Você está na página 1de 16
REPUBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL SUPREMO ACORDAO PROCESSO N° 2508/18 Na Camara do Civel Administrativo, Fiscal e Aduaneiro do Tribunal Supremo, os Juizes acordam em conferéncia, em nome do Povo: i RELATORIO Na 1° Secgdo da Camara do Civel e Administrativo do Tribunal Provincial de Zaire, @EEEED, solteiro de 51 anos de idade, natural do Soyo, provincia do Zaire, nascido aos 13 de Abril de 1965, portador do B.| 1° @HEEEEEEEED , passacio pelo arquivo de identificagéo de Luanda aos 25 de Agosto de 2009, residente no QED cm Soyo, casa@a> telefone n° 923581109, vem intentar ACGAO DECLARATIVA DE CONDENAGAO SOB FORMA DE PROCESSO ORDINARIO, contra a EC adiante designada (QED), com sede em Luanda, na Rue QED, cistrito urbano da Ingombota, neste acto representado por iE, © no Soyo pelo Sr. GHEE. 12 Gualidade de Presidente de Direcgéo da Cooperativa, podendo ser localizado através do Autor. Para fundamentar a sua pretensdo o Requerente, alega em sintese o seguinte: O Autor Sécio por direito da Sociedade Cooperativa, designadoe GEE. s0b 0 n° 1980, classe (03), data de inscrig&o 20 de Novembro de 2000 (vide ficha de sécio Doc. 01). A Cooperativa Cajueiro, 4 nivel nacional comegou na cidade do Soyo, provincia do Zaire que, aquando da sua chegada ao municipio esclareceram a todos quantos queriam abragar o projecto de que nao era Projecto da Sonangol, mas sim, um projecto privado para dar maiores condigées habitacionais aos trabalhadores. Pensava-se_num_bairro modemo e que tinha 5 (cinco) tipologias de casas. De seguida apresentaram os diversos tipos de casas que traziam e que cada sécio escolheria 0 seu modelo de acordo com as preferéncias e possibilidades financeiras. Apés aquele esclarecimento sobre os modelos das referidas casas, 0 Autor, dentro dos seus gostos e possibilidades econémicas e financeiras optou pelo modelo (C3) porque este modelo trazia consigo alguma maqueta e anexos Depois da escolha da casa do tipo C3BK no valor de USD 140.436,00 (Cento e Quarenta Mil e Quatrocentos e Trinta e Seis Délares Americanos), composta por 3 (trés) quartos, sendo 1 (um) quarto VIP - suite, 1 (uma) sala comum subdividida em 4 (uma) parte para o jantar e outra para visitas, 2 (dois) quartos de banho e 2 (duas) varandas (frente @ tras), 1 (um) corredor, 4 (uma) cozinha, 4 (uma) dispensa e 4 (um) quintal atras, No dia 20 de Novembro de 2000, o Autor efectuou o pagamento de 100,00 USD (Cem Délares Americanos) para a residéncia e 10,00 USD (de Joia de quota), conforme o mapa de pagamento em anexo. E de referir ainda que o Autor comegou a fazer o pagamento da casa em conflito muito antes da sua edificag4o/construgdo referentes aos servigos de limpeza do terreno e outros trabalhos preparatérios, ou seja, comegou a c pagar as quotas e s6 recebeu as chaves da casa em 2006, o que nao foi acordado. 8. Posteriormente, foi convocado a devolver as chaves, alegadamente, porque havia um problema técnico por acertar. Surpreendentemente, tomara conhecimento que a referida residéncia havia sido arrendada ao projects a. 9. O Autor, preocupado com a situag4o contactou 0 ent&o representante do projecto senhor André Justina de infeliz meméria, este por sua vez garantiu que da renda do imével uma parte seria para o Autor e outra para a amortizagdo da divida do pagamento do imével. 10. nfelizmente aps a morte do senhor André Justina, o seu sucessor ndo honrou © acordo, alegando que néo tinha encontrado qualquer acordo no arquivo. 