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Fascículo ❶

❶ Ser estudante "a distância"

❷ Leitura de textos acadêmicos


Ministério da Educação

Secretaria de Educação a Distância

Universidade Aberta do Brasil

Fernando Haddad Ministro da Educação

Carlos Eduardo Bielschowsky Secretário SEED/MEC

Celso Costa Diretor da UAB

Maria Lúcia Cavalli Neder Reitora UFMT

Francisco José Dutra Souto Vice-Reitor

Valéria Calmon Cerisara Pró-Reitora Administrativa

Elizabete Furtado de Mendonça Pró-Reitora de Planejamento

Luis Fabrício Cirillo de Carvalho Pró-Reitor de Cultura, Extensão e Vivência

Myrian Thereza de Moura Serra Pró-Reitora de Ensino e Graduação

Leny Caselli Anzai Pró-Reitora de Pós-Graduação

Adnauer Tarquínio Daltro Pró-Reitor de Pesquisa

Carlos Rinaldi Coordenador UAB/UFMT

Kátia Morosov Alonso Diretora do Instituto de Educação


Oreste Preti

Estudar a distância:
Uma aventura acadêmica

Licenciatura em Pedagogia
– Modalidade a Distância –
Oreste Preti

Estudar a distância:
Uma aventura acadêmica

Licenciatura em Pedagogia
– Modalidade a Distância –

Cuiabá, 2009
Conselho Editorial

Kátia Morosov Alonso


Maria Lúcia Cavalli Neder
Paulo Speller
Maria de Lourdes Bandeira De Lamonica Freire
Sandra Regina Geiss Lorensini
Rosiméry Celeste Petter
Silas Borges Monteiro
Lúcia Helena Vendrúsculo Possari

Preti, Oreste
Estudar a distância : uma aventura acadêmica : licenciatura
em pedagogia para modalidade a distância / Oreste Preti. --
Cuiabá, MT: Central de Texto : EdUFMT, 2009.

Bibliografia.
ISBN 978-85-88696-69-3

1. Educação a distância 2. Pedagogia - Estudo e ensino


I. Título.

09-05575 CDD-378.125

Índices para catálogo sistemático:


1. Pedagogia : Educação a distância : Educação superior 378.125

Produção editorial Central de Texto


Projeto gráfico Helton Bastos
Paginação Maike Vanni
Colorização de ilustrações Ronaldo Guarim
Revisão para publicação Henriette Marcey Zanini

Ilustrações Cândida Bitencourt


Revisão do Nead Germano Aleixo Filho

Núcleo de Educação Aberta e a Distância


Av. Fernando Corrêa da Costa, s/ nº
Campus Universitário – Cuiabá-MT
www.nead.ufmt.br – tel: (65) 3615-8438
Dedico esse texto didático a meus pais, camponeses,
Preti Bortolo e Pari Cristina (in memoriam),
que apoiaram minha decisão de trocar a enxada pela caneta, a planície padana
italiana pela imensidão da região mato-grossense, acompanhando (a distância),
com afeto e incentivo, minha aventura docente aqui no Brasil.
Amiga e amigo estudante:

Nesse curso, e no campo profissional da Edu-


cação Infantil, há predominância de mulheres.
Nos diálogos, ao longo do texto, teria que me
reportar ao estudante ou à estudante?
Nos fascículos de “A Aventura de Ser Estudan-
te”, elaborados para o curso de Pedagogia – Li-
cenciatura para os Anos Iniciais, utilizei o gênero
feminino. As acadêmicas ficaram agradecidas,
mas houve acadêmicos que manifestaram seu
sentimento de estranhamento e de exclusão na leitura desses fascículos. Concordei
com eles, mas ...
AMIGO ESTUDANTE, matriculado neste curso de Licenciatura para a Educação
Infantil.
Imagine, você, como se sentiriam suas colegas ao lerem estes fascículos dirigidos a
um leitor masculino. Será que não sentiriam o mesmo que aqueles acadêmicos, exclu-
ídas do diálogo com o autor?
A gramática impõe o uso do gênero masculino.
A Rede Mulher de Gênero encoraja uma linguagem menos sexista, com vista a
conferir espaços sociais e biológicos para homens e mulheres, sugerindo o uso do
símbolo @ que, apesar de gramaticalmente incorreto, é amplamente utilizado na co-
municação mediatizada pelo computador. Alguns países, como o Canadá, exigem que
se utilizem os dois gêneros (ex. O profissional e a profissional da Educação Infantil têm
como função o cuidar e o educar.....), tornando, a meu ver, a leitura do texto cansativa
e repetitiva.
A questão não é meramente gramatical. Não se trata também de atender sim-
plesmente à maioria (como ficaria a minoria?), nem de afirmar o espaço da atividade
profissional na Educação Infantil como essencialmente feminino.
Implica, isto sim, uma luta histórica de reconhecimento social do trabalho feminino
na educação, da valorização da profissão docente que, por questões econômicas e
históricas, deixou de ser espaço predominantemente masculino.
Como autor dos fascículos, segui o caminho apontado pelo grande educador Paulo
Freire, além de me apoiar num dos princípios que embasam a proposta pedagógica
deste curso: a diversidade.
Por isso, optei por utilizar o gênero feminino.
Você teria outra saída, ou qualquer uma delas continuaria sendo sexista, pois o
problema é outro, bem mais complexo, de ordem cultural, política e social do que sim-
plesmente gramatical, quando não circunscrito ao campo jurídico?
Amigo estudante, você se lembra da música de Baby Consuelo, Didi Gomes e Pepeu
Gomes “Masculino e Feminino”?

Ser um homem feminino


Não fere o meu lado masculino
Se Deus é menina e menino
Sou masculino e feminino
Olhei tudo que aprendi
E um belo dia eu vi
Que ser um homem feminino
Não fere o meu lado masculino
[...]
Salve, salve a alegria
A pureza e a fantasia
Vou assim todo o tempo
Vivendo e aprendendo.

Por isso, AMIGO ESTUDANTE, ao me referir à estudante não se sinta excluído!

Saudações amigas,
Prof. Oreste Preti.

P. S.: Por uma daquelas felizes coincidências, semanas após ter redigido este texto,
veio parar em minhas mãos a obra “Feminino e Masculino: uma nova consciência para
o encontro das diferenças”, de Rose Marie Muraro e Leonardo Boff (Ed. Sextante). Sua
leitura, certamente, poderá trazer novas luzes a esse debate.
Pedindo licença para me apresentar

O primeiro desafio que tive pela frente, ao escrever esses fascículos, e o seu, ao
iniciar sua leitura, é o fato de não nos conhecermos, ainda.
Por isso, proponho que o conhecimento sobre “quem somos” seja o ponto de parti-
da neste encontro mediado pelo texto. Você poderá fazê-lo enviando-me mensagem,
com texto e foto, se quiser, para meu endereço eletrônico: oreste@nead.ufmt.br. Eu o
farei, agora, mediante a palavra escrita.
Sou Oreste Preti, oriundo da Itália e naturalizado brasileiro. Vim para Mato Grosso
há mais de 30 anos e passei a maioria destes aqui em Cuiabá, como professor da Univer-
sidade Federal de Mato Grosso, atuando no departamento de Teorias e Fundamentos
da Educação. Sempre trabalhei com a formação de professores, sobretudo em áreas de
fronteira agrícola, ao norte do Estado, a mais de 600km da Capital. Em 1992 fiz parte
da equipe que, no interior da universidade, se propôs buscar outras saídas para dar
conta do contingente de professores não titulados em nível superior que atuavam na
rede pública em Mato Grosso (na época eram mais de 5.000). Para superar as distân-
cias geográficas e os escassos recursos financeiros e humanos, a alternativa que foi se
desenhando como mais viável foi a modalidade de Educação a Distância.
Tivemos de superar preconceitos e resistências quanto à modalidade, no interior do
próprio Instituto de Educação e nas instâncias por onde a proposta teve de passar para re-
ceber sua aprovação. Fazer educação a distância, naquele momento, era um ato de cora-
gem e de temeridade, pois essa modalidade era avaliada negativamente pela maioria dos
educadores e gestores da Educação, era considerada uma “educação de 3ª categoria”!
Em fevereiro de 1995 iniciávamos a primeira experiência, no país, de um curso de
graduação a distância. Este curso se disseminou por todo o Estado, atingindo mais
de 5.500 professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e também expandiu-se
para outros Estados, onde as universidades públicas locais assumiram a coordenação e
execução do curso de Licenciatura.
Atualmente, mais de 200 instituições (públicas e privadas) são credenciadas para
oferecer cursos a distância. Estima-se que quase 1 milhão são os alunos matriculados.
O que estou propondo, na caminhada deste Guia, é o resultado de reflexões particula-
res e coletivas construídas durante mais de 20 anos, como pesquisador e como professor
de Metodologia da Pesquisa, em cursos de graduação e pós-graduação. Confesso, porém,
que a reelaboração deste material foi assumida por mim como novo desafio, não somen-
te pelo curto prazo e pelas inúmeras atividades que me roubam o tempo da leitura e da
reflexão, como pela expectativa que tenho em relação à sua sólida formação e ao quadro
dos profissionais que atuam na Educação Infantil, por seus saberes e competências.
Reconheço que todo texto é provisório e limitante. Por isso, as críticas que você fizer
a esses fascículos serão bem-vindas. Ficarei agradecido.
Apresentando a aventura

Pensando em você, profissional da Educação, ocupada e preocupada com suas


atividades profissionais e domésticas e, agora, universitária, escrevi este Guia Meto-
dológico.
Na sociedade brasileira, ao Pensando em você, amadurecida e qualificada pela escola da vida, mas vivendo
lado de uma indústria da “fome num contexto econômico e educacional que, talvez, não lhe tenha possibilitado acesso
de alimentos”, existe uma habitual a livros e revistas, ou não a incentivasse ao gosto pela leitura de textos, venho
indústria da “fome de ler”. lhe propor que construa sua própria maneira de ser como estudante e leitora. Espero
Ezequiel T. da Silva que se torne pessoa crítica e ativa na descoberta do mundo, no seu processo de cons-
trução do conhecimento, de sua “autonomia intelectual”, de intervenção no seu campo
profissional e de participação na transformação da sociedade.
Você está estudando num curso “a distância”, sem a presença física e cotidiana de
professores, porém não deverá sentir-se sozinha, pois poderá dialogar com orientado-
res e colegas de curso. Este Guia propõe estimulá-la a descobrir outras maneiras de
você “estar” no mundo como estudante, de “estar junto” de orientadores e colegas, de
tornar o curso a distância um espaço de “encontro”.
Essa obra que trata da sua aventura de ser estudante não foi pensada como obra
Acadêmia – Região ajardinada, teórica sobre as bases e os fundamentos da atividade acadêmica, ou obra que pretende
perto de Atenas, consagrada desvelar os “caminhos tortuosos e complicados” da atividade científica. Em contrário,
ao herói grego Akademos, busca possibilitar-lhe abertura ao mundo da academia e a novos campos do saber, des-
onde Platão dava suas cortinando horizontes, alargando o diálogo entre estudantes e professores do mundo
lições de filosofia. Sinônimo inteiro (por isso é universidade!), com suas exigências, suas normas, com seu ritual e
de escola superior. ritmo de trabalho.
Existe vasta literatura consagrada à Metodologia do Trabalho Intelectual, cuja
indicação se encontra ao final do Fascículo Quatro e que poderá ser consultada na
biblioteca da sua universidade ou, certamente, no Centro de Apoio do seu curso ou na
biblioteca pública de seu município.
Sei, por outro lado, das dificuldades de acesso a essas obras. Por isso, escrevi este
Guia Metodológico que não tem outra pretensão a não ser ajudá-la a ter sucesso no es-
tudo, na sua aventura de ser estudante, fornecendo orientações, sugerindo estratégias,
instrumentos, e propiciando-lhe o exercício de algumas técnicas para que você possa
realizar sua caminhada no curso com produtividade e satisfação. Foi produzido com a
intenção de lhe servir de apoio ao longo do curso, como uma espécie de vade-mécum
(vai comigo), um livro de consulta, e não como material para ser “estudado”.
Dividi, então, este Guia Metodológico em dois fascículos, cada um em duas partes,
formando um todo. Você poderá, porém, consultar os fascículos e os capítulos separa-
damente, no decorrer do seu percurso acadêmico, a depender de suas indagações.
No primeiro fascículo, parte 1 – Ser estudante “a distância”, em sua abertura reflito
um pouco sobre o que significa estudar num curso a distância, e como você poderá es-
tudar. Você é convidada a se conhecer como estudante, descobrindo seus hábitos, seu
jeito de estudar. Receberá algumas orientações práticas para melhor aproveitamento
de seus estudos, para planejamento de seu tempo, o cultivo do hábito de estudo em
pequenos grupos, o registro e o preparo para as avaliações.
Na parte 2, Leitura de textos acadêmicos, discuto sobre diferentes “jeitos” de ler, Ser estudante é um ofício que
sobre o seu “jeito”, e lhe proponho uma abordagem interativa da leitura. Apresento al- se constrói, que se aprende.
gumas estratégias e técnicas de leitura para que você possa compreendê-las, exercitá- (CARITA et al., 2001, p. 121.)
las e se constituir, assim, em leitora autônoma.
No segundo fascículo, parte 1 – A construção da pesquisa – I, você ingressará no
campo da produção acadêmica. Percorrerá os caminhos da investigação científica para
que se dê conta da importância da pesquisa em sua atividade profissional e na sua
formação acadêmica.
Na parte 2, A construção da pesquisa – II, encontrará textos complementares ao
terceiro volume.
Ao final dos fascículos 1 e 2, começamos a elaborar um glossário. Nele encontrará
palavras/termos (identificados pela cor azul) que consideramos merecer breve expli-
cação. Você, à medida que for lendo o fascículo e encontrar palavras novas, poderá ir
acrescentando nesse glossário.
Esses fascículos se apresentam como guia de (auto)formação, para apoiá-la em seu
processo de estudar-aprender e de construção de autonomia intelectual. As condições
de aprendizagem requerem atitude de abertura, de envolvimento e de compromisso.
Interrogue-se sobre seus hábitos como estudante, como profissional, para identi-
ficar aspectos positivos e negativos e, sobretudo, coloque em prática as decisões to-
madas, diante das descobertas, diante do novo e de seus conflitos. A aprendizagem se
dá não pela “aquisição” de conhecimentos, mas pelo desenvolvimento de habilidades
intelectuais e pessoais, por vivenciar novas experiências, por construir novos caminhos,
ou como diria Paulo Freire em sua obra “Educação como prática de liberdade”:
“Aprender é construir, reconstruir, constatar para mudar; o que não se faz sem aber-
tura ao risco e à aventura do espírito”.
Ou, “ser estudante” é uma aventura, é novo desafio que se põe e impõe em sua vida
pessoal, familiar e profissional. E que, certamente, exigirá mudanças, novas atitudes
em sua vida.
A aventura não ultrapassa
somente o conhecer, mas
evidencia um exercício paciente
e impaciente de quem não
pretende tudo simultaneamente,
que percebe e é consciente de
que o processo é uma sucessão
de angústias e de alegrias, de
lágrimas e sorrisos, de incertezas
e segurança, como também
de introspecção tímida ao
Espero que este Guia a ajude nessa sua aventura! arriscado voo da liberdade.
Portanto, mãos à obra! (Paulo Freire, Professora sim, tia não.)
1 Ser estudante
"a distância"

Preparando-me para a Aventura  17


1 – Meu jeito de estudar  35
2 – Estudando e aprendendo  55
3 – Planejando meu estudo  67

4 – Estudando em grupo  81

5 – Fazendo anotações  87

6 – Avaliando minha caminhada  105

Considerações  117

Bibliografia  123
2 Leitura de
Textos acadêmicos

CONTINUANDO A AVENTURA  131


1 – O JEITO E O GOSTO DE CADA LEITOR  133
2 – MEU JEITO DE LER  145
3 – A LEITURA  165
4 – ESTRATÉGIAS DE LEITURA  177
5 – TÉCNICAS DE LEITURA  191
6 – FICHAMENTO 213
CONSIDERAÇÕES  225

BIBLIOGRAFIA  227

INDICAÇÕES PARA LEITURA  231


glossário  235
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Nesta primeira parte do fascículo 1, você encontrará algumas informações
que poderão ajudá-la a ser tão eficiente e produtiva em seus estudos como
você é em suas atividades do dia a dia. Aqui você poderá se reconhecer como
estudante, conhecerá o processo de “como aprende” e identificará estratégias
e caminhos de “como estudar”; o que, seguramente, proporcionará que sua
caminhada no curso seja mais proveitosa e prazerosa.
Por isso, esses primeiros meses serão uma espécie de “preparação”, de “ini-
ciação” à aventura de ser estudante num curso a distância. Que isso implica em
sua vida pessoal e profissional? Que sentidos dar a essa aventura? Que significa
estudar a distância? Como melhor usufruir dessa travessia no curso?
É sobre isso que lhe proponho uma conversa neste início do curso.

De muitos caminhos
um só caminho,
ou de um caminho
muitos caminhos?

Preparando-me
18 para a aventura
Como você está, hoje, ao iniciar o curso? Quais são suas expectativas?

Essas poucas linhas, traçadas aqui como em outras páginas do Guia, foram coloca-
das com o intuito de provocá-la a escrever. Não pretendo limitar suas possibilidades
de expressão escrita. Por isso, se quiser, faça o registro de suas reflexões, suas dúvidas,
seus questionamentos, que irão surgindo ao longo da leitura desse fascículo, como
dos demais no andar do curso, em seu diário pessoal, uma espécie de Memórias da sua
aventura de Ser Estudante!

Você acha que Ser Estudante é uma aventura? Que sentidos você dá ao título deste
guia metodológico?

Convido você, amiga leitora, que busque em suas memórias, ou em suas fantasias
e sonhos, uma situação em que uma aventura se tenha configurado, desenhado, para
ir estabelecendo comparações, identificando divergências, diferenças com o que irei
expor, e ir tecendo a trama de sua aventura.
Feche seus olhos e se deixe levar nessa aventura, como barco em alto-mar, acom-
panhando o balanço das ondas e a direção dos ventos, ou como pássaro voando para
atingir os picos da montanha, em voos ousados e desafiadores. Mas tenha sempre à
mão a bússola para se orientar na aventura, e o olhar fixo nos objetivos e nos sonhos
a alcançar.

Preparando-me
para a aventura 19
1 | A aventura

A palavra “aventura”, etimologicamente, significa “o que vem pela frente” (ad-veni-


re). Implica situações novas e atitudes a serem desencadeadas diante dessas situações
que você precisará identificar e analisar para poder tomar decisões que a levem para
onde quer ir. Pode ser associada a situações lúdicas, gostosas, e também pode remeter
a momentos de perplexidade, de surpresa. Veja algumas possibilidades de sentidos.

1.1 |  “Aventura”, inicialmente, pode comportar situações não previsíveis, que não
podem ser antecipadas. Você poderá estar se perguntando: o que me espera pela fren-
te? Como será o curso? Será que vou dar conta?

Determinação passa a ideia ㍟㍟ A não-previsibilidade traz sentimentos de incerteza, de estar diante do “incógnito”,
de algo já demarcado, que do não-saber, do inesperado, do que escapa ao programado, do definido. Existem si-
não pode ser modificado. tuações e condições objetivas (muito mais do que “determinações”), (im)postas pelas
políticas econômicas e sociais, pelo sistema educacional, pelas instituições em que
você atua ou com as quais se relaciona. Existem as condições/situações subjetivas, sua
vida particular e familiar, sua formação, seus valores e crenças. Ainda mais você, sendo
mulher, muito mais oprimida e dominada em nossa sociedade ocidental e que busca
hoje sua libertação, seu espaço de atuação. São condições/situações que não podem
ser antecipadas. Vão acontecendo, se configurando, se constituindo, nos atingindo e
nos transformando, num processo contínuo e incessante de auto-organização, (auto)
formação.

Eu atravesso as coisas e no meio da travessia não vejo! Só


estava entretido na ideia dos lugares de saída e de chegada
[...] a gente quer passar um rio a nado e passa; mas vai dar
na outra banda e num ponto muito mais baixo, bem diverso
do que em primeiro se pensou. Viver não é muito perigoso?
(Guimarães Rosa, Grande sertão: Veredas)

Preparando-me
20 para a aventura
㍟㍟ Mas, o não previsível pode apontar, por outro lado, o novo, a descoberta, a con-
quista. Você poderá se aventurar por “mares nunca dantes navegados”, para atingir
novas fronteiras, superando os limites postos e impostos, em busca de novos mundos,
de novas terras, à conquista de novos territórios. Sentir-se-á bandeirante, exploradora,
heroína, participante ativa de sua própria aventura.
É o momento em que ingressa em “novos” territórios, espaços, valores, concepções,
em que encontra, defronta e afronta situações novas e sujeitos diferentes. Aventura,
então, é travessia, é abandonar a margem segura em que está apoiada e seguir rumo
à outra margem. No meio, tudo pode acontecer!
Talvez já tenha vivenciado situações parecidas com essa que Guimarães Rosa descreve.
Você deixa a margem segura da situação em que se encontra em busca da outra mar-
gem, sem ter certeza em que tudo isso vai dar, mas se aventura pelo desejo de realizar
projetos, pela insatisfação perante a situação atual, por situações inesperadas. Não
importa o motivo, é impulsionada pela busca de sua realização pessoal e profissional.

㍟㍟ Essa não-previsibilidade pode provocar, também, emoção, desejo, prazer, pois a As raízes de uma árvore podem
perspectiva dos desafios, dos sonhos a alcançar, dos desejos a realizar a impulsiona ser amargas, mas o que importa
para a ação e, mesmo que o êxito não surja de imediato, pela ação é possível lançar é que seus frutos sejam doces,
perspectivas para o êxito. abundantes e saborosos.
(Provérbio oriental)
Como lidar com esses sentimentos, aparentemente opostos, de incerteza, que a
assustam, e do desejo da descoberta que a incitam e motivam para continuar na aven-
tura?

▶▶ Primeiramente, estando em atitude de “abertura” ao aprender, ao encontro,


à descoberta, à esperança, ao prazer; em atitude de querer aprender com o novo,
com o inesperado, com os acontecimentos, com os outros, e buscar meios para que
isso se realize.

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do


que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
(Raul Seixas)

Estivemos, ao longo de nossa formação, presos às mãos de Atenas (deusa da razão). Para educar, entre tantas
Queremos sempre ter a certeza de que estamos pisando em solo seguro e, como “estu- outras competências, o que
dantes”, queremos respostas às nossas dúvidas, aos nossos questionamentos. importa, principalmente, é abrir a
Por que não sentir a sensação prazerosa de tocar nas mãos de Vênus (deusa do voz que vem do coração.
prazer), para que tenhamos a possibilidade de “sentir” muito mais do que “compreen- (Alceu Vidotti)
der”, de sentir o prazer em aprender, em viver, em estarmos juntos, compartilhando
experiências e saberes?

Preparando-me
para a aventura 21
Diz o dito popular que a vida é uma escola, “a escola da vida”. Aprendemos com a
vida, mas isso exige de nós humildade e sabedoria para aceitar isso e para que a apren-
dizagem se processe.

▶▶ Isso demanda a atitude de escuta, uma atitude de entrega, de liberdade. Mais


do que ouvir, sentir a fala do outro como possibilidade, ao invés de verdade, ou de
ofensa. Aproveitar as oportunidades das falas dos outros para revisitar nosso eu,
sem condenações ou recusas, e, se possível, reinventar conceitos. Na nossa coti-
dianidade somos mais de proferir palavras, não importa o quê, do que escutar, de
saber diferenciar e identificar vozes e sentir as falas dos outros.
“Escuta que eu falo” deve ceder lugar à atitude bíblica do “Fala que eu escuto”. Isso
possibilitará que, em nossa vida, haja encantamento, surpresas, e não a monotonia,
a rotina do fazer cotidiano, ou a “tirania dos fatos”, como nos adverte o sociólogo
Pedro Demo em suas obras.

