Você está na página 1de 132

 

1ª. Orelha do livro


Se você quiser achar que este livro é sério, então ache, porque ele é. Mas se perceber que está
diante de unrlibelo, de um cântico à bravura e ao poder do coletivo sobre firulas individualistas,
que está escutando um hino à alma indómita e lendo uni manifesto contra lendas do tipo
homem cordial, estará mais pró!imo da essência dessas mal tra"adas linhas, onde não
encontrará #o$ada de letra, #o$o de cintura fina. % assim, se não pipocar antes do fim, vai perceber 
como é $randioso e transcendente torcer pelo &rémio.
' &rémio da vár(ea da )ai!ada, ol*mpico &rémio+ ' &rémio incendiário de o$uinho, o
&rémio de botinas do capitão roner. &rémio do tanque -uare(, de /lcindo bu$re!ucro
 0 de 1ilson 2avalo, de /*rton 3avilhão, de 4ara, &erminaro e 5anrle6. &rémio de poncho
e de coturnos. &rémio lanceiro ne$ro, de tantos pontasdelan"a e de todos os volantes de
conten"ão. ' &rémio de 4eão e 5e 4eón, de 7ibeirinho e 7amão, de eio e 3elado. &rémio de
3aulo 2ésar 2a#u, Mário Sér$io e /ndré 2atimba. &rémio de 4oivo e 8ura. &rémio de
/nderson 3ol$a,

2ª. Orelha do livro


 

 Emerson, Eduardo Costa — na frente da zaga.


O Grémio de Divino. Grémio de futebol orto!alegrense. "utebol de verdade, or#ue
 fute!bol!arte, todo mundo sabe, c $oisa de fres$o.
%duardo )ueno nasceu $rem*sta em mato de 9:;<, na mesma cidade onde o &rémio foi fundado em 9:=>. %m 9:?>, uma
$uinada do destino o levou para o estran$e*ro.foi viver em São 3aulo, capital do )rasil, o pa*s vi(inho. %m 9:?<, voltou para 3orto
/le$re, onde che$ouatempodever o&rêm*oenfiari!ono S. 2. Municipal, em seu primeiro clássico &repal. @aquele dia o

&rémio foi hepta e )ueno nunca mais dei!ou de ir ao monumental 'l*mpico, onde, #unto com de(enas de milhares
de$rem*stas e!ultantes, foi tetracampeão da 2opa do )rasil, b* do )rasileiro e b* da 4ibertadores. %duardo )ueno, $oleiro que
$ostaria de ter sido volante de conten"ão, #á escreveu de( livros, mas anda espalhando por a* que $osta mais deste.

Grémio
 @/5/ 3'5% S%7  M/A'7 
 

2op6ri$ht % 2&&' b6 &era"ão 2onteBdo

2oncep"ão editorialC Gera()o


Conte*do+odrigo -eieira e
 /ar$elo Doria
2apaC 0o)o
 atista da
Costa guiar 
3rodu"ão
editorialC
 0a#ueline
 3avor 
7evisãoC
 enat o Deit os
3esquisa icono$ráficaC /ar$elo "eria e Eduardo ueno %ditora"ão eletrDnicaC a#uel lberti+damsdesign

C45 ! 643. C-3OG78O!9!"O9-E  SINDICATO 9C4O93 DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 

 B941 g 

 ueno, Eduardo, 1:;<!


Gr=mio> nada ode ser maior + Eduardo ueno. ! io de 0aneiro> Ediouro, 2&&'
?Camisa 1@A
 4n$lui bibliografia
 ISBN 85-00-01600-0
i. Grémio "ootball 5orto Begrense. 2. "utebol ! rasil ! istria. 4. -Btulo. 44. 6érie.
&;!2:&<. CDD :F.@@;&:<1
CD :F.@@2?<1A

&' &F & &< &: ';@21

3ara meu avD /u$usto,


meu tio 7omeu,
e meu irmão ernando 0 
$ra"as aos quais sou$remista

e, é claro, para todos os volantes de conten"ão

-odos os direitos reservados H Ediouro 5ubli$a(Ies 3tda.


 ua 9ova 0erusalém, @;' ! onsu$esso
 io de 0aneiro ! 0 ! CE5 21&;2!2@'
-el.> ?21A @<<2!<2&& ! "a> ?21A @<<2!<212 + <@1@
JJJ.ediouro.$om.br 
 

SEMF7A'

Ema entrada dura 99


1. / primeira pelotaC dando no couro GG
2. ' ine!pu$nável ortim da )ai!ada >?
3. ' &rémio cisplatino e $ermânico ;G
4. &repalC o clássico meiasola HG
5. utebol se #o$a com as mãos :=
6. o$uinho e o futebol incendiário 9=?
7. ' obelisco e os maracana"os do &rémio 99<

8. 's mestres fora das quatro linhas 9>I


9. 's matadoresC #o$ando por mBsica 9;?
9=.= )rasil, a /mérica e o mundo 9HI
99. 2ontra tudo e contra todos 9:<
%ntrada dura por trás GGI
2ronolo$ia GG<
%scala"Jes G>?
Kall da lamaC a cal"ada da ama brucutu GI>
/$radecimentos GII
)iblio$rafia GI?
 

UMA ENTRADA DURA

utebolarte, todo mundo sabe, é coisa de veado. @ão é à toa que #á houve quem o tenha chamado,
muito propriamente, de futebolbailarino. /final, quem #o$a futebolarte mais cedo ou mais tarde acaba
dan"ando...
utebolarte é aquele #o$o inconsequente praticado nos trópicos, em terra de $ente in(oneira e
malemolente 0 os conhecidos manes molóides. ' futebolarte é disputado em ritmo de samba, cheio de
$in$a e de $ra"a. Ká quem ache $ra"a, embora, em $eral, quem acabe rindo por Bltimo se#a o adversário.
' futebolarte inclui #o$adas de letra que só resultam em linhas tortas. 3refere a bicicleta a um bom
carrinho. %mpre$a o calcanhar mas i$nora o talento do cotovelo. Só usa o peito para matar a bola, embora
 praticantes do futebolarte raramente emitam sinais de que possuam tal parte do corpo em sua estranha
anatomia  e muito menos que entendam o real si$nificado da e!pressão. a( calor nos lu$ares onde
 praticam o futebolarte. Se chove, o #o$o é transferido e o pessoal vai prum pa$ode. /cham que é necessário
um tapete verde para que a bola role, como se a vida real não fosse um campo embarrado cheio de
 buracos.
's praticantes Le os amantes do futebolarte desconhecem ou no m*nimo pervertem 0 a essência
do mais nobre dos esportes. utebol é um #o$o de san$ue, suor e lá$rimas, que deve ser praticado
com dentes ran$endo. ' futebol  o verdadeiro futebol  é uma metáfora da vidaC árduo, eventualmente
sombrio, repleto de altos e bai!os, dor,, supera"ão e $lória redentora. %ssa $ente que curte futebolarte
deveria torcer para esportes #o$ados com as mãos. /liás, esporte #o$ado com as mãos é coisa de fresco.
/lém de partirem da premissa errada 0 aquela se$undo a qual o futebol teria sido inventado na
An$laterra , os amantes Le os praticantes do futebolarte confundem tudo. @a An$laterra não fa( sol. / fo$osa
An$laterra 0 com seu fo$, seus tronos manchados de san$ue, seus corsários sin$rando os sete mares, seus
 beberrJes de nari( rubro e dentes quebrados enchendo a cara nas tavernas  inventou apenas a maneira correta
de se apreciar o futebol nas arquibancadas.
Mas o futebol não foi inventado na le$endária /lbion. ' futebol foi inventado no Mé!ico, pelos
$uerreiros maias. 4á, era #o$ado com a canela, os #oelhos e os cotovelos  e o que rolava era a cabe"a do
adversário. 's vencidos eram sacrificados e seu cora"ão oferecido aos deuses, ainda pulsante. Em e!emplo do
verdadeiro esp*rito esportivo.
)em que os in$leses, inventores modernos do #o$o, tentaram por duas ve(es res$atar a essência do
futebol. @a A &uerra Mundial, por e!emplo, em al$um momento da batalha do Somme, travada entre #ulho
e novembro de 9:9?, o capitão 1. 3. @evill #o$ou quatro balJes de couro à frente de suas trincheiras e e!ortou
os quatro batalhJes que comandava a chutaremnas até cru(ar a linha alemã 0 oferecendo um prémio para o
 primeiro que atin$isse a meta. ' que importa que ?== soldados tenham morrido, se a vitória foi
alcan"adaN
5e acordo com Ken$er ou /orrer ! "utebol, geoolBti$a e identidade na$ional, o belo livro de &ilberto
/$ostino, aquela não foi a primeira ve( que a fabulosa tática foi usadaC os pioneiros da estraté$ia teriam sido
os inte$rantes do 9O )atalhão do 9<O 7e$imento de 4ondres, que
 

O capitão W. P. Nevill e seus bravas: atingindo a meta para reensinar o mundo a jogar futebol nos esburacados campos da l Guerra Mundial. Os fracos ficaram à beira do
caminho

a empre$aram na batalha de 4oos, travada em setembro de 9:9;. / prática parecia ma$neti(ar os


soldados, que venciam em pouco tempo a distância entre suas linhas e as inimi$as, informa /$ostino.
Meio século mais tarde, em 9:??, os britânicos se viram for"ados a recorrer a uma redundância, não
 porque se#am amantes do óbvio, mas para ver se as outras na"Jes enfim entendiam o sentido e a ma$ia do
 #o$oC eles reapresentaram ao mundo o que foi então bali(ado de futebolfor"a. /o contrário do esporte
 praticado pelos maias, o futebol inventado pelos in$leses é, como se sabe, #o$ado com os dois pés. Mas trata
se de um #o$o tão superlativo que, muitas ve(es, os atletas redobram seus esfor"os  e acabam praticandoo
com quatro.

Asso posto, ve#amosC quem, afinal, #o$a o verdadeiro futebol no )rasilN @in$uém. @o )rasil #o$ase apenas o
manémolente futebolarte. Asso si$nifica di(er então que, no )rasil, nem mesmo o $lorioso &rémio pratica o
$enu*no futebolN @ão. Simplesmente porque o &rémio n)o é um time brasileiro. ' &rémio é um time
cisplatino, com ascendência $ermânica, fibra in$lesa e san$ue nas veias. San$ue a(ul, evidentemente. %is a
tese que este livro desposa e vai defender. Pese séria, densa e dramática. 2omo a vida. 2omo o futebol. '
verdadeiro futebol. ' futebol praticado pelo &rémio há mais de cem anos 0 para deleite de seus torcedores
e terror dos demais.

%ste livro come"ou a ser escrito sob o impacto de mais uma $rande vitória internacional do &rémio 0 
o Bnico clube interna$iona aqui do peda"o. Pal conquista se deu em #ulho de G==I, quando a &récia, armada
o

com o esp*rito e Lquase vestindo a camisa do &rémio, bateu, como de hábito, um time que tra#ava vermelho e
levantou a %urocopa. % isso que o time de vermelho era treinado por um dos maiores $énios da história do
futebol mundial, o e!traordinário (a$ueiro elipão Laquele que paulistas e cariocas chamavam, mal posso
crer, de Scolari. Em homem que sabia usar o cotovelo e matar a bola como poucos e não $ostava de dan"ar 
nem a chula, embora botasse o seu pe(inho bem #untinho com o do adversário.
' Bnico equ*voco na luminosa carreira de elipão dentro das quatro linhas foi o fato de ele ter 
escolhido a posi"ão errada. 2laro que é uma nobre atitude optar por #o$ar na (a$a, mas um visionário como
elipão deveria ter sido volante de conten"ão. ' volante de conten"ão é, indiscutivelmente, o astromaior, a
$rande vedete Lops, vedete não  vedetes praticam o futebolbailarino, a pe"achave, o rei, a torre e, acima
de tudo, o cavalo no $rande !adre( que constitui os duelos técnicotáticos do autêntico futebol.
ora de campo elipão também cometeu desli(es. Em deles foi ter treinado um time de vermelho  e,
como tal, fadado à derrota. 3or isso, elipão perdeu aquela final. Mas perdeua para si mesmo e nem  deve ter 
ficado muito chateado Lbom, chateados ficam os treinadores que professam o futebolarteQ homens
como elipão ficam inconformados e furiosos.
 

5e todo modo, elipão não deve ter ficado tão furioso e inconformado como de hábito, pois há de ter 
conclu*do que, naquele dia, perdeu para si mesmo. 'u se#aC foi derrotado por suas próprias teses, postas em
 prática pela &récia, que, depois de ter civili(ado a %uropa e san$rado na batalha das Permópilas, reensinou
o mundo a #o$ar futebol. &anhou de $oleadaC i a o, $ol de bola parada, em um de seus Bnicos arremates à
meta dos vermelhos. Em shoRde bola.
/quela esteve lon$e de ser a Bnica vitória internacional do &rémio. /lém das duas 4ibertadores
L9:<> e 9::;, da 7ecopa sulamericana L9::? e do campeonato mundial em Póquio L9:<>, o &rémio
$anhou sete das 9; 2opas do Mundo Le foi roubado ou in#usti"ado nas demais. &anhou lo$o de primeira,
em 9:>=, tra#ando a celestial #aqueta ol*mpica do Eru$uai. &anhou de novo em 9:;I, materiali(andose na
/lemanha, que passou por cima dos artistas hBn$aros Lque até ho#e conquistaram o que mesmoN.
Toltou a $anhar em 9:??, enver$ando as cores da An$laterra e redefinindo os rumos prostitu*dos do futebol.
&anhou outra ve( em 9:HI e 9:H<, ao destro"ar o carrossel holandês  carrossel, aliás, também é coisa
de... dei!a pra lá. 3ara comprovar sua proverbial Le, $eralmente, irreconhecida $enerosidade, o &rémio
venceu duas outras 2opas, vestindo até mesmo, ve#am só, a camisa... do )rasil. 'u você vai querer me
convencer que foi o futebolbailarino que levantou o caneco nos %stados Enidos em 9::I e em G==G, no
-apãoN
/cima de tudo, porém, o &rémio venceu sua mais marcante 2opa do Mundo em seu palco prediletoC
$anhou em 9:;= diante de um Maracanã lotado de cultores do futebolarte, atónitos e silentes, como
costumam ficar ao final dos #o$os decisivos. 2omo a história sempre se repete Lem $eral como tra$édia...
 para os fãs do futebolarte, o &rémio reprisou duas ve(es a fa"anha, então enver$ando a própria camiseta
tricolor, e as duas, como se verá, contra o lamen$o 0 a Bltima na inesquec*vel final da 2opa do )rasil de
9::H.