11.0 Autor, soube que a directo da I'D no Soyo, arrendava 0 referido imével no valor aproximadamente de 6,000,00 USD (Seis Mil Délares Americanos) mensalmente, a partir do ano de 2010 0 que totaliza 6 (seis) anos de rendas cobradas numa casa que era objecto jd de registo a favor do Autor, conforme memorando de entendimento. 12.Portanto, (QED , beneficiou-se de rendas indevidas durante os 6 (seis) anos no valor de 432.000,00 USD (Quatrocentos e Trinta e Dois Mil Délares Americanos). 13. No ano de 2011 foi avisado pelo senhor QB que a partir de Janeiro de 2012 deveria comecar a amortizar a casa C3BK num valor de 470,00 USD (Mil e Setenta Délares Americanos) imével jé arrendado e que as rendas j4 se convertiam a favor do projecto. 44.0 Autor contrito pela violagdo do contrato solicitou, que fosse feita uma adenda de alteracéo do valor de 110,00 USD (Cento e Dez Délares Americanos) que correspondia a sua casa de contrato C3BK-037 para 3 \" esta nova proposta de 1.070,00 USD (Mil e Setenta Dolares Americanos) que poderia ser no prazo de 10 (dez) anos. 15.Por falta de esclarecimento por parte da direcgdo local, o A. em Agosto de 2014 contactou a direcgéo geral com o objective de entregar a sua casa conforme o memorando de entendimento. 16.Na Direcgéo-Geral do Projecto em Luanda, surpreendentemente, tomou conhecimento que a sua casa C3BK-037 que jé tinha sido paga por ele desde 2001-2041, foi trocada, arrendada e registada como propriedade do Projecto cajueiro. 17.Em sua defesa apresentou o memorando de entendimento, ficaram surpreendidos e confrontaram com os dados registados no sistema, verificou-se que efectivamente a direccdo local de forma dolosa havia trocado a sua casa jé paga C3BK-037 para uma outra casa néo acabada com 0 registo de 052, com as mesmas estruturas, mas em estado de inacabado. Instado 0 Sr, QE. por telefone pela directora geral das Finangas do projecto Cajueiro, confirmou que de facto haviam enganado 18.Para repor a legalidade, o Autor foi orientado para apresentar uma reclamag&o no dia 06 de Agosto de 2014 junto da direcodo geral (vide documento em anexo). Depois desta reclamacao n&o houve qualquer resposta por parte da direceao do projecto cajueiro. 19.No ano de 2016, tomou conhecimento que havia uma delegagdo da nova direcgéo do projecto que vinha com o objective de receber as casas abandonadas pelo projecto cajueiro, 0 Autor de imediato contactou os mesmos e foi convocada com uma nota de pagamento da regularizagao da divida no valor de 4960,00 USD (Quatro Mil e Novecentos e Cinquenta Délares Americanos) referentes 4 conta corrente de um periodo néo justificado (vide documento em anexo). preferiu voltar a pagar mais 4950,00 USD (Quatro Mil e Novecentos e Cinquenta Dolares Americanos) da casa jd arrendada a mais de 6 (seis) anos e ja amortizada tendo em atengéo 0 acordo feito com o entéo representante local QED (vide borderoux em anexo). 21.N&o obstante dos pagamentos jé feitos e do cumprimento de todas as” obrigagdes na qualidade de cooperante a Ré mantém o referido imével sob sua jurisdic&o, agindo assim de m&-fé e violando o memorando de entendimento. 