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TRATAMENTOS PODEM DAR MAIOR

AUTONOMIA A PESSOAS COM AUTISMO

Doutor Dráuzio Varella mostra principais métodos de tratamento e que uma


ajuda bem direcionada pode melhorar a vida de todos ao redor.
Como lidar com os sintomas mais graves, como a agressividade de pessoas com
autismo? Essa é uma preocupação comum a muitas famílias que convivem com
esse transtorno. E, principalmente: é possível dar um mínimo de autonomia a
essas crianças? O doutor Drauzio Varella mostra que autismo tem tratamento.

Dependência dos pais


No dia em que Hyandra, a caçula da família, completou 9 anos, os pais, Kelly e
Silvio, prepararam a casa para a festa.
O entra e sai de pessoas perturba o irmão mais velho de Hyandra. Idryss, de 15
anos, tem uma forma grave de autismo.
saiba mais
 Autismo se instala nos 3 primeiros anos de vida; conheça possíveis
sinais do transtorno
 Especialistas afirmam que existe 1 pessoa com autismo para cada
100

Idryss não fala. Com frequência, morde a mão e a gola da camiseta,


comportamento repetitivo que piora quando ele fica nervoso. Mudanças na
rotina podem ser desagradáveis para pessoas com autismo. Por mais que o pai
tente, Idryss não se acalma. O menino exige atenção constante.
Nos primeiros meses de vida, o desenvolvimento de Idryss foi igual ao dos
outros bebês. O drama da família também atinge a filha mais nova. Hyandra não
tem autismo, mas sofre com a falta de atenção dos pais.
Algumas manifestações do autismo exigem tanta atenção que levam a família ao
desespero. Todos passam a viver em função da criança, em tempo integral.
Família nenhuma está preparada para enfrentar um problema dessa gravidade
sem receber orientação especializada.