)em, se você, cultor do futebolarte, che$ou até aqui sem perder a linha, deve estar fun$ando furibundo.
'timo. U assim mesmo que deveria estar se sentindo. 3ois a* terá uma pequena ideia do que si$nifica
 passar anos a fio ouvindo e lendo as teses esposadas por vocês, as acusa"Jes vis, solertes e preconceituosas
em meio às quais virilidade é confundida com violência, bravura vira deslealdade e competitividade é
tomada por a$ressão. Saberá como é ver seu time ser esbulhado, roubado e sacaneado. % ler que os
$uerreiros que vestem a $loriosa camisa a(ul, preta e branca não passam de um  amontoado de lutadores
de VicVbo!er e cal"am ferraduras em ve( de chuteiras. @ão vou citar as fontes  não a$ora.
Se quiser achar que este livro é sério, pode achar. Mas se preferir perceber que está diante de um libelo
morda(, de um cântico à bravura e ao poder do coletivo sobre inconsequentes firulas individualistas, que está
escutando um hino à alma indómita, nómade e bravia e lendo um manifesto contra lendas do tipo homem

Mar de lama: no flagrante acima M!rio "#rgio um e$%bailarino descobre a ess&ncia do futebol
trajando a imortal jagueta tricolor contra o verdadeiro 'rasil o d e Pelotas
 

cordial, for#ada em um dos pa*ses mais socialmente in#ustos do $lobo, possivelmente estará mais pró!imo
da essência dessas mal tra"adas linhas, onde não encontrará nenhuma #o$ada de letra, nenhum #o$o de
cintura fina. % assim, se não pipocar antes do fim, vai perceber como é $randioso, libertário e transcendente
torcer pelo &rémio.
&rémio com chuva, lama e alma castelhana. &rémio do primeiro #o$o com neve na história do
)rasil. &rémio aos II e meio do se$undo tempo. &rémio cobrando tiro de meta como se fosse pênalti
decisivo. &rémio #o$ando com o re$ulamento debai!o do bra"o e o cora"ão pulsando debai!o do
distintivo. &rémio pernadepau, bola na rede. &rémio o ! o com chuvaC fai!a no peito e ta"a no armário.
&rémio che$ando #unto  de preferência na bola, mas se tiver que ser canela, fa( parte do #o$o, meu chapa.
&rémio do 3rata, medalha de ouro. &rémio em farrapos, nunca em fran$alhos. &rémio farroupilha
enfrentando os imperiais. &rémio altivo e imperial. &rémio libertador. &rémio $uasca, $audério e
chan$ador. &rémio mosqueteiro 0 um por todos e todos por um. &rémio amarrando os cavalos no obelisco.
&rémio hepta, &rémio tetra da 2opa do )rasil, &rémio bi do )rasileiro e da 4ibertadores. ' &rémio é tri+

Se você se despir dos preconceitos, melhor não se a$achar para #untar o sabonete... 5esculpe, não resisti.
Mas se tirar a fantasia de pierrD apai!onado por futebolespetáculo, vai desvendar a essência coturnos.
&rémio de lecha, 3re$o e &eada. &rémio lanceiro ne$ro,  de tantos pontasdelan"a e de todos os
volantes de conten"ão. ' &rémio fero( e san$u*neo, ru$indo  o &rémio de 4eão, 5e 4eón e 3itbull. %
de elipão, é claro.
&rémio de SchubacV e MohrdiecV, de )ooth e &runeRald, de WocV, )lacV, 7ech, Mussnich,
Waastrup e von MoreirosV6. Mas também o &rémio de /lemão(inho, 2atarina e 3aulista. &rémio de
2asaca, )ombachudo, )entevi, 4a$arto, Sardinha A e Sardinha AA. &rémio de Saavedra, )ehe$ara6,
'chotorena, )ertola, &aribotti, Scotta, 'berti, 2hamaco e /ncheta. &rémio de 7ibeirinho e 7amão, de
eio e 3elado, de 2arrapicho e 5etefon. ' &rémio ne$ro de Pesourinha e 4umumba. ' britânico &rémio
de %dRin 2o!. &rémio de 3aulo 2ésar 2a#u, Mário Sér$io e /ndré 2atimba. &rémio de 4oivo e 8ura.
&rémio de )eto uscão e )eto )acamarte. &rémio de

O que pode ser maior? Está lá, na plaqueta: Grémio, campeo do mundo! "uando pisam no solo
sa#rado do Ol$mpico, os ad%ersários, ner%osos, lo#o %&em com quem esto tratando
 

/nderson 3ol$a e %duardo 2osta, de %merson e Pin$a, de -adir e 'rcina 0 todos na frente da (a$a, na
conten"ão. &rémio de Pelêmaco, 4ui( 2arvalho e &essi. &rémio de 'rtunho. &rémio de 5ivino.
&rémio de /lberto, /ltemir, /ri %rc*lio, Fureo e %veraldoQ 2léo e Sér$io 4opesQ )abá, -oão(inho,
/lcindo e Tolmir. &rémio de 5anrlei, /rce, /dilson, 7ivarola e 7o$erQ 5inho, &oiano, %merson e 2arlos
Mi$uelQ 3aulo @unes e -ardel. &rémio de )ol*var e de /rti$as. &rémio, libertador da /mérica.
/pesar de reverenciar este elenco estelar 0 ao final do volume estão todas as escala"Jesbase do time
ao lon$o desses cem anos 0, o livro que você tem em mãos não é a história do &rémio. @em mesmo é
minha versão da história do &rémio. U, apenas e tão somente, a história do meu &rémio. 5o que o
&rémio si$nificou e si$nifica para mim, embora este#a convicto de que se#a o que ele si$nifica também para
vários milhJes de $remistas Le!pl*citos ou não, muitos deles #aponeses espalhados pelo planeta. 3laneta
que, #á disse o homem do SputniV, o primeiro cara que o viu lá do alto, é a(ul  e preto, e branco, e blues.
&rémio, campeão do mundo. @ada pode ser maior 0 e isto sim é uma entrada dura nos cora"Jes e mentes
daqueles que sempre torceram $ontra o &rémio

'empre (em na )oto: o Grémio posa para a posteridade em sua primeira )oto#ra)ia, com a camisa *a%ana +acima, lo#o trocada pelo clássico e (elo
tra-e )alac./(lue +a(ai0o

1! A 2R3ME3RA 2E4OTA: DANDO NO 5OURO


' &rémio nasceu da bola, asse$uram os relatos de época e os livros oficiais. @ada mais verdadeiroC foi
assim mesmo que a coisa rolou desde o princ*pio. % embora a referida bola não tenha sido a primeira, com
certe(a foi a mais importante a che$ar ao 7io &rande do Sul  posi"ão que se mantém uma centBria depois.
/té porque, ao desembarcar em 3orto /le$re, naquele alvorecer do século XX, a histórica pelota estava
 

apenas voltando para casa. Sim, porque, apesar de ter sido curtida em São 3aulo, tal bola era feita de couro
e vinha de Sorocaba. % Sorocaba e o couro #á possu*am, naquele inverno de 9:=>, uma li$a"ão
multissecular com o 7io &rande do Sul. /liás, couro, Sorocaba e o 7io &rande eram, a bem di(er, uma coisa
só. Enidos pelo le$endário balão de couro ao redor do qual nasceu o $lorioso &rémio, tornaramse uma
mistura que desce redonda.
undada em 9?;I, Sorocaba sur$ira bem antes disso, em meados do século XTA. %ra terra de
 bandeirantes por e!celência. 's bandeirantes, você sabe, foram aqueles ca"adores de homens meio
 portu$ueses meioind*$enas que se embrenhavam na mata para além das fronteiras, para aquém da ética,
sem fé, sem lei e sem rei. /utênticos piratas do sertão, percorriam rotas ancestrais  os chamados
 peabirus, anti$as trilhas ind*$enas , se$uindoas até os limites do território que, $ra"as a eles, viria a fa(er 
 parte do )rasil.

 @aquela época, o )rasil, pa*s vi(inho ao 7io &rande do Sul, terminava lo$o ali, poucos quilómetros ao
sul de Sorocaba, no vale cio 3aranapanema Londe, quatro séculos depois, em outubro de 9:>=, quase
eclodiu o combate de Atararé, que passou à história como a batalha que não houve. 5epois do vale do
3aranapanema come"ava 0 na verdade come"a 0 o )rasil meridional. 'u melhorC termina o )rasil tropical.
5ali para o sul, a paisa$em muda, o clima se modifica, os povos ind*$enas eram diferentes dos vi(inhos de
cima e a coloni(a"ão europeia iria tomar outros rumos.
' )rasil meridional, por sua ve(, come"a a terminar uns ;== quilómetros mais ao sul, na $rande calha
do rio -acu*, e se encerra de vez no vale do 2amaquã. 5o 2amaquã para bai!o, come"a o pampa  e esse céu às
avessas, ondulante e recoberto de $rama, estendendose até as ventosas plan*cies da 3ata$Dnia, pode ser tudo
menos )rasil. ' pampa pertence a outro mundoC platino, quase austral, selva$em, indómito.
' 7io &rande do Sul, por tudo isso e mais um pouco, é um peda"o de chão diferente do restoC um
universo à parte, uma terra de nin$uém que acabou se tornando o pa*s dos $aBchos. %m uma das tantas e
saborosas ironias da história, o pa*s dos $aBchos foi conquistado e incorporado ao )rasil por paulistas.
)andeirantes, tropeiros, contrabandistas de $ado, aventureiros, soldados, mercenários  paulistas,
quase todos.
%les che$aram ao Sul partindo de Sorocaba 0 palavra tupi La l*n$ua$eral dos primeiros paulistas, que
mal falavam portu$uês cu#o si$nificado é ras$ão ou ruptura, numa provável alusão às fendas e falhas
$eoló$icas e!istentes na re$ião, mas tão rica e sonora que se presta a outras leituras. % os bandeirantes
che$aram aqui... a pé. %ram seis meses de #ornada, sob sol e chuva, ouvindo o ru$ido das on"as e o ru$ir das
cachoeiras, comendo mel silvestre Lcom eventuais abelhas #unto, formi$as assadas, vermes de taquara e
qualquer coisa que se  me!esse. /rmados até os dentes, com suas bandeiras desfraldadas e Y.cus sons de
$uerra, eles formavam um bando de mamelucos casca Zlura. 3ensando bem, até que poderiam #o$ar no
&rémio.
Mas por que, afinal, eles vinham a péN 3orque o 7io &rande do  i n l era res$uardado e mantido no
isolamento pela maior costa ivtil*nea do mundo 0 um litoral inóspito, bai!o e arenoso, um irrnitério
de navios, batido por ventos e ondas bravias. 5e 4a$una LS2 a 3uhta dei %ste Lno Eru$uai se estendem
??o quilómetros de praia sem nenhuma enseada, ba*a ou porto natural. @ão tinha aquela de entrar numa
caravela, desembarcar em areias douradas, distribuir umas mi"an$as para os nativos e ir escolhendo o
melhor lu$ar para construir uma vila. Panto é que a primeira vila do )rasil 0 a paulista São Ticente, ber"o
dos bandeirantes, #unto com 3iratinin$a 0 foi fundada em 9;>G, enquanto que a primeira vila portu$uesa do
7io &rande do Sul, a heróica 7io &rande, só sur$iu mais de G== anos depois, em 9H>H.
 @a estreita l*n$ua de terra e!istente entre o mar bravio e a misteriosa 4a$una dos 3atos, na (ona lo$o
acima da fortale(a de 7io &rande, havia vastos rebanhos de $ado chimarrão, !ucro e sem dono. 's minuanos
e charruas, nativos da re$ião, bem como os pioneiros e militares portu$ueses que ali se instalaram, serviam
 

se amplamente daqueles rebanhos. @ão apenas se alimentando deles, mas e!traindolhes o couro 0 a
 primeira, virtualmente a Bnica, rique(a de uma (ona inóspita e isolada. Pão desordenada e bárbara é a
e!tra"ão da courama que aqui se fa(, relatou, alarmado, um certo /ndré 2outinho ao $overnador 
&omes reire de /ndrade, que naturalmente haverá de resultar na total e!tin"ão do $ado. 

[ @ão era só $ado que e!istia em profusão naquela re$ião de fartura, a terra dos muitos, como a definiu o
mesmo 2outinho, por motivos que se encarre$ou de esclarecer em carta escrita em setembro de 9H>HC 2om
toda a verdade aqui há muita carne, muito pei!e, muito pato, muita marreca, muito ma"arico real, muita
 perdi(, muito #acu, muito latic*nio, muito ananás, muita courama, muita madeira, muito barro, muito
 bálsamo, muita serra, muito la$o e muito pântanoC no verão, muita calma, muita mosca, muita mutuca,
muito mosquito, muita pul$aQ no inverno, muita chuva, muito vento, muito frio, muito trovão, e, com todo o
tempo, muito trabalho, muita fa!ina, muito e!celente ar, muita boa á$ua, muita esperan"a e muita saBde
 para servir a Tossa Mercê.
' bri$adeiro Silva 3ais, fundador de 7io &rande, tratou de estabelecer limites à matan"a
descontrolada em meio à abastan"a e su$eriu ao mesmo &omes reire, ainda em 9H>H, que se
estabelecessem curtumes de toda a casta de couro e solas, que melhor que em outras partes aqui se
curtem. Sur$iu então o primeiro ne$ócio dos $aBchosC a e!tra"ão, preparo e curti"ão do couro. Pão
intensa e *ntima tornouse a rela"ão entre aquela atividade e os homens que a e!erciam que a palavra $uasca
 0 ori$inalmente utili(ada para desi$nar uma lar$a tira de couro 0 virou até ho#e sinónimo de $aBcho.

3ouco antes, por volta de 9H>G, 2ristóvão 3ereira de /breu, um $enu*no herói $aBcho nascido em 3ortu$al,
contrabandista e contratador de couros da 2olónia do Sacramento, havia aberto uma estrada unindo o 7io
&rande do Sul a Sorocaba. Mais tarde, o charque produ(ido no pampa e as mulas criadas nos currais
estabelecidos nas cercanias da fortale(a do 7io &rande come"aram a ser levados para Minas &erais por aquela
rota. Mais de ;= mil mulas che$aram a cru(ar tal caminho anualmente. ' charque alimentava os escravos e as
mulas transportavam o minério e os equipamentos de minera"ão. ' pólo a
 

Na 6rua dos alemes6: a pra7a 89 de No%em(ro +esquerda e a rua osé Montaur; +ao )undo, onde o imortal tricolor nasceu, nas cercanias da
mo%imentada 9oluntários da 2átria

 partir do qual se comerciali(avam tanto mulas quanto charque era a florescente Sorocaba, a capital das
tropas e dos tropeiros.
/ re$ião que se estendia de 4a$una, ern Santa 2atarina, até 3unta dei %ste, no Eru$uai, continuava, no
entanto, sendo uma terra de nin$uém, uma por"ão disputada a ferro e fo$o por 3ortu$al e %spanha. /pós uma
série de batalhas e de um emaranhado de tratados rompidos, aquela (ona de fronteiras movedi"as acabou
se tornando parte do )rasil  $ra"as, é bom lembrar, à bravura dos $aBchos. Mas tantas e tão frequentes
haviam sido as invasJes castelhanas ao território que, pelas estipula"Jes do tratado de Pordesilhas, de fato
lhes pertencia, que em 9H?> a capital do 7io &rande do Sul, tomada pelos espanhóis, foi transferida para
Tiamão Lna re$ião metropolitana de 3orto /le$re e, a se$uir, em 9HH>, para 3orto /le$re.
 @o alvorecer do século que viu o &rémio nascer, o )rasil, a /r$entina e o Eru$uai #á haviam se tornado
 pa*ses independentes e estabelecido seus frá$eis limites territoriais. Mas, reprodu(indo a ancestral rivalidade
entre 3ortu$al e %spanha, mantinhamse inimi$os *ntimos. &ra"as à estraté$ica locali(a"ão #unto ao la$o
&ua*ba Lque ainda há quem chame de rio... tanto é que certas monstruosidades er$uidas em suas mar$ens são
denominadas de beirario, 3orto /le$re se tornou uma cidade dinâmica e moderna. %m 9:=>, tinha 9G= mil
habitantes e estava lon$e de ser um mero vilare#o habitado por almas semibárbaras e$ressas do re$ime
 pastoril.
Muito do pro$resso da 3orto /le$re de então se devia a uma ativa e empreendedora comunidade
alemã. / primeira leva de imi$rantes alemães che$ara ao 7io &rande do Sul em 9<GI. Mas os alemães que
transformaram o comércio e a vida de 3orto /le$re não eram os mesmos que se instalaram no vale do rio dos
Sinos, em São 4eopoldo e @ovo Kambur$o. @em os rummer, soldados e mercenários prussianos que
haviam lutado .em muitas $uerras platinas e conflitos caudilhistas. %ram os alemães do Ampério, os
 ei$hdeusts$he, altivos nacionalistas, filhos da unifica"ão alemã.
Pão atuantes eram esses homens de ori$em $ermânica no #o$o de trocas mercantis que transformaram
3orto /le$re numa cidade cosmopolita, que uma das principais ruas da cidade, a Toluntários da 3átria, era
chamada de... 7ua dos /lemães. 3ois foi ali, nas cercanias da pra"a do 3ara*so Lho#e pra"a XT de
 @ovembro, que nasceu o &rémio. 3or empenho, determina"ão e obra de alemães 0 e em tomo de uma bola.
Ema bola paulista, tra(ida ao Sul por um su#eito de nome 2ândido 5ias da Silva 0 5eus o aben"oe+

% 2ândido 5ias era natural de Sorocaba. % sua fam*lia, não che$a a


 

ser surpresa, trabalhava com couro. %ram, portanto, paulistas

com
O pai da matéria: o imortal 5<ndido Dias, dono da (ola em torno da qual sur#iu o Grémio

alma $uasca. / lo#a na qual a fam*lia 5ias vendia os artefatos de couro, que eles próprios curtiam, ficava na
avenida )ri$adeiro 4u*s /ntónio, no centro da cidade de São 3auloQ ainda estava lá em 9:??, de acordo com o
livro Grémio "oot!1all 5orto 2legrense ! 5assado e resente de um grande $lube, de %dison 3ires. Mas 2ândido se
mudou para o Sul para trabalhar na casa comercial de -Blio )ecVer, locali(ada em frente à pra"a XT de
 @ovembro, bem ali no in*cio da Toluntários, a 7ua dos /lemães. Será preciso ressaltar que a casa de )ecVer 
vendia... arti$os de couroN
4ocali(ada #unto avarias tabacarias, como a 2asa @e$ra, 2asa 3avão e 2asa Pi$re, e quase ao lado da 2asa
3imenta Londe meu querido avD /u$usto  o iluminado homem que me fe( ser $remista  trabalhou por anos a
fio, a lo#a de )ecVer distribu*a arreios, botinas, rédeas e chicotesC arti$os que bem poderiam ser empre$ados na
 prática do verdadeiro futebol. /inda assim, faltaria uma bola. %ntão a tal bola paulista foi enviada de presente
 para 2ândido 5ias  e o c*rculo se iniciou.
2ândido era boémio, di(em. Em boémio que amava a bola, como definiu Marcelo eria,
colaborador neste livro e autor de  4mortal -ri$olor, uma bela bio$rafia do &rémio. Em retrato de
2ândido 5ias da Silva foi preservado para a posteridade. /li está ele, com um ar um tanto espectral, metido
em terno escuro e num indefect*vel chapéu, mãos postas nos #oelhos, bi$odinho bem aparado e olhos
estreitos perdidos em distante contempla"ão. 3arece um uestnan ou um vendedor ambulante de eli!ir 
 pare$órico. %m todo o caso, um predestinado.
2ândido 5ias vivia em uma repBblica de solteiros, no nBmero IH da rua Santa 2atarina Lho#e rua 5r.
lores, compartilhando o quarto com o $aBcho -oaquim 7ibeiro. Palve( fosse o homem de vida desre$rada
que di(iam que era, mas acabou se revelando um bom paiC tratava o balão de couro como um rebento
mimado e vivia com a redonda no colo, cioso e ciumento. /inda assim, não se furtava a e!ibila como um
trofeu.
4o$o um pequeno $rupo, do qual fa(iam parte o próprio -oaquim 7ibeiro e o carismático 3edro
2arvalho Kaeffner, come"ou a $ravitar em torno da fabulosa esfera. /l$uém lo$o os apelidou de $rupinho
da bola, #á que os $arotos de fato formavam um con#unto de pessoas unidas em torno de um ob#etivo  um
$rémio, di$amos assim, de boieiros apai!onados.