22.Reitera-se que a Ré agiu de mé-fé ao praticar tal acto e tirar beneficios ilegitimos, porque o acto por ele praticado provocou lesdo de interesses de terceiro (cfr. Artigo 612° C.C). Entenda-se em direito processual, a ma-té traduz-se, em tltima anélise, na violagéo do dever de probidade, de integridade e de boa-fé, etc. 23. Ora 0 que se verificou por parte da Ré em sede de contrato de compra venda do imével, néo 6 nada mais sendo a inobservancia dos deveres de informagéo, esclarecimento, honestidade ¢ lealdade, porquanto, estes deveres so de observancia obrigatéria nos preliminares e na formagéo de qualquer contrato de compra e venda. Procedeu em contrario as regras de boafé, conforme o disposto nos artigos 227°, 405° e 406° todos do C.C, conjugados com o artigo 456° do Cédigo de Processo Civil, pois, a Ré, ao vender © imével, nenhum momento deu a entender que surgiram as complicag6es que hoje se verificam 24. Duvidas ndo restam de que o imével em causa é propriedade legitima do aqui Autor. Pelo facto de ter adquirido de boa-fé conforme elucida o memorando celebrado no dia 24 de Dezembro de 2006. 25.Assim sendo, a luz do 662° do C.C, a Ré tem a obrigagéo de reparar os danos que 0 seu acto produziu na vida do Autor. 26.0 A.e aR. tém personalidade judicidria e so na presente acco partes legitimas. Conelui pedindo a (fis. 8 4 10), que deve a presente acco ser liminarmente recebida, provada procedente e por via disso, condenar a R. a a) Reconhecer o direito de A; b) Condenar a Ré a devolver a Autora a residéncia C3BK-037, sita no municipio do Soyo no Projecto Cajueiro, Provincia do Zaire, Bairro Kinbumba; ¢) Condenar, ainda, a Ré a pagar uma indemnizagdo ao Autor no valor de 10.480.000,00 AKZ (Dez Milhdes Quatrocentos e Oitenta Mil Kwanzas); ) Condenar também a Ré a pagar os honordrios do advogado no valor de 3,000,000,00 AKZ (Trés Milhdes de Kwanzas); e) Devera, também, ser condenado no pagamento das custas e Procuradoria condigna. Juntou Procuragao e demais documentos a (fis. 11 a 23), Regularmente citada, a (fls.25) a Ré néo apresentou a sua contestacdo, sendo concedido posteriormente 8 dias para 0 mandatario do Autor apresentar as suas alegacées a (fis. 27). A (fis. 32 2 41) veio 0 Autor juntar as suas Alegagées. A (fis.105) os autos foram remetidos ao Ministério Publico que promoveu no sentido de se prosseguir com os ulteriores tramites, a (fls. 105(v), © Tribunal ‘a quo” proferiu Sentenga a (fls.107 a 114), julgou integraimente procedente porque provada a Acco, considerou valido 0 negécio juridico 08 pedidos formulados pelo Autor Inconformada com a decisdo, veio a Ré, Cooperativa Cajueiro dela interpér Recurso de Apelagao, com subida imediata nos proprios autos com efeito suspensivo a (fls. 122). Foi junto aos autos o documento a (fis. 130), pedindo a confianga do processo. O Tribunal “a quo” remeteu os Autos para esta Instancia (fls.131). Notificado da admissdo de Recurso a (fis. 123), 0 Autor/Apelado juntou aos autos as suas Contra-Alegagbes a (fis.146 a 154), pedindo que sejam consideradas procedentes € consequentemente requereu, @ manutengéo da decis4o proferida pelo Douto Tribunal “a quo" a condenagao da Ré/Apelante de todos os pedidos formulados. Foram juntos aos autos, documentos a (fls. 155 a 168); Tratam-se de Doc. que provam o pagamento alegado pelo ora Apelado. Notificada do despacho a (fis. 139 v), a Ré/Apelante, veio juntar aos autos as suas Alegag6es a (fls.169 a 172 e verso), com as seguintes conclusées: a) O Tribunal “a quo” violou, flagrantemente, 0 disposto na alinea b) do artigo 485° do CPC, por se tratar o R., ora Apelante, de uma pessoa colectiva, bem como os artigos 508.°, 510.°, 512.°, e 523.° também do crc; b) Na hipdtese de, ao arrepio das disposigées acima citadas, se considerar valido o efeito cominatorio decretado pelo Tribunal "a quo”, este violou a norma do n.