▶▶ Atitude de comprometimento mais do que envolvimento; de mergulhar com o


coração, de apaixonar-se por aquilo que se está realizando. Estar envolvido com o
que fazemos é perspectiva de aprendizagem, de construção, tornando a aventura
algo inesquecível, entusiasmante, como se uma força divina habitasse dentro de
nós. Envolver significa sentir a sensação de aconchego, de calor, de agradabilidade.
Estar envolvido é deixar-se seduzir. A passagem pelo curso deve ser “sentida” por
você, vivida, usufruída em suas dimensões cognitiva e afetiva.
É fazer diferente do mítico herói grego Ulisses, que queria sentir o canto das sereias
mas que, por medo de ser seduzido por ele, se fez amarrar ao mastro da embarcação
por seus companheiros de aventura. É fazer diferente de seus marinheiros que, ao
passarem pela ilha, remavam com os ouvidos tapados para não ouvir e serem apri-
sionados pelo encanto do canto.

Também as palavras são uma espécie de conchas às


quais temos de encostar o ouvido com humilde atenção,
se quisermos aprender a voz que dentro delas soa.
(Antonino Paglioro)

Muitas vezes, agimos como o astuto Ulisses que quer fruir da beleza do canto sem
a ele sucumbir, ou como marinheiros que recusam enfrentar o perigo do encanto e
conduzem o barco sem usufruir desse prazer sedutor.
Podemos agir diferentemente: abrir os ouvidos e os braços, experimentar, se aventu-
rar e não renunciar, não ficar só no desejo, com medo de ser apanhado por ele. É ousar
como fizeram Adão e Eva, Prometeu, Pandora que romperam com normas e privilégios
divinos, ou até como Ícaro que desafiou a própria natureza, recorrendo a uma técnica
para imitá-la e subvertê-la.

Preparando-me
22 para a aventura
1.2 |  Aventura não é um “aventureirismo”, um jogo, uma brincadeira, um faz de
conta: “Vou entrar para ver o que vai dar; se não gostar, caio fora”. Não é um caminhar
“sem lenço nem documentos”. Seria uma atitude de irresponsabilidade entrar no curso
com esse espírito. É um projeto a ser realizado, materializado, um projeto que é seu,
mas não somente seu.
Inicialmente, é uma proposta institucional, produzida no bojo de políticas educacio-
nais. É o projeto de uma instituição, de parceria com outras instituições, de uma equipe
de educadores que tem objetivos, uma direção, uma intencionalidade, um sonho a
realizar: a formação de profissionais, a ser construída sobre novos paradigmas que
possibilitem o desencadear de práticas inovadoras na vida profissional.
Por isso, ao aceitar entrar nessa aventura, ao ingressar no curso, você firma um
pacto político-pedagógico com a instituição e, indiretamente, com o sistema de ensino,
uma espécie de “aliança”. Nisso, estão implicados a instituição, a prefeitura, a equipe
pedagógica, professores especialistas, orientadores, colegas de curso.
Em segundo lugar, se a proposta dessa aventura é institucional, a decisão de parti-
cipar dela, de estar nela, é sua. Trata-se de seu projeto de vida.
Quando digo que esse envolvimento é pessoal, não significa que é somente seu, mas
que envolve a família, as pessoas que fazem parte do seu cotidiano, que estão ao seu
redor, das pessoas que você ama. Elas, direta ou indiretamente, participarão dessa sua
aventura, algumas para dar apoio, assumindo tarefas que antes eram suas, oferecendo
o ombro amigo nos momentos de desânimo, incentivando; enquanto outras poderão
colocar obstáculos, não aceitando os momentos de afastamento do lar, o tempo ocu-
pado no estudo, suas mudanças na maneira de olhar para a vida, seus ensaios para
novas práticas.
Você está neste curso porque você compactua sua proposta curricular e aposta na
modalidade a distância. Por isso, trata-se de compromisso que não é somente da insti-
tuição implicada, mas, sobretudo, seu.

� Por que está neste curso?


Quais os motivos que a levaram ao curso?

É importante salientar que você não está numa aventura qualquer. É SUA AVENTURA!
As decisões serão pessoais. Você irá definindo o roteiro, tornando-se protagonista
da aventura. Isso demanda responsabilidade, disciplina, reorganização da vida pessoal
e familiar também, desenvolvimento de método de estudo, autogestão, controle do
estresse, autoestima positiva.
Estar nessa aventura, então, é caminhar com sentido, sabendo para onde você está
se dirigindo. Não há vento favorável, nos ensinam os sábios, se o argonauta não sabe a
que porto conduzir com segurança seu navio e atracar.

Preparando-me
para a aventura 23
2 | Educação a distância

No seu município, talvez, como na maioria dos municípios do país, algum curso a
distância está sendo oferecido.

� Você sabe quando começou ser desenvolvida


essa modalidade de ensino e o que vem a ser?

EAD – Educação Aberta Há autores que apontam as origens dessa modalidade de ensino na Antiguidade,
e a Distância; nas Cartas que os Apóstolos escreviam para as comunidades cristãs longínquas. Para
EaD – Educação a Distância outros, o início da Educação a Distância (EaD) foi marcado quando a “Gazeta de Bos-
ton”, em 20 de março de 1728, publicou o anúncio da oferta de um curso de taquigrafia
por correspondência.
No entanto, o desenvolvimento de ações institucionalizadas de EaD vamos encontrá-
lo a partir de meados do século XIX, com a criação das primeiras escolas por correspon-
dência destinadas, por exemplo, ao ensino de línguas, a cursos de contabilidade ou de ex-
tensão universitária em países como a Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos e Suécia.
Com o aperfeiçoamento dos serviços de correio, a agilização dos meios de transpor-
te e com os surgimento do rádio e, posteriormente, da televisão iniciou-se uma fase de
Tele – Do grego: distância. expansão pelo mundo da EaD, ou, como alguns autores preferem, da Teleducação.
Porém, é a partir da década de 1970 que a modalidade a distância passou a fazer parte
das políticas de Estado para dar conta de uma nova conjuntura econômica e política:
crescente demanda de qualificação da mão de obra nas indústrias, graves problemas en-
frentados pelo sistema formal de educação, processo de democratização da sociedade,
desenvolvimento das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTICs).
Mega – Porque atendem a São criadas, assim, as mega-universidades de Educação Aberta e a Distância (EAD)
mais de cem mil estudantes. em diversos países, como Grã-Bretanha, Espanha, Índia, Tailândia, Turquia, Sud-África,
que atendem a cem, duzentos e a mais de quinhentos mil alunos, como a China TV
University System.
Hoje, na maioria dos países do mundo, o ensino a distância vem sendo empregado
em todos os níveis educativos, desde a Educação Básica até a pós-graduação, assim
como também na educação permanente, atendendo a milhões de estudantes que
fazem seus cursos sem sair de casa ou do local de trabalho.
No Brasil, a EaD também tem uma trajetória que se inicia nas décadas de 1930-40,
com a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (1923), mas somente na década de
1970, durante a ditadura militar, é que ela tomará vulto e expressão com a criação, pelo
governo federal, do Programa Nacional de Teleducação (PRONTEL) e com a implemen-
tação de diversos programas nacionais para atender a demandas emergenciais, como o
Projeto Minerva, o MOBRAL, o Programa LOGOS. Mais recentemente, o governo Fede-
ral desenvolveu os Programas Um Salto para o Futuro (1991) e o Telecurso 2000 (1995).
Paralelamente ao caminho percorrido pelo governo federal, encontramos insti-
tuições privadas ou públicas ousando projetos educativos próprios, utilizando-se da
Preparando-me
24 para a aventura
modalidade de Educação a Distância, como o Instituto Universal Brasileiro (1941), o
Centro Educacional de Niterói (CEN), a Fundação Educacional Padre Landall de Moura,
a Fundação Padre Anchieta (1967), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(SENAC, 1976), a Associação Brasileira de Tecnologia Educacional (1971), o Centro de
Educação a Distância (CEAD, 1980) da Universidade de Brasília.
Na trajetória atual da EaD, alguns fatos importantes:

1986: criação de uma comissão de especialistas do MEC e Conselho Federal de


Educação, para a viabilização de propostas em torno da Universidade Aberta, que
somente em 2006 se concretizou;

1992: criação da Coordenadoria Nacional de Educação a Distância na estrutura do


MEC que apresenta o documento “Proposta de Diretrizes de Política para a Educa-
ção a Distância”;

1995: criação da Secretaria de Educação a Distância (SEED), com a finalidade de


desenvolver uma política específica para a EAD;

1996: com a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases, incentiva-se a criação


de sistemas cuja base seja o ensino individualizado, como a EAD (Art. 8º);

1995-2000: algumas universidades públicas começam ensaiar suas primeiras experi-


ências em EaD, com a oferta de cursos de Licenciatura, como a Universidade Federal
de Mato Grosso (1995), a Universidade Federal do Paraná (1998), a Universidade
Estadual do Ceará (1999), a Universidade Estadual de Santa Catarina (1999), etc.;

2006: Pelo Decreto n. 5.800 (8/6/2006) fica instituído o Sistema Universidade Aberta
do Brasil (UAB), com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta pública de cursos
e programas de educação superior no país.

Você sabia que...


... a Universidade Federal de Mato Grosso, por meio do seu Núcleo de Educação Aberta e a Distância (NEAD),
ofereceu o primeiro curso de graduação a distância no país, em 1995, visando a formação dos professores da
rede pública que atuaram nas primeiras quatro séries do Ensino Fundamental? Foi, também, o primeiro curso
de graduação a distância a ser reconhecido pelo MEC (Portaria 3220, 22/11/2002).
Ao longo desses anos o NEAD/UFMT têm atendido a mais de 5 mil professores da rede pública de ensino do
Estado de Mato Grosso, em parceria com a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT).
É importante ressaltar que essa experiência tem se expandido para outros Estados, em parceria com universi-
dades públicas locais, consolidando-se e tornando-se referência nacional no campo da formação de professores
e na modalidade a Distância.
E, agora, está chegando até você que mora no Japão.

Preparando-me
para a aventura 25
Em 2006, mais de 200 instituições credenciadas pelo MEC ofereceram seus cursos
a mais de 1,2 milhão de alunos. Se pensarmos que em 2000 eram apenas algumas
centenas os alunos matriculados nas primeiras 5 instituições credenciadas, podemos
ter uma ideia da expansão dessa modalidade aqui no Brasil.
Assim, o Brasil vem construindo sua história na EaD, ampliando a oferta de cursos,
envolvendo um número cada vez maior de instituições públicas, rompendo com as bar-
reiras do sistema convencional de ensino e buscando formas alternativas para garantir
que a educação inicial e continuada seja direito de todos.
Há, neste sentido, um rompimento do conceito de distância. A educação está mais
próxima para uma parcela cada vez maior da sociedade (não está mais “a distância”,
distante), e as tecnologias da comunicação possibilitam o diálogo e a interação entre
pessoas, em tempo real, tornando sem sentido falar em “distância” no campo da co-
municação.

� Mas, o que vem a


ser Educação a Distância?

Na década de 1970, falava-se da Educação a Distância como uma metodologia,


como uma nova Didática, capaz de organizar uma estrutura voltada para a “auto apren-
dizagem”, para a “independência intelectual”. Acreditava-se estar realizando o sonho
do pedagogo Johannes Amos Comênio (1592-1670) de “ensinar tudo a todos”.
Hoje, prefere-se falar em modalidade, prática educativa, proposta alternativa. Eu,
pessoalmente, a considero uma “prática social situada, mediada e mediatizada, uma
maneira de fazer educação, de democratizar o conhecimento, de disponibilizar mais
uma opção aos sujeitos da ação educativa, fazendo recurso às tecnologias que lhes são
acessíveis (PRETI, 1996, p. 27) e que lhes possibilita a ressignificação de suas práticas
profissionais e sociais, de sua vida, de sua relação consigo mesmo, com os outros, com
o meio.
Para o Ministério da Educação

Educação a distância [caracteriza-se] como modalidade educacional


na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino
e aprendizagem ocorrem com a utilização de meios e tecnologias
de informação e comunicação, com estudantes e professores
desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.
(Decreto n. 6.622, de 19 de dezembro de 2005.)

Preparando-me
26 para a aventura
� Mas, como funciona
um curso a distância?

No projeto político-pedagógico do curso, que você já leu e discutiu com colegas e


orientadores, encontrou explicações detalhadas e particulares sobre o funcionamento
e a organização de um curso dentro da dinâmica do sistema da modalidade a distância.
Se algumas dúvidas ainda permanecem, leia novamente, com maior atenção, o tópico
que trata desse tema. Nada melhor, porém, que a vivência nesse curso para entender
essa dinâmica, não é verdade?

� Quer saber mais sobre


Educação a Distância?

Navegue pela internet e procure textos, artigos, cursos, etc. nos servidores de busca www - world wide web
(como Google, Cadê) e nos seguintes sítios: - rede de alcance mundial.

MEC/SEED (Secretaria de Educação a Distância) ▼


www.mec.gov.br/seed
www.uab.capes.mec.gov.br

Guias ▼
www.guiaead.com.br
www.anuarioead.com.br

Redes ▼
www.unirede.com.br • UNIREDE (Universidade Virtual Pública Brasileira)
www.cederj.edu.br/cecierj • CEDERJ (Centro de Educação Superior a
Distância do Estado do Rio de Janeiro)
www.uvb.br • On-Line UVB (Rede Brasileira de EaD – Universidade Virtual Bras)
www.ricesu.com.br • RICESU (Rede Católica de Ensino Superior)
www.elearningbrasil.com.br • Associação e-learning Brasil
www.senai.br/ead • Rede Senai de EaD
www.abed.org.br • Associação Brasileira de EaD
www.univir.br • Universidade Virtual Brasileira

Revistas – artigos ▼
www.nead.ufmt.br (Produção Científica)
www.icoletiva.com.br
www.nied.unicamp.com.br/oea
www.proinfo.gov.br
www.teleduc.nied.unicamp.br
www.aquifolium.com.br/educacional/artigos
www.saladeaulainterativa.pro.br
Preparando-me
para a aventura 27
3 | Ser estudante “a distância”

� Mas, o que significa ser


estudante a distância?

Fiz opção pela terminologia “es-


tudante” por ser a mais usual nos
diferentes níveis de ensino, além de
apresentar diferentes sentidos em sua
raiz etimológica.
À luz da etimologia, abarca as di-
mensões da reflexão e da emoção, da
razão e da paixão, da ponderação e
do envolvimento, integrando palavra,
ação, sentimento, compreendendo o
Estudar – Do latim studére, ser em sua unidade e totalidade. No
significa: examinar, analisar, estudar há envolvimento reflexivo e
trabalhar em, dedicar-se a, ter prazer, o lado sisudo, duro, a exigir sacrifício, disciplina, renúncia, e o lado prazeroso
afeição a, desejar, comprazer- do conhecimento novo que faz descortinar horizontes mais amplos e paisagens com
se em, interessar-se por. novas cores.
É uma atitude e uma prática que não são passageiras, mas contínuas, permanentes,
ao longo da vida. Daí por que falamos em “ser estudante” e não em “estar estudante”.
Enato – O psicólogo norte- O verbo infinitivo “ser” implica estado, não no sentido de algo fixo, rígido, mas
americano Jerome S. Bruner como atitude permanente, como condição da existência humana e não transitória
(1915-), que pesquisou o (estar). “Ser estudante”, o aprender continuamente, faz parte da condição humana.
desenvolvimento da linguagem Trata-se, porém, de estado não inato, dado (pronto, acabado), mas “enato” (em-ação),
e do conhecimento pelas em construção. Temos que reforçar o verbo ser muito mais do que o substantivo/adje-
crianças, utiliza esse termo tivo estudante, pois somos ação mais que objeto, somos movimento, transformação,
para caracterizar o primeiro mudança, mais do que um estado, algo definido e acabado.
nível de desenvolvimento Por isso, “ser estudante” é condição a ser construída ao longo do curso. O “estar
cognitivo da criança, quando ela numa universidade” tem implicações pessoais, profissionais, sociais e políticas, com
representa o mundo pela ação. repercussões durante o curso, ao longo de toda vida. Contudo, dependerá de você se
colocar nesse curso, nessa instituição em atitude de “ser estudante”, não como alguém
que busca simplesmente um título, esperando impacientemente pelo rito de passagem
para uma titulação superior. O ser estudante é uma atitude “a ser construída por você”,
com o apoio da sua instituição.
É também atitude a ser construída ao longo da profissão. Esse curso foi proposto
para que você pudesse fazer uma avaliação da sua maneira de atuar como profissional,
da sua pedagogia, dos conhecimentos teóricos e metodológicos, da visão de mundo
que nutre seu cotidiano. Estar no curso é um momento único e privilegiado que você
está tendo. Poderá agarrá-lo e aproveitá-lo, como passar por ele e sair dele tendo con-
tribuído muito pouco na modificação de sua prática profissional e de sua vida.
Preparando-me
28 para a aventura
Trata-se também de atitude a ser construída ao longo da vida. Sobretudo porque o
ato de estudar, de aprender, implica em atividade não somente cognitiva, mas também
afetiva e corporal, durante toda vida, desenvolvendo no ser humano qualidades como
autoconhecimento, autonomia, auto-organização.
Finalmente, não podemos tomar “estudante” como substantivo genérico (ser “um”
estudante), ou idealizado (ser “o” estudante), com capacidade de abarcar a totalidade, Leia a obra bem-humorada
esquecendo as diferenças de gênero. O estudante e a estudante têm aspectos que os de Allan e Bárbara Pease (Por
aproximam e outros que os diferenciam. Quanto mais as ciências que estudam o cére- que os homens fazem sexo e as
bro humano (como as biociências, as neurociências, as ciências cognitivas) avançam, mulheres fazem amor?), e a de
mais se explicitam as diferenças entre os sexos, configurando-as como sendo históricas, J. Gray (Homens são de Marte,
sociais, culturais, próprias da constituição humana ao longo de milhões de anos de sua Mulheres são de Vênus).
história, fruto de suas ações, intervenções e transformações.

Precisamos aprender a lidar com


as diferenças e não pretender
que sejamos idênticos, iguais
na maneira de estudar, de
pensar, de perceber, de sentir, de
manifestar, de agir, de intervir…

A universidade necessita tornar-se “univer-sidade”, ter atitude “universal”,atendendo,


ao mesmo tempo, à “diversidade”. Daí, a “plasticidade” de um curso a distância que se
propõe dar conta de ritmos e formas diferenciados de aprender e que tem como ob-
jetivo possibilitar mudanças, transformações da profissional da educação, que atua na
rede de ensino, e da mulher, da cidadã, participante ativa dessa aventura.

� Mas, o que significa ser estudante num curso a distância? É possível “estu-
dar a distância”, sem a presença física do professor e/ou da instituição? Você
pode “aprender a distância”?
Os adjetivos passam,
os substantivos ficam.
(Machado de Assis)

Analisemos alguns pontos, desatemos alguns


dos “nós” dessas questões.
Você notou como, na educação, adoramos uti-
lizar adjetivos para qualificar nossa ação? Falamos
em “educação ambiental, educação para a vida,
educação sexual, educação para o trânsito, educa-
ção crítica, educação tradicional”, etc. E agora, “edu-
cação a distância”. Falamos em “professor reflexivo,
professor crítico, professor investigador, etc”.
O perigo é centrarmos a atenção nos adjetivos
e esquecermos o fundamental, os substantivos:
“educação”, “professor”.
Preparando-me
para a aventura 29
� Mas, por que
“a distância”?

Essa expressão é usada com o intuito de fazer, geralmente, o contraponto com o


“presencial”. Acho que isso está sendo superado. É uma discussão inócua, que não leva
a nada. Mais que tudo porque as bases teóricas e metodológicas são as mesmas. O que
fazemos, fundamentalmente, nesse ou naquele “formato”, é EDUCAÇÃO!
Hoje, as novas tecnologias nos aproximam cada vez mais e melhor, permitem mo-
Sincrônico – Ao mesmo tempo mentos de diálogo sincrônico, de encontro, de vivência, de trocas.
Cleci Maraschin (2000), em seu texto “A sociedade do conhecimento e a Educação
a Distância”, expõe claramente que a educação é um ato de encontro, de convivência,
em que há suspensão temporal e espacial da distância. Pois esse encontro não significa
simplesmente encontro de corpos, mas pode significar encontro de olhares, de senti-
mentos, de pensamentos.
A letra da música “Pela luz dos olhos teus”, de Vinicius de Moraes, é fantástica:

Quando a luz dos olhos meus


e a luz dos olhos teus
resolvem se encontrar...
Ai que bom que isso é!

O encontro de olhares permite o conhecimento do outro e o conhecimento de si


mesmo pelo olhar do outro.
Você deve ter experimentado a sensação gostosa de pensar na pessoa amada e senti-
la a seu lado, não é? Como nos diz José Armando Valente, professor da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), trata-se de um “estar junto virtual”. Por isso, na EaD
fazemos EDUCAÇÃO SEM DISTÂNCIAS!!

� Mas, como se dá esse “estar juntos”? Como dar conta dessa aventura pesso-
al/coletiva, particular/institucional? Como você será orientada e apoiada?

O projeto político-pedagógico do curso e a modalidade a distância organizaram


um sistema de apoio para lhe possibilitar sucesso nessa aventura. Vejamos alguns dos
“Instrumentos de apoio” à aventura de ser estudante”.

㍟㍟ O primeiro “instrumento” indispensável e que deverá acompanhar todo o percurso


da aventura é o Projeto Pedagógico do curso.
Não pode ser encarado como livro sagrado, no qual você encontrará respostas para
tudo e a ser seguido ao pé da letra; nem como guia rodoviário: “Siga-me e chegará a
porto seguro!”
Preparando-me
30 para a aventura
Pode tratar o projeto político-pedagógico como texto hermenêutico a ser “desco- Hermenêutico – Relativo à
berto e interpretado”, isto é, estudado, destrinçado, situado, compreendido, ressigni- interpretação de leis, de textos.
ficado na cotidianeidade das práticas do curso, refletindo sobre elas. Pode entendê-lo
também como mapa em que estão delineados os pontos de referência e de orientação
(morro, lago, rio, sol, estrelas) para que você possa chegar ao objetivo de sua caminha-
da: encontrar o tesouro (descobrirá, talvez, ao final da aventura, que esse tesouro é você
mesma, mas renovada, revigorada, transformada). Caberá a você, com o apoio institu-
cional, decidir se quer subir o morro ou dar a volta; se atravessar a nado o rio, ou fazer
uma parada, construir uma canoa e fazer a travessia; se guiar-se pela luz do Sol, como
sendo única referência, ou pela luz de outros sóis, das estrelas, que se tornam visíveis
na escuridão da noite, nos momentos de incerteza e dúvida, como o personagem Mika, Ninguém pode construir em teu
vindo de outro planeta, lembra ao amigo terrestre Joakim (Ei! Tem alguém aí? – Vale a lugar as pontes que precisarás
pena você ler esse livro de Jostein Gaarder, autor do livro O mundo de Sofia!). passar para atravessar o rio da
Portanto, o projeto não pode ser tomado como propondo "verdades". Pois, segundo a vida – ninguém, exceto tu, só tu.
advertência do escritor e poeta libanês Gibran Khalil Gibran, em suas Parábolas (p. 46): (Nietzsche)

Muitas doutrinas são como a vidraça da janela.


Vemos através dela, mas ela nos separa da verdade.

㍟㍟ Os materiais didáticos são outros “instrumentos” disponibilizados. Eles foram pen-


sados e vêm sendo produzidos especificamente para você. Porém, as reações e atitudes
de cada um, ao ler os conteúdos propositivos, serão diferenciadas. Alguns serão levados
ao questionamento reconstrutivo, à ressignificação de práticas, por alguma das áreas
do Núcleo Epistemológico, enquanto outros pela área de Linguagem, ou de Gestão, ou
de Educação Infantil, ou de História. Não importa. Acreditamos que isso ocorrerá em
algum momento, talvez no início do curso, quando não ao final, ou depois do curso.
Não existe um campo do saber que melhor nos “forma”, ou uma sequência de dis-
ciplinas que venham garantir uma compreensão dos fatos, superando o senso comum.
Dar-se-á conta de que qualquer área do conhecimento pode ser o ponto de partida para
uma nova visão de mundo, de sociedade, de escola, e que os conhecimentos estão inter-
ligados, uma área necessitando de outras para uma leitura contextualizada, situada.
Por isso, os materiais didáticos não podem ser tomados como pedaços de um todo,
de um conhecimento a ser simplesmente apropriado e reproduzido, ou como fragmen-
tos de uma verdade, e sim como parte de uma proposta formativa que, mesmo com
suas opções teóricas e metodológicas, tem unidade, sentido e direção. Trata-se de uma
direção, mas não a única; de um discurso, mas não fechado em si mesmo; de uma ver-
dade, mas que não pode ser tomada como sendo a Verdade!
Temos que entender também que o material didático do curso apresenta suas li-
mitações. É um recorte no campo do saber que necessita ser expandido com a leitura
de outros materiais bibliográficos e com a pesquisa. Limitar sua formação à leitura dos
fascículos é empobrecer sua formação!
Preparando-me
para a aventura 31
㍟㍟ Um terceiro “instrumento” é a equipe pedagógica do curso (professores espe-
cialistas, coordenadores, orientadores). Estão a seu dispor para dar apoio no campo
cognitivo, metacognitivo, pedagógico, motivacional, emocional. Apontam direções
e oferecem opções, disponibilizam informações, dialogam com base nos textos lidos,
nas atividades realizadas, nas dúvidas levantadas, mas sem precisar dar respostas nem
soluções, apoiam e orientam pesquisas, provocam inquietação buscando levá-la ao
“questionamento reconstrutivo”, como propõe o sociólogo Pedro Demo.
O projeto aposta numa pedagogia da pergunta, da incerteza, do diálogo, e não
na pedagogia da resposta, da certeza e do monólogo. Pois, para o educador Rubem
Alves...