3ara e!ercitar a nova pai!ão, aquela rapa(iada eleita pelos deuses escolheu um recanto paradis*aco. 5e
 bonde pu!ado a burro diri$iamse, todo o domin$o, aos arrabaldes de 3orto /le$re, para o lu$ar conhecido
como 2ascata. /li, nos arredores da hodierna $ruta da &lória, onde as á$uas de um arroio murmuravam
entre prados e chácaras, eles  shootavam com vontade a redonda, embora não se possa di(er que #á
 

fossem  laLers. Se a &ruta e a 2ascata são patrimDnios narurais que 3orro /le$re tratou com
descaso e incompetência, pelo menos o que ali nasceu vive até ho#e  e viverá para sempre. Sim, porque
aquelas pra(erosas tardes domin$ueiras deram ori$em a milhares de outras domin$ueiras tardes
 pra(erosas. 5eram a ori$em ao &rémio.
\uando a primavera de 9:=> deu os primeiros sinais, 3orto /le$re assistiu ao primeiro #o$o de
futebol de sua história. ' Sport 2lube 7io &rande, o mais anti$o time do )rasil  fundado por imi$rantes
in$leses e alemães na cidade pioneira de Silva 3ais, 2ristóvão de /breu e /ndré 2outinho, a terra dos
muitos, a terra da courama , veio à capital para um mZfc]+e!ibi"ão. 5isputada no dia H de setembro de 9:=>,
entre o primeiro e o se$undo times do S. 2. 7io &rande L\uadro i ! \uadro G, a partida reali(ouse na
Tár(ea Lho#e 3arque da 7eden"ão. oi, portanto, um $enu*no #o$o de vMrzea como eram também os prélios
disputados em São 3aulo, na vár(ea do Pamanduate*  onde o futebol brasileiro nasceu e, por um breve
 per*odo, antes de ir bailar na $rama do vi(inho, se manteve or$ulhosamente var(eano.
/ questão é que, na metade daquele #o$o histórico entre titulares e reservas do S. 2. 7io &rande, a
 bola... murchou. Palve( porque estivesse sendo shootada com vontade e!cessiva, talve( porque não desse no
couro. ' fato é que, em meio à consterna"ão $eral, 2ândido 5ias  que evidentemente comparecera ao
evento, #unto com o $rupinho da bola  invadiu o $ramado e $enerosamente emprestou sua le$endária
 pelota. %m troca, recebeu, após o prélio, informa"Jes sobre como fundar um clube de futebol.
' impacto da apresenta"ão do S. 2. 7io &rande foi tal que, apesar da bola murcha, o inevitável
aconteceuC uma semana depois do #o$o, no dia 9; de setembro, dois times foram fundados em 3orto
/le$re. ' primeiro nasceu pela manhãC foi o uss)all 2lub 3orto /le$re. ' Bnico e autêntico rival que o
&rémio, fundado ao entardecer do mesmo dia 9;, teve em sua história. Mas como o &rémio não nasceu
 para ter rivais  e nunca mais os teve, nem em 3orto /le$re, nem no 7io &rande do Sul, nem nos pa*ses
vi(inhos 0,
= uss)all teve vida curta. echou em 9:>= simplesmente porque
cansou de perder para o &rémio.
' primeiro #o$o da centenária e $loriosa história do &rémio foi #usto contra o finado uss)all. 2omo o
&rémio vale por dois, aquele ensolarado domin$o, ? de mar"o de 9:=I, teve pro$rama duploC foram dois #o$os
contra o uss)all. % o &rémio venceu os dois, ambos por 
9a o. 3recisa mais do que isso para $arantir uma vitóriaN %ntão basta. ' Correio do 5ovo do dia se$uinte
re$istrouC Panto os laLers do &rémio quanto os do uss)all envidaram esfor"os para maior tática e para
conse$uirem marcar $oals, mas apenas os do &rémio obtiveram ê!ito. Kouve muitos tombos, mas sem
resultados lamentáveis.
Mas para que a $loriosa e centenária história do &rémio se tornasse também uma história tricolor 0 e
 para entrar em campo e bater o uss)all 0, o &rémio teria, é claro, que ter um uniforme. % foi para isso que,
em >= de setembro de 9:=>,9; dias após a funda"ão, convocouse uma reunião para decidir quais as cores
que o time iria honrar. 'ito dias antes, a repBblica onde 2ândido 5ias e -oaquim 7ibeiro viviam, na rua
Santa 2atarina, nO IH, fora oficiali(ada como sede do clube, e lá a primeira dire"ão tomou posse. '
comerciante 2arlos )ohrer assumiu a presidência, -oaquim 7ibeiro a vicepresidência e 2ândido 5ias foi
eleito $uardaesporte Lhomem encarre$ado de $uardar a bola e os demais pertences do time.
2he$ou então o fat*dico dia >=, e 2ândido 5ias da Silva cometeu então seu primeiro, talve( Bnico e
certamente Bltimo erro como $remista seminal. %le queria que o &rémio fosse tricolor, claro. Só que
enver$ando as cores preto, branco e... vermelho+ 's motivos eram óbviosC além de homena$ear o estado
natal, o paulista 2ândido sonhava em ver o &rémio tra#ando as cores do São 3aulo /tlethic 2lub, do
lendário 2harles Miller.
Mas a palavra vermelho, você sabe, provém de verme. SérioC vá lá no dicionário e confira.
 

Termelho é ori$inário do latim vermiculus ou pequeno verme  verme(inho para simplificar. Prata
se de uma referência ao minBsculo inseto  Nermes vermilio,  parasita de um arbusto espinhoso do
Mediterrâneo, cu#o corpo, esma$ado, era utili(ado para obter um corante rubro. 'ra, o &rémio não nasceu
 para ser um verme, um inseto parasitário 0 e muito menos para ser esma$ado. Pime fadado a tantas
$lórias #amais poderia, portanto, tra#ar vermelho.
% assim ficou lavrado em ata, naquele memorável >= de setembro de 9:=>, que a nascente
a$remia"ão vestiria boné, cal"Jes e meias pretas, $ravata branca, botinas claras e camisa com listras
hori(ontais a(ul e havana, além de uma fai!a branca na cintura.
/pesar de ser o mais cubano dos times Lsupostamente brasileiros, o &rémio  uma ilha rebelde
em meio a um oceano de futebolarte ! não poderia tra#ar havana, um tom ferru$inoso que pu!a para o
marrom Le por tabela para o rubro. /ssim, lo$o houve mudan"as. 3or clarividente su$estão do ma#or 
/u$usto WocV, uma outra reunião, reali(ada no dia G= de #ulho de 9:=I, estabeleceu que o &rémio
vestiria uniforme de flanela, metade a(ul, metade preto, com $ola fina e sem bolso. Sur$ia assim a m*stica
bla$Pblue do time mais pop do continente.
2orre uma versão de que o &rémio #amais vestiu a camiseta havana e a(ul simplesmente porque a
inusitada cor de burro quando  fo$e estava em falta no comércio. Mas como meu ami$o Marcelo eria #á
comprovou em seu 4mortal -ri$olor, a história não procede. ' &rémio não apenas enfrentou o uss)all com
o uniforme pioneiro como posou para a posteridade vestindo a camiseta listrada a(ul e havana. / foto, a
 primeira de de(enas de milhares de sua radiante história, foi tirada em de(embro de 9:=>, a pedido do
intendente municipal -osé Montaur6. % serviria para comprovar a voca"ão internacional do &rémio  o
Bnico time interna$ional do Sul do )rasil, como #á foi dito.
' 7io &rande do Sul montou um estande na %!posi"ão Anternacional de Saint 4ouis, nos %stados
Enidos, para e!ibir o que o estado tinha de melhor. Sabe o que foi enviado para láN / primeira e histórica
foto do &rémio. %ra uma profecia e um sinal do destinoC o mundo estava se acostumando a admirar o
&rémio oot)all 3orto /le$rense.

's dois /u$ustosC Woch, o ma#or, alfaiate e volante de conten"ão ao qual o &rémio
deve muito, e 7omulo, meu avD, que me fe( $remista
 

O (un.er da 'c*uet=%erein 2lat= e o Tiro Alemo: primeira casa pr>pria do Grémio, con*ecida como o ine0pu#ná%el ortim da @ai0ada, com seu ilustre
%i=in*o ao )undo

%m toda minha vida encontrei apenas uma ou duas pessoas que compreendiam a arte de caminhar 
 0 que tinham o $énio, por assim di(er, do sauterin$, palavra esplendidamente derivada de pessoas
vadias que erravam pela %uropa, na Adade Média, pedindo esmola sob o prete!to de irem H 4a 6ainte -erre, à
Perra Santa, até as crian"as e!clamaremC 4á vai um  sainte!terrer, um saunterer, al$uém em busca da
Perra Santa, escreveu o filósofo norteamericano Kenr6 5avid Phoreau na abertura de seu memorável
ensaio Qaling L2aminhando.
's que nunca vão à Perra Santa nas suas pere$rina"Jes, como pretendiam, são, em verdade, meros
vadiosQ mas os que lá che$am são autênticos saunterers. % certo que al$uns derivam a palavra desans ferre,
sem terra ou pátria, o que, portanto, no bom sentido, si$nificaráC não tendo pátria determinada, tal indiv*duo
tem sua pátria em toda parte. 's que se dei!am permanecer em casa, quietos, sempre e sempre, podem ser 
os maiores errantesQ mas o saunterer não é mais errante que o rio sinuoso, cu#o propósito cont*nuo é
encontrar o caminho mais curto para o mar.

\uem pode duvidar que o &rémio é o time mais andarilho, mais caminhante, mais saunterer do
continente  e em ambos sentidos da palavra tal como definida por Phoreau, o $rande teórico da
 Desobedi=n$ia Civill 3rimeiro, o &rémio não tem pátria fi!aC nasceu em uma terra de nin$uém que for#ou
seu destino e. suas fronteirasQ

 
O deso(ediente ci%il: o )il>so)o T*oreau, o saunterer ori#inal e um #remista avant Ia lettre
 

 pertence, portanto, a todas as pátrias  menos, é claro, à dos manes molentes. /lém disso, o time está
sempre em busca de sua Perra SantaC o $ol do adversário. Só descansa, e ainda assim por breves instantes,
quanto completa a pere$rina"ão à Meca dos t*tulos incontestáveis. ' &rémio é como um rio sinuoso
cu#o propósito cont*nuo é encontrar o caminho mais curto para as $randes vitórias. Ema equipe em marcha
 pela estrada afora, indo, nem que se#a até a pé, em dire"ão ao pró!imo desafio.
% assim foi desde o in*cio. 3ois o &rémio de fato nasceu errante 0 embora com destino certo e propósitos
 bem definidos. Pudo come"ou, como #á foi dito, na estrada que li$ava 7io &rande a SorocabaC uma rota
 percorrida por aventureiros temerários e destemidos 0 autênticos saunterers, di$nos da m*stica celebrada por 
Phoreau. @atural, portanto, que um time de tropeiros viesse a se tornar o time mais copeiro do )rasil.
5epois, o clube foi fundado por imi$rantes, $ente capa( de cru(ar um oceano em busca de seu sonho.
' &rémio, além disso, reali(ou seus primeiros treinos e #o$os em vários locais de 3orto /le$reC na vár(ea
do &ravata* Londe ho#e está o aeroporto Sal$ado ilho e na vár(ea da 7eden"ãoQ nos matos da 2ascata, nos
arredores da &ruta da &lória, no sopé do Morro da 3ol*cia e no bairro loresta Lquase na esquina da atual 5r.
Pimóteo com a 2ristóvão 2olombo. Pratase, portanto, e desde o in*cio, de um time de vár(ea, de morros e de
florestas. Mas, apesar da alma andarilha, o clube lo$o concluiu que não seria de todo mau se possu*sse seu
 próprio campo 0 e não dependesse, assim, de favores de nin$uém.
 @ão che$a a ser surpresa que a inau$ura"ão de seu primeiro e $lorioso  ground tenha come"ado
 #ustamente com uma marcha, uma pere$rina"ão, uma caminhada épica. Ema autêntica procissão.
%m um frio domin$o de a$osto de 9:=I, caminhando e cantando e se$uindo a can"ão, os primeiros
atletas, diri$entes e torcedores do &rémio partiram em ale$re bando desde a sede do clube, locali(ada no
centro de 3orto /le$re, na lendária repBblica de 2ândido 5ias e -oaquim 7ibeiro. ' $rupo subiu então a
famosa 7ua da 3raia, passou pela Santa 2asa de Misericórdia Le a i$norou, pois misericórdia nunca foi seu
 ponto forte, se$uiu pela avenida Andependência, em meio a suntuosos casarJesQ percorreu a rua
Mostardeiro e che$ou à )ai!ada, após descer aquilo que no 7io &rande do Sul se chama de lomba  o
mesmo que ladeira em portu$uês. % aquela é mesmo uma tremenda lombaC sei disso porque a subo todos
os dias para vir de casa para o escritório, #á que tenho o razer e a honra de viver e trabalhar no topo dos
morretes que delimitam a histórica )ai!ada.