° 2 do artigo 484° do CPC, nao tendo a Apelante sido notificada para apresentar alegacées escritas; ©) As referidas omiss6es configuram nulidades processuais nos termos do 1n°1 do art? 201° do CPC, tomando nulo todo 0 processado posterior as mesmas, incluindo a sentenga recorrida; d) Para a transmissao de propriedade sobre bens iméveis & obrigatéria a celebrag&o de contrato de compra e venda por escritura publica, nos termos dos artigos 874°, 875° do Cédigo Civil; ) O memorando de entendimento celebrado por escrito particular entre Apelante e Apelada somente obrigava as partes a eventual celebracéo de um contrato-promessa, cuja materializagéo estava dependente dos Estatutos e Regulamentos da Apelante, nomeadamente do pagamento das quotas por parte do Apelante; f) Assim, 0 memorando de entendimento nao revestia nem a forma legalmente obrigatéria para o efeito pretendido pelo Apelado, nem este efeito vinha previsto no memorando assinado; 9) A colebragéo do contrato-promessa previsto pelo memorando néo ocorreu, pois, o apelado no cumpriu as suas obrigagées em violagdo ao principio da pontualidade previsto pelo n.° 1 do artigo 406° do Cédigo Civil; h) Face a forma legalmente exigivel, ao contetido do memorando de entendimento e ao incumprimento confesso do Apelado, foram violadas as normas dos artigos 874.°, 875.° 406°, 428.°, e 473.° do Civil; i) N&o foram carreados ou provados os elementos da responsabilidade civil previstos pela norma do artigo 483° do Codigo Civil, inexistente mesmo, nos termos da alinea c) do n.° 1 do artigo 467°? alinea a) don. 2 do artigo 193.° e n° 4 do artigo 498.°, ambos do CPC, causa de pedir para a indemnizago solicitada pelo Apelado; j) Os honorarios cobrados devem ser considerados excessivos, segundo os critérios do artigo 53.° dos Estatutos da Ordem dos Advogados de Angola. A Ré pediu substabelecimento a (fls.178). O MPP® junto desta Instancia emitiu o seguinte Parecer, a (fis. 180 a 181): me ‘we “O presente Recurso consubstancia o inconformismo do Apelante, face a apreciagao do Tribunal “a quo”. O Apelado é sécio da Sociedade Cooperativa, designada Projecto Cajueiro e com base nisso habilitou-se a compra de uma moradia do tipo C3BK. Cumpridas todas as formalidades e obrigagdes incluindo © total do pagamento, o Apelante-Réu recusa-se a entregar respectivo imével. Em fungao dessa situago veio o Apelado-Autor interpor a Acg4o Declarativa de Condenagao, requerendo em termos gerais, a entrega do imével, bem como numa indemnizagao. Citado, 0 Apelado no contestou, nao juntou procuragao forense, nem requereu a jungéo de documentos. Na sequéncia dessa ndo intervengo, considerou 0 juiz confessados os factos, articulados pelo Autor na sua petig&o. ial, nos termos do n° do art. 484° do cPc Notificado da Sentenga veio interpér o presente Recurso. E ponto assente que se o juiz apurar que a citagdo foi efectuada em conformidade com o formalismo legal eo Réu néo contestar nem intervier de qualquer forma no processo, serd manifesta a situagdo de revelia daquele (art 484° do CPC). Mas quando o Réu ou algum dos Réus for uma pessoa colectiva é inaplicavel a revelia, conforme disp6e 0 art. 485° do CPC. A norma em causa acautela os interesses daqueles que no estao em condigées de, por si s6, manifestarem a sua vontade, apenas o podendo fazer por intermédio dos que, legalmente os podem substituir na manifestacdo dessa vontade. Por fim, cumpre concluir, que nao poderao ser considerados como confessados os factos alegados pelo Autor, razéo pela qual, no pode a decisdo de mérito 9 recorrida ser mantida, termos em que se promove, conceder provimento a Apelaco. Aos vistos legais a (fis. 187 ¢, 187 verso). Tudo cumpre a apreciar e decidir. y | y i) OBJECTO DE RECURSO Sendo 0 Ambito e objecto do Recurso delimitados para além das meras razées de direito e das questtes de conhecimento oficioso, pelas conclusées formuladas pelas partes (n.