As respostas nos permitem andar sobre terra firme. Mas somente


as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.

㍟㍟ Outro “instrumento” é a organização institucional. É uma instituição que está a seu


dispor, e não simplesmente este ou aquele professor ou orientador. Aqui está a diferen-
ça, a meu ver, de muitos cursos “presenciais”, em que o professor é o regente, o virador,
o malabarista (aplaudido nas salas superlotadas de cursinhos vestibulares), o “artista”.
Na modalidade a distância é o coletivo que pensa, discute, toma as decisões, as execu-
ta, as avalia e redimensiona. Trata-se de “sistema ensinante” (como afirma a educadora
Maria Luíza Belloni), ou melhor, de “comunidade aprendente” (como o antropólogo
Carlos R. Brandão gosta de chamar a instituição escolar). Pois, nesta aventura, todos
estão em processo ativo de aprender, todos estão envolvidos e participando.

㍟㍟ A organização estudantil é outra possibilidade de apoio em sua formação profissional


e política. A instituição, enquanto tal, tem suas Normas, o curso tem seu Regulamento,
Discente – quem que você deverá se preocupar em conhecer para saber de seus deveres e direitos. Por
aprende, estudante. outro lado, há instâncias de representação discente, como o Colegiado de Curso, em
que você, na qualidade de estudante, tem seu assento garantido (por meio do processo
Docente – quem de representação estudantil), podendo participar das discussões e decisões que afetam
ensina, professor. sua vida no curso e na instituição. E mais ainda. Você faz parte de uma grande comu-
nidade: os estudantes universitários de sua instituição, que se organizam em Centros
Acadêmicos (por curso) e Diretório Central de Estudantes (DCE – que abarca todos os
alunos da instituição). Finalmente, você participa também do mundo universitário bra-
sileiro que se organiza mediante a União Nacional de Estudantes (UNE).

㍟㍟ Os colegas de curso são também “instrumento” precioso nessa caminhada. É


verdade que ninguém aprende por nós, que a aprendizagem é um processo pessoal
e particular, mas é, igualmente, social, coletivo. Portanto, o encontro com os colegas
pode se tornar ponto de apoio necessário, mas não exclusivo, para a aprendizagem, e
fator de estímulo para que não desanime da aventura, dela desistindo.
Preparando-me
32 para a aventura
O estudo em grupo e a participação
em atividades de equipe podem se tornar
espaços ricos de troca de experiências e
saberes, sem esquecer que o estudo pes-
soal sempre o antecede.
Um time não vai a campo sem o treino
e a preparação individual dos atletas; uma
orquestra não se apresenta sem o disci-
plinado e minucioso ensaio individual dos
músicos. Há os momentos de acompanhar
e apoiar os demais, assim como há o mo-
mento do solo.
Sua aventura, portanto, não é solitária. Você conta com o apoio e a presença da
equipe pedagógica, da instituição, dos colegas. Pode haver muito mais solidariedade
do que solidão, mais presencialidade do que ausência ou distância!

㍟㍟ Um último instrumento, mas que não o é em ordem de importância e de numera-


ção, é a bagagem de suas experiências e saberes que você traz para essa aventura. Na
sua mochila está a riqueza do seu passado e do seu presente como pessoa, estudante
e profissional, carregando seus alimentos e suas ferramentas para essa aventura.
Por isso, esse curso propõe como um dos princípios epistemológicos e pedagógicos
a experiência profissional, o seu trabalho a ser constantemente observado, analisado,
compreendido e reconstruído durante todo o percurso.
São “instrumentos” que possibilitam mudanças, transformações. Pois o objetivo do
curso não é simplesmente melhor qualificar o profissional, tornando-o mais compe-
tente, mais eficiente. O curso intenta formar o cidadão, isto é, um sujeito humanizado,
sensível, globalmente capacitado para atuar como pessoa crítica e criativa.

Em busca de sentidos e valores

Entre tantas outras coisas que poderiam ser ditas nessa sua preparação para a Todo discurso é ideológico
aventura, há uma que, em meu ver, deveria ter sido dita desde o início, mas que, pro- e político. É espaço de
positadamente, deixei agora para o final. disputa e arena de luta.
Tudo o que escrevi até aqui e a partir daqui são sentidos e valores dados por mim,
como autor. Você, ao ler este texto, foi emprestando seus sentidos, foi conferindo seus
valores, como leitora.
Portanto, há os sentidos e valores do autor, bem assim os sentidos e valores do lei-
tor que, não necessariamente, devem coincidir. Pois, eu falo de um lugar não somente
territorial, mas sobretudo social, cultural e temporal que me fez como tal; o mesmo se
dando com você, leitora, que se constitui em outro lugar, em outro contexto, em outra
cultura, em determinado tempo.
Em alguns pontos e lugares do caminho nos encontramos, em outros nos afastamos.
Experiências, vivências, visões de mundo nos fazem “parecidos” em alguns aspectos,
Preparando-me
para a aventura 33
pois fazemos parte da mesma história política, do mesmo contexto socioeconômico;
mas “diferentes” em muitos outros, pois cada um tem sua história particular. Há sen-
tidos (im)postos pela cultura, pelo coletivo e sentidos que afloram do próprio sujeito,
da sua maneira de ser e se posicionar no mundo, de suas trajetórias, suas decisões e
opções ao longo de sua história de vida, pois os sentidos revelam concepções, visões
de mundo, crenças, valores, expectativas, sonhos, desejos. São sentidos aflorados,
provocados pelas palavras e pelas emoções. Nós somos palavras e emoções; no mais
das vezes, mais palavras que emoções. Há momentos em que as palavras são indizíveis,
não exprimindo todos os sentidos que queremos a elas atribuir, limitando-nos, embora
possam nos transportar para o mundo do outro.
É a entonação que convence, Há outros momentos em que as palavras são mágicas, envolventes, produzindo
e não a palavra. impactos, transformando realidades, criando em nós outras conexões ou fantasias, não
(Madame de Girardin) porque elas têm essa força dentro delas, mas porque quem as profere e/ou quem as
“sente” é mágico, envolvente, sonhador.
Por outro lado, as palavras constroem um discurso que pode se instituir como verda-
Foucault (1926-1984) – Filósofo de, como nos chama a atenção Michel Foucault, um discurso unidirecional, a-dialógico,
francês, abriu novos horizontes fechado em si mesmo, não revelativo, não hermenêutico, não aceitando outros senti-
à história e à epistemologia. dos, outras direções, outras verdades. Assim, as palavras estariam apagando sensibili-
dades, imaginações, conexões, provocações e revelações.
Por isso, a “ditadura” da palavra e do discurso “monológico” pode ser rompida pelas
emoções, oferecendo novos sentidos e rumos. Pois a realidade é polifonia, é o encontro
de diversos “eus”, em nós mesmos e na relação com os outros, de diferenças de subje-
tividades, de multiplicidade de identidades.
Sendo assim, espero que meu texto não tenha o caráter de imbuir verdades, de
pretender produzir harmonia sonora e agradável, mas que ele, com acordes e notas
dissonantes, possa contribuir na (des)construção de conceitos e de práticas que, talvez,
ao longo desse curso, você desejará ressignificar.

A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor


entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa
propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.
(Mario Quintana, A Coisa.)

Preparando-me
34 para a aventura
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1
de
Ao final do estudo deste capítulo, você terá condições de:

㍟㍟ descrever sua trajetória como estudante;

㍟㍟ identificar seus hábitos de estudo;

㍟㍟ descrever sua postura diante de uma atividade de estudo.

Que é nosso passado, senão uma Ao iniciar esta nova aventura, a de ser estudante, quero lhe propor que abra o baú
série de sonhos? Que diferença das suas lembranças, onde você vem guardando, não de hoje, seus primeiros cadernos
pode haver entre recordar de escola, boletins, fotos, diários... Lembranças de sua trajetória escolar, de seus pro-
sonhos e recordar o passado? fessores, colegas, suas aprendizagens, experiências, seus medos, sucessos, sonhos...
(Jorge L. Borges, Cinco,
visões pessoais.)
Lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com
imagens e ideias de hoje, as experiências do passado.
(Ecléa Bosi, 1979, p. 17.)

Meu jeito
36 de estudar
... e comece a escrever suas MEMÓRIAS de estudante, do jeito que você quiser, por
escrito, com desenhos, em forma de poesia, de peça teatral, em vídeo.... no seu estilo,
na sua maneira de ser, de pensar, de se manifestar, sem preocupação com regras, com É no jogo das tramas,
limites, com censuras. de que a vida faz
É sua história, é sua biografia, é um voltar-se sobre você para se compreender. É o parte, que ela – a vida
registro de sua vivência pessoal, como estudante, sem esquecer que você fez e conti- – ganha sentido.
nua fazendo parte de uma História maior, de um contexto político, econômico, social (Paulo Freire)
e cultural!

Conto o passado [...] não propriamente em função do


ponto de chegada (não “cheguei” ainda, bem o sei),
mas em função do ponto em que agora estou.
(SOARES, 2001, p. 41.)

Podemos acenar a algumas pistas que poderão servir ou não na construção de suas Só consegui recompor o
Memórias de Estudante: passado com um pé na
erudição e outro na magia.
▶▶ Como foi sua trajetória escolar? (Marguerite Yourcenar,
escritora belga.)
▶▶ Que lembranças ficaram, que foram marcantes sobre a escola, colegas e
professores?

▶▶ O que lhe agradou e desagradou? O que foi bom, o que foi ruim?

▶▶ Que disciplinas e que tipo de professores lhe agradavam ou desagradavam?

▶▶ Como você era como estudante?

▶▶ Qual era a “pedagogia” da sua escola? Que valores, concepções e práticas


eram “aprovados”?

▶▶ Em que contexto político e educacional você vivenciou essa experiência?

▶▶ Quais expectativas em relação a esse curso a distãncia?

▶▶ Como você se sente como estudante nesse curso?

▶▶ Como pretende organizar seu tempo, sua vida, para poder fazer bem sua
caminhada no curso?

Meu jeito
de estudar 37
Sim, não nego que, ao avistar a cidade natal, tive uma sensação
nova. Não era efeito da minha pátria política; era-o do lugar
da infância, a rua, a torre, o chafariz da esquina, a mulher de
mantilha, o preto do ganho, as coisas e cenas da meninice,
buriladas na memória. Nada mesmo que uma renascença.
(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.)

O tempo passado e o tempo Certamente, será interessante conversar com pais, avós, tios e tias, irmãos, colegas
futuro, o que poderia ter sido e (e, quem sabe, professoras) ...... para que a ajudem a buscar, no fundo do baú, memórias
o que foi, convergem para um de fatos passados, vividos.
só fim, que é sempre presente. Neste início do curso vá escrevendo essas memórias do EU ESTUDANTE.
(T. S. Eliot, poeta.) Você pode dar outro título, como outros fizeram: Um reencontro com minhas me-
mórias; Pedaços de tempo, pedaços de vida; Lembranças de estudante...
Sugerimos que essa produção seja socializada num encontro com os demais colegas
do município, ou do Polo, ou do curso. E que você continue escrevendo esse Memorial,
fazendo o registro de sua travessia nesse curso!

Nunca nasci, nunca vivi;


mas eu me lembro e a A (re)construção do [...] passado é seletiva; faço-o a partir
lembrança é em carne viva. do presente, pois é este que me aponta o que é importante
(Clarice Lispector, romancista e e o que não é; não descrevo, pois; interpreto.
novelista brasileira, 1925-77.) (SOARES, 2001, p. 40.)

1 | Conhecer-se

Conhece-te a ti mesmo – e Você deve ter ouvido e lido muitas vezes a célebre frase
conhecereis o universo do filósofo grego Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Sobre
e os deuses. ela, muito se tem escrito, com diferentes compreensões e
(Inscrição do Templo de interpretações.
Delfos - Grécia.) O que você pensa a esse respeito? É uma frase feita? É re-
petida sem se pensar muito no que ela quer dizer, ou ela revela
sentidos profundos? Como você a interpreta?

Meu jeito
38 de estudar
Somos resultado do passado. Nosso pensamento se funda no dia de
ontem e em muitos milhares de dias passados. Somos resultado do
tempo, e nossas reações, nossas atitudes atuais, são efeitos acumulados
de muitos milhares de momentos, incidentes e experiências.
(Krishnamurti, A primeira e última liberdade.)

Não há dúvida de que o conhecimento de si mesmo é o ponto de partida para estar


bem consigo e para o conhecimento do outro. E você quem atua ou vai atuar num
campo profissional em que o conhecimento de si e do outro é fundamental, é impor-
tante que você se conheça, antes de tudo, como pessoa, como mulher/homem, como
cidadão/cidadã e também como estudante.
Esse processo de autoconhecimento certamente contribuirá positivamente para
que sua caminhada no curso seja efetiva e prazerosa.
O que propomos é que você, mediante a leitura das páginas que seguem, e de outros
textos, inicie e/ou dê continuidade ao processo de autoconhecimento.
Vejamos, então, alguns aspectos do seu modo de ser e que, ao serem identificados
e compreendidos, podem ajudá-la a se conhecer e a melhor definir suas estratégias de
estudo.

☞ As alternativas que encontrará não são excludentes e nem as únicas.


Você poderá se identificar com uma ou duas, ou com nenhuma delas.
O importante aqui não é buscar se colocar dentro de uma “classificação” (ser
Segundo o Conselho
Federal de Psicologia, todo
e qualquer instrumento
isto ou ser aquilo), mas que as questões postas levem você a parar um pouco, de técnica e avaliação
olhar para si, descobrir como você é diante de uma atividade de estudo, e quais psicológica é de uso
as estratégias que você utiliza para aprender. exclusivo do psicólogo.

Qual é seu ciclo psicofisiológico? ▼

Trata-se do ciclo ligado a processos biológicos e ao meio físico, objeto de estudo da


Cronobiologia, ciência surgida na década de 1960, que estuda a organização temporal
dos seres vivos, ou seja, os ritmos de vida.
Ela tem verificado que os ritmos biológicos do corpo humano são diferenciados. A
temperatura do corpo sofre variações ao longo do dia; o ponto mais alto é mais propício
para o desenvolvimento de atividades. E isso varia de pessoa para pessoa.
Em que momento do dia você tem mais disposição, torna-se mais irritada ou mais Qualquer semelhança com
calma? Durante a semana, quais os dias em que você rende mais? algum desses animais é
Em relação ao tempo, você é muito mais parecida com a coruja (que vara a noite mera coincidência!
estudando) ou com a cotovia (que madruga para dar conta das tarefas)?
Em relação ao ritmo, você se parece com a tartaruga (sem pressa, bem devagar),
com o coelho (sempre apressadinha), ou com o sapo (dando pulos, de uma atividade
para outra)? Ou você se identifica melhor com outro “animal”?
Meu jeito
de estudar 39
Qual é o seu ritmo de vida?

De que maneira você capta a informação do meio? ▼

Sua recepção é mais:

⮒⮒ visual – sua memória é fotográfica, você tem que estar com o texto na sua fren-
te, lendo para acompanhar as ideias do autor, do palestrante. Você capta as infor-
mações quando consegue “visualizá-las”, isto é, você imagina aquela cena, aquele
personagem, aquela época. Você localiza a informação no texto, lembra do lugar
em que está, da página, do formato. As imagens do texto lido vão passando na sua
frente como numa tela de cinema e você vai falando ou escrevendo sobre elas.

⮒⮒ auditiva – você interioriza as informações, consegue acompanhar a leitura ou


uma fala simplesmente ouvindo e consegue repetir logo em seguida o que ouviu.
Sua memória é mais de sons do que de imagens. Sua percepção é mais abstrata
do que concreta.

⮒⮒ cinestética – você precisa de movimento para que a informação fique retida,


isto é, precisa fazer, envolver seu corpo com movimentos. Não basta ler ou ouvir
uma informação. Tem que encontrar uma maneira de “traduzi-la”, mediante dese-
nhos, gráficos, exercícios, representações, gestos, etc.

Ou você é nada disso ou um pouco de tudo isso? Como você costuma mais facil-
mente guardar uma informação?

Meu jeito
40 de estudar
Para melhor entender isso, realize a atividade seguinte. ▼

Leia, em voz alta e cadenciada, o seguinte texto:

O homem hesitou por um minuto, depois se decidiu bruscamente a correr para uma
viatura, parada perto da calçada. Diante da viatura esperava uma mulher de capa
preta. A chuva, que caía há três dias copiosamente, tinha transformado o caminho
em um atoleiro opaco. O homem atacou, na viatura, dois homens que sorriam.

Leia, silenciosamente, o texto “Ser Estudante a Distância”, na página 28. Em segui-


da, retorne a esta página.

Retornou? Tente, agora, dizer o que você se lembra do texto lido em voz alta, há
pouco (“O homem hesitou...”).
Você conseguiu lembrar?

⮒⮒ Sim  ▶ Você tem boa memória auditiva.

⮒⮒ Não  ▶ Não desanime e nem se preocupe. Talvez você não estivesse suficien-
temente concentrada ou “ligada” na leitura. Então, repita o exercício uma ou duas
vezes. Ou sua memória é mais visual.

E como está sua memória visual? ▼

Sugiro que realize o “Teste de percepção visual” (Figura 1), disponibilizado na p. 126
deste fascículo, seguindo as orientações prescritas. Em seguida, volte a esta página.
Agora, escreva, à frente de cada número, o nome do objeto observado, sem voltar
à última página para tirar dúvidas!

N. Nome do objeto N. Nome do objeto


1 11
2 12
3 13
4 14
5 15
6 16
7 17
8 18
9 19
10 20

Meu jeito
de estudar 41
Agora, pode voltar à última página e conferir o número de acertos!

Como você se saiu? Quantos acertos obteve?

 entre 15-20  10-14  5-9  até 4

☞ Não fique triste se alcançou uma baixa pontuação (até 9). Isso não sig-
nifica que não tenha boa percepção visual. Terá que se exercitar mais,
fazendo exercícios desse tipo, para treinar e reforçar sua memória.
Se você conseguiu acertar mais da metade, parabéns!

Descreva, agora, o mecanismo, a estratégia utilizada por você na tentativa de me-


morizar os objetos.

Vamos a mais um teste? Então observe a Figura 2 – de uma paisagem – na p. 127


deste fascículo. Em seguida, retorne a esta página e tente descrever, logo abaixo, o
que você viu.

Agora, e somente agora, compare o que acabou de escrever com a figura da última
página. Veja se na sua descrição esqueceu elementos centrais ou detalhes da paisa-
gem.

O que na verdade ocorre é que, para percebermos algo, temos que ordenar, sis-
tematizar, relacionar e reconstruir nosso objeto de percepção. Pois, dessa forma,
chegaremos a entendê-lo, porque conseguimos senti-lo de forma organizada, esta-
belecendo relações entre os objetos. Isso é fundamental na atividade de estudo e de
aprendizagem!

Meu jeito
42 de estudar
Você é dependente ou independente de seu campo de percepção? ▼

Ao realizar suas atividades de estudo ou de trabalho, como você costuma se com-


portar? Você é:

⮒⮒ Dependente – sua motivação é extrínseca, vem de fora. Você desenvolve as


atividades propostas impulsionada por motivos, por forças externas (estímulo das
pessoas, por “obrigação”). Por isso, prefere trabalhar em grupo, num ambiente
adequado, pois aí você consegue estudar, realizar as tarefas.

⮒⮒ Independente – a motivação é interna, intrínseca. Você é levada por motivações


muito pessoais, não precisa que o orientador, os colegas de estudo ou da escola,
os familiares motivem você para o estudo. Por isso, geralmente, prefere trabalhar
sozinha e se sente bem com tarefas que exigem de você análise e pesquisa na so-
lução de problemas.

Ao realizar trabalho em equipe ▼

Você é do tipo:

⮒⮒ Chupim – que põe os ovos nos ninhos alheios para que as outras aves incubem
e cuidem de seus filhotes?

⮒⮒ João-de-barro – que faz seu próprio ninho e cuida dos filhotes?

⮒⮒ Prestativo – oferecendo-se para realizar as atividades?

⮒⮒ “Fujão” – esquivando-se de assumir tarefas, empurrando-as sempre para os

⮒⮒ Outros – arrumando mil desculpas?

⮒⮒ “Estou-nem-aí” – dá a entender que vai realizar alguma tarefa, mas não a faz e
arruma desculpas esfarrapadas para justificar.

⮒⮒ Galinha-d'angola – aquela que, enfraquecida, sempre se diminui na feitura de


um trabalho, ficando na dependência do outro, num eterno gritar: estou-fraca,
estou-fraca.

Como você se percebe?

Meu jeito
de estudar 43
Qual é o seu temperamento? ▼

Você é do tipo

⮒⮒ Emotivo – você facilmente manifesta suas emoções e motivações. Vibra com


o que está fazendo. Inicia logo, e com entusiasmo, as atividades, mas é dispersivo,
pouco disciplinado (pula de uma atividade para outra) e temperamental (suscetível
a mudanças).

⮒⮒ Passivo – você é mais calmo e manifesta suas emoções aos poucos, com reser-
va. Em relação ao estudo, tem dificuldade para iniciar o trabalho e para se concen-
trar, mas depois que “pega”, vai.

⮒⮒ Primário – tem presença de espírito, manifesta espontaneidade, mas é incons-


tante.

⮒⮒ Secundário – é reservado, reflexivo, consciencioso, mas com um pouco de ri-


gidez no pensar, não aceitando facilmente as ideias do outro. Demora para tomar
decisões, mas é persistente depois de tomá-las.

Como você se percebe?

Qual seu “estilo” de aprendizado? ▼

⮒⮒ Ativo – aprende melhor com atividades, quando está envolvido nelas;

⮒⮒ Pragmático – aprende melhor quando há uma ligação direta do assunto com


situações da vida real. Dá preferência às atividades práticas.

⮒⮒ Reflexivo – aprende com atividades que oferecem oportunidade de revisar, com


tempo para rever, reler com calma;

⮒⮒ Teórico – aproveita bem atividades quando oferecidas como parte de um con-


ceito ou teoria. Gosta de textos que discutem questões teóricas.

Meu jeito
44 de estudar
Que tipo de atividade e/ou leitura você prefere para sua aprendizagem?

Que tipo de abordagem você utiliza para resolver um problema? ▼

⮒⮒ Procedimento “às apalpadelas” (ensaio e erro) – Vai fazendo e refazendo até


acertar. Lê e relê insistentemente, na esperança de chegar ao entendimento de
maneira natural.

⮒⮒ Heureca (“descobri”) – A solução do problema é fruto do esforço, de pensar Heureca - 1ª pessoa do perfeito
sobre o problema e buscar soluções. do indicativo ativo do verbo
grego heurísko, achar, descobrir
⮒⮒ “Insight”, “há-há” (você tem um palpite súbito) – De repente, quando menos - atribuída a Arquimedes
espera, encontra a solução do problema de maneira simples, como se um clarão ao descobrir o princípio da
iluminasse sua mente. gravidade específica.

⮒⮒ Procedimento sistemático, organizado, metódico.

Descreva abaixo como você costuma proceder.

Lembra daquela espécie de enigma do canoeiro que deve atravessar o rio com um
lobo, um carneiro e um pé de couve? Ele pode atravessar somente um objeto por vez,
tendo o cuidado para que o lobo não fique sozinho com o carneiro (que banquete!) e
nem o carneiro com a couve (hum, que fome!). Que sugestão você daria ao canoeiro?

