do planeta em que vivemos,
a loucura que é saber que o miolo da terra é em realidade a figura
metafórica do inferno, um caldeirão incandescente onde todas as
rochas estão derretidas, e que o globo terrestre é uma panela de
pressão cujas válvulas de escape são os vulcões. É punk! Logo
compreendi que naquela vida de mineiro em que estagiei, que mais
se assemelhava a trabalhar no inferno (nas subterrâneas Minas do
Leão de carvão a 120 m de profundidade) ou no purgatório (nas
minas de ferro a céu aberto da Vale do Rio Doce em Itabira, MG),
não conseguiria nunca encontrar um Paraíso para trabalhar, até
porque não há mineração nas nuvens
A minha decisão na juventude de qual o curso superior
deveria optar no momento de fazer o concurso vestibular, a bem da
verdade, inicialmente se deu pela escolha tática de um menor grau
de dificuldade de acesso entre os cursos de engenharia da UFRGS,
uma vez que pretendia o curso de engenharia elétrica que naquela
época era concorridíssimo. Este foi o acaso da condição de eu ser
303
um aprendiz de mineiro ao me tornar um aluno de Engenharia de
Minas. Mas, apesar de depois eu conseguir migrar para a área de
elétrica-eletrônica, através de outro vestibular, acabei me
decepcionando com o conteúdo do curso (talvez por já ter a
formação básica de eletrônica da Escola Técnica Parobé), e decidi
retomar e concluir o curso de Engenharia de Minas, que era
geologicamente interessante de se estudar.
Sem poder contar com esta perspectiva de almejar um
paraíso para exercer o meu ofício de mineiro, tratei logo de buscar
novas atividades que me oferecessem pelo menos um oásis cultural.
Por isso, durante os últimos vinte e cinco anos me tornei um
aprendiz de várias outras atividades. Estudei jornalismo na PUC
(enquanto durou a bolsa de estudo que o Dmae me fornecia),
depois novamente na UFRGS passei a estudar filosofia (de 2001 até
2009, devido ao meu jubilamento da faculdade). A partir de 2010
passei a ser aluno do curso de Letras da UFRGS, onde continuo até
agora, sempre sem a mínima pretensão de conquistar outro canudo
de formatura. Estudo apenas para ampliar a minha formação
pessoal: faço por prazer e curso somente as disciplinas que me
interessarem e nada mais, sem estresse.
Mas sempre reconheço como “bendito” o canudo de
Engenharia de Minas, pois aproveitei ao máximo o título de
engenheiro para ganhar “o pão de cada dia” trabalhando no DMAE,
por mais de 35 anos, com a fabricação de água potável, que não
deixa de ser um minério líquido aflorante a céu aberto e que ocorre
em jazidas denominadas rios ou lagos, cuja gênese se dá nas
nuvens. Portanto, a água é a obra prima perfeita para ser o paraíso
como local de trabalho de um engenheiro de minas, e o Dmae foi o
meu.
Igualmente reconheço sempre como “bendita” a minha ex-
mulher Etel que me deu todo o apoio durante o meu longuíssimo
curso de engenharia, posto que fui bixo da UFRGS em 1979 (no
tempo da Dedé)! Mas o curso só deslanchou mesmo quando a Etel
entrou na minha vida no burburinho da militância sindical e
partidária a partir de 1986, em cuja casa funcionou por muitos anos
304
a sede da Ampa, a entidade progenitora do Sindicato dos
Municipários, assim como ela que veio a ser a progenitora das
minhas filhas. Neste período ela trabalhava como professora de
esportes da SMED nas praças do município e foi protagonista da
criação da Secretaria Municipal de Esportes (SME). O meu tão
almejado canudo da Universidade finalmente chegou justamente
no ano de nascimento da nossa primeira filha, a Luíza, em 1991.