° 2 do art.° 660.°; 664, n.° 3 do art. 684°; en? 1 en® 3 do art. 691°, todos do CPC) emergem como questées a saber: 4. 0 Tribunal “a quo”, violou ou nao o disposto na alinea b) do artigo 485.° conjuntamente com os artigos 508.°, 510.°, 512.° e 523.° todos do CPC? 2. O Tribunal “ a quo” violou ou nao a norma do n.° 2 do artigo 484,° do CPC? 3. E ou nao nula a Sentenga, por considerar provado e valido o negécio juridico celebrado entre as partes, reafirmando aqui os jos formulados pelo Autor ora Apelado? ) FUNDAMENTAGAQ Da decisao recorrida, resultam provados os seguintes factos: A) O autor 6 sécio da Cooperativa Projecto Cajueiro desde 20 de Novembro de 2000, sob inscrigdo n.° 1980. 10 oe B) O autor habilitou-se na aquisigao de uma residéncia do tipo C3BK $s orgado no valor de USD 140.436,00. / Sar C) © autor foi efectuando o pagamento das contribuigdes devidas ao projecto mesmo antes da construgéo das residéncias, tendo recebido as chaves do imével em 2006. D) Voivido algum tempo, foi convocado a fazer devolugéo das chaves por © alegadamente existir algum problema técnico e dai jé no voltou a reaver as chaves tampouco o imével. E) O imovel adjudicado ao A. a R. arrendou a um terceiro (Projecto Angola LNG) @ passou a receber rendas do imével mesmo ao arrepio do memorando de fis. 13 dos autos. F) AR. recebia mensalmente na renda do imével o valor de USD 6.000,00. G) A R. comprometeu-se para nos seis meses seguintes a celebragao do contrato de arrendamento com 0 Projecto Angola LNG, as rendas revertiam ao A. e nunca honrou. H) O periodo da renda referida em g) a R beneficiou-se do valor em USD. 432.000,00. 1) Em Agosto de 2014 a R. a partir da sua direcodo geral em Luanda confirmou que o A. j4 tinha pago a totalidade do valor referente ao imével desde 0 periodo de 2001 a 2011, tendo sido trocada arrenda e registada como propriedade do Projecto Cajueiro. J) AR, reconheceu que de forma dolosa havia trocado a casa atribuida ao ‘A. com uma outra inacabada através do registo n° 052. APRECIANDO, a Passando a apreciagao das questées objecto do presente recurso, importa verificarmos 0 seguinte: 4. © Tribunal “a quo”, violou ou nao o disposto na alinea b) do artigo 485.° conjuntamente com os artigos 508.°, 510.°, 512.° e 523.° todos do CPC? Alega a Ré/Apelante, que o Tribunal "a quo” na sua fundamentagdo de facto da Sentenga recorrida, deu como provado, por confissao os factos articulados na PI por no ter a Ré contestado a Acco, nos termos do n.° 4 do artigo 484.° do crc Afirma que a aludida norma estabelece a confissao como efeito cominatorio da revelia do Réu que tenha sido citado, contudo, determina a alinea b) do artigo 485.° do CPC, que nao se aplicam os efeitos referidos acima quando o Réu for uma pessoa colectiva, como é efectivamente a Ré/Apelante Alega, ainda, que por ndo se ter seguido os trémites legais, néo se permitiu que a Apelante fizesse 0 uso do n.