Meu jeito
de estudar 45
Descreva a estratégia que você utilizou para resolver a situação.

A porta da razão A emoção e a razão se constituem mutuamente. Aquilo


é o coração. que faz parte do nosso intelecto e o que diz respeito
(P. Freire) à nossa emoção não são coisas separadas.

Quanto à organização do tempo ▼

Como você lida com o tempo? Você é do tipo:

⮒⮒ Malabarista – pula de uma tarefa para outra, quer dar conta de diferentes ati-
vidades ao mesmo tempo.

⮒⮒ Perfeccionista – quer fazer tudo “certinho” e acaba não terminando nos prazos
estabelecidos.

⮒⮒ Alérgico a detalhes – começa logo a executar uma tarefa, sem planejá-la devi-
damente, e com isso acaba se perdendo;

⮒⮒ Zé-do-muro – nunca toma decisões, vai levando o estudo ao acaso, do jeito que
vier, como e quando der;

⮒⮒ Protelador – seu lema é “Não faça hoje o que puder deixar para amanhã!”; deixa
tudo para a última hora, na véspera de exames ou de entregar trabalhos.

Como você é?

Meu jeito
46 de estudar
Quanto à organização do espaço ▼

Você é do tipo:

⮒⮒ tudo-para-fora – total desorganização, tudo esparramado, fora de lugar, ale-


gando que logo irá precisar do material e, portanto, por que guardar livros, aposti-
las, canetas, etc.?

⮒⮒ nada-para-fora – detesta desordem e bagunça. Não inicia o estudo sem que


tenha tudo guardado nas gavetas e prateleiras; nada em cima da mesa.

⮒⮒ arrumador – confunde organização com arrumação.

⮒⮒ guardador – é compulsivamente levada a guardar tudo (rascunhos, anotações,


fotocópias, trabalhos, etc.), pois acredita que um dia irá precisar.

⮒⮒ desajeitado – desleixado, acredita ter coisas mais importantes do que estar


arrumando sua mesa, seu material de estudo.

⮒⮒ ou então

Você encontrará, ao final dessa parte 1, a indicação de obras que tratam de manei- Esses “testes”
ra mais aprofundada dessas diferentes maneiras de ser estudante. Hoje, também na não são confiáveis, não têm
internet, há sítios que disponibilizam “testes” de Quociente Intelectual (QI), de perso- validade como instrumentos
nalidade, de autoconhecimento, de autoajuda. Não os tome como se tivessem o poder de avaliação pessoal!
de desvelar como você é, mas como indicativos, apontando tendências, aspectos de
seu modo de ser. Nada melhor do que a atitude do observador e do narrador. Observe
como você é e registre suas percepções e análises. Isso a ajudará no processo de auto-
conhecimento, autoestima e reflexão.

O conhecimento de si deve levá-la a gostar de si, à autoestima


positiva, a se sentir realizada na profissão que exerce, ao
equilíbrio, ao bem-estar, ao “sucesso” no estudo: aspectos
fundamentais para viver bem e para aprender.

Vamos, agora, direcionar seu autoconhecimento para um aspecto mais específico:


o ato de estudar.

Meu jeito
de estudar 47
2 | Como estudamos?

No andar de sua trajetória escolar, certamente você vivenciou situações tais como:
colegas com dificuldades de aprendizagem, ou abandonando os estudos; uns poucos
conseguindo ótimos resultados nas avaliações, enquanto a maioria apresentando de-
sempenho tido por “regular”, alguns sendo reprovados.
Como você avalia seu passado escolar? Como foi seu “desempenho”? A que motivos
ou fatores atribui esse seu desempenho nos estudos?

Se nunca abandonas o que é Os motivos, os fatores ou as dimensões envolvidos no “desempenho” podem ser os
importante para ti, se te importas mais diferentes, relacionados com seu modo de ser, com o ambiente escolar e familiar,
tanto a ponto de estares além, é claro, com as condições econômicas, culturais.
disposto a lutar para obtê-lo, Hoje, existe uma vasta literatura sobre “Como obter sucesso”, “Como passar no Ves-
asseguro-te que tua vida estará tibular”, “Vestibular sem estresse”, “Seja ótimo aluno” ,”Como tirar lições do fracasso”.
plena de êxito. Será uma vida Cursos são oferecidos com o intuito de levar o interessado a “aprender a aprender”,
dura [...], mas valerá a pena. a “adquirir segurança, a poupar tempo, a eliminar tensões e ansiedades”, a propiciar
(Richard Bach, escritor “velocidade e qualidade na recepção e elaboração das informações”. Todos oferecendo
norte-americano.) receitas ou pílulas. É só tomar e pronto: o milagre está feito!

O sucesso depende de três fatores:


o talento, o trabalho e a chance.
(Voltaire, filósofo francês.)

O sucesso é fruto de 1% de talento,


1% de sorte e 98% de trabalho.
(Ryoki Inoue, escritor brasileiro com o maior número de livros
publicados no mundo. Mais de 1.030 livros, segundo o Guinness.)

Você concorda com essas afirmações? Por quê?

Meu jeito
48 de estudar
Estudos realizados nos Estados Unidos e na Europa, na década de 1970-80, sobre
a “eficácia nos estudos”, têm comprovado que a maioria dos estudantes universitários
apresenta dificuldades de aprendizagem. Mais ainda:

▶▶ Elas são influenciadas por problemas de leitura e de compreensão;

▶▶ Sua superação depende da adoção de estratégias metacognitivas (“aprender a


aprender”) e de orientações motivacionais.

Em outras palavras, a maioria dos estudantes não tem “método de estudo” eficaz. Por que eles foram os primeiros.
Essa situação tem provocado o aparecimento de considerável literatura sobre “Como (Veja, 27/2/02, p. 86-91.)
estudar”, tem levado instituições educacionais a desenvolver cursos de “Metodologia A receita dos bons alunos.
Intelectual”, de “Metodologia Científica”, ou “Projeto de Orientação de Estudo”, para (Veja, 26/5/04, p. 106-8.)
que os estudantes aprendam a estudar. Até uma nova profissão está surgindo: o “pro-
fessor delivery”, que vai às residências de estudantes, não para dar “aula de reforço”,
mas para ensinar como estudar.

� Como você estuda? Quais são seus “hábitos” de estudante?


Qual o método que você utiliza para estudar?
Está sendo “eficiente”? Poderia ser mais “eficiente”?

Feche um pouco este fascículo e dê um tempo para refletir sobre estas questões. O maior inimigo do
Em seguida, retome a leitura. Mas, veja bem, não vá deixar a gente de lado. Volte, progresso é o hábito.
para continuarmos nossa conversa, OK? (José Martí, poeta cubano.)

Sucesso é poder viver do seu jeito.


(Christopher Marley, escritor
norte-americano.)

Que bom que você voltou! Isso mostra


seu interesse. Vamos prosseguir, então.
Para você se conhecer como estu-
dante, é importante que identifique seus
hábitos de estudo e avalie se eles ajudam
ou atrapalham sua aprendizagem.
Gostaria, então, que você respondes-
se ao questionário a seguir para identifi-
car alguns de seus hábitos de estudo, o
seu jeito de estudar.

Meu jeito
de estudar 49
Procure ler, examinar e marcar o que você de fato faz, evitando deixar-se influen-
ciar pelo que gostaria de fazer ou por aquilo que os outros fazem. ▼

Diante de cada item, você encontrará três colunas:


1 raramente/nunca  |  2 de vez em quando  |  3 geralmente/sempre

Sua resposta consiste em colocar um sinal (x) para cada item, na coluna adequada.

1 2 3
Quando leio um texto explicativo, científico, pela primeira vez, tenho dificul-
1 dade em compreendê-lo.   
Tenho dificuldade para identificar os pontos mais importantes, as ideias prin-
2 cipais do texto que estou lendo.   
Quando encontro pontos que me parecem confusos, sigo em frente. Não volto
3 atrás para reler.   
Sinto dificuldade em me concentrar no que estou estudando. Depois que
4 termino a leitura lembro muito pouco do que acabei de ler.   

5 Enquanto estudo, minha fantasia "voa" longe, fico "sonhando".   

6 Levo tempo para iniciar o estudo e me concentrar no que estou lendo.   


Dedico mais tempo de estudo aos temas ou disciplinas que considero mais
7 "fáceis".   
Gasto muito tempo no estudo de certos assuntos e me falta tempo para ou-
8 tros. Meu tempo não é bem-distribuído.   
Minhas horas de estudo são constantemente interrompidas por conversas,
9 barulhos, chamadas telefônicas, familiares, visitas, etc.   

10 Acho difícil terminar um trabalho escolar no tempo determinado.   

11 Prefiro estudar com outras pessoas a fazê-lo sozinha.   

12 Prejudico o estudo em grupo com brincadeiras ou bate-papos.   


Ocupo muito do meu tempo livre assistindo a programas de televisão, ouvindo
13 música, quando não preocupado com a vida social (festas, passeios, etc.).   

14 Deixo para dedicar mais tempo ao estudo em véspera de provas.   


Quando devo me dedicar ao estudo, frequentemente sinto cansaço, sono ou
15 falta de motivação.   
Fico muito tempo sem rever o que estudo. Depois que termino uma leitura,
16 deixo passar uns dias antes de retomá-la.   
A antipatia que sinto por certos temas, certas disciplinas ou professores, me
17 impede a motivação e o empenho no estudo daquele tema ou disciplina.   
Nos exames, sinto-me confusa e nervosa. Esqueço quase tudo e não produzo
18 como seria capaz.   

Resultado A
Continua...

Meu jeito
50 de estudar
1 2 3
Antes de começar a leitura de um livro, costumo dar uma olhada no sumário,
19 na apresentação, na introdução.   

20 Costumo ler um texto duas ou mais vezes.   


Consulto sempre um dicionário ou enciclopédia para verificar palavras, nomes,
21 doutrinas ou fatos que aparecem no texto e que desconheço.   
Procuro aprender e estudar um pouco mais do que está sendo solicitado pelo
22 professor ou que é assunto para exame.   
Procuro compreender cada ponto do que estou estudando, parte por parte,
23 evitando, assim, ter de voltar para trás para tirar dúvidas.   
Procuro relacionar e associar o tema que estou estudando com outros já
24 estudados.   

25 Procuro anotar, resumir e fichar o que estou lendo.   


Nos exames, procuro compreender bem as perguntas e preparar mentalmen-
26 te a resposta, antes de começar a escrever.   

27 Tenho o hábito de estudar diariamente.   

28 Termino meus exames e os entrego antes do tempo fixado.   

Resultado B
Fonte: G. Severo e C. G. Erenn (adaptação).

Some os X em cada coluna, dos itens 1 a 18 (resultado A) e dos itens 19 a 28 (resul-


tado B), separadamente.

☞ Seus hábitos de estudo são “positivos” ou “negativos”?


Um resultado “negativo” significa que a resposta marcada por você
coincide com a de estudantes com menos rendimento. Este valor negativo é
mais significativo quanto maior o número de respostas correspondentes à colu-
na 3 (no resultado A ) e à coluna 1 (resultado B).
O valor do “escore” indica o grau de importância de cada hábito. Escore – resultado expresso
Um resultado “positivo” (coluna 1 no resultado A, e coluna 3 no resultado B) em números; contagem.
indica que tais hábitos são mais comuns entre estudantes que apresentam ótimo
rendimento em seus estudos.
Talvez, os hábitos que receberam conotação negativa possam ser o motivo
de suas dificuldades em conseguir melhor rendimento em seus estudos.

A todo hábito que pode causar rendimento baixo, é possível


opor um hábito que corrija o rendimento, tornando-o mais
satisfatório. Depende de interesse, exercício e esforço.

Meu jeito
de estudar 51
Realize,agora, esta outra atividade:

Leia o texto a seguir, antes de fazer qualquer coisa, mas trabalhe o mais rapida-
mente que puder. Você tem somente 40 segundos para responder. ▼

Nome:
Profissão: Data: _____/_____/_______

1. Ponha seu nome no local indicado, à esquerda; o sobrenome primeiro.


2. Faça um círculo na palavra nome, no item 1.
3. Sublinhe a expressão “local indicado”, no item 1.
4. Faça um círculo ao redor da palavra “sublinhe”, no item 3.
5. Escreva o nome da cidade onde mora:
6. Escreva a data de hoje, no local indicado.
7. Qual seu estado civil?
8. Qual seu passatempo preferido?
9. Trace um círculo ao redor da palavra “cidade”, no item 5.
10. Escreva sua profissão no local indicado.
11. Agora que você leu todas as instruções, faça apenas aquilo que o item 1 pede
para fazer.

Obrigado!

☞ O que você fez? Leu todas as questões antes de escrever somente seu
nome, ou foi lendo e fazendo o que cada item estava solicitando?
Gostou dessa “pegadinha”? Pois bem, este teste que você acabou de realizar
tinha como finalidade verificar sua atenção na leitura, se você presta atenção às
instruções!

Você já parou para avaliar sua habilidade na compreensão de um texto?


Ao estudarmos, concentramo-nos e empregamos todos os nossos recursos pessoais
na apreensão, compreensão e fixação de determinadas informações que nos levam ao
domínio de um conteúdo específico ou de uma área do conhecimento.

Sugiro, então, que realize o teste seguinte, a fim de verificar como está, nesse mo-
mento, sua capacidade de compreensão de um texto.

Meu jeito
52 de estudar
Leia silenciosamente e atentamente. Busque o sentido de cada palavra. Não im-
porta o tempo necessário, esqueça o relógio. ▼

O termo TONO é utilizado em fisiologia. Possui um sentido preciso, mas restrito. Ca-
racteriza essencialmente o estado de um músculo. No caso de seres multicelulares,
certas células adquirem a propriedade de se diminuir e se alongar. As extremidades
dessas fibras podem ser unidas, seja diretamente, seja por intermédio de formações
fibrosas (tendões), ou de alavancas rígidas (ossos).
Existem dois tipos de fibras musculares: as estriadas e as lisas. Ambas possuem
propriedades fundamentais:
a - excitabilidade: é a capacidade de responder a um estímulo;
b - condutibilidade: capacidade de transmitir o estado de excitação;
c - elasticidade: capacidade de recuperar sua forma após uma deformação.

Agora que você concluiu a leitura do texto, responda ao questionário, assinalando


as questões que estão certas e erradas. Preste bastante atenção e não recorra ao texto
para tirar dúvidas.

Questões Certo Errado

1 O termo TONO é usado em fisiologia.  

2 O termo TONO tem um sentido amplo.  

3 O termo TONO caracteriza o estado de um músculo.  


No caso dos seres multicelulares, as células não adquirem a propriedade de
4 diminuir uma de suas dimensões.  

5 Os tendões são formações fibrosas.  

6 Os ossos são alavancas flexíveis.  

7 Existem dois tipos de fibras musculares.  


Fonte: Albert Morsel. Como ativar o poder da mente. 1971, p. 19-20.

☞ Agora confira suas respostas, voltando ao texto lido. Se você conse-


guiu, pelo menos, quatro respostas corretas, muito bem! Se não con-
seguiu, não desanime. Colocamos, propositadamente, esse trecho retirado de
um texto de Biologia. Muitas vezes, as dificuldades na leitura e na compreensão
de um texto se devem ao fato de ser de uma área com a qual temos pouca ou
nenhuma familiaridade. Sobre isso voltaremos a conversar mais demoradamen-
te na parte 2.
Se quiser dar uma olhadela, vá em frente. Depois volte aqui, que estou es-
perando por você.
Meu jeito
de estudar 53
Ao realizar esses “testes”, deve ter percebido que a utilização das vias sensoriais,
como audição, visão, verbalização, motricidade, é muito importante para conseguir
compreensão do objeto de estudo. Quando desenvolvemos quaisquer atividades,
estamos com todos os sentidos “ligados”, mesmo que não percebamos isso. Ao estu-
darmos, precisamos ativar todos os sentidos, a fim de estabelecermos conexões com
nosso objeto de estudo, favorecendo a apreensão dos dados mais relevantes.
Mas não se esqueça: sua motivação é a base de sua aprendizagem.

Você deve ter lido ou ouvido que nós retemos:


10% do que lemos
20% do que lemos e ouvimos
30% do que ouvimos
50% do que escutamos e vimos
70% do que discutimos
90% do que realizamos.

Você concorda com isso? Como tem sido sua experiência em relação a isso?

O que você pensa sobre isso?

Diga-me, que eu esqueço.


Ensina-me, e eu lembro.
Envolva-me, e eu aprendo.
(Confúcio, filósofo chinês, fundador da religião “Confucionismo”.)

Meu jeito
54 de estudar
ap E
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do o e

55
2
Estudando
e aprendendo
Ao final do estudo deste capítulo, você terá condição de:

㍟㍟ Compreender como se dá o processo de aprender;

㍟㍟ Definir quais os procedimentos a adotar para tornar seu estudo eficiente;

㍟㍟ planejar sua caminhada nesta aventura.

� Para aprender é preciso estudar?


Pode-se aprender sem estudar e estudar sem aprender?

O que você pensa sobre isso?

Estudando
56 e aprendendo
1 | Como aprendemos

O cotidiano nos fornece momentos diversos e ricos de aprendizagem. Quando


visitamos a horta ou a lavoura de alguém da comunidade, um viveiro ou uma fazen-
da experimental, um local onde ocorreu algum fato importante para a comunidade
local; quando participamos de reuniões de um conselho ou de assembleias de uma
associação ou sindicato, quando assistimos a um programa de rádio ou de televisão,
quando conversamos com alguém, etc., a aprendizagem estará ocorrendo de maneira
espontânea.

Um “bate-papo”
nem sempre é uma
conversa fiada!!!

Observe que, quando estamos reunidos com alguém ou com um grupo de pessoas, Mais importante que
conversando informalmente (um bate-papo), discutimos inúmeros assuntos. Falamos aprender é nunca perder a
de nossas atividades profissionais, de nossa família, conversamos sobre a mudança de capacidade de aprender.
nossa moeda, comentamos a respeito de nossos salários, os preços nos mercados e (Leonardo Boff,
feiras, de doenças, de ervas curativas, alimentação, etc. Nesse “bate-papo”, enfocamos teólogo brasileiro.)
assuntos dos mais diversos: educação, política, economia, medicina e outros. Trocamos
ideias e aprendemos por intermédio das experiências e dos conhecimentos de outras
pessoas. Esses conhecimentos adquiridos você acabará utilizando em outros encontros
informais, enriquecendo as discussões no grupo.
Você já teve a oportunidade de assistir a um filme que tenha despertado sua aten-
ção, deve ter participado de algum passeio ou excursão, já participou de alguma pales-
tra, realizou viagens a serviço ou de férias. Note que, com todas essas atividades, você
ampliou seu horizonte de conhecimentos, e isso se deu de forma assistemática.
Outra forma de aprendizado assistemático é quando um ofício é passado de pai para
filho. Um bom exemplo disso é o que ocorre no campo, com as famílias de agricultores.
Os filhos aprendem o trabalho agrícola no dia a dia, com os pais.
Você deve saber de outros casos de ofício que foi passado de geração a geração,
como: família de pescadores, as rendeiras (lá no nordeste do país), as bordadeiras, as
doceiras, os marceneiros, etc.
Estudando
e aprendendo 57
Aqui se verifica não só o aprendizado de uma profissão, como também a transmis-
são dos valores e da cultura de um povo.
Quando você aprende algo, e isso se torna parte do seu cotidiano, parece-lhe ser
um tanto natural, inconsciente, automático, que acontece sem você se dar conta. Você
está aprendendo sem estudar.
Aprender – do latim apprehendere: Porém, você pode estudar, e não aprender. Isto pode ocorrer, por exemplo, no mo-
agarrar, apoderar-se, chegar ao mento em que as condições ambientais (barulho, iluminação, acomodação, etc.), ou
conhecimento, compreender, as condições subjetivas (cansaço, mal-estar, preocupações, etc.), ou o seu método de
alcançar o desejado, abarcar.... estudo não favoreçam o aprendizado.
Pois, toda aprendizagem é “consciente”, deliberada, pensada, resultado de esfor-
ços, de superação do não-saber.
Você poderá, então, se perguntar: há fatores (internos e/ ou externos) que podem
ser “controláveis”, que podem facilitar o processo de aprender? Existem ferramentas
cognitivas que promovem a aprendizagem? Pode-se aprender “a distância” ou somente
presencialmente? Como aprende um adulto?

▶▶ Pode-se estudar e não aprender (esforço ineficiente).

▶▶ Pode-se aprender sem estudar (esforço desnecessário).

Estudar e aprender não são sinônimos, mas estão relacionados, caminham juntos.

Questões muito complexas que você irá discutir


no decorrer do curso e, sobretudo, quando estudar o
fascículo de Psicologia. Há diferentes concepções de
aprendizagem e, portanto, diferentes respostas a essas
questões.
Na concepção do grande educador Paulo Freire, não
há como separar o processo de ensinar do processo de
aprender: quem ensina aprende, e quem aprende en-
sina! No entanto, iremos aqui colocar o foco, enfatizar
mais o processo de aprender.
Após mais de um século de estudos e pesquisas, o
que se pode afirmar neste momento é o seguinte:

Estudando
58 e aprendendo
Você aprende:

A  Se estabelece associação e dá sentido ao que está estudando

Ler uma palavra, um parágrafo ou um texto sem entender, e continuar lendo, é irra-
cional. Você aprende o que tem alguma relação com o que conhece, com fatos, lugares
e situações vividas, e o que tem sentido para você.
Como é diferente estar falando sobre educação, escola, aprendizagem com alguém Metáforas, parábolas, contos....
que atua no campo educacional. O que você estará lendo no material didático do curso são estratégias milenares para
terá sentido todo especial, pois você fará logo referência à sua experiência, a fatos e ajudar na compreensão e retenção
situações vividas. Aquilo que está escrito é filtrado pela “leitura” do seu vivido, do seu de fatos, conceitos, valores.
conhecido.
Quer um exemplo? Leia o parágrafo seguinte:
“A influência do benzopireno como fator etiológico de manifestação do carcinoma
broncogênico epidermóide”.

O que entendeu?

Simplesmente, quer dizer:


“A influência da substância contida no cigarro como fator de origem de manifesta-
ção do câncer no pulmão”.

Se teve dificuldades em compreender é porque, certamente, são termos, palavras,


que não fazem parte do seu cotidiano, da sua formação, do seu trabalho. Isso significa
que você não possa entender o parágrafo? Não, mas sua compreensão vai exigir de você
tempo para realizar leituras específicas sobre o assunto, conversar com especialistas da
área, trocar ideias com colegas. Enfim, vai exigir estudo.
Segundo você, é mais fácil compreender e lembrar que 1 hectare = 10.000m2, ou a
imagem de que 1 ha = quase o tamanho de dois campos de futebol?
Portanto, quanto mais emitirmos conexões variadas de um novo dado com outro já
conhecido, mais facilmente criaremos pontes sólidas sobre esse novo conhecimento e
dificilmente o esqueceremos.

No mundo psíquico não há possibilidade de “ilhas”; nossa consciência


está integrada por um contínuo fluir de imagens, sensações,
sentimentos, que se sucedem e entrelaçam, constituindo sempre
um conjunto tão unido, contínuo, como o curso de um rio.
(MYRA Y LOPEZ, 1968, p.33.)

Estudando
e aprendendo 59
B  Se descobre o que deve aprender

Antes de iniciar a leitura de um texto, ou o desenvolvimento de uma atividade aca-


dêmica, identifique os objetivos de aprendizagem propostos pelo curso, por aquela área
do conhecimento, pelo autor do texto, pelo orientador.
Ler ou estudar, apenas por ler ou por estudar, não vai levá-lo ao entendimento do
texto. Perderá seu tempo e acabará se distanciando cada vez mais do significado e
do conteúdo da leitura e do estudo. Temos, muitas vezes, o hábito negativo de iniciar
É impossivel um as leituras sem a clareza dos objetivos, do que estamos fazendo, do porquê daquela
homem aprender leitura. Não é verdade?
aquilo que ele Ao ler um texto, um fascículo do curso, é importante que você perceba o que se
pensa já saber. pretende com aquela leitura, quais os conhecimentos e as competências a serem ad-
(Epíteto) quiridas. Isso estimula e propicia um ambiente de leitura mais produtivo.