Porém, de pouco valeria o diploma de engenheiro de minas
se não fosse pela “bendita” insistência da Etel para que eu me
inscrevesse no concurso para engenheiro do DMLU, que viria a ser
o último na modalidade de ter uma prova única para todas as
especialidades de engenheiros, admitindo inclusive engenheiros de
minas. O impedimento que me inibia para me inscrever no concurso
no final de 1991, era que naquele ano tinha havido uma greve na
UFRGS e a diplomação dos formandos só ocorreria em abril de 1992.
Bendita Etel que insistiu para que eu solicitasse na faculdade um
documento atestando que eu já estava habilitado como engenheiro,
mesmo porque as nomeações do concurso seriam depois daquela
data e até lá eu já teria o canudo nas mãos para assumir o cargo;
isso se passasse no concurso, é claro.
“Bendito” também o professor Jair Hope que, por sorte, era
ao mesmo tempo o Diretor do Departamento de Minas e o
professor da cadeira que eu estava cursando naquele semestre, e
que era a única que faltava para eu me formar. Ninguém melhor do
que ele para atestar que eu já havia cumprido todo o currículo e
que, portanto, estava habilitado como engenheiro e que aguardava
apenas a data formal do evento de formatura para recebimento do
respectivo diploma, atestado que ele mesmo elaborou e levou para
o Coordenador do COMCAR assinar. Deu tudo certíssimo, entrei na
última chance de um engenheiro de minas ser concursado para a
Prefeitura de Porto Alegre e, melhor ainda, pude ser aproveitado no
próprio Dmae, onde eu já trabalhava na época por mais de 15 anos,
e para onde fui nomeado engenheiro em agosto/1993.
Não só por estes motivos práticos, mas por tudo o mais que
a Etel representou na minha vida afetiva, de me fazer voltar a
305
acreditar no amor com admiração por outra pessoa, não posso
deixar de registrar aqui uma espécie de homenagem em vida para
esta mulher, transcrevendo um poema que fiz durante a nossa
relação conjugal:
FACES DA LUA
Lá no escuro da noite escura
onde o passado arquivou todos os dias
surgiu no céu um brilho de luz distante
a Lua Nova me fez criança de alegria
A luz da Lua Crescente foi crescendo
com a esperança e eu próprio que crescia
fui descobrindo seus verdes segredos
e alimentando a paixão que nos unia
E quando a Lua de luz se fez Cheia
da minha cama eu avistava o novo mundo
como um adolescente que por vida anseia
senti-me forte, lindo e fecundo
Porém a luz da Lua foi Minguando
no mundo velho que ao novo resistia
e a razão, já adulta, foi pensando
e me perdendo da luz que me movia...
....................
Por tudo isso, é que me sinto um pouco como os mineiros
chilenos e os poucos que restaram na mina turca, um sobrevivente
do inferno dantesco que é o ambiente de trabalho de uma mina
subterrânea, apenas que por sorte consegui sair antes que qualquer
soterramento me aprisionasse naquele suado ofício de ganhar o
pão com o minério que o diabo amassou. Ainda bem que, com a
ajuda da Etel, pude ir ganhar a vida “com sombra e água fresca” no
escritório com ar condicionado de uma fábrica municipal de água
potável em plena capital gaúcha. Sou, portanto, um urbano
engenheiro de minas que esteve por décadas soterrado apenas pelo
cumprimento do tempo de serviço, mas que finalmente será
resgatado em 2011 para a superfície livre da aposentadoria, como
um ex-engenheiro!
306
9 - COTIDIANO EM BODAS DE PORCELANA COM A MAGDA
agosto/2011- fev/2013
A cada ano cresce o número de pessoas que optam por
morar só e não compartilhar o controle remoto. Este assunto foi o
tema de uma matéria de várias páginas no caderno Donna do jornal
Zero Hora (17/02/2013). Entre 2000 e 2010, o aumento foi de 68%
no Brasil, segundo o IBGE. No ranking das cidades com mais pessoas
morando sozinhas tem Herval (minha cidade natal!) em primeiro
lugar nacional, e Porto Alegre é a capital com maior proporção dos
chamados domicílios únicos.
