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MARIA HELENA DA ROCHA PEREIRA ESTUDOS DE HISTORIA DA CULTURA CLASSICA volume ~ Cultura Grega 114 Edigto Revista e Atualizada FUNDAGAO CALOUSTE GULBENKIAN 1 Mapa i Grin Servigo de Educagso Reservados todos distor de harmonia cou ei. igo da FFUNDAGAO CALOUSTE GULBENKIAN, 2 de Bena | Lisbon oma Depo Unga N 6588/12 ISEN 9789723016461 NOTA A1L* EDICAO. Esta edigio foi folamente revista e atualizada na sequéncia do aparecimento de noons teorias ¢ descobertas arqueoligicas eepigrfias que, em muitos casos, alteraran profmdamente o que se tna por dadasaduirdos. or outro lado, a remisses para a Helade passaran a ser fits ela noon eg dessa antologia (Lisa, 2009) De novo agradecemos aos nossos Colegas, Prof. Doutor José Ribeiro Ferreira eo Prof. Doutor Delfin Let, o intresse com que acompanharam a reeicto desta obra. Que estudiantes e estudiosos possam continuar a encon- frar estas paginas o essencial para uma melhor com- preensio das bases da cultura ocidental so, mais wna vez, (0 nassos votes. Coimbra, Marco de 2012 MERE. Os Grandes Festivais, Um aspeto muito carateristco da religifo © da vida grega € a celebracio de festivais, documentada, pelo menos, “desde 0 Hino Honirico « Apolo, cuja primeira pate talvezinda seed sc VIA ‘iimero era elevadissimo, Se contarmos pela lsgqebglect no eo de Ntssow, race Fee | vor feger Beetng. mit Auscis der scher 25 temobsndis de trezentos. Por sua vez, o quadro com- osio por LUDWIDEUANER, Attsche Feste aponta uns Sessenta,s6 para o territério da Atica. Af nenhum més fem menos de dois, e alguns atingem a dezena, E, se “verses festas davai mr 66 di cuties con ab “Grandes Dionisias e os preliminares dos Mistérios de “His ocupan cnovoese, "Rigas GINRST LO ARTO ccunserto, local. Mes outros interessavam toda a Grécia e tiveram impor- tantes reflexos na cultura helénica. E destes tiltimos, evidentemente, que vamos tratar. "Hd, p16 (pat 388 1 Jogos Pan-Helénicos A. sua origem religiosa perde-se nos tempos: Para 0 Olimpicos, por exemplo, a celebracéo era tripla: Zeus, a divindade; Hiércales, 0 herSi que 08 crow: Pélops, 0 que pela primeira vez ficou vitorioso, sganhando na corrida de carros de cavalos @ mfo de Fipodamia, B por isso que Pindaro canta, no comeso dal Ode Onis: ‘Hino, senhore da ie, que deus, que herd, que vari celsbraremos? Em Pisa 4 Zeus senor Jogos Oimpicos, Héreulsoscrcu, co primis da ats 2 De um sem-nimero de hipéises relrrmoa apenas a que os dese de um primitvo duel, no. género dos wjuzes de Deuse ‘medieval fim de spariguar a witina no seu mule (K MEUUL ber Ussprung der Olympischen Spctn, Die Ausle 17 (98)) 185 “20s; e que encnts 0 seu pono de parts em competes fine tes em honta de Pélops no género ds que se decree no cao XOUIL da Mads (Poreion, Leben od Leberg, in der _richtchon Anti (Sehorndoet bei Sater, 1988) Sobre outa tera foo a5 eC. DRESS Der Unprang der Olympicien Spe (Sehorndort te Shaya, 1962), vse a acenbo que fremos a eta obra om mata 15.16 0964) 538-354, “Tv 15 (ad. 186. A hts doe Jogos, ums versio algo herent desta, const o mo da X* Onis ae E, na L* Ode Olimpica, narra a vitéria de Pélopst, gragas a0 aunilio de Posdidon, e descreve 0 seu ‘himulo: Agora st presente aos esplendorscesacifclos erento, elma junto ao creo do Alfa, um Rima maito vistado, prt do altar ‘que mals hpades rece Bra 90 ange 2 pltia de Péops nat idee limp, ‘onde se disputaa rapide de cori, auc da for (6035) Estes eam os mais antigos,pols-segundo os cil- culos dos Gregos, datavam de 776 a; facto que veio ‘mais tarde’ a ser usado para ssabelecer uma espécie de calendévio supranacional, mais amplo que os virios calendérios locais.Contava-se pelas Olimpiadas, que ) se realizavam de quatro em quatro aos. Quando se aproximava o més de agosto, a cidade- | -estado da Flide, onde ficava Olimpia (Fig-21), man- dava arautos por toda a Grécia, a proclamaras tréguas sagradas. Quem entrasse armado no seu territério, durante o festival, cava prsionero de guerra. “Ve, 8658 (iad, pp. BLISS). A competigio de Pelops exer represantada no pedimento do ln ascents de tmnplo de Zeus en Olimpia. "Belo menor, a partie dos ctcuos do soit pas, ne sua ‘Onaymiovinay dveypaby (rg. 8 DIESKRANZ, Ch supra, p45, ot. * Outes monumentos de Olimpia podem verse na His. 186 (templo de Her) ep. 26 (entrada pare west) 35 A duragio das festas era de cinco dias, pelo menos a partir de 472 a.C. No tempo de Pindaro, disputavam- -se catorze provas’ Conserva-se a lista completa dos vencedores no estédio, desde o prinefpio até 217. Mas a sua duracio vai até 393, data em que o imperador Teodésio proibix | “B welebragaa” estes como dos demais Jogos Pan > ‘Helénicos, por serem pagaos. ~~ prémio néo tinha valor pecunifrio: era uma coroa de folhagem da érvore simbélica de Hércules, a oliveira brava ou azambujeiro. Lutave-se portanto, unicamente pela honza, Tal facto era surpreendente para os barba- ros, como se dediuz deste curioso passo de HerSdoto™ Vieram ter com ele uns poucas de tsfugas de Arcs, ‘que predsovam de ter com que were quel babar: Quando (0s levaram ® presence do glande Rel os Peas perguntaranees 1 is orespecvo leno ‘Equestes: cares de qua cvaos, cates de mula cavalo sla CConra:estidio(200 m), para homens sti para apazes ‘ils (200) dolchose (4800 m) cota, revestido de armas ‘ata: para homens ara rapezes Pgiator para homens ara rapsaes Panericio (ute pup combined) Pentlor slo crid, ncn, dard ht * ivr VIG (ade, p26, Fig 21-GUIMA RUINASDAPALESTRA que etna ox Greg fner, Hava un que mis do qu odes, {fist nesta peru len raponderan qu Helen evar ssiver of om lin «oni, en ince e Nps, Pergo eno gual er 0 primi propa Flo al ltavam, Els teerraman 8 cnceso de core de Svc Eno Tenis, fio de Aiba, expends ua pute nolan, que he slew o poco de coer por pate do {unde Rel. Ao ser infomado de que primo e una ou € 1 \ | | } 7 Sessa res eae [pee eee een fl emesis arena Este trecho ilustra ainda outro aspeto digno de relevo: mesmo durante as Guezzas Medo-Persas, com 0 inimig6 dentro de potas, os Gregos no omitem a czle- ae ‘Que o facto se passava normalmente, “resmo que fotivesse confites locals ¢ abide se ‘néguas sagradas interrompiam as hostilidades; porém, cessadas aquelas, estas recomecavam. Mas 0 texto prova que rem o perigo barbaro se sobrepunha rea- lizagéo dos Jogos. ‘outro passo, Herédoto conta que as cidades gre- 85, pouco antes do recontro das Termépilas, hesi- favam no envio de reforcos, pois era altura da cele- bragio dos Jogos Olimpicos. [As suas competigdes, que serviram de modelo aos emai, eram desportivas. Mas nao se perdia a ocasifo de discursar perante tao mumeroso publico. £ © que znos demonstra um passo de Pausénias®, e, muito antes dele, 0 Hipias Menor de Platdo, que refere 0 habito, daquele Sofista de comparecer a todas as Olimpiadas, a fim de exibir a sua arte retérica", e ainda o Discurso Ls (au3 = vues ° Desert da Grin, VI. 287 (ade. 510. 3686 (dade, pp, 424-425) « Sed. Tambn Géxgas af dix ursva Paushias, VI77-9 —Hiadp. 510) 0 biseiador Herédot | ‘gunmen deu em Oinpia um recta de parte da un ob (Caan | Heridal a8 em Olimpia de Lisias®, em que o célebre orador no hesita em falar de uma «parada da inteligéncia no lugar mais belo da Gréciay; também 0 Panegirico de Isécrates supée esse cenétio. Fm_antiguidade e em importincia,_ocupam_o _sejundo lugar 0s Jogos Piticos. Estes celebravam-se em ‘Delfos! (Fig. 22), também em agosto e de quatro em THUATOaMws, aleémando com os_anteriores, desde. “582 a.C,, e em honra de Apolo. Stas competicdes devem ter sido idénticas as de Olimpia, mas com uma diferenca importante: princi param por constar apenas de concursos musicais, 6 mais tarde se introduziram as provas desportivas" era uma coroa de loureiro, a drvore simbé- Nemeia, em julho do segundo e quarto ano de Olimpiada, desde 573 a.C. em honra de Zeus. A natu- yeza exata das provas a dsputar nio & corhecida, mas sabe-se que o prémio consistia numa coroa de aipo: | ‘Os Jogos ftmioos efecuavanrsé desde 81 a. £m _abril do segundo e qu dae» 336 Outras fotografia do suntudio nas Fig 19 ¢ 20 deste vo, © sinda na Hila p24 ‘ Pausnias 7.28 (Heads, p. 512513). | | | | ) | | | | i | > ae em honra de Poséidon. As respetivas provas nifo slo “sabidas. Quanto ao préinio, foi primeiro uma coroa de aipo seco, e depois de ramagem de pinheiro™ “Foies distinguiamse pelas facilidades oferecidas transagtes comerciais, 0 que bem se compreende, se atendermos 20 local da sua realizagao, em Corinto, junto do Istmo que liga o Pelopaneso ao continente grego. J4 vimos que o alvo principal do competidor aos Jogos Pan-Helénicos era alcangar a gléria. Esta refle- " Pousia.VIL 48.2 (Hae pp. S512, a0 tiase sobre a sua polis. Segundo Plutarco, abria-se uma brecha nas muralhas da cidade, para receber 0 vvencedor no seu regresso. Em Atenas, ele e 0s seus descendentes eram alimentados no Pritaneu! Em sua hhonra,entoavam-se canticos principio simples; mais tarde, compostos por grandes artistas. Tais cinticos principiavam no itimo dia, em que provavelmente se Faria a coroagio dos vencedores, e continuavam por casio do reresso a casa "A maxima distingzo consistia em vencer nos qua~ tro grandes jogos, ou sej, em ser um nepiobovirns. Erelativa a ‘um destes homens a significativa histé- ria narrada por Cicero nas Tusculaas (I. 46.121) a respeito de Didgoras de Rodes (0 feliz destinatirio da VIl* Olimpicn de Pindaro): quando o velho lutador foi tevado aos ombros de dois flhos que acabevam de receber também o prémio maximo, um Espartano excla~ ‘ou: «Morte, Didgoras, nfo podes subir aos céasr O prestigio destas competgbes s6 baixou quando, no sée, IV aC, comegaram a substituirse 0s profs: sionais aos amadores". 1 xenfanes fala anda de vam dav, que serd para ele um lesouroe, mie no ebemos identi (ry. 2 DIS KEANE —File, p78), A 18 Nene de Piedra, por exemplo fo extetada& porta do pict (13.2) do principio de Hs Nene dade qu fo canada ne fera do vencedor. © fin! ds VIL! Navi firma s atguidade detes Hae, pp. 391985 1 Prova indie do apreo em que eram tides 0s ales venco- dores a indignagio de alguns intlesti ue lhe opsem o pmado Os Jogos, mostram-nos, pois, ara _terlstica dos FIeienoso-espirito aginico®. Represer- “vam um dos como se confitma através da Teitura deste passo de Isdcrates*: Com justia se logiam os qu insula as panei, porque nos legaram o costume de nos reuniros, depos de terms feo HiagSes ede termos debado os Gals extent, segudaments, pts temos efetuado preces e seericos em eomum, de noe Tembrarmes do parenteo recipe, de nos torarmas de futuro Imus benevolent de renovarmes lagoe de. hewpaidade de ‘ntti ede contaimos outros novos E contribuiram poderosamente para o desenvolvi- into de qiiateo artes poesia e a milsica, na forma “de epinicos aos vencedores; a retbrica, da maneira que _hé poueco vimos; e a escultura, pois muitos dos atletas “vencediores eram comemorados ext 2, FestivaisAticos Para 0 orador Isdcrates, Atenas era a cidade dos fes- tivais®. Um coro de As Nuvens de Aristofanes exprime Ao expr, como Xendfanes (eg 2 Dist Kean —Hilade pp 47-168) ‘uripides ig, 282 NAUCK do Aut) e ndrates (Panera, 12). 1 acs cla porn em eleva pa primsica vex por J. BURCK amor, Grice Kalerei «Yl 18961902 Peep, $3. 