%m 9:=I, a )ai!ada ficava nos limites de 3orto /le$reC a cidade praticamente terminava onde a lomba da
Mostardeiro come"ava. 5ali para bai!o era uma (ona de recreio 0 uma periferia chique, por assim

A 6lom(a6 áa Mostardeiro: %ista tomada do meio da ladeira que condu=ia  #loriosa @ai0ada, que ento era apenas uma clareira em meio ao
 

(uc>lico e )rondoso 6matto Mostardeiro6

di(er. @a e!tremidade norte da )ai!ada, H esquerda de quem desce, ficava o 3rado da AndependênciaC a mais
refinada das quatro pistas de corrida de cavalos então e!istentes na cidade. Anau$urado de( anos antes, em
9<:I, o 3rado recebia a finaflor da sociedade $aBcha, que ali assistia aos concorridos páreos dominicais.
 @o e!tremo leste er$uiase o imponente Piro /lemão, clube de atiradores que ficava onde ho#e está o atual
2ai!eiros Tia#antes, e a oeste alastravase o Mato Mostardeiro, uma (ona densamente arbori(ada na qual
as fam*lias fa(iam piqueniques.
%m meio a isso tudo, limitado a oeste pelo declive acentuado da lomba, havia uma depressão plana,
recoberta de $rama e flores silvestres. / bucólica área, de apro!imadamente três hectares, pertencia a
Kemetério Mostardeiro, patriarca da tradicional fam*lia que também era proprietária do mato que levava
seu nome. Poda a área fi(era parte da bela chácara de /ntónio -osé &on"alves   Mostardeiro,
 presidente da /ssocia"ão 2omercial de 3orto /le$re entre 9<<G e 9<<;, casado com a dona 4aura e pai
de Kemetério.
/o percorrer toda a cidade em busca de um local para instalar o primeiro campo do &rémio, o
clarividente ma#or /u$usto WocV  o austero alfaiate $ra"as ao qual o clube veste a(ul e preto, e que, ainda
 por cima, era um estupendo half!ba$ Lou se#aC um avD dos volantes de conten"ão 0 percebeu que a )ai!ada
era o lu$ar ideal. /té porque o terreno tinha a forma de um caldeirão...
's Mostardeiro 0 até ho#e $remistas beneméritos e que pouco mais tarde iriam ceder ao time uma dupla
de $randes #o$adores de pé esquerdo, 2arlos LMostardeiro A e /lfredo LMostardeiro AA aceitaram vender 
o terreno para a nascente a$remia"ão. icou decidido que o clube o pa$aria quando pudesse, pois o pre"o
era altoC de( contos de réis, um dinheirão equivalente a três anos de salário de um funcionário pBblico de
médio escalão L>''^ooo réis mensais ou a três passa$ens de primeira classe de navio para a %uropa
L>C>'o^ooo, ou três contos e >== milréis. Mas o &rémio lo$o obteve o dinheiro, $ra"as a um empréstimo
 #unto ao )rasilianische )anV Br 5eutschland, o velho e bom )anco /lemão, quitando a d*vida com a
fam*lia. %is aqui, portanto, um clube que agou por sua primeira propriedade  ao contrário de outros, que se
apropriaram de terrenos tomados ao la$o &ua*ba, esmolados #unto à prefeitura.

/ )ai!ada fica no bairro Moinhos de Tento. ' que ali sur$iu, no entanto, nunca foi um time qui!otesco em
luta contra moinhos. /té porque a pro!imidade do Piro /lemão #á $arantiu ao velho &rémio a dose certa de
 belicosidadeC quem passou a ser mo*do nos Moinhos não foram moios de tri$o mas os futuros adversários
do tricolor. % isso só #á não aconteceu no primeiro #o$o disputado na )ai!ada, simplesmente porque o
 prélio inau$ural foi disputado entre os dois times do próprio &rémio L\uadro i ! \uadro G.
/pesar da ausência de adversário, solenidade foi o que não faltou ao evento. /ntecipandose em
meio século ao fabuloso hino composto por 4upic*nio 7odri$ues, os primeiros atletas autênticos
 saunterers em marcha para a Perra Santa  partiram a pé e #á uniformi(ados do centro da cidade rumo à
)ai!ada, em um percurso de cerca de quatro quilómetros. )atedores de bicicleta acompanhavam os
 boieiros e #ovens senhoritas Lquem pode duvidar que eram lindasN se$uiram #unto a eles. %ram as primeiras
das ho#e milhJes de lindas mulheres $remistas.
Pambém naquele memorável dia 0 é surpreendente que ainda não tenha sido decretado feriado nacional
no 7io &rande do Sul 0 a bandeira do &rémio tremulou pela primeira ve(. ' ma#estoso pavilhão tinha
então listras hori(ontais em a(ul, preto e branco com o distintivo no canto superior esquerdo, o canto do
 

cora"ão, pois aquela era uma bandeira com peito. /s meninas carre$aram o pavilhão desde a sede e o
hastearam no centro da Schuet(verein 3lat( La 3ra"a do Piro /lemão, como até 9:9= a )ai!ada era
conhecida.
\uando che$ou aoground, o $rupo pioneiro de atletas, diri$entes e torcedores #á o encontrou modificado
e pronto para se tornar o que viria a ser o temido ortim da )ai!ada. 2om orienta"ão e a#uda de Kenrique
3unter, en$enheiro da Antendência Municipal, responsável pelo plane#amento das ruas de 3orto /le$re e lo$o
sócio do &rémio, o terreno fora terraplenado e cercado com arame farpado. Anstalaramse borboletas para
controlar a entrada dos ilustres convidados e os sóciosfundadores que participaram das obras plantaram
 plátanos ao redor do campo, bati(andoos com seus nomes.
 @aquele domin$o frio, possivelmente o se$undo de a$osto de 9:=I, a )ai!ada foi inau$urada
com pompa e circunstância.

' presidente do %stado, )or$es de Medeiros, não compareceu à festa. /inda bemC era um su#eito
ensimesmado e sisudo, um chato de $alochas que devia $ostar de vermelho, #á que por causa de suas
reelei"Jes fraudadas muito san$ue iria correr no 7io &rande do Sul. Mas o intendente municipal, -osé
Montaur6  o mesmo que enviara a foto do primeiro time do &rémio para Saint 4ouis , estava lá. 3ouco
mais tarde, viraria o primeiro sócio benemérito do tricolor.
5epois do portentoso embate entre os dois quadros do &rémio  — e há de ter sido uma partida
fabulosa, embora as minuciosas atas do clube não preservem re$istros nem do #o$o nem do placar Lmas o
embate muito provavelmente há de ter terminado com um empate, pois como o &rémio seria capa( vencer 
o próprio &rémioN 0, os laLers se diri$iram para o vestiário do Piro /lemão. 4á, trocaram os uniformes
 por refinados tra#es sociais e foram para o Salão dos /tiradores, onde, ao som de polcas, valsas e
modinhas, dan"aram noite adentro com as belas mo"as que os acompanhavam desde o in*cio da festa. %m
um futuro muito pró!imo, quem dan"aria na )ai!ada não seriam mais eles, mas seus adversários 0 talve(
adeptos avantla lettre do futebolbailarino.

 @o dia da inau$ura"ão e pelos meses se$uintes, ao lado do campo, na altura do $rande c*rculo, o ortim
da )ai!ada esteve adornado por um belo quiosque 0 uma espécie de coreto, quase um caramanchão  onde
as autoridades e convidados se instalavam para ver o &rémio $anhar. Mas tanta $ente come"ou a
afluir ao espetáculo que lo$o foi preciso aumentar o espa"o e até cobrar in$resso. /ssim, em abril de
9:99, o incansável /u$usto WocV estimulou cem associados a adquirirem t*tulos no valor de ;'^ooo
Lcinquenta milréis cada e, com o dinheiro arrecadado por meio daquele en$enhoso empréstimo interno,
adquiriu mais uma quadra

O 6pom(al6: o (el$ssimo pa%il*o de madeira de lei constru$do em 1B1C onde a nica lei era torcer )er%orosamente pelo Grémio  pa#ando, é claro,
porque toda pai0o tem um pre7o
 

da fam*lia Mostardeiro Ltambém por 9= contos e contratou o empreiteiro &ermano )artel para
construir um pavilhão com capacidade para ;== pessoas.
Anau$urado em outubro de 9:9G, ao custo de :Cooo^ooo Lnove contos de réis, o pavilhão, lo$o
apelidado de 3ombal, era uma pequena #óia arquitetDnica em madeira de lei e por sobre cu#a cumeeira
tremulavam, altaneiras, três bandeiras do &rémio. icava paralelo à rua Mostardeiro, de frente para o campo
e para a rua 5ona 4aura. ' 3ombal perdurou por seis anos, quando foi restaurado e ampliado. 2onstru*do
em maio de 9:9<, o novo pavilhão abri$ou a primeira sede própria do &rémio 0 o endere"o era Mostardeiro,
nO ;: 0, com salão nobre, escritório, sala de trofeus Lpro$ressivamente abarrotada, é óbvio e uma
cancha de bolão, esporte muito presti$iado por um time que sempre bateu um bolão. /o redor das
quatro linhas sur$iram pequenos lances de arquibancada e neles quatro mil pessoas podiam assistir 
sentadas às vitórias do &rémio.
icou assim resolvido o problema da casa própria 0 e de tal forma que por meio século o
&rémio permaneceria instalado no   ine!pu$nável ortim da )ai!ada, na vi(inhan"a estimulante do
3rado com seus cavalos e do Piro /lemão com seus disparos.

5urante os primeiros cinco anos de sua e!traordinária e!istência, o &rémio teve apenas um
adversárioC o #á citado uss)all 2lub, seu primeiro e Bnico rival em 3orto /le$re 0 e, quem sabe, no planeta
que rodeia a cidade. %ntre mar"o de 9:=I e setembro de 9:=<, o tricolor e o alviverde disputaram 9I
 #o$osC o &rémio $anhou nove, empatou dois e perdeu os três que não valiam nada. Panto é que foi em cima do
uss)all que o time faturou seu primeiro trofeuC o 1anderpreis, ou prémio móvel  que #á houve quem
tenha chamado de prémio via#or. undida em mar"o de 9:=I, a bela e rebuscada ta"a, toda trabalhada em
metal branco, ficaria de posse definitiva do time que vencesse três mat$hs consecutivos. /divinhe na sala de
trofeus de qual clube o 1anderpreis foi parar e está até ho#eN
/pesar de toda a di$nidade e perseveran"a demonstradas pelo uss)all 2lub 3orto /le$re 0 que não
se cansava de apanhar e se$uia desafiando o &rémio 0, #á estava na hora de o time da )ai!ada encontrar 
novas v*timas. 3or isso, tão lo$o o onipresente ma#or e volante /u$usto WocV, #á então ocupando a
 presidência do &rémio Lque assumiu em 9:=?, recebeu em sua alfaiataria a visita de -ohn /rmstron$ 7ead,
naquele I de maio de 9:=:, e foi informado pelo forasteiro que o Sport 2lub 7io &rande, o mais anti$o
time de futebol do )rasil, queria enfrentar o tricolor, o que se desenrolou ali foi um encontro
definitivamente histórico.
/inda mais que, além de laLer e diretor do S. 2. 7io &rande, 7ead era secretário do dr. 2ortheil, chefe
da 2omissão de %n$enheiros do Servi"o da )arra do 7io &rande. 3ois a tal barra  o estreito bra"o através
do qual a 4a$una dos 3atos desa$ua no oceano /tlântico  era a Bnica porta de entrada mar*tima para o
continente de São 3edro, nome com o qual o 7io &rande do Sul foi bali(ado pelos primeiros europeus
que vieram dar com os costados aqui. /contece que este bra"o era um local tão tem*vel que aqueles ousados
nave$antes o chamaram de barra diabólica. / Bnica forma de tornar menos inóspita e apartada do mundo a
terra dos muitos era a constru"ão de molhes que prote$essem o canal que dava acesso àquele porto
inse$uro. Muitos pro#etos foram apresentados, mas a obra definitiva só se iniciou com 2ortheil e seus
astutos sócios in$leses em 9<:I.
Seis anos mais tarde, em #ulho de 9:==, en$enheiros, marinheiros e imi$rantes, quase todos de
ori$em in$lesa e muitos deles li$ados ao Servi"o da )arra, fundaram o primeiro time de futebol do, vá
lá... )rasil. Pambém constru*ram o primeiro estádio do pa*s. ' sport bretão, portanto, che$ou formalmente
ao )rasil por via das á$uas indómitas que durante séculos mantiveram o 7io &rande um lu$ar quase
inatin$*vel. % você vai querer me convencer que um bando de $ente como aquela, capa( de domar a
barra diabólica, praticava futebolarteN
 

' S. 2. 7io &rande nasceu com a bola tão cheia que #á em seu primeiro matai, disputado em maio de
9:=9, bateu a equipe da corveta in$lesa 9Lmh ! e $aranto que não havia nenhum bailarino a bordo daquele
 portentoso vaso de $uerra. Mas, uns dois anos depois, a bola do 7io &rande murchou e #usto durante o #o$o
e!ibi"ão em 3orto /le$re... 3ara retribuir o favor prestado por 2ândido 5ias  que, como você há de
lembrar, naquela ocasião emprestou seu lendário balão de couro sorocabano 0, -ohn 7ead /rmstron$ veio
à capital propor a reali(a"ão de um #o$o entre os paisfundadores do futebol brasileiro e os donos da bola
cheia. 'u se#aC o 7io &rande desafiou o
&rémio para um matai amistoso. % o &rémio topou, é claro.
%m 9: de maio de 9:=I, os desafiantes, suas mulheres, seus cartolas e torcedores superlotaram o
vapor Kénus e (arparam de 7io &rande para enfrentar os humores inconstantes da 4a$una dos 3atos. Prês
dias depois, #á em pleno la$o &ua*ba, o navio foi cercado por um semfim de flotilhas de barcos de todos os
clubes de remo da capital  uma frota festiva e embandeirada que os visitantes mal puderam distin$uir em
meio ao denso nevoeiro daquele final de outono.
/ bordo do vapor oa Kista, fundeado ao lado da ilha das 3edras )rancas, quase em frente ao centro de
3orto /le$re, os diri$entes do &rémio e altas autoridades estaduais também foram recepcionar os recém
che$ados. /pós o festivo desembarque sob o belo pórtico de metal e vidro da pra"a da /lfânde$a, o $rupo
se$uiu em périplo pela 7ua da 3raia até a rua Santa 2atarina e lá, na sede da Sociedade 4eopoldina,
 proferiramse calorosos discursos. Mas foi no dia se$uinte, no ortim da )ai!ada, que as coisas
esquentaram de verdade.
Ema velha evista ao Grémio narra o acontecido em minBciasC ' ground da Schuet(verein 3lat( viveu
um $rande dia em GI de maio de 9:=:, quando se feste#ava o I>O aniversário da batalha do Puiuti. @o
 pequeno pavilhão das autoridades estava, entre muitas outras personalidades, o dr. -osé Montaur6 de
/$uiar 4eitão, intendente municipal. Mais de I.=== pessoas espalhavamse por todos os lados, che$ando
até a impedir os movimentos dos $oleiros e dando insano trabalho aos #ui(es degoals. @as imedia"Jes do
campo de batalha, no di(er pitoresco do Correio do 5ovo, viamse inBmeros autos, repletos de assistentes. /s
senhoras tra#avam a ri$or. 3arecia um prelBdio de baile do 2lube do 2omércio ou da Sociedade &ermânia.

'stentando vistosos fardamentos de $ala, os dois teams adentraram o $ramado. %ram 9; horas. 's
quadros formaram para o i$!off, depois de sorteado o toss pelo #ui( @u!i, do 7io &rande, cu#a atua"ão
 parcial*ssima mereceu reprova"ão $eral. %stavam assim constitu*dos os teams> Grémio> Waastrup 
Martau e 5eppermann 2aris, )lacV e WocV ! )rochado, )ooth, Kuch, Wallffel( e &runeRald. 6ort Club>
4aRson 0 4ahor$ue e 4aRson AA 0 3a$nin, 7. /shin e @euber$ 0 1i$$ A e 1i$$ AA, 7ead, 4au$hton e
/shtin.
2omo era constitu*do de in$leses que haviam praticado ofoot!ball em sua terra, a Meca dofoot!ball,
esperavase bem mais do quadro visitante que, no entanto, desde o i$!off $onhe$eu  b valor da equipe
 portoale$rense, se$undo o depoimento ?aliMs insuseito, a$res$ento euA do cronista /rch6medes ortini ?velho
e in$ondi$ional f) da $or vermelha  0 a#uela #ue é originMria de RvermB$uloRA.
\uase sempre dominaram os locais, prosse$ue a anti$a crónica. Waastrup fe( defesas
emocionantes. / linha de médios esteve firme. )ooth, na linha, driblou com vontade e as constantes
 

Mais um #ol na @ai0ada: com rede ou sem rede, o a%assalador time do Grémio metia a (ola dentro da 6#oleira6 do ad%ersário, )a=endo de seu (elo
estádio um tem$%el al7apo

e!tremadas de &runeRald fi(eram 4aRson suar frio. /os G= minutos, &runeRald enche o pé,
desferindo forte pelota"o que vai ricochetear entre os assistentes, depois de vencer o  goal!eeer. 'va"Jes
intermináveis. Mas duram poucoC @u!i, o #ui(, deu o goal como produto de um off!side.
3ouco depois, de novo &runeRald, que se apresentou com muito senso de oportunismo, marca
outro goal.  @ovamente @u!i deu como off!side. Grandes  protestos. Mas os portoale$renses insistem nas
car$as e &runeRald coloca outra bola dentro da $oleira ?$omo em ga*$hes se $hamam as traves, ou a meta, eli$o
eu ara algum eventual leitor estrangeiroA. /*, enfim, @u!i consi$nou o tento. 7ead, o homem que tanto
trabalhou para a reali(a"ão do #o$o, é o mais esfor"ado dos rio$randinos, tanto que cai contraindose em
câimbras, sendo o #o$o suspenso. 4o$o após o reinicio, termina o primeiro tempo, no qual o &rémio
marcou três goals para valer um Bnico.
@o se$undo tempo, novamente de esquerda, &runeRald marca outro goal, que o #ui( dá como
não tendo passado a linha. @ão e!istiam redes, mas @u!i sequer se di$nou a ouvir o #ui( de  goal. E quem
defensou a pelota, que #á havia vencido o $oleiro, foram os assistentes que ali estavam postados....
2ausará al$uma surpresa informar que o 7io &rande $anhou o #o$o por >!GN @u!i, o primeiro
árbitro cu#a senhora que lhe pariu há de ter sido muito comentada ao lon$o de todo aquele domin$o, foi
apenas o pioneiro de uma vasta e infame estirpe de #ui(es que surrupiaram o &rémio ao lon$o dos Bltimos
cem anos, entre os quais é l*cito incluir /rmando Marques, 'scar Scolfaro, %dilson Soares da Silva,
5ulc*dio 1anderle6 )oschilla, 2arlos Simon e tantos outros.