° 2 do artigo 253° do CPC, para apresentar elementos que seriam essenciais para que a decisdo, ora recorrida, fosse realmente justa Acrescenta, ainda, que conforme se demonstraré, os autos continham elementos suficientes para inviabilizar as pretensées do Apelado, que o Tribunal “a quo” ao proceder como procedeu, néo se permitiu munir de elementos que so necessérios a deciso que tomou, Assistiré razéo Apelante? Vejamos, Entende-se que 0 Réu néo contesta quando n&o o faz dentro do prazo devido, seja porque omite em absoluto esse acto, seja porque o pratica fora do prazo. 12 =} Portanto, hé revelia tanto em resultado da inexisténcia de contestagdo, como em resultado de contestagao intempestiva. A revelia diz-se relativa quando, dentro do prazo da contestagao, 0 réu, néo contestando, intervém de outro modo no processo, nem que seja apenas para constituir, por procurag&o, mandatério judicial, escolher domicilio para notificago ou apresentar um documento que no possa valer como contestag&o. Neste caso, embora 0 efeito cominatério se venha a verificar, néo 6 necesséria, evidentemente, a constatacéo da regularidade da cita¢éo, por estar demonstrado que o demandado teve conhecimento da pendéncia da causa, Se porventura. o réu tiver tid uma interveng&o no processo anterior & citago irregularmente feita, a revelia néo deixa de ser absoluta. (Cfr. José Lebre de Freitas e Isabel Alexandre in Codigo de Processo Civil Anotado, Vol. 11 4* edig&o, Capitulo Il, pags. 530 e 531). Segundo 0 n° 1 do artigo 484°° do CPC, “consideram-se confessados” os factos alegados pelo autor. Trata-se, portanto, de prova (os factos ficam provados em consequéncia do siléncio do réu) e, aparentemente, duma ficg&o (ficciona-se uma confiss4o inexistente, equiparando os efeito do siléncio do réu aos da confisséo, de que tratam ao artigos 352.° CC e ss); de facto fala-se tradicionalmente de confisso ficta (fica confessio) para designar o efeito probatério extraido do siléncio da parte sobre a realidade de um facto alegado pela parte contraria (por todos, mas preferindo a denominag&o confiss4o presumida: VARELA-BEZERRA-NORA, Manual cit, Pag. 543 a 545), seja mediante a pura omiss&o de contestar, seja mediante a ndio impugnagao desse facto, em contestagdo ou outro articulado apresentado. Feita a citagdo do réu, espera-se a contestagéo a mesma. Ndo tendo a Ré contestado dentro do prazo legal de 20 dias, e atendendo ao facto de ser um prazo peremptério, nos termos do artigo 145.° do CPC, conjugado com 0 n.° 1 do artigo 486.° também do CPC, por esta raz&o o Tribunal “a quo” a fis. 131 dos autos, em despacho notificou a Ré, para no prazo de oito dias apresentar as suas alegagdes, nos termos do art.° 484, n.°2. 13, Na revelia absoluta, o Réu ndo dé qualquer sinal de si no processo. Refere a este respeito 0 artigo 483° do Cédigo de Processo Civil: "Se 0 réu, além de néo deduzir qualquer oposi¢ao, nao constituir mandatério nem intervier de qualquer forma no proceso, 0 tribunal verifica se a citag&o foi feita com as formalidades legais e ordena a sua repetigéo quando encontre irregularidades." Ja na revelia relativa, embora no conteste, o Réu intervém de qualquer outra forma no proceso, confirmado 0 seu conhecimento da citagao Relativamente aos efeitos, a revelia sera operante ou inoperante, A regra 6 a revelia operante, segundo a qual se néo houver contestagao "consideram-se confessados 0s factos articulados pelo autor," diz-nos o artigo 484° n.