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Alvaro de Campos nos abeand ? + Erte iis pneyeeg tes yt iacatet OF me ere GRtin fg prt 7 at Awvaro de Campos é ¢] posta vanguardista e cosmopolita que, numa linguagem . impetuosa, canta o mundo contemporaneo, celebra o triunfo da maquina e da civilizacao jmoderna, da fora mecanica e da velocidade. Integrado no espirito do modernismo, vem {mplementar uma nova visao estética, apresentando a beleza dos "maquinismos em firia”, da energia e da forca, por oposicio a beleza tradicionalmente concebida, que fundamenta a concesio de estética aristotélica. ‘A obra de Alvaro de Campos condensa trés fases, que estabelecem entre si uma sequencia l6gica. Em primeiro, est a decadentista, que exprime o tédio, o cansago € a necessidade de novas sensagdes. Proveniente desta caréncia, segue-se a fase futurista ¢ sensacionista, que se caracteriza pela exaltagao da energia, de “todas as dindmicas’, da velocidade e da forca. Surge, aqui, como heterénimo cultor dos sentidos, pois para ele a sensacao é a realidade da vida e a base da arte, A nova tecnologia na fabrica, as ruas da : jnetrépole, e todos os elementos alusivos a industria, despoletam_nele_a vontade de fe fui? ultrapassar os limites das proprias sensagdes. Ao manifestar querer “ser tod: toda a parte” e “sentir tudo de todas as maneiras”,|deixa entrever a Yicansavel~péla totalizagao de todas as possibilidades _sensoriais e afetivas da \* wi? humanidade, independentemente do espaco, tempo ou circunstancias) A Ode Triunfal e 4 ‘Ode Maritima so obras exemplificativas desta necessidade de unificagao das sensacdes. gE também nestas obras que Alvaro de Campos deixa entrever o seu desejo excéntrico € radical, que assenta na fusio e total identificago com a civilizagao industrial (“Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!/ Ser completo como uma maquina!”). Sentindo-se impossibilitado de atingir o desejo de unificagdo que projeta na maquina, e depois de constatar a impossibilidade do excesso de sensasoes, Alvaro de Campos cai no desdnimo e na frustrasao (“Ah, ndo ser eu toda a gente em toda a partel”). Face a incapacidade das realizagdes, o heterénimo deixa-se envolver pela apatia, abolia, angustia e dececao, bem como pelo tédio existencial, pelo enfado e pelo cansago psfquico, que constituem a fase intimista, caracterizada primordialmente pela introspecao e pela ; atividade reflexiva. enue? Nela esta também patente a nostalgia da infancia ~ um tema comum a Fernando Pessoa (orténimo), A infancia é considerada uma fase da vida marcada pelo prazer de U9 a4 viver e pela despreocupagao face ao futuro, sentimentos que proporcionam a plenitude nousthed existencial. Recordando esse tempo, Alvaro de Campos diz que “tinha a grande satide de nao perceber coisa nenhuma (..) E de nao ter as esperangas qué os outros finham por mim”, citagdes que remetem para a alusio a inconscléncia ¢ ingenuldade das eriangas como fatores propiciadores da felicidade, bem como a auséncia de ambicbes culos a enfrentar. Em sintese, o tempo da infancia caracteriza-se pelo prazer de sentir e agir livremente, pela espontaneidade, pela ligeireza e despreocupagao e pela inocéncia, face a0 desconhecimento das agruras da vida, O sujeito poético aborda a tematica do saudosismo desta fase da sua vida com lamentagao e tristeza, pois recorda-a como tempo de harmonia existencial que ficou confinada a infancia, cuja racionalidade e a lucidez fizeram perder. ‘Alem disso, também a relagao contrastante entre o “eu” e “os outros” é uma tematica comum a Alvaro de Campos e ao orténimo. O heterénimo estabelece uma oposi¢ao entre ele e os outros, delineada pelo facto de estes se integrarem harmoniosamente no espaco fisico e social em que se