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Contextos e definições:

A professora começa contextualizando o que é economia e ela deu uma definição muito
interessante: A economia, enquanto ciência, é o estudo da gestão de recursos escassos,
finitos, por parte de uma sociedade. Essa definição implica que não se contabiliza o que é
infinito (ou o que se considera como infinito), como recursos naturais e o equilíbrio dos
ecossistemas. Só que, na verdade, esses recursos são finitos, só são muito difíceis de
mensurar.

A atividade econômica, por sua vez, é a transformação de materiais, energia e trabalho em


bens e serviços. Nosso atual modelo econômico é baseado na axioma e que somos seres
racionais, autointeressados e motivados por incentivos, e se propõe a estudar a tensão entre
recursos finitos e necessidades humanas infinitas e insaciáveis. Outro axioma, é que
necessidade humana suprida corresponde ao gozo a vida, da felicidade, que nos leva a outro
axioma, o utilitarismo, que propõe que busquemos garantir a máxima felicidade possível ao
maior número de indivíduos.

A ideia a economia compartilhada é, ao contrário da tragédia dos comuns, é possível criar


valor a partir a coletividade (wikipédia), pois todos tem interesse no que é comum. O ato de
compartilhamento não é novo, está na essência humana de qualquer cultura – o conceito de
“economia compartilhada” veio da possibilidade de escala que a tecnologia permite (como
meio), mas possui um aspecto central da confiança entre as pessoas. O papel da tecnologia,
então, não é só no alcance da oferta de bens ociosos de algumas pessoas e do interesse de
outras, mas também no alcance da vida das pessoas, onde se torna possível traçar um perfil
de confiabilidade entre estranhos.

"A economia compartilhada é um modelo ponto a ponto facilitado por TI para


compartilhamento comercial ou não comercial de bens subutilizados e capacidade de serviço
por meio de um intermediário sem transferência de propriedade."

“Um sistema socioeconômico que permite um conjunto de trocas intermediadas de bens e


serviços entre indivíduos e organizações, que visam aumentar a eficiência e otimização de
recursos subutilizados na sociedade.”

É preciso rever tudo o que está arraigado na cultura e que pode ser compartilhado, revendo o
modelo de posse de bens quando é possível.
Economia tradicional Economia colaborativa
O próprio mercado
se baseia em criar
Se há vários carros
escassez pra poder
parados nas
vender – edições Escassez Abundância
garagens, pq eu não
limitadas, vagas
posso usar?
limitadas,
exclusividade
500 pessoas no chão
de fábrica, 40
coordenadores, 10 Todos podem falar
diretores, 1 Organização com todos e todos
Organização em rede
presidente – Uma Hierárquica podem tomar
hierarquia quase liderença.
sempre impossível
de subir
Código proprietário Competição Colaboração Open source

Até a revolução industrial (era agrícola, até 1780), não existiam corporações (pessoas
trabalhando dentro de hierarquias), as pessoas trabalhavam com algo e faziam algo –
carpinteiro, pintor, sapateiro. Os trabalhos eram pessoais e representavam o todo (no máximo
alguém trabalhava com um assistente ou aprendiz). Se você ia viajar, você tinha que se
hospedar na casa de alguém, pois não existiam hotéis.

Na era industrial, começou o sistema de empresas, onde pessoas fazem um trabalho parcial e
trabalham sobre fortes hierarquias. No início do século XX, quase metade dos norte-americano
eram independentes, enquanto, em 1960, apenas 10% dos norte-americanos eram
independentes.

Algumas circunstâncias, atreladas pela professora às guerras, levaram o hiperconsumo, como


o incentivo ao emprego e à atividade econômica pelos governos às fábricas, para fazer “girar a
economia”. Assim se incentivou muito a individualidade. Consumimos muito, compramos
muitas coisas (muitas das quais nem utilizamos), que acabam virando lixo (seja pela
obsolescência, seja pelo simples inuso). Nesse contexto, colocamos uma pressão absurda em
cima dos sistemas naturais para conseguir prover mais materiais, ao passo que absorve os
resíduos que geramos. Aqui, se estimula a atividade econômica por meio da posse.
Na era digital, nós estamos vendo uma certa volta ao sistema independente – o que não é uma
novidade. A conectividade ainda permite uma escala e alcance bem grandes, acesso as pessoas
e, também, exprimem uma necessidade maior de conexão de pessoas com pessoas. Outros
motivadores é, também, pela perda de fé no sistema econômico/político atual, pelas gerações
mais novas. Aqui, a ideia é estimular a atividade econômica por meio do acesso a
funcionalidade, compartilhamento.

 Propulsores da economia tradicional (hiperconsumo): O tratado do decrescimento


sereno explica cada um desses fatores 20x melhor que a aula.
o Poder de persuasão - Propaganda
o Crédito
o Lei dos ciclos de vida – Obsolescência programada
o Fator “só mais um”
 Propulsores da economia compartilhada:
o Busca pela socialização
o Globalização e inovações tecnológicas
o Consciência Ambiental
o Estímulos Financeiros – o assento de um avião vazio é um desperdício
irrecuperável, um carro parado alugado é benefício econômico para os dois
lados.

Categorias da economia compartilhada:

 Sistemas de compartilhamento de produto/serviço – Aribnb


 Redistribuição de produtos – Ebay
 Estilo de vida Colaborativo – Gente que troca tempo, escambo online, hortas
colaborativas. Hoje existem plataformas onde se pode trocar serviços online, por
exemplo: Eu sei espanhol e posso dar aulas em troca de créditos, e usar esses créditos
para aprender a tocar um instrumento, com outra pessoa, em troca dos créditos que
eu ganhei.