No terceiro episódio da série, o Doutor Drauzio Varella fala dos principais


métodos de tratamento do autismo. E como é possível tornar o mundo mais
acessível a eles.
O autismo modificou radicalmente a rotina da família de Kevin.  Reginaldo, o pai,
chegou a trocar de emprego para ficar mais tempo perto do filho.
Ele comprou um carro e começou a fazer anúncios pelas ruas do bairro. A mãe,
Vera, vai o tempo todo atrás, tomando conta do menino.
Os pais não veem outra solução a não ser satisfazer as vontades de Kevin. É o
que acontece também quando eles permitem que o menino tome banho toda
hora. Será que essa é a melhor maneira de lidar com os comportamentos
repetitivos, comuns no autismo? 
“Quando eu percebo que, quando eu me bato, me mordo, bato a cabeça na
parede, pai e mãe imediatamente deixam de fazer o que fazem para me
socorrer, eu tenho a chave para ele, eu estou dizendo: ‘quando você quiser
minha atenção, basta se machucar’. E, como qualquer um de nós, você também
repetiria incessantemente a mesma coisa que te traz uma recompensa. Estar
abraçado ou contido pelos pais pode ser uma recompensa e eu acredito que ele
esteja fazendo isso a todo momento”, explica o doutor Salomão Schwartzman.
Como a família do Kevin, os pais de Idryss mudaram de vida em função do filho.
Eles passaram a trabalhar em casa. Kelly instalou uma máquina de costura em
um canto da sala. Ela faz toalhas de mesa que o marido, Sílvio, vende.
Idryss não desgruda do pai. Cuidar de uma criança com autismo pode ser uma
carga imensa. Em certos casos, o transtorno impõe tantas limitações que um
simples passeio no parque se mostra impraticável. Esse dia a dia às vezes se
torna sufocante.
“Você já passa a tomar atitudes superprotetoras, você começa a, sem querer,
entrar na doença do filho. Eu diria que algumas famílias com filhos com autismo
ou alguma outra condição crônica, acabam também se tornando autistas, porque
passam a viver em função daquela condição e não aprendem a forma correta de
você tentar evitar os comportamentos inadequados, inserir essa criança no
mundo, na medida do possível”, avalia Schwartzman.
Como as alterações que levam ao autismo ainda são mal conhecidas e o
transtorno é incurável, existe um número muito grande de tratamentos que
prometem bons resultados. Muitas dessas terapias não têm comprovação
científica.
Glúten
Crianças com autismo às vezes são extremamente seletivas para se alimentar.
Chegam a limitar o cardápio a apenas um tipo de comida. É mais uma atitude que
a terapia comportamental tenta desestimular. Muitas famílias acreditam que
cortar o glúten da dieta dos filhos alivia os sintomas do transtorno. Glúten é a
proteína encontrada em cereais como trigo, cevada, centeio e aveia.
Na casa do Renato, sempre há duas opções de refeição. Ele e os dois filhos com
autismo não comem nada com glúten.
Os especialistas argumentam que não há comprovação científica de que o glúten
tenha influência nos quadros de autismo.
Tratamentos
Em São Paulo, a AMA, Associação de Amigos do Autista, oferece tratamento
gratuito, em convênio com o governo estadual, para pessoas com o transtorno.
Na AMA, as crianças realizam uma lista de atividades organizadas em painéis. É
o método "Teacch".  O objetivo é dar um mínimo de independência, ensinando as
tarefas simples do dia a dia.
Os alunos aprendem a arrumar a cama, escovar os dentes, amarrar os sapatos.
A cada acerto, a criança pode fazer algo que goste.
Os pais de Idryss contam que ele melhorou bastante com a terapia
comportamental.
Outro exemplo de aprendizado que ajuda a melhorar a comunicação é o método
PECS. As crianças juntam cartões para formar frases.
Lucas é uma das crianças atendidas pela AMA. Ele tem um tipo mais brando de
autismo, diferente dos casos de Kevin e Idryss. Até recentemente, essa forma
do transtorno era conhecida como síndrome de Asperger.
Os portadores de Asperger não apresentam deficiências intelectuais graves.
Eles são capazes de se expressar, muitas vezes com uma linguagem formal,
rebuscada, e geralmente têm um talento direcionado para uma área específica.
Este ano, os médicos abandonaram essa denominação. Agora, a síndrome de
Asperger é considerada apenas mais uma manifestação do espectro do autismo.
Depois de receber o diagnóstico de autismo, a família levou Kevin para a AMA.
Kevin passou por uma avaliação. Apesar do diagnóstico tardio, a terapia
comportamental ainda pode ajudar o menino.
Mas, infelizmente, Kevin vai ter que esperar. A AMA está sobrecarregada. As
oportunidades de tratamento gratuito não estão ao alcance da maioria das
famílias Brasil afora. 
“É um dos principais problemas de saúde pública da infância. Se você imaginar
que 1% da população tem isto, você necessita de uma estrutura extremamente
complexa e abrangente. E escute, eu tô falando de São Paulo, Drauzio. Você sai
daqui e vai aí para Norte e Nordeste, você não encontra nada em algumas
cidades”, destaca Schwartzman.
É obrigação do Estado atender às pessoas com autismo. Desde 2012, uma lei
determina que o transtorno receba o mesmo atendimento destinado a outros
tipos de deficiência mental.
As famílias que têm crianças com autismo devem procurar os CAPS, Centros de
Atenção Psicossocial. Mas eles não estão presentes em grande parte dos
municípios brasileiros.
Lucas
E aí a pergunta é: faz o diagnóstico, levanta uma ansiedade brutal, e você não
tem como atender essas pessoas? Nesses casos, o desenvolvimento das
crianças depende exclusivamente da dedicação das famílias. Dedicação como a
de Paula, mãe de Lucas, que criou uma cartilha para que ele se acostume com o
que vai encontrar fora de casa.
Lucas já aprendeu a andar sozinho na rua. Ele entendeu que não pode
atravessar a rua quando o sinal estiver aberto para os carros. Mesmo com a rua
livre, Lucas espera pacientemente.
Agora, a mãe, Paula, está ensinando o filho a andar de ônibus sozinho e a manter
a calma quando ela não está por perto. Paula mostra pontos de referência para
que Lucas não perca o ponto de parada.
Ele aprendeu no computador e nas viagens com a mãe quais são os pontos de
referência que deve observar. Vinte minutos depois, chega ao ponto final. E os
pais esperam por ele.
No próximo episódio, vamos acompanhar a retomada de uma história de amor.
Os pais de Idryss finalmente encontram um tempo para namorar. Nossas
escolas regulares estão preparadas para receber crianças com autismo? Vamos
mostrar também que há espaço no mercado de trabalho para quem apresenta o
transtorno.

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