inserem, enquanto que 0 poeta se sente distanciado da sociedade. Assim, nas suas composigdes posticas, é feita alusao a felicidade alheia, que nao deixa de ser a comprovagio de que é incapaz de a viver no seu Digitalizada com CamScanner {ntimo. Uma vez sentindo-se desajustado de si préprio e da vida, Campos projeta nos outros os sentimentos positivos de que carece, isto é, tem a necessidade de perspetivar dima realidade ideada, como contraponto ao vazio existencial que o habita, Por outro lado, 4 felicidade que atribui aos “outros”, propiciam no sujeito poético a mégoa de nao ser como eles (“Sao Felizes, porque nao so eu). Em s{ntese, Alvaro de Campos, ao reconhecer que o sentimento de felicidade Ihe esta interdito, apercebe-se de que a unica maneira dea experienciar passa por ascender a um cendrio idflico, onde figuram outros atores que nao ele. Caracteristicas Formai © Versos Livres; © Estrofes longas; « — Liberdade rimatica; «© Desigualdade de versos por estrof . . Estilo torrencial e excessivo; Discurso caético; Linguagem marcada pelo tom excessivo e intenso: exclamagées, apéstrofes, enumerasées, adjetivacio abundante, anéforas, interjeigées, onomatopeias, aliteragies. Digitalizada com CamScanner Ricardo Reis Epicurismo e Estoicismo Ricardo Reis, heterdnimo de Fernando Pessoa, é 0 poeta classico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucider, a relatividade e a fugacidade de todas as. coisas. “Vem sentar-te comigo Lidia, & beira do rio”, “Prefiro rosas, meu.amor, a patria” ou "Segue o teu destino” sio poemas que nos mostram que este discipulo de Caeiro aceita a antiga *¢ 22 crenca nog deuses, enquanto disciplinadora das nossas emogées e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcancada pela indiferencaa perturbagao. “A filosofia de Ricardo Reis &a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do "momento, 0 ideal “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos” impulsos dos instintos (estoicismo). Apesar deste prazer que procurae da felicidade que deseja alcansar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade ~ ataraxia, Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”, Ricardo Reis é considerado um estoico epicurista, na medida em que advoga 0 dominio das palabes¢ a renincis dos ene oe ome como regras de vida propiciadoras da felicidade. Ha itentarmos com o que o destino nos trouxe. Ha que viver com moderagao, sem nos apegarmos as Coisas, e por isso as paixdes devem ser svacss omedidas, para que a hora da morte nao seja demasiado dolorosa. 0 ideal ético do ‘sos estoicismo éa apatia (auséncia de palxoes), fandamentado na citacao “Sustine et abestine” (“‘suporta e abstem-te”). Asemelhanga de Caeiro, ha na sua poesia a durea mediocritas, um ideal ético que radica na doutrina filoséfica do estoicismo, na qual é advogada a busca do prazer F 7 @edlato, que propicia a felicidade. E valorizado 0 sossego do meio rurale a frui¢ao dos _ estados da natureza, a € *carpe-diem Ideal que consideraquea 5) sabedoria consiste em saber-se aproveitar 0 | | presente, fruindo de cada instante comose | fosse o tltimo, em virtude da consciéncia | brevidade da vida, j O neopaganismo ' POG on vax uses Ricardo Reis, que adquiriu a ligo do paganismo espontaneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo neopagio (cré nos deuses e nas presengas quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo a mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que tempo passa e tudo é efamnero:Daf °°" *" fazer a apologia do destino como forca inelutavel e soberana, isto é aceita o destino com naturalidade e conformismo. Considera que os deuses es cima do homem por uma questo de grau, mas que nem estes se conseguem sobrepor ao fado. ~ ‘os'ino Digitalizada com