Quem aprende pela descoberta tem sete vezes mais


capacidade de quem aprende por ouvir falar.
(A. Guiterman)

C  Se admite que não sabe

Estude sem preconceitos, sem cobrar demais de si mesma, sentindo-se bem em


relação ao não-saber. Não disfarce seu “não-saber” com a síndrome do “hã, hã”, como
se estivesse entendendo o que outro está dizendo ou o que você está lendo. Não deve
ficar com vergonha de dizer “não sei”, “não entendi”. Reconheça suas limitações e se
coloque na atitude de que não saber é um estado libertador, pois abre caminho à curio-
sidade e à aprendizagem.

A aprendizagem Por que me impões o que sabes, se eu quero aprender o


provém de perguntas desconhecido e ser fonte em minha própria descoberta?
e não de respostas! Não quero a verdade. Dá-me o desconhecido.
Como estar no novo sem abandonar o presente? [...]
Deixe que o novo seja o novo, e que o trânsito seja
a negação do presente; deixe que o conhecido seja
minha libertação, não minha escravidão.
(Humberto Maturana, biólogo chileno, El sentido de lo humano, 1996.)

Estudando
60 e aprendendo
D  Se sente “entusiasmo” no que está fazendo Entusiasmo – vem do grego,
significa “ter um deus dentro
Quando você está entusiasmada e ansiosa por aprender algo que lhe interessa muito, de si”. Para os gregos, somente
você diz a si mesma que está motivada pelo assunto. Os motivos da aprendizagem nada as pessoas “entusiasmadas”
mais são do que forças que nos impulsionam em direção ao que queremos aprender e eram capazes de vencer os
nos mantêm “ligados” a essa tarefa de aprender. desafios do cotidiano.
É bom lembrar que, ao contrário do que muitos de nós pensamos, o excesso de in-
teresse por um estudo pode ser tão prejudicial à prendizagem quanto a ausência dele.
A ansiedade excessiva leva o leitor a pular etapas, páginas e, até mesmo, capítulos de
um livro para ir direto ao final, sem entender sua essência.
Responda honestamente a você mesma: quando você está diante de um livro e su-
peransiosa para conhecer o desenlace da trama, que atitude você toma?

⮒⮒ Vou direto ao final do livro e leio o último capítulo, para saber como ele termina. Tudo o que lemos nos
marca, incorporado
⮒⮒ Controlo minha ansiedade e leio o livro inteirinho, até o final, sem pular ne- como vivência.
nhum de seus capítulos. (Marisa Lajolo)

Por outro lado, a ausência de interesse também nos leva à mesma atitude, ainda que
com outra finalidade: terminar o mais rápido possível a leitura, para nos vermos livres
daquele material. Lemos somente porque somos “obrigados”, para cumprir determina-
da necessidade, seja por causa de uma prova, de um trabalho escolar, seja por qualquer
outra atividade pela qual seremos “cobrados”. O estudo sem motivação se torna cansa-
tivo, pois despendemos um tremendo esforço e não aproveitamos quase nada.
O impulso, ou a vontade de aprender, constitui um saldo positivo entre as motivações
atrativas e as motivações repulsivas.
As motivações atrativas são todas aquelas necessidades que nos levam a querer
buscar sempre mais para aprender, tais como: curiosidade, descoberta, desejo de per-
feição, necessidade de nos sairmos bem em determinado assunto.
As motivações repulsivas, antagonicamente às motivações atrativas, são tendências
que nos levam a fugir e a nos afastarmos de determinados temas, em consequência de Não há nada que dê
situações, a exemplo destas: antipatia pessoal pelo professor ou orientador, vontade de tanto trabalho quanto
dedicar-se a outros estudos, medo do fracasso, cansaço. o interessar-se pela
Busque, então, motivação no que está fazendo, nas leituras e nas atividades do curso. vida. E de um interesse
Descubra o sentido deste curso em sua vida pessoal e profissional. Está nele por algum mo- apaixonado, mesmo, só
tivo, em busca da realização de algo. Revigore e renove constantemente suas motivações, os eleitos são capazes.
sobretudo nos momentos de desânimo, quando a vontade é parar e deixar o curso. (André Gide, escritor
Aprender implica alimentar interesses. frânces.)

Somente quando o assunto é percebido como relevante, para os


próprios fins da pessoa, ocorre um volume significativo de aprendizado.
(Carl Rogers, psicopedagogo norte-americano, 1902-1987.)

Estudando
e aprendendo 61
E  Se descobre como você é, como você aprende e desenvolve um método de
estudo

Cada um tem uma maneira de ser e de estudar. Por isso é importante, durante a
leitura deste material, que você se avalie como estudante, identificando quais são seus
hábitos “positivos” e quais os que atrapalham sua aprendizagem. Em seguida, organize
e planeje sua vida profissional, familiar e acadêmica. Esteja certa: a eficiência de seus
estudos vai depender muito de sua capacidade de autogestão e de desenvolvimento
de um método de estudo.
A motivação é uma atitude A atitude passiva, esperando que alguém lhe diga o que fazer e como ... é semelhan-
interna mais do que algo te a fazer turismo em grupo. Os outros planejam tudo para você!
que vem de fora! Grave bem esta frase do crítico literário Bertold Brecht:

Aquilo que você não aprende por si, você não sabe.

No atual estado das pesquisas, Você, certamente, já experimentou uma situ-


ninguém sabe ainda ação em que tentava aprender determinado as-
exatamente o que acontece sunto e, por mais esforços que empreendesse na
num sistema complexo como tentativa de entendê-lo, acabava "encalhada",
o cérebro humano quando achando-se incapaz de solucionar o problema ou
ocorre a aprendizagem. de avançar no tema.
(J. A. Scott Kelso, apud
ASSMANN, 1998.) Por que será que isso aconteceu?

Quando estudamos, a aprendizagem não ocorre de forma sequencial e contínua.


Em determinados momentos, deparamos com dificuldades de compreensão que não
nos permitem avançar no estudo. Em tais momentos, surgem algumas indagações à
semelhança destas: que isso significa? Qual a relação entres esses elementos?
Nesses casos, devemos persistir e continuar, devemos realizar nova leitura, buscan-
do respostas a essas inquietações.
Podemos dizer que encontramos as respostas apropriadas quando estabelecemos
o encontro destas com os questionamentos levantados, numa integração significativa,
levando à compreensão e à organização das informações, numa unidade de sentido e
de coerência aliada a nosso entendimento pessoal.

Estudando
62 e aprendendo
Já não lhe aconteceu, após uma sessão de estu-
do em que você não conseguia entender o que es-
tava lendo, deu um tempo, foi fazer outra atividade
e, ao retornar ao mesmo texto, suas ideias ficaram
mais claras?

Por que será?

O conhecimento é uma “construção humana de significados


que procura fazer sentido no seu mundo”.
(JONASSEN, 1996.)

O conhecimento não é transmitido ou adquirido como se fosse um objeto ou uma


mercadoria. Ele é construído, porque a realidade é o sentido que fazemos do mundo
e do seu fenômeno. Portanto, tem que ser significativo para o sujeito, para você. Mas
este “sentido”, que é pessoal, não significa que seja individual. Você o compartilha com
outros na sociedade, é resultado de interações, de diálogos com você mesmo e com os
outros. Mas, quem realiza a aprendizagem é o próprio sujeito, é você estudante.
O conhecer, portanto, é processo de construção que se dá na relação do sujeito (que Os anos de experiência não
conhece) com o entorno físico e social (que é conhecido) e que deve ser significativo para garantem aprendizagem!
o sujeito. A aprendizagem, daí se deduz, vai depender tanto de suas condições (bagagem
hereditária, motivação, interesse) como das condições do meio. Depende de você, do pro-
fessor, do orientador, da instituição, das condições sociais, econômicas, culturais em que
todos esses sujeitos se encontram. É processo sistêmico, envolvendo o sujeito com seu
entorno, com o outro. Não é, portanto, reprodução nem indigestão de informações.

Aprender não se resume em aprender coisas [...] trata-se de uma rede


ou teia de interações extremamente complexas e dinâmicas, que vão
criando estados gerais qualitativamente novos no cérebro humano.
(HASSMANN, 1988, p. 40.)

Na Educação a Distância, como em qualquer ação educativa, a instituição deveria


preocupar-se com processos, com aprendizagem, e não, exclusivamente, com produtos
e resultados ou, simplesmente, armazenando um volume cada vez maior de informa-
ções. O “papel” do professor e/ou do orientador, então, toma outra direção e sentido,
Estudando
e aprendendo 63
não se limitando ao de “transmitir” ou “reproduzir” informações, disponibilizando um
volume de textos (impressos e/ou veiculados pela internet), ou a dar respostas às dú-
vidas dos estudantes.
Pois, a aprendizagem não é processo que ocorre “a distância”, afastado da relação
com o outro, sem a interação e a convivência e, em consequência, “solitária”. Segundo
Maraschin (2000), apoiando-se em Maturana (1993), sem o encontro, sem a possi-
bilidade da convivência não há aprendizagem, dado que esta ocorre não quando há
mudanças de comportamento, mas quando há mudança estrutural da convivência. É
processo individual/coletivo, solitário/solidário, em que não há polos opostos, que se
negam, mas que se completam, se influenciam e se transformam.
A aprendizagem pode “transpor a distância temporal ou espacial” fazendo recursos
às tecnologias “unidirecionais” (um-a-um, um-em-muitos), como o livro, o telefone ou
a tecnologia digital que é “multidirecional” (todos-todos), eliminando a distância ou
construindo interações diferentes daquelas presenciais.
Mas, muito mais do que recurso à mediação tecnológica, é a relação humana, o
encontro com o(s) outro(s) que possibilita ambiência de aprendizagem. Aprendizagem
e educação são processos “presenciais”, exigem o encontro, a troca, a cooperação, que
podem ocorrer mesmo quando os sujeitos estão “a distância”.

Fique feliz. Esse curso “a distância” , na realidade, tem mais


“presencialidade” do que muitos cursos presenciais, em que
o aluno “assiste” às aulas, está fisicamente presente, mas
intelectual e afetivamente bem distante daquele espaço!

Estudando
64 e aprendendo
2 | Como você "poderia estudar"

Lembra o que eu dizia no começo deste fascículo?


Somos diferentes como estudantes, como aprendizes. Você tem interesses, conhe-
cimentos, necessidades, habilidades, hábitos diferentes de mim, de seus colegas, do
grupo com quem estuda, do orientador.
Por isso, é importante, como já o fizemos ver , que você se reconheça como “estu- O estudo, em geral, a busca da
dante” e reveja hábitos organizacionais de estudo. Você terá que encontrar seu “cami- verdade e da beleza são domínios
nho das pedras”, definir o rumo da sua aventura de ser estudante. em que nos é consentido
Não tente imitar ou copiar o que os outros fazem porque deu certo para eles. Tem ficar crianças toda a vida.
que encontrar seu caminho, seu modo de estudar e reconstruir um método de estudo (Albert Einstein, físico alemão.)
que com você se identifica.

Um método de estudo não se reduz à aplicação de


certas técnicas, a “receitas”, a macetes, a algo padroni-
zado. É construção, é processo ... muito particular, mui-
to seu, e que vai exigir motivação, interesse, intencio-
nalidade, envolvimento, organização, disciplina, suor, Disciplina – mesma raiz de
trocas com os outros que compartilham essa aventura discípulo, discente; aquele
de ser estudante num curso a distância. que estuda, que aprende.

Você me perguntará: que fazer, então? Por onde começar?


Mário Quintana, num dos seus escritos, nos dá uma pista:

 Essa mania de ler sobre autores fez com que, no último centenário
de Shakespeare, se travasse entre uma professorinha do interior e
este escriba o seguinte diálogo:
— Que devo ler para conhecer Shakespeare?
— Shakespeare!

Parafraseando: o que você deve fazer para estudar e obter sucesso? Estudar!! Se queremos progredir, não
Porém, nossa formação escolar foi muito calcada na cópia, na reprodução e na devemos repetir a história,
transmissão. Por isso, encontramos dificuldades nos estudos, independentemente de mas fazer uma história nova.
contarmos ou não com a presença do professor. (Gandhi)
A construção de seu método de estudo, de sua “autonomia” como estudante, é pro-
jeto seu, pessoal, de vida e de trabalho, contando, é claro, com o apoio da instituição,
com a mediação do orientador. Mais que tudo, a aprendizagem é processo particular,
muito próprio de cada um. Também é processo social, coletivo, de interação com o
outro (colega, professor, orientador, instituição educativa).

Estudando
e aprendendo 65
O sucesso é filho da ousadia.
(Benjamin Disraeli)
z E para você construir seu método de estudo, é importante exercitar e
desenvolver algumas habilidades pessoais e intelectuais, considerar
condições psicológicas e ambientais, tais como:
Motivação, projeto de vida, autoestima, autogestão, planejamento do es-
tudo, concentração, controle das emoções e da ansiedade, planejamento da
aprendizagem, escuta, memorização, leitura, produção escrita, trabalho em
equipe....

Nos próximos capítulos, iremos tratar de algumas delas e, ao final da parte 1, encon-
trará indicações de bibliografia para você se aprofundar nessa temática.
E lembre-se da exortação do poeta espanhol Antônio Machado, em sua obra Pro-
vérbios y Cantares (Poemário, Madrid, 1930.):

Caminhante, não existe caminho.


Lindos versos Faz-se o caminho ao caminhar [...]
musicados Caminhante, são tuas estradas
por Juan N. Serrat. O caminho e nada mais.

Estudando
66 e aprendendo
3
eu
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m e u
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an
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d
Ao concluir a leitura deste capítulo, você será capaz de:

㍟㍟ identificar as condições e as situações que favorecem o estudo;

㍟㍟ reorganizar seu caminho como estudante, de forma que torne seus estudos
mais produtivos e eficientes.

Escreva, no quadro a seguir, as atividades que você costuma desenvolver durante


a semana: domésticas, profissionais, de lazer, etc. ▼

Manhã Tarde Noite


Segunda

Terça

Quarta

Quinta

Sexta

Sábado

Domingo

Planejando
68 meu estudo
Nesse quadro de atividades, você incluiu horários para se dedicar à leitura, ao estu-
do? Quantas horas semanais?
Se você não incluiu um horário para atividades de estudo, a partir de agora terá que
prever momentos específicos dedicados ao curso e se comprometer a cumprir os ho-
rários estabelecidos para atividades de estudo. Por isso, é importante que você planeje
bem as outras atividades para que não acabe sacrificando ou colocando em segundo,
terceiro ou, no último lugar, o estudo.
Parece que o homem moderno não tem tempo para refletir sobre sua experiência Para ter sucesso na aplicação
de vida, tal a quantidade de estímulos, de atividades, de necessidades e de informação do esforço pela alegria, é
que invadem diariamente sua vida, seu pensar, seu agir. preciso ter a capacidade de
No meio de sua vida “tumultuada”, você deve aprender a conduzi-la segundo os concentrar a atenção em
objetivos que deseja alcançar, os sonhos a realizar. Diante disso, é importante o esta- acontecimentos, atos e objetivos.
belecimento de prioridades na gestão do tempo, da vida profissional e pessoal. (Dalai-Lama)

Você sabe quais são seus objetivos de vida? O que você almeja alcançar em longo,
médio e curto prazos? Então, identifique e escreva abaixo os que você considera
mais importantes, neste momento. ▼

Objetivos em longo prazo:

1
2
3

Objetivos em médio prazo:

1
2
3

Objetivos em curto prazo:

1
2
A grande linha divisória
3 entre o sucesso e o
fracasso pode ser
expressa em três palavras:

� Qual é, neste momento, o objetivo número 1? Qual a ser alcançado no espa-


ço de uma semana, de quinze dias, um mês, até o final do ano...?
'não tenho tempo'.
(Anônimo)

Planejando
meu estudo 69
Agora, você está matriculada num curso que vai fazer parte de sua vida ao longo
de quatro anos ou mais. Busque definir quais são seus objetivos, seus motivos, suas
expectativas em relação ao curso. O mesmo fará ao iniciar um módulo, uma disciplina,
uma temática, a leitura de um capítulo ou de um texto.

☞ Antes de iniciar qualquer atividade de estudo, defina os objetivos dela,


o sentido para sua formação, para sua vida.

Assim, o seu tempo, que muitas vezes parece pouco para tantas coisas a fazer, será
empregado melhor.

Planejar o estudo não é meramente estabelecer um horário para estudar


[...é ] estabelecer um horário fixo dedicado exclusivamente a atividades
concretas e bem programadas que respondam a objetivos precisos
(FERNÁNDEZ-RODRIGUES, 2000, p. 18.)

Vamos analisar alguns aspectos importantes a serem considerados no seu planeja-


mento do estudo.

1 | Condições “ambientais”

Observe as situações abaixo. ▼

Planejando
70 meu estudo
Você se identificou com alguma dessas situações? Escreva um pouco sobre ela.

Eu, também, durante minha formação universitária, passei por algumas dessas situ-
ações, inúmeras vezes. Ocasiões houve em que “varava a noite” estudando. Quando me
dava conta, o dia já tinha clareado e eu estava todo “quebrado” de cansaço. Ou, então,
ficava olhando o texto, e minha mente longe dali, imagens se passando e retornando in-
sistentemente, tentava colocar ordem na “bagunça” de um desentendimento amoroso.
As horas passavam, e o rendimento? Os cientistas se dedicam a
Imagine que você esteja se preparando para um concurso, para um exame. Está sen- estudar as áreas do cérebro
tada, com o livro nas mãos, lendo, mas sua cabeça a todo o instante se desliga, porque que produzem a sensação de
um problema afetivo, de relacionamento pessoal ou de trabalho perturba você. que as horas voam quando
Ou, então, minuto após minuto você é interrompida pelo esposo, por filhos, telefone... nos divertimos. Ou de que
Ou, talvez, você foi convidada para uma festa, mas não foi porque “tinha” que estudar. os ponteiros se arrastam
Bem que gostaria de ter ido, de estar lá, curtindo os amigos, a música, os petiscos, a pesadamente durante uma
bebida.... e sua imaginação criando lindos cenários! Quando desperta desse “sono”, palestra desinteressante.
você se assusta. O tempo passou e nem lembra o que estava lendo. (Istoé, 1850, 30/3/05.)

Certamente, você passou por situações parecidas. Como você lidou com isso?

E, nessas condições, como foi seu rendimento no estudo?

Planejando
meu estudo 71
9
O estado emocional também deve estar propício à realização de suas
tarefas. Se estiver ansiosa, preocupada, infeliz, não conseguirá alcançar a
compreensão de determinado tema, dificultando, e até bloqueando completa-
mente, o processo de aprendizagem.

Mente sã, corpo são. Analise, ainda, as situações descritas a seguir e assinale quais delas você já viven-
(Juvenal) ciou e que dificultaram o bom desempenho de suas atividades de estudo. ▼

⮒⮒ ansiedade diante de avaliações

⮒⮒ timidez ou medo de expor o trabalho em público

⮒⮒ medo de errar

⮒⮒ fadiga ou cansaço

⮒⮒ nervosismo

⮒⮒ perda de alguém muito querido

⮒⮒ desavenças amorosas

⮒⮒

⮒⮒

Estudos revelam que a Essas situações estão relacionadas com diversos e diferentes fatores, como a in-
principal fonte de distração segurança pessoal, a dificuldade que temos em gerir nossa vida pessoal. Isso acaba
são os “ruídos” internos, e dificultando o desempenho nos estudos. Porém, você não deve fazer disso um pretexto
não os estímulos externos. para fugir de suas obrigações acadêmicas. Às vezes, quando se está com determinado
problema pessoal, é até bom ocupar-se com leituras, atividades do curso, porque você
estará se dando um tempo para resolver depois o problema. Quem sabe, durante a lei-
tura, naqueles momentos de “distração”, você não tenha um “insight” (uma inspiração,
uma luz) e solucione o problema. Não é mesmo?

Planejando
72 meu estudo
2 | Quando estudar

Em que momentos do dia você costuma estudar? ▼

⮒⮒ pela manhã

⮒⮒ à noite

⮒⮒ noite adentro, até altas horas da madrugada

⮒⮒ em fins de semana

⮒⮒ logo após as refeições

⮒⮒ nos intervalos do trabalho

⮒⮒ após um período de descanso

⮒⮒

Você deve ter vivenciado como algumas dessas situações favoreceram seu desem-
penho no estudo. Por isso, é bom você escolher um horário que atenda a seu estado
psicofisiológico e que ajude na sua concentração.
Além do estado emocional, você deve estar atenta para o momento adequado de
dedicação às leituras, às atividades de aprendizagem, conciliando-as com outras tare-
fas diárias.
Nessa esteira, quero frisar novamente a importância de você planejar suas ativida-
des de estudo. Para ajudá-la nisso, selecionamos alguns “conselhos”, algumas orienta-
ções que poderão ser úteis:

Estudar pela manhã, após o banho matutino, pode ser


mais produtivo porque você apresentará estado de relaxa-
mento, descanso e bem-estar (se tiver dormido bem!).
Se suas atividades profissionais ou domésticas a impedem
de estudar pela manhã, faça-o em outro horário, mas
tome sempre um banho antes de iniciar a sessão de estu-
do. Isso ajudará você a ficar bem-disposta.

Planejando
meu estudo 73
Estudar noite adentro (invadindo a madrugada) não
é recomendável, podendo causar insônia, falta de
concentração e perda de capacidade de compreen-
são e retenção.

Não é aconselhável estudar logo após as principais


refeições. É melhor aguardar um período de, aproxi-
madamente, uma hora antes de iniciar sua sessão de
estudo. É nesse período que se processa a digestão
e, em função desse metabolismo, ficamos propícios
a um estado de sonolência. Acho que isso você já
deve ter percebido, sobretudo quando assiste a uma
aula, a uma palestra ou participa de reunião depois
do almoço!

Se você trabalha o dia todo, reserve pelo menos


uma hora nas suas noites, ou de manhã cedo,
durante a semana, para dar uma lida no material
didático do curso. Nos fins de semana, prolongue
seu estudo por mais tempo para compensar . As-
sim, você estará criando um hábito de estudo que
a ajudará a ter sucesso em seu curso.
Desenvolva um método de estudo, sem se preo-
cupar com a quantidade de matéria a ser estudada,
mas com a compreensão do que é mais importante
ser estudado e retido.

3 | Onde estudar

Imagine-se num lugar quente e abafado, com barulho ao seu redor, péssimas con-
dições de claridade, sujo, e você sentada num banco ou algo semelhante, desconforta-
velmente, tentando estudar.
Agora, em outra situação, você está num lugar tranquilo, silencioso, limpo, e você
sentada numa posição confortável, com o auxílio de uma mesa e de todo material ne-
cessário para a realização do seu estudo.
Em qual dessas duas situações você acredita ter melhor rendimento?

Planejando
74 meu estudo
1ª Situação

2ª Situação

Certamente, você optou pela segunda situação. Não é preciso ser um “expert” no
assunto para saber que, na primeira situação, é muito difícil você se concentrar, estudar
e sentir prazer no que está fazendo.
A segunda é uma situação ideal, desejada. As condições reais de estudo em casa
nem sempre são as melhores. Mas você deve fazer um esforço para criar seu “cantinho”
de estudo, com uma mesa e uma pequena estante (feita de tábuas e tijolos, por que
não?) para guardar seu material, com espaço, ventilação e iluminação. Criar seu espaço,
seu canto de estudo! E é bom que os familiares saibam que, quando você estiver lá, não
deverão interromper ou atrapalhar seu estudo. Deverão aprender a respeitar esse seu
momento de reflexão!

Planejando
meu estudo 75
4 | “Quanto” estudar

É importante que você aprenda a identificar seus problemas, examinar as soluções,


tomar decisões e planejar sua vida, senão você viverá constantes situações de estresse
em seus estudos. Você está e não está aí sentada, estudando.... O corpo sentado na
cadeira, mas a mente bem longe!
O tempo é a minha matéria, E o tempo vai passando, as atividades de estudo se acumulando... E você pensando:
o tempo presente, os homens “Depois vou recuperar o tempo”. O tempo não se recupera, pois não existe uma máqui-
presentes, a vida presente. na do tempo que possa fazer isso. Aumentar, depois, o tempo de estudo não constitui
(Carlos Drummond de a solução. Pois, não há relação direta entre tempo de estudo e aprendizagem!
Andrade, Mãos Dadas.) A partir de Einstein e de sua teoria da relatividade, o tempo passou a ser conside-
rado relativo, cada um teria sua própria medida do tempo. No campo da Educação a
Distância, os cursos são pensados e implementados com vista a atender ao “tempo”
de cada um, aos ritmos de aprendizagem diferenciados. Por isso eles deveriam se ca-
racterizar por sua “flexibilidade”, “plasticidade”. Dizer, então, “Não tive tempo”, “Tenho
mil coisas para dar conta”, não faz sentido. É falta de planejamento, é desorganização
em sua vida.
O tempo livre não é Claro que você deve ter seu tempo do ócio para relaxamento, para lazer, e o tempo
livre, é sem sentido. da ação, do estudo. O “fazer nada” não existe! O que existe é desperdício de tempo,
(Olgária Matos, filósofa.) “enrolação”, o “faz de conta” que estuda.