Em fevereiro de 2013, Magda e eu, estamos comemorando
Bodas de Porcelana, 20 anos de um cotidiano casamento morando
em casas separadas. Segundo as estatísticas, esta modalidade de
relacionamento afetivo conjugal está se tornando “normal” entre os
casais pós-modernos, pessoas que não abrem mão de ter um
espaço só seu e, ao mesmo tempo, ter uma relação amorosa
monogâmica.
É muito difícil que exista outro aposentado que frequente
tanto o seu antigo local de trabalho quanto eu. Faço isso não
“porque não tenha mais nada o que fazer” ( tenho uma Lista das 100
Coisas para fazer na aposentadoria!) ou por ter saudade depressiva
dos colegas; nem por sentir falta do cafezinho compartilhado com
bolachinhas ou da roda de chimarrão; pois nem deu tempo ainda
pra tanta carência. Tampouco vou lá só para torturar os cativos do
cartão-ponto com a minha exuberante liberdade! O motivo da
minha assídua presença, que acontece pelo menos duas vezes por
dia (que só falta eu bater ponto no quarteirão) é a minha mulher. A
Magda é a culpada por eu ter que manter parcialmente a mesma
rotina das últimas duas décadas, mesmo depois de estar
aposentado.
A propósito, “Todo dia ela faz tudo sempre igual”, como
dizia a música Cotidiano do Chico Buarque, mas eu não mais “me
sacudo às seis horas da manhã”, posto que eu já estou aposentado
e ela ainda está cumprindo pena trabalhista. A Magda e eu
307
moramos em casas separadas, vivemos uma nova modalidade de
relação conjugal em que “o sorriso pontual e o beijo com a boca de
hortelã” se dá no carro, com eu a conduzindo nas idas e vindas do
seu trabalho.
Estou no meu terceiro casamento, sou quase especialista no
assunto. No ímpeto da paixão de quererem ficar juntos o tempo
todo, a tendência dos casais é que um se mude de mala e cuia para
dentro da casa do outro. No casamento convencional, “toda noite
ela diz pra’eu não me afastar”, até o cara se sentir asfixiado e,
numa reação de legítima defesa, saltar fora.
Entretanto, já faz vinte anos que vivemos
harmoniosamente, com cada na sua casa, com espaço físico e
tempo para nos dedicarmos às nossas individualidades e
peculiaridades. Eu com esta minha compulsão por escrever, e ela
com o seu estudo de piano; de modo que valorizamos
qualitativamente nossos momentos de convivência familiar.
Assim, aproveitamos os momentos em que estamos juntos,
que não são poucos, procurando viver prazerosamente e com
alegria, pois é um estar junto sem o estigma da rotina geralmente
estabelecida nos casamentos convencionais de que trata a canção
do Chico, na qual o cara “todo dia pensa em poder parar, pensa
em dizer não, depois pensa na vida pra levar e se cala com boca de
feijão...”. No nosso cotidiano se pode parar, pensar e diariamente
dizer “não”.
É claro que surgem ruídos na comunicação, como em todos
os casais, mas aí cada um tem o escurinho do seu quarto e o silêncio
do seu travesseiro para refletir e desarmar o espírito, pelo tempo
que precisar, para depois poder voltar a investir na relação. Evita-
se, com isso, os desgastes mais graves que uma convivência
obrigatória num momento de atrito conjugal que pode causar: “me
aperta pr'eu quase sufocar, e me morde com a boca de pavor.”
A cultura popular é sábia ao dizer que a vida dos amantes
clandestinos é mais excitante, nem tanto por ser às escondidas e
mais por eles se encontrarem apenas nos momentos de prazer.
Analogamente, os casais que vivem em casas separadas são como
308
amantes publicamente declarados ou como namorados
permanentes: “Meia-noite ela jura eterno amor”.
Por isso o nosso cotidiano conjugal é bastante peculiar, até
pelo fato de que moramos propositadamente apenas uma quadra
de distância um do outro e trabalhávamos na mesma empresa,
ainda que não no mesmo prédio, mas no mesmo quarteirão.