CamScanner >e « Pago por carter, que resulta da acumulagdo de experiencias e da sua formagao helénica ¢ latina, Ricardo Reis inspira-se nas doutrinas epicuristas de Hordcio (poeta latino). ciulitagat gyro -takn® . ote wen parsive ane b & oct “ rounle & acairose Classicismo * mt 4 A precisdo verbal e o recurso a mitologia, asgbciados aos principios da moral e da estética epicuristas ¢ estoicas ou & tranquila resignagdo ao destino, sdo marcas do o.a(/a;ut classicismo erudito de Reis. Poeta clssico da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode, 0 < epigrama ea elegia. A frase concisa e a sintaxe classica latina, frequentemente coma \_> ¢ inversao da orden légica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias licidas e disciplinadas. © 92 santo Wis a» eaoso Ricardo Reis, imitando os gregos da antiguidade classica e o poeta latino Horacio, dé4-nos uma filosofia assente na reflexao sobre a efemeridade e o destino que é imposto aos homens e aos deuses. Para conseguir superar a angustia causada pelo Fado e pela certeza da morte, procura viver de aerda ura lgao de sabedoria eludes dos antigos que consiste na conformagao com 0 destino segundo um ideal ético de ataraxiad (linc: Charqubrend Influenciado pelo Mestre Caeiro, constrdi uma filosofia de contemplagao e placidez, .. ¢-,\.. que Ihe permite ver o fluir do tempo, o liberta de comprometimentos excessivos e Ihe permite ter a sensagao de ser dono do seu préprio destii “DU hniilismo total demonstrado na obra de Reis é também uma marca acentuadaménte classica, através da qual deixa entrever a sua descrenca no valor do agir, na inutilidadé de quaisquer esforcos, bem como a fé na morte e no fado como tinicas certezas ineli{taveis. ) covtrive Hilesdhice que nga ao parsibiliace do verdate Sintese das tematicas: Poeta Intelectual, sabe contemplar: ver intelectualmente a realidade; Aceita a relatividade e a fugacidade das coisas; Verdadeira sabedoria da vida é viver de forma equilibrada e serena; Caracterfsticas modernas no poeta: angiistia e tristeza; Adesio ao momento presente. "Epicurista triste”- (Carpe Diem)- busca do prazer moderado e da ataraxia; Recusa de sentimentos excessivos; Estoicismo - aceitagao calma e serena da ordem das coisas; Moralista ~ pretende levar os outros a adotar a sua filosofia de vida; poemas de carter exortativo;eshrevara , en cyinten Intelectualizagao as emogées; Temética da miséria da condigéo humana do FATUM (destino), da velhice, da irreversibilidade da morte e da efemeridade da vida, do tempo; ‘* _Espfrito grave , ansioso de perfeig4o; >t * Aceitagao do Fado, da ordem natural das coisas; * Procura de uma vida imperturbada e da quietude.» ja, sosseq, calna, Ae) Nea de Digitalizada com CamScanner Caracteristicas formai Submissdo da expresso ao contetido: a uma ideia perfeita corresponde uma expresso perfeita; Estrofes regulares de verso decassflabo alternadas ou ndo com hexassilabo; Verso branco; Irrégularidade métrica; Recurso frequente a assondncia, & rima interior ea aliteragao; Predominio da subordinacao; Uso frequente do hipérbato; Uso frequente do geriindio e do imperativo; Uso de latinismos; Metéforas, eufemismos, comparagées, perifrases; Estilo construfdo com muito rigor e muito denso; Classicismo erudito: - preciso verbal + recurso a mitologia (crenga e culto aos deuses) = principios de moral e da estética epicurista e estoica - tranquila resignagao ao destino Linguagem erudita alatinada, quer no vocabulério (latinismos), quer na construgo de frase (hipérbato); Preferéncia pela Ode de estilo Horacio; Importancia dada ao ritmo; Privilegia a ode, o epigrama ea elegia; Usa a inverséo da ordem ldgica - hipérbato -, favorecendo o ritmo das suas ideias disciplinadas; Estilo densamente trabalhado, de