2 eusnias, V1.4 de. 508) 2 Papi, 45-46 Hae p30, tuas®, prética, 6- 352 poeticamente a mesma opinigo%. Que ela néo era exagerada, prova-o 0 livro de DEUBNER, citado acima, Mas, dessas muitas festas, e além dos Mistérios de _Eléuss, jf Yeleridos, duas & distinguem pela iportdila religiosa e civicae pelas suas consequén- ‘as culturais: as Panateneias eas Grandes Dionisias. 4a) As Panateneias |A palavra significa «festa de conjunto a Atena», Remotieladas pelos Pisistratos, efetuam-se anualmente, sob a forma de uma procissao ém hon da deusa, mas ~com mais solenidade de quatro em quatro anos, no ter- ‘ceiro ano de cada Olimpiada. Essas é que eram as Gran- ~dés Panateneias, com a durago de tr ou quatro dias © dia culminante, 28 de Julho, era precedido de wma pantiyehis, o4 Vig “Fida notama dos archotes. Além disco havia a proci ‘so, que principiava ao nascer do Sol, e era formada orvodasa res familias, que tansportavam, as oferendas); os {ovens com a8 vitimas os cidadlios; os metecos; os car- ros para as corridas; a cavalgada dos efebos, E quase “Wudo" isto nds. podenos ainda ver, no sew solene hieratismo, através do friso interior do Partenon® ig. 23). yy. 298518 (aad pp. 387389, * Outro echo do coateona Hep. 38. 353 AA finalidade desta procisséo era levar & deusa 0 peplos bordado pelas épyacrivas, as raparigas ate- riienses encarregadas desse servico™ Fazia-se depois be ( 2 fico de cem bois), em honra de Atena. Da came desses “animals, uma parte era destinada aos celebrantes funciondrios, mas a maiora dstibuia-se ao povo. Finalmente, realizavam-se competicSes de varia cordem: regatas, concursos de misica, um concurso de ebavipla, ou seja, de perfeicio masculina, rect “ios Poonas Homies. © ands todas decatos “ou de cavalos moniados e diversas provas atléticas. (Os prémios que conferiam tinham um significado transparente: a coroa de oliveira, érvore da deusa; as fnforas panatenaicas®, cheias de azeite das popias, consagradas a Atena®. “ale % 0s motives que o omamentvam esto desctos nos versas 46474 du Hie de Brides, Ota pga do meso dramatargo, Heels, conagra parte dena ode eval (47-783) &evergio dessa celonidade, CL. cape p. Benois Ck inf. 6, Pode verse uma, de cerca de 50. na Hae, 1.208. Estas pins, sogundo Arse, Cnt de Atenas 603, ‘Sestnavam ee aon vencedore dos conczzs gino « de equacSo; {sae Site Ole Sagat eto para defender algulm que ore TUES de arene G3 28 proprisdade um tronco de wa dass ‘vores pastas descendents da que Ate plata na Acipole. Tels vores cram purteng do Estado, portant etavam soba prtosio| | do Aredpogo. Ch ainda Avsttes, Const de lena, 0.2 ene ig 23 ~ PROCISSAO DAS PANATENEIAS. “via lho, Seg O tere dedicado ad Gilts dos mortos. 2355 ) Festivais Dionisiacos Jé-vimos que o culto dionisiaco se celebrava na Atica com um espirito muito diverso do do resto da Grécia, env ada menos de quatro grandioss fet a Antestérias Dos quatro grandes festivaisatenienses em honra de Disiisos, © mais antigo €o das Antestévias, cele- brado nos fins de Fevereiro, e com a duracio de trés dias, rome provém do fao de os fapazes e raparl- gas que salam da inféniausarem entfg wma coroa de Fores (0m). > orela sansa oe We ‘No primeira dia, chamado mOoryia, as pessoas reuniath-sepetto do santudrio de Dignisos ev 2ijvans, fbriam os ni com vinho das uvas do outono ante- Tior e, dep0i de Tazerem libagdes a0 deus, bebiam-no. (© segundo dia chamava-se yes, porque eta por vas0s dase feitio que se bebia pela cidade; tal ato realizava- ‘se em forma competitive, razS0 por que cada pessoa tinha de ter um desses pequeninos recipientes. A tar- dinha,-efetuavamse cerimdnias secretas, em que catorze yepatpai preparavam © casamento sagrado da Y Basitavva, mulher do arconte-rei, com Diénisos. Esse ‘Comunidade, represeniada na pessoa ‘Ao contrério das restantes, esta festa no tem con- sequéncias culturais dignas de nota, 356 B—Leneias Bram celebradas no més de janeiro, Compreen- diam um cortejo au noun, Mas"o mais importante & terem comegado a ineluir, destle 442 a.C., concursos de tragédia, e, desde 432 a.C, de comédia, & imitagio das Grandes Dionisias, de que falaremos a seguir. 7} - Dionisias Rurais Em dezembro,realizavam-se os ar’ dypots Atov6: _ak ej momento principal er ut coe eo que escoltava um phallos,¢ se destifava a conseguir a, ‘Baste Nao o abe quae ssu lve aetoaoe ‘a comportar manifestagdes dramaticas, nem se todos 0s demoi atenienses as efetuavam. AS mais famosas teriam sido as do Pireu. Autores como Séfacles e Aris- {6fanes apresentaram pesas nas de Eleuss. 6 — Dionisias Urbanas Este & 0 mais recente dos festivais e 0 mais impor- tante, por isso mesmo chamado também Grandes ionisas, ou simplesmente si dvowiare. Celebrava-se ra primavera, em honra de Dionysos Eleuthereus, cuja imagem se trazia de um templo préximo da Academia, no caminho para Eleutherai (local da sua proveniéncia, nos confins da Atica com a Beécia), para se calocar no velho templo de Diénisos, dentro do recinto do teatzo, nas encostas da Acrépole™, Parece ter sido instituido A fotogealiaespetiva poe verze ma Hila p46, 27 por Pisistrato. Jé se notou que o facto de ser seu orien- tador o arconte epénimo, e néo 0 arconte-rei, é prova de que se trata de um festival relativamente tardio. As ceriménias eram varias. e estendiam-se por diversos dias, Mas um ponto devemos jé sublinhar: a sua relagéo com 0 drama, Qual a origem do teatro dizer do teatro europeu, é das ‘mais acesas de toda a Literatura Grega, ¢ ‘exagero em afirmar que cada ano vé eoria. Mas, salvo uma excego que nem «=r vvale a pena iencionar, todos os grandes especialistas “= concordam em que hé uma relagio facil defini to de drama, “Provas dessa ligafo, encontra-as A. LESKY principal ‘mente nos seguintes factos™: ~ 0 lugar das representagdes(recnto do templo de Diénisos) — a ocasio (sempre nas grandes festas em honra do deus) 0 traje € calgado dos atores tragicos, que é 0 mesmo dos sacerdotes deste culto — a representagéo, em vasos, da tragédia perso ficada no thitos de Dibnisos nit ) banat ~ 0 parentesco com 0 ditirambo e com os sitiros, estabelecido por Aristételes = 0 &xtase dionisiaco, a relacionar com o terror ‘ausado pelo drama, 2 Diets Dich der Halle Cn gen 3971), pp. 40-42. 358 we | Desde c. 534 a.C, quando Téspis venceu a primeira 7 | Jcompeticéo de poctas trdgicos, que 0 drama nos | aparece como uma manifestagi do cilto dionisiaco, "Com Téspis (contemporineo de Sélon) estamos na época arcaica. Mas a descrigio das ceriménias, que ee n seguida, e que se realizaram até A época imperial, terd, necessariamente, de ultrapassar aquele petiodo, J vimos que principiavam por trazer a estitua (eloeywrt). Seguia-se a xn, o¥ corte, até 20 teatro. Sabe-se que se efetiava 0 sacifclo de um touro, que era levado na procissio pelos efebos, e supée-se que, ao passar pela agora, s© executavasn dancas diante dos atares, sobretido dos Doze Deuse A noite havia um rGjos, ow cortejo de carder mais livre. Pensave-se até hé pouco tempo que entre estes dois atos se situava a execugdo dos ditirambos®, Mais recentemente, porém, 0 aproveitamento de dados epi- sréficos levou & conclusio de que os ditirambos eam, nio dez (um por cada tibo), mas vinte (dois por cada, tro, sendo um dos corosformado por homens, eum por rapazes),miimero excessivo pata caber nesse dia Inicial Donde a suposigio de que eram distribuidos pelos dias das representacbes dramdties, de que fala emos a seguir A. PKARD-CAMDGE, The Dramatic Feil of Aten (Oo, 1959) p. st. 2 Jone Goutn @ D. M, Lewis, na edo, po eles refund, do Jiro Gado ne nota anterior (Ofer, 196, p. 66) —retomando, aks sua tese antiga do proprio A. PckARD CaumaDcs, no eeu lvso Oprimeiro grande com 0 sacrificio de unt animal e MbagSes; corcacio, ~“gom uma coroa de ouro, dos cidadsos bene Bdade%; exposicio dos tributos das cidades aliadas; Parada e exortagio aos Geos de guerra, que eram “armadios e recebiam a proedria (ou lugares de honra no ‘teatro)®. Depois desta série de ceriménias, em que 0 “elemento religioso e 0 civico se fundiam harmonio- samente, principiavam as representagdes dramaticas Gurante cinco dias sucessivos, uma comédia por dia, “precedicla_em_trés deles pelas tragédias e em “pelos ditirambos®, sem que possamos determinar a respetiva ordem de execucéo. Estas representacdes Tinham sido previamente anunadss no chamado po«yisy, que fazia 20 vivo as vezes dos nossos progra- ‘mas: cada poeta apresentava ao piiblico os seus atores. _comunicava 0s assuntos das pesas qué ia mortar. levavam trés dias_a representar, _porqué eran tr8S 0s potas admitidos a concorrer ‘Cada um compunha um grupo de tés tagédias (que podiam ou nio ser ligadas pelo tema)", seguidas ficou ne hist umm promo de impugnatio do dinito de Deméstnes tal recompensh, Ete defend ps atl de oot ecusilo de Equi FEegunes, Cont Casfone, Segundo a tse menconada 2» Adrmavncn at Bs pouco que Exqul culver tllogaligads plo tems Séfocls fo a compuceradeligadse Mes no hi indi (ar de que o mats antigo drama de Exo, Os Pra, se prendesse 30 de um drama satiico. Ao conjunto das trés deu-se na Soca alexandrina o nome de trilogia; a designagéo de tetralogia serve para incuir também drama satirieo. “As comédias concortiam cinco poetas, cada um, @ sua, Esse nimero poders ter sido ocasional “mente rediizido™, mas acabou por aunientar para seis, “durante o sée. Ie Ia.C. ~"De resto, este géneto dramético tinha maior importéncia nas Leneias, onde se estrearam.algumas das mais famosas pecas de Aristéfanes. Em contra- partida, a ese festival no usavam concorrer 0s grandes trgicas; apenas Séfocleso fez algumas vezes. Mas voltemos & sequénecia dos festejos, de que nos falta ainda lembrar que, no iiltimo dia, reunia 0 jeri, constituldo por cidadios, escolhidos segundo um critério que se desconhece. O conselho fazia uma lista de nomes de cada uma das dez tribos. Esses nomes exam colocados em dez urmas seladas e depositadas na Acrépole, & guarda do tesouro piblico. No comeso plo asunto ao resto da comporisi. Sabese agora que Sétoces ‘ezeveu, plo menos uma tlogi ges plo tema, Telpcs > Apes cor un ge np Ot sa, -Cansnince The Dramatic Fest of As, p. 8) de que, durante oF ‘nen mais difcris da Gusta do Pelopones, 66s repreentvarn 2 médias, ft impugrad, com base em nove anilise ds dasa © inowgien, por WW. Lutes, «Die Zahl der Konkurrenon an den omischen Agonen aur Zit ds Peloponneitchen Krieg, Pog 16 1979 53275. aa das representagées, eram colocadas no teatro, onde 0 arconte tirava um nome de cada uma delas. As dez pessoas assim escolhidas juravam imparcialidade e, Fo el esccvian,cade-Uiaa Orden Ges moe numa tabuinha. As dez tabuinhas eram colocadas “mma uma. Por éssas se tomava a decisio®. O arauto proclamava 0 vencedor, que recebia das mos do arconte uma coroa de hera ‘Terminado o festival, reunia-se uma assembleia ou secs, para epreciar aconduta dos responsveis por ‘A maneira como este era preparado é digna de se lembrar, sobretudo porque € mais uma manifestacéo do espirito que animava a polis grega Inia os chorego’ ene os cidadi an Tancoupyia, que se lhes confiava, mas néo impunha, potas eli Sees go. Se ace “de page Ba teva defends com sis fundamentos, por MAURICE Pork, «Athenian festival judges seven, five or however manym Casi! Quarterly, 36 (1986) 32226, que mostra que 3 Gotina t Glicional, de que o arcane tava cinco fabuinas dour 20 C0, € or elas julgava, ere apenas baseada no lst tari de Lacana, Farnese no deve comespende pris cise, na qua come fa de espera cada tro tha 0 60 vot, parsed ain, eal edes 10 disurso de Antone Sabre «Cares (lava na acho ‘movida canza um chr, er cj cn se exert cro pata 302 ,: de tragédia tinha doze coreutas no tempo de Esquilo, ‘quinze, a partir de Séfocles! Sem falar no da comédia, “qué se compunha de vinte e quatro figuras! ‘Também para os ditirambos se prindpiava por escolher dois choregoi por cada uma das deztribos da cidade, das quais cada uma fornecia um coro de homens e um de rapazes. © choregos, por sua vez, escolhia 0 poeta segundo um critério que nos & desco- hecido, mas_o certo € que nomes como Pindaro, ampetiram. Escolhia ain que tinha de ser formado por mem- -lhes uma sala pata ensaios e um bom xop0 para os treinar. Este coro nio dancava na orgiestra, em formags “altar ao centro. Quando vencedor, e como represen- “Tante da tribo, o choregas recebia uma tripode que, expensas suas, colocava num monumento, por isso mesmo qualificaclo de corégico. Chegou a existir em ‘Atenas, segundo Pausénias, a rua das tripodes, mas hoje resta um tinico exemplar, o monumento corégico de Lisirates, de ¢. 