Mas I9 dias depois, #á se habituando com as in#usti"as que lhe perse$uiriam ao lon$o do século, o &rémio
estava de volta ao buner da )ai!ada para bater o uss)all e conquistar mais uma ta"a, a Pa"a Sportiva,
oferecida pelo Correio do 5ovo. % ta"as continuariam se acumulando na sala de trofeus da Mostardeiro
nO ;:, até o &rémio trocar a )ai!ada pelo 'l*mpico Monumental, em setembro de 9:;>. Ko#e, depois de
ter sido ocupado por vários anos pelo &rupo %scolar Eru$uai, o solo sa$rado onde se er$uia o ortim da
)ai!ada transformouse no 3arque Moinhos de Tento, o 3arcão, um dos lu$ares mais bacanas de 3orto
/le$re 0 onde corro todos os dias, com e!ce"ão dos dias em que não corro. / menos de de( metros de onde
ficava uma das $oleiras er$uese a$ora um busto de &oethe, o maior de todos os poetas alemães.
5epois de encontrar, por acaso, aqui no escritório 0 com vista para a )ai!ada 0 o poema 5rometeu,
escrito pelo $enial autor de "austo, não pude dei!ar de concluir que &oethe sempre foi $remista, mesmo
tendo morrido H= anos antes da funda"ão do &rémio. Te#a se estou erradoC
 

 5ois a#ui estou euS


 "ormo homens H minha imagem,
ma estire #ue a mim se assemelhe>
 5ara sofrer, ara $horar,
 5ara gozar e se alegrar 
 E ara n)o vos reseitar,
Como euS

% a$ora que você #á sabe que tanto o &rupo %scolar Eru$uai Lque continua ali no 3arcão, só que em
outro lu$ar como o $enial &oethe estão umbilicalmente li$ados ao &rémio, vamos para o pró!imo
cap*tulo, pois nele vou tentar provar que esse time não é brasileiro.

's le$endários pavilhJes tricoloresC as três bandeiras do &rémioQ a ori$inal Lacima, a $ue imitou a bandeira do )ra(il L e depois foi proibida e a atual, criada em 9:I?
 

A =a#a *am(ur#uesa do Grémio: 'c*u(ac. e Mo*rdiec., =a#ueirosmores, uma m ural*a intranspon$%el como o Muro de @ erlim dos %el*os tempos e que
marcou época na @ai0ada

F! O GRM3O 53'24AT3NO E GERMHN35O

/ palavra brasil, repleta de si$nificados e ressonâncias, empurra quem quer que pretenda desvendar 
sua ori$em na dire"ão de uma via$em etimoló$ica repleta de surpresas e entrela"amentos. %mbora e!istam
mais de vinte e!plica"Jes para o si$nificado do étimo, o fato é que, além de ser $rafado com RzR, )ra(il é
uma palavra de ori$em céltica. 's celtas, velhos $uerreiros que habitavam a atual An$laterra, o norte da
ran"a e a anti$a Abéria, eram um povo metalBr$ico que utili(ava o estanho para fabricar um corante de
viva tonalidade rubra. % tal corante era chamado brea(ail  ou vermelhão. 5a* sur$iu o nome K6
)rea(il, que pode ser tradu(ido como na"ão dos vermelhos. 3or causa da lendária K6 )rea(il 0 e não por 
causa do pobre paubrasil, como #ul$a o senso comum 0 a pátria do futebolarte acabou sendo bati(ada
de... )rasil, e ainda por cima com s.
 

/$ora me di$a se o &rémio poderia pertencer à na"ão dos vermelhos, também conhecida como terra do
vermelhão 0 que, aliás, é a cor da cara de quem está com raiva ou com ver$onhaN /lém disso, mesmo se
optasse pelo )rasil como sua terra natal, o &rémio nem assim seria brasileiro. Simplesmente porque time tão
culto não incorreria em tamanho erro $ramatical. Sim, porque se as re$ras do bom portu$uês tivessem sido
corretamente aplicadas, os nativos do )rasil seriam brasilienses, #á que brasileiro era apenas e tãosomente
o termo utili(ado para desi$nar quem se dedicava ao tráfico de paubrasil, como baleeiros eram os que
lidavam com baleias, pimenteiros os que traficavam pimenta e ne$reiros os que vendiam escravos...
' &rémio, portanto, n)o é brasileiro 0 mas no fundo também nunca foi muito brasiliense. ' &rémio,
 pelo menos o meu, é um time cisplatino, quase uru$uaio, #á que sempre teve alma castelhana. /final, o
7io &rande do Sul e o Eru$uai, pátria do verdadeiro futebol americano, foram durante séculos praticamente
a mesma coisa. @ão estou querendo importunar você com essa história, mas o fato é que de 4a$una Lem
Santa 2atarina a 3unta dei %ste Lno Eru$uai estendiase uma por"ão de terra diferente do resto, mantida
em res$uardo pela #á citada maior costa retil*nea do mundo. 5ali para cima e dali para bai!o, o mundo era
 bem outro.
's portu$ueses, que sempre foram espertos, #á  pareciam saber disso antes mesmo de desembarcar 
oficialmente no )rasil, em abril de 9;==. Panto é que, em uma antevisão profética da bronca na qual iriam se
meter, reservaram para si, $ra"as ao Pratado de Pordesilhas, assinado em #unho de 9I:I, apenas uma
 pequena parte do território ho#e chamado )rasilC a estreita fai!a litorânea que ia das pro!imidades de )elém,
no 3ará, até 2ananéia, no litoral sul de São 3aulo.
'  problema é que a $anância lo$o come"ou a falar mais alto e eles foram esticando a raia de
Pordesilhas até 4a$una, asse$urando a posse de todo o território que dispunha de portos naturais. /té a*
tudo bem, pois os espanhóis estavam interessados mesmo era no 7io da 3rata, seu caminho fluvial para
o 3eru. Só que em 9?<= os lusos decidiram se apoderar de toda a (ona que ia de 4a$una até a fo( do
3rata. 3or isso, fundaram a 2olónia de Sacramento na mar$em esquerda do $rande rio,
desafiadoramente em frente a )uenos /ires. 2om isso, defla$raram um conflito que por 9;= anos iria
ensan$uentar toda a re$ião e empurraria tanto o 2ontinente de São 3edro do 7io &rande do Sul quanto
a )anda 'riental do Eru$uai em dire"ão a um emaranhado de batalhas sem fim,  banhos de san$ue e
 batismos de fo$o.
5epois de dois séculos como uma terra de nin$uém, movedi"a e intan$*vel, o 7io &rande do Sul acabou
virando brasileiro  por op"ão, é bom ressaltar , enquanto que a )anda 'riental, prensada entre dois pa*ses
 bastante estranhos, o )rasil e a /r$entina, conse$uiu se tornar uma na"ão independente. % foi assim que
nasceu o Eru$uai  ou melhor, o Eru$ua6, altivo e or$ulhoso pa*s que durante décadas tentou ensinar aos
demais como se praticava o #o$o que os in$leses tinham apresentado ao mundo moderno. ' Eru$ua6,
campeão das 'limp*adas de 9:GI e 9:G<. ' Eru$ua6, primeiro campeão do mundo, em 9:>=, depois
de ter or$ani(ado a primeira 2opa da história. ' Eru$ua6, bicampeão mundial em 9:;=, batendo bailarinos
de salto alto na final que eles #ul$avam $anha antes de #o$ála.
' &rémio  bem que poderia]deveria ser uru$uaio. 3ensando  bem, o &rémio praticamente é
uru$uaio. /final, um dos maiores *dolos da história do time, o (a$ueiro Ku$o de 4eón, era... uru$uaio. Em
dos maiores t*tulos da história do &rémio, a 4ibertadores de 9:<9, foi conquistado contra... um time
uru$uaio, o 3enharol Lde quem o &rémio nunca $ostou muito, #á que sempre preferiu seu coirmão tricolor,
o @acional. Em dos maiores feitos da história do &rémio  e tema central deste cap*tulo ! foi a vitória
sobre... a sele"ão uru$uaia, em embate travado no ortim da )ai!ada, em 9:9?. Em dos salJes de festa
favoritos do &rémio Lalém do Maracanã, é claro sempre foi o imponente estádio 2entenário, em
Montevidéu. /lém disso, o &rémio sempre foi blan$o Lalém de bla$PueA, acostumado a de$olar 
$olorados.
 

Mas como o &rémio, por uma série de circunstâncias históricas nunca foi uru$uaio, vamos decidir então que
estamos diante de um time cisplatino. /ssim, prestaremos uma #usta homena$em à 3rov*ncia 2isplatina,
aquela espécie de pa*s independente que uniu o 7io &rande do Sul ao Eru$ua6, ocupado em 9<G= por 
tropas que se di(iam brasileiras mas que, claro, eram $aBchas. /liás, sabe onde sur$iram os $aBchos 0 ou,
mais apropriadamente os ga*$hos, assim sem acentoN @o Eru$ua6, é claro.
' &rémio no entanto nunca foi um cisplatino puroC é um time h*brido, pois e!iste al$o
definitivamente in$lês na equipe que acredita que o verdadeiro futebol é feito de fibra e for"a e não de
 baleQ cu#o uniforme inspirouse no do %!eter 2it6, e que teve em %dRin 2o! um de seus primeiros
craques.
5e fato, foi depois de ver uma foto com o time do %!eter 2it6 fardado de tBa$Pblue que o ele$ante
alfaiate /u$usto WocV decidiu impor sua vontade ao conselho e fa(er com que o &rémio vestisse a(ul e
 preto. %squeci de di(er no cap*tulo i que, depois de ser voto vencido em sua obtusa tentativa de fa(er o
&rémio tra#ar vermelho, 2ândido 5ias amuouse, abriu mão do car$o de $uardaesporte e mer$ulhou na
obscuridade. /inda assim, somos $ratos a ele e ao balão de couro sorocabano, que deu ori$em ao &rémio.
3ortanto, três hurras para 2ândido 5ias, pessoal+
 @ove anos depois de ter suas cores emuladas Le devidamente honradas pelo &rémio, a equipe do
%!eter 2it6 veio à /r$entina, ao Eru$ua6 e ao )rasil em missão civili(atória, disposta a e!plicar aos
nativos como se batia com o pé na bola 0 e em outros lu$ares também, quando fosse o caso. 's
uru$uaios e os ar$entinos parecem ter aprendido bem a li"ão. 's brasilienses, ao que tudo indica, não.
/pós a consa$radora turnê pelo 3rata, em #ulho de 9:9I, o %!eter desembarcou no 7io do -aneiro,
capital dos manes molentes.

ormada  por  #o$adores profissionais 0 e viris é claro  —, a equipe despertou aten"ão e curiosidade.
5isputou seu primeiro #o$o nas 4aran#eiras, o belo estádio do luminense, no dia 9< de  #ulho,
enfrentando um combinado de in$leses que viviam no 7io, e $anhou por > a o. @o dia se$uinte, entrou em
campo outra ve(, e venceu de novoC ;!> contra a sele"ão carioca.
%mbora recebesse uma quantia fi!a por apresenta"ão, o %!eter levaria uma $rana e!tra se vencesse
as três partidas marcadas. 5ispostos a economi(ar o dinheiro, os brasilienses reuniram o que
supostamente tinham de melhor  e,  para isso, i$noraram até a velha rivalidade entre 7io e São 3aulo.
/ssim, no dia G9 de #ulho de 9:9I, um combinado de cariocas e paulistas adentrou ao tapete quase verde das
4aran#eiras para encarar os britânicos. ' #o$o é considerado o primeiro mat$h da sele"ão brasileira, #á que
o pessoal que vive no centro do pa*s sempre considerou os estreitos limites ori$inais estabelecidos pelo
Pratado de Pordesilhas $randes demais.
' te!to a se$uir, reprodu(ido do livro Kis)o do Togo ! 5rimrdios do futebol no rasil, de -osé Moraes dos
Santos @eto, narra, com olhar parcial*ssimo, como teria sido a partida. /s observa"Jes entre parênteses
são minhasC 3erante um estádio lotado, o #o$o come"ou e os in$leses puseram em prática uma dinâmica
de choques ?#ue brutosSA. /o perceberem a incr*vel a$ilidade e velocidade de 7ubens Salles e ormi$a,
somada à ma$ia dos dribles de riedenreich, impuseram marca"ão individual sobre os atacantes
 brasileiros ?#uanta deslealdadeSA. ' prémio em dinheiro dei!ou de ser dado como certo ?$omo se ingleses
a$hassem #ue Togo se ganha antes de TogM!loA. 2ontando com a complacência do árbitro in$lês Karr6 7obinson,
os in$leses #o$aram com e!trema violência ?n)o sei, eu n)o estava lM e n)o vi nadaA. riedenreich perdeu dois
dentes, teve ferimentos no #oelho esquerdo e che$ou ao final bastante ensan$uentado ?ensei #ue ele fosse de
origem alem)A. Mas não adiantou. /inda no primeiro tempo o selecionado nacional marcou dois $ols. /
vitória estava $arantida.
 

%mbora elucidativo e inovador em muitos aspectos, o livro de Santos @eto em nenhum momento
observa que aquele era o terceiro #o$o do %!eter em um per*odo de quatro dias, que o time #á estava em
e!cursão pelo 3rata e pelo )rasil há G= dias Ltendo disputado um total de 9; #o$os, que fi(era uma lon$a
via$em de navio e que, no dia se$uinte, ia para casa. Mas tudo bem, os in$leses não são de ficar dando
desculpas. 's brasilienses venceramN 3arabéns. Tamos em frente.