Em qual das situações abaixo você acredita obter melhor rendimento na aprendi-
zagem? ▼

⮒⮒ Uma sessão de estudo que tenha a duração de quatro horas ininterruptas;

⮒⮒ Uma sessão de estudo com duas horas de duração e pequenas pausas.

Por quê?

Cada pessoa apresenta ritmo próprio, e a dosagem de estudo dependerá de suas


condições individuais. As pessoas que apresentam dificuldades de aprendizagem de-
vem se empenhar mais em leituras.

Planejando
76 meu estudo
Porém, algumas orientações podem ser seguidas:

Estude em período breves, com intervalos de distração e mobili- Com ordem e com tempo
dade física. Nosso organismo apresenta sintomas de cansaço que encontra-se o segredo de
não podemos ignorar, pois poderão comprometer o rendimento fazer tudo e tudo fazer bem.
intelectual. (Pitágoras)

Uma sessão de estudo não deve se prolongar por mais de duas


horas, introduzindo-se pausas de três a cinco minutos a cada
meia hora. Nunca permaneça horas e horas seguidas estudan-
do, forçando seu organismo e suas faculdades mentais.

Quando se trata de um estudo que requer manuseio constante


de material bibliográfico, com pausas durante as quais poderá
se distrair, a sessão de estudo poderá prolongar-se até quatro
horas.
Crie o hábito de, logo pela
manhã, traçar, por escrito, um
Mantenha uma frequência diária de leitura para criar um hábito plano para o emprego do tempo.
de estudo, assim você manterá em dia suas atividades, evitando E não desvie do traçado.
acúmulos. (Victor Civitta, empresário brasileiro.)

☞ Para aproveitamento maior de seu tempo de estudo, você deve se


preocupar em fazer o planejamento da aprendizagem, das atividades
de estudo.

Para tanto, é fundamental que você identifique a “qualidade” e a “quantidade” da Um estudante “intelectualmente
informação, os objetivos de aprendizagem definidos pelo curso, pelo módulo, pelo ativo” é aquele que compara,
autor do material, os conceitos fundamentais daquela área do conhecimento a serem exclui, ordena categorias,
construídos. reformula, compara, formula
Saber que “domínio de conhecimento” está sendo esperado de você, sobre aquela hipóteses, reorganiza, avalia, etc.
atividade específica, que tipo de aprendizagem terá que construir e produzir: (TORRES SANTOMÉ, 1998, p. 144.)

㍟㍟ conhecimento (reconhecer e/ou lembrar determinado conceito, fato);

㍟㍟ compreensão (saber o sentido da comunicação);

Planejando
meu estudo 77
㍟㍟ análise (identificar as partes constituintes de uma mensagem e as relações entre
as partes);

㍟㍟ síntese (faz apelo a atividades cognitivas de organização e à transformação da


informação);

㍟㍟ aplicação (utilizar a informação em situação nova que nos remete diretamente ao


que foi estudado);

㍟㍟ avaliação (fazer um julgamento de valor sobre ideias, teorias, métodos).

Sobre isso voltaremos a conversar na parte 2, ao tratarmos da leitura de textos


acadêmicos.

☞ Além da motivação para o estudo e autoestima positiva por estar fa-


zendo um curso superior, é importante que você planeje suas atividades
cotidianas e de estudo.

Estabeleça um horário que atenda a seus objetivos, ajustando-o ao seu “estilo” de


aprendizagem, evitando sobrecarga de trabalho, prevendo tempo para o lazer, para o
descanso, para a família. E siga-o disciplinadamente! Não mude o horário de estudo a
“bel-prazer”. Se seu planejamento inicial não está adequado, então reveja o plano. Para
a construção de método de estudo, precisa reforçar hábitos.
Volte, então, ao quadro que você preencheu no início deste capítulo e faça um novo
quadro, com horários para estudo bem definidos, e coloque esse quadro na frente de
sua mesa de estudo, ou em outro local, para que chame sempre sua atenção, lembran-
do-lhe os compromissos assumidos.
Espero que esse cronograma seja o “pontapé” inicial para a programação de suas
atividades cotidianas, não se esquecendo de que suas atividades de estudo aumenta-
ram, uma vez que você agora faz parte da “elite intelectual” da sociedade, cursando o
nível superior. Você está numa universidade! Milhões de jovens e adultos queriam ter
essa possibilidade, esse “privilégio”, sim, pois você está entre os 8,5% da sociedade
brasileira que frequentam cursos universitários!

Planejando
78 meu estudo
Gerir seu tempo de estudo
é aprender a gerir sua vida!

Algumas orientações para planejamento de estudo, para uma gestão eficaz do


tempo:

Fixe objetivos precisos e prazos realizáveis. Exemplo:


“Ler o capítulo 2 e fazer um resumo – 1 hora de estudo”.

Evite a temporalização. Não deixe para amanhã o que você


pode fazer agora! Sobretudo quando está diante de atividades
mais complexas ou menos agradáveis. A tentação é fugir delas.
Busque, então, estímulos “provocadores”, como deixar os livros
abertos sobre a mesa, fazer aposta com você mesma que dará
conta da tarefa, ou alguma motivação interna (exemplo, poder
mostrar o trabalho a uma pessoa especial, aos colegas de grupo
de estudo).

Aprenda a gerir o tempo por etapas progressivas. Não desanime dian-


te dos primeiros insucessos, das primeiras dificuldades na leitura de
textos ou de temas mais complexos. Avalie o que está acontecendo,
que problema está causando aquela dificuldade. Comece, então, com
atividades menos complexas, informe-se melhor sobre o assunto, de-
dique ao tema “difícil” menos tempo, mas todos os dias. Quem sabe
se tornará, aos poucos, menos complexo.

Planejando
meu estudo 79
Identifique os “Chupa-Tempo”, os comedores de seu tempo, tais
como: mudar de uma atividade para outra (“enrolando”), ou querer
fazer duas atividades ao mesmo tempo (ler e assistir à TV), atender
a telefonemas, interrupções para bate-papos, desviar a atenção
para programa de televisão a que alguém está assistindo ou para a
música que está tocando, visitas, mesa de estudo desorganizada,
fazer tarefas de outras pessoas, não saber dizer “não” a convites,
não saber delegar certas tarefas. Proteja seu tempo pessoal!

Crie as condições materiais e ambientais favoráveis


ao estudo: ter um espaço reservado e um horário a
ser respeitado pelos demais membros da família, um
lugar com o menor número de estímulos externos
(os internos vão depender de você!), ambiente bem-
iluminado e ventilado.


“inferno”!
Faça com prazer as atividades de estudo! Sinta entusiasmo e motiva-
ção no que está fazendo, senão esse curso vai se transformar no seu

Dizer que não se tem tempo é desculpa. Minha leitura sempre


foi a soma de pequenos períodos. Nada faço sem alegria.
(José Mindlin, empresário e bibliófilo brasileiro.)

Planejando
80 meu estudo
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4
Ao término do estudo deste capítulo, você será capaz de:

㍟㍟ reconhecer a importância de um grupo de estudo para seu crescimento


intelectual e pessoal;

㍟㍟ identificar os fatores que influenciam o aproveitamento do estudo em grupo;

㍟㍟ perceber as diferenças individuais de cada participante do grupo em que se


encontra e os elementos que favorecem a interação;

㍟㍟ planejar uma sessão de estudo em grupo.

� Você se lembra quando lhe disse, em outra situação, que a aprendizagem é


processo individual e coletivo ao mesmo tempo?

Até aqui dei ênfase ao aspecto singular do ato de estudar, e você se debruçou sobre
o texto para tentar se conhecer como estudante, analisar sua trajetória de estudante e
planejar sua caminhada nessa aventura de ser estudante.
Agora, vou conversar um pouco sobre uma das estratégias a que você pode recorrer
na aprendizagem: o estudo em grupo.
Na Educação a Distância, há instituições que planejam essa atividade, como na
proposta pedagógica do ProFormação. Você já ouviu falar, certamente, ou deve ter sido
cursista nessa experiência que titula, em nível médio (Magistério), o professor dos anos
iniciais do ensino fundamental. Outras incentivam, estimulam essa prática, mas deixam
por conta da iniciativa dos próprios estudantes.
No seu local de trabalho você deve ter vivenciado atividades realizadas em grupo,
em equipe.
Estudando
82 em grupo
Como costumava ocorrer uma sessão de trabalho em grupo?

� E como se dava sua participação


nessa atividade?
Em certas coisas um homem
pode prescindir dos outros. Mas
dez homens, unidos pelo amor,
Olhe para a ilustração abaixo. ▼ são capazes de fazer o que dez
mil homens individualmente
não conseguiriam fazer nunca.
(Thomas Carlyle)

Descreva como você se percebe numa sessão de estudo em grupo.

Estudando
em grupo 83
☞ Pare, agora, uns minutos, e reflita:
Por que estudar em grupo? Aprende-se, estudando em grupo? Como
foi sua experiência nesse tipo de atividade?

A aprendizagem é processo de construção pessoal, resultante de interações, de


diálogo, de comunicação com o outro (autor, orientador, especialista da área, colegas).
Portanto, o estudar em grupo pode ser uma estratégia que venha favorecer esse pro-
cesso. Preste bem atenção: eu disse que pode. Por quê?
O que costuma ocorrer nas atividades de grupo? Antes de tudo, nem sempre são
planejadas e preparadas. As pessoas, muitas vezes, chegam ao grupo sem ter lido o
texto, sem ter feito o resumo, sem ter anotadas as questões ou as dúvidas. Vão ao grupo
na esperança de entender o conteúdo daquele texto e estarem, assim, preparadas para
as avaliações. Pegam as anotações dos colegas, copiam, ou então fotocopiam (aben-
çoada invenção da máquina fotocopiadora!), aguardam que o colega “mais sabichão”
(geralmente aquele tido como cê-dê-efe) explane o texto e tire as dúvidas. Não é isso
que geralmente sucede?

Para que o estudo em grupo seja produtivo,


é imprescindível o estudo individual.
Ninguém aprende por você!

Ser capaz de colocar O estudo em grupo tem como objetivo reforçar, estimular, incitar atitudes favo-
continuamente em questão as ráveis ao entendimento de determinado assunto, permitindo que todos possam tirar
suas próprias opiniões – esta é, dúvidas, suscitar questões, oferecer explicações que venham enriquecer o conteúdo
para mim, a condição preliminar apreendido pelos participantes.
de qualquer inteligência. Em outras palavras, o estudo em grupo permite que o sujeito compare e confronte
(Ítalo Calvino, romancista seus conhecimentos com os dos outros, e que isso provoque conflitos sociocogniti-
e ensaísta italiano.) vos.

A discussão das diferenças colocadas por cada integrante de uma


equipe de trabalho é uma das maneiras de passar de um conhecimento
subjetivo, pessoal, para outro mais objetivo e intersubjetivo.
(TORRES SANTOMÉ, 1998, p. 244.)

Segundo a abordagem interacionista, o conflito sociocognitivo é a base, é o motor


do conhecimento de novas aprendizagens, além de corroborar a ideia de que o conhe-
cimento é transitório e em construção constante.

Estudando
84 em grupo
Daí a importância do debate, da crítica, da dúvida, do erro, de não se fechar em
verdades absolutas, de aprender com o outro.
Está agora entendendo a importância do estudo em grupo, e por que essa atividade
tem que ser bem planejada e, ainda mais, por que os membros do grupo precisam se
preparar antecipadamente, participando ativamente?
Nós não fomos educados ao diálogo, à discussão, ao trabalho em grupo. Nos grupos,
geralmente, predomina a prática do autoritarismo de uns e do mutismo de outros.

� Como aprender a debater,


a estudar em grupo?

Não há receitas do tipo “Siga os passos”. Aprende-se a debater, debatendo. Apren-


de-se a estudar em grupo, estudando em grupo.
Para tanto, você terá que se esforçar para exercitar essa habilidade do estudo em
grupo. Como? Fazendo, antes, o registro de suas opiniões e compreensões sobre deter-
minado texto, para expressá-las e compará-las com as dos demais colegas no momento
do encontro, escutando-os em atitude de abertura, quando estão expondo, em atitude
de querer aprender com o outro no que diverge de sua compreensão, de saber rever
sua opinião.
O estudo em grupo somente faz sentido se provocar tudo isso, se atua no campo
intelectual e afetivo, se propicia momentos prazerosos de estar junto, se provoca tra-
balho produtivo e colaborativo.
No entanto, existem alguns fatores que influenciam, de maneira positiva ou nega-
tiva, o estudo em grupo. Por isso, considere os seguintes aspectos:

▶▶ Se há necessidade de desenvolver conjuntamente aquela atividade proposta.

▶▶ Se está num grupo de colegas com que você esteja “afinada”, pois, quando nos
é proposto um trabalho em grupo, temos o impulso de nos unir a pessoas que já
conhecemos, e com quem nos relacionamos melhor. Isto é bastante positivo, pois
teremos liberdade de expressar nossas ideias, colaborando com o crescimento do
grupo.

▶▶ A sua participação ativa no grupo é fundamental. Cada componente precisa ir


preparado para o estudo em grupo, com as atividades propostas realizadas. Nada
de “parasitas” no grupo!

▶▶ A diversidade nas ideias, nas experiências, no “jeito” de ser, é fator importantís- Ajuda teus semelhantes
simo a ser considerado no grupo. Não somos iguais. Temos nossas ideias e opiniões a levantar sua carga,
que nos caracterizam como únicos. Isso enriquece o grupo. O respeito mútuo é mas não a carregues.
indispensável. (Pitágoras)

Estudando
em grupo 85
▶▶ O grupo, antes de iniciar o trabalho, deve ter claro o objetivo comum, para um
direcionamento do trabalho, tornando-o produtivo.

▶▶ É importante que se estruture o método de trabalho que será desenvolvido pelo


grupo e que se definam competências, responsabilidades e tarefas.

▶▶ Para o bom desenvolvimento das atividades em grupo, é fundamental que se


escolha um local adequado, que permita a concentração dos participantes. Você se
lembra de quando abordamos o item “onde estudar”?

Para que o estudo em grupo seja produtivo, é básico que se estabeleçam algumas
regras que devem ser seguidas pelos participantes, como o cumprimento de horário, o
comprometimento com os outros membros do grupo e com os demais participantes.
Pontualidade é a arte A metodologia de trabalho também deve ser definida pelos participantes, por
de não desperdiçar meio da sistematização do estudo, para o bom aproveitamento do tempo disponível.
o tempo alheio. Definidas as regras e a metodologia, as atividades devem ser desempenhadas com
(Tatiana Del Carpio, Peru.) objetividade, sem mais dispersão.

O estudo em grupo possibilita e favorece:

㍟㍟ Interação imediata na troca de experiências e de informações;

㍟㍟ A retirada de dúvidas que surgem no estudo individual;

㍟㍟ O desenvolvimento de esquemas cognitivos;

㍟㍟ Favorece a tomada de consciência acerca das decisões a tomar;

㍟㍟ A negociação de informações e estratégias para elaboração coletiva de textos;

㍟㍟ A formação de hábitos e atitudes de convívio social;

㍟㍟ Desenvolvimento de valores como a cooperação e a solidariedade;

㍟㍟ A avaliação do desempenho individual e coletivo.

Pense nisso, quando desenvolver qualquer atividade em grupo!

Estudando
86 em grupo
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Espero que este capítulo lhe permita:

㍟㍟ identificar seu “jeito” de fazer anotações;

㍟㍟ compreender a importância das anotações na vida acadêmica e profissional;

㍟㍟ iniciar a desenvolver a técnica pessoal de anotar;

㍟㍟ aproveitar melhor, ao longo do curso, os momentos de atividades coletivas


em que se realizarão debates e/ou palestras.

� Quando você está assistindo a uma palestra, a um debate, ou frequentando


aulas de um curso, que coisas você costuma fazer?
Fazendo
88 anotações
Atitudes Sim Não

1 Sento-me nas cadeiras do fundo.  

2 Fico cochichando com o vizinho.  

3 Aproveito para ler algum livro, revista, etc.  

4 Faço desenhos ou rabiscos numa folha de papel.  

5 Anoto algumas poucas frases.  

6 Geralmente não anoto, para ouvir atentamente.  

7 Se o assunto não me agrada, aproveito para devanear.  


Alguns palestrantes falam tão rápido que me é impossível fazer qualquer
8 tipo de anotação.  

9 Eu não sei o que anotar.  


Se o palestrante usar termos eruditos, ou novos para mim, ou fizer referência
10 a fatos desconhecidos, paro de acompanhar a fala e peço explicação a colegas.  

11 Após a palestra ou aula, releio minhas anotações.  

12 Após uns dias, ao relê-las, as anotações me parecem pouco claras.  

13 Costumo rever as anotações com colegas, ou fazer trocas.  

☞ Se você respondeu “Sim” à maioria das situações, você deve se ques-


tionar sobre sua postura durante uma palestra e a maneira como
utiliza a técnica de “fazer anotações”.

Quando você anota o que está sendo exposto durante uma palestra, como você faz
esse registro?

Fazendo
anotações 89
Na parte 2 dois desse Guia Metodológico, trataremos do “fichamento” como técni-
ca de registro dos textos lidos. Dizem que “ler, e não fichar, é sinônimo de esquecer”.
Parafraseando: “Assistir a uma palestra, e não anotar, é sinônimo de esquecer”.

Você concorda com essa afirmativa? Qual sua experiência?

Lembra quando, num dos capítulos anteriores, conversávamos sobre “como apren-
demos”? A atividade de somente estar ouvindo pode ser insuficiente para a melhor
retenção de informações. Ouvir e anotar na hora pode se tornar muito mais produtivo
na construção do conhecimento do que simplesmente ficar ouvindo.

z Não sei qual é sua opinião sobre o que eu disse até aqui, mas, num
ponto, acredito que concordaremos: fazer anotações, escutando, é
diferente de fazer anotações lendo.

Sabia que ia concordar comigo! Por isso, neste capítulo, estou lhe propondo trocar-
mos algumas ideias e experiências sobre o significado e a utilidade da técnica de anotar,
quando se está ouvindo alguém expondo algum tema.

� Por que fazer


anotações?

Muitos estudantes acreditam lembrar com facilidade o que ouvem. Porém, pesqui-
sas realizadas com estudantes universitários revelaram que, após 24 horas, os alunos
já haviam esquecido 50% da matéria estudada. Após umas duas semanas, o nível de
esquecimento atingia 80% do conteúdo.
Outros anotam tudo o que ouvem, palavra por palavra, mas têm dificuldades para
expor o que escrevem: preocupados em anotar, não conseguem acompanhar o rumo
da fala e seu sentido.
Fazer anotações não é uma simples ação de registrar, em uma folha, as palavras
que estão sendo proferidas, uma pura e simples transcrição da fala para a escrita, do
discurso para o texto. Exige-se um “trabalho mental efetivo” (DARTOIS, 1965, p. 48),
destinado a prender a atenção de maneira mais ativa, assegurando a conservação de
informações que facilmente se esvairiam, dissipar-se-iam como fumaça.
Fazendo
90 anotações
Fazer anotações é reter, o mais rapidamente possível, os pontos
essenciais de uma exposição oral, com a preocupação de poder,
com base nessas anotações, reconstruir a exposição.

Portanto, as anotações não têm um fim em si mesmas. São:

㍟㍟ um meio de se concentrar durante uma exposição;

㍟㍟ um meio de recolher informações;

㍟㍟ um meio de refletir e aprofundar um tema.

Em outras palavras, é um meio de organizar seu processo de aprendizagem, sua


caminhada nos estudos. Pois, ao anotar, você fica atenta e concentrada no que está
sendo exposto: isto ajuda a compreensão das ideias fundamentais, bem como sua me-
morização e o registro delas. Sempre que quiser, estarão aí, disponíveis!
Trata-se, no entanto, de processo pessoal, cuja importância será sentida nos mo-
mentos avaliativos, na preparação de encontros e debates, para produção de trabalhos
acadêmicos, para proferir palestras em sua escola.

As anotações são fonte de informações de


primeira linha.

Não há dúvida de que é uma atividade complexa. Ao mesmo tempo em que você
presta atenção ao que está sendo dito, terá que rapidamente identificar o que é signi-
ficativo, reelaborar isso em seu pensamento, fazendo logo em seguida seu registro.
Para tanto, é necessário:

㍟㍟ ter uma atitude de escuta, isto é, saber ouvir o outro, aquele que está querendo
comunicar algo para você;

㍟㍟ compreender o que está sendo comunicado, pois é praticamente impossível anotar Anotar – significa
o que não é compreendido; prestar atenção.

㍟㍟ fazer o registro seletivamente;

㍟㍟ logo que puder, rever as anotações, para completá-las, corrigi-las, relembrá-las e


memorizá-las.

Fazendo
anotações 91
Anotar significa prestar atenção a uma informação,
selecionar os aspectos mais importantes, organizá-los e
registrá-los. Tomar notas não é fazer um ditado.
(FERNÁNDEZ RODRIGUEZ, 2000, p. 50.)

☞ A orientação fundamental para bons apontamentos, então, é es-


cutar, selecionar, organizar e escrever! Vamos, então, discorrer um
pouco sobre cada uma dessas atitudes.

1 | A atitude de escuta

Saber ouvir a outrem é uma habilidade essencial para ser bem-sucedida em seus
estudos universitários. Aparentemente parece ser fácil, mas não é bem assim. Acredi-
tamos ser “bons ouvintes”, mas geralmente não somos.
Experimente, durante uma conversa calorosa, à queima-roupa pedir à sua colega
que repita o que você acabou de lhe dizer. Será surpreendida ao perceber que ela não
estava ligada no que você estava dizendo. Estava preocupada em buscar argumentos
para reafirmar suas posições e suas convicções. Assim, o aparente diálogo era o mo-
nólogo de duas pessoas, cada uma preocupada com o que iria dizer na tentativa de
convencer ou superar a colega.
Não é assim que costuma ocorrer? Preste atenção quando houver uma reunião, um
debate. Parece um amontoado confuso de monólogos!
Quantas vezes, num seminário ou durante uma aula, o palestrante ou o professor
acaba de responder a uma indagação e, logo em seguida, outra pessoa retorna com a
mesma questão. Com o braço levantado, submerso na formulação de sua dúvida, não
acompanhara o debate, não se apercebera de que a resposta havia sido dada!

Escutar é diferente de ouvir uma sequência de sons e palavras.


É prestar atenção! Exige esforço constante e consciente
para compreender o conteúdo da mensagem que está sendo
veiculada pelo emissor. Sua atitude, pois, não é passiva. Trata-
se de processo contínuo de retroalimentação, de assimilação,
de “tradução” e participação no que está sendo dito.

A esse respeito você poderá ler obras modernas que tratam da comunicação, fugin-
do ao esquema clássico da relação linear:

Fazendo
92 anotações
Canal

Emissor Receptor

Mensagem

Aqui, o receptor exerce papel passivo. É o emissor que conduz e determina o ritmo
e o teor da mensagem.
Outra visão considera a comunicação atividade eminentemente interativa entre os
participantes da comunicação. Tanto o “autor/locutor”” quanto o “leitor/interlocutor”
interagem, influenciam-se, comunicam-se ativamente.

Canal
Locutor Interlocutor
Autor Leitor
Mensagem

Portanto, o palestrante provoca em você respostas, atitudes, e você, por sua vez,
interfere e se intromete na sua fala, pela sua maneira de participar, de estar diante dele,
de reagir à sua mensagem.