234 aC. (Fig. 24), O edificio em que dangavar'os coros de ditirambos era o mesmo que servia para o drama. Era constraido numa encosta, na qual se escalonavam os degraus, em antiteatro, para o public se sentar. Estes eram dividi- dos em setores (Kepkides) e atravessados por Bat ara, que facilitavam a passagem. Em Baixo @ a0 Da ontlaty festival dis Tega) & um presiny documenta sobre oe deere ds hori Lelaseepedalmente o§§ 113. Fg 21-MONUMENT COREGKO DELISERATESS// ie etn. Pepes dowiceos av Bf otlage centro ficava a ortjuestra (palavra da ffiniia do verbo rego que s de forma circular, ‘ESaceaen ena is By Diveos autores sstentam que 3 forma primitiva da orquesra a qundrangulr, por ser ea 3 80 sis avg teatro dative, 0 de ra na orquestra que dangava 0 coro, ¢ ai também. representavam os atores, € nao em palco elevado, que “surge apenas na época helenistica, como demonstrou A. PICKARD-CAMBRIDGE, Quando m ou trés degraus até& cena, ~_-Atist6teles ensina-nos que Séfocles criou os eend- ig. 26). Sendo assim, femos de admitir que “Thorkor na Ati, Esto neste caso E. GEKA, fala (partes em trimetros iémbicos) 75: recitativo (para os anapestos, ou termetros tro- ‘eaicos ou iambos no meio de liticas) >= eanto (partes liticas). “0 principal eupado da divulgago deste ero & 2 conbecide estatuct de le no Pett Palace Pai que data apenas doe 368 Isto quer dizer que, desconhecendo a miisica do teatro grego, nos falta um elemento essencial para a completa apreciacio de uma das mais surpreendentes formas de arte criadas pelos Helenos. BIBLIOGRAFIA HC BALbRy, Anson Gras lator i is Living Contest (London, 1968) cop HL. Teed. pots A Grice Ange Clare e Vide (ise, 1969, HC. Bauney, The Grek Teale These (London, 1871), Trad, fs Le “hte Trap des Gres (Par, *985). Lown DURE, Atk er erin, Nachdruck 1956) Dae, Olmpia(Sttgart, 1967) Trading Landon, 268). 1M, LEtey and HW. Pun, The Olympic Games London. 1976). JoreR Nes, ed, Galera Pali The Patel Feil in Anco “Aho (Pineston, 1982). MART P. NILSSON, Grice Fete vot religiser Boeuhing it Auscae derAtiacr (Satgar, Nace 1987, LW. PARKE, Fett fhe Aton (London 1977) 33-50 e 125-136 A, PlOKARD-CAMIRDGE, The Theatre of Domus i Aliens (Onford, 1946, AL PicxanD-Covamunt, The Drwnatie Fsols of Athens. Second eiton revise by Jot GOULD and DM LEWES with nee supple ‘ment (One, 1988, Enna SOON, Fest of Ati. Ax Archcalpel Commentary (Madison, ‘Wis, 1963), IN. Srve, The Anco! lye (Oxford, 2008, ATragédia Osséculo V a.C. foi, em grande parte ainda, 0 século do apogeu da lca. Mas 0 periodo que eulturalmente the correspond, ou seja 0 século de Périles, tem a sua mais alta expressao literdria na tragédia. Os grandes proble- mas das relagées dos homens com os deuses e dos homens com os homens, ou seja, da eboéfeva (piedade), da tips (insoléncia para com a divindade) e da 8ixn, (justica) so equacionados perante os milhares de espe- {adores que assistem todos os anos as Grandes Dionisias. No século seguinte, seré a vez da prosa. Na longa crise da democracia ateniense, que domina politica- ‘mente a cena, até A sua absorcio pela Macedénia, os ‘mais altos espiritos da cidade examinam de novo todas as graves questdes subjacentes & estrutura da polis, nomeadamente a da educacio. Seré essa a preo- cupacio maxima de dois escritores, aids antagénicos, Platao e Isécrates, que deixario, um e outro, uma ‘marca indelével na cultura ocidental, Principiaremos, portanto, 0 nosso estuclo desta época pela tragédi, formulando primeiro consideragies de ordem geral, e analisando depois alguns aspetos de um pequeno niémero de pecas mais representativas. Entre as dezenas de competidores aos festivais dioni- slacos, 0 tempo selecionou para nés 08 trés maiores dramaturgos, que uma tradigao antiga relaciona crono- logicamente deste modo: Fsquilo combatew em Sala- 393 mina, Séfocles divigi o coro dos jovens que celebrou a “vitria, Euripides nasceu nesse dia e nesse local. “Embora tanta coindidénda fos pareca pouco digna de crédito, o certo & que ela tem a vantagem de delimitar_ fas geracSes que separam os trés grandes trdgicos, em “Hangio ‘um_ famoso” acontecimento _ histdrico. “Bfetivamente, embora Euripides viesse a morrer cerca de um ano antes de Sofoces,eseja deste a éltima obra- prima (0 Eaipo em Colona, representado postuma- mente em 401 a.C), aquele marca um espiito e orien- taco bem distinios, que 0 caraterizam, muito mais ainda que o seus antecessor, como um produto do ilu- rminismo grego',fendmeno cultural de que trataremnos na seccio seguinte. No entanto, para no quebrarmos a linha de sequéncia da histrla da tragédia, ocupar- “nos-emos dessa figura neste capitulo também. JA vimos anteriormente, a0 descrevermos os festi- vais dionisiacos, que as tragédias eram apresentadas por cada autor em gripor de ts, ligadas ou nio pelo “tema, e segildas de um drama satirico™ Cada uma 7 Ginbore hoje tendo & diminurse a importncs dese csi ‘ago (clebizada por obras come Eup, the Retina, de VERBAL, ‘Eure, der Dicer dr gihschen Aula, de NESTS) em avo" da que pe em elevoo sa intarese pel elemento itaconal na alma humana (nla pelo foro sige de E.R. DOCS «Euripides, the Iraonalt, Clas Rei $5 (1929) 97.108» The Ancient Cone of Progress and Other Ess, Oso, 197, p. 7851) "10 dram strc tem exatamenes extrtura da tragéin, como ts, core no pasado mica Mas pronase da comadia pl om butane qu evete De especial de oor er canto por stron Podem verat dis breves exemplos, extaos do Clipe de Euripides na Malad pp. 298236, 308 delas compreendia geralmente as seguintes partes: pro-_ logo, pérodo (ou entrada do coro), episédios, estésimos_ {ou odes coras), &xodo'. Episddios e estisimos repe- tem-se em alternativa, umn nimero varidvel de vezes. [© prologo, os episédios eo éxodio (em parte) sfo quase sempre em ritmo idmbico. No pérodo é frequente © anapéstico. Os estésimos sio em metros liticos. Mas estas consideragées dizem respeito apenas & forma. E aqui éaestrutura ideolégica que nos importa. Quanto ao seu contetido, a tragédia grega é Unica, Para bem a compreendermos, temos de comecar por Jembrar as circunstincias da sua representacio: enqua- dada numa série de ceriménias de carter civicoe reli gioso simultaneamente, a ela assste toda a pols, pois até ‘de undo commun 6 abi, Neo divetiients¢ al luagio para o espirito cansado pelas tarefas quot danas. O cuidado em que tais atos se efectuem anual- mente com toda a regularidade era uma das grandes preocupages dos Ateniensest, que até encerravam 03 tribunais durante esse periodo, A este propésito, péde R. JANKO escrever com azo: eEm Atenas havia um s6 lugar onde era posstvel falar aos cidados em grupo sobre qualquer questo que nio fosse de relevanvia politica imediata: 6 teatro. 77 dafingio das diversas pares fol dada por Arstéaes, Palen, 1525 de, p45). “ Dertane, I Flpo, 35°36, contrast, ecandaliado, a regula: Bade da eelebraio doe Panateeie © dae Grandes Dioirias com aviteariedade incira no envio de expedigins mites conte 3 ‘Macedénia ameagadore. 395 Muitos poetas consideravam parte da sua tarefa reafir- ‘mar ou rever os padres morais, sociais e religiosos do seu tempo. Nao surpreende que, & medida que 0s valores, ‘mudavam, o que os poetas diziam mudasse por vezes»*, De resto, a prova de que o teatro, e especialmente a tragédia, podia exercer grande influéncia nos espeta- dores esti patente em comédias de Aristéfanest, e, sobretudo nos muitos passos de Plato que a conde “ham e excluem mesmo da sua cidade ideal”. ~~ Que era enitio uma tragédia e em que consistia 0 trdgico? A esta dupla pergunta é praticamente impos- s(vel formular uma resposta que a generalidade dos cespecialistas possa considerar satisfatéria. Numa das mais recentes coleténeas de estudos sobre 0 assunto, © organizador, M. S. SILK, escreve, entre outras, estas palavras introdutérias: «Nao hé atualmente consenso sobre qual poderia ser, exatamente, a melhor maneira de definir ou compreender a tragédia, ou mesmo, sobre ‘qual seria exatamente a melhor maneira de definir ou compreender a tragédia gregas!. ® Avis, Povtcs I itl the Tract Coininnas ndianoplis 1987, px. ‘Tide if, pp I-74 Banda Maria de Fie Siva, Clea de “Tentrona Comin Anis Géners Dein (Cole, "957 * Vie, p48, nos 3. M5. SX, ey Ting andthe Trg (Oxford, 1996, p. 3. Vee também HEULOT FLASHAR ed, Taide lee unt Transformation (Stanger, 197), eopecalmente pp 549. Como o tllo da caletinea Indien, «nogio éanallsada por ellernts especlistas at & atual- dle, Ua anologia das principals ova organzada por BARRETT HE CLaRs ed, Enapear Tnves fh Drama New Yor, 21861). 396 Pela nossa parte, tio-pouco nos propomos fazé-lo nestas reves consideragGes preliminares. Somente tentaremos examinar a questdo através dos olhos dos proprics Gregos, embora tenhamos de recorrer, uma vez ou outra, aos exegetas modernos Pode afirmar-se que o primeiro esbogo de definicso de tragédia se encontra em PlatSo, em cija obra se alinham to dc apa aqua sobre ‘a qual t8m esgrimido os criticos desde o Renascimento até hoje, éa de Aristeles na Poétcn, ou sejo, precisa. ‘mente na obra. que é considerada a resposta 4 con” “denagio das represeniagées draméticas na Repiblica oda de exensfo, numa Knguagem smisirads, por formas * Fadro 26ked, na tad. de JOSE RIBERO FERRELEA, Pit. Fair (Cision 1997, A Replies 6 O facta de caros 0 Fao primi no pli ecestiamente 8 a antroidade em relago a ete dlogn fede fn pp. 48-489), ‘0 Palee 148 (ade, p42). roca, que no ad. TV eacreven ‘um comantiro da Rp, sim o entendes, eee 397 iernts em cada ne das sus parts, que se serve da spo © no {a narario, oq, por meio a compnsoe do tno, provocs Intrepid Nestas linhas encontram-se alguns dos. termos ‘éenicos mais discutidos do pequeno (e incomplete) tratado: mimesis (que traduzimos por «imitagdo», mas ‘que pode também significar, nos virios contextos em que surge, «representacio»,«reprodusio» expression, etc) leas kai phobos (wcomiseracéo © temor); ¢, sobretudo katharss(«purifcasio», ou epurgagion). ‘Que mimesis € «a imitacio do real, mas néo simples cépian", pode considerar-se um dado adquirido. Oue a comiseragio e 0 temor sejam as duas principais emogoes susitadas pela tragédia do deixava entrever tum paso do fon de Platio (635b-c, a0 apontar os peri- 408 de entregar 0 auditirio a essas paixses, em ver