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Educação A Distância
Educação A Distância
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Fascículo ❶
Estudar a distância:
Uma aventura acadêmica
Licenciatura em Pedagogia
– Modalidade a Distância –
Oreste Preti
Estudar a distância:
Uma aventura acadêmica
Licenciatura em Pedagogia
– Modalidade a Distância –
Cuiabá, 2009
Conselho Editorial
Preti, Oreste
Estudar a distância : uma aventura acadêmica : licenciatura
em pedagogia para modalidade a distância / Oreste Preti. --
Cuiabá, MT: Central de Texto : EdUFMT, 2009.
Bibliografia.
ISBN 978-85-88696-69-3
09-05575 CDD-378.125
Saudações amigas,
Prof. Oreste Preti.
P. S.: Por uma daquelas felizes coincidências, semanas após ter redigido este texto,
veio parar em minhas mãos a obra “Feminino e Masculino: uma nova consciência para
o encontro das diferenças”, de Rose Marie Muraro e Leonardo Boff (Ed. Sextante). Sua
leitura, certamente, poderá trazer novas luzes a esse debate.
Pedindo licença para me apresentar
O primeiro desafio que tive pela frente, ao escrever esses fascículos, e o seu, ao
iniciar sua leitura, é o fato de não nos conhecermos, ainda.
Por isso, proponho que o conhecimento sobre “quem somos” seja o ponto de parti-
da neste encontro mediado pelo texto. Você poderá fazê-lo enviando-me mensagem,
com texto e foto, se quiser, para meu endereço eletrônico: oreste@nead.ufmt.br. Eu o
farei, agora, mediante a palavra escrita.
Sou Oreste Preti, oriundo da Itália e naturalizado brasileiro. Vim para Mato Grosso
há mais de 30 anos e passei a maioria destes aqui em Cuiabá, como professor da Univer-
sidade Federal de Mato Grosso, atuando no departamento de Teorias e Fundamentos
da Educação. Sempre trabalhei com a formação de professores, sobretudo em áreas de
fronteira agrícola, ao norte do Estado, a mais de 600km da Capital. Em 1992 fiz parte
da equipe que, no interior da universidade, se propôs buscar outras saídas para dar
conta do contingente de professores não titulados em nível superior que atuavam na
rede pública em Mato Grosso (na época eram mais de 5.000). Para superar as distân-
cias geográficas e os escassos recursos financeiros e humanos, a alternativa que foi se
desenhando como mais viável foi a modalidade de Educação a Distância.
Tivemos de superar preconceitos e resistências quanto à modalidade, no interior do
próprio Instituto de Educação e nas instâncias por onde a proposta teve de passar para re-
ceber sua aprovação. Fazer educação a distância, naquele momento, era um ato de cora-
gem e de temeridade, pois essa modalidade era avaliada negativamente pela maioria dos
educadores e gestores da Educação, era considerada uma “educação de 3ª categoria”!
Em fevereiro de 1995 iniciávamos a primeira experiência, no país, de um curso de
graduação a distância. Este curso se disseminou por todo o Estado, atingindo mais
de 5.500 professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e também expandiu-se
para outros Estados, onde as universidades públicas locais assumiram a coordenação e
execução do curso de Licenciatura.
Atualmente, mais de 200 instituições (públicas e privadas) são credenciadas para
oferecer cursos a distância. Estima-se que quase 1 milhão são os alunos matriculados.
O que estou propondo, na caminhada deste Guia, é o resultado de reflexões particula-
res e coletivas construídas durante mais de 20 anos, como pesquisador e como professor
de Metodologia da Pesquisa, em cursos de graduação e pós-graduação. Confesso, porém,
que a reelaboração deste material foi assumida por mim como novo desafio, não somen-
te pelo curto prazo e pelas inúmeras atividades que me roubam o tempo da leitura e da
reflexão, como pela expectativa que tenho em relação à sua sólida formação e ao quadro
dos profissionais que atuam na Educação Infantil, por seus saberes e competências.
Reconheço que todo texto é provisório e limitante. Por isso, as críticas que você fizer
a esses fascículos serão bem-vindas. Ficarei agradecido.
Apresentando a aventura
4 – Estudando em grupo 81
5 – Fazendo anotações 87
Considerações 117
Bibliografia 123
2 Leitura de
Textos acadêmicos
BIBLIOGRAFIA 227
De muitos caminhos
um só caminho,
ou de um caminho
muitos caminhos?
Preparando-me
18 para a aventura
Como você está, hoje, ao iniciar o curso? Quais são suas expectativas?
Essas poucas linhas, traçadas aqui como em outras páginas do Guia, foram coloca-
das com o intuito de provocá-la a escrever. Não pretendo limitar suas possibilidades
de expressão escrita. Por isso, se quiser, faça o registro de suas reflexões, suas dúvidas,
seus questionamentos, que irão surgindo ao longo da leitura desse fascículo, como
dos demais no andar do curso, em seu diário pessoal, uma espécie de Memórias da sua
aventura de Ser Estudante!
Você acha que Ser Estudante é uma aventura? Que sentidos você dá ao título deste
guia metodológico?
Convido você, amiga leitora, que busque em suas memórias, ou em suas fantasias
e sonhos, uma situação em que uma aventura se tenha configurado, desenhado, para
ir estabelecendo comparações, identificando divergências, diferenças com o que irei
expor, e ir tecendo a trama de sua aventura.
Feche seus olhos e se deixe levar nessa aventura, como barco em alto-mar, acom-
panhando o balanço das ondas e a direção dos ventos, ou como pássaro voando para
atingir os picos da montanha, em voos ousados e desafiadores. Mas tenha sempre à
mão a bússola para se orientar na aventura, e o olhar fixo nos objetivos e nos sonhos
a alcançar.
Preparando-me
para a aventura 19
1 | A aventura
1.1 | “Aventura”, inicialmente, pode comportar situações não previsíveis, que não
podem ser antecipadas. Você poderá estar se perguntando: o que me espera pela fren-
te? Como será o curso? Será que vou dar conta?
Determinação passa a ideia ㍟㍟ A não-previsibilidade traz sentimentos de incerteza, de estar diante do “incógnito”,
de algo já demarcado, que do não-saber, do inesperado, do que escapa ao programado, do definido. Existem si-
não pode ser modificado. tuações e condições objetivas (muito mais do que “determinações”), (im)postas pelas
políticas econômicas e sociais, pelo sistema educacional, pelas instituições em que
você atua ou com as quais se relaciona. Existem as condições/situações subjetivas, sua
vida particular e familiar, sua formação, seus valores e crenças. Ainda mais você, sendo
mulher, muito mais oprimida e dominada em nossa sociedade ocidental e que busca
hoje sua libertação, seu espaço de atuação. São condições/situações que não podem
ser antecipadas. Vão acontecendo, se configurando, se constituindo, nos atingindo e
nos transformando, num processo contínuo e incessante de auto-organização, (auto)
formação.
Preparando-me
20 para a aventura
㍟㍟ Mas, o não previsível pode apontar, por outro lado, o novo, a descoberta, a con-
quista. Você poderá se aventurar por “mares nunca dantes navegados”, para atingir
novas fronteiras, superando os limites postos e impostos, em busca de novos mundos,
de novas terras, à conquista de novos territórios. Sentir-se-á bandeirante, exploradora,
heroína, participante ativa de sua própria aventura.
É o momento em que ingressa em “novos” territórios, espaços, valores, concepções,
em que encontra, defronta e afronta situações novas e sujeitos diferentes. Aventura,
então, é travessia, é abandonar a margem segura em que está apoiada e seguir rumo
à outra margem. No meio, tudo pode acontecer!
Talvez já tenha vivenciado situações parecidas com essa que Guimarães Rosa descreve.
Você deixa a margem segura da situação em que se encontra em busca da outra mar-
gem, sem ter certeza em que tudo isso vai dar, mas se aventura pelo desejo de realizar
projetos, pela insatisfação perante a situação atual, por situações inesperadas. Não
importa o motivo, é impulsionada pela busca de sua realização pessoal e profissional.
㍟㍟ Essa não-previsibilidade pode provocar, também, emoção, desejo, prazer, pois a As raízes de uma árvore podem
perspectiva dos desafios, dos sonhos a alcançar, dos desejos a realizar a impulsiona ser amargas, mas o que importa
para a ação e, mesmo que o êxito não surja de imediato, pela ação é possível lançar é que seus frutos sejam doces,
perspectivas para o êxito. abundantes e saborosos.
(Provérbio oriental)
Como lidar com esses sentimentos, aparentemente opostos, de incerteza, que a
assustam, e do desejo da descoberta que a incitam e motivam para continuar na aven-
tura?
Estivemos, ao longo de nossa formação, presos às mãos de Atenas (deusa da razão). Para educar, entre tantas
Queremos sempre ter a certeza de que estamos pisando em solo seguro e, como “estu- outras competências, o que
dantes”, queremos respostas às nossas dúvidas, aos nossos questionamentos. importa, principalmente, é abrir a
Por que não sentir a sensação prazerosa de tocar nas mãos de Vênus (deusa do voz que vem do coração.
prazer), para que tenhamos a possibilidade de “sentir” muito mais do que “compreen- (Alceu Vidotti)
der”, de sentir o prazer em aprender, em viver, em estarmos juntos, compartilhando
experiências e saberes?
Preparando-me
para a aventura 21
Diz o dito popular que a vida é uma escola, “a escola da vida”. Aprendemos com a
vida, mas isso exige de nós humildade e sabedoria para aceitar isso e para que a apren-
dizagem se processe.
Muitas vezes, agimos como o astuto Ulisses que quer fruir da beleza do canto sem
a ele sucumbir, ou como marinheiros que recusam enfrentar o perigo do encanto e
conduzem o barco sem usufruir desse prazer sedutor.
Podemos agir diferentemente: abrir os ouvidos e os braços, experimentar, se aventu-
rar e não renunciar, não ficar só no desejo, com medo de ser apanhado por ele. É ousar
como fizeram Adão e Eva, Prometeu, Pandora que romperam com normas e privilégios
divinos, ou até como Ícaro que desafiou a própria natureza, recorrendo a uma técnica
para imitá-la e subvertê-la.
Preparando-me
22 para a aventura
1.2 | Aventura não é um “aventureirismo”, um jogo, uma brincadeira, um faz de
conta: “Vou entrar para ver o que vai dar; se não gostar, caio fora”. Não é um caminhar
“sem lenço nem documentos”. Seria uma atitude de irresponsabilidade entrar no curso
com esse espírito. É um projeto a ser realizado, materializado, um projeto que é seu,
mas não somente seu.
Inicialmente, é uma proposta institucional, produzida no bojo de políticas educacio-
nais. É o projeto de uma instituição, de parceria com outras instituições, de uma equipe
de educadores que tem objetivos, uma direção, uma intencionalidade, um sonho a
realizar: a formação de profissionais, a ser construída sobre novos paradigmas que
possibilitem o desencadear de práticas inovadoras na vida profissional.
Por isso, ao aceitar entrar nessa aventura, ao ingressar no curso, você firma um
pacto político-pedagógico com a instituição e, indiretamente, com o sistema de ensino,
uma espécie de “aliança”. Nisso, estão implicados a instituição, a prefeitura, a equipe
pedagógica, professores especialistas, orientadores, colegas de curso.
Em segundo lugar, se a proposta dessa aventura é institucional, a decisão de parti-
cipar dela, de estar nela, é sua. Trata-se de seu projeto de vida.
Quando digo que esse envolvimento é pessoal, não significa que é somente seu, mas
que envolve a família, as pessoas que fazem parte do seu cotidiano, que estão ao seu
redor, das pessoas que você ama. Elas, direta ou indiretamente, participarão dessa sua
aventura, algumas para dar apoio, assumindo tarefas que antes eram suas, oferecendo
o ombro amigo nos momentos de desânimo, incentivando; enquanto outras poderão
colocar obstáculos, não aceitando os momentos de afastamento do lar, o tempo ocu-
pado no estudo, suas mudanças na maneira de olhar para a vida, seus ensaios para
novas práticas.
Você está neste curso porque você compactua sua proposta curricular e aposta na
modalidade a distância. Por isso, trata-se de compromisso que não é somente da insti-
tuição implicada, mas, sobretudo, seu.
É importante salientar que você não está numa aventura qualquer. É SUA AVENTURA!
As decisões serão pessoais. Você irá definindo o roteiro, tornando-se protagonista
da aventura. Isso demanda responsabilidade, disciplina, reorganização da vida pessoal
e familiar também, desenvolvimento de método de estudo, autogestão, controle do
estresse, autoestima positiva.
Estar nessa aventura, então, é caminhar com sentido, sabendo para onde você está
se dirigindo. Não há vento favorável, nos ensinam os sábios, se o argonauta não sabe a
que porto conduzir com segurança seu navio e atracar.
Preparando-me
para a aventura 23
2 | Educação a distância
No seu município, talvez, como na maioria dos municípios do país, algum curso a
distância está sendo oferecido.
EAD – Educação Aberta Há autores que apontam as origens dessa modalidade de ensino na Antiguidade,
e a Distância; nas Cartas que os Apóstolos escreviam para as comunidades cristãs longínquas. Para
EaD – Educação a Distância outros, o início da Educação a Distância (EaD) foi marcado quando a “Gazeta de Bos-
ton”, em 20 de março de 1728, publicou o anúncio da oferta de um curso de taquigrafia
por correspondência.
No entanto, o desenvolvimento de ações institucionalizadas de EaD vamos encontrá-
lo a partir de meados do século XIX, com a criação das primeiras escolas por correspon-
dência destinadas, por exemplo, ao ensino de línguas, a cursos de contabilidade ou de ex-
tensão universitária em países como a Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos e Suécia.
Com o aperfeiçoamento dos serviços de correio, a agilização dos meios de transpor-
te e com os surgimento do rádio e, posteriormente, da televisão iniciou-se uma fase de
Tele – Do grego: distância. expansão pelo mundo da EaD, ou, como alguns autores preferem, da Teleducação.
Porém, é a partir da década de 1970 que a modalidade a distância passou a fazer parte
das políticas de Estado para dar conta de uma nova conjuntura econômica e política:
crescente demanda de qualificação da mão de obra nas indústrias, graves problemas en-
frentados pelo sistema formal de educação, processo de democratização da sociedade,
desenvolvimento das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTICs).
Mega – Porque atendem a São criadas, assim, as mega-universidades de Educação Aberta e a Distância (EAD)
mais de cem mil estudantes. em diversos países, como Grã-Bretanha, Espanha, Índia, Tailândia, Turquia, Sud-África,
que atendem a cem, duzentos e a mais de quinhentos mil alunos, como a China TV
University System.
Hoje, na maioria dos países do mundo, o ensino a distância vem sendo empregado
em todos os níveis educativos, desde a Educação Básica até a pós-graduação, assim
como também na educação permanente, atendendo a milhões de estudantes que
fazem seus cursos sem sair de casa ou do local de trabalho.
No Brasil, a EaD também tem uma trajetória que se inicia nas décadas de 1930-40,
com a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (1923), mas somente na década de
1970, durante a ditadura militar, é que ela tomará vulto e expressão com a criação, pelo
governo federal, do Programa Nacional de Teleducação (PRONTEL) e com a implemen-
tação de diversos programas nacionais para atender a demandas emergenciais, como o
Projeto Minerva, o MOBRAL, o Programa LOGOS. Mais recentemente, o governo Fede-
ral desenvolveu os Programas Um Salto para o Futuro (1991) e o Telecurso 2000 (1995).
Paralelamente ao caminho percorrido pelo governo federal, encontramos insti-
tuições privadas ou públicas ousando projetos educativos próprios, utilizando-se da
Preparando-me
24 para a aventura
modalidade de Educação a Distância, como o Instituto Universal Brasileiro (1941), o
Centro Educacional de Niterói (CEN), a Fundação Educacional Padre Landall de Moura,
a Fundação Padre Anchieta (1967), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(SENAC, 1976), a Associação Brasileira de Tecnologia Educacional (1971), o Centro de
Educação a Distância (CEAD, 1980) da Universidade de Brasília.
Na trajetória atual da EaD, alguns fatos importantes:
2006: Pelo Decreto n. 5.800 (8/6/2006) fica instituído o Sistema Universidade Aberta
do Brasil (UAB), com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta pública de cursos
e programas de educação superior no país.
Preparando-me
para a aventura 25
Em 2006, mais de 200 instituições credenciadas pelo MEC ofereceram seus cursos
a mais de 1,2 milhão de alunos. Se pensarmos que em 2000 eram apenas algumas
centenas os alunos matriculados nas primeiras 5 instituições credenciadas, podemos
ter uma ideia da expansão dessa modalidade aqui no Brasil.
Assim, o Brasil vem construindo sua história na EaD, ampliando a oferta de cursos,
envolvendo um número cada vez maior de instituições públicas, rompendo com as bar-
reiras do sistema convencional de ensino e buscando formas alternativas para garantir
que a educação inicial e continuada seja direito de todos.
Há, neste sentido, um rompimento do conceito de distância. A educação está mais
próxima para uma parcela cada vez maior da sociedade (não está mais “a distância”,
distante), e as tecnologias da comunicação possibilitam o diálogo e a interação entre
pessoas, em tempo real, tornando sem sentido falar em “distância” no campo da co-
municação.
Preparando-me
26 para a aventura
� Mas, como funciona
um curso a distância?
Navegue pela internet e procure textos, artigos, cursos, etc. nos servidores de busca www - world wide web
(como Google, Cadê) e nos seguintes sítios: - rede de alcance mundial.
Guias ▼
www.guiaead.com.br
www.anuarioead.com.br
Redes ▼
www.unirede.com.br • UNIREDE (Universidade Virtual Pública Brasileira)
www.cederj.edu.br/cecierj • CEDERJ (Centro de Educação Superior a
Distância do Estado do Rio de Janeiro)
www.uvb.br • On-Line UVB (Rede Brasileira de EaD – Universidade Virtual Bras)
www.ricesu.com.br • RICESU (Rede Católica de Ensino Superior)
www.elearningbrasil.com.br • Associação e-learning Brasil
www.senai.br/ead • Rede Senai de EaD
www.abed.org.br • Associação Brasileira de EaD
www.univir.br • Universidade Virtual Brasileira
Revistas – artigos ▼
www.nead.ufmt.br (Produção Científica)
www.icoletiva.com.br
www.nied.unicamp.com.br/oea
www.proinfo.gov.br
www.teleduc.nied.unicamp.br
www.aquifolium.com.br/educacional/artigos
www.saladeaulainterativa.pro.br
Preparando-me
para a aventura 27
3 | Ser estudante “a distância”
� Mas, o que significa ser estudante num curso a distância? É possível “estu-
dar a distância”, sem a presença física do professor e/ou da instituição? Você
pode “aprender a distância”?
Os adjetivos passam,
os substantivos ficam.
(Machado de Assis)
� Mas, como se dá esse “estar juntos”? Como dar conta dessa aventura pesso-
al/coletiva, particular/institucional? Como você será orientada e apoiada?
Entre tantas outras coisas que poderiam ser ditas nessa sua preparação para a Todo discurso é ideológico
aventura, há uma que, em meu ver, deveria ter sido dita desde o início, mas que, pro- e político. É espaço de
positadamente, deixei agora para o final. disputa e arena de luta.
Tudo o que escrevi até aqui e a partir daqui são sentidos e valores dados por mim,
como autor. Você, ao ler este texto, foi emprestando seus sentidos, foi conferindo seus
valores, como leitora.
Portanto, há os sentidos e valores do autor, bem assim os sentidos e valores do lei-
tor que, não necessariamente, devem coincidir. Pois, eu falo de um lugar não somente
territorial, mas sobretudo social, cultural e temporal que me fez como tal; o mesmo se
dando com você, leitora, que se constitui em outro lugar, em outro contexto, em outra
cultura, em determinado tempo.
Em alguns pontos e lugares do caminho nos encontramos, em outros nos afastamos.
Experiências, vivências, visões de mundo nos fazem “parecidos” em alguns aspectos,
Preparando-me
para a aventura 33
pois fazemos parte da mesma história política, do mesmo contexto socioeconômico;
mas “diferentes” em muitos outros, pois cada um tem sua história particular. Há sen-
tidos (im)postos pela cultura, pelo coletivo e sentidos que afloram do próprio sujeito,
da sua maneira de ser e se posicionar no mundo, de suas trajetórias, suas decisões e
opções ao longo de sua história de vida, pois os sentidos revelam concepções, visões
de mundo, crenças, valores, expectativas, sonhos, desejos. São sentidos aflorados,
provocados pelas palavras e pelas emoções. Nós somos palavras e emoções; no mais
das vezes, mais palavras que emoções. Há momentos em que as palavras são indizíveis,
não exprimindo todos os sentidos que queremos a elas atribuir, limitando-nos, embora
possam nos transportar para o mundo do outro.
É a entonação que convence, Há outros momentos em que as palavras são mágicas, envolventes, produzindo
e não a palavra. impactos, transformando realidades, criando em nós outras conexões ou fantasias, não
(Madame de Girardin) porque elas têm essa força dentro delas, mas porque quem as profere e/ou quem as
“sente” é mágico, envolvente, sonhador.
Por outro lado, as palavras constroem um discurso que pode se instituir como verda-
Foucault (1926-1984) – Filósofo de, como nos chama a atenção Michel Foucault, um discurso unidirecional, a-dialógico,
francês, abriu novos horizontes fechado em si mesmo, não revelativo, não hermenêutico, não aceitando outros senti-
à história e à epistemologia. dos, outras direções, outras verdades. Assim, as palavras estariam apagando sensibili-
dades, imaginações, conexões, provocações e revelações.
Por isso, a “ditadura” da palavra e do discurso “monológico” pode ser rompida pelas
emoções, oferecendo novos sentidos e rumos. Pois a realidade é polifonia, é o encontro
de diversos “eus”, em nós mesmos e na relação com os outros, de diferenças de subje-
tividades, de multiplicidade de identidades.
Sendo assim, espero que meu texto não tenha o caráter de imbuir verdades, de
pretender produzir harmonia sonora e agradável, mas que ele, com acordes e notas
dissonantes, possa contribuir na (des)construção de conceitos e de práticas que, talvez,
ao longo desse curso, você desejará ressignificar.
Preparando-me
34 para a aventura
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1
de
Ao final do estudo deste capítulo, você terá condições de:
Que é nosso passado, senão uma Ao iniciar esta nova aventura, a de ser estudante, quero lhe propor que abra o baú
série de sonhos? Que diferença das suas lembranças, onde você vem guardando, não de hoje, seus primeiros cadernos
pode haver entre recordar de escola, boletins, fotos, diários... Lembranças de sua trajetória escolar, de seus pro-
sonhos e recordar o passado? fessores, colegas, suas aprendizagens, experiências, seus medos, sucessos, sonhos...
(Jorge L. Borges, Cinco,
visões pessoais.)
Lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com
imagens e ideias de hoje, as experiências do passado.
(Ecléa Bosi, 1979, p. 17.)
Meu jeito
36 de estudar
... e comece a escrever suas MEMÓRIAS de estudante, do jeito que você quiser, por
escrito, com desenhos, em forma de poesia, de peça teatral, em vídeo.... no seu estilo,
na sua maneira de ser, de pensar, de se manifestar, sem preocupação com regras, com É no jogo das tramas,
limites, com censuras. de que a vida faz
É sua história, é sua biografia, é um voltar-se sobre você para se compreender. É o parte, que ela – a vida
registro de sua vivência pessoal, como estudante, sem esquecer que você fez e conti- – ganha sentido.
nua fazendo parte de uma História maior, de um contexto político, econômico, social (Paulo Freire)
e cultural!
Podemos acenar a algumas pistas que poderão servir ou não na construção de suas Só consegui recompor o
Memórias de Estudante: passado com um pé na
erudição e outro na magia.
▶▶ Como foi sua trajetória escolar? (Marguerite Yourcenar,
escritora belga.)
▶▶ Que lembranças ficaram, que foram marcantes sobre a escola, colegas e
professores?
▶▶ O que lhe agradou e desagradou? O que foi bom, o que foi ruim?
▶▶ Como pretende organizar seu tempo, sua vida, para poder fazer bem sua
caminhada no curso?
Meu jeito
de estudar 37
Sim, não nego que, ao avistar a cidade natal, tive uma sensação
nova. Não era efeito da minha pátria política; era-o do lugar
da infância, a rua, a torre, o chafariz da esquina, a mulher de
mantilha, o preto do ganho, as coisas e cenas da meninice,
buriladas na memória. Nada mesmo que uma renascença.
(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.)
O tempo passado e o tempo Certamente, será interessante conversar com pais, avós, tios e tias, irmãos, colegas
futuro, o que poderia ter sido e (e, quem sabe, professoras) ...... para que a ajudem a buscar, no fundo do baú, memórias
o que foi, convergem para um de fatos passados, vividos.
só fim, que é sempre presente. Neste início do curso vá escrevendo essas memórias do EU ESTUDANTE.
(T. S. Eliot, poeta.) Você pode dar outro título, como outros fizeram: Um reencontro com minhas me-
mórias; Pedaços de tempo, pedaços de vida; Lembranças de estudante...
Sugerimos que essa produção seja socializada num encontro com os demais colegas
do município, ou do Polo, ou do curso. E que você continue escrevendo esse Memorial,
fazendo o registro de sua travessia nesse curso!
1 | Conhecer-se
Conhece-te a ti mesmo – e Você deve ter ouvido e lido muitas vezes a célebre frase
conhecereis o universo do filósofo grego Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Sobre
e os deuses. ela, muito se tem escrito, com diferentes compreensões e
(Inscrição do Templo de interpretações.
Delfos - Grécia.) O que você pensa a esse respeito? É uma frase feita? É re-
petida sem se pensar muito no que ela quer dizer, ou ela revela
sentidos profundos? Como você a interpreta?
Meu jeito
38 de estudar
Somos resultado do passado. Nosso pensamento se funda no dia de
ontem e em muitos milhares de dias passados. Somos resultado do
tempo, e nossas reações, nossas atitudes atuais, são efeitos acumulados
de muitos milhares de momentos, incidentes e experiências.
(Krishnamurti, A primeira e última liberdade.)
⮒⮒ visual – sua memória é fotográfica, você tem que estar com o texto na sua fren-
te, lendo para acompanhar as ideias do autor, do palestrante. Você capta as infor-
mações quando consegue “visualizá-las”, isto é, você imagina aquela cena, aquele
personagem, aquela época. Você localiza a informação no texto, lembra do lugar
em que está, da página, do formato. As imagens do texto lido vão passando na sua
frente como numa tela de cinema e você vai falando ou escrevendo sobre elas.
Ou você é nada disso ou um pouco de tudo isso? Como você costuma mais facil-
mente guardar uma informação?
Meu jeito
40 de estudar
Para melhor entender isso, realize a atividade seguinte. ▼
O homem hesitou por um minuto, depois se decidiu bruscamente a correr para uma
viatura, parada perto da calçada. Diante da viatura esperava uma mulher de capa
preta. A chuva, que caía há três dias copiosamente, tinha transformado o caminho
em um atoleiro opaco. O homem atacou, na viatura, dois homens que sorriam.
Retornou? Tente, agora, dizer o que você se lembra do texto lido em voz alta, há
pouco (“O homem hesitou...”).
Você conseguiu lembrar?
⮒⮒ Não ▶ Não desanime e nem se preocupe. Talvez você não estivesse suficien-
temente concentrada ou “ligada” na leitura. Então, repita o exercício uma ou duas
vezes. Ou sua memória é mais visual.
Sugiro que realize o “Teste de percepção visual” (Figura 1), disponibilizado na p. 126
deste fascículo, seguindo as orientações prescritas. Em seguida, volte a esta página.
Agora, escreva, à frente de cada número, o nome do objeto observado, sem voltar
à última página para tirar dúvidas!
Meu jeito
de estudar 41
Agora, pode voltar à última página e conferir o número de acertos!
☞ Não fique triste se alcançou uma baixa pontuação (até 9). Isso não sig-
nifica que não tenha boa percepção visual. Terá que se exercitar mais,
fazendo exercícios desse tipo, para treinar e reforçar sua memória.
Se você conseguiu acertar mais da metade, parabéns!
Agora, e somente agora, compare o que acabou de escrever com a figura da última
página. Veja se na sua descrição esqueceu elementos centrais ou detalhes da paisa-
gem.
O que na verdade ocorre é que, para percebermos algo, temos que ordenar, sis-
tematizar, relacionar e reconstruir nosso objeto de percepção. Pois, dessa forma,
chegaremos a entendê-lo, porque conseguimos senti-lo de forma organizada, esta-
belecendo relações entre os objetos. Isso é fundamental na atividade de estudo e de
aprendizagem!
Meu jeito
42 de estudar
Você é dependente ou independente de seu campo de percepção? ▼
Você é do tipo:
⮒⮒ Chupim – que põe os ovos nos ninhos alheios para que as outras aves incubem
e cuidem de seus filhotes?
⮒⮒ “Estou-nem-aí” – dá a entender que vai realizar alguma tarefa, mas não a faz e
arruma desculpas esfarrapadas para justificar.
Meu jeito
de estudar 43
Qual é o seu temperamento? ▼
Você é do tipo
⮒⮒ Passivo – você é mais calmo e manifesta suas emoções aos poucos, com reser-
va. Em relação ao estudo, tem dificuldade para iniciar o trabalho e para se concen-
trar, mas depois que “pega”, vai.
Meu jeito
44 de estudar
Que tipo de atividade e/ou leitura você prefere para sua aprendizagem?
⮒⮒ Heureca (“descobri”) – A solução do problema é fruto do esforço, de pensar Heureca - 1ª pessoa do perfeito
sobre o problema e buscar soluções. do indicativo ativo do verbo
grego heurísko, achar, descobrir
⮒⮒ “Insight”, “há-há” (você tem um palpite súbito) – De repente, quando menos - atribuída a Arquimedes
espera, encontra a solução do problema de maneira simples, como se um clarão ao descobrir o princípio da
iluminasse sua mente. gravidade específica.
Lembra daquela espécie de enigma do canoeiro que deve atravessar o rio com um
lobo, um carneiro e um pé de couve? Ele pode atravessar somente um objeto por vez,
tendo o cuidado para que o lobo não fique sozinho com o carneiro (que banquete!) e
nem o carneiro com a couve (hum, que fome!). Que sugestão você daria ao canoeiro?
Meu jeito
de estudar 45
Descreva a estratégia que você utilizou para resolver a situação.
⮒⮒ Malabarista – pula de uma tarefa para outra, quer dar conta de diferentes ati-
vidades ao mesmo tempo.
⮒⮒ Perfeccionista – quer fazer tudo “certinho” e acaba não terminando nos prazos
estabelecidos.
⮒⮒ Alérgico a detalhes – começa logo a executar uma tarefa, sem planejá-la devi-
damente, e com isso acaba se perdendo;
⮒⮒ Zé-do-muro – nunca toma decisões, vai levando o estudo ao acaso, do jeito que
vier, como e quando der;
⮒⮒ Protelador – seu lema é “Não faça hoje o que puder deixar para amanhã!”; deixa
tudo para a última hora, na véspera de exames ou de entregar trabalhos.
Como você é?
Meu jeito
46 de estudar
Quanto à organização do espaço ▼
Você é do tipo:
⮒⮒ ou então
Você encontrará, ao final dessa parte 1, a indicação de obras que tratam de manei- Esses “testes”
ra mais aprofundada dessas diferentes maneiras de ser estudante. Hoje, também na não são confiáveis, não têm
internet, há sítios que disponibilizam “testes” de Quociente Intelectual (QI), de perso- validade como instrumentos
nalidade, de autoconhecimento, de autoajuda. Não os tome como se tivessem o poder de avaliação pessoal!
de desvelar como você é, mas como indicativos, apontando tendências, aspectos de
seu modo de ser. Nada melhor do que a atitude do observador e do narrador. Observe
como você é e registre suas percepções e análises. Isso a ajudará no processo de auto-
conhecimento, autoestima e reflexão.
Meu jeito
de estudar 47
2 | Como estudamos?
No andar de sua trajetória escolar, certamente você vivenciou situações tais como:
colegas com dificuldades de aprendizagem, ou abandonando os estudos; uns poucos
conseguindo ótimos resultados nas avaliações, enquanto a maioria apresentando de-
sempenho tido por “regular”, alguns sendo reprovados.
Como você avalia seu passado escolar? Como foi seu “desempenho”? A que motivos
ou fatores atribui esse seu desempenho nos estudos?
Se nunca abandonas o que é Os motivos, os fatores ou as dimensões envolvidos no “desempenho” podem ser os
importante para ti, se te importas mais diferentes, relacionados com seu modo de ser, com o ambiente escolar e familiar,
tanto a ponto de estares além, é claro, com as condições econômicas, culturais.
disposto a lutar para obtê-lo, Hoje, existe uma vasta literatura sobre “Como obter sucesso”, “Como passar no Ves-
asseguro-te que tua vida estará tibular”, “Vestibular sem estresse”, “Seja ótimo aluno” ,”Como tirar lições do fracasso”.
plena de êxito. Será uma vida Cursos são oferecidos com o intuito de levar o interessado a “aprender a aprender”,
dura [...], mas valerá a pena. a “adquirir segurança, a poupar tempo, a eliminar tensões e ansiedades”, a propiciar
(Richard Bach, escritor “velocidade e qualidade na recepção e elaboração das informações”. Todos oferecendo
norte-americano.) receitas ou pílulas. É só tomar e pronto: o milagre está feito!
Meu jeito
48 de estudar
Estudos realizados nos Estados Unidos e na Europa, na década de 1970-80, sobre
a “eficácia nos estudos”, têm comprovado que a maioria dos estudantes universitários
apresenta dificuldades de aprendizagem. Mais ainda:
Em outras palavras, a maioria dos estudantes não tem “método de estudo” eficaz. Por que eles foram os primeiros.
Essa situação tem provocado o aparecimento de considerável literatura sobre “Como (Veja, 27/2/02, p. 86-91.)
estudar”, tem levado instituições educacionais a desenvolver cursos de “Metodologia A receita dos bons alunos.
Intelectual”, de “Metodologia Científica”, ou “Projeto de Orientação de Estudo”, para (Veja, 26/5/04, p. 106-8.)
que os estudantes aprendam a estudar. Até uma nova profissão está surgindo: o “pro-
fessor delivery”, que vai às residências de estudantes, não para dar “aula de reforço”,
mas para ensinar como estudar.
Feche um pouco este fascículo e dê um tempo para refletir sobre estas questões. O maior inimigo do
Em seguida, retome a leitura. Mas, veja bem, não vá deixar a gente de lado. Volte, progresso é o hábito.
para continuarmos nossa conversa, OK? (José Martí, poeta cubano.)
Meu jeito
de estudar 49
Procure ler, examinar e marcar o que você de fato faz, evitando deixar-se influen-
ciar pelo que gostaria de fazer ou por aquilo que os outros fazem. ▼
Sua resposta consiste em colocar um sinal (x) para cada item, na coluna adequada.
1 2 3
Quando leio um texto explicativo, científico, pela primeira vez, tenho dificul-
1 dade em compreendê-lo.
Tenho dificuldade para identificar os pontos mais importantes, as ideias prin-
2 cipais do texto que estou lendo.
Quando encontro pontos que me parecem confusos, sigo em frente. Não volto
3 atrás para reler.
Sinto dificuldade em me concentrar no que estou estudando. Depois que
4 termino a leitura lembro muito pouco do que acabei de ler.
Resultado A
Continua...
Meu jeito
50 de estudar
1 2 3
Antes de começar a leitura de um livro, costumo dar uma olhada no sumário,
19 na apresentação, na introdução.
Resultado B
Fonte: G. Severo e C. G. Erenn (adaptação).
Meu jeito
de estudar 51
Realize,agora, esta outra atividade:
Leia o texto a seguir, antes de fazer qualquer coisa, mas trabalhe o mais rapida-
mente que puder. Você tem somente 40 segundos para responder. ▼
Nome:
Profissão: Data: _____/_____/_______
Obrigado!
☞ O que você fez? Leu todas as questões antes de escrever somente seu
nome, ou foi lendo e fazendo o que cada item estava solicitando?
Gostou dessa “pegadinha”? Pois bem, este teste que você acabou de realizar
tinha como finalidade verificar sua atenção na leitura, se você presta atenção às
instruções!
Sugiro, então, que realize o teste seguinte, a fim de verificar como está, nesse mo-
mento, sua capacidade de compreensão de um texto.
Meu jeito
52 de estudar
Leia silenciosamente e atentamente. Busque o sentido de cada palavra. Não im-
porta o tempo necessário, esqueça o relógio. ▼
O termo TONO é utilizado em fisiologia. Possui um sentido preciso, mas restrito. Ca-
racteriza essencialmente o estado de um músculo. No caso de seres multicelulares,
certas células adquirem a propriedade de se diminuir e se alongar. As extremidades
dessas fibras podem ser unidas, seja diretamente, seja por intermédio de formações
fibrosas (tendões), ou de alavancas rígidas (ossos).
Existem dois tipos de fibras musculares: as estriadas e as lisas. Ambas possuem
propriedades fundamentais:
a - excitabilidade: é a capacidade de responder a um estímulo;
b - condutibilidade: capacidade de transmitir o estado de excitação;
c - elasticidade: capacidade de recuperar sua forma após uma deformação.
Você concorda com isso? Como tem sido sua experiência em relação a isso?
Meu jeito
54 de estudar
ap E
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55
2
Estudando
e aprendendo
Ao final do estudo deste capítulo, você terá condição de:
Estudando
56 e aprendendo
1 | Como aprendemos
Um “bate-papo”
nem sempre é uma
conversa fiada!!!
Observe que, quando estamos reunidos com alguém ou com um grupo de pessoas, Mais importante que
conversando informalmente (um bate-papo), discutimos inúmeros assuntos. Falamos aprender é nunca perder a
de nossas atividades profissionais, de nossa família, conversamos sobre a mudança de capacidade de aprender.
nossa moeda, comentamos a respeito de nossos salários, os preços nos mercados e (Leonardo Boff,
feiras, de doenças, de ervas curativas, alimentação, etc. Nesse “bate-papo”, enfocamos teólogo brasileiro.)
assuntos dos mais diversos: educação, política, economia, medicina e outros. Trocamos
ideias e aprendemos por intermédio das experiências e dos conhecimentos de outras
pessoas. Esses conhecimentos adquiridos você acabará utilizando em outros encontros
informais, enriquecendo as discussões no grupo.
Você já teve a oportunidade de assistir a um filme que tenha despertado sua aten-
ção, deve ter participado de algum passeio ou excursão, já participou de alguma pales-
tra, realizou viagens a serviço ou de férias. Note que, com todas essas atividades, você
ampliou seu horizonte de conhecimentos, e isso se deu de forma assistemática.
Outra forma de aprendizado assistemático é quando um ofício é passado de pai para
filho. Um bom exemplo disso é o que ocorre no campo, com as famílias de agricultores.
Os filhos aprendem o trabalho agrícola no dia a dia, com os pais.
Você deve saber de outros casos de ofício que foi passado de geração a geração,
como: família de pescadores, as rendeiras (lá no nordeste do país), as bordadeiras, as
doceiras, os marceneiros, etc.
Estudando
e aprendendo 57
Aqui se verifica não só o aprendizado de uma profissão, como também a transmis-
são dos valores e da cultura de um povo.
Quando você aprende algo, e isso se torna parte do seu cotidiano, parece-lhe ser
um tanto natural, inconsciente, automático, que acontece sem você se dar conta. Você
está aprendendo sem estudar.
Aprender – do latim apprehendere: Porém, você pode estudar, e não aprender. Isto pode ocorrer, por exemplo, no mo-
agarrar, apoderar-se, chegar ao mento em que as condições ambientais (barulho, iluminação, acomodação, etc.), ou
conhecimento, compreender, as condições subjetivas (cansaço, mal-estar, preocupações, etc.), ou o seu método de
alcançar o desejado, abarcar.... estudo não favoreçam o aprendizado.
Pois, toda aprendizagem é “consciente”, deliberada, pensada, resultado de esfor-
ços, de superação do não-saber.
Você poderá, então, se perguntar: há fatores (internos e/ ou externos) que podem
ser “controláveis”, que podem facilitar o processo de aprender? Existem ferramentas
cognitivas que promovem a aprendizagem? Pode-se aprender “a distância” ou somente
presencialmente? Como aprende um adulto?
Estudar e aprender não são sinônimos, mas estão relacionados, caminham juntos.
Estudando
58 e aprendendo
Você aprende:
Ler uma palavra, um parágrafo ou um texto sem entender, e continuar lendo, é irra-
cional. Você aprende o que tem alguma relação com o que conhece, com fatos, lugares
e situações vividas, e o que tem sentido para você.
Como é diferente estar falando sobre educação, escola, aprendizagem com alguém Metáforas, parábolas, contos....
que atua no campo educacional. O que você estará lendo no material didático do curso são estratégias milenares para
terá sentido todo especial, pois você fará logo referência à sua experiência, a fatos e ajudar na compreensão e retenção
situações vividas. Aquilo que está escrito é filtrado pela “leitura” do seu vivido, do seu de fatos, conceitos, valores.
conhecido.
Quer um exemplo? Leia o parágrafo seguinte:
“A influência do benzopireno como fator etiológico de manifestação do carcinoma
broncogênico epidermóide”.
O que entendeu?
Estudando
e aprendendo 59
B Se descobre o que deve aprender
Estudando
60 e aprendendo
D Se sente “entusiasmo” no que está fazendo Entusiasmo – vem do grego,
significa “ter um deus dentro
Quando você está entusiasmada e ansiosa por aprender algo que lhe interessa muito, de si”. Para os gregos, somente
você diz a si mesma que está motivada pelo assunto. Os motivos da aprendizagem nada as pessoas “entusiasmadas”
mais são do que forças que nos impulsionam em direção ao que queremos aprender e eram capazes de vencer os
nos mantêm “ligados” a essa tarefa de aprender. desafios do cotidiano.
É bom lembrar que, ao contrário do que muitos de nós pensamos, o excesso de in-
teresse por um estudo pode ser tão prejudicial à prendizagem quanto a ausência dele.
A ansiedade excessiva leva o leitor a pular etapas, páginas e, até mesmo, capítulos de
um livro para ir direto ao final, sem entender sua essência.
Responda honestamente a você mesma: quando você está diante de um livro e su-
peransiosa para conhecer o desenlace da trama, que atitude você toma?
⮒⮒ Vou direto ao final do livro e leio o último capítulo, para saber como ele termina. Tudo o que lemos nos
marca, incorporado
⮒⮒ Controlo minha ansiedade e leio o livro inteirinho, até o final, sem pular ne- como vivência.
nhum de seus capítulos. (Marisa Lajolo)
Por outro lado, a ausência de interesse também nos leva à mesma atitude, ainda que
com outra finalidade: terminar o mais rápido possível a leitura, para nos vermos livres
daquele material. Lemos somente porque somos “obrigados”, para cumprir determina-
da necessidade, seja por causa de uma prova, de um trabalho escolar, seja por qualquer
outra atividade pela qual seremos “cobrados”. O estudo sem motivação se torna cansa-
tivo, pois despendemos um tremendo esforço e não aproveitamos quase nada.
O impulso, ou a vontade de aprender, constitui um saldo positivo entre as motivações
atrativas e as motivações repulsivas.
As motivações atrativas são todas aquelas necessidades que nos levam a querer
buscar sempre mais para aprender, tais como: curiosidade, descoberta, desejo de per-
feição, necessidade de nos sairmos bem em determinado assunto.
As motivações repulsivas, antagonicamente às motivações atrativas, são tendências
que nos levam a fugir e a nos afastarmos de determinados temas, em consequência de Não há nada que dê
situações, a exemplo destas: antipatia pessoal pelo professor ou orientador, vontade de tanto trabalho quanto
dedicar-se a outros estudos, medo do fracasso, cansaço. o interessar-se pela
Busque, então, motivação no que está fazendo, nas leituras e nas atividades do curso. vida. E de um interesse
Descubra o sentido deste curso em sua vida pessoal e profissional. Está nele por algum mo- apaixonado, mesmo, só
tivo, em busca da realização de algo. Revigore e renove constantemente suas motivações, os eleitos são capazes.
sobretudo nos momentos de desânimo, quando a vontade é parar e deixar o curso. (André Gide, escritor
Aprender implica alimentar interesses. frânces.)
Estudando
e aprendendo 61
E Se descobre como você é, como você aprende e desenvolve um método de
estudo
Cada um tem uma maneira de ser e de estudar. Por isso é importante, durante a
leitura deste material, que você se avalie como estudante, identificando quais são seus
hábitos “positivos” e quais os que atrapalham sua aprendizagem. Em seguida, organize
e planeje sua vida profissional, familiar e acadêmica. Esteja certa: a eficiência de seus
estudos vai depender muito de sua capacidade de autogestão e de desenvolvimento
de um método de estudo.
A motivação é uma atitude A atitude passiva, esperando que alguém lhe diga o que fazer e como ... é semelhan-
interna mais do que algo te a fazer turismo em grupo. Os outros planejam tudo para você!
que vem de fora! Grave bem esta frase do crítico literário Bertold Brecht:
Aquilo que você não aprende por si, você não sabe.
Estudando
62 e aprendendo
Já não lhe aconteceu, após uma sessão de estu-
do em que você não conseguia entender o que es-
tava lendo, deu um tempo, foi fazer outra atividade
e, ao retornar ao mesmo texto, suas ideias ficaram
mais claras?
Estudando
64 e aprendendo
2 | Como você "poderia estudar"
Essa mania de ler sobre autores fez com que, no último centenário
de Shakespeare, se travasse entre uma professorinha do interior e
este escriba o seguinte diálogo:
— Que devo ler para conhecer Shakespeare?
— Shakespeare!
Parafraseando: o que você deve fazer para estudar e obter sucesso? Estudar!! Se queremos progredir, não
Porém, nossa formação escolar foi muito calcada na cópia, na reprodução e na devemos repetir a história,
transmissão. Por isso, encontramos dificuldades nos estudos, independentemente de mas fazer uma história nova.
contarmos ou não com a presença do professor. (Gandhi)
A construção de seu método de estudo, de sua “autonomia” como estudante, é pro-
jeto seu, pessoal, de vida e de trabalho, contando, é claro, com o apoio da instituição,
com a mediação do orientador. Mais que tudo, a aprendizagem é processo particular,
muito próprio de cada um. Também é processo social, coletivo, de interação com o
outro (colega, professor, orientador, instituição educativa).
Estudando
e aprendendo 65
O sucesso é filho da ousadia.
(Benjamin Disraeli)
z E para você construir seu método de estudo, é importante exercitar e
desenvolver algumas habilidades pessoais e intelectuais, considerar
condições psicológicas e ambientais, tais como:
Motivação, projeto de vida, autoestima, autogestão, planejamento do es-
tudo, concentração, controle das emoções e da ansiedade, planejamento da
aprendizagem, escuta, memorização, leitura, produção escrita, trabalho em
equipe....
Nos próximos capítulos, iremos tratar de algumas delas e, ao final da parte 1, encon-
trará indicações de bibliografia para você se aprofundar nessa temática.
E lembre-se da exortação do poeta espanhol Antônio Machado, em sua obra Pro-
vérbios y Cantares (Poemário, Madrid, 1930.):
Estudando
66 e aprendendo
3
eu
o
nd
ja s
m e u
e
an
Pl t o
d
Ao concluir a leitura deste capítulo, você será capaz de:
㍟㍟ reorganizar seu caminho como estudante, de forma que torne seus estudos
mais produtivos e eficientes.
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
Planejando
68 meu estudo
Nesse quadro de atividades, você incluiu horários para se dedicar à leitura, ao estu-
do? Quantas horas semanais?
Se você não incluiu um horário para atividades de estudo, a partir de agora terá que
prever momentos específicos dedicados ao curso e se comprometer a cumprir os ho-
rários estabelecidos para atividades de estudo. Por isso, é importante que você planeje
bem as outras atividades para que não acabe sacrificando ou colocando em segundo,
terceiro ou, no último lugar, o estudo.
Parece que o homem moderno não tem tempo para refletir sobre sua experiência Para ter sucesso na aplicação
de vida, tal a quantidade de estímulos, de atividades, de necessidades e de informação do esforço pela alegria, é
que invadem diariamente sua vida, seu pensar, seu agir. preciso ter a capacidade de
No meio de sua vida “tumultuada”, você deve aprender a conduzi-la segundo os concentrar a atenção em
objetivos que deseja alcançar, os sonhos a realizar. Diante disso, é importante o esta- acontecimentos, atos e objetivos.
belecimento de prioridades na gestão do tempo, da vida profissional e pessoal. (Dalai-Lama)
Você sabe quais são seus objetivos de vida? O que você almeja alcançar em longo,
médio e curto prazos? Então, identifique e escreva abaixo os que você considera
mais importantes, neste momento. ▼
1
2
3
1
2
3
1
2
A grande linha divisória
3 entre o sucesso e o
fracasso pode ser
expressa em três palavras:
Planejando
meu estudo 69
Agora, você está matriculada num curso que vai fazer parte de sua vida ao longo
de quatro anos ou mais. Busque definir quais são seus objetivos, seus motivos, suas
expectativas em relação ao curso. O mesmo fará ao iniciar um módulo, uma disciplina,
uma temática, a leitura de um capítulo ou de um texto.
Assim, o seu tempo, que muitas vezes parece pouco para tantas coisas a fazer, será
empregado melhor.
1 | Condições “ambientais”
Planejando
70 meu estudo
Você se identificou com alguma dessas situações? Escreva um pouco sobre ela.
Eu, também, durante minha formação universitária, passei por algumas dessas situ-
ações, inúmeras vezes. Ocasiões houve em que “varava a noite” estudando. Quando me
dava conta, o dia já tinha clareado e eu estava todo “quebrado” de cansaço. Ou, então,
ficava olhando o texto, e minha mente longe dali, imagens se passando e retornando in-
sistentemente, tentava colocar ordem na “bagunça” de um desentendimento amoroso.
As horas passavam, e o rendimento? Os cientistas se dedicam a
Imagine que você esteja se preparando para um concurso, para um exame. Está sen- estudar as áreas do cérebro
tada, com o livro nas mãos, lendo, mas sua cabeça a todo o instante se desliga, porque que produzem a sensação de
um problema afetivo, de relacionamento pessoal ou de trabalho perturba você. que as horas voam quando
Ou, então, minuto após minuto você é interrompida pelo esposo, por filhos, telefone... nos divertimos. Ou de que
Ou, talvez, você foi convidada para uma festa, mas não foi porque “tinha” que estudar. os ponteiros se arrastam
Bem que gostaria de ter ido, de estar lá, curtindo os amigos, a música, os petiscos, a pesadamente durante uma
bebida.... e sua imaginação criando lindos cenários! Quando desperta desse “sono”, palestra desinteressante.
você se assusta. O tempo passou e nem lembra o que estava lendo. (Istoé, 1850, 30/3/05.)
Certamente, você passou por situações parecidas. Como você lidou com isso?
Planejando
meu estudo 71
9
O estado emocional também deve estar propício à realização de suas
tarefas. Se estiver ansiosa, preocupada, infeliz, não conseguirá alcançar a
compreensão de determinado tema, dificultando, e até bloqueando completa-
mente, o processo de aprendizagem.
Mente sã, corpo são. Analise, ainda, as situações descritas a seguir e assinale quais delas você já viven-
(Juvenal) ciou e que dificultaram o bom desempenho de suas atividades de estudo. ▼
⮒⮒ medo de errar
⮒⮒ fadiga ou cansaço
⮒⮒ nervosismo
⮒⮒ desavenças amorosas
⮒⮒
⮒⮒
Estudos revelam que a Essas situações estão relacionadas com diversos e diferentes fatores, como a in-
principal fonte de distração segurança pessoal, a dificuldade que temos em gerir nossa vida pessoal. Isso acaba
são os “ruídos” internos, e dificultando o desempenho nos estudos. Porém, você não deve fazer disso um pretexto
não os estímulos externos. para fugir de suas obrigações acadêmicas. Às vezes, quando se está com determinado
problema pessoal, é até bom ocupar-se com leituras, atividades do curso, porque você
estará se dando um tempo para resolver depois o problema. Quem sabe, durante a lei-
tura, naqueles momentos de “distração”, você não tenha um “insight” (uma inspiração,
uma luz) e solucione o problema. Não é mesmo?
Planejando
72 meu estudo
2 | Quando estudar
⮒⮒ pela manhã
⮒⮒ à noite
⮒⮒ em fins de semana
⮒⮒
Você deve ter vivenciado como algumas dessas situações favoreceram seu desem-
penho no estudo. Por isso, é bom você escolher um horário que atenda a seu estado
psicofisiológico e que ajude na sua concentração.
Além do estado emocional, você deve estar atenta para o momento adequado de
dedicação às leituras, às atividades de aprendizagem, conciliando-as com outras tare-
fas diárias.
Nessa esteira, quero frisar novamente a importância de você planejar suas ativida-
des de estudo. Para ajudá-la nisso, selecionamos alguns “conselhos”, algumas orienta-
ções que poderão ser úteis:
Planejando
meu estudo 73
Estudar noite adentro (invadindo a madrugada) não
é recomendável, podendo causar insônia, falta de
concentração e perda de capacidade de compreen-
são e retenção.
3 | Onde estudar
Imagine-se num lugar quente e abafado, com barulho ao seu redor, péssimas con-
dições de claridade, sujo, e você sentada num banco ou algo semelhante, desconforta-
velmente, tentando estudar.
Agora, em outra situação, você está num lugar tranquilo, silencioso, limpo, e você
sentada numa posição confortável, com o auxílio de uma mesa e de todo material ne-
cessário para a realização do seu estudo.
Em qual dessas duas situações você acredita ter melhor rendimento?
Planejando
74 meu estudo
1ª Situação
2ª Situação
Certamente, você optou pela segunda situação. Não é preciso ser um “expert” no
assunto para saber que, na primeira situação, é muito difícil você se concentrar, estudar
e sentir prazer no que está fazendo.
A segunda é uma situação ideal, desejada. As condições reais de estudo em casa
nem sempre são as melhores. Mas você deve fazer um esforço para criar seu “cantinho”
de estudo, com uma mesa e uma pequena estante (feita de tábuas e tijolos, por que
não?) para guardar seu material, com espaço, ventilação e iluminação. Criar seu espaço,
seu canto de estudo! E é bom que os familiares saibam que, quando você estiver lá, não
deverão interromper ou atrapalhar seu estudo. Deverão aprender a respeitar esse seu
momento de reflexão!
Planejando
meu estudo 75
4 | “Quanto” estudar
Em qual das situações abaixo você acredita obter melhor rendimento na aprendi-
zagem? ▼
Por quê?
Planejando
76 meu estudo
Porém, algumas orientações podem ser seguidas:
Estude em período breves, com intervalos de distração e mobili- Com ordem e com tempo
dade física. Nosso organismo apresenta sintomas de cansaço que encontra-se o segredo de
não podemos ignorar, pois poderão comprometer o rendimento fazer tudo e tudo fazer bem.
intelectual. (Pitágoras)
Para tanto, é fundamental que você identifique a “qualidade” e a “quantidade” da Um estudante “intelectualmente
informação, os objetivos de aprendizagem definidos pelo curso, pelo módulo, pelo ativo” é aquele que compara,
autor do material, os conceitos fundamentais daquela área do conhecimento a serem exclui, ordena categorias,
construídos. reformula, compara, formula
Saber que “domínio de conhecimento” está sendo esperado de você, sobre aquela hipóteses, reorganiza, avalia, etc.
atividade específica, que tipo de aprendizagem terá que construir e produzir: (TORRES SANTOMÉ, 1998, p. 144.)
Planejando
meu estudo 77
㍟㍟ análise (identificar as partes constituintes de uma mensagem e as relações entre
as partes);
Planejando
78 meu estudo
Gerir seu tempo de estudo
é aprender a gerir sua vida!
Planejando
meu estudo 79
Identifique os “Chupa-Tempo”, os comedores de seu tempo, tais
como: mudar de uma atividade para outra (“enrolando”), ou querer
fazer duas atividades ao mesmo tempo (ler e assistir à TV), atender
a telefonemas, interrupções para bate-papos, desviar a atenção
para programa de televisão a que alguém está assistindo ou para a
música que está tocando, visitas, mesa de estudo desorganizada,
fazer tarefas de outras pessoas, não saber dizer “não” a convites,
não saber delegar certas tarefas. Proteja seu tempo pessoal!
☞
“inferno”!
Faça com prazer as atividades de estudo! Sinta entusiasmo e motiva-
ção no que está fazendo, senão esse curso vai se transformar no seu
Planejando
80 meu estudo
es
g
r t ud
u an
em
p do
o
4
Ao término do estudo deste capítulo, você será capaz de:
Até aqui dei ênfase ao aspecto singular do ato de estudar, e você se debruçou sobre
o texto para tentar se conhecer como estudante, analisar sua trajetória de estudante e
planejar sua caminhada nessa aventura de ser estudante.
Agora, vou conversar um pouco sobre uma das estratégias a que você pode recorrer
na aprendizagem: o estudo em grupo.
Na Educação a Distância, há instituições que planejam essa atividade, como na
proposta pedagógica do ProFormação. Você já ouviu falar, certamente, ou deve ter sido
cursista nessa experiência que titula, em nível médio (Magistério), o professor dos anos
iniciais do ensino fundamental. Outras incentivam, estimulam essa prática, mas deixam
por conta da iniciativa dos próprios estudantes.
No seu local de trabalho você deve ter vivenciado atividades realizadas em grupo,
em equipe.
Estudando
82 em grupo
Como costumava ocorrer uma sessão de trabalho em grupo?
Estudando
em grupo 83
☞ Pare, agora, uns minutos, e reflita:
Por que estudar em grupo? Aprende-se, estudando em grupo? Como
foi sua experiência nesse tipo de atividade?
Ser capaz de colocar O estudo em grupo tem como objetivo reforçar, estimular, incitar atitudes favo-
continuamente em questão as ráveis ao entendimento de determinado assunto, permitindo que todos possam tirar
suas próprias opiniões – esta é, dúvidas, suscitar questões, oferecer explicações que venham enriquecer o conteúdo
para mim, a condição preliminar apreendido pelos participantes.
de qualquer inteligência. Em outras palavras, o estudo em grupo permite que o sujeito compare e confronte
(Ítalo Calvino, romancista seus conhecimentos com os dos outros, e que isso provoque conflitos sociocogniti-
e ensaísta italiano.) vos.
Estudando
84 em grupo
Daí a importância do debate, da crítica, da dúvida, do erro, de não se fechar em
verdades absolutas, de aprender com o outro.
Está agora entendendo a importância do estudo em grupo, e por que essa atividade
tem que ser bem planejada e, ainda mais, por que os membros do grupo precisam se
preparar antecipadamente, participando ativamente?
Nós não fomos educados ao diálogo, à discussão, ao trabalho em grupo. Nos grupos,
geralmente, predomina a prática do autoritarismo de uns e do mutismo de outros.
▶▶ Se está num grupo de colegas com que você esteja “afinada”, pois, quando nos
é proposto um trabalho em grupo, temos o impulso de nos unir a pessoas que já
conhecemos, e com quem nos relacionamos melhor. Isto é bastante positivo, pois
teremos liberdade de expressar nossas ideias, colaborando com o crescimento do
grupo.
▶▶ A diversidade nas ideias, nas experiências, no “jeito” de ser, é fator importantís- Ajuda teus semelhantes
simo a ser considerado no grupo. Não somos iguais. Temos nossas ideias e opiniões a levantar sua carga,
que nos caracterizam como únicos. Isso enriquece o grupo. O respeito mútuo é mas não a carregues.
indispensável. (Pitágoras)
Estudando
em grupo 85
▶▶ O grupo, antes de iniciar o trabalho, deve ter claro o objetivo comum, para um
direcionamento do trabalho, tornando-o produtivo.
Para que o estudo em grupo seja produtivo, é básico que se estabeleçam algumas
regras que devem ser seguidas pelos participantes, como o cumprimento de horário, o
comprometimento com os outros membros do grupo e com os demais participantes.
Pontualidade é a arte A metodologia de trabalho também deve ser definida pelos participantes, por
de não desperdiçar meio da sistematização do estudo, para o bom aproveitamento do tempo disponível.
o tempo alheio. Definidas as regras e a metodologia, as atividades devem ser desempenhadas com
(Tatiana Del Carpio, Peru.) objetividade, sem mais dispersão.
Estudando
86 em grupo
an
ota
çõ fa
ze
5
es o
nd
Espero que este capítulo lhe permita:
Quando você anota o que está sendo exposto durante uma palestra, como você faz
esse registro?
Fazendo
anotações 89
Na parte 2 dois desse Guia Metodológico, trataremos do “fichamento” como técni-
ca de registro dos textos lidos. Dizem que “ler, e não fichar, é sinônimo de esquecer”.
Parafraseando: “Assistir a uma palestra, e não anotar, é sinônimo de esquecer”.
Lembra quando, num dos capítulos anteriores, conversávamos sobre “como apren-
demos”? A atividade de somente estar ouvindo pode ser insuficiente para a melhor
retenção de informações. Ouvir e anotar na hora pode se tornar muito mais produtivo
na construção do conhecimento do que simplesmente ficar ouvindo.
z Não sei qual é sua opinião sobre o que eu disse até aqui, mas, num
ponto, acredito que concordaremos: fazer anotações, escutando, é
diferente de fazer anotações lendo.
Sabia que ia concordar comigo! Por isso, neste capítulo, estou lhe propondo trocar-
mos algumas ideias e experiências sobre o significado e a utilidade da técnica de anotar,
quando se está ouvindo alguém expondo algum tema.
Muitos estudantes acreditam lembrar com facilidade o que ouvem. Porém, pesqui-
sas realizadas com estudantes universitários revelaram que, após 24 horas, os alunos
já haviam esquecido 50% da matéria estudada. Após umas duas semanas, o nível de
esquecimento atingia 80% do conteúdo.
Outros anotam tudo o que ouvem, palavra por palavra, mas têm dificuldades para
expor o que escrevem: preocupados em anotar, não conseguem acompanhar o rumo
da fala e seu sentido.
Fazer anotações não é uma simples ação de registrar, em uma folha, as palavras
que estão sendo proferidas, uma pura e simples transcrição da fala para a escrita, do
discurso para o texto. Exige-se um “trabalho mental efetivo” (DARTOIS, 1965, p. 48),
destinado a prender a atenção de maneira mais ativa, assegurando a conservação de
informações que facilmente se esvairiam, dissipar-se-iam como fumaça.
Fazendo
90 anotações
Fazer anotações é reter, o mais rapidamente possível, os pontos
essenciais de uma exposição oral, com a preocupação de poder,
com base nessas anotações, reconstruir a exposição.
Não há dúvida de que é uma atividade complexa. Ao mesmo tempo em que você
presta atenção ao que está sendo dito, terá que rapidamente identificar o que é signi-
ficativo, reelaborar isso em seu pensamento, fazendo logo em seguida seu registro.
Para tanto, é necessário:
㍟㍟ ter uma atitude de escuta, isto é, saber ouvir o outro, aquele que está querendo
comunicar algo para você;
㍟㍟ compreender o que está sendo comunicado, pois é praticamente impossível anotar Anotar – significa
o que não é compreendido; prestar atenção.
Fazendo
anotações 91
Anotar significa prestar atenção a uma informação,
selecionar os aspectos mais importantes, organizá-los e
registrá-los. Tomar notas não é fazer um ditado.
(FERNÁNDEZ RODRIGUEZ, 2000, p. 50.)
1 | A atitude de escuta
Saber ouvir a outrem é uma habilidade essencial para ser bem-sucedida em seus
estudos universitários. Aparentemente parece ser fácil, mas não é bem assim. Acredi-
tamos ser “bons ouvintes”, mas geralmente não somos.
Experimente, durante uma conversa calorosa, à queima-roupa pedir à sua colega
que repita o que você acabou de lhe dizer. Será surpreendida ao perceber que ela não
estava ligada no que você estava dizendo. Estava preocupada em buscar argumentos
para reafirmar suas posições e suas convicções. Assim, o aparente diálogo era o mo-
nólogo de duas pessoas, cada uma preocupada com o que iria dizer na tentativa de
convencer ou superar a colega.
Não é assim que costuma ocorrer? Preste atenção quando houver uma reunião, um
debate. Parece um amontoado confuso de monólogos!
Quantas vezes, num seminário ou durante uma aula, o palestrante ou o professor
acaba de responder a uma indagação e, logo em seguida, outra pessoa retorna com a
mesma questão. Com o braço levantado, submerso na formulação de sua dúvida, não
acompanhara o debate, não se apercebera de que a resposta havia sido dada!
A esse respeito você poderá ler obras modernas que tratam da comunicação, fugin-
do ao esquema clássico da relação linear:
Fazendo
92 anotações
Canal
Emissor Receptor
Mensagem
Aqui, o receptor exerce papel passivo. É o emissor que conduz e determina o ritmo
e o teor da mensagem.
Outra visão considera a comunicação atividade eminentemente interativa entre os
participantes da comunicação. Tanto o “autor/locutor”” quanto o “leitor/interlocutor”
interagem, influenciam-se, comunicam-se ativamente.
Canal
Locutor Interlocutor
Autor Leitor
Mensagem
Portanto, o palestrante provoca em você respostas, atitudes, e você, por sua vez,
interfere e se intromete na sua fala, pela sua maneira de participar, de estar diante dele,
de reagir à sua mensagem.
Fazendo
anotações 93
㍟㍟ desempenhar o papel de um bom interlocutor, com atitudes que estimulem o pa-
lestrante, manifestando interesse e atenção no que está dizendo, fazendo perguntas,
pedindo que repita um tópico que não ficou claro. O contato visual também favorece a
comunicação. O palestrante se sente motivado e melhor consegue se comunicar diante
de pessoas atentas e interessadas. Imagine-se estar falando a um público desatento,
uns conversando ou rindo, outros bocejando, uns terceiros lendo jornais ou livros, gente
entrando e saindo sem parar...!
Queria fazer uma rápida consideração, sem querer ofender a ninguém. Tenho
participado de muitos eventos científicos e dos Seminários Temáticos em cursos de
graduação a distância. Quantas vezes me senti envergonhado por estar o palestrante
expondo seu tema e, entre os “ouvintes”, um cochicho generalizado, ruidoso, um tal
de entra e sai de pessoas, nas laterais e no fundo pessoas em pé, conversando anima-
damente, rindo....
2 | Compreensão da Comunicação
Fazendo
94 anotações
3 | Seleção da informação
Enquanto o palestrante vai expondo suas ideias, seguindo uma lógica, um tipo de
raciocínio, você vai filtrando tudo embasada em seus conhecimentos e interesses na-
quele momento.
Esta é a parte mais importante e a mais difícil. As dúvidas começam a aparecer: é
preciso anotar tudo, ou concentrar-se somente nos itens mais importantes? Registrar
a estrutura da fala, ou anotar algumas frases significativas, os exemplos, alguns con-
ceitos? Que critérios adotar para não cair nos extremos: anotar tudo (dificultando uma
posterior reflexão), ou quase nada (impossibilitando a reconstrução e compreensão da
fala)? Dos dois males, o menor: melhor anotar demais que registrar anotações insufi-
cientes.
Fazendo
anotações 95
Você poderá, então, anotar: ▼
㍟㍟ os pontos fortes, aqueles em que o emissor insiste (“este é muito importante”), que
enfatiza, mudando até o tom de voz; as ideias que para você são novas, os fatos mais
relevantes;
4 | O registro
㍟㍟ deixar uma margem de uns 5cm à esquerda de cada folha, utilizando somente o lado
direito para o conteúdo da palestra ou da aula. O lado esquerdo poderá ser usado para
registrar questões relacionadas com que está sendo anotado;
㍟㍟ utilizar a frente da folha para anotar a sequência lógica da fala, a estrutura do assun-
to que vai sendo exposto. Eventualmente o verso para anotar explicações secundárias,
definições, termos, esclarecimentos, exemplos, bem assim para fazer esquemas, etc.
Fazendo
anotações 97
A título de exemplificação, veja dois tipos de registro que fiz de uma palestra. ▼
2 – Geografia educacional
Fazendo
98 anotações
Você pode, em lugar desse tipo de anotações lineares, fazer o registro por meio de
“mapa conceitual”. Trata-se de técnica gráfica muito simples que busca captar as ideias Técnica criada pelo psicólogo
mais importantes sobre determinado tema da palestra (ou de um texto), fazendo uso inglês Tony Buzan, na
de palavras-chave, ramificações de ideias, com cores, desenhos, etc., mapeando o década de 1970.
assunto.
Veja, por exemplo, como poderia fazer o registro sobre o assunto da mesma
palestra. ▼
Pressões / tensões
ego
Desempr o Movimentos sociais
no campo
expulsã
Fatores ural
Modelo Êxodo r
Agroexportador
Violência! Empresários
Colonos
Amansamento da terra Posseiros
Controle social Terra disponível Grileiros
Políticas Colonização
Expansão
Modernização da fronteira Fatores de atração
da agricultura Reprodução ideológica
Reprodução social
Fazendo
anotações 99
㍟㍟ deixar de lado a preocupação com o estilo, com verbos de ligação ou desnecessários
(ex. ser, estar, parecer, continuar, encontrar-se, etc.), ou expressões do tipo “sabe-se”,
“note bem”, “já vimos que”, etc., bem como artigos e palavras de subordinação;
㍟㍟ escolher uma fórmula para remeter ao que já foi escrito em outro lugar, como “vj”
(veja), “cf” (confere), etc.;
q. que
qq. qualquer
~
criança
cr
Fazendo
100 anotações
Algumas dificuldades ▼
Não pare de anotar, para evitar distrações ou cochilos e, se perder o fio, recomece
a anotar. Não se preocupe com o que perdeu. Poderá recuperá-lo depois, pedindo
emprestadas as anotações de colegas. Mas não fique descansada e confiando nelas
demais!
Faça um traço horizontal e continue anotando. Mais tarde você poderá recuperar a
informação perguntando a um colega, ao próprio palestrante ou orientador, ou ao re-
ver as anotações se lembrará, dentro do contexto, das palavras que estão faltando.
Anote no verso da folha anterior. Mais tarde irá perguntar ao orientador ou ao pales-
trante o seu significado, ou recorrerá a um dicionário, a uma enciclopédia, e anotará
no verso daquela página.
㍟㍟ porque o assunto lhe interessa, e você vai querer aprofundá-lo. Não fosse assim, que
você estava fazendo lá, empatando seu precioso tempo?
㍟㍟ talvez você tenha outras anotações relacionadas com a mesma temática e quer
fazer uma síntese;
Fazendo
anotações 101
㍟㍟ porque, ao fazer as anotações, poderão ter surgido numerosas questões às quais
quer dar uma resposta;
㍟㍟ porque você não deve estar satisfeita com o conteúdo apresentado e vai querer
reafirmar seus pontos de vista, naquilo em que você professa seu credo;
㍟㍟ porque você tem uma tarefa a cumprir (um trabalho, um exame, uma entrevista,
etc.) e quer estudar e assimilar melhor o conteúdo da palestra.
� Como fazer
a revisão?
Revisão não é sinônimo de transcrever ou passar a limpo o que foi anotado. Acredi-
tar que transcrever as anotações é uma maneira excelente de estudar, de memorizar,
é um ledo engano. É uma perda de tempo!
Seria interessante realizá-la em grupo, com a participação de dois ou três colegas
que estejam preocupados em fazer, das palestras a que vocês assistiram, uma ocasião
de aprendizagem, de enriquecimento intelectual. Assim, cada um possibilita ao outro
completar as informações, tirar as dúvidas, compreender melhor a exposição do item.
Para isso, seguem aqui algumas sugestões, simples que sejam:
㍟㍟ utilize canetas com diversas cores, sublinhando com as mesmas cores os títulos de
mesma importância;
㍟㍟ escreva à margem esquerda todas as perguntas que lhe vêm à mente e que pode-
riam ser feitas com base no tema. Formulações possíveis: “o que é?” (definição), “des-
creva” (descrição), “por quê?” (causas), “como” (descrição de um processo), “compare”
(vantagens/ desvantagens, aspectos positivos/ negativos), “situe dentro do contexto”
(data, época, ideologia), “explique” (razões), etc. É um procedimento que favorece a
aprendizagem ativa. (Se estiver fazendo esta revisão em grupo, um procura formular
questões para que outro responda);
À guisa de conclusão deste capítulo, e para sua reflexão, vou deixar dois pensamen-
tos:
A paixão do ouvinte pelo que está sendo dito tem que ver com a “simpatia” sentida
por quem está falando, provocada pelos motivos mais variados (aparência física, voz,
renome, etc.)?
O que deve conduzir sua atenção, seu pensamento, e seduzi-la, não é a pessoa do
palestrante, mas sua mensagem, o que está sendo dito. Senão, logo o cansaço tomará
conta de você e se intrometerá nessa relação que deve ser “apaixonante”, mas, ao
mesmo tempo, dialogal e crítica.
Fazendo
anotações 103
O que ele sugere? Você concorda com Alan?
Fazendo
104 anotações
a
v
m al
in i
ha can
n a d
h m o
a i
6
d
a
Ao final da leitura deste capítulo, espero que você consiga:
Seminário Temático
Área de Fundamentos
Certamente, essa sua experiência é parecida com a que você viveu no decorrer de
sua trajetória escolar, como a experiência que a maioria das crianças, ainda hoje, viven-
cia nas escolas nos dias de provas, quando há testes a realizar. Um clima de ansiedade,
medo, insegurança.
Por que será? Por que a prova é considerada “o bicho-papão”? Por que a maioria
dos alunos, ao iniciar um curso, uma disciplina, a primeira preocupação que manifesta
é saber “como será a prova”?
Você deve ter notado que até aqui não usei a palavra avaliação, e sim prova, exame,
teste. Por que será? É simples questão de terminologia, de gostar mais de uma do que
de outra? Será que há diferenças importantes de significados e de práticas? O que você
acha?
Avaliando minha
caminhada 107
Dê uma olhadela no dicionário e vê se percebe alguma diferença nessas termino-
logias.
Avaliando minha
108 caminhada
O processo de avaliação de aprendizagem em cursos a distância se sustenta em
princípios análogos aos da educação presencial. Lembra quando dizíamos, no começo,
que fazer Educação a distância é essencialmente fazer Educação?
Pois, um dos objetivos fundamentais da educação e, consequentemente, da Edu-
cação a distância, é possibilitar o desenvolvimento de sua capacidade não só de repro-
duzir ideias ou informações, mas, sobretudo, a capacidade de produzir e (re)construir
conhecimentos, de analisar e posicionar-se criticamente diante das situações concretas
que se lhe apresentem.
Como no contexto da EaD, você não conta, comumente, com a presença física do
professor, insistimos, ainda, sobre a necessidade de você desenvolver métodos de es-
tudo individual e em grupo, para que você possa:
☞ Estudar com método faz com que você evite o que costuma
acontecer com acadêmicos que se preocupam somente em decorar,
em repetir mecanicamente as informações contidas nos fascículos: respostas
desorganizadas, omissões de aspectos importantes, ou um “branco”, de
repente parece que tudo sumiu da cabeça!
Avaliando minha
caminhada 109
Neste curso a distância, a avaliação é diagnóstica, formativa e processual, materia-
lizando-se em diversos momentos e utilizando diferentes estratégias, tais como:
Avaliando minha
110 caminhada
A avaliação não é o momento da “pegadinha”, de pegar você de
surpresa, de solicitar que você fale sobre aspectos pouco abordados
no material didático ou de pouca relevância. Ela tem tudo que ver
com o que você está estudando, discutindo com o orientador e
colegas. Portanto, se você realizou o percurso da leitura de maneira
compreensiva, dialógica e com método de estudo, os momentos
avaliativos deixarão de ser situações de medo ou “de branco”!
Quanto à ansiedade de que falávamos no início do capítulo. Isso deve ser visto como
algo natural? Que fazer?
Quando não sabemos enfrentar uma situação com segurança, “trememos nas ba-
ses”. Tudo o que é desconhecido, uma incógnita, nos assusta e intimida. Daí a importân-
cia de você, antes de tudo, conhecer bem a proposta pedagógica do curso, fazendo lei-
tura cuidadosa do projeto, conversando com colegas e orientadores, para compreender
como o sistema de avaliação de aprendizagem é concebido e organizado no curso.
Em segundo lugar, ao estudar, você precisa ter clareza dos objetivos da atividade
que está realizando, dos conteúdos propostos pelo autor, das ideias centrais contidas
no texto, dos conceitos fundamentais a serem construídos naquele campo do saber.
Isso deixará você mais tranquila e segura quanto ao que aprender e ao processo ava-
liativo.
Isso não significa que você não venha sentir certa “ansiedade” antes da avaliação,
certa “excitação”. Isso é normal e positivo. Pesquisas apontam que há uma relação entre
o rendimento escolar e o nível de motivação. Isto é:
㍟㍟ muito relaxamento pode levar uma pessoa a não “se sair bem”, porque, geralmente,
o estudante “relaxado” é relaxado mesmo, não se preocupa com o estudo!
Avaliando minha
112 caminhada
z Você se recorda de times que, convictos de que ganhariam o jogo em
que se decidiria um título, foram, em contrário disso, surpreendidos
pelo adversário? A atitude de “já-ganhou” havia levado os jogadores ao relaxa-
mento, a não se empenharem, a não estarem atentos e motivados no jogo. Aí,
veio a “derrota inexplicável”.
Por isso, é importante a preparação, tanto intelectual como emocional, para que as
avaliações deixem de ser situações de medo ou de reprovação, tornando-se parte de seu
cotidiano acadêmico, momentos educativos e de aprendizagem.
⮒⮒ Anoto as dúvidas para revisar depois os tópicos que não foram compreendidos
Avaliando minha
caminhada 113
⮒⮒ Procuro o orientador para discutir o assunto, levando resumos, questões e dúvidas
⮒⮒ Não fico comentando com colegas sobre “o que será que vai cair na prova”?
O que nós listamos acima são “estratégias” que podem auxiliá-la positivamente em
seu desempenho acadêmico. Quero, ainda, chamar sua atenção para alguns aspectos
que podem ajudá-la a superar esse clima de medo em relação à avaliação:
㍟㍟ Você deve seguir sua programação de estudo, planificada no início do curso, lem-
bra? Isso ajudará você a não acumular conteúdos e evitará ansiedade e estresse às
vésperas dos momentos avaliativos.
Por exemplo, se uma questão propõe que você “analise”, ou “avalie”, ou “explique”,
você saberia diferenciar os enunciados?
Avaliando minha
114 caminhada
Vejamos, então, alguns desses enunciados. Sugiro que você complete as definições
com a ajuda de um bom dicionário e as discuta com colegas do curso e orientador.
㍟㍟ Leia com atenção o que está sendo solicitado, antes de começar a escrever.
㍟㍟ Organize o tempo que terá à disposição, sobretudo quando há mais de uma questão a ser respondida.
㍟㍟ Decida a ordem pela qual irá responder, se começar por aquela pergunta que lhe parece mais simples, mais
fácil, ou se pela mais complexa, por aquela que irá exigir mais tempo e maior esforço de sua parte. A su-
gestão é que comece respondendo à questão que melhor sabe. Isso lhe dará confiança e ajudará a diminuir
sua tensão!
㍟㍟ Seja objetiva na sua resposta, não dando voltas ou tomando rumos que levam a não responder o que foi
solicitado. Por isso, prefira escrever frases curtas!
㍟㍟ Seja clara na exposição de suas ideias, seguindo uma lógica no seu raciocínio, indo das ideias mais impor-
tantes para as secundárias;
㍟㍟ Escreva com letra legível, pois isso cria certa disposição positiva a quem vai ler seu texto.
㍟㍟ Ao final, releia o que escreveu para verificar se atendeu ao enunciado, se não deixou fora algum aspecto
importante.
㍟㍟ Finalmente, faça uma revisão do português (gramática, ortografia).
Avaliando minha
caminhada 115
O processo avaliativo não se conclui com a entrega das atividades solicitadas e/ou
com a realização da verificação escrita de aprendizagem. Pronto.... agora é só aguardar
a divulgação do resultado! Momento importante é fazer avaliação desse percurso por
você (autoavaliação) e com o seu orientador. Juntos analisarão seu percurso naquela
área do conhecimento, em aspectos como: sua compreensão dos conceitos fundamen-
tais, seus avanços, suas dificuldades, a construção do texto escrito, as estratégias de
estudo utilizadas, como aprender com os “erros”, o que poderá ser realizado para dar
continuidade ao processo de construção de conhecimentos, etc.
No curso em que você está matriculada, a avaliação é concebida processualmen-
te, e os diferentes momentos de “verificação” de sua aprendizagem têm a função de
diagnosticar sua compreensão dos conteúdos estudados, de mapear possíveis dúvidas
quanto a eles e de possibilitar sua formação profissional.
Por isso, você tem à sua disposição o sistema de Orientação Acadêmica para apoiá-
la em seu processo de estudo e compreensão dos temas propostos. É importante que
suas dúvidas, seus questionamentos sejam imediatamente trabalhados para possibili-
tar sua construção do conhecimento e sua progressão no curso.
Haverá momentos em que você, ou alguém da sua família, será tentada a fazer cál-
culos para verificar se compensa estudar durante quatro anos para continuar ganhando
uma “mixaria” de salário, quando o vendedor de picolé ou de refresco, na rua, ganha
muito mais que você, sem ter nenhum diploma!
Começará a fazer comparações... e certo desânimo invadirá seu ser.
Não desanime!
É claro que o salário é parte de sua realização pessoal e profissional. As lutas pela
melhoria de salário terão que ocorrer pela importância do seu trabalho na sociedade,
pela sua qualificação profissional e por sua participação nos encaminhamentos políti-
cos.
Investir na sua qualificação profissional não a leva simplesmente a desenvolver
melhor o trabalho, mas a incorporação de novos conhecimentos pode provocar em
você transformação, desenvolvendo atitudes e práticas que lhe permitam interagir no
meio social.
Antes de se deixar desanimar, reflita na importância do curso para você, na conquis-
ta que estará fazendo, ultrapassando seus próprios limites, permitindo-se crescer como
PESSOA, profissional e cidadã.
Considerações
118
Vá em frente!
E isso não se faz sem mudanças dentro de você (nas concepções, na visão de mundo)
e na relação com os outros (nas ações cotidianas e nas práticas profissionais).
Desejamos mudar, muitas vezes, sem sofrimento. Gostamos da ideia de que as coi- Se você não mudar
sas poderiam acontecer como no filme “Chocolate”, de Lasse Hallström (2000), ou em a direção, terminará
“Festa de Babete”, de Gabriel Axel (1987). Buscamos soluções mágicas, receitas que têm exatamente onde partiu.
o fetiche de encantar e mudar as pessoas, seus sentimentos e suas vidas, ao som de uma (Provérbio chinês)
“flauta mágica”. Hoje, há uma vasta literatura que faz apelo à busca do prazer na vida, da
autorrealização, do estar bem consigo mesmo, de que aprender é prazeroso. Isso pode
criar em nós a fantasia de que as dificuldades serão superadas porque assim desejamos,
com um simples toque mágico. Irá descobrir, ao longo da aventura, que o estudo exige
disciplina, reorganização da vida, e que mudar é processo, também doloroso, uma vez
que prazer e dor são duas faces da mesma moeda.
Considerações
119
Por outro lado, não podemos pensar que tudo depende só de você, de seu esforço,
de sua garra. É o discurso que hoje é muito veiculado em programas televisivos: “Eu
sou brasileiro, eu não desisto nunca”.
Terá meses e meses pela frente para concluir o curso. Muitas coisas poderão acon-
tecer: desentendimentos com colegas e familiares, confrontos com orientadores e
equipe pedagógica, crises, cansaço, desânimo e abandonos pelo caminho íngreme a
percorrer, pelos momentos de neblina, vento frio, alegrias pelo ar fresco, pela água
cristalina que corre nos ruidosos riachos, saltitante entre as pedras, e que sacia a sede,
pelas paisagens que se descortinam à medida que galga a montanha e que a encanta
quando faz breves pausas para observá-las, pela vibração por ter alcançado o topo,
pelas brincadeiras ao ar livre, pelo lanche saboroso compartilhado, pelo retorno alegre
e ruidoso, acompanhado pelo pôr do sol que nos surpreende e nos provoca com repen-
tinas mudanças e misturas de cores, pelo cansaço sadio ao regressar, pelos abraços dos
que esperaram no vale o seu retorno, que acreditaram em sua capacidade de vencer e
superar os obstáculos e as dificuldades …
Chegará ao final dessa caminhada, mas não da aventura. Pois você está nessa aven-
tura como sujeito ativo, participativo, que aprende e ensina ao mesmo tempo, que se
coloca com postura crítica diante do que lhe é apresentado para tomar suas decisões,
como quem participa de ação coletiva, não seguindo simplesmente os outros pela
trilha, olhando para o chão para não pisar no calcanhar de quem está à frente, obede-
cendo à direção e às ordens de quem está comandando a fila.
Sobre essa aventura muito se falará. Suas recordações ficarão impressas em sua Dizem que a águia, próxima
vida. dos quarenta anos de vida, com
Quero exortá-la a que não tenha, ao longo desse curso, a atitude da coruja que a perda da força em seu bico,
levanta voo ao entardecer, quando o dia já se foi, muito pouco podendo ser feito para instrumento primordial para
recuperá-lo e nele intervir; ou da galinha que passa a vida ciscando nos limites seguros caçar a presa, tem que tomar
e fechados do galinheiro, ou de uma granja, sendo bem-alimentada para somente botar uma decisão: ou morrer, ou
ovos, ou virar frango congelado. renovar-se, isto é, romper o
Quero que tenha ou que venha a construir a atitude da águia que abre suas asas velho e inútil bico e aguardar
para sair do chão e levantar voo em direção ao sol, ousando alcançar altitudes cada o nascimento de um novo.
vez mais altas, de onde pode descortinar belas
paisagens, numa visão cada vez mais ampla,
mas tendo o olhar profundo e focado sobre a
presa, sobre seus objetivos, suas metas, capaz
de intervir, de tomar decisões, soltar seu grito
de liberdade, de realizar sacrifícios, para poder
continuar ser águia.
Você poderá tornar-se águia.
Aliás, dentro de você existe essa águia, pois,
como nos exorta Leonardo Boff, ser águia é
parte da condição humana e, parafraseando-o,
eu diria,
Considerações
121
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bl
io
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Bibliografia
125
Anexo
Testes de Percepção Visual
Figura 1
Anexo
126
Figura 2
Anexo
127