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Os dias se passavam como vento.

O tempo não parava de contar os tic-tac's daquele relógio barulhento


que estava crucificado em frente a porta principal da casa, bem à vista de quem entrava e saia daquela
casa. De todas as bugigangas ali penduradas, aquele objecto circular com vidros já a cor de fumo
ostentava a patente mais alta pois foi promovido por diuturnidade, distinção e mérito. Era o único
objecto que anunciara e vira nascer o filho primogénito da daquela família.

Com o passar do tempo, aproximava-se mais uma época chuvosa. Mais um período para enclinar as
colunas e, com uma enxada a cabo curto, fazer brotar da terra todas os provisões para a sobrevivência e
manutenção da espécie em especial daquela família.

Mas zonas rurais é sempre assim. O tempo nunca foi de todo tão favoral a população. Chega a chuva, as
pessoas sofrem pco abertura de campos agrícolas. Primeiro acordam as mulheres pela madrugada.
Preparam alguma coisa para que o marido possa comer e encher o basso antes de partir à machamba.
De seguida reserva o resto para que possa ser consumido na hora que se recupera o fôlego enquanto se
para de desferir golpes a terra por um curto período de tempo. Por sua vez, volta aos aposentos com
toda subtileza para acordar o marido e tomar a pequena refeição a moda africana. Só depois do Marisa
manter o estômago formidável, um vai para o quarto dos meninos enquanto outro segue para o quarto
das meninas em idade de desabrochar o peito e saem todos para os campos se de cultivo.

A poeira causada pelo desferir da mãe Terra sobe formando uma torre infinita no alto. No horisente
vêm-se pessoas de todos os tamanhos. São os camponeses de todas idades. Velhos, adultos, jovens e
crianças. Senheras com crianças nas costas. As jovens de meia idade levam lenços coloridos na cabeças
cobrindo as suas cabeças que trazem cabelos ora indianos, ora brasileiros e, na maioria dos casos,
naturais. As mais desfavorecidas nem seguer conhecem o preço do cabelo importado e continuam
transando o seu próprio que, as vezes, atinge a cor do sol na hora de se pôr.

As crianças choram porque as mães já não conseguem assumir a dupla função de capinar a terra e
amamentá-las. Choram por causa da fome. Choram por causa da poeira que intupi os seus narizitos.
Choram porque estão no colo. Choram porque são tiradas do colo. Choram por causa do sol ardente.
Choram quando as mães se aproximam delas, quando se destanciam também. Como não chorar se é a
única forma de comunicação que Deus deu ao ser humano nos seus primeiros anos de vida? Se mesmo
no parto quando não se ouve o vagido, o médico dá um tapa ao recém-nascido mesmo sem
consentimento da parturiente como jeito de forçar a comunicação!

Às raparigas com menos de Dez anos de idade cabe-lhe a função de babá. Sentadas de baixo de uma
árvore cantam canções de embalar tentando acalmar os seus irmãos e sobrinhos que choram
incessantemente.

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