de valorizar 0 poder da razo. Apenas se dividem a5 opiniées quanto utlidade de procurar nos captulos 5 € 8 do Livro Il da Retiriea de Arist6teles uma explanacgo mais completa acerca do mado de desen- cadear essas mesmas paixdes" Vejum-se, entre outros, D. W, LUCAS, ed Arle Pots (xior 1968) p. 258.259, «Pau. WOOORUT, «Aisa on Mime, In: AMIE ORSENUERG RORY, ed, ESSAYS ON ARSTOMLES PorTCS (Princeton 1992.73 frase de. W- LUCAS, op ip. 258. ° Assim, por exemplo, D. W-LUCAS, ap. ip 275, considera de pouee selena eee conono; ao patio ae STEPMEN FLALLIVELL, ‘Arisa’ Pcs London, 199) cap. 1V, dé aquilo que consideramos Ser devido ugar as aedarecimenio da Retire —— 388 Diferente é 0 caso de katharss,talvez 0 mais dis- cutido de todos os conceit literérios®, que tem sido ‘objeto de comentarios sem conta, de artigos, de livros inteiros, Para aumentar a dificuldade, sucede que & esta a sia nies ocoreinela na Podiea, €@ outra qui ‘onhece do mesmo filsofo, a do Livro VIII da Politic (1341 a 17), aliés referente & misica, promete explicar_ © sentido do termo noutro Iugar, m: ‘que talvez figurasse no Livro Ida Pott ‘opiseulo Sobre os Poets, nio chegou até nbs. Em apéndice ao seu estudo Avistoflé’ Poetics STEPHEN HALLIWSL procurou zeduzir a pluralidade das interpretagdes que tém sido apresentadas a seis principais, de que salientamos as frés)mais antigas e de mais duradoura influéncia e a qué goza de maior aceitagio na atualidade: (1a moralista ou didética, segundo a qual a ‘tragédia ensina, pelo exemplo, a dominar as ppaixées que conduzem ao softimento™, ‘af uma questo que tm dominado los aiden 2 eter itera desde o Renacimenton como eaimves JONATIAN LEAR, “Katharin ds A- ORSESBERG RORTY, ed, aay o Arse’ Poets, p. 315. Na mesma coletines, STEPHEN HALLE, Pleasure, Understanding, and Emotion in Arsode’s Poot, condi que no ppodemor ear sepurat do que Arittlesentendla exatamene por ethan (340 ‘ artle'sPetia, append’, pp. 360356, 1 Ba inferpretagio do neoceacsme, Formulada pelos Mallanos ‘Segnl e Mag tomouse amos stvée do endo -Disosres de Corelle Seput-osam também outos nomesinfluentes, como Rapin, Daciet, Dryden, ofnson, 389 @a que vé na katharsis a aquisigio de fortaleza emocional, diminuindo a nossa suscetibilidade & comiseragao e temor, em face das desgracas alheias*, (@)a da moderagio, que liga a katharsis & nogao aristotélica da justa medida™; (8)a que encontra na kathersis uma fungio tera- ppeutica de tipo homeopitico, e que é a dou- trina mais difundida modernamente®. Conforme observa HALLIWELL, todas estas interpre- tages véem na katharsis uma experiéncia de carater emocional, a0 passo que outras a transferem para 0 plano intelectual. Talvez 0 equilibrio esteja no pequeno grupo de intérpretes mais recentes, entre os quais se situa o helenista que vimos citando, que afirmam que «aa katharsis trdgica de algum modo conduz. a um ali- rnhamento ético entre as emogdes e a razio: porque 2 tragédia suscita comiseracio @ temor por meios apro- priados, nfo «rega» ou alimenta as emocles, como ale- " Presene 6 eo autores entigos, como Mareo Auréio, € pro ‘pugnads no Renasciments, por Habortello, Min e Cascio. ® Deendida, no Reratcienta, por Vator! ¢ Peclomin, ese sila também a sua pretnga no pelo do Sanson Agois de Mion e inde na clebre Haminrguche Drometrgi de Lessing. Ghserva HaLLWict que € muito sgnifealvo que a parfnse de Iathrie por Millon sje wtemparare edule a8 paisa 82s [ust odin (Arisate's Petes, p33) 3 de BERNAYS BYWATER, FLASHAR, SCHADEWALDT, LUCAS — para caro prin 400 gou Platio, mas tende a Rarmonizé-las com as per~ ‘egies e juizos do mundo». Porém, ainda que resolvéssemos a questio do enten- imento deste conceito, outta se levantaria adiante, no paso em que se distinguem as espécies da tragédia fem simples ¢ complexas e as situagées em que os factos imitados causam as necessérias emogdes do temor e da comiseracéo. E o trecho em que se delineia ‘9 chamado «heroi tragico» (embora a designacéo néo ocorra nestes termos exatos), e que vale a pena citar aqui, apesar de extenso™: ‘Uma ver que a composiio de magia mals prota rio deve ser simples, mas comple, e que «mesma dove init faece que cua femor © comieragio(porquano € esa & costerinice desta pice de initages) € evidente, em Primi lager que ae nao devem represent os homens bons 2 sar da flcdade para dengag, pols al pansger no fuscia tino nem cmiserghe nay reply nem os mass © patsar de inlcdade pare o botnet, porque tl stngso€& ‘ais contest de todas ao trig, por no conte nenhun dos ‘equisos devidos,e mio suctn tenevolincs, nem comise ‘apo nem temo o-poco dos muito perveros a resvala de foctsa pare a fatalidade; uma compasgio desos poderls rs ethan “hr porsonzeguint, 0 co proses nio peal Comiserasio sn femor. Restor entS0.0 hero qe esta no mel ests. {he heat tal que ao = dating nem pela sus tude nam 2 Arle’ Pais 9.201, 2 145-1653 pp 445-0, so. pela sus justin; to-pouco cal no inorinio devido & sue ‘maldade¢perveridade, mas por efto de qualquer hamertie perlence ao nimero daqueles que goeam de grande fama © Prospardade, como Edipo e Testes « homens dustes de falas como esas. E Yoru, por conseguine, que ue Istria ber elaborade sea simples, de prefertncla = up, ‘como pretendem alguns e que a mudanga es, rio A palavra-chave desta interpretacio & haniartia (4uapzia), que deixsmos intencionalmente no origi- nal grego. Efetivamente, trata-se de um lexema antigo na lingua (embora ndo homérico), etimologicamente relacionado com o verbo hamartano (duaprave), que significa werrar», em contextos como éjlapriveww oO xoxo) («errar 6 alvo» — Antifonte 345), ou, em sen- tido figurado, «interpretar erradamentes (Herédoto 4171) ou cometer uma falta moral (Patio, Fédon 113e- Ilda), O substantivo ou o verbo so empregadios com frequéncia por Esquilo e Séfocles em qualquer destes sentidos;.a falta moral pode atingir a dimensio do crime®. Mas a8 outead ocoreéncias de hamartia ou “Bells cBgnatos (como o substantivo que indica o resul- tado da ago, hamartema) na obra do proprio Aristé- > Alguns cxemplos do sentido originiio de onto acetar 20 alvor so Hagia, Apundmnar 194 Stocks Ae 15415, Barpies ‘Made 498, Do sentido de vero de jie sono Eel, Aston "4; Séfoces, As Trapunts 136.'Do eetido de wri, Ergo, -Asaminon 197; Bute, Ons 75, a2 teles também nos pode elucidar, sobretudo em passos da Retérica e da Etica 2 Nicémaco em que se distingue este conceito de outros afins. Na Retérica I. 1324 b 7-9, e-se ‘So atyhemate (roa) as coisas que sucedem conte uments sos nosice cielo, enio por maldade;hnaremata (Gyapervete) ax que no sto contiasn08nossos lees, em por vicios adtenss (Asus) as que no so cotrsas 0s nossa efelos, ma provi de visom A Etica a Nicémaco V. 1135 b 16-25 confirma estas definigdes, considerando hamartema (singular de hamar- tema) como errno serie lt, stem ing de atytemat) coma fla viele One pot tna externas, ana (nga de seat) cone ia Togo, hanarta ou hanartone no & criminso nem voluntiti. Prove de um en de usa, Nio dover Garserhe, portant, una inerpreng moraine decorrents da interpretagto que e tomou tdicona desde 6 1. BurcHet segundo « qual reora de tina flha ou imperftgio wo cade da peso, ma _desgultante de agri (ciexortecnentr, [oA melhor tagedin tem, portant como-herl | atguea gue ndo send pete nem perverse, gona de grande fama e prospeidade (pos sim € maser | dente a sua queda) e, por efeito de qualquer hamartia, pen da feltdaded desverturn O propo Arlt _Entocxemplosclleres talpoe ses Deas de Aa Tgutias de Solace, nde, als, 0 nimero de Seomtnday 06 palavras deta alia & 03 muito elevado, poderd servir para nos proporcionar um exemplo mais simples. Efetivamente, Dejanira,e de Héracles, a0 ver regressar da guer¥a o marido, lac “endo no seu cortejo de vencedor uma jovem princess "POF quem se apaixonara, tenta reconquistar © amor iipirat icine ie ina Rien enbebide rum Blto gue 0 entauro Nessos*, ao morrer, Ihe tinha feixado como um falisma amoroso, Em consequéncia. “disso, Hiéracles, depois dé a envergar, more nos “mmaiores formentos. Dejanira agiu com boa intengio “Srecaperar o amor do marido; néo previu, porém, que do seu antigo pretendente, Nessos, a quem “Hiacles vencera, tivesse aquele_efeito desastroso, ‘Uillho do heroi tebano e de Dejanira, Hilos, resume a atuagio da mle neste verso (As Traquinias 1123): comes rou aoe), emo guerr ‘Mas um exemplo simples, como este, nlo esgota a amplitude do termo. Num artigo que ficou célebre, STINTON, retomando a doutrina de DaWwp-erde BREMER®, aproximou 0 conceito de duapria da den homérica (bem visivel em trés pecas de Euripides, Hipdlito, Héracles e Bacantes) e observou ainda que aquela noca0 abrange uma vasta gama de sentidos, desde atos BE ears sini de Neeton, LD. DANE, «Some relleone on Ate and Hamartt, Herod Stu Clas Philo 72 1968), 88123; .M, BeEweR, Haart ‘ragle omor the Paes f Arse nde ret Tragedy (Amsterdam, 1969; CW. STINTON,sFlamaria in Arte and Greck Tragedy, {Csi Quarterly 25 (1873) 22-28, Sobre 2 dem homer, ede mre, pp. 12:90. 04 praticados dfagnoian («por desconhecimentos), nam Extremo da cscala, a atos provenientes de atrasia (espécie de ignorincia) © a atos errados, executades com conhecimento, em ordem a um bem maior, miki praxis (wagbes mista), E prossegue, mais adiante, 0 mesmo helenista:«f um termo genérico: pode significar atos especifcos, decisées especficas que conduzam @ atos, ou disposigdes que podem Varian desde qualquer espécie de ignoréncia & qul- {quer defeito de carster-*, De acordo com o que vimos acima ~e regressando ao quadro tebrico dos Antigos-— havia figuras famosas que melhor exempliicvem estas situagses, as quais, fram tiradas de um passado geralmente dlistante? Notes que © mesmo DAW, no argo ido na nota anton, entene e s.dez das tngiine prepa corservadas (ss de Hsgul, (Os Poss, Se ie Thar © Agenon qui de Séfodes, Ajax, ‘Antigo, As Trager o Rel Ep te de Ei eles ey ee es a serene Tet ne ura ‘hatvn doing do preudo- Arnie, Rta Alea, cp. desc “Emenios (6 &yroiay Slapepse cape), Oars hi ene 08 [Ur Fate Trin (Pai, 1578 ao exrover que ra pert deci abst oque 6 ero tigen. "ize ar mite Incite da tags priv, Sgure eda relagio do eno com 2 hutrin dloniica (nota de das terlogas de Eo com see tem man apenas oe conserva A coir de Euripides) equal osignifado exato da expresso GSE pbs Ov Aidvbvo0 (uso nada tam que ver com Digiso), que “utorestrdios ome Pluareo,Zendbio ea Su, cam como prover bal explicandon de diversas formas, e que parece tui 2surprest 405 (com algumas excecées, de que a mais notivel é (s Persas de Esquilo, que decorrem nas Guerras Medo- -Persas) e que acabam por se reduzir a um pequeno riimero de casas, como a de Aleméoa, Edipo, Orestes, Meleagro, Testes e Télefo, ede outros a quem sucedeu softer ou causar desgragas teriveisy™ E que, dos seis elementos que, segundo o Filésofo, constituem uma tragédia — fébula (mythos), carateres (ethe), elocucio (lexis), refléxao (dianoia), espetéculo (opsis) e miisica (melopoiia) — & 0 primeizo que tem | Pred abe todosos demas cl eso principe como qual dingo myth © em segundo ga os ctateres (-)O mais importante de do ‘Ho €0 modo de extra pes, prquano a tapila& ‘aig do dos homens mas dagen i. ‘Uma histéria bem estruturada — esclarece ainda — «endo deve comegar ou acabar em qualquer momento a0 acaso», pois é necessério que se possa falar de unidade de acio™. Em funcio desta € que, nos diversos episé- dios em que formalmente se organiza, as figuras vivem, ‘ey epeinonsplaaustce da reat apna, See asuto ehese ere mus oatos A. Lik, Dk Pgh Dung er ile (Citing 1972 pp. 28. * Ante Pea 4S (de p85 7S da tr ga Pe ap) ree cna Pater WDB. A anidae d ssc “TRF Unde Gur sangin abn ode tempo #» de age eave RRs ae Een ge vl a oy wot) oa Teneora ns. Pode, ms somente no comertirio 3 ers obra por” Cine Sabre osu ea not. 06 agitam-se e pensam na nossa frente. Por isso, retomando (0 termos gregos em que habitualmente se exprime a antitese entre fabula tradicional e razo, POHLENZ pSde escrever que estivamos perante uma forma de arte que, numa ligagio do mythos com o logos olhow de frente e representou a problematica do Ser». Mas até que ponto é dado ao homem decidir por si .njim mundo _complexo_e ppoderes superiores e constituldo segundo uma orde-, nagéo que nao Ihe é totalmente inteligivel? Existe um destino que tudo condliciona, mas com 0 quai o homem teima em se medir? Até que ponto & dado ao ser hhumano decidir por si? Ou é simplesmente 0 acaso que determina os acontecimentos? E precisamente este problema da medigdo de forgas humanas com as do destino que os grandes trégicos rmuitas vezes equacionam. A questio & admiravel- mente exposta, em relagio a Esquilo, por POHLENZ*: Um contraste entre a forte necessidade de autodeter- ‘minagio do Heleno e o sentimento da existencia prévia de poderes sobre-humanos que externamente 0 limi- tam e atravessam (..). A problematica do Ser comega para 0 tragedidgrafo s6 quando 0 homem reconhece como seus antagonistas esses poderes (..). Para os Gregos, era evidente imaginar 0 mundo da Natureza como um kosmas bem ordenado, sujeito a leis estaveis 7, (hei =) condo etre vontde invidual_ “Lea ordenacio do mundo». Di grichice Tgi 2 Di gris Trai pp 14-148, psn afsquilo __ A mais antiga tragédia conservada™, Os Persas de Esquilo, desenvolve, como jé dissemos, um tema da hhistéria contempordnea, Mas néo é, sendo indizeta- ‘mente, um hino & caragem dos Hielenos em Salamina, nem to-pouco é uma diatribe contra a moleza persa, © A totlogia @ que perenca ganhou © primal prémlo em 4724, sendo catego 0 jovem Pies. Até hi umas dezenas de anos, Julgaense que As Sip “mesmo autor, dvido te suns, _taleseicas SIG (grande senso das Fates lca, mportnca ominante do destino do coro «ecasez de ago} eran mals antiga, ‘Mas desert de una dasa no papiro de Onn 2,n2 2256, CRg-S velo prover que ta bem mais aie do gue w supunha, Part Trai Pormanores, line 9 Inkodugio de ANA PAULA QUICTELA F SortohavoR i ous versio comenads de as Suplinies (Coimbra, 1968), especialmente pp. 27. 2% Oimesma fzta Fenn com AS Fenicis €a Toma de Mila, © islam a faze autores do sie. IV (como Moaguion, com 0 seu Tomfstces) tambien da epoca helen. Mas apenas Oo Pers chegaram até és ‘Sobre 0 uso normal de mits [condos por pte das tics, lease o cuiso fg 191 Kock de Antares (lade, p. 435. Sobre + limitago, que veo a ser pits corente, a um pequeno mero dees, wees Arstteles, Patios 145 (dd, . 46) econtrontese 0 atigo {de BEINARD KNOX, jth and Alte Tragedy, sua clednen de studs World and Actin. yon he Ane! Thane (Baldo, 1979), p-321. Os Antigo eprcavam e admiravam, nfo a exginalldade do “desevelvido, O- mes ‘como ravdade que Agaton tives ousde inventor (oda 2 agio'e nomes a sua peea Ania, e unem por iso nema menos (Pol, ABtb — Hila, p44) 408 Pelo contritio, o inimigo aparece dignificado, como rio podia deixar de ser, se se queria.realca o valor da vitéria grega, e como, aids, estava na boa tradicio hhomézica, que concedia louvores equivalentes a Aqueus ea Troianos. ‘Além disso, a cena é colocada na capital persa, pois 6 vista desse Angulo a histria poderia ser trégica. coro, constituide pelos ancidos do conselho, ogo no lrodo (a pega ndo tem prélogo), dé a nota da ansiedade pela falta de noticias da expedicio de Xerces. A rainha-mde, Atossa, vem adensar esse estado de espirito, narrando 0 sonko que tivera: das dduas mulheres atreladas ao carro de seu filho (a Grécia a Asia) a primeira conseguira derrubi-lo. A narrativa do mensageiro, contando a derrota de Salamina, em breve confirma estes temores. Por isso, Atossa vem fazer oferendas ao timulo de Dario™, cujo espetro é invocado num impressionante canto do coro, para que 08 aconselhe. O falecido rei manda renunclar 3 con- 4quista da Grécia e profetiza a derrota do seu povo em Plateias. neste ponto que se insere a interpretacio do destino de Xerxes, feita & luz, nao da mentalidade oriental (que, alids, o autor cbservara escrupulosa- mente em muitos outros aspetos, como a reverén~ cia, cheia de temor, pelo monarce"), mas da grega, 2 Vina pequena parte na Hap. 215 Parte a Hala, pp. 216217. Um examplo na Hala p. 217.0 ements exten de Os Pease ‘encontramseframenteanalsedes no peti ego desta agi poe FLD. BxDAaHeaD (Cambridge, 196), 409 porquanto © considera um castigo da insoléncia para com os deuses™ Ele, que ambicionavs deter com ade de serav0 outa sngrado do Heesponto, 0 Bésforo de corrent via, ‘que queria anslormar um estetoe com amarras fades amarteo, src ao seu numero exzcto um vaso camino. Sendo mort julgou lnsensto que ava de vercer or deute fdas —e mesmo PoeSdon nnn— a mesma nogGo que mais adiante Dario expe numa metiforatipicamenteesquilians®: A insolnda quando foresc,prou a espiga | da esas, cj cst toda feta de agree. © xodo mostra-nos a figura para a qual conversira toda a peca: Xerxes, derrotado, entoa com os seus consetheiros um longo konas® pelos chefs caidos. as sete tragédias conservadas de Esquilo, entre as ruitas dezenas que compdst, uma das mats ricas de 1 Ve, 745-750 (ld, 28), Um sce de eapltlos do Livo Vil 4 Herdotocont-ns como Keres mandau construire ponte para fazer pasar 0 seq exrcto de um eaninnte para ou, © como dondeng que © mar fest chicteada «se De detasse um par de Bigemae, por ler destruldo a prinala tena (ap. 35, 0 cap. St (eae p- 258), rolere, coo algum caso, elds epaagioofre- ida pelo Grande Rat ao deus do mae “Fy, 81-822 aa p21, 2 Ou slamenagio em comum do cor ¢ da,ceram, segundo 8 ogo S Ares, Posen 1657 ade 9-465) Seo ange que figura po acu mais enigo mansseit, 0 teferide Maden da Biblioteca Laurenciane Madices de Forngs, do 10 a . problemas ¢ 0 Prometew Agrilioado. Omitimos aqui a maior parte deles, incluindo o da cronologia da peca (cujo contexto apenas fornece um terminus post quem, a0 aludir & erupgao do Etna, em 479/8, a mesma que se descreve no mito da 1" Pitica de Pindaro, cantada em Siracusa em 470%), e 0 da autenticidade (suscitado pela dificuldade em reconciliar a teologia deste drama com a da Oresieia, pela diversidade das suas liicas, © até da sintaxe, em relagdo s outras tragédias conser- vadas®). Hé, contudo, um ponto em que néo é de mais 4X eure 79 Hales mes «Sake do kX. athe drama feo de apna mas et gin de Eglo € ut tie 4 Site provém de s nats tio mascara de una ‘kta pubcnda no tempo do imped Aan (eC), Se de pds or restam drat tages us ui, 0 Rex deve se ttc) © um da mai, & pore» se ante setae vn jatar des vlumee- uw comp ets (to porque predominant oss prncpade por se Ali deal se Gee omit ode Vil opr p23 sundae porta em dvi sed por Seaaen. Equi 2s arguments tor d verte formal os ‘vos agente de ety to ditnos do que aimee ceric devm adverts do pg de abso fs de corpo pra um aor de quem meso Pot Socorro oven igre Tre. a oe deen, uct frm, quer init por I. Hamcrow The Autre he Pots Bund Aa, 17) Iona qo Prone se apron mls de 4s Spl da esis ‘ter mse es posters ell © sno toon a ser explored, ae spreasoexnusvn da sti Weird, veal tne = etn. po Ma Gra The Atencio Prmetier Band (Carb 1977, gu an stir & que todos os fuizos sobre este drama so necessariamente provisérios e urlaterais, por sermos forgedos a considerélo isolado da tetralogia a que pertencia. # como se, para estudar a Orestea, nos Faltssem As Eurénides, com a sun slugio final do Conilit, Na verdade,o catdlogo do Medics assnala 8 tvistincia de um Tpounbeds Acoucions (0 Prometeu ‘Agrilioaio) um Tiposnteds Hops e um poundevs. Como, porém, a sequéncia adotada nesta enumeracio & uma imperfeita ordem alfabética, ela nada nos diz Do Auevos ou Lierino, que logicamente devia sce. Ger 20 que possums, restam-nos fragmentos insgni- Ficantes: Discatese s¢ 0 Tlupiépos (Portador de ogo) seria a terceira pega, em que se instititia 0 culfo do ‘itd sob essa invocagio, que realmente existia na Atica (como sugerem MURRAY ¢ RENHARD?), ou se ese lo deve identfiarse com o Hpojnebs Tlupxcets (Pro- met que quinn com o fo), drama satiric, também perdido, da tetralogia a que pertencem Os Perses, que Sreallogo no regista. Sendo assim, a tetralogia teria ficado incompleta —poluglo que o depois de propor vin nomes (alguns de porns de Fsqullo, Yencedores as Grandes Dios, © que tara compreenivel a ‘onfuto na atibuio)conla que vada de certo ae pode afar tcbre a suora, © mesmo helena ceafonou eta pio na Ino digo un etic comentada da pega (Cambridge 193). Tambem Bets, Zar Dating dex Prometea Denotes (ktga, 1959) nega dlecididmente a atendade, com base na nde, etrtura drama ‘Se, imagem de Zeus e posgto do omen, {Em aulog ne Univeidade de Oxon, A hip de wma ctlgis, es para St Tepecentda na Sc, ao em Atenas, ft 2 aceita como provivel. Como jé tem sido notado, espe- tavacce a sequénca ofena-casigoreconllatie, © ue eolocala ©: Agrilioado no melo; Mas, conforme hserva WESTPHAL ese time conta os antecedene tee da oun elunglo com tanto pormenor, que leva 4 eee eee eee ene ae Deixando, portato, estes problemas, insliveis& luz dos dada de que slusinente dspomos, pro Erahaenrinapen inventing in estudo,oteolgicn formalada por FOCis, em 130 (Aisha Promethean, Heras 65, 259.200, ‘Uma nove solugSo ft epresentada mais recentemente por H. [iow Jones: a treet pega tei sido As Milos de Btu (sobre ‘sis ide inf, nota 80). Mas, cme o pepo recone, sem nov provas nada se pode aseguter (Te Jistie of Zeus, Berkley, 197%, Pp. 9503). A posibildade de as ouras togédis intuladas Promten nto erence & mesma toga (praldamente a que suced com 0 Rl Ei Ep Colo de Sooces, qs independents) fol sugerida or 0. TAPLIN, eft en eetincte. 413 ‘Temos na nossa frente o velho mito do Titi que enga- rou Zeus, roubando-Ihe o fogo e a esperanca, para dar aos homens, que o deus projetava aniquilar. O roubo da esperanga e outros pormenores parecem ser da inven- fo de Esquilo, mas o essencial da histéra jé igurava tem Hesiodo,e por sinal que em ambos os poemas. No momento em que principia o drama, Prometeu esté a ser agrilhoado a um rochedo do Céucaso por Hefestos, deus que, aliés, exerce o seu sister cons- ‘rangido pela Forca e pelo Poder, enviados de Zeus, ‘Apenas assistido pelas Ocefnides, que acorrem a con- solé-lo¥, 0 Tita dominaré toda a cena, obstinando-se progressivamente na sua atitude rebelde, que a inter- vven¢So sucessiva de Oceano —que, em terms inso- lentes, vem oferecer a sua mediacio junto de Zeus delo~avitima doamor do deus supremo ede Hermes —que, por incumbéncia de Zeus, pretende extrair-Ihe © segredo relativo ao futuro da sua soberania— 56 conseguem empedemnir. Temos, portanto, um drama de acéo episédica, aque verdadeiremente decorre, como ensinava DODDS”, da tensio entre dois polos opostos: um ¢ 0 protago nista, teu, o saber sem 0 poder; outro, invisivel Tas omnipresente, & Zeus, o poder sem o saber ~~"Prometeu apresenta-ce como 0 salvador da huma- nidade, & qual ensinou todas as artes!’ & pela sua ‘ante do prlogoencontr-etaduldo na Hla, pp 21-20 0 comeso do pido pote lerse nap 221 da Hie | _cemavian na Universidade de Oxor, © “Verse i S06 idle, pp. 22-23), m Pi 3% fe au filantropia (verso 28) que é castigado. Estes factos tém- “The valido ser considerado, alternadamente, um sim- bolo da humanidade e da cultura humana, da'iberdade em luta contra a opressio, da rebelifo da natureza cor. tra as regras, do sonho dos artistas, da elevacio da. poeta ao lugar de deus criador, do atefsmo, etc. —fasc- nando os poetas das varias épocas!, que néle pro- curaram encarnar as preocupagbes do seu tempo. No entanto,e apesar de Zeus ser apresentacio como inflexivel e duro (34-35 e 185-187), também Prometew _Rio est isento de culpa: as Ocednides dizem-the que ferrou (260), que é ousado e fala com excessiva liber- dade (178-180), 0 que 0 Titi confirma (266); ¢ acaba por se tomar insolente (637-943). Por conseguinte, embora Zeus seja visto sombriamente, o castigo de. Prometew nfo deixa de ser merecido. CCertamente, a tragédia seguinte conteria a chave da interpretacio do cardter do deus supremo, que pro- vavelmente sofreria uma evoludo comparével & das divindades da Oreste. Quer dizer que, na formula feliz de SOLMSEN, os dois atributos de Zeus, poder e direito, ainda nao esto unificados; apenas possui o primeiro. Em 458 aC, 0 primeiro prémio das Grandes Dionisias galardoou a ultima tetralogia que Esquilo 7 Recordemos apenas of dois exemplos mais acres 0 Pr ithe de GOETHE 60 Promaisu Lion de SHELLEY 0 primaire dos Ghia se encontrado. em portugits pelo Doulor PALO (Quovrana Ente née, GUERRA JUNQUEHO chegu a anuncar un Pro lew Libris, de gue se publiou postumamene 0 ecbogo nas Vibes Lirias (Por, 1948. Numa obra perdida de Hesiocdo, o Catélogo das Hero ~estendera & mi Gos por Estesicoro, que comps um poema chamado compés, a Ovestia, da qual apenas se perdeu o drama satiric, inttulado Proew. Dela escrevew SWINGURNE que era wthe greatest achievement ofthe man mind» E Goerite no hesitou em qualificar a primeira tragé- dia, o Aginémnon, de «Kunstwerk der Kunstwerke> Sem nos determes na arte consumada da sua ela. borasio (logo patente no prélogo, quando 0 guarda sagere nas suas palavras o longo ieolamento na noite, e, depois, no acumular de angistas, que calminam a meio de peca, com a chegada de Agamémon),atenta- remos sobretudo na sua contextura ideolSgica, ‘© mythos jéestava em parte na Oulssi, onde se 18 que a Agamémnon, durante a sua auséncia em Troia, fora usurpado o lugar de rei e de marido por Egisto, que o assassinou no dia do regresso, juntamente com a Sua eativa Cassandra; e que Orestes, 0 fitho do casa, tuma ver chegedo & dade vii se cobriu de gidria, matando Egisto e recuperando os seus direitos reais. ns, acrescentava-se que a vinganga de Orestes s¢ ‘ie, Outros pormenores foram adicior Onesie, e por Pindaro, na Xie Plch, Mas a grande novidade de Eaqullo ets na solugio do problema 91,2849 (aap. 71:1 298-300; 19620; 205121. 510- “SU; X1 387464 XO0V. 18-2; XX. 98.97. 1 Peg, Zin MERKELAACH-WEST. O palo fl dado a conhecer pea ecgso dos fragments de Hesiodo por esses heenisas (Oxford, 167, Efetivamente, 0 costume prescrevia que o filho vardo vingasse @ morte do pai. Logo, a Orestes incumbia 0 dever sagrado de matar o assassino de ‘Agamémnon, Se este fosse apenas Fgisto, a questéo estava resolvida, Mas Clitemnestra também era cul- pada, ¢, para vingar 0 pai, Orestes tinha de matar a mie, Uma vez.consumado este ato, 0 jover principe é perseguido pelas Einias, divindades teriveis,encar~ fegaces de pani o crimes de sangueO cao €levado a presenca de Atena, que constitui um jéri especial para decidir. O numero de votos obtdos é para ambas, as partes igual (0 que simboliza a insolubilidade. do problema), mas Atena, que dera 0 seu a favor do réu, proclama que a equivaléncia dos sufrégios concede a absolvicio. E doravante os casos desta natureza sero decididos, no pelo interessado, mas por um tribunal ‘Quer dizer, Esquilo soluciona o problema com a criagSo de uma nova ordem social: 0 tribunal do Arebpago. Esta € a trilogia nas suas linhas gerais, Mas multos aspetos merecem exame e discussio, nomeadamente a longa ode coral do pirodo (104257) —a mais extensa mais admirada de toda a tragédia grega- ‘08 doze ancidos de Argos, depois de terem entrado em © A vinganga de sangue ena. da eer do dzcio pivado até 30 sic, Vila: Se no have quem a exercesy, a Eenas se encaregaiam fiso — pensovese, Eta de sor ses, especialmente quando o= ‘cies ocoram ele pareiey que aso deviam exarearvinganea ni ripe fala. Cl. GREFFENHAGEN, »Der Prozess des Odipu, Hermes 94 (1966) 197.175, especialmente pp. 18154, a7 cena a0 ritmo dos anapestos (40-103), nos quais lem- bravam que havia dez anos que os Atridas tinham “da partida da expedigao, s€ tinham visto duas éguias a devorar uma lebre prenhe (ou seja, os dois Atridas a destruir Troia com os seus habitantes); segue-se o hino a Zeus; e depois a evocacio do sacrificio de lfigénia™. ‘Aqui se contém a parte mais significaiva e mais discutida da tragédia. Primeizo, compreendemos que Agamémnon vai desagravar a ofensa feita a0 de ppatrono da hospitalidade (Zeus Xénios). Por isso ti € chamado wéyes duribimos, «o grande exator da justica». Depois, o prodigio sugere os perigos em que pode envolvélos a vitéria —a insoléncia na revin- dita— ofencendo 0 preceito do «nada em excesso» — undev dyav, como se diré textualmente mais adiante © hino a Zeus toca um dos pontos vitais do pensa- mento que enforma toda a tragédia: que se aprende sofrendo —néer 00s. A evocacio do sactificio de Iigénia é menos clara, | Por um lado, afirma-se que Agamémnon, se nao con | sentir na morte da filha, para obter ventos propicios | que levem a expedicio a Troia, falta a0 seu dever mili | far —é um Aazbvais, um xdesertor das nas. Mas, por outro lado, mal a sua decisio é tomada, 0 coro nao | hesita em qualificé-a de wimpia, impurae saci © aad 9.205 tide, pp 226227 a8 Por isso as opinibes se dividem, Para EDUARD FRAENKELS, a histéria da flria de Artemis, que exigia 0 sacrficio de Ifigénia para se apaziguar e permitir a expedigao a Troia, vinha na epopeia dos Poemas Ciprios, mas Esquilo tina de fazer aparecer a deciséo de Agamémnon como causa. primeira do castigo (epurontuios). Por isso suprimiu essa parte e apenas seguiu @ histéria tradicional em manter 0 motivo da ira da deusa, eelaboros o portento. Mas Agamémnon zo tinha escolha, diz PAGE, o que se explica, porque 0 se trata de stra de crime castigo, mas da_ -gédia do destino do homem, que & mais impressio- Spante, s¢ a vitima é envolvida nele contra_vontadé (como Agamémnon) ou sem saber (como Eaipo), Par KJ. DOVER”, 0 que hi, no tratamento da atitude, quer do rei de Micenas, quer do coro, € um retrato muito realistamente observado do comiportamento hi -Perante «a ordem de praticar um ato extraordindrio © esagradavel, dada por um agente respeitadon; além “isso, o coro imanlém-se, para o Sactificis, numa ati- fude de «cuidado, divida e ambivaléncia», em tudo ‘5 Agimennen, 2 vole (Oxford, 1950), peice Der Aganennon des “Achy (2ih 1987) = Keine Berger Hasschen Pile Ro, 196), vo, p. 529-51. The Agenertnon, ed DENNSTON ~ PAGE (Oxford, 157), pre- ci Ena inerprengio € convinertementa refuads por Mc ©. Putquti, «O problema do serfs deIgéianosAgamémnene de ‘ouilow, Hamantas 71-22 (1969-1970), 38-77 1 sSome Neglected Aspects of Agamemnon’ Demmas, oun of lene Stns 98 (973) 5849. Os pasos citados encontemae nas pp. 6), respetivaments, 49 que respeita a responsabilidade por ele como alo, mas manifesta uma repulsa inequtvoca quando 0 encara como acontecimento. KITTO" entende que 0 pense mento de Agamémnon era que nfo podia abandonar a armada, mas nfo o de Esquilo, Mais recentemente, HEINZ. NEITZEL® reduz a sittagio a0 seguinte dilema, cu partida para Troia (com cessagio dos ventos) e con- sequente aniquilaedo dos habitantes da cidade, com @ condigio de sacrifcar lfgénia, ou abandono da expe- digo, evitando aquelas duas consequéncias. Artemis impusera uma condigfo tal & obtencio de uma vita da qual havia de resultar a destruigdo de uma cidade (facto que ela nfo queria) que era de esperar da parte de Agamémnon que no ousasse aceitéla. Mas nio & fsso 0 que sucede. Por sua vez, H. LLO¥D-JONES*, depois de examinar o motive originério do sactificio de um ser humano como condigio preliminar da guerra, e, por outro lado, o papel de Artemis como defensora dos animais, que Ihe pertencem, entende que seria essa a verso mais antiga da lenda, bem anterior aos préprios Poemas Cipros. Mas que Esquilo 2 orm and Meaning bs Dra (London 196) 9p © sAsiemis und Agamemnon in der Paredos des Aechyeschen ‘Agamemnon, Hermes 10 (198) 1022 ® sAstemis and Iphignely, Journal of Helle Studie 109 (198) 7-302. Uma hibil reftagto deta e de ouras tes prposias em tempos recites foi fia por MANUEL O. PULQUEHO, «De novo @ plrodo do wAgamémnens, Huma 57-38 (9651980) 38. Vejese Binda D. J. Conacrien Areiye’ Oneeia. A Litany Comment (oronte, 1987), pp. 765, ery © seu auditérlo jé nfo aceitavam tal motivo. Por isso Calcas explica que a deusa sente piedade pelas vitimas das dguias, uma situacéo que prefigura os resul- tadas da expediggo, na qual se cumpre a vontade de Zeus. Efetivamente, a sentenga do coro surge logo na cestrofe seguinte, francamente condenatéria. Mas a posigio de Agamémnon ante o terrivel dilema néo é nitida, e 66 se esclarece em confronto com um. fragmento da Niobe'l, tragédia perdida do mesmo autor, que afirma que, quando o deus deseja muito destruir uma familia, cria uma falta no homem (POHLENZ). Devem ainda notar-se as palavras que pre- cedem a fala de Agamémnon®: ‘Assim o mals velba chee Gasnausdos Aquecs, fam consrar qualquer profes, deo erat poe ventoscpeichoss da sot. [As figuras vo sendo sucessivamente instrumentos da justica de Zeus e objetos da mesma, e a larga sequéncia de crimes e castigos do palacio dos Atridas cexplica-se como uma série de culpas contraidas pelos seus membros, no uma fatalidade cega. O facto ¢ evi- dente no didlogo Hrico entre Clitemnestra e 0 coro, Fig 273 METTE Cf também Pato, A Repl, 3803, que oa citeando, Apu, 186157. a ps o assassinio de Agamémnon®, mas mais ainda 0 fora nesta antistrofes mito x formou ent oe moras ‘stn entenga vests urmana fla, ‘quando sobea grande altars, ao mort am sho. Datos sorte _sermina me despa nsaclivel. SZ. “Tange dos outros eu pen sain uma acpi pia ‘ue depcis gers outras, semethants que aoriginou: ois o destino da ass onde justin ter sompre uma bela prope. OpBem-se aqui distintamente duas formas. de penetra wadicional de que o exceoo de venture te 8 desgrac; a refeda, que o aor apreserta como opinido pestol, de que tal despre ¢ castigo de Impiedade Estaimpielade a inolenci a yore, que leva o homem «querer alrapesser a su condo © medi com os dese, Dela se torara feimente culpado Agamémnon, quando se exerdera no saque de Troi, destruindo Altares'e templos das divindades,e toda a raga do Pas Ea cule repetese, agora com todo aparato, Simbélico, quando, cedendo aos insstentes topos de Cltemnestre, ents em casa psando um tpete de _plirpra, honira qué'56 aos deuses convinha. ‘15721576 de 1497 a 1512 na ae. 22. 