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04/10/2021 20:19 A mãe dos trambiqueiros

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A mãe dos trambiqueiros


Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 1o de setembro de 2005

Dias atrás, alguém disse que o presidente da CPI do Mensalão, Dulcídio Amaral, era homem de
moral ilibada, visto que sua educação juvenil decorrera sob os cuidados da Teologia da Libertação.
Esqueceu-se de mencionar que idêntica influência havia formado a alma do principal suspeito, o sr.
Luiz Inácio da Silva, e as de praticamente todos os demais envolvidos nos crimes investigados por
aquela comissão.

A Teologia da Libertação gerou o próprio Partido dos Trabalhadores, atual Partido dos
Trambiqueiros, provando mais uma vez o ensinamento bíblico de que as árvores se conhecem pelos
frutos. Ela foi o entorpecente pedagógico que preparou duas gerações de jovens para prostituir sua
consciência religiosa no leito da estratégia comunista, vivendo de assaltos a bancos, da indústria
dos seqüestros, do trabalho escravo reintroduzido no mundo pelos regimes comunistas, e
intoxicando-se mentalmente ao ponto de imaginar que com isso se igualavam aos santos e mártires
da Igreja. Individuos que alardeando lutar pelos direitos humanos consentiram em servir à polícia
secreta de Fidel Castro, a mais assassina e torturadora da América Latina, tinham atingido
realmente aquele ponto de dessensibilização moral sem retorno, após o qual a distinção entre o
certo e o errado se torna uma abstração inalcançável e está pronta para ser suprimida por mera
negação verbal. Se mais tarde alguns se especializaram na trambicagem ativa enquanto outros se
empenhavam em teorizar seu próprio embotamento moral sob os nomes elegantes de relativismo,
desconstrucionismo etc., a diferença é irrisória: na política, na vida acadêmica ou na religião, a
vigarice embelezada pelo auto-engano é a fonte de inspiração de todos eles. Não espanta que, tão
logo tiveram nas mãos o painel de comando do Estado, o usassem para toda sorte de patifarias e
ainda julgassem isso o suprassumo da ética. Quem faz o mais faz o menos.

Nem poderia ser de outro modo. Quando o padre peruano Gutierrez lançou em 1971 a doutrina que
tanto sucesso alcançaria no Brasil, fazia apenas doze anos que João XXIII havia decretado a
excomunhão automática de todo católico que, por atos ou palavras, colaborasse com o movimento
comunista. Para essa decisão o Papa baseou-se na autoridade de três antecessores: Pio XII, que em
1949 promulgara a primeira versão do decreto; Pio XI, que em 1937 condenara o comunismo como
doutrina satânica, e Leão XIII, que em 1878 qualificara o comunismo de “praga fatal que se insinua
no cerne da sociedade humana para levá-la à ruína”. Fundados nessas referências, pensadores
católicos produziram uma vasta literatura dedicada a examinar – e condenar — as doutrinas
comunistas à luz do Evangelho. De repente um obscuro monsenhor assombrava a platéia pela
naturalidade cínica com que invertia a fórmula, propondo como modelo de caridade cristã a luta em
favor daquilo que quatro papas haviam condenado da maneira mais enfática. Não sendo verossímil
que esses pontífices desconhecessem a doutrina da sua Igreja ao ponto de interpretá-la às avessas, é
mais razoável admitir que quem inverteu tudo foi, isto sim, o Pe. Gutierrez. Mas também não é
concebível que o erudito sacerdote que acabava de voltar de estudos em Roma ignorasse estar
pregando em nome da Igreja o contrário do que ela ensinava. A única conclusão viável é, pois, que
o Pe. Gutierrez e seus discípulos operaram a inversão conscientemente, fingindo trabalhar pela fé
cristã enquanto cumpriam a instrução de Antonio Gramsci de não combater a Igreja abertamente
mas em vez disso corroê-la desde dentro, esvaziando-a de todo conteúdo espiritual para usar sua
casca como veículo para a transmissão da mensagem comunista. Nem é possível que homens
capazes de viver sob camuflagem por tanto tempo, trocando de pele como o sr. José Dirceu trocava
de narizes, tivessem aptidão para formar as almas exceto nas artes da macaqueação satânica, perto
das quais as trapaças do Mensalão são divertimentos de crianças
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04/10/2021 20:19 A mãe dos trambiqueiros
das quais as trapaças do Mensalão são divertimentos de crianças.

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