sintaxe alatinada, hipérbatos, apéstrofes, metéforas, comparagies, geriindio e imperativo. Digitalizada com CamScanner 2 sap Fernando pessoa - Heterénimo Alberto Caeiro mikder eeeum 9 Alberto Caeiro 6 considerado o mestre de Fernando pessoa e dos outros heterénimos. Em toda a sua poesia, faz-se notar uma abundante predominancia_de descrigdes da natureza. sender Caeiro privilegia a atividade sensorial em detrimento da atividade reflexiva isto &, considera as sensag6es primordiais para a percegao real e objetiva da realidade imediata, que é 0 seu principal interesse. Assim, o poeta procura ver o real objetivo, sem atribuiras coisas que observa quaisquer conceitos ou sentimentos humanos - é antimetafisico. Citando versos de 0 guardador de rebanhos, o autor considera que “O Mundo nio se fez para pensarmos nele/(Pensar é estar doente dos olhos) /Mas para olharmos para ele € estarmos de acordo...”. Revela, assim, a sua descrenga na utilidade do pensamento como meio de compreensao da natureza. Como sensacionalista, defende que o_pensamento apenas falsifica 0 que os sentidos captam, manifestando o seu ceticismo relativamente & atividade conceptual. Propée-se, assim, a nao passar do realismo sensorial, aprendendo a, o Ropar-acerrim: e " “ sass, Hegar_acerrimamente_o_pensamento, de maneira a libertar-se de tudo o que_possa perturbar a apreensao objetiva e concisa da realidade concreta. =" Advogando a primazia dos sentidos, nos seus poemas, sao notérios intimeros /( votabulos do campo lexical de “olhar”, através dos quais 0 poeta deixa entrever @ valorizagao da sensago visual. ““" “Caeiro da especial relevancia & natureza eo que a ela se associa, pretendendo estar sempre em conformidade e estabelecer uma relagdo estreita com a mesma. Assim, a0 longo da sua poesia, faz-se notar uma descri¢ao gaustvg do que ele observa enquanto deambula, num discurso em verso livre, em estilo desnuda as coisas de quaisquer significados, conceitos e sentimentos humanos, vendo-as tal como sao e apreendendo-as por terem existéncia, forma e cor. © Nao-problematizacao da existéncia; relagao pacifica e serena consigo proprio e coma vida. * Procura estar sempre em conformidade com a natureza e estabelecer uma relagdo simbidtica com ela; assume-se como membro integrante da natureza; © Primazia dos sentidos > as sensagées sdo elementos primordiais para a apreensdo objetiva e fidedigna do mundo; valorizagao da atividade sensorial em detrimento da atividade reflexiva e conceptual; Poeta sensacionalista; poeta da natureza (bucélico) e do olhar; antimetafisico. Condenagao da arte como construgao refletida e devidamente estruturada > advoga a predominancia de instinto e espontaneidade no processo de elaboragao poética > recusa a lucubra¢do; a poesia é intuitiva, espontanea, e natural. t Digitalizada com CamScanner sq ure spadodm da ashanlion|'s aux other ‘aassee + /Sublimacao do real, através de uma atitude pantefsta sensualista de di ( natureza. oo + Desvalorizaso da categoria conceptual do tempo > vivencia plena do presente, recusando o passado e 0 futuro como elaboragées mentais que so; todos os instantes so a unidade do tempo; o tempo ¢ feito de instantes do presente. Caracteristicas formai: Linguagem muito simples ao.nfvel lexical; Articulagio muito simples, com predominancia da coordenagio (sobretudo copulatica) Recurso 4 comparagao ~ que ajuda, alem da sua expressividade, a operar 0 processo, comum a Caeiro, de conversao do abstrato em concreto; * Uso repetido de palavras do campo lexical de olhar; * Verso livre, em estilo coloquial e espontaneo - prosafsmo; Aproximagao da fluidez coloquial da fala ~ linguagem desprovida de artificios. Digitalizada com CamScanner

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