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WĄŐŝŶĂϭϲϱ WĄŐŝŶĂϭϲϴ
REVISÃO REVISÃO
sociedade. Ora, uma vez que impor a excisão a jovens que (2) Se culturas diferentes têm códigos morais
lhe resistem desesperadamente não parece ser diferentes, então não há uma verdade moral
imparcialmente defensável, podemos considerar que essa objetiva, pois a verdade dos juízos morais é
prática é digna de condenação onde quer que ocorra. sempre relativa à cultura ou grupo social onde
estes são formulados mais propriamente a um
KƉĕĆŽ ͗ Defender que não há razões objetivas para
conjunto de normas que os respetivos membros
condenar a excisão, pois, uma vez que não existe uma
estão na disposição de acordar.
realidade moral objetiva a que os juízos morais possam
corresponder ou não corresponder, os juízos morais não (3) Logo, não há uma verdade moral objetiva, pois a
são objetivamente verdadeiros ou falsos. Para sustentar verdade dos juízos morais é sempre relativa à
esta posição, o aluno pode apoiar-se quer no cultura ou ao grupo social onde estes são
subjetivismo, quer no relativismo. formulados mais propriamente, ao conjunto de
normas que estes estão na disposição de acordar.
O subjetivismo caracteriza-se por defender que os juízos
(De 1 e 2, por Modus Ponens)
morais reportam às preferências pessoais de cada
indivíduo e, por conseguinte, a sua verdade ou falsidade Ora, uma vez que as noções de certo e errado são
não é independente de qualquer perspetiva, mas, pelo sempre relativas a cada cultura, não existe um padrão
contrário, é sempre relativa à perspetiva de cada um. A cultural neutro ao qual possamos apelar para comparar
favor desta perspetiva pode apresentar-se o seguinte e avaliar as diferentes culturas. Assim sendo, por muito
argumento: estranhas que certas práticas possam parecer aos olhos
da nossa cultura, devemos tolerá-las sob o pressuposto
;ϭͿ E xistem amplos e profundos desacordos no que
de que as práticas comuns na nossa sociedade devem
diz respeito ao valor de verdade dos juízos morais.
parecer igualmente bizarras quando avaliadas do ponto
(2) Se, além das nossas preferências pessoais e de vista de outras culturas.
subjetivas, houvesse um domínio de factos
morais ao qual pudéssemos apelar, então tais WĄŐŝŶĂϭϳϳ
desacordos não teriam lugar. REVISÃO
(3) Logo, não há um domínio de factos morais além ϭ͘ Sim, para o relativista cultural os juízos morais são
das nossas preferências pessoais e subjetivas. (de crenças acerca do código moral aprovado na nossa
1 e 2, por Modus Tollens) sociedade e, portanto, têm algum conteúdo
descritivo, o que significa que podem ser
Na ausência de um domínio de factos morais além das
considerados verdadeiros (quando descrevem
nossas preferências pessoais e subjetivas, não temos
adequadamente esse código moral) ou falsos
razões para condenar as práticas adotadas pelos outros,
(quando não caracterizam adequadamente esse
devemos reger-nos pelas nossas preferências e permitir
código moral).
que cada um viva de acordo com as suas.
Ϯ͘ Para o relativismo cultural, os únicos factos morais
OU
que existem são os códigos morais adotados pelas
O relativismo cultural caracteriza-se por defender que diferentes sociedades.
os juízos morais não são objetivamente verdadeiros ou
ϯ͘ Para um relativista cultural, uma afirmação como “As
falsos, pois reportam às preferências coletivas de cada
touradas são erradas” significa “A minha sociedade
sociedade, ou mais propriamente ao conjunto de normas
não aprova touradas”.
que estaríamos dispostos a acordar a respeito dessas
preferências. A favor desta perspetiva pode ϰ͘
apresentar-se o seguinte argumento: ;ϭͿ Culturas diferentes têm códigos morais
diferentes.
;ϭͿ Culturas diferentes têm códigos morais
diferentes. (2) Se culturas diferentes têm códigos morais
diferentes, então não há uma verdade moral
objetiva, pois a verdade dos juízos morais é suscetíveis do mesmo tipo de prova. Essa diferença é
sempre relativa à cultura ou grupo social onde relevante porque a impossibilidade de obter uma prova
estes são formulados, mais propriamente, ao deste tipo pode dever-se precisamente ao facto de a
código moral (ou conjunto de normas) adotado realidade moral ser socialmente construída e não uma
pelos seus respetivos membros. questão de factos objetivos.
(3) Logo, não há uma verdade moral objetiva, pois a
WĄŐŝŶĂϭϴϬ
verdade dos juízos morais é sempre relativa à
REVISÃO
cultura ou ao grupo social onde estes são
formulados, mais propriamente, ao código moral ϭ͘ Sim, para o objetivismo, os juízos morais são crenças
(ou conjunto de normas) adotado pelos seus acerca de um padrão moral neutro. O que significa
respetivos membros. (de 1 e 2, por Modus Ponens) que têm um conteúdo descritivo, isto é, são
verdadeiros ou falsos.
ϱ͘ Não, porque de acordo com o relativismo não existe
um padrão neutro do que é certo ou errado. Cada Ϯ͘ Para o objetivismo, os factos morais são um domínio
sociedade tem o seu próprio padrão moral de de factos objetivos que correspondem a um padrão
referência. Ora, na ausência de um padrão moral moral neutro, isto é, correspondem àquilo que
neutro comum, não faz sentido haver comparações independentemente das nossas preferências
morais entre diferentes sociedades. O que quer que pessoais ou convenções sociais, temos boas razões
estas aprovem será correto de acordo com o seu para aprovar ou reprovar.
padrão e o que quer que estas condenem será errado ϯ͘ Para um objetivista, dizer que “As touradas são
de acordo com o mesmo. erradas” é o mesmo que dizer que
ϲ͘ Não, porque de acordo com o relativismo não existe “Independentemente de preferências pessoais ou
um padrão neutro do que é certo ou errado. Cada convenções sociais, há boas razões para condenar as
sociedade tem o seu próprio padrão moral de touradas”.
referência. Assim, uma vez que a opinião de Mill ϰ͘
estava em contradição com a opinião dominante na ;ϭͿ Há juízos morais que são (ou não são) justificáveis
sociedade da época, seria contraditório dizer: “Mill de um ponto de vista imparcial.
tem uma opinião diferente daquela que é socialmente
(2) Se há juízos morais que são (ou não são)
aprovada, mas Mill está certo”, porque para um
justificáveis de um ponto de vista imparcial,
relativista “É correto” e “É socialmente aprovado”
então há juízos morais objetivamente verdadeiros
significam uma e a mesma coisa.
(ou falsos).
DISCUSSÃO (3) Logo, há juízos morais objetivamente verdadeiros
ϳ͘ϭĞŶĄƌŝŽƐĚĞƌĞƐƉŽƐƚĂ͗ (ou falsos). (De 1 e 2, por Modus Ponens)
KƉĕĆŽ͗Sim, porque se baseia num número suficiente ϱ͘ Porque o objetivismo sustenta que propriedades
de semelhanças relevantes e não existem diferenças morais, como a correção ou incorreção, são
entre os dois domínios que sejam relevantes para o que propriedades objetivas das coisas. Mas os críticos
se pretende concluir. O facto de haver diferentes defendem que a correção ou incorreção nos dão
opiniões em relação a um assunto, não é suficiente para razões para agir desta ou daquela maneira e não
concluirmos que não existe uma verdade objetiva acerca parece haver nada no mundo dos factos objetivos
do mesmo. com essa capacidade. Aquilo que nos leva a agir são
KƉĕĆŽ͗ Não, porque existem diferenças relevantes no sempre as nossas preferências e desejos, mas isso
que diz respeito aos domínios que estão a ser são aspetos subjetivos e não propriedades objetivas
comparados. A morfologia do planeta Terra é um facto das coisas. Por exemplo, o facto de que está um copo
que pode ser comprovado pela observação das imagens de água em cima da mesa não me dá, por si só, uma
recolhidas por satélite. Mas as questões morais não são razão para fazer seja o que for. É a minha sede que
aceites pela população, o seu juízo de que “Os sinceramente o juízo de que “A excisão é aceitável”,
cidadãos negros deveriam ter os mesmos direitos então o seu juízo não pode ser falso.
que os brancos” passou a ser verdadeiro.
KƉĕĆŽ ͗ Sim, pois de acordo com o relativismo, os
OCTÁVIO – E até aí não era?! Isso para mim é nossos juízos morais descrevem aquilo que é socialmente
inaceitável! Quer dizer que não se pode dizer que as aprovado. Assim, se a pessoa que formula o juízo de que
sociedades que defendem a liberdade e a igualdade “A excisão é aceitável” viver numa sociedade que não
de todos os cidadãos são melhores do que as outras? aprova a excisão, então o seu juízo poderia ser falso.
RENATO – Sim. Aliás, a atitude de achar que certas KƉĕĆŽ͗ Sim, pois o juízo de que “A excisão é aceitável”
sociedades são superiores a outras levou a que não pode ser justificado de um ponto de vista imparcial
muitas culturas tentassem impor o seu modo de vida e, portanto, é objetivamente falso.
desrespeitando costumes e tradições. E tu Sara? Que
ϴ͘ ĞŶĄƌŝŽƐĚĞƌĞƐƉŽƐƚĂ͗
pensas disto?
KƉĕĆŽ ͗ Sim, porque mesmo que haja um domínio
SARA – Não penso que haja sociedades objetivamente objetivo de factos morais, continua a haver espaço para
superiores a outras, mas acho que há sociedades haver desacordos. Há vários fatores que podem explicar
onde eu gostaria de viver e outras não, ou seja, umas essa divergência de opiniões sem ser a inexistência de
seriam melhores para mim do que outras. Mas é uma verdade objetiva no domínio da moralidade. Os
tudo uma questão de preferências subjetivas. nossos próprios preconceitos podem toldar de tal forma
o nosso pensamento, que se torna difícil raciocinar de
DISCUSSÃO
forma rigorosa e imparcial sobre certas questões morais.
ϳ͘ ĞŶĄƌŝŽƐĚĞƌĞƐƉŽƐƚĂ͗
KƉĕĆŽ ͗ Não, porque caso houvesse um domínio de
KƉĕĆŽ͗ De acordo com o subjetivismo, não. Porque se
factos morais ao qual pudéssemos apelar para resolver
os juízos morais descrevem os nossos sentimentos de
as nossas divergências morais, seria de esperar que, tal
aprovação ou reprovação, então sempre que formulamos
como acontece na ciência e na matemática, houvesse
um juízo moral sincero, o nosso juízo será verdadeiro
um núcleo mais alargado de matérias consensuais em
(uma vez que descreve adequadamente esses
ética.
sentimentos). Portanto, se alguém formular