Portanto, além de almoçarmos juntos todos os dias em restaurantes
buffets, “às seis da tarde como era de se esperar, ela pega e me
espera no portão” da empresa e geralmente também jantamos na
companhia um do outro.
Mesmo sem nunca termos pensado em “juntarmos os
trapos” para morarmos juntos, por “essas coisas que diz toda a
mulher” sobre o glamour do casamento enquanto declaração de
amor, nos casamos legalmente através da Declaração de União
Estável em 2008, e seguimos “com boca de paixão” a vivência do
nosso cotidiano amor de um casal que vive em casas separadas.
Mas garanto que é por pouco tempo que vou manter esta
rotina de aposentado frequentador assíduo do seu ex-local de
trabalho, sabem porquê?... Por que daqui mais um ano a Magda
também vai se aposentar (data que foi adiada por um ano para ela
poder incorporar no salário a nova gratificação de essencialidade do
Dmae - GDAE), quando ambos estaremos, finalmente, livres para
voarmos juntos por outras rotinas e horários, numa aposentadoria
familiar integral, mas ainda assim em casas separadas, rumo às
Bodas de Prata e Bodas de Ouro... Para a Magda escrevi este poema:
RUIVA AURORA
Viver, sempre surpreende
ao navegante errante
que pensa que da terra
do ar e do mar já conhece tudo
O mundo se renova a cada instante
e se revela em novas velas no horizonte
Pra vida adentro, pro mundo afora
aprisionei a luz intensa desta Ruiva Aurora
309
e naveguei por mares nunca dantes navegados
fiz-me amante das alquimias: álibis forjados
e sustentei toda a leveza do ser amado.
312
12 - MINHAS TANTAS VIDAS NESTA EXISTÊNCIA I
315
13 - MINHAS TANTAS VIDAS NESTA EXISTÊNCIA II
325
ÍNDICE GERAL DA VERSÃO IMPRESSA ORIGINAL:
MEMÓRIAS DO BLOG DIÁRIO DE UM APOSENTANDO MEMÓRIAS DO BLOG DIÁRIO DE UM APOSENTANDO MEMÓRIAS DO BLOG DIÁRIO DE UM APOSENTANDO
I - MEMÓRIAS PESSOAIS II - MEMÓRIAS MUNICIPÁRIAS III - MEMÓRIAS LITERÁRIAS
Índice: Índice: Índice:
1 - O LIVRO DO BLOG DIÁRIO DE UM APOSENTANDO 1 - BARNABETISMO DMAEANO 1 - AS DIFERENTES IRMÃS GÊMEAS
2 - AVISO PRÉVIO 2 - CONSULTA JURÍDICA 2 - ODISSEIA COTIDIANA
3 - UM SONHO DE LIBERDADE 3 - BANCO DE PRAÇA 3 - ODISSEIA DOS ETERNOS GRENAIS
4 - 50º ANIVERSÁRIO DO AMIGO KONRAD 4 - O CABALÍSTICO NÚMERO 95 4 - O FILÓSOFO DO AMOR & OS EVENTOS PAPO-CABEÇA
5 - CINQUENTENÁRIO 5 - SENTENÇA CUMPRIDA 5 - A MALDIÇÃO DAS RENÚNCIAS DOS PREFEITOS
6 - O FOTÓGRAFO DA MANUTENÇÃO 6 - UMA CATEGORIA EM EXTINÇÃO 6 - COPA DO MUNDO SEM MANDELA
7 - AS GARÇAS NO DMAE 7 - QUASE UMA GRANDE FAMÍLIA 7 - JOGOS INFANTIS DE ADULTOS
8 – - DOIS DIAS DE FOLGA 8 - A ÚLTIMA NOVA MISSÃO 8 - A PRIMEIRA PRESIDENTA DO BRASIL
9 – VOLTA CONTENTE DAS FÉRIAS 9 - NATAL E METAS FÍSICAS 9 - TROPA DE ELITE 2: O INIMIGO AGORA É OUTRO
10 - O ÚLTIMO DIA DE CADA DIA 10 - O ACHADO DE NATAL 10 - ATEUS, O MOVIMENTO DOS SEM FÉ
11 - A VOLTA DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 11 - BRINDE AO APOSENTANDO 11 - FILMES PARA ENXAQUECAS ESPIRITUAIS
12 - AVISO DE JUBILAMENTO 12 - A REVELAÇÃO DO MESTRE 12 - A ALIENAÇÃO ESTÓICA DE UM APOSENTADO
13 - PLANO CONTRA O TÉDIO NA APOSENTADORIA 13 - A VIRADA DE ANO 13 - A ÚLTIMA TOURADA EM BARCELONA
14 - OS BIXOS DO LISTÃO DA UFRGS 14 - DESOBEDIÊNCIA CIVIL AO CREA 14 - PAIXÃO NACIONAL: NINA CONTRA CARMINHA!