750-785 ad, p28), 524-08, ed © significado do caminho de Agamémnon &nos desvendado por uma das mais famosas cenas da tragédia grega, a de Cassandra. Enquanto o rei se encontra dentro do palécio, a profetiza vai revelando, primeiro de forma enigmética, depois em termos progressivamente mais claros,o sentido do drama. O_ eanto de Cassandra evoca o crime nefando de Atreu, dando a comer a Tiestes as cames de seus préprios fithos, e anuncia o assassinio de Agamémnon. Quando Egisto aparece, no éxodo, conhecemos 6 resto das mot- vvasbes particulan ele 9 inico filo exapo de Tests. (por ser o mais novo, exulta por se ter vingado do. ‘descendente de Atred. Também Clitemnestra s6 tardia- ‘mente revela o seu desejo de vingar a morte de Iigénia. Hid assim uma passagem do geral ao particular, qué nos mostra bem como 0 Aganténnon poderia ser ape- nas um drama banal e s6rdido de adultério, se Esquilo ro inserisse as suas motivagdes num contexto etio- Ligico mais elevaco. ‘Mas, quando a tragédia termina, a situaglo do palé- do nio melhorou. Cassandra profetizara a vinda de tum justiceiro. © coro também espera, Esse justiceiro aparece em As Cofforas, por ordem de Apolo, que © manda vingar 0 assassinio do pai. ‘Mas Orestes no se limita a obedecer & divindade. ‘Como notou A. Lesky#, é num longo Kounés com sua inma Electra e 0 coro que identifica 0 seu querer com 0 © Die rage Dichung der Halonen (GBtngen, 7872p. 125, que remete para‘ atu trabalho publica naz Abaallagen der Wer ‘Abene215 (943), «Der Kommos der Cnoephorens. 3 do deus, e assim se toma responsivel. A desproporcio desta parte em relagio as restantes da tragédia é prova da sua importincia Quando, depois de ter matado Egisto, se prepara para punir a mie, Orestes hesita, e é preciso que seu migo Pilades, em ts incisivos verso, Ihe lembre as ordens de Apofo. Porém, depois de cometido 0 ato nefando, Orestes avista as Erinias, Assim terminam As Cofora, num tom ainda mais sombrio do que o do ‘A terceira tragédia cumpre dar solugio a0 caso. Dela desapareceram jé as figuras humanas, pois Orestes, que continua presente, ndo é mais do que 0 corpus deli, como expressivamente Ihe chamou WitaMowrtz, A agio decorreré entre os deuses, e, como tal, haverd muito de simbélico em tudo 0 que se fiver e disser (Orestes apresenta-se como suplicante no templo de Datfos, onde as Fins que o perseguiam adormeceram. ‘Apolo. prometethe protecio e retra‘se, enquanto Hermes leva Orestes, Mas 0 fantasma de Citemnestra esperia as Erinias. Estas, expulsas por Apofb do seu santuario, vio ameacar o culpado‘é Atenas, onde ele fabraca, suplicante, a estétua da deusa protetora da cidade. Atena interroga ambas as partes, € convoca um ji especial para o caso, A votacio ¢ igual. E 0 voto da propria deusa que permite a Orestes sairliberto. Mas ‘Atena tem ainda de apaziguar as Ernias, que se sen- tem lesadas nos seus direitos, oferecendo-thes espe- ciais honvarias na sua cidade. Tem-se visto nesta pese: (1) o progresso do direito, a substituigao da vinganga de sangue por um processo juridico regular @) a vitérla dos Olimpicas sobre a religiio de terrores dos tempos primitives ) onascimento da x6). Mas a grande ligdo de As Euménides & a que jé fora prenunciada no prélogo, proferido pela Pita, a0 histo- Flar a sucessio divina em Delfos®: 0 caminho para a paz deve alcancar-se pela persuasio, nao pela force Opie-se assim a civilizagao & barbie, e, como dizia opps, «é tudo um simbolo da politia ateniense>.. 5 tillimos versos revelam-nos ainda que o destino (Moira) se conciliara com Zeus —0 deus supremo, que a trilogia identifica com a justica perfeita”. abl is dois outros grandes tagicos, mas numa peca {ica em vez de Uma elogia ter, Para o ponto a ‘vista que aqui nos ocupa, o seu tratamento tern menor interesse, porque, enquanto em As Cofforas a atitude de Orestes é simultaneamente dever religioso e crime (donde a profundidade do conllito), na Electra de Séfo- les & apenas dever religioso, e na de Euripides & somente crime, que Orestes toma como dever reli- A nacho de qus é Zeus qu role # Moin também eats am At Supine, 673 onde se ama qu cleo deus 25 gioso®. Esta altima interpretagio reflete uma evo- lugdo no sentimento para com os deuses, cuja andlise excederia os limites do presente estudo, 2. Séfocles| Em vez de nos apresentar situagées trégicas, como squilo,Séfocles foca de preferéncia carateres. E assim, uma das s tigas tragédias —pelo menos, a Bri “C= fem figuras nitidamente delinesdas, das quais erivam as premissas do drama: Antigona, esoluta fidelissima a0 seu dever, ainda Ge com sacrifico da, prpria vida, a submissa e ‘quer impor, tanto a0s “Guise # ses; nan su iho, joven ‘da_razio_procura_debalde igor, E “tia silenciosa dat obstinacio de Creonte; 0 guarda, ‘vagamente compassivo ante a sorte de Antigona, ¢ ‘profundamente interessado apenas na sua salvacio earns i ‘Pena daa muisinuertesexegecs dean pegs & do JE fitésofo Hest," vé nela um confit entre os valores da familia (oikts), defendidos por Antigona, e 0s da P» confrontemse ex expeil Séfoles, Eee, MISA « 1418. 125 tia, p. 277) Eusipies, era, 96-987, 201-125, 1226, 1238. ‘Vins 12921307 iad pp. 305 307. ° Vreangen ier Philp de Rego 2.36 Ati 21, que se pode datar, de cerca de 441 ou 440. - v 126 cidadeestado (pols), sustentados por Creonte. Esta interpretagio, que continua a ter defensores entre alguns dos maiores helenistas, baseia-e sobretudo no final do estésimo primeito (a chamada Ode a0. “Romemsy e na discussio entré Anigona € Creonte, no” ido episdio.” Outras se Ihe tem vindo junta, a “porto dé o mais recente editor e comentador da {ragédia, MARK GRIFFITH reconhecer que tudo oscila entre as areas da politce, da religido, da familia, do genera. = ‘Dos dois irmios martes no mesmo dia em combate singular, um, Etéocles, combatia pela cidade de Tebas, outro, Polinices, atacavaa. Por isso, 0 novo rei e tio de ambos, Creonte, manda que ao primelro se prestem todas as honras finebres e que ao segundo néo se dé sepultura, sob pena de morte para quem tentarfazé-lo. Qiando.0 drama principio ddito acaba de ser proda- mado, No prélogo, Antigona anuncia a Ismena o seu propésito de sepultar Polinies. Deste modo, a atitude da jovem princesa se opde & do re, e tal oposigio val cculminar no segundo episédio, num dislogo imortal, fem que Aniigona defende a lei dos deuses contra a lei 7 Data ode co escreves HL FLASHAR, Sop, Dicer ie enotraicn “Aten (Sneber, 2000, que spetence aos estos fundadores do pansimeno e da peas europes Quinto & dscosso do segundo episdio, M. GRUNT, na mum ediglo comentada de ‘ntigna (Cambridge 990, ps6, classifies de wun ds mas fnosce ‘illogos da Uteratara Osdental» "Op. i, pp 25-65, Pode vers uma simula das prncpas eorias rm introdugio # nose verso comentads do drama (shoe, "2010, pp.2630 a Jnumana de Creonte.O terciro epis6dio mostr jgualmente obstinado, quando o Filho, Hémon, no em rnome do sentimento, mas no da razHo, tenta demover } pai. No quarto episédio, € 0 adivinho Tirésias que, em nome da religio, vem advertir 0 monarca, E36 a8 profecias terrivels que ent&o ouve, coadjuvadas pelos Teeeios do coro, acabam por Ihe abalar 0 Snimo. Mag & tarde, Antigona, encezrada para sempre numa caved eseavada na rocha, pusera termo & vida, e Hémon Seguira-a. A rainha, 20 ter conhecimento desta des- frac, suicida-se também. ‘Do conflito entre a lei humana e a divina resultara 0 Wesasire total para os defensores de-ambas. O perigo ~jora anunciado no primeito estésimo, quando, depois de exaltar os progressos da humanidade, 0 coro apom- tara as suas Kimitagdes” Se da era pres a nie don deuses ‘tio fe grande acide; Ines logna pede {uum porous nore nga. 220% | Tenge dome le 2 ye. 49-470 (ade, pp 278275) Esta ntepretato do femes0 Aitogn, que data de Astle (Re. 175; cf 1372) (ok poeta em ‘divide por um dos male notivels estudor sobre Sfoces. 0 de Boroweato KNOX, Tie Heroic Temper. Shes in Sephcone Trageiy (Gerke selmp, 1966, que sure qu 2 pals al usd, we Spntenvascostume,e io we, a0 se. Va. portant Artigas eee peli para com os moras, que owto congas (PP He Soy © meomo helena recone, contudo, que, 00 veo S19, 3 ‘rice empresa polar sles (ot 24 dap. 163, Vy 3 75 (Hee p27), 28 que assim fr! ‘longo et dos meus pensamento ‘omen que lal rime perpetar! Tem-se dito que este estésimo é uma fala do poeta ‘como canselheiro do povo, ultrapassando o contexto dra- ‘mitico, para censurar a edueacio sofistica, quando ela atua sobre o pensamento politico™ ou que nao hd ligacdo deste canto com 6 feito de Antigona”; outros: comparam-no com as doutrinas de Arquelau ou Protigoras”*. Mas a verdade & que o estésimo tende ppara a conclusio acabada de transcrever, e esta, 6 por si, @um tema central do drama”. Wuasowtr, Grice Vertu! Darmstadt, 1958) pp. SI6518. 7 A.J.A. WAaLDOCK, Sopher the Dravntit (Cambrdgs, 1966) pe.ti2-i Fg, 60 Ad DEL Kunz, de Arqulas A nosso de progres da Inumaniade, que enfoma esta ode coal, eit expresh no mito do Praise de Plato Hifi. 21, «, como his af posta na boca 4 Sofia, «nao nade Sdrtes, como habtsaimen, 6 listo conc ‘qu » doatrina pertenca Aquele (de et, Pato no itn inves, | Sj, da dade do ouro, no Pllc, 269.2748, «em Ae Lag IV. 713% “Plt, Deve rears, no enano, qu siden decrgem soit, ps encotramos mui anes em Xenane, fg, 18 Dies KRANe (dae, p. 150), Também aneior sero Pomel Agrthat, 447-506 (Pda, pp. 221-22), aotarmes « autora de Esq (pra a tse on eet po WS es An, Sr en “ail de negar @ presenga da problemi Solace em cbres de Sfoles. Vat ente outs, RIAD FORUIRA,O den de Fiber (Coimbra. 1989), 7 E omothane a eta concasSo de GM. KIKENOOD, A Sty of Saphcean Drama (Corll University Press, 1858), p. 207 «A tis Imporante contbulgho dramdticn da ede & 2 sun lnvodugto de 2 ‘A mais bem consiruida das tragédias gregas, e uma das poucas que aplicams escrupulosamente a suposta lei dias trés unidades® — que os dramaturgos “de XVITerigiram ex canon inviolével Simla er, come ae fem dito, uma mebda de tos populares: da crianga exposta, do descobridor de tnigmas, do. parricida inconsciente, do fh inces- tuoso® Jf tinhe sido tratado por Esquilo numa trilogia de que apenas se conservam Os Sele contra. Tebs. ‘Vejamos 0 seu desenvolvimento em Séfocles: “(ima epidemia de peste assola a cidade de Tebes, Eaipo promete a0 seu povo tomar medidas para afas- tar 6 flagelo e anuncia que jé mandou a Delfos, pare inquirie da causa da poluiglo, Creonte, seu cunhado, fe vias seis e por savers ase, qm perebud worden 20, | SIT unidnde de mio at exces ma Ft de Astle 1515 | (tute); mas dete ede apa rr np | be (ie up, pO, m0) Po ue do, oberg dpe tendon pcs wags greg nie abonea son ean basta tae | “Ennis que dco pimsro em Del e depos em Atenas. AS | ‘Alan, do mesma de que gor se eapearm eget, po | fal cinco fogares de so cents Sobre a crigem do ito Epo, ne aurado a mals seviadas hips Apontremos apenss ti das pincipa deus iio (Rete, figs do conto popaie (NUSSON,pesnaldade eo trnsirad plo mio (RES) A segunda impewe pla sa dpa mpd ‘Oe epuiores do esttuinno podem ver ame gelba dos soon dete slo em Ck LEVY SS, Antopgl Sucre (Paria 1972) 23620. Guts iterpetaies snd form nds por JFreveanaere Vos Nar, Oni yt Beles, 98) 130 € 4 g t que acaba de chegar. Sabe-se entio que hi na cidade lum criminoso, © assassino do rel Laio, primeiro marido de Jocasta, que € necessirio castigar, para satistazer a justiga dvina, Bdipo propoe-se cumprir a ordem do deus, e, para melhor esclarecer 0 seu con teido, manda chamar