Prês anos antes de o %!eter e!ibirse no )ra(il  está bem, no )rasil 0, o &rémio, que enver$ava
aquelas mesmas cores, #á havia adicionado ao seu esp*rito in$lês um #o$ador de ori$em britânica, o $rande
%dRin 2o!, $enter!forJard matador e oportunista, um emérito driblador Lsó que driblava para frente, não
 para os lados. 3ois %dRin era irmão de 'scar 2o! L9<<=9:>9, o homem que introdu(iu o futebol no
7io de -aneiro e fundara o tricolor luminense, em #ulho de 9:=G, um ano antes do &rémio.
5epois de $anhar vários t*tulos no 7io, %dRin 2o! fe( um ugrade e transferiuse para o &rémio em
9:99. %leito capitão do time, propDs uma $rande inova"ãoC a equipe seria escalada conforme o desempenho
dos #o$adores nos treinos, e não por decisão prévia da dire"ão. / democracia $remista deu mais do que
certoC o esquadrão de 9:99, um dos maiores da história do &rémio, foi campeão invicto da cidade naquele
ano, patrolando os adversários, inclusive o recémsa*do das fraldas Sport 2lub Municipal, da na"ão dos
vermelhos, que tomou 9= ! 9, com direito a $ol de calcanhar  ou de charles, como então se di(ia 0 
assi$nalado por 2o!.
Só que, além da alma castelhana e da fibra in$lesa, o &rémio sempre teve determina"ão e disciplina
tipicamente $ermânicas. /liás, sabe o que quer di(er $ermanoN Komem de $uerra, responde o $eó$rafo
romano %strabão, que os enfrentou no campo de batalha. \ue o &rémio descende de cavaleiros teutDnicos é
evidenteC basta ver o time em campo até ho#e. @aquele tempo, era só olhar o sapateiro Waastrup como goal!
eeer, o matador &runeRald como $enter!forJard e o $rande ma#or e alfaiate WocV como um half!ba$ por 
inteiro, um homem que além de #o$ar na frente da (a$a, na conten"ão, sabia costurar 0 e ainda presidia o
clube.
Mas não foram apenas esses os heróis que tão bem simboli(am o esp*rito de $uerra
$ermânico do imortal tricolor. /lém de 2o!, os $randes destaques da memorável temporada de 9:99
foram os (a$ueiros alemães )runo SchubacV e &ustàv MohrdiecV  que ho#e, com certe(a, estão no
Talhala, bebendo vinho ao som de O nel dos 9ibeBungos de 1a$ner, entre belas frauss e a$uardando as
 pró!imas batalhas.
SchubacV, natural de Kambur$o, a cidade dos )eatles, come"ara a carreira no &ermânia, poderoso
esquadrão local. Mudando para o 7io, casou com a irmã de %dRin 2o!, tornandose concunhado do
$rande artilheiro. -o$ou com ele no luminense, mas quando 2o! veio para 3orto /le$re, )runo SchubacV 
também resolveu subir na vida e o acompanhou. /lém de um ser um full!ba$ cheio de si, SchubacV era um
atleta completoC na /lemanha, vencera 99 provas de 9== metros rasos, com tempos pró!imos aos 9=
se$undos. 5ono de um tiro poderoso, como revela uma anti$a evista do Grémio, SchubacV assinalou o
$ol que 3ele nunca foi capa( de fa(erC no dia 9= de setembro de 9:9I, venceu o $oleiro /$uado, do
/mericano, desferindo um petardo de seu próprio campo.

SchubacV, titular de 9:99 a 9:9;, formou com &ustav MohrdiecV a famosa (a$a hambur$uesa do
&rémio 0 ine!pu$nável como o Muro de )erlim nos bons tempos. MohrdiecV e SchubacV eram
 primos e foi SchubacV quem convenceu MohrdiecV a abandonar o Titória, de Kambur$o, e se
transferir para o $lorioso &rémio. Em tempo depois, o Titória mudaria de nome, passando a se
chamar Kambur$ Sport Terein. 'itenta anos mais tarde, esse mesmo Kambur$o 0 que tra#a
 

vermelho, palavra ori$inária de... bem, você #á sabe  enfrentaria o &rémio em Póquio, na final do
Mundial. % você também #á sabe quem $anhou.
' Titória, fundado em 9<:;, foi campeão alemão em 9:=<. Prês anos mais tarde, estimulado por
SchubacV, &ustav MohrdiecV resolveu vir para o &rémio. oi uma aben"oada decisão. 3or de( anos, ele
foi tudo o que se pode esperar de um (a$ueiroC che$ava #unto, quando não che$ava antesQ prote$ia sua
área como se fosse minadaQ dividia, somava e se multiplicava em campo. \uando era preciso, parava o
 #o$o com falta. @unca faltou a um #o$o ou a um treino. oi um paredão, um muro, uma barreira
intranspon*vel. Pornouse o primeiro atleta laureado do &rémio, $lória reservada àqueles que vestem
a m*tica #aqueta tricolor por de( anos consecutivos.
SchubacV e MohrdiecV 0 seus nomes soam como mBsica para mim  estrearam formando o que
então era chamado de parelha de ba$sR contra o pobre H de Setembro, no dia G< de maio de 9:99,
 primeiro #o$o do campeonato citadino daquele ano. 7eali(ado no buner da )ai!ada, o matai terminou
com o placar de 9= ! i para o &rémio. /pesar dos goals de &runeRald, o $rande destaque do #o$o foram os
Rshoots à hambur$uesa de MohrdiecV e SchubacV. Mas a imprensa viuse for"ada a abrir amplo espa"o
 para o fato de os atletas do H de Setembro terem carre$ado o $enter!forJardKiana,autor do Bnico

de seu time, nos ombros, lomba da Mostardeiro acima. /


 #ustificativa para tal esfor"oN U que foi considerado um feito
e!traordinário o ter burlado o trio final tricolor...

/quele foi o primeiro #o$o no qual o &rémio cobrou in$resso de


seus associados e dos demais assistentes. oram e!orbitantes ;== réis,
equivalentes a meio qu<ilo de carne ou a i quilo de fei#ão. / #usta
e!plica"ão da dire"ão foi que a constru"ão do novo pavilhão
 

O @ar(aNe#ra: o admirá%el Geor# @lac., atleta completo e e0$mio


cataeceador, con*ecido como 6pro)essor (ar(udo6

necessitava de verbas. \uem esteve na )ai!ada naquele dia histórico sabe que o investimento #ustificouse
em cada tostão.
/lém do que, com a estreia de SchubacV e MohrdiecV, os mais nostál$icos puderam, naquele dia
memorável, matar a saudade de um outro  full!ba$ alemão que #o$ara no &rémio quatro anos antesC o
fabuloso &eor$ )lacV, o )arba@e$ra Lassim o chamo euQ infeli(mente esse nunca foi seu apelido.
 @atural de Munique, )lacV imi$rara para 3orto /le$re no final do século XAX e, além de e!trao rdinári o
(a$ueiro, tornouse um homem de $rande importância na história da cidade e do %stado.
/tleta de mBltiplos talentos, foi o mestre instrutor e o introdutor de vários esportes no 7io &rande do Sul,
especialmente $inástica, mas também es$rima, remo, punhobol, atletismo e até o escotismo. Pambém
construiu um spa nos arredores da praia de Porres, dedicado

às caminhadas, à nata"ão, às caval$adas, tudo com base em alimenta"ão controlada e muita disciplina.
2hamavamno o professor barbudo.
5e estatura apenas mediana, mas forte como um touro, )lacV foi titular nas temporadas de
9:=I,9:=; e 9:=?. %, na primeira delas, tornouse o primeiro homem a marcar um $ol de cabe"a no )rasil,
de acordo com o que relata o cronista 7u6 2arlos 'stermann em té a é ns iremos, seu livro sobre a
história do &rémio, de onde foram e!tra*das as informa"Jes acima. %m 9:G=, )lacV teve uma perna
esma$ada entre dois va$Jes de trem que ele tentava impedir que se soltassem  e precisou amputála.
3arou de #o$ar, é claro, mas continuo achando que mesmo com uma perna só ele daria conta do recado. '
$rande ba$ )lacV+

oi também durante a $loriosa temporada de 9:99 que o &rémio  o Bnico time internacional do
2ontinente de São 3edro  disputou seu primeiro #o$o... internacional. % sabe contra quemN 2ontra a
sele"ão do pa*sirmão, o vi(inho Eru$ua6. 2ru(ando a fronteira for#ada a ferro e fo$o ao lon$o de dois
séculos, os uru$uaios vieram #o$ar em 3elotas e 7io &rande, velhos baluartes er$uidos pelos portu$ueses
às mar$ens da 4a$una dos 3atos. ' primeiro #o$o, contra o S. 2. 3elotas, terminou em 9= ! o para os
visitantes. Mas o despacho tele$ráfico transmitido pela 1estern para o #ornal  El 6iglo, de Montevidéu,
se$uiu com te!to truncado e o diário noticiou que o prélio terminara empatado em o a o. @o dia se$uinte,
mais de mil pessoas postaramse em frente ao prédio, incrédulas e estarrecidas com o suposto resultado.
4o$o obtiveram a informa"ão correta.
/ se$unda partida do Eru$ua6 em solo $aBcho foi contra o le$endário 7io &rande, o primeiro time
fundado no )ra(il. ' #o$o acabou 9> ! 9 para a futura 2eleste 'l*mpica. /l$uns dias depois, os  uru$uaios
enfrentaram um combinado $aBcho e, apesar da presen"a de quatro laLers do &rémio Lmais quatro do 7io
&rande e três do 3elotas, a partida terminou ? ! 9 para os orientais. E então, no dia 9< de #ulho de 9:99,
em 3elotas, che$ou a ve( de o &rémio enfrentar a celestial equipe uru$uaia. / crónica que se$ue foi publicada
 pelo DiMrio 5oular.
 

oi disputado o matai de ontem, entre a 4i$a Eru$ua6a e o &rémio oot )all 3orto/le$rense. /
nossa opinião é que causou $rande emo"ão o encontro das duas equipes, porque o resultado do mesmo
não foi o esperado. 4amentamos que a concorrência não fosse numeros*ssima, porque todos haveriam
de atestar o valor do team  portoale$rense, quanto à sua defesa. 5ado o i$!off, desenvolveuse
e!celente #o$o. 3atenteouse lo$o o valor da defesa portoale$rense, que, durante I; minutos, manteve
além de seu $oal o team da 4i$a Eru$ua6a, que esteve infeli(, sem a sua conhecida e e!celente
combina"ão.
%stranhamos a linha de  forJards do team uru$ua6o, que acreditamos nada fe( de notável nesse
tempo, pelo cansa"o de tantas festas a que tem assistido. @o GO half!time, os uru$ua6os uniramse e, durante
os I; minutos, mantiveramse enfrentando o  goal  portoale$rense, salvo pequenas escapadas. Mesmo
assim, resistiram os portoale$renses, que só dei!aram penetrar seu goal > ve(es, pontos feitos por 2arlos
)astos, 2ampiste$u6 e Marque(.
a"ase #usti"a a 2o!, que se reabilitou. U um e!celente $enter!forJard,  para não di(er notável.
Schubach, Peichmann e MohrdiecV fi(eram verdadeiros mila$res. Sommer destacouse entre os demais que
não citamos, os quais, se fossem mais ativos, poderiam dar melhor resultado. elicitamos os valentes
uru$ua6os pelo e!celente #o$o que desenvolveram e aos portoale$renses pelo resultado que conse$uiram,
 perdendo só por > $oals.
7esumo da óperaC o &rémio sempre soube perder, mas nunca dei!ou de vender caro suas derrotas. 5e todo
modo, vin$an"a é um prato que se come frio e o que era dos uru$ua6os estava $uardado. %ra só a$uardar 
cinco anos  e virar duas pá$inas deste livro.
% cinco anos passam num tapa, especialmente quando coroados de ê!ito como aqueles entre 9:9G e
9:9?. %m 9:9G, o &rémio foi bicampeão invicto de 3orto /le$re 0 uma campanha tão espetacular que a
dire"ão mandou cunhar ;= moedas de prata na /lemanha, estampando nelas desenhos do pavilhão
e do groundR. @o ano se$uinte, o &rémio 0 Bnico time internacional da cidade, como você bem sabe 
disputou sua primeira partida internacional na )ai!ada. ' #o$o foi contra um time... uru$uaio, é claro. '
adversário era o )ristol . 2., de Montevidéu. ' #o$o foi... bom, não vou di(er quanto foi. Se quiser saber, vá
 pesquisar. %stá bem, o &rémio perdeu. Mas, afinal, o adversário vinha do Eru$ua6, a pátria do futebol
americano, e o tricolor estava adquirindo e!periência. 5e todo modo, o tal )ristol fechou #á fa( tempo, e
o &rémio continua a*, $anhando t*tulos.
%m 9:9I, o &rémio foi campeão metropolitano invicto, dentro de uma nova li$a, com um saldo
impressionanteC 9; #o$os, 9I vitórias, um empate, <> $ois marcados e 9; sofridos. @o ano se$uinte, o
tricolor sa$rouse bicampeão, e outra ve( invicto. Pambém em 9:9; foi lan"ada a evista do Grémio "oot!all 
 5orto legrense, ór$ão oficial de divul$a"ão do clube e que che$ou a ser a publica"ão de maior tira$em de um
time brasileiro.

%ntão alvoreceu o inesquec*vel ano de 9:9?. ' quadro social crescera muito e todo o domin$o, sem
e!ce"ão, fi(esse sol ou chuva Le em terra de homem chove mais do que fa( sol, o 9O, ou o GO, ou o >O, ou o
IO quadro do &rémio se apresentava na )ai!ada. ' time   principal disputou G9 #o$os, venceu 9? e
empatou três. @aquele mesmo ano, também conquistou, depois de vencer três partidas consecutivas
contra seu velho fre$uês, o uss)all 2lub 3orto /le$re, a lind*ssima Pa"a 7io )ranco, que fora oferecida
 pelo )ristol . 2.
Mas nenhuma daquelas conquistas che$ou aos pés da fa"anha do dia 9H de setembro, quando o
imortal tricolor adentrou ao buner da )ai!ada para disputar a mais importante partida de seus 9> anos de
$lória, que tinham sido comemorados com um banquete dois dias antes 0 e continuaram sendo celebrados
com o festim que veio a se$uir, conforme descreve o sempre comedido Correio do 5ovo>
 

/o mat$h entre &rémio e Sele"ão do Eru$uai, disputado no Moinhos de Tento, na tarde de 9H de
setembro de 9:9?, compareceram diversas autoridades. _s 9? horas, o #ui( /ppelles )ordabehere, que se
mostrou correto e imparcial em suas decisJes, deu in*cio ao #o$o que haveria de premiar o &rémio com sua
 primeira brilhante vitória frente a sele"Jes estran$eiras e a mais notável conquista esportiva desde a sua
funda"ão.
' primeiro tento da partida obteveo o adversário, aos 99 minutos, através de 2astilla, depois de um
$omer atirado pelo e!trema /llen. ' saldo ne$ativo do in*cio da partida não arrefeceu os ânimos dos
 #o$adores $remistas, que redobraram seus esfor"os para estabelecer a primeira $rande Tirada. ' goal!
eeer Schiel, a formidável barreira constitu*da por MohrdiecV, Saavedra e 2hiquinho, aliados à
calma do capitão Kanssen, quebraram a avassaladora impetuosidade dos primeiros e dif*ceis momentos de
 #o$o do forte ataque do quinteto uru$uaio.
%m dado momento, vi$orosa ofensiva $remista foi iniciada pela direita, por intermédio de Sisson,
que distribuiu os lances entre 2arneiro e /ssump"ão, hábeis no aproveitamento de todos os passes.

O Gr#mio celestial de ()(*: a maravilhosa e+uipe +ue bateu o scratc do ,ruguai pa-s%irmão do io Grande do "ul no !"#$er%a 'ai$ada. O ,ruguai inventou o
futebol americano

/ssim, aos >> minutos, /ssump"ão, em rápidos driblings, conse$uiu che$ar triunfalmente à meta,
conquistando o $ol do empate.
R se$unda fase do #o$o foi ainda mais empol$ante do que a primeira, pela imensa disposi"ão dos
$remistas de suportar as investidas dos uru$uaios, cu#a equipe se compunha das maiores e!pressJes do
associativo oriental. /mbos os quadros se equivaliam, porém, em empenho para a renhida luta. 2om car$as
e contracar$as que davam ao #o$o um brilho incomum, che$ou o momento culminante da vitória
$remista através de /ssump"ão, novamente, aos >< minutos do se$undo tempo. Em $orner atirado por 
Peichmann fe( travarse movimentada sequência de lances na área uru$uaia, quando Sisson, pu!ando a
 bola, passoua ao $oleador, que, bem colocado, a enviou à meta defendida por Mar$arinos. %stabeleciase,
assim, o placar definitivo de G ! 9, uma vitória maiBscula do &rémio,   feste#ada ruidosamente não só por 
$remistas, mas também por todos os desportistas $aBchos, pela e!pressão internacional que o feito vinha
a marcar para o futebol do 7io &rande do Sul.
ormaram as equipes di$ladiantes com os se$uintes atletasC Grémio — SchielQ MohrdiecV e Kanssen AAQ
 

Kansen, Saavedra e 2hiquinhoQ /ssump"ão, 2arneiro, Sisson, Scalco e PeichmannQ


6ele()o do ruguai — Mar$arinosQ /rti$as e 3ereira AAQ 3ereira A, )ertola e 4avalle#a LcapitãoQ /llen,
)ehe$ara6, Maisonave, 2astilla e /ltamirano.