° 1 Mas isto n&o acontece no caso de revelia inoperante, prevista para os seguintes casos, enumerados no artigo 485° : a) “Quando, havendo varios réus, impugnar; b) Quando 0 réu ou algum dos réus for uma pessoa colectiva, ou for um incapaz e a causa estiver no ambito da incapacidade; c) Quando a vontade das partes for ineficaz para produzir 0 efeito juridico que pela accdo se pretende obter; d) Quando se trate de factos para cuja prova se exija documento escrito." im deles contestar, relativamente aos factos que o contestante Ora no caso sub judice, a Ré, diz n&o se aplicarem os efeitos referidos no artigo 484.° do CPC por tratar-se de pessoa colectiva, conforme estatui a alinea b) do artigo 485.° do CPC. Analisemos, Com a Revis&io de 1967 do CPC de 1961, ocorreram adaptagées ao artigo 485. do CPC. Assim na alinea b) substitui-se a expresséo pessoa moral (entretanto eliminada da lei civil) por pessoa colectiva que permitiria concluir erradamente, que o legislador passara a querer proteger todas as pessoas colectivas, quando, afinal, continuavam apenas a ser alvo da proteccéio as Pessoas colectivas de direito publico e as pessoas colectivas de direito privado sem fim lucrativo (associagSes e fundagdes), mantendo-se, pois, de fora da 14 previséo da excep¢ao as pessoas colectivas com fim lucrativo (sociedades). Cfr. José Lebre de Freitas ¢ Isabel Alexandre in Cédigo de Processo Civil Anotado, Vol. II 4° edig&o, Capitulo II, pag. 539). Atentos aos autos, verifica-se que a Ré, 6 uma Sociedade cooperativa de Responsabilidade Limitada designada conc Ora, pe A Sociedade QED 6, de acordo com os seus Estatutos uma Sociedade anénima (...) sem fins lucrativos cujo objecto social é a construgao , reparacao até a entrega ao cooperador e aquisicéo exclusiva para os seus associados (...), (vide Didrio da Republica a (fis. 173(v) e 174) dos Autos. Aqui chegados temos que a Revelia estabelecida pelo art. 484° do CPC, nao ‘se opera — ou seja nao se consideram confessados os factos articulados na PI, isto nos termos da al. b) do art. 484° do CPC. Vide, ainda, os artigos 157° do ce. Nos termos dos Estatutcs (C/E, tom competéncia para representa-a em juizo © Director Geral, isto nos termos da al. m) do art. 43° dos Estatuto (vide DR. III série publicado no dia 14 de Fevereiro de 2015). Contudo, resulta da lei (Cédigo Processo Civil) que, ndo operando a revelia nos casos previsto na al. b) do art. 0 art. 485° do CPC — 0 Tribunal “a quo’ tinha © dever legalmente, previsto para dar continuidade aos actos processuais nos termos do art. 510° e, nos precisos termos, instruir 0 proceso, tal como dispoe © artigo 513° © seguintes do CPC. Tendo 0 Tribunal “a quo” ao decidir como decidiu nos termos do artigo 484° do CPC, violou o disposto pelo artigo 201° por acgéio e omissao ou seja praticou um acto processual que a lei nao admite ( in casu, considerou confessados os factos articulados na Pl, nos termos do artigo 484° quando a al. b) do art. 485°, ambos do CPC impée que “tratando-se de uma pessoa colectiva a revelia inoperante; por outro lado omitiu a prética de actos que constitui uma formalidade que influiu na decisdo da causa, isto nos termos do 201° do CPC 15, A consequéncia imediata e directa dessa violagdo é a nulidade da Deciséo e, de tudo 0 que se processou a partir do acto despacho proferido, a (fis. 27) nos termos do art. 201° e, 203° do CPC para que 0 Tribunal “a quo" dé continuidade a0 procedimento legalmente previsto. Mal andou o Tribunal “a quo” ao decidir como decidiu. IV) DECISAO 16

Você também pode gostar