Bases da economia compartilhada:

 Massa crítica – É importante pq sem gente o suficiente, não há compartilhamento.


Precisa ter variedade, disponibilidade, e economia compartilhada é muito dependente
de sistema de recomendação, reputação e avalição – Existem os early adopters, que
vão estar ali pela causa, e eles serão extremamente importantes, pois são uma prova
social o negócio. Mas, a maior parte das pessoas não confiam no sistema até ter mais
pessoas usando ara poder adotá-lo também. Outro quesito é possibilidade de escolha,
Ebay funciona pq tem coisa pra todo mundo.
 Capacidade ociosa – Não há compartilhamento sem ociosidade. Nos EUA, um carro
passa em média 22h por dia na garagem. Também nos EUA, uma furadeira é utilizada,
em média, 30 minutos, durante toda sua vida útil. Sendo, que, na realidade, você
nunca quis uma furadeira, você quer um furo. Ao fazer essa transição da venda do
produto para o fornecimento da solução, as empresas produtoras ainda tem um
incentivo muito grande na maximização do uso daqueles bens e na recuperação deles,
uma vez que deem problema, em vez do descarte. Para ser de interesse primeiro que
os bens durem e durem muito mais, para que passem mais tempo fazendo os serviços.
o Um ótimo uso para internet é o compartilhamento instantâneo do excesso de
capacidade entre muitas pessoas.
 Crença no Bem comum – A internet tem ajudado muito com isso, Creative comuns,
Open source e outras coisas...
 Confiança entre estranhos – “A confiança é o segredo, é o que move qualquer ato de
compartilhamento”. Aí que entra a moderação e os sistemas de recomendação e
reputação. Pra isso precisam de mecanismos de regulação e autogerencimanto.
o Confiança na tecnologia – Existe, hoje, o começo de uma desconfiança na
própria tecnologia. Quando as plataformas começaram, não existia uma
grande desconfiança no que a tecnologia

Conceitos que se intercalam ou sobrepõe com Economia Colaborativa:

 Economia Participativa
o Se assemelha bastante a economia solidária.
 Economia Gig
o Gig é “bico”, trabalho pontual informal. O foco aqui é na relação de trabalho
entre o “““empregador””” e o empregado.
 Economia de pares
o P2P (peer to peer)
 Economia de acesso
o Netflix, Adobe. Não é tão “compartilhamento assim”, mas é um tipo de
economia onde se saiu da lógica de posse de algo (filme ou um programa),
para o acesso àquilo, como serviço.
 Consumo colaborativo

Tipos de economia compartilhada (ainda não existe um consenso fechado na literatura):

 Empreendimentos sem fins lucrativos


o Peer-to peer (sem intermediários ou com intermediários indiretos)
 Ex.: Bancos de tempo (só se troca tempo. 1 hora vale uma 1 hora, de
qualquer tipo de serviço).
o Business-to-peer (com intermediário)
 Ex.: tem uma empresa que pega a comida que sobra nos restaurantes
e faz a distribuição para pessoas humildes.
o Government-to-per
 Ex.: governo que compartilha dados entre sistemas de lojas para
controlar o consumo de bebidas alcóolicas para combater a epidemia
de alcoolismo.
 Empreendimentos com fins lucrativos
o Peer-to peer
 Uber, Airbnb
o Business-to-peer
o Government-to-per

Problemas a serem resolvidos:

Como não houve uma mudança significativa de cultura de forma antecipada, a lógica inicial de
compartilhar um bem ocioso, para reduzir o impacto ambiental, foi deturpada pela lógica de
ganho de capital para que outras pessoas compraram novos bens para compartilhar, o que
gerou ainda mais consumo. Airbnb veio para compartilhar quartos ociosos na casa das
pessoas, mas donos com capital adquiriram novos imóveis para alugar. Outro exemplo é as
relações de trabalho exploradoras que Ifood e Uber tem com seus prestadores de serviço.

Dessa forma, a premissa inicial da economia compartilhada se tornou um pouco utópica, e seu
discurso está sendo capturado pelas grandes corporações para perpetuar a economia atual.

Uma forma de, talvez, resolver esses problemas, seria o conceito de “cooperativismo de
plataforma”, que distribui o lucro gerado de forma equitativa. Ex.: Fairbnb, funciona com o
airbnb, mas quando se loca algo por lá, metade do valor que fica com a plataforma vai para um
projeto social que a pessoa que está locando, escolhe. E quando se está na cidade, você é
convidado a conhecer o projeto que escolheu ajudar.

Tendências:

 Conexão entre pessoas


o A tendência de uso de redes sociais, trabalho remoto e afins, a tendência é
que essa conexão se torne maior e mais profunda com o tempo.
 Engajamento
o A conexão entre os consumidores e as empresas nas redes, com as respostas,
se gera uma comunicação e, por consequência, confiança.
 Distanciamento da posse
o Existe uma tendência de ser ter menos – por enquanto é mais tendência
futura que algo que já se enxerga hoje.
 Inteligência artificial
o Pode trazer um aumento de confiança, com fiscalizações dentro das
plataformas.

Cenários:

 Monopólio quase completo (distopia de controle)


o Empresas e plataformas se tornam tão grandes que destroem concorrências e
conseguem migrar pra outros mercados de forma tão massiva que criam
hipercorporações. Ex.: Amazon entrando no mercado de seguros – com os
dados de consumo, localização e hábitos coletados pela Alexa, aplicativos nos
celulares e o consumo dentro da loja da amazon mesmo, terão todos os teus
dados e vão saber como vender seguros de vida pra ti, de forma a maximizar
os lucros da própria amazon.
Mapa da economia compartilhada:

Fonte: Versão 3.0 - JEREMIAH OWYANG

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