15 - O ALVORECER DE UM LITERATO 15 - O MEU PEDIDO DE DEMISSÃO 15 - O TATU DA COPA E A DEMOCRACIA PARTICIPATIVA
16 - OS APOSENTADOS PRÉ-DIGITAIS & OS PÓS-MODERNOS 16 - A MALDIÇÃO DA INSALUBRIDADE E DAS HORAS-EXTRAS 16 - LUPICÍNIO FOI ASSIM: UM SAMBISTA DE BOMBACHAS
17 - BUDISMO, MEDITAÇÃO & PÃES QUENTINHOS 17 - AR CONDICIONADO GRÁTIS 17 - AS VOZES DAS RUAS EM JUNHO DE 2013
18 - NÓS E O ANIVERSÁRIO DA NOSSA CIDADE 18 - O DIREITO DOS ESTUDANTES DAS UFRGS NO DMAE 18 – PELA LEGALIZAÇÃO DA MACONHA
19 - DO NÚCLEO-JB AO VOTO VERDE 19 - A VENDA DA FOLHA DE PAGAMENTO 19 - OS CERCOS DE LISBOA E DE PORTO ALEGRE
20 - COMO PEÇAS DO QUEBRA-CABEÇA DA VIDA 20 - MUNICIPÁRIOS AMPARADOS NA AMPA 20 - UM FURACÃO EM NOSSAS VIDAS
21 - OS NOSSOS GUIAS DE FÉRIAS EM MACEIÓ 21 - AS SIGLAS DOS SISTEMAS INFORMATIZADOS
22 - O CASO DO SUMIÇO DA DEDÉ 22 - QUARTA-FEIRA DE CINZAS
23 - EM MEMÓRIA DE FÁTIMA SILVELLO 23 - O CAMINHO DOS APOSENTADOS DO DMAE
24 - RESGATE DE UM MINEIRO FEITO PELA ETEL 24 - VULGOS QUI-QUI-QUI, CACHORRO, BOCA E FAÍSCA
25 - COTIDIANO EM BODAS DE PORCELANA COM A MAGDA 25 - OCASO DO MONTEPIO DOS MUNICIPÁRIOS
26 - O PARADOXO DO TEMPO 26 - SÍNDROME DA CAIXA DE EMAILS VAZIA
27 - DA FEBEM À FASE: OS FILHOS DA FLORESTA 27 - AS FALTAS DA DONA MALVINA
28 - AS CINZAS DO SARAMAGO E AS MINHAS 28 - ASTEC & OS CAPACETES BRANCOS
29 - LULA E EU: OS FILHOS DO BRASIL 29 - DA BAIXA À ALTA HOSPITALAR DO MATTOS
30 - CAMINHANDO CONTRA O VENTO NUM RETROPICALISMO 30 - AO DIA MUNDIAL DA ÁGUA
31 - O DIA QUE EU VI UM BEATLE 31 - O PGQP NO BOLSO DOS FUNCIONÁRIOS
32 - MINHAS FILHAS GANHAM BOLSAS DE ESTUDO DO DMAE 32 - REVISANDO O PLANO DE FUGA
33 - O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DO BLOG 33 - RESTRUTURAÇÃO DO DMAE: O FRANKENSTEIN ESPETACULAR
34 - O DIA EM QUE VI UM RINPOCHE 34 - O IMPERADOR, O HIPPIE E O MENDIGO
35 - RELATO DE UMA EMOÇÃO FORTE 35 - SALVEM AS PROFESSORINHAS!
36 - O MEU DISCURSO DE REI GAGO 36 - A QUESTÃO DA SOCIALIZAÇÃO NO TRABALHO
37 - MINHAS FÉRIAS DE FINAL DE CARREIRA 37 - FATALIDADES, REALIZAÇÕES, RETROCESSOS & PREDESTINAÇÕES
38 - MINHAS TANTAS VIDAS NESTA EXISTÊNCIA I 38 - RESPONSABILIDADES TÉCNICAS – O INÍCIO
39 - MINHAS TANTAS VIDAS NESTA EXISTÊNCIA II 39 - FAROESTE MATUNGO
40 - NÓS, OS EXPURGADOS DO PT 40 - GUERRA DE TITÃS PELO SENTIDO DA VIDA
41 - O ROL DOS MEUS POEMAS FAVORITOS 41 - OS NOSSOS MORTOS DA DVM
42 - O SENHOR DAS MOSCAS VOLANTES 42 - HOMENAGEM AOS COLEGAS DA ASSEC
43 - OFICINAS LITERÁRIAS EM HORÁRIO DE EXPEDIENTE 43 - PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA (PPA)
44 - O QUE UM APOSENTADO FAZ COM O SEU TEMPO? 44 - PITINGA, O TEU POVO TEM ÁGUA!
45 - LISTA DE 100 COISAS PARA FAZER NA APOSENTADORIA 45 - A RODA DE CHIMARRÃO DA MANUTENÇÃO
46 - OS APOSENTADOS PRÉ-DIGITAIS & OS PÓS-MODERNOS 46 - O CARIMBADOR MALUCO
47 - AGENDA DE JULHO DE UM APOSENTADO 47 - O PAULO BUGIO FEZ 60 ANOS
48 - A ESTÉTICA DO FRIO: 30 ANOS DE MÚSICA NA REITORIA 48 - O “APITA JOÃO!”
49 - CRÔNICA DA FALTA DE ASSUNTO 49 - INVENÇÕES COM O HARTMUT E O JOÃOZINHO
50 - ELIS VIVE EM MEUS DELÍRIOS 50 - CAFURINGA: O HOMEM QUE FALA SOZINHO
51 - AGORA EU SOU UM APOSENTADO! 51 - O ARMANDINHO DENTISTA
52 - BLOGAR OU PUBLICAR LIVROS? 52 - DEMISSÕES A BEM DO SERVIÇO PÚBLICO
53 - MINHA PRIMEIRA PREMIAÇÃO LITERÁRIA 53 - SE FICAR OU CORRER O BICHO PEGA IGUAL?
54 - DESEJOS PARA 2012 54 - AEAPOPPA: RELATO DE UMA ELEIÇÃO
55 - LEITURAS DE UM APOSENTADO DESORIENTADO 55 - O TOCADOR DE VIOLINO DA MANUTENÇÃO
56 - MUSICAS FAVORITAS PRA SE OUVIR NO CARRO 56 - MINHAS FILHAS GANHAM BOLSAS DE ESTUDO DO DMAE
57 - A CLASSE MÉDIA VAI À EUROPA 57 - OS CAMPEÕES DE TUDO
58 - MEMÓRIAS DA VIAGEM DOS SONHOS 58 - A GRANDE FAMÍLIA: PAIS & FILHOS & CASAIS NO DMAE
59 - LANÇAMENTO DO BLOG BRECHÓ DE POEMAS 59 - CORAL & CURTAS NO DMAE
60 - CHEGA 60 ANOS! 60 - CURTA: OS SOBREVIVENTES DA GARGANTA DO DIABO
61 - NELSON RODRIGUES: O REACIONÁRIO INTELIGENTE 61 - RELÓGIO PONTO ELETRÔNICO
62 - O NOVO VELHINHO DA FEIRA DO LIVRO 62 - QUANDO OS ENGENHEIROS COMEÇARAM A BATER PONTO NO DMAE
63 - LER ULISSES: AS OLIMPÍADAS DE UM APOSENTADO 63 - REFLEXÕES SOBRE ESTRATÉGIAS DE PRÉ-APOSENTADORIA
64 - DESEJOS PARA 2013 64 - O “CASE DVM” & O DIA QUE ANDEI DE BALÃO
65 - CASAS GERIÁTRICAS: PRA LÁ VAMOS TODOS? 65 - VERGONHA: O DMAE NÃO SEPARA O SEU LIXO SECO!