/s dimensJes do triunfo sobre o Eru$ua6 ficam ainda mais evidentes quando se sabe que aquele
selecionado não apenas patrolou o S. 2. Municipal por I!= Lno dia G9 e a sele"ão do 7io &rande do Sul por 
; ! I Lno dia GI, como simplesmente venceu o 9O 2ampeonato Sul/mericano de Sele"Jes, batendo o 2hile, a
/r$entina e o )rasil, este todo or$ulhoso por ter $anho em 9:9I uma tal 2opa 7oca.
Pão impactante foi aquela vitória do &rémio que, no in*cio da temporada se$uinte, dois craques da
sele"ão uru$uaia decidiram se transferir  para o time da )ai!ada, não sem antes terem conquistado o
 bicampeonato sulamericano de sele"Jes Lo  primeiro reconhecido oficialmente. %ram eles o esplêndido
half!ba$ -ulian )ertola Luma espécie de volante de conten"ão, é claro e o atacante %duardo )ehe$ara6.
-unto com eles vieram dois outros craques nativos da imbat*vel )anda 'rientalC o (a$ueiro %duardo
&aribotti e o avante @icanor 7odri$ue(.
2om os alemães SchubacV Ldepois substitu*do por &aribotti e MohrdiecV ainda na (a$a, )ertola na
conten"ão e )ehe$ara6 e 7odri$ue( na frente, dá para ima$inar que esquadrão admirável foi aquele que o
&rémio formou em 9:9H, com menos de 9; anos de e!istência. % não dá mais para duvidar que
estamos diante de um time $ermânicocisplatino, pronto para enfrentar os bailarinos brasilienses do
 pa*s vi(inho.
/pesar da voca"ão verdadeiramente internacional, o &rémio preferia enfrentar uru$uaios, até para
não correr o risco de se conta$iar pelos ares, di$amos assim, mais frescos, do futebolarte. 3or isso,
naquele mesmo ano de 9:9H  quando disputou 9< #o$os e marcou 99H $ois, levando apenas 9> 0, o
tricolor entrou na )ai!ada no dia : de setembro para #o$ar com o 'riental /thletic 2lub, oriundo da leal
e valorosa cidade fronteiri"a de 7ivera, terra natal de Ku$o de 4eón.
oi um #o$a"o. 4eia o que di(, outra ve(, a evista do Grémio> &ertum dá o i$!off assando a bola ao seu
companheiro e lo$o o quinteto alvia(ul dá a sua primeira avan"ada, que é brilhantemente sustada  por 
/rre$u6. @ovas avan"adas vãose quebrar ante a barreira dos ba$s uru$uaios, que, obri$ados pelo cerrado
ataque, marcam três coram se$uidos, mal aproveitados pelos nossos.
São passados de( minutos de  pu$na, e #á os #o$adores achamse senhores de suas posi"Jes, passou o
momento da indecisão, os passes são feitos com mais calma e precisão. / uma escapada do Jinger 
direito uru$uaio, este centra em eleva"ão, a bola passa em frente a Wun(, que, calculando que fosse fora, a
dei!a livre, mas com o efeito que vinha, bate com estouro na parte lateral da trave vertical do goal e correndo
$élere ela linha do goal vai perderse na linha de tou$h. ' #ui( apita, diri$ese ao goal e, depois de várias
 per$untas, sobra"a a bola diri$indose para o centro do campo, debai!o do protesto $eral do pBblico. %
assim foi marcado o primeiro  goal do dia. 's nossos, ante esta in#usta ou infeli( decisão, abatemse
e!traordinariamente, nem pareciam os mesmos. 's visitantes,   aproveitandose dessa indecisão,
carre$am diversas ve(es, obri$ando a nossa defesa a trabalhar com afinco. Em pouco mais reanimados,
or$ani(am novas e firmes avan"adas, em que são re$istrados mais de quatro $orners, que como os
 precedentes não surtem efeito.
Martine(, com #o$o de passes admirável, apro!imase de nosso goal e, a três metros de Wun(, com
 shoot certeiro a um dos cantos do goal, marca o se$undo ponto para os seus. 3almas coroam este feito dos
visitantes. Mais umas escaramu"as e termina o primeiro tempo com a vanta$em de dois goals  para os
uru$uaios.
@o meio tempo, o aspecto do pavilhão e circunvi(inhan"as é desolador, caras tristes e
desconsoladasQ não ouvese o ta$arelar ale$re do belo se!o, os torcedores estão nervosos, uns $esticulam,
outros animam os #o$adores, aqui aconselhase calma, ali cora$em, promessas de revanche que reanimam
 

os mais impulsivos.
Soa de novo o apito, apro!imase a parte final da pele#a, os nossos levam uma $rande
desvanta$em, contudo ainda há esperan"as. ' nosso team sofreu modifica"Jes. Kanssen passa para half 
e 5orival toma o seu lu$ar. 5e sa*da os nossos avan"am impetuosamente, querendo a todo custo desfa(er 
a vanta$em dos seus anta$onistas, a multidão aplaudeos, concitandoos à vitória, e, em rushs verti$inosos,
a nossa linha, secundada pelos halves, aperta cada ve( mais a defesa inimi$a, /rre$u6 e o eeer fa(em
 prod*$ios de defesas, porém são obri$ados a ceder, cabendo a 4u((i abrir o s$ore do seu team. 5escrever o
entusiasmo do pavilhão seria dif*cil, palmas, bravos e vivas reboaram durante minutos, aplaudindo os
nossos valentes defensores.

/nimados por este feito, novas car$as são diri$idas ao quadrilátero uru$uaio, obri$ando a estes, como
Bltimo recurso, marcarem diversos $orners. / multidão reclama se$uido contra o

6Aclamado pelo (ello se0o6: a$ está a poderosa equipe de 1B1I, que en)rentou a a#uerrida equipe do Oriental, time #enuinamente uru#uaio, tra-ando
a linda camisa a=ul e (ranca

referee,  pedindo a puni"ão de hands, fou P enaltLs. O  #ui( prosse$ue a não en!er$ar nada, e o  #o$o vai
desenvolvendose, ora avan"adas uru$uaias, ora nossas, sendo estas mais repetidas, pois em quase todo
este tempo foi franca a nossa domina"ão.
5orival e &ertum, em passes rápidos, apro!imamse do goal, driblam os ba$hs adversários, cabendo
ao nosso $enter, que foi o herói da linha, i$ualar o s$ore. 5esta ve( o entusiasmo che$a ao au$e, chapéus
são arremessados ao alto, o pavilhão estremece, o fonfon dos automóveis bu(ina, e debai!o da $ritaria
infernal de todo o povo recome"a o mat$h, cada ve( mais emocionante, cada qual quer vencer, os nossos num
*mpeto de ener$ia atiramse como loucos sobre a bola e dominam completamente o #o$o. 3orém, a hora
es$otarase, o trilo do apito dá por terminada a pele#a. @ovo empate. 's #o$adores são aclamados pelo
 belo se!o e, esquecendose do seu rancor de pouco,  confraterni(am com os adversários. ' nosso team
apresentouse da se$uinte formaC Wun(Q &aribotti, MohrdiecVQ 5orival, Saavedra, 2hiquinhoQ 4u((i,
Kanssen, &ertum, 36, 4eonardo.

Pão admirável fora a vitória contra a sele"ão uru$uaia em 9:9? que uma fanática torcedora  cu#o nome
a história lastimavelmente não preservou, mas que com certe(a se tratava de mais uma inte$rante do
bello se!o disposta a aclamar o &rémio 0 decidiu confeccionar uma nova bandeira para o tricolor. 2om
um fundo a(ul retan$ular, um losan$o branco no meio e o s*mbolo no &rémio ao centro, o pavilhão imitava
 

a bandeira do )rasil, só que melhorandolhe as cores. \uando ele foi hasteado pela primeira ve(, em 9:9<,
ao lado da bandeira oficial do clube, o $eneral @apoleão de /lencastro &uimarães, futuro senador da
7epBlica, fe( ecoar uma salva de tiros de revólver na madru$ada silente de 3orto /le$re. Te#a só, @apoleão
também era $remista...
/ nova bandeira a$radou tanto aos sócios tricolores que acabou substituindo a ori$inal. \uando, por 
for"a de uma lei federal, o &rémio foi proibido de usar a bandeira que homena$eava o pavilhão nacional,
o clube deveria ter declarado sua $uerra de secessão, cortando os ténues la"os que o uniam ao )rasil.
3ensando bem, o &rémio #á o fi(era  e H< anos antes de sua funda"ão, quando o 7io &rande do Sul
declarou independência do Ampério do )rasil e transformouse na 7epBblica de 3iratini, o pa*s dos
$aBchos.

/. G0P12: O
324""53O
M051%"O21

Os farrapos: a+ui estão os her6is do verdadeiro Grepal do s#culo disputado no 3enten!rio 7arroupilha em setembro de ()89. 2ara sa-do do hospital est! de branco
ajoelhado no meio

Podo mundo acha que sabe o que si$nifica $aBcho, só que nin$uém sabe ao certo, nem os próprios.
/ palavra evoca aventura, nostal$ia, romanceQ recende a san$ue, suor e poeiraQ ecoa o tropel de i .ivalos, o
 brado dos bravos, o retinir de metais. Pem al$o de épico e ar an dil oq Be nt e. Ma s ar ra st a pa ra um
tu rb il hão de ima$en s i ambiantes e ori$ens indeterminadas.
5e onde sur$iu o $aBchoN 's historiadores continuam atolados na areia movedi"a das polémicas
insolBveis. ' $aBcho é berbere, árabe, oriental ou andalu(N ' $aBcho é charrua, quéchua ou araucanoN
 @in$uém sabe. ' mais provável é que todas as op"Jes se#am mais ou menos verdadeirasC o $aBcho é um
mesti"o for#ado na fronteira mescla elementos de várias na"Jes ind*$enas com a comple!a tradi"ão luso
castelhana, por sua ve( repleta de influência moura.
 

% o que, afinal, quer di(er $aBchoN / palavra, escrita pela primeira ve( em 9HI>, vem do persa, do árabe,
do sânscrito, do quéchua, do araucano ou do $uaraniN @in$uém sabe ao certo. 5e certo mesmo, só que
sur$iu quase como palavrão. &audério, chan$ador, $arrucho, harra$ano ! todos sinónimos de $aBcho 
eram também sinónimos de va$abundo, va$amundo, ou ba$amundo. 4adrJes de $ado, $uascas, sem
lei nem rei, que viviam dentro de suas camisas, debai!o de seus chapéus e em cima de seus cavalos. &ente
 peri$osa, sempre em marcha e sem domic*lio fi!o. /utênticos saunterers, embora nem sempre em busca da Perra
Santa. 5entre as ervas daninhas que vin$aram na selva das palavras, a flor mais bela foi colhida pelo
historiador /urélio 3orto, em 9:I?C se$undo ele, o termo provinha de $uaB, e!pressão $uarani cu#o
si$nificado é cantar tristemente, mais che, do quéchua, que quer di(er Rgente, homem. 'u se#aC
homem de cantar triste. 5efini"ão linda e poética 0 pena que errada. / ori$em mais provável é do
araucano hua$chu, que virou $uacho e quer di(er órfão.
Se#a como for, lá está o $aBcho ! s, altivo, melancólico. / cena toda tin$ida em tom crepuscularC um
homem a cavalo, metido num poncho e sorvendo o mate amar$o, silhuetado no entardecer que se
derrama sobre o pampa. &aBchos são sombras em uma corrente(a de $rama na plan*cie sem cercas nem
 porteiras, com um pé no estribo e o pé na estrada. Ser $aBcho si$nifica ser ga*$he na vida. Ser $aBcho é um
destino 0 e quem o disse foi -or$e 4uis )or$es.
Se a ori$em do $aBcho se perde no hori(onte impreciso do pampa, a consciência $aBcha tem dia,
mês e ano de nascimentoC G= de setembro de 9<>;. / $esta"ão fOi lon$aQ o parto, sofrido 0 e a fórceps. /s
contra"Jes come"aram de madru$ada, com a invasão de 3orto /le$re por aqueles que pretendiam libertála
do Ampério do )rasil.
' que nin$uém poderia supor é que o episódio ocorrido naquele alvorecer de setembro, na ponte da
/(enha 0 muito pró!ima de onde se er$ue o monumental estádio 'l*mpico 0, fosse perdurar por de( lon$os e
terr*veis anos, ceifar muitas vidas e ecoar por todo o )rasil antes que, do turbilhão de pólvora e morte, o
$aBcho emer$isse como fi$ura histórica reconhec*vel  com vo( própria, anseios próprios e, é claro,
 prov*ncia própria, embora ao final dos confrontos e da pa( honrosa, ela se mantivesse como parte do
Ampério.
/ntes da eclosão da 7evolu"ão arroupilha, o $aBcho a$oni(ava. ilho de ventre ind*$ena e pai
desconhecido, nascido no  bravio   2ontinente dei 7ei, o $aBcho construiu a própria lenda, mas acabou
fulminado por ela. Pão lo$o o pampa e o $ado passaram a ter dono e cerca, o $aBcho virou peão Laquele
que anda a pé, em oposi"ão a cavaleiro. ' esfor"o dos estancieiros em suprimir o estilo de vida
nómade do $aBcho foi coroado com sua transforma"ão em persona$em literário. 3ara os
latifundiários, $aBcho bom era $aBcho a pé 0 ou em prosa e verso.
5e repente, por obra da mesma elite que o domesticara e quase o e!tin$uira, transformandoo em um
anacronismo incómodo, o $aBcho renasceu 0 ainda como ideia, mas outra ve( em carne e osso, a ferro e
fo$o. 's l*deres da 7evolu"ão arroupilha não estavam em farraposC eram estancieiros, donos de muitas
terras, muito $ado e muitos peJes. Mas eles usaram a m*stica e os ideais do $aBcho para defender uma
causa #usta. / nobre(a de sua luta mobili(ou o fervor e a pai!ão dos homens do campo, esfarrapados ou
não.
/ &uerra dos arrapos foi, basicamente, uma luta contra o centralismo rapinante do Ampério, a
corrup"ão desenfreada e os desmandos de uma corte fr*vola e ineficiente. 3ara mostrar aos donos do poder 
que era preciso uma reforma tributária e que os impostos sobre o charque estavam sal$ados demais, os
$aBchos pe$aram em armas e foram à luta.
%mbora travada em nome de um ideal i$ualitário, no campo de batalha a $uerra foi como todas  su#a
e sórdida. ' conflito durou >.I?? dias, teve ;? encontros bélicos e custou a vida de pelo menos três
mil homens. or#ou muitos heróis e al$uns vilJes houve quem desempenhasse simultaneamente os
 

dois papéis. /cima de tudo, a 7evolu"ão arroupilha fe( o )rasil e o próprio 7io &rande redescobrirem
que o $aBcho tinha san$ue nas veias e era um osso duro de roer.

Marca7o *omem a *omem: desen*o de 2erc; 4au mostra -o#adores do Grémio imo(ili=ando e marcando um ad%ersário dentro de seu pr>prio
pampa! Um e0emplo do )ute(ol de %erdade

%m 9:>;, cem anos após a eclosão do conflito, o )rasil não apenas sabia quem os $aBchos eram
como #á estava cansando de ouvir falar deles. &etBlio Tar$as, o caudilho nascido em uma estância do
 pampa, se achava no poder. 2he$ara lá a $alope, com a eclosão da 7evolu"ão de 9:>=  um $olpe de %stado
que enterrou a esclerosada 7epBblica Telha e apeou do 3alácio do 2atete a oli$arquia cafécomleite,
como eram chamados os fa(endeiros e cafeicultores paulistas e mineiros que se alternavam no comando da
na"ão desde a posse, em 9<:I, do primeiro presidente civil da 7epBblica, o paulista e cafeicultor 
3rudente de Morais.
/pesar de seus muitos defeitos e desmandos, Tar$as e sua turma conectaram o )rasil com o século
XX e moderni(aramcr pa*s em vários aspectos. 3or isso, depois de décadas de confrontos e
capitula"Jes mais ou menos humilhantes  como a da 7evolu"ão de 9:G>, que, aliás, impediu o &rémio de
ser campeão naquele ano 0, os $aBchos estavam e!ultantes e or$ulhosos. Pão cheios de si quanto os
 brasilienses cheios deles. ' 7io &rande do Sul, ainda o celeiro da na"ão, reful$ia, produtivo e
dinâmico, tendo até inau$urado a primeira refinaria de petróleo do )rasil. 3orto /le$re, então com G;=
mil habitantes, sentiase uma espécie de )uenos /ires. Fvida era boa e farta, re$ada a vinho, churrasco e
chimarrão.
3ara celebrar os cem anos da revolta separatista em 9<>;, o %stado promoveu uma e!traordinária
feira em setembro de 9:>;. Montada na vár(ea da 7eden"ão 0 local que presenciara o primeiro #o$o de
futebol reali(ado em 3orto /le$re Laquele no qual a bola murcha do S. 2. 7io &rande foi substitu*da pela
 bola cheia do &rémio 0 , a mostra, visitada por mais de um milhão de pessoas, foi sucesso de cr*tica e
 pBblico. 5epois dela, a histórica vár(ea até mudou de nome, passando a ser chamada de 3arque arroupilha.
Pudo $irava em torno dos heróis de 9<>; e sua renhida batalha contra os desmandos e as
incompreensJes dos imperiais brasilienses  que tomaram várias tundas nos embarrados campos de
 batalha, onde, infeli(mente, nin$uém teve a ideia de #o$ar uma pelota de couro, como o saudoso capitão
1. @evill faria na batalha do Somme, quase um século depois.

%mbora a &uerra dos arrapos desafortunadamente não tenha sido decidida dentro das quatro linhas de
um campo de futebol, era enorme a e!pectativa que cercava o campeonato citadino de 9:>; lo$o
 

chamado, é claro, de 2ampeonato arroupilha, assim com maiBscula. ' $rande favorito para a conquista
do t*tulo era, evidentemente, o &rémio. / competi"ão teve in*cio no dia ; de maio daquele ano, com o
&rémio vencendo seu honroso e insistente rival, o uss)all 2lub 3orto /le$re, por I!9.
%m G de #unho, o imortal tricolor obteve nova vitória, desta ve( frente ao São -osé, por >!9. @os dias :
e >= do mesmo mês, para dar mais $ra"a à competi"ão, o &rémio empatou em o ! o e em >!> com o
2ru(eiro e com o /mericano respectivamente. / se$uir, em G= de #ulho, mais um empate em i ! i contra um
adversário de menor importância, o coad#uvante Sport 2lub Municipal, no, vá lá, estádio dos %ucaliptos.
%m I de a$osto, na Bltima partida do primeiro turno, vitória de > ! G contra o or"a e 4u(.
Aniciada a se$unda fase, H ! > foi o resultado do novo encontro com o ferrenho uss)all, se$uido de
um I!G contra o S. 2. São -osé, em partidas disputadas nos dias 9: e G? de a$osto respectivamente. -á em
setembro, o mês farroupilha, os dois primeiros #o$os, nos dias 9O e <, resultaram em vitórias, ambas por 
G!9, sobre o 2ru(eiro e o /mericano, se$uidas de um inesperado revés por =!G, no dia 9;, contra o
or"a e 4u(, resultado que, de acordo com a evista do Grémio, de l*der com um ponto à frente de seu
escudeiro, dei!ou o quadro tricolor em situa"ão desfavorável para a partida decisiva contra o S. 2.
Municipal.
%m ra(ão disso, prosse$ue a revista, o adversário do &rémio passou a ser apontado como favorito
do clássico nBmero I;, que deveria se reali(ar no dia GG de setembro, data marcada para o fim do certame.
Em simples empate bastaria aos alvirubros, que foram a campo confiantes.
\ue equ*voco+ 5epois de G? anos apanhando, o referido adversário ainda não havia aprendido que
nascera para perder. ora assim desde o in*cio, como veremos, embora eu continue achando que não
valeria a pena $astar seu tempo e meu papel com tal assunto. Mas como os editores deste livro são
 brasilienses do centro do pa*s,e insistiram Le como $anho por linha escrita, farei um esfor"o e vou contar 
 

a história desde seus primórdios.

Pudo come"a como fruto do despeito e da inve#a. @o dia G9 de #unho de 9:=:, a dire"ão do &rémio
estava reunida na sede do clube, então instalada na Sociedade 4eopoldina, no centro de 3orto /le$re, quando
três forasteiros adentraram de inopino ao recinto e, depois de breves apresenta"Jes Laté porque o curr*culo
não era dos mais e!tensos, disseramse diretores de um novel club, fundado dois meses antes. ' tal
club propunhase a ser um team defoot!ball. 3ara adquirir um m*nimo de le$itimidade, precisava #o$ar pelo
menos a primeira partida. %, cheio de empáfia, vinha propor que o &rémio fosse o seu primeiro adversário.
' ma#or /u$usto WocV, sempre ma$nânimo, estava reunido com seus assessores tratando de assuntos
sérios e relevantes, #á que li$ados ao &rémio. %le bem que estranhou a presun"ão dos recémche$ados, mas,
$eneroso como era, aceitou o desafio e ofereceu o se$undo quadro do &rémio. 's arro$antes arrivistas
quase tiveram uma s*ncopeC queriam enfrentar o time titular. ' bom ma#or, num ras$o de piedade, topou de
novo. 2omo os #o$os do &rémio eram sempre se$uidos de um baile Lembora, na maioria dos casos, a dan"a
come"asse dentro dogroundA, havia despesas. ' desafiante se propDs pa$álas. Mas o ma#or WocV refutouC
como o #o$o seria na )ai!ada, o tricolor arcaria com todos os custos 0 menos, é claro, os custos morais de
uma derrota acachapante.

's tais diretores do adversário que ainda não sa*ra das fraldas concordaram, mesmo porque não deviam ter 
um tostão. / história re$istra os nomes dos homens que propuseram o desafio, mas como esse é um livro tão
$eneroso quanto o ma#or WocV sempre foi Lfora do campo, não vamos citálos aqui. Mas um deles, paulista
como os demais, asse$urou que era redator do #ornal ' Estado de ;. 5aulo e ofereceu as pá$inas do diário da
fam*lia Mesquita para divul$ar o prélio. ' &rémio, sabendo que, se a verdade fosse divul$ada, iria machucar a
 

ima$em dos recémnascidos, fe( ouvidos moucos à proposta.


' novel club fora fundado sob inspira"ão do $lorioso Sport 2lub Anternacional, esse sim um time
de verdade, fundado em São 3aulo, em a$osto de 9<::. Mas quis o destino que a versão $aBcha do
Anternacional paulista viesse a adquirir uma denomina"ão mais de acordo com seus destinos e propósitos 0 
e o clube fundado em 3orto /le$re em abril de 9:=: é ho#e mais conhecido no seu bairro à beirala$o como
Sport 2lub Municipal. Muito apropriadamente, tal clube optou por tra#ar vermelho, palavra que... dei!a para
lá.
' primeiro #o$o entre o &rémio e o Municipal reali(ouse em 9< de #ulho de 9:=: e, com o passar dos
anos  dada a insistência do adversário de continuar querendo enfrentar o &rémio , ficaria conhecido pela
abreviatura &repal. Se tivesse se tornado um clássico, seria ho#e o mais lon$evo clássico disputado no
)rasil, pois o lalu só sur$iu em 9:9G e 2orinthians ! 3almeiras, 2ru(eiro ! /tlético e )ahia ! Titória
entraram em cena anos depois. 3ena que, dado o desequil*brio de for"as, o &repal, embora disputado até
ho#e, #amais tenha adquirido importância para o &rémio, interessado em disputar torneios internacionais,
dos quais, aliás, #á $anhou os maiores Lao contrário, evidentemente, do S. 2. Municipal. ' desi$ual
confronto tornouse, portanto, um clássico meiasola.
/ntes de contar 0 por insistência dos editores, repito 0 a história deste clássico natimorto, é
 preciso lembrar seu constran$edor preâmbulo, tão ou mais constran$edor do que o resto. ' primeiro
&repal estava, como vimos, marcado para o dia 9< de
 

Goooool do &rémioC Milton reencontra o para*so perdido Lacima e 8ura não precisa mais do que 9I se$undos para enfiar mais um no Municipal

 #ulho de 9:=:. Ema semana antes, o &rémio enfrentaria seu primeiro, autêntico e Bnico rival, o
honrado uss)all 2lub 3orto /le$re, no ortim da )ai!ada. _s 9; horas, as duas valorosas equipes  os
dois primeiros Le virtualmente Bnicos times da história de 3orto /le$re  sa*ram alinhados do vestiário
do Piro /lemão, com seus presidentes à frente. Ema banda os a$uardava no campo de #o$o, ao redor do
qual se acotovelavam mais de mil pessoas, apesar do tempo fechado e amea"ador do velho e bom inverno
$aBcho.
%ntão, quando os dois esquadrJes perfilaramse para ouvir o hino nacional rio$randense,
escutaramse $ritos, apupos e impropérios 0 ou, como educadamente re$istrou a imprensa da época,
phrases pouco $entis. /divinhe quem as proferiuN 's diri$entes do recémnascido S. 2. Municipal, é
claro. ' motivoN ' craque Moreira, o popular 2abeleira, viera, dias antes, de 3elotas, supostamente para
inte$rar os quadros do Municipal. /o che$ar em 3orto /le$re, Moreira, que não era otário, escolheu o
&rémio. % sua estreia foi marcada para aquele dia. 7eunidos aos redor doground da )ai!ada, os
avermelhados cartolas sem cachola, rubros de raiva, berravamC von MoreirosV6+. %ra uma obtusa
referência às altivas ra*(es $ermânicas do &rémio e à op"ão óbvia do $rande 2abeleira.
Mas em campo, que é o lu$ar onde as coisas se decidem, o temporal que amea"ava cair transformouse
em chuva de $ois. ' &rémio $anhou por ; ! 9 do uss)all, e Moreira foi o melhor do #o$o. @o dia
se$uinte, os #ornais criticaram duramente a inconveniência alvirubra, pois o sort bretão estava caindo
no a$rado da mocidade portoale$rense, inclusive de senhoras e senhoritas, e as phrases pouco $entis não
soaram nada bem. ' n*vel come"ara a cair. Ema semana mais tarde, em ve( de ficarem vermelhos de raiva, os
alvirubros ficariam vermelhos de ver$onha. Mas vou me abster  d e contar o que houve, passando a bola
 para Marcelo eria e transcrevendo um trecho de seu livro,  4mortal -ri$olor+1&& anos de floria L4`3M,
G==>C @aquele 9< de #ulho, tudo ocorreu como de costume antes de a bola rolarC dois mil cavaleiros e
damas a postos para os chutes doslaLers, times perfilados entrando em campo, atrás dos #ui(es, dos
au!iliares e dos presidentes sa*dos do portão do lado dos /tiradores. ' Municipal estreava fardamento
italiano. ' &rémio tra#ava seu modelo in$lês. 5i(se que seu arqueiro Wallfel( nem precisou mandar lavá
lo depois do #o$o, embora a chuva tivesse provocado lama e po"as d a$ua no $ramado. Sem trabalho, a
dupla de (a$ueiros 5eppermann e )ecVer poderia ter arran#ado namoradas enquanto a bola corria. 's
homens do meio, 2aris, )lacV e Mostardeiro, passeavam em campo. / linha de ataque que teve
)rochado, Moreira, )ooth, Schroeder e &runeRald, esta sim, correu pelo time todo. ' Municipal
conse$uiu dar apenas dois chutes à meta em seu primeiro #o$o oficial. ' Pricolor amontoou $ols no
 primeiro daqueles #o$os mais tarde bati(ados como &repalC 9= ! = L; de )ooth, I de &runeRald e 9 de
Moreira.
's colorados nem tiveram for"a para reclamar de Ton MoreirosV6. Kaviam treinando bastante e
estavam em $rande forma, comentavase antes do #o$o. Mas treinavam entre si, talve( fosse esse o problema.
5epois do massacre, reali(ouse outro $rande baile. %ste, nas dependências do Piro /lemão. Sem bola, para
não atrapalhar os laLers do novel club, beberam muita cerve#a para afo$ar as má$oas e tentar esquecer o
ve!ame.

Mas um $olpe como aquele não se esquece tão fácil 0 aliás, não foi esquecido até ho#e. / humilha"ão de
fato foi tanta que o primeiro presidente do Municipal foi se afastando do clube, do qual acabou se
 

5om (ola e tudo: o Grémio sacudiu tantas %e=es a rede do '! 5! Municipal que *ou%e ocasiJes em que os craques entraram -unto

'

demitindo antes do final do ano para trabalhar, muito apropriadamente, na 3harmacia isher 0 onde
se vendiam, a pre"os módicos, remédios para dor de cabe"a. ' Municipal, fundado Bnica e e!clusivamente
 para enfrentar o &rémio,  passou três meses sem #o$ar e quase fechou. Mas no in*cio de 9:9=, para salválo
da e!tin"ão prematura, o &rémio $enerosamente convidouo para participar, #unto com cinco outros times
melhores, da 4i$a 3orto/le$rense de oot)all, fundada por su$estão e sob dire"ão do próprio tricolor.
% foi assim que, no dia 9H de #ulho de 9:9=, reali(ouse o se$undo &repal, o confronto que bem
 poderia ter virado um clássico. Será preciso contar como que foiN )em, foi ; ! o para o &rémio, resultado
modesto. Kouve duas velhas novidades naquele dia, além da nova derrota do MunicipalC  primeiro,
antevendo que marcaria vários goals no frá$il team adversário, o &rémio su$eriu que as $oleiras Laquilo que os
 brasilienses chamam de traves fossem $uarnecidas por redes, para que os va(ados não dissessem que a
 bola não tinha entrado. Se$undo, o Municipal partiu para a bai!aria.
'utra ve( não direi nada, para depois não ser in#ustamente acusado de parcialidade, #á que desde o
in*cio deste livro venho tentando me manter, como há de ter notado o leitor, um narrador frio e distante,
 

atendome e!clusivamente aos fatos. 3or isso, vou passar a palavra para 5avid 2oimbra e seu rubro cole$a,
/. @. 3., autores de   histria dos Grenais L%ditora /rtes`'f*cios]G''I. /ntes da transcri"ão, uma
observa"ãoC embora o livro se#a ótimo e a editora também, o t*tulo saiu com um erro de di$ita"ão, pois
chama o &repal de &renal. /contece. Mas vamos aos fatos, de acordo com a narrativa dos laureados
 #ornalistasC

@a fria e ventosa tarde de 9H de #ulho de 9:9=, um domin$o, os dois times se encontraram pela se$unda ve(.
-o$o reali(ado no campo do Militar, na Tár(ea ?o /uni$ial n)o tinha onde $airmorto, observo euA. E o &rémio
enfiou ;!=. 5ois destaques na partidaC nas $oleiras, uma en$enhosa novidade 0 redes que evitavam o bate
 boca sobre se a bola entrara ou não entrara. % o $rande %d$ar )ooth, que por duas ve(es estufou a rede
flamante do Municipal. )ooth foi o pivD da primeira bri$a em &renais. 5epois de apanhar a bola no meio e
aplicar dribles em toda a defesa colorada, ele acabou barrado por um violento pontapé do irritado (a$ueiro
TolVsmann, que não a$uentava mais aquela falta de respeito. echou o tempo. 's #o$adores das duas equipes
trocaram tapas e por pouco o #o$o não foi encerrado ali mesmo.
'u se#a, nem mesmo um dos fundamentos do #o$o 0 a velha e boa falta 0 o Municipal sabia praticar 
direito. Ema lástima. /inda assim, é preciso admitirC tratavase de um adversário persistente. Tencer o
&rémio tornarase uma obsessão para os alvirubros e, portanto, cerca de um ano depois, em 9< de #unho
de 9:99, os dois times se enfrentaram outra ve(, e novamente pelo campeonato citadino. 5esta ve(, o
Municipal saiuse bem. e( até um goall Em $ol inteirinho, %stá certo que tomou 9= 0 sendo que um de
calcanhar, ou de charles, anotado por %dRin 2o! 0, mas isso é detalhe. /ssim sendo, em três #o$os, o novo
Le eterno fre$uês levou G; $ois e assinalou um. @ada mal. % assim foramse passando os anos.

%ntão, como di(*amos, antes de interrompermos nossas mal tra"adas linhas com recorda"Jes de
somenos importância, eles che$aram ao &repal arroupilha achando que iriam $anhar. Panto é que
entraram em campo simulando altive( imperial. -á o &rémio estava aos farrapos. ' $enter!forJard 4ui(
2arvalho, el Maestro Lleia sobre ele no cap*tulo 's matadores> Togando or m*si$aA, havia se transferido para
o 7io. ' ponta 2astilho, pobre homem, sumira para reaparecer um ano depois tra#ando vermelho. %,
acima de tudo, o maior $oleiro da história do futebol cisplatinobrasiliense, o ini$ualável %urico 4ara,
estava doente, muito doente.
 @o dia 9: de maio, o &rémio havia vencido o Santos, por > ! G, no buner da )ai!ada. 5urante o #o$o, o
santista Mário Sei!as chocouse com 4ara. Pão $rave foi a lesão dali resultante que, depois de condu(ido para o
hospital, o colossal goal!eeer foi dia$nosticado card*aco. % os sérