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Universidade Federal de Viçosa

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL (PPGEC)

Projeto de Pesquisa

Autor: Fernando Henrique Neiva Pereira Ferreira


Área de Concentração: Geotecnia: Sistema e Infraestrutura de Transportes

Análise do comportamento mecânico de solos sobre a influência da variação do teor de


umidade de pós-compactação empregado no dimensionamento de pavimentos flexíveis

1. Introdução e Contextualização

É notório dentro da Geotecnia envolvendo o trabalho de campo se deparar com


empasses relacionado ao sistema de tráfego. De acordo com o Ministério da Infraestrutura
(2020) o Brasil apresenta em sua totalidade 1536,6 mil quilômetros de malha rodoviária,
sendo 94,7% rodovias estaduais e municipais e 5,3% federais, destas 13,7% são pavimentas
e 86,3% não apresentam pavimentação.
Entre 2010 a 2020, a frota automobilista brasileira cresceu cerca de 66,5% (CNT,
2021), em contrapartida, a malha rodoviária houve ampliação em apenas 9,1%. Este
acréscimo da frota, associada às condições inadequadas da infraestrutura rodoviária,
contribui significativamente para a ocorrência de acidentes e óbitos no trânsito. Visto que
pavimentos deficientes além de reduzir a segurança viária, danifica os veículos,
aumentando seu custo de manutenção, consumo de combustível, lubrificantes, pneus, freios
e o tempo de viagens (CNT, 2019a e 2019b).
No que diz respeito aos defeitos mais frequentes nos pavimentos flexíveis
brasileiros destaca-se a questão do trincamento na camada de revestimento asfáltico e as
deformações permanentes. O trincamento surge por meio da flexão alternada da camada
superficial apoiada em camadas granulares (deformações elásticas). No caso das
deformações permanentes, que geram os afundamentos de trilha de roda, em geral provém
da contribuição de todos os materiais de cada camada, mas são associadas principalmente
às camadas geotécnicas, pois, admite-se que se efetuando a dosagem da mistura asfáltica
corretamente, a contribuição da camada asfáltica será desprezível (MEDINA e MOTTA,
2015).
Um dos fatores primordiais e indispensáveis para o bom dimensionamento das
camadas de um pavimento é a escolha dos materiais e a determinação das suas propriedades
mecânicas. Essa busca pelo bom desempenho mecânico de pavimentos rodoviários está
associada à maneira como os materiais constituintes se comportam frente às diversas
solicitações impostas ao longo de sua vida útil. Essas solicitações, provenientes do tráfego e
das condições ambientais nas quais se insere a rodovia, devem ser cada vez melhor
equacionadas a fim de obter previsões de comportamento progressivamente mais próximas
da realidade.
A análise mecanística e o projeto de pavimentos flexíveis dependem do
conhecimento do carregamento imposto pelo tráfego, dos materiais, e dos fatores
climáticos. As variações sazonais de fatores climáticos, tais como temperatura e
precipitação, afetam as condições das camadas do pavimento, incluindo a temperatura e o
teor de umidade in situ. Por sua vez, estas condições têm uma relação direta com a
resistência e rigidez do pavimento, causando variações da resistência e dos módulos das
camadas.
O comportamento do subleito é influenciado pelo clima quando ocorre a entrada
de água, seja pelos acostamentos, principalmente se estes não são revestidos, ou por
infiltração por poros, trincas e juntas existentes na superfície do pavimento. As variações de
umidade do subleito também podem ser ocasionadas pela oscilação do lençol freático e
gradientes de temperatura, que causam o movimento de água na forma de vapor (SILVA,
2009). Desse modo, fica evidente a importância da determinação da sucção em solos
utilizados em pavimentação e sua variação eventual, devido à sua influência nas
propriedades mecânicas destes e, consequentemente, no desempenho final do pavimento.
A umidade das camadas dos pavimentos e do subleito pode variar na fase da
construção dos pavimentos quando o controle tecnológico não é eficiente ou até mesmo
quando se obedecem aos critérios de controle de execução das especificações de serviço do
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT, 2006). Além disso, a
umidade ainda está sujeita a alterações na pós-construção, quando as variações climáticas
sazonais podem acarretar mudanças que comprometem o desempenho do pavimento.
Ao estudar o efeito da variação de umidade no comportamento do solo, Edil e
Motan (1979) identificaram, para uma argila de baixa plasticidade, compactada abaixo da
umidade ótima, maior suscetibilidade à mudança de umidade em camada de subleito, em
comparação com amostras compactadas na umidade ótima e ramo úmido.
Bastos, Holanda e Barroso (2013), ao compararem a influência da variação da
umidade de compactação e de pós-compactação no dimensionamento de pavimentos
flexíveis, observaram que variações de umidade em torno de 2 % em relação à umidade
ótima, normalmente aceitos por norma, provocaram variações significativas na estrutura,
onde os materiais com umidade abaixo de 2 % da ótima resultaram em estruturas mais
esbeltas.
Desde 1986, o guia de dimensionamento da AASHTO recomenda o uso do módulo
de resiliência para a caracterização dos materiais usados em pavimentos flexíveis. Este
módulo, determinado a partir de ensaios triaxiais cíclica, é definido como razão entre a
tensão desvio e a deformação elástica recuperável, ou resiliente. É uma propriedade básica
do solo de acordo com a teoria da elasticidade.
Dentre os fatores que influenciam no valor do módulo de resiliência, que se sabe é
muito variável, pode ser citada a condição de carregamento e estado de tensão; a natureza
do solo, relacionada à origem, composição e estrutura; e o estado físico do solo, definido
pelo teor de umidade e massa especifica seca.
No que diz respeito às condições ambientais, diversas pesquisas mostraram que
alterações na umidade pós-compactação do solo promovem variações significativas no
módulo de resiliência. Dente estas pesquisas podem ser citadas: Elliot e Thornton (1988),
Motta et al (1990), Li e Selig (1994), Mohammad et al (1995), Thadkmalla e George
(1995), Drumm et al (1997), Bernucci (1997), Rodrigues (1997) e Gonçalves (1999).
Neste contexto, esta pesquisa busca contribuir para o estudo da influência da
umidade nas características de deformabilidade elástica e plástica de solos tropicais finos,
visando emprego em camadas de base e sub-base e no subleito de pavimentos flexíveis,
com ênfase maior no estudo da deformação permanente destes materiais, aspirando
contribuir para a ampliação do banco de dados sobre o comportamento plástico de solos
tropicais.

2. Objetivo

Esta pesquisa tem como objetivo principal avaliar, por meio de ensaios de
laboratório, a influência da variação de umidade pós-compactação no módulo de resiliência
e na deformação permanente de três solos para o emprego como subleitos rodoviários
brasileiros. Como objetivo secundário tem-se a avaliação da influência da sucção no
módulo de resiliência e na deformação permanente dos corpos de prova ensaiados na
umidade na ótima, e nos corpos de prova compactados na umidade ótima e posteriormente
submetidos à trajetória de secagem e umedecimento. Além disso se tem como objetivo
terciário avaliação do impacto da variação de umidade pós-compactação no
dimensionamento de pavimentos flexíveis utilizando no programa MeDiNa.

3. Metodologia
3.1. Materiais
3.1.1. Solos

A pesquisa envolverá o emprego de três amostras de solos (S1, S2 e S3), para


simplificar e agilizar o procedimento de amostragem, os solos estudados nesta pesquisa será
extraído de taludes de rodovias da cidade de Viçosa-MG ou potenciais jazidas localizadas
nas proximidades da mesma, partindo-se da premissa que estes materiais compõem o
subleito das rodovias, as amostras serão coletadas no estado deformado. A amostra de solo
S1 apresenta granulometria predominantemente argilosa, a amostra de solo S2 é
predominantemente siltosa e a amostra S3 é predominantemente arenosa.

3.2. Métodos
3.2.1. Considerações Gerais

Todas as etapas da pesquisa serão realizadas nas dependências dos laboratórios


vinculados ao curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) da Universidade
Federal de Viçosa (UFV), lotados no Departamento de Engenharia Civil (DEC).

3.2.2. Ensaio de caracterização dos solos


3.2.2.1.Ensaio de caracterização física e classificação geotécnica dos solos

Os ensaios de caracterização geotécnica realizados para as amostras de solos serão


os seguintes:
i) análise granulométrica, conforme a NBR 7181 (ABNT, 2016b);
ii) limite de liquidez e limite de plasticidade, conforme a NBR 6459 (ABNT,
2016c) e a NBR 7180 (ABNT, 2016d), respectivamente; e
iii) peso específico dos sólidos, conforme a ME 093 (DNER, 1994b).

Após a caracterização geotécnica, os solos serão classificados segundo os sistemas Unified


Soil Classification System (USCS) e Transportation Research Board (TRB), segundo as
prescrições contidas no Manual de Pavimentação (DNIT, 2006). As amostras de solos
também serão classificadas de acordo com a metodologia MCT (Miniatura, Compactado,
Tropical), conforme as recomendações da norma técnica CLA 259 (DNER, 1996b). Para
realizar a classificação através da metodologia MCT, as amostras de solo serão submetidas
aos ensaios de Compactação dinâmica Mini-MCV, conforme o método de ensaio ME 258
(DNER, 1994c), e de Perda de massa por imersão em água, conforme o método de ensaio
ME 256 (DNER, 1994d).

3.2.2.2.Ensaio de desempenho dos solos compactados

Para os três solos, serão moldados corpos de prova nas umidades ótimas de
compactação da energia Proctor Normal, visando à determinação das seguintes
propriedades de engenharia (aqui designadas propriedades de desempenho):
i) Resistência à Compressão Não Confinada (RCNC), determinada segundo a
norma técnica NBR 12770 (ABNT, 1992);
ii) Resistência à Tração por Compressão Diametral (RTCD), determinada segundo
a norma ME 181 (DNER, 1994e);
iii) Módulo de Resiliência (MR), determinada segundo a norma ME 134/2018
(DNIT, 2018a);
iv) Índice de Suporte Califórnia (ISC) e Expansão, determinados conforme a
norma técnica NBR 9895 (DNIT, 2018b);
v) Determinação da deformação permanente (DP), determinados conforme a
segundo a norma DNIT 179 (DNER, 1994e);
vi) Durabilidade por molhagem e secagem, determinada segundo a norma NBR
13554 (ABNT, 2012c);
vii) Condutividade hidráulica saturada (Ksat), determinada segundo as normas
NBR 14545 (ABNT, 2000) e NBR 13292 (ABNT,1995).

3.2.2.3.Ensaio de caracterização química, mineralógica e microestrutural dos solos

A avaliação química qualitativa dos solos será realizada pela técnica de


Fluorescência de Raios-X (FRX). A caracterização mineralógica dos solos será realizada
utilizando a técnica de Difração de Raios-X (DRX). A caracterização microestrutural do
solo será realizada pela técnica de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e se
aplicará às amostras deformadas e às compactadas nas umidades ótimas da energia Proctor
Normal.
3.2.3. Variação de umidade pós-compactação

Para os três solos, os ensaios de desempenho (CBR, DP, MR e RTCD)


serão realizados com CPs submetidos aos processos de umedecimento e secagem
pós-compactação, em que os CPs serão moldados na umidade ótima e posteriormente
serão umedecidos até atingirem uma umidade 2% acima da ótima (Wot+2%pós) e outro
cenário onde o CPs na umidade ótima e serão secos até atingirem uma umidade 2% abaixo
da ótima (Wot-2%pós). As propriedades mecânicas em ensaios realizados sobre os CPs
moldados nas variações de umidades sobre a energia de compactação do Proctor Normal,
será submetida a câmara úmida por um período de 7 (sete), 28 (vinte e oito) e 56
(cinquenta e seis) dias, considerando-se média de três determinações de ensaios, com
coeficiente de variação máximo de 10%.

3.2.4. Ensaio de sucção

Existem diversos métodos para determinação da curva de retenção de água no


solo, dentre os mais comuns destacam-se: placa de sucção, placa de pressão, método do
papel filtro, método do equilíbrio de vapor, fluxo osmótico, potenciômetro de ponto de
orvalho e ensaio de coluna.
Estes métodos podem também, em alguns casos, serem considerados como
complementares entre si, visto que, dependendo da faixa de sucção possível de ocorrer,
um método individualmente não é capaz de determinar o formato da curva de retenção por
inteiro. Desta forma o método a ser empregado será o que o local de pesquisa permite ser
empregado. Este ensaio empregará sobre os CPs na condição de umidade ótima e pós-
compactação (secagem e umedecimento) quanto a influência nas propriedades mecânicas
DP e MR.

3.2.5. Simulação no programa MeDiNa

Para avaliar o impacto da variação de umidade pós-compactação no


dimensionamento de pavimentos será analisadas no programa MeDiNa três estruturas para
diferentes tipos de vias. As estruturas propostas serão dimensionadas considerando-se os
parâmetros de regressão de MR e DP na umidade ótima e, posteriormente, estes
parâmetros serão substituídos pelos obtidos nos ensaios realizados na condição saturada e
seco ao ar, mantendo-se a espessura da camada, a fim de avaliar se a estrutura
dimensionada com os parâmetros da umidade ótima seria capaz de atender aos critérios de
dimensionamento caso ocorresse a saturação ou secagem dos materiais finos da estrutura.

3.3. Cronograma de execução

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