66 - QUANDO SOMOS PAIS DE NOSSOS PAIS 66 - DESCONTOS NO FINAL DO SEGUNDO TEMPO
67 - O URSO HIBERNADO NO TEMPO 67 - CHÁ E ELEIÇÕES DE CHEFIAS NO DMAE
68 - CANCÚN - O CARIBE DOS BRASILEIROS 68 - AS ELEIÇÕES DE CHEFIAS NO DMAE
69 - MEUS CAMINHOS DO CENTRO DE PORTO ALEGRE 69 - O ÚLTIMO DIA COM AS CARAS DO DMAE
70 - FECHOU-SE A CORTINA: RONALD RADDE & PEDRO WAYNE 70 - A HORA DE PENDURAR AS CHUTEIRAS
71 - A LÍNGUA ESCRITA NA MINHA VIDA 71 - MEU ALVARÁ DE SOLTURA & A GREVE
72 - CARTA PARA O MEU NETO LER QUANDO CRESCER 72 - SE APOSENTAR OU NÃO? – VOCÊ DECIDE!
73 - OS CAPACETES BRANCOS E A BATALHA FINAL
74 - AGORA EU SOU UM APOSENTADO!
75 - O DOPA VERDE
76 - ACOLHEDORA DE GATOS DE RUA
77 - GALOS DE ENCRUZILHADAS NO DMAE
78 - Mensagem a Um Jovem Engenheiro
79 - UM ANO SEM CARTÃO PONTO
80 - NOVA FASE DO BLOG: PRÓ-LIVRO DO DIÁRIO!
81 - DOIS ANOS SEM CARTÃO PONTO
82 - REAJUSTES & PORTABILIDADES SALARIAIS
83 - BALNEABILIDADE AO GUAÍBA, JÁ!
84 - MANIFESTO AOS ASSOCIADOS DA AEAPOPPA
85 - OS QUATRO DINOSSAUROS DA MANUTENÇÃO
86 - A MADRINHA DA MANUTENÇÃO DO DMAE
87 - O ÚLTIMO ANIVERSÁRIO DA MADRINHA DA DVM NO DMAE
88 - A MADRINHA DA DVM SE APOSENTOU, ACREDITEM! (III)
89 - O ÚLTIMO DIA DA ÚLTIMA SEMANA DO ÚLTIMO ANO
90 - A EXTINÇÃO DO ÚLTIMO DINOSSAURO
91 - A ÚLTIMA CASCA DE BANANA DO ÚLTIMO DINOSSAURO
92 - UM ESTRANHO NO NINHO DO DMAE & o FIM DA AFM
93 - A ILUSÃO DA PARIDADE NA APOSENTADORIA
94 - A EMPULHAÇÃO DO ABONO PERMNANÊNCIA
95 - PLANO DE CARREIRA & EFEITO CASCATA
96 - GREVE CONTRA O EFEITO CASCATA DE PERDAS SALARIAIS
97 - OS SONHOS FRUSTRADOS DE DOIS APOSENTADOS DO DMAE
98 - HISTÓRICO E RISCOS DAS APOSENTADORIAS NO PREVIMPA
99 - A VOZ DA EXPERIÊNCIA DOS APOSENTADOS DO PREVIMPA
100 - CRÔNICA DA MORTE ANUNCIADA DA AFM
101 - O ÚLTIMO CONTRACHEQUE EM PAPEL
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