o adivinho Tinsias, que se recusa a falar, mas, compelido, acaba pot declarar que © culpado é 6 préprio rei Edipo. Este acusa Tirésias e Creonte de uma conjura para o derrubar, Mas em breve as indicagdes da rainha sobre o drama, ocorride havia anos numa encruzihada entre 0s caminhos de Diiuliae Detfos, fazem suspettara Edipo que o homem que ele af matara era efetivamente Lalo. Manda-se chamar o pastor, nico sobrevivente da cena. Entte- tanto, chega um Corinto, com a noticia de que, por morte do rei dessa cidade— que criara Edipo, e de quem este fugira, para evitar que se cumprisse 0 oré- culo terrivel de que havia de malar 0 pai e desposar a mie —Ihe cabia a ele a sucesso ao trono. Tudo parece resolvido: as profecias estavam erradas*™. Mas 0 Corin tio precisa melhor os faetos;o rei Pélibo no era o pai de Edipo; ele, pastor, € que o salvara em crianca © 0 entregara aquele monarca sem descendéncia. Jocast, 20 ouvir esta revelagfo, quer impedir Edipo de inda gar mais, e retira-se desesperada, Mas 0 interrogatério rossegue, até que o pastor tebano & obrigado. a confessar que, havia muitos anos, para evitar que se realizasse um terrivel oréculo Jocasta lhe entregara 0 Vv. 726764 (ae pp 278280, Vv 911889 (dade pp 781.250, 431 fino recém-nascio, para o expor na montana € que fie, compadecdo de coanga, a dera 20 Cott. Excloreida a trgicn verdade, © mensogeiro vem Contaro suicdio de Jocata ea ceguetravoluntria de ‘Edipo, que parte para o exilio. © ovo conclu com esas palaras desslentadas sobre a irtabldade da condigho humane neg bane Teli lo a — questa cignstancns oma pedeciodon tal que ningulen otha sm ive asa sore, em que abso de dsgrags ei {Quen mori secon l,m te visto final dese dia antes que tera tansposto limit da vida smear algo do dolor, ‘A squtncla das investigates —quem € aseino de tate quals proveitni ce Eaipa decor em Shas nus convergent permesdas pr a guase Conte nia aie ue elina na interoHa5s0 foros deyooaie rad deem —precisamente situada uns momentos antes de se encetar 0 didlogo que leva 3 identificacio de Esdipo. Wena nos se encontr, alia, na famosa © suposta entre vinta ence Caso © Sélon,narada por Herédoto em 132 (Hl pp. 251282), « sind em Expl, Apandnnon, 923-93, « Exrpides, ‘Andries, 100202. Ve, 946-97 (lade p25, 32 | Jocasta vivia «4 deriva», como ela mesma declara yo vers0 979, Critica e ridiculariza os ordculos dos feuses, que as aparéncias dio como falsos, mas que en breve se averiguam verdalrn a intencio do autor por em relevo o valor das profecias divinas, que comesavam a set um tanto ‘menosprezadas no seu tempo? Quereria demonstrar © poder dos deuses perante o homem, wensinando-Ihes ‘uma ligdo salutar» (BOWRA)? Mostrat a oposicao entre aparéncia e realidade objetiva (REINHARDT)? Poderd falar-se, como se fez durante tanto tempo, de uma tragédia de culpa, quando, perante o direito atene Edipo nao era culpado do Sss585io de Laio, porque o ‘agredira em resposta a uma provocasdo.insolente daquele, e por outzo lado, casata com a rainha em recompensa de ter bertado a cidade da esfinge, igno- ‘endo pos completo quem cla rae tendo desta da corte de Corinto com recefo de vir a matar aquele jnlgava ser seu pei? Ou srs antes uma tragétn do des. tino, considerandlo que Edipo é envolvido na desgraca sem o saber? Ou ainda uma wanlisetrégica», como Ihe chamou ScHLLER, acrescentando que toda a motivacio ramética esté contida no inicio da pega e apenas se val desenrolando? Ou um drama sobre a cegueira do homem e a desesperada inseguranga da condigéo ‘humana, ao mesmo tempo que sobre a grandeza do ‘mesmo homem, que o leva a procurar a verdade a todo ©-custoe acitar as suas consequéncias (DODDS)*? sOn Misunderstanding the Oedipus Rex», Gece ond Rome, Second Series, 13 (1966) 3749 Tenth Cintry Interpelaton of Se pe , Hilf Plog? __ pod gon Guipe file ot Relape? Enteric pip a ss de gi pre se a Iniieras discusses e inerpretagSes, Entre Todas as que para esta tm sido propostas, deve, porém, salientar-se a que o préprio autor nos deu, cerca de "ale? Edipo mio era calpadoy ot \ -aeuses € que estavam irados com a sua race. ivamente, Laio desencadeara a céleradivina com || ~ crime grave devido 20 qual Ihe era vedado tet. descendéncia; se persistisse em ta, 0 filho havia de o mata e de desposar a mie. Eo que aucede no Ret 2) Exige, Mas no Eaipo em Colon, 0 miserivel exilado, SS" Ei (nips Rex, ed, MICHASL O'BREN (Englewood Clifs Ny 1968) pp. 1729 The Ancien Cone of Progress and Oe Err (Oxford, 13) pp. 6-77 ~ Onfind Readngs In Grok Trgety, 08. E. SOCAL (@xford, 96) 17728, "No Ea emt Con, 546-548, 968965 «565-102 prone a dats cate ds Taped Tt Ep, ms evencn de wma paren nem Os Actrenes de Arstfanes (de 425) ea probblidade de um imitgio no Hipilo de Euripides (de 428) sugerem 0 ano de (© Colones fo 8 cena er $01, quato ou cinco ance depots da morte de Séiodes, AWE. ADKINS, Mort ad Repost. Stay Gr Vals (xian, 1960), 102.105, apresentou uma ineramante leon este ‘speto; © Rei Epo sora do tempo em que os Geiges no dl- ting, par esos de cst, entre ot ton eriminess culpados ou io, por fee a intense motive de Edlipo nfo lo dos em cont avano, nhaae devencadendo questo facto de qu as wtalogas ni 59 um eons. O Fae em Cob teria sido claborado eno dees novo modo de pensar, donde resulta uma inrpstaio do mito. G. GRUIVENIAGEN, «Der Prozass des Odipusy, 0968), p17, ales, como outros, 2 distinggo entre o% xoioto (rime voluntinos) ever ote erie iol») a tempo de Deon rod acomparhado pela fiel Antigona, sua filha, chegou 20 termo dos seus sofrimentos. Desde o momento em que Ihe é consentido penetrar no bosque sagredo das Euménides, no demos de Colono, exo elogio magnifico é feito no primeizo estésimo®, Edipo proclama que serd alia sua separa, fonte de ben intmeros para a cidade ce Atenas™, cujo rei, Teseu, 0 recebe. Mas ainda ‘nd episbdios de luta: Creonte, onovo rei de Tebas, quer levar & forga Baipo, pois sabe que a presenga do seu corpo serd favorivel 4 sua causa, © consegue, por ‘momentos, arrebatar-lhe a5 filhas™; depois, ¢ Poinices que faz idéntica tentativa, também com o intuito de alcangar a vitéria na luta fratricida, Mas em breve os reldmpagos anunciam que esta proxima a heroizasio de quem tanto sofeu. Aquele que até af tina de ser igon frente dos outros, faz as libacdes aos deuses, e, depois, ‘de indicar a Teseu 0 local exato da sua sepultura, desa- psecemiseiosamene, um flo desobrematue que sobrenatural que a tragédia grega. Como escreveu REINHARDT, “sat crenga tos herois € erguida, do seu significado pri- itivo e magico, ao mais elevado, espiritual eético»”. © Vy. 719 lade pp. 204285, 1» Entre outos pasos ese o dilogo de verso 5792 S57 (Hl, 283) 1 Wy. 805-62 (ili pp, 286-286). Soha, p28 135 3. Euripides ‘Uma das mais antigas pegas de Eurlpides & @ Maden estreada em 431 8C, 0 ano do inicio da Guerra do Peloponeso, Nela se mostra bem evident, a felgg0, predominantemente psicolégica do teatro do tercero {ios grandes trgicos gregos. A figura da protagonsta, luma das mais notaveis do drama antigo, enche a peca com a sua estranha maneiza de ser. A tragédia desen- fadeia-se porque a heroina tem aqucle carétr terrivel tristo de Inconstinca,arrebatamento, amor veemente dio cego, ‘Logo nos primeiros versos, a ama nos dé 0 seu retrato: « que ela €terrve, e quem a desefiar como jnimiga nfo alcancaréfacilmente a vitéra.. Nem ces- sad a sua célera, eu bem 0 sei, sem se abater sobre alguém.,. Carder selvagem, temeroso, de um animo indomével> ‘A voz de Medeia ouvesse, logo no pérodo, dentro de casa. Entra em cena no primeito episodio, para ndo mais a abandonar até a0 éxodo. Primeiro, pedindo a Conivéncia ‘do coro, depois suplicante em face de Creonte, 0 rei de Corinto, do qual obtém licenga para ficar mais um dia, antes de partir para 0 exilio. (© mondlogo seguinte revel éo seu plano de vingange. (© segundo episédio é um violetolibelo de acusacio a0 marido ingrato © infil; masoterceeo mostra a pro- tagonista de novo humilde e dolorida, até conseguir © apoio de Egeu, rei de Atenas, que Ihe promete guarida ra sua cidade; no mondlogo seguinte, Medeia expe claramente 0 modo como exerceré a-vingance, para, 136 zo préximo episédio, simular arrependimento perante Jasio. Estamos assim chegedos a0 ponto central do Grama: 20 saber que os presentes mandados pelos seus filhos & noiva real foram bem aceites, Medela Daixa os olhos e chora,e 0 mondlogo que entlo profere 0 mais aflebre de todos— mostra-nos as suas alter- nativas entre 0 édio e o amor, até que aquele vence”. Tudo 0 mais so consequéncis, porque a deliberagio estd tomada, Mataré os préprios filhos, para se vingar de Jasio e para impedir que os Corintios exercam represélias sobre eles. Medeia & uma princesa bérbara e uma fetieia. Mas, contratiamente a0 que suceders nas imitacdes esta tragédia, como a de Séneca e a de Corneille, _filha de Creonte e de quem dela se aproxiiiay, €73. _/-sarto-do Sol, no qual a Célqitida abandona_o palécio,_ (qual dis ex machina ~“=K origem barbara, pelo contréio, tem repercussdes Embore tratado sob um dngulo mito divers © mito dassa tapi € 0 mesmo de Os See cote Tes de Esqulo, «portant, ligado eaes doe Labdides 2 No primeiro episédio, asistimos a um novo ataque de loucura de Orestes!®, No segundo, Menelau, que acaba de chegar, est quase decidido a tomar a defesa do sobrinho, quando Tindéreo, avé de Orestes, que 0 criara, corre para acusar veementemente ambas as filhas, Helena e Clitemnestra, eo neto ainda mais. A despeito de Orestes lembrar a Menelau quanto deve a se pai, cle abandona-o. Apenas Pilades, expulso da/Fécide pelo Pi, por ter tomado parte no assassinio de Clifiphestra, ‘ver oferecer-Ihe apoio perante o tribunal!" N6terceiro episédio, um mensageiro refere a Blectra 0s diversos discursos proferidos na assembleia, até que se decidiu renuncar a lapidagio, desce que os dois irméos tomem * ocompromisso de pér termo & vida = "Orestes prepara-se para executar a ordem, quando Pilades, que quer partilhar da sua sorte, lhe prope fazer sucumbir primeiro Helena, para se vingarem de Menelau, e Electra sugere que se capture Hermione, a filha dos reis de Esparta, para poderem dispor dela comorefém™™. Porém, quando os dois amigos tentavamn “matar Helena —conta mais tarde um escravo fugido do palicio— esta desaparecera misteriosamente © exodo ¢ constituldo por uma série de movimen- tados atos de violéncia. Saindo do paldcio de espada fem purho, Orestes obriga o escravo frigio ao siléncio. Menelau acorre, a0 saber do perigo e a0 ver o palécio 20 Parte na Hate, p 3. 20 Pare da con ne Had. 31213. 1 Sobre a dren de tatamento desta figura em cade um dos spend gos amen Pn epee de St Sova Ste nel ngs pe Sa 493 fem chamas. No telhado, Orestes, junto de Pilades, prepara-se para matar Hermione, a menos que ‘Menelau prometa persuadir os Argivos a deixé-lo viver reinar. E entio que Apolo aparece ex machina com Helena, qué Vai conduzir ao Olimpo, para mandar que ‘Dresies soja exilado na Arckdia, e depois ofereca” “Feparagio ts Eumerides em Atenas © sip ta julgado pelos “euses. Mais tarde desposard Hermione, e Pilades, Electra. Termina com uma exortagio & paz Para o Tei 3, este fim parece demasiado convencional. Pée aparentemente em gHeque a justiga diving, ao anunciar a deificagdo de Helena, Por iss, as opinibes se divide:

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