A atitude de escuta exige:

㍟㍟ afastar os elementos que podem provocar distrações, ruídos, perturbações na co-


municação (conversas paralelas, ficar em local de difícil audição, observar quem entra
e sai, etc.), pois dificultam a atenção e a concentração;

㍟㍟ afastar preconceitos, prejulgamentos, esquemas de referência negativa, reações


emotivas em relação ao comunicador e em relação ao assunto que será exposto. A
atitude de empatia é fundamental para ser capaz de compreender o que o outro tem a
dizer, seu ponto de vista, seu universo. Eliminar, pois, os ruídos “psicológicos”;

㍟㍟ preparar-se mentalmente, posicionar-se na mesma “frequência de onda” do emis-


sor, colocando-se receptivo, aberto, predisposto às mensagens do outro;
Os homens são perturbados não
㍟㍟ preparar-se fisicamente, pois bem escutar é escutar com os joelhos, com as costas, pelas coisas que acontecem,
com os músculos... com todo o corpo. Já experimentou assistir a uma aula ou a uma mas pela opinião que têm sobre
palestra após uma refeição bem apetitosa e farta, ou após ter varado a madrugada as coisas que acontecem.
numa festa ou num baile? (Epicteto)

Fazendo
anotações 93
㍟㍟ desempenhar o papel de um bom interlocutor, com atitudes que estimulem o pa-
lestrante, manifestando interesse e atenção no que está dizendo, fazendo perguntas,
pedindo que repita um tópico que não ficou claro. O contato visual também favorece a
comunicação. O palestrante se sente motivado e melhor consegue se comunicar diante
de pessoas atentas e interessadas. Imagine-se estar falando a um público desatento,
uns conversando ou rindo, outros bocejando, uns terceiros lendo jornais ou livros, gente
entrando e saindo sem parar...!
Queria fazer uma rápida consideração, sem querer ofender a ninguém. Tenho
participado de muitos eventos científicos e dos Seminários Temáticos em cursos de
graduação a distância. Quantas vezes me senti envergonhado por estar o palestrante
expondo seu tema e, entre os “ouvintes”, um cochicho generalizado, ruidoso, um tal
de entra e sai de pessoas, nas laterais e no fundo pessoas em pé, conversando anima-
damente, rindo....

☞ Temos que nos formar na atitude da escuta, na cultura dos eventos


acadêmicos, no respeito ao outro, em dar o direito da palavra ao
outro! Se você não está gostando do tema, ou da maneira como o palestrante
está se comunicando e não consegue ficar sossegada, o que você pode fazer é
se retirar, deixando que os demais escutem a palestra!

2 | Compreensão da Comunicação

� Como anotar, registrar o que está sendo dito,


se não está sendo compreendido?

A atitude de escuta favorece o clima de compreensão, mas não é suficiente. É im-


portante que você se prepare para o diálogo da palestra . Como? Informando-se sobre o
conteúdo que vai ser proferido, sobre quem vai falar, seu pensamento, suas obras, etc.
Imagine-se assistindo a uma palestra sobre este tema: A influência do benzopireno
como fator etiológico de manifestação do carcinoma broncogênico epidermóide”. Lembra?
Teria certamente dificuldades para entender o assunto. Seria praticamente impossível
fazer anotações. Anotar o quê? O que é importante e novo?
Voltaremos a este assunto na parte 2 desse fascículo. Ao tratarmos da leitura in-
terativa, iremos enfatizar a importância da fase de preparação para a leitura (leitura
exploratória).

☞ Portanto, vá à palestra sabendo do que vai ser exposto para aproveit-


ar ao máximo o que o palestrante tem a lhe oferecer.

Fazendo
94 anotações
3 | Seleção da informação

� Quantas informações numa palestra, numa fala de trinta, sessenta minutos!


Será que tudo o que está sendo dito é importante? Ou há tópicos que mais
lhe despertam a atenção e outros menos?

Enquanto o palestrante vai expondo suas ideias, seguindo uma lógica, um tipo de
raciocínio, você vai filtrando tudo embasada em seus conhecimentos e interesses na-
quele momento.
Esta é a parte mais importante e a mais difícil. As dúvidas começam a aparecer: é
preciso anotar tudo, ou concentrar-se somente nos itens mais importantes? Registrar
a estrutura da fala, ou anotar algumas frases significativas, os exemplos, alguns con-
ceitos? Que critérios adotar para não cair nos extremos: anotar tudo (dificultando uma
posterior reflexão), ou quase nada (impossibilitando a reconstrução e compreensão da
fala)? Dos dois males, o menor: melhor anotar demais que registrar anotações insufi-
cientes.

Fazer anotações é um trabalho mental e efetivo. Busca-se compreender


a lógica da exposição do palestrante, o que é essencial. Somente
é possível reter e apreender aquilo que for compreendido.

Aqui está o nó da questão, e que nenhuma mágica vai solucionar. É o resultado do


trabalho lento, árduo e “empenhativo” da acadêmica que, aos poucos, vai dominando
os campos do saber e praticando a arte da exposição (escrita, oral) do que lê e ouve.
É necessário, pois, registrar a trama da exposição, sua estrutura, seu roteiro. No
plano do discurso, anotar todas as ideias mais importantes, detalhes, fatos, metáforas
e exemplos que venham clarificá-las, torná-las mais compreensíveis. No plano da es-
trutura, estabelecer as ligações entre os itens e subitens, permitindo captar o sentido
geral da exposição, uma vez que um discurso coerente contém uma ideia diretriz que
organiza ao seu redor os outros pontos do discurso.
Segundo F. Charbonneau, em sua obra “Instrumentos para o pensar”, para fazer
anotações exige-se certa habilidade, elemento que é necessário.

Identificar com rigor e precisão o que um discurso


contém de explícito [...] inicialmente as ideias, em
seguida a ordem dentro da qual se apresentam.
(apud AVARD, 1984, p. 165.)

Fazendo
anotações 95
Você poderá, então, anotar: ▼

㍟㍟ a articulação geral da exposição: as grandes linhas do plano (que geralmente o ex-


positor anuncia no começo ou escreve no quadro-negro) e as ideias principais;

㍟㍟ algumas articulações particulares, isto é, as ideias secundárias que ajudem a melhor


esclarecer as principais;

㍟㍟ os pontos fortes, aqueles em que o emissor insiste (“este é muito importante”), que
enfatiza, mudando até o tom de voz; as ideias que para você são novas, os fatos mais
relevantes;

㍟㍟ o que vem contradizer suas opiniões;

㍟㍟ os exemplos que esclarecem a teoria exposta;

㍟㍟ as definições que ajudam precisar os significados;

㍟㍟ as referências que venham completar as noções;

㍟㍟ nomes próprios, estatísticas, datas importantes;

㍟㍟ sugestões de leituras complementares.

Depende fundamentalmente de você, de sua maneira


de compreender o tema em exposição, de seus
conhecimentos anteriores, de suas concepções,
suas reflexões atuais, de sua capacidade de
síntese, do domínio de terminologias e vocabulário
apropriado àquela área do conhecimento, etc.

4 | O registro

Depois de ter reelaborado, em seu pensamento, a fala do palestrante, reorganizando


as ideias ou resumindo as que considera mais importantes, terá agora que fazer o registro.
De que maneira?
Você poderá utilizar folhas soltas, perfurando-as depois, para compor um material
ordenado e classificado, racionalmente, por áreas do conhecimento, de acordo com
seus interesses de pesquisa de trabalho.
Fazendo
96 anotações
Orientações: ▼

㍟㍟ deixar uma margem de uns 5cm à esquerda de cada folha, utilizando somente o lado
direito para o conteúdo da palestra ou da aula. O lado esquerdo poderá ser usado para
registrar questões relacionadas com que está sendo anotado;

㍟㍟ reservar um espaço embaixo, para comentários pessoais, observações, etc.;

㍟㍟ numerar cada página, pois, no caírem ou no se misturarem, facilmente você pode-


rá recompor a sequência; ao pé da página, escrever sempre o título da palestra ou da
aula;

㍟㍟ utilizar a frente da folha para anotar a sequência lógica da fala, a estrutura do assun-
to que vai sendo exposto. Eventualmente o verso para anotar explicações secundárias,
definições, termos, esclarecimentos, exemplos, bem assim para fazer esquemas, etc.

☞ Isso vai facilitar a posterior reconstrução da palestra ou da aula,


permitindo uma visão rápida do que foi anotado, facilitando o
trabalho manual de recortar e colar as anotações para dar outra composição
ou sequência.

Escutar, selecionar e escrever.


Essa é a regra fundamental para
elaborar bons apontamentos.
(CARITA et al. 1998, p. 97.)

Fazendo
anotações 97
A título de exemplificação, veja dois tipos de registro que fiz de uma palestra. ▼

Tema: Colonização e Escolarização em Mato Grosso: 1980-90.


Palestrante: prof. Dr. João Carlos Barrozo.
Data: 10/3/1995.

Tópicos abordados Conceitos/Categorias Questões

1 – Geografia social “Modelo Agroexportador” Quais as causas do


êxodo rural?
– Políticas mod. Agri./ Brasil 1970
monocultura exportação

– Situação peq. Prod. Rurais/ sul processo


de expropriação mov. “Sem-Terra”
– proj. colonização e processo migratório p/ Pequenos produtores rurais Por que mais
MT Posseiros/ Grileiros colonização privada
colonização privada: 48 proj. – 7.000.000 Colonos em MT?
ha (1968-76) Camponeses

– Expansão da fronteira – inchamento urbano

2 – Geografia educacional

– Expansão aparente do sis. Edu.


1980 - 250 mil alunos, déficit 35% Produtividade – Quais os motivos do
1985 - 350 mil alunos, déficit 20,5% fórmula para o cálculo: crescimento da escola
1990 - 405 mil alunos, déficit 12% Evadidos + Reprov. particular?
Matrícula – Transf.
– baixa “produtividade” do sis. (estatística –
Condinf-SEE)

(No anverso: acrescentar informações complementares, comentários pessoais, etc.)

Fazendo
98 anotações
Você pode, em lugar desse tipo de anotações lineares, fazer o registro por meio de
“mapa conceitual”. Trata-se de técnica gráfica muito simples que busca captar as ideias Técnica criada pelo psicólogo
mais importantes sobre determinado tema da palestra (ou de um texto), fazendo uso inglês Tony Buzan, na
de palavras-chave, ramificações de ideias, com cores, desenhos, etc., mapeando o década de 1970.
assunto.

Veja, por exemplo, como poderia fazer o registro sobre o assunto da mesma
palestra. ▼

Pressões / tensões
ego
Desempr o Movimentos sociais
no campo
expulsã
Fatores ural
Modelo Êxodo r
Agroexportador
Violência! Empresários
Colonos
Amansamento da terra Posseiros
Controle social Terra disponível Grileiros
Políticas Colonização
Expansão
Modernização da fronteira Fatores de atração
da agricultura Reprodução ideológica
Reprodução social

Escolarização Expansão da rede


Condições precárias Evasão/reprovação
"Desqualificação"
profissional
Como anotar. ▼

Anotar não é fazer um ditado.


As notas devem parecer mais um esquema, um plano, uma tabela sinótica do que Tabela sinótica – (do grego
um texto discursivo. Devem ser dispostas de tal maneira que facilitem uma leitura synopsis: vista de conjunto)
rápida, o estudo e o trabalho acadêmico. Você deverá, aos poucos, ir descobrindo e análoga a resumo, organizada
construindo seu próprio método. Algumas orientações técnicas poderão, inicialmente, em forma de tabela, de
servir-lhe de parâmetro: colunas, que permite ver
concisamente as diversas
㍟㍟ hierarquizar as notas, numerando as ideias principais, os títulos, as articulações partes do conjunto do
entre os itens e subitens; tema, do assunto que está
sendo tratado, buscando
㍟㍟ deixar espaços (pelo menos duas linhas) entre as ideias principais e as secundárias, evidenciar semelhanças,
entre cada uma das articulações. Posteriormente, você poderá vir a acrescentar ideias dissemelhanças, relações,
ou complementar a informação; opiniões, movimento, etc..

Fazendo
anotações 99
㍟㍟ deixar de lado a preocupação com o estilo, com verbos de ligação ou desnecessários
(ex. ser, estar, parecer, continuar, encontrar-se, etc.), ou expressões do tipo “sabe-se”,
“note bem”, “já vimos que”, etc., bem como artigos e palavras de subordinação;

㍟㍟ resumir numa ou duas palavras o que já é conhecido, detendo-se mais no que é


novidade ou pouco conhecido;

㍟㍟ escolher uma fórmula para remeter ao que já foi escrito em outro lugar, como “vj”
(veja), “cf” (confere), etc.;

㍟㍟ utilizar setas para indicar o desenvolvimento de um raciocínio;

㍟㍟ utilizar símbolos e abreviações correntes ou que você poderá criar pessoalmente.

Colocamos aqui algumas abreviações e alguns símbolos, a título de ilustração.


Aproveite para preencher os espaços vazios com as suas. ▼

Algumas abreviações usuais Alguns símbolos mais comuns

cap. capítulo + mais

cf. confronto/ confere - menos

vj. veja ± mais ou menos

abcdef/ palavra com final “mente” = igual

ref. referente # diferente

ex. exemplo direção, leva o / ao

pb. problema oposição, contrário

pq. porque  aumenta, diminui

q. que

qq. qualquer

~
criança
cr

Fazendo
100 anotações
Algumas dificuldades ▼

㍟㍟ E se você perder o fio da exposição?

Não pare de anotar, para evitar distrações ou cochilos e, se perder o fio, recomece
a anotar. Não se preocupe com o que perdeu. Poderá recuperá-lo depois, pedindo
emprestadas as anotações de colegas. Mas não fique descansada e confiando nelas
demais!

㍟㍟ Não deu para registrar a frase toda? Escaparam-lhe umas palavras?

Faça um traço horizontal e continue anotando. Mais tarde você poderá recuperar a
informação perguntando a um colega, ao próprio palestrante ou orientador, ou ao re-
ver as anotações se lembrará, dentro do contexto, das palavras que estão faltando.

㍟㍟ Não entendeu o sentido de algumas palavras?

Anote no verso da folha anterior. Mais tarde irá perguntar ao orientador ou ao pales-
trante o seu significado, ou recorrerá a um dicionário, a uma enciclopédia, e anotará
no verso daquela página.

㍟㍟ Não consegue acompanhar o ritmo da exposição?

Peça ao expositor que “desacelere” o ritmo de sua fala!

5 | Revisão e utilização das anotações

Geralmente, o estudante revê suas anotações quando deve se apresentar a um exa-


me, ou precisa fazer algum trabalho. O ideal seria revisar as anotações quanto antes,
naquele mesmo dia. Caso o tempo seja escasso, não deixe passar mais do que dois dias.
Muitas informações ou dúvidas poderão ficar perdidas, pois se corre o risco de esquecer
rapidamente as informações.

� Mas, por que fazer


a revisão?

㍟㍟ porque o assunto lhe interessa, e você vai querer aprofundá-lo. Não fosse assim, que
você estava fazendo lá, empatando seu precioso tempo?

㍟㍟ talvez você tenha outras anotações relacionadas com a mesma temática e quer
fazer uma síntese;
Fazendo
anotações 101
㍟㍟ porque, ao fazer as anotações, poderão ter surgido numerosas questões às quais
quer dar uma resposta;

㍟㍟ porque você não deve estar satisfeita com o conteúdo apresentado e vai querer
reafirmar seus pontos de vista, naquilo em que você professa seu credo;

㍟㍟ porque você tem uma tarefa a cumprir (um trabalho, um exame, uma entrevista,
etc.) e quer estudar e assimilar melhor o conteúdo da palestra.

As anotações só fazem sentido se estiverem


claras, completas e bem-articuladas!!

� Como fazer
a revisão?

Revisão não é sinônimo de transcrever ou passar a limpo o que foi anotado. Acredi-
tar que transcrever as anotações é uma maneira excelente de estudar, de memorizar,
é um ledo engano. É uma perda de tempo!
Seria interessante realizá-la em grupo, com a participação de dois ou três colegas
que estejam preocupados em fazer, das palestras a que vocês assistiram, uma ocasião
de aprendizagem, de enriquecimento intelectual. Assim, cada um possibilita ao outro
completar as informações, tirar as dúvidas, compreender melhor a exposição do item.
Para isso, seguem aqui algumas sugestões, simples que sejam:

㍟㍟ utilize canetas com diversas cores, sublinhando com as mesmas cores os títulos de
mesma importância;

㍟㍟ enquadre as passagens mais importantes e faça círculo nas palavras-chave, desta-


cando-as, se for o caso, às margens;

㍟㍟ copie as passagens ainda obscuras na parte inferior da página, ou coloque uma


interrogação à margem;

㍟㍟ escreva à margem esquerda todas as perguntas que lhe vêm à mente e que pode-
riam ser feitas com base no tema. Formulações possíveis: “o que é?” (definição), “des-
creva” (descrição), “por quê?” (causas), “como” (descrição de um processo), “compare”
(vantagens/ desvantagens, aspectos positivos/ negativos), “situe dentro do contexto”
(data, época, ideologia), “explique” (razões), etc. É um procedimento que favorece a
aprendizagem ativa. (Se estiver fazendo esta revisão em grupo, um procura formular
questões para que outro responda);

㍟㍟ tente fazer um quadro sinótico.


Fazendo
102 anotações
Anote ▼

À guisa de conclusão deste capítulo, e para sua reflexão, vou deixar dois pensamen-
tos:

Minha atenção se cansa rapidamente quando uma secreta simpatia não


me permite seguir apaixonadamente o pensamento do meu interlocutor.
(Bernanos)

� O que será que Bernanos


quis dizer?

A paixão do ouvinte pelo que está sendo dito tem que ver com a “simpatia” sentida
por quem está falando, provocada pelos motivos mais variados (aparência física, voz,
renome, etc.)?

O que você entendeu?

O que deve conduzir sua atenção, seu pensamento, e seduzi-la, não é a pessoa do
palestrante, mas sua mensagem, o que está sendo dito. Senão, logo o cansaço tomará
conta de você e se intrometerá nessa relação que deve ser “apaixonante”, mas, ao
mesmo tempo, dialogal e crítica.

E esse outro pensamento:

De uma aula magistral, sobra quase nada após oito horas,


e, após quinze dias, sobra praticamente nada.
(Alan)

Fazendo
anotações 103
O que ele sugere? Você concorda com Alan?

☞ O registro dos temas de seu interesse profissional é um dos aspectos


que não pode ser negligenciado em seu percurso acadêmico, em
sua formação. Adote esta prática simples que, muitas vezes, lhe parecerá uma
perda de tempo (você confia muito em sua memória, em sua capacidade de
reter as informações, no que ouviu ou leu). Logo, logo, descobrirá, no seu dia a
dia, os efeitos positivos e práticos de tal hábito!

Fazendo
104 anotações
a
v
m al
in i
ha can
n a d
h m o
a i

6
d
a
Ao final da leitura deste capítulo, espero que você consiga:

㍟㍟ identificar suas atitudes diante do processo de avaliação;

㍟㍟ entender a avaliação como momento pedagógico de aprendizagem;

㍟㍟ identificar hábitos positivos para seu desempenho nos momentos de


avaliação de sua caminhada.

Seminário Temático
Área de Fundamentos

Você vivenciou, há pouco tempo, a


experiência do Exame Vestibular, ou do
Processo Seletivo Especial, para ingressar
neste curso a distância. Como foi sua sen-
sação ao entrar naquela sala, sentar-se ao
lado de colegas, caneta, lápis e borracha na
mão, os fiscais observando, e você tendo
que responder às questões em determina-
do tempo?
Avaliando minha
106 caminhada
Como foi sua reação física e emocional?

Certamente, essa sua experiência é parecida com a que você viveu no decorrer de
sua trajetória escolar, como a experiência que a maioria das crianças, ainda hoje, viven-
cia nas escolas nos dias de provas, quando há testes a realizar. Um clima de ansiedade,
medo, insegurança.
Por que será? Por que a prova é considerada “o bicho-papão”? Por que a maioria
dos alunos, ao iniciar um curso, uma disciplina, a primeira preocupação que manifesta
é saber “como será a prova”?

No começo tudo não passa de uma brincadeira, sem maiores


complicações: é uma gracinha ver aqueles toquinhos de gente já fazendo
provas como os mais velhos... Muitas vezes as crianças fazem as provas
e nem têm noção, não sabem que estão sendo avaliadas. Com o tempo,
os pais, apreensivos em função das experiências anteriores, passam a
questionar a escola a respeito das datas das provas. Para evitar faltas
nos dias de provas, passa-se a avisar a família, que se sente orgulhosa
de ver seu filho já passando por esses rituais; a própria criança quer fazer
prova para se igualar ao irmão ou colega mais adiantado, sentindo-se
toda importante. Os aluninhos, por curiosidade, passam a perguntar aos
colegas quanto tiraram. E assim vai...tudo começa tão inocentemente
que, mais tarde, os professores perplexos não conseguem entender o
que foi que houve, pois, dessa pequena brincadeira, chega-se à grande
distorção do ensino: estudar para tirar nota, e não para aprender!
(VASCONCELOS, Celso dos S. Avaliação Escolar: Perversão dos Direitos Humanos,
1989, p. 58.)

Você deve ter notado que até aqui não usei a palavra avaliação, e sim prova, exame,
teste. Por que será? É simples questão de terminologia, de gostar mais de uma do que
de outra? Será que há diferenças importantes de significados e de práticas? O que você
acha?
Avaliando minha
caminhada 107
Dê uma olhadela no dicionário e vê se percebe alguma diferença nessas termino-
logias.

Vasconcelos, ao descrever de maneira humorística a cena, toca em algo muito


importante. As provas, os testes, os exames são situações que passaram a marcar a
vida escolar de maneira negativa: não se estuda para aprender, e sim para passar de
um ano para o outro, para não ser reprovado e sofrer as sanções da escola, da família
e dos colegas.
O que podia ser uma atividade informal, cotidiana, em que toda ação, atitude, é
objeto de observação, avaliada como parte do processo de formação daquele sujeito,
passou a ser formalizada, medida, quantificada, com dia e hora marcados.
Ao falarmos em “avaliação”, reportamo-nos a um processo mais complexo que a
simples aplicação de uma prova, de um teste. Falamos de um termo que vem assumin-
do vários significados. Na literatura pedagógica, diversas são as concepções de avalia-
ção, podendo ser agrupadas, não de maneira excludente, em duas: as que permitem a
inclusão e as que favorecem a exclusão.

Você conhece a proposta avaliativa do curso? Como está pensada?

O termo ’avaliação´ deveria ser adstrito a uma concepção


específica de verificação do desempenho humano, mais
preocupada com a política de inclusão, enquanto o vocábulo
’exame´seria mais apropriado às verificações voltadas para
a identificação e a exclusão dos ’menos capazes´.
(José Eustáquio Romão, 2002, p. 45.)

Avaliando minha
108 caminhada
O processo de avaliação de aprendizagem em cursos a distância se sustenta em
princípios análogos aos da educação presencial. Lembra quando dizíamos, no começo,
que fazer Educação a distância é essencialmente fazer Educação?
Pois, um dos objetivos fundamentais da educação e, consequentemente, da Edu-
cação a distância, é possibilitar o desenvolvimento de sua capacidade não só de repro-
duzir ideias ou informações, mas, sobretudo, a capacidade de produzir e (re)construir
conhecimentos, de analisar e posicionar-se criticamente diante das situações concretas
que se lhe apresentem.

Perante uma atividade de aprendizagem, você pode se colocar na atitude de:

㍟㍟ compreender a informação apresentada (captar as ideias centrais e os conceitos);

㍟㍟ situar essa informação (no interior de um tema, de uma área do conhecimento, de


uma teoria, de um contexto histórico, de determinada prática);

㍟㍟ elaborar novas questões, dando novos significados ao que está estudando.

Como no contexto da EaD, você não conta, comumente, com a presença física do
professor, insistimos, ainda, sobre a necessidade de você desenvolver métodos de es-
tudo individual e em grupo, para que você possa:

㍟㍟ buscar interação permanente com colegas, especialistas e com orientadores acadê-


micos todas as vezes que sentir necessidade;

㍟㍟ obter confiança e autoestima diante do trabalho realizado;

㍟㍟ desenvolver a capacidade de análise e elaboração de juízos próprios.

☞ Estudar com método faz com que você evite o que costuma
acontecer com acadêmicos que se preocupam somente em decorar,
em repetir mecanicamente as informações contidas nos fascículos: respostas
desorganizadas, omissões de aspectos importantes, ou um “branco”, de
repente parece que tudo sumiu da cabeça!

Avaliando minha
caminhada 109
Neste curso a distância, a avaliação é diagnóstica, formativa e processual, materia-
lizando-se em diversos momentos e utilizando diferentes estratégias, tais como:

㍟㍟ encontro com orientadores, individualmente ou com dois ou três colegas, no má-


ximo;

㍟㍟ verificações escritas de aprendizagem, apresentando sínteses dos conteúdos estu-


dados, realizadas individualmente, com ou sem consulta;

㍟㍟ oficinas para realizar e/ou apresentar atividades;

㍟㍟ Seminários Temáticos, em que se apresentam os resultados de pesquisas realizadas


em equipe.

Você percebe de que modo, num processo avaliativo como


este, você poderá desenvolver habilidades em sua expressão
oral, em sua produção escrita individual e coletiva!

A avaliação, então, não é o resultado da somatória de seu desempenho em cada


um desses momentos. Eles não estão separados, fazem parte do mesmo processo
avaliativo, um implicando o outro, acontecendo ao mesmo tempo.
Lembra quando afirmávamos de que a aprendizagem é processo de construção
individual e coletivo? Então, a avaliação é esse acompanhar de seu desenvolvimento,
da construção de seus conhecimentos, em momentos individuais e coletivos. Esses
momentos não podem ser vistos e analisados separadamente. Fazem parte de uma
proposta de avaliação. Essa tem que ser bem-entendida, para evitar equívocos e des-
gastes de “bate-boca” entre você, o orientador e a equipe pedagógica.
Ao longo desses anos de experiência em cursos a distância, percebemos certas re-
sistências, por parte de alguns acadêmicos, aos momentos de avaliação, como aos en-
contros de orientação e às verificações de aprendizagem. Esses momentos não devem
ser encarados como simples cumprimento de uma obrigatoriedade do curso, de uma
imposição da legislação educacional, mas sim como uma das atividades fundamentais
na regulação do processo educativo, na motivação e autocontrole escolar.

☞ Ao realizar a avaliação, o orientador poderá identificar suas


dificuldades de aprendizagem e lhe oferecer apoio para a superação
delas. Você, por outro lado, se dará conta do que sabe e do que não conseguiu
ainda compreender, e será levada, ainda, a refletir sobre seu método de estudo.

Avaliando minha
110 caminhada
A avaliação não é o momento da “pegadinha”, de pegar você de
surpresa, de solicitar que você fale sobre aspectos pouco abordados
no material didático ou de pouca relevância. Ela tem tudo que ver
com o que você está estudando, discutindo com o orientador e
colegas. Portanto, se você realizou o percurso da leitura de maneira
compreensiva, dialógica e com método de estudo, os momentos
avaliativos deixarão de ser situações de medo ou “de branco”!

O que interessa, portanto, no processo de avaliação de aprendizagem, é analisar


sua capacidade de reflexão crítica perante suas experiências, a fim de que possa atuar,
dentro de seus limites, sobre o que lhe impede de agir para transformar aquilo que julga
limitado no campo em que você atua profissionalmente, como em relação ao projeto
político-pedagógico da escola.

Recorrer à prática de “decorar”, de “chutar” ou, o que é pior, de


“colar” para se “sair bem” em alguns dos momentos avaliativos
é recusar a possibilidade de sua formação profissional, a atitude
ética do cidadão, a capacidade de construção de sua autonomia.

Nesse processo, ganha sentido o trabalho do orientador como mediador de aprendi-


zagem, no processo de construção do conhecimento. É o sujeito com quem você irá in-
teragir para expor sua compreensão do texto lido, a relação de conceitos e teorias com
sua experiência profissional e seu cotidiano. A função desse profissional não será dar
respostas às suas dúvidas, elaborar resumos da matéria para facilitar sua memorização,
ou realizar “aula de tira-dúvidas” às vésperas do dia da avaliação. Ele é o seu interlocu-
tor, a pessoa com quem você dialoga sobre o texto lido, a pessoa que questionará suas
certezas e que apoiará e orientará você na construção de respostas às suas dúvidas.

Os “sistemas” de avaliação e de orientação, na EaD, acabam


se encontrando permanentemente, se cruzando, se fundindo
num único processo: o da sua formação e aprendizagem!

Resumindo, a avaliação deve ser compreendida e vivenciada por você como:

㍟㍟ parte do processo de construção do conhecimento e

㍟㍟ processo eminentemente pedagógico de interação contínua entre acadêmico-


orientador-especialista-colegas.
Avaliando minha
caminhada 111
Com uma concepção educacional “bancária”, desenvolvemos uma
avaliação “bancária”, [...] fazemos um depósito de “conhecimentos”
e os exigimos de volta, sem juros e sem correção monetária, uma vez
que o aluno não pode a ele acrescentar nada de sua própria elaboração
Gnoseológico – referente aqui, gnoseológica, apenas repetindo o que lhe foi transmitido [...]
ao conhecimento. Ao contrário, na escola cidadã, na qual se desenvolve uma educação
libertadora, o conhecimento [...] é um processo de descoberta
coletiva, mediatizada pelo diálogo entre educador e educando.
(ROMÃO, 2001.)

☞ Agora que ficou mais claro, acredito, o sentido do “sistema de


avaliação” no curso, vamos dirigir nossa atenção para algumas
situações e questões práticas.

Quanto à ansiedade de que falávamos no início do capítulo. Isso deve ser visto como
algo natural? Que fazer?
Quando não sabemos enfrentar uma situação com segurança, “trememos nas ba-
ses”. Tudo o que é desconhecido, uma incógnita, nos assusta e intimida. Daí a importân-
cia de você, antes de tudo, conhecer bem a proposta pedagógica do curso, fazendo lei-
tura cuidadosa do projeto, conversando com colegas e orientadores, para compreender
como o sistema de avaliação de aprendizagem é concebido e organizado no curso.
Em segundo lugar, ao estudar, você precisa ter clareza dos objetivos da atividade
que está realizando, dos conteúdos propostos pelo autor, das ideias centrais contidas
no texto, dos conceitos fundamentais a serem construídos naquele campo do saber.
Isso deixará você mais tranquila e segura quanto ao que aprender e ao processo ava-
liativo.
Isso não significa que você não venha sentir certa “ansiedade” antes da avaliação,
certa “excitação”. Isso é normal e positivo. Pesquisas apontam que há uma relação entre
o rendimento escolar e o nível de motivação. Isto é:

㍟㍟ certo sentimento de ansiedade é benéfico para o desempenho positivo numa ativi-


dade, pois ela motivará você a estudar, a se preparar para obter sucesso;

㍟㍟ muito relaxamento pode levar uma pessoa a não “se sair bem”, porque, geralmente,
o estudante “relaxado” é relaxado mesmo, não se preocupa com o estudo!

Avaliando minha
112 caminhada
z Você se recorda de times que, convictos de que ganhariam o jogo em
que se decidiria um título, foram, em contrário disso, surpreendidos
pelo adversário? A atitude de “já-ganhou” havia levado os jogadores ao relaxa-
mento, a não se empenharem, a não estarem atentos e motivados no jogo. Aí,
veio a “derrota inexplicável”.

Por isso, é importante a preparação, tanto intelectual como emocional, para que as
avaliações deixem de ser situações de medo ou de reprovação, tornando-se parte de seu
cotidiano acadêmico, momentos educativos e de aprendizagem.

As avaliações geralmente acabam tendo papel punitivo, em


vez de servirem para diagnosticar em que nível cognitivo nos
encontramos, quais os conhecimentos construídos, quais as
dificuldades de aprendizagem, e para considerar os “erros” como
pistas tendentes a compreender o trajeto por nós percorrido.

Como você se prepara quando há uma avaliação de aprendizagem ou um processo


seletivo ou um concurso? Como você avalia sua preparação?

Assinale (e acrescente) as “estratégias” que você habitualmente utiliza para a pre-


paração de avaliações:

⮒⮒ Estudo com antecedência

⮒⮒ Identifico os temas importantes da matéria que será objeto de avaliação

⮒⮒ Estudo, utilizando diferentes técnicas aprendidas por sua eficiência

⮒⮒ Leio os resumos elaborados cuidadosamente

⮒⮒ Elaboro lista de questões sobre o tema estudado e tento responder depois

⮒⮒ Anoto as dúvidas para revisar depois os tópicos que não foram compreendidos
Avaliando minha
caminhada 113
⮒⮒ Procuro o orientador para discutir o assunto, levando resumos, questões e dúvidas

⮒⮒ Exponho o tema a colega(s) e discuto com ele (s) minhas dúvidas

⮒⮒ Não faço revisões exaustivas horas antes da avaliação

⮒⮒ Evito atividades físicas pesadas

⮒⮒ Não fico comentando com colegas sobre “o que será que vai cair na prova”?

O que nós listamos acima são “estratégias” que podem auxiliá-la positivamente em
seu desempenho acadêmico. Quero, ainda, chamar sua atenção para alguns aspectos
que podem ajudá-la a superar esse clima de medo em relação à avaliação:

㍟㍟ Ao ler os materiais didáticos do curso (fascículos) ou as obras indicadas para leituras


complementares, faça sempre anotações, resumos, esquemas. Isso ajudará muito no
processo de compreensão e de memorização, servindo como material de revisão para
uma última estudada antes dos momentos avaliativos.

㍟㍟ As atividades indicadas nos materiais didáticos servem de autoavaliação, permitin-


do que você mesma identifique o que foi compreendido e o que não foi. Assim, você
dedicará mais tempo de estudo para os aspectos não assimilados.

㍟㍟ Você deve seguir sua programação de estudo, planificada no início do curso, lem-
bra? Isso ajudará você a não acumular conteúdos e evitará ansiedade e estresse às
vésperas dos momentos avaliativos.

㍟㍟ Aprenda a pensar positivamente, focando sua atenção, sua preocupação, não no


“resultado”, mas no que você realizou: “Estudei, o que poderia fazer já fiz. Sinto-me
preparada”.

☞ Outra situação que costumo observar, em situações de avaliação da


aprendizagem, é o não-cuidado ou a não-compreensão do que está
sendo solicitado. Por isso, é importante que, antes de começar a escrever ou
a expor o que está sendo solicitado (pelo autor do texto, pelos especialistas
ou pelo orientador), tenha clareza quanto ao enunciado, quanto ao que foi
perguntado.

Por exemplo, se uma questão propõe que você “analise”, ou “avalie”, ou “explique”,
você saberia diferenciar os enunciados?
Avaliando minha
114 caminhada
Vejamos, então, alguns desses enunciados. Sugiro que você complete as definições
com a ajuda de um bom dicionário e as discuta com colegas do curso e orientador.

㍟㍟ Analisar: dizer as ideias principais, explicando-as e relacionando-as.


㍟㍟ Averiguar: investigar, examinar com cuidado.
㍟㍟ Avaliar: atribuir valor a determinado assunto, referindo sua importância, utilidade, vantagens e desvantagens.
㍟㍟ Comparar: dizer quais as semelhanças e diferenças.
㍟㍟ Definir: dizer o significado correto e preciso de um dado conceito, evidenciando suas principais características.
㍟㍟ Descrever: fornecer uma relação detalhada das características mais importantes.
㍟㍟ Enumerar: ordenar de forma sucessiva, segundo a importância ou de acordo com uma ordem determinada
(alfabética, numérica, de sequência).
㍟㍟ Estabelecer: apresentar os resultados mais importantes de um tema ou questão.
㍟㍟ Explicar: expor de forma clara todos os conhecimentos que tem sobre determinado tema.
㍟㍟ Identificar: apontar os aspectos que tornam algo diferente dos demais, dando-lhe identidade.
㍟㍟ Interpretar: explicar e tornar mais claro um significado que está oculto, mediante exemplos e comentários.
㍟㍟ Justificar: apresentar provas e razões que suportem uma decisão tomada ou sustentem uma afirmação.
(Adaptado de JIMÉNEZ, B. Como estudiar con êxito. Barcelona: Plaza Joven, 1992.)

Durante a realização de um momento avaliativo, como a verificação escrita de


aprendizagem, de que modo você se comporta? Como organiza seu tempo e a expo-
sição do tema?
Aqui algumas dicas, alguns procedimentos que você poderá ter em conta:

㍟㍟ Leia com atenção o que está sendo solicitado, antes de começar a escrever.
㍟㍟ Organize o tempo que terá à disposição, sobretudo quando há mais de uma questão a ser respondida.
㍟㍟ Decida a ordem pela qual irá responder, se começar por aquela pergunta que lhe parece mais simples, mais
fácil, ou se pela mais complexa, por aquela que irá exigir mais tempo e maior esforço de sua parte. A su-
gestão é que comece respondendo à questão que melhor sabe. Isso lhe dará confiança e ajudará a diminuir
sua tensão!
㍟㍟ Seja objetiva na sua resposta, não dando voltas ou tomando rumos que levam a não responder o que foi
solicitado. Por isso, prefira escrever frases curtas!
㍟㍟ Seja clara na exposição de suas ideias, seguindo uma lógica no seu raciocínio, indo das ideias mais impor-
tantes para as secundárias;
㍟㍟ Escreva com letra legível, pois isso cria certa disposição positiva a quem vai ler seu texto.
㍟㍟ Ao final, releia o que escreveu para verificar se atendeu ao enunciado, se não deixou fora algum aspecto
importante.
㍟㍟ Finalmente, faça uma revisão do português (gramática, ortografia).

Avaliando minha
caminhada 115
O processo avaliativo não se conclui com a entrega das atividades solicitadas e/ou
com a realização da verificação escrita de aprendizagem. Pronto.... agora é só aguardar
a divulgação do resultado! Momento importante é fazer avaliação desse percurso por
você (autoavaliação) e com o seu orientador. Juntos analisarão seu percurso naquela
área do conhecimento, em aspectos como: sua compreensão dos conceitos fundamen-
tais, seus avanços, suas dificuldades, a construção do texto escrito, as estratégias de
estudo utilizadas, como aprender com os “erros”, o que poderá ser realizado para dar
continuidade ao processo de construção de conhecimentos, etc.
No curso em que você está matriculada, a avaliação é concebida processualmen-
te, e os diferentes momentos de “verificação” de sua aprendizagem têm a função de
diagnosticar sua compreensão dos conteúdos estudados, de mapear possíveis dúvidas
quanto a eles e de possibilitar sua formação profissional.
Por isso, você tem à sua disposição o sistema de Orientação Acadêmica para apoiá-
la em seu processo de estudo e compreensão dos temas propostos. É importante que
suas dúvidas, seus questionamentos sejam imediatamente trabalhados para possibili-
tar sua construção do conhecimento e sua progressão no curso.

Construir conhecimento implica enfrentar a tensão do não-saber,


do medo, do sofrimento, do escuro, do branco das ideias ...
para depois conquistar o relaxamento, o repouso temporário da
construção de um conhecimento, uma resposta transformadora.
(Paulo Freire)

A compreensão da avaliação como processo, do estudar como percurso em que se


avalia o estudo individual e a troca de conhecimentos com o outro (orientador, cole-
gas, especialista), o exercício da síntese desse percurso (nas atividades de verificação
de aprendizagem), as oficinas e a exposição dos resultados das pesquisas (Seminários
Temáticos) são momentos de um todo, de um “sistema” avaliativo, são instâncias au-
toavaliativas de um processo formativo.

z Como você pode perceber, o curso propõe uma avaliação como


processo que implique reflexão crítica, para evidenciar seus avanços,
resistências e dificuldades, além de favorecer uma atitude de decisão em rom-
per com os obstáculos que a impedem de avançar.

A avaliação é o calcanhar de aquiles de toda e qualquer ação pedagógica e educa-


tiva. Avaliar ou ser avaliado não pode implicar uma situação de domínio/submissão ou
de poder/medo, mas sim de estabelecer relações de um sujeito com outro, de trocas,
significados e compreensões.
Avaliando minha
116 caminhada
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Estudar é um tipo de atividade humana, é um trabalho, apesar de muitas pessoas
acharem que se trata de perda de tempo, algo para “filho de dotô”, para quem não tem
Possuir conhecimento tem mãos calejadas, para quem nasceu para isso. É visto, portanto, como ócio permitido a
duas vantagens: julga-se quem tem tempo a perder, que não precisa trabalhar para sobreviver.
menos e julga-se melhor. A vida, hoje em dia, vem provando que não é bem assim. Numa sociedade “letra-
(G. J. Arts) da” como a nossa, é fundamental o estudo para a sobrevivência da pessoa, para ser
“gente”, para ser “cidadão”, em condições de dar conta de seus deveres e de exigir
seus direitos.

z Você está iniciando um curso de Licenciatura que tem a duração


mínima de quatro anos. Não se trata de curso de fins de semana,
a ser realizado nas férias, que você acompanhará a seu “bel-prazer”. Haverá
cronogramas, datas a serem cumpridas. São quatro anos que exigirão de você
dedicação, sacrifício, renúncia, constância e muita paixão.

Saber é um processo difícil, realmente, [...] o ato de


estudar é exigente, mas é gostoso desde o começo.
(Paulo Freire)

Paixão pelo estudo!

Haverá momentos em que você, ou alguém da sua família, será tentada a fazer cál-
culos para verificar se compensa estudar durante quatro anos para continuar ganhando
uma “mixaria” de salário, quando o vendedor de picolé ou de refresco, na rua, ganha
muito mais que você, sem ter nenhum diploma!
Começará a fazer comparações... e certo desânimo invadirá seu ser.

Não desanime!

É claro que o salário é parte de sua realização pessoal e profissional. As lutas pela
melhoria de salário terão que ocorrer pela importância do seu trabalho na sociedade,
pela sua qualificação profissional e por sua participação nos encaminhamentos políti-
cos.
Investir na sua qualificação profissional não a leva simplesmente a desenvolver
melhor o trabalho, mas a incorporação de novos conhecimentos pode provocar em
você transformação, desenvolvendo atitudes e práticas que lhe permitam interagir no
meio social.
Antes de se deixar desanimar, reflita na importância do curso para você, na conquis-
ta que estará fazendo, ultrapassando seus próprios limites, permitindo-se crescer como
PESSOA, profissional e cidadã.
Considerações
118
Vá em frente!

E isso não se faz sem mudanças dentro de você (nas concepções, na visão de mundo)
e na relação com os outros (nas ações cotidianas e nas práticas profissionais).

Na saída de um programa ou projeto, mais importante do que


deixar relatórios escritos é deixar pessoas transformadas.
(Michael Quinn Patton. Utilization-Focused Evaluation. Thousand Oaks,
California-EUA: Sage, 1997.)

Desejamos mudar, muitas vezes, sem sofrimento. Gostamos da ideia de que as coi- Se você não mudar
sas poderiam acontecer como no filme “Chocolate”, de Lasse Hallström (2000), ou em a direção, terminará
“Festa de Babete”, de Gabriel Axel (1987). Buscamos soluções mágicas, receitas que têm exatamente onde partiu.
o fetiche de encantar e mudar as pessoas, seus sentimentos e suas vidas, ao som de uma (Provérbio chinês)
“flauta mágica”. Hoje, há uma vasta literatura que faz apelo à busca do prazer na vida, da
autorrealização, do estar bem consigo mesmo, de que aprender é prazeroso. Isso pode
criar em nós a fantasia de que as dificuldades serão superadas porque assim desejamos,
com um simples toque mágico. Irá descobrir, ao longo da aventura, que o estudo exige
disciplina, reorganização da vida, e que mudar é processo, também doloroso, uma vez
que prazer e dor são duas faces da mesma moeda.

Mude, mas comece mudar devagar


porque a direção é mais
importante que a velocidade.
Você certamente conhecerá coisas
melhores e coisas piores do que as
já conhecidas. Mas não é isso que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda!
(Clarice Lispector)

Considerações
119
Por outro lado, não podemos pensar que tudo depende só de você, de seu esforço,
de sua garra. É o discurso que hoje é muito veiculado em programas televisivos: “Eu
sou brasileiro, eu não desisto nunca”.

☞ A Instituição, mediante seu apoio organizacional, os especialistas,


a equipe pedagógica e de orientadores, tem sua responsabilidade
nessa aventura, no sucesso de sua aventura!

Terá meses e meses pela frente para concluir o curso. Muitas coisas poderão acon-
tecer: desentendimentos com colegas e familiares, confrontos com orientadores e
equipe pedagógica, crises, cansaço, desânimo e abandonos pelo caminho íngreme a
percorrer, pelos momentos de neblina, vento frio, alegrias pelo ar fresco, pela água
cristalina que corre nos ruidosos riachos, saltitante entre as pedras, e que sacia a sede,
pelas paisagens que se descortinam à medida que galga a montanha e que a encanta
quando faz breves pausas para observá-las, pela vibração por ter alcançado o topo,
pelas brincadeiras ao ar livre, pelo lanche saboroso compartilhado, pelo retorno alegre
e ruidoso, acompanhado pelo pôr do sol que nos surpreende e nos provoca com repen-
tinas mudanças e misturas de cores, pelo cansaço sadio ao regressar, pelos abraços dos
que esperaram no vale o seu retorno, que acreditaram em sua capacidade de vencer e
superar os obstáculos e as dificuldades …

Ao longo da caminhada deve se perguntar:

o curso está sendo significativo para mim? Em que está me modificando?


Está possibilitando desconstruir/reconstruir conceitos, valores, visão
de mundo, reconfigurar minha vida, minha prática profissional?

À medida que galgar a montanha terá a possibilidade de ampliar a visão, enxergar


mais longe, com maior profundidade o entorno, o vale que se descortina lá em baixo,
mas ao qual está ligada e pertencente. Afastou-se dele para melhor olhá-lo e, ao re-
gressar, melhor explicar o que observou, poderá fazer as mudanças que o afastamento
lhe permitiu perceber como necessárias, terá novo olhar e nova prática sobre a vida no
vale que retomará sua cotidianeidade ressignificada, reconstruída.
Chegará ao final da jornada. É o momento de avaliar o percurso, de manifestar como
se sente, o que provocou em você, quanto você se modificou, que decisões a tomar.
Há os comentários dos colegas e da equipe que compartilharam essa aventura, dos
que de longe acompanharam sua trajetória. Então se perguntará: o que restou dessa
aventura?
Considerações
120
De tudo ficaram três coisas:
a certeza de que estou sempre começando,
a certeza de que era preciso continuar e Eu não tenho um caminho.
a certeza de que será interrompido antes de terminar. O que eu tenho de novo é o
Fazer da interrupção um caminho novo, jeito de caminhar. Aprendi.
fazer da queda, um passo de dança; O caminho me ensinou.
do medo, um escada; do sonho, uma ponte; (Thiago de Melo)
da procura, um encontro.
(Fernando Sabino)

Chegará ao final dessa caminhada, mas não da aventura. Pois você está nessa aven-
tura como sujeito ativo, participativo, que aprende e ensina ao mesmo tempo, que se
coloca com postura crítica diante do que lhe é apresentado para tomar suas decisões,
como quem participa de ação coletiva, não seguindo simplesmente os outros pela
trilha, olhando para o chão para não pisar no calcanhar de quem está à frente, obede-
cendo à direção e às ordens de quem está comandando a fila.
Sobre essa aventura muito se falará. Suas recordações ficarão impressas em sua Dizem que a águia, próxima
vida. dos quarenta anos de vida, com
Quero exortá-la a que não tenha, ao longo desse curso, a atitude da coruja que a perda da força em seu bico,
levanta voo ao entardecer, quando o dia já se foi, muito pouco podendo ser feito para instrumento primordial para
recuperá-lo e nele intervir; ou da galinha que passa a vida ciscando nos limites seguros caçar a presa, tem que tomar
e fechados do galinheiro, ou de uma granja, sendo bem-alimentada para somente botar uma decisão: ou morrer, ou
ovos, ou virar frango congelado. renovar-se, isto é, romper o
Quero que tenha ou que venha a construir a atitude da águia que abre suas asas velho e inútil bico e aguardar
para sair do chão e levantar voo em direção ao sol, ousando alcançar altitudes cada o nascimento de um novo.
vez mais altas, de onde pode descortinar belas
paisagens, numa visão cada vez mais ampla,
mas tendo o olhar profundo e focado sobre a
presa, sobre seus objetivos, suas metas, capaz
de intervir, de tomar decisões, soltar seu grito
de liberdade, de realizar sacrifícios, para poder
continuar ser águia.
Você poderá tornar-se águia.
Aliás, dentro de você existe essa águia, pois,
como nos exorta Leonardo Boff, ser águia é
parte da condição humana e, parafraseando-o,
eu diria,

Ser águia faz parte da


sua aventura de
ser estudante!

Considerações
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Bibliografia
125
Anexo
Testes de Percepção Visual

Observe os 20 objetos abaixo, assim como os números correspondentes, durante


cinco minutos. Depois preencha o quadro da página 41. ▼

Figura 1

Anexo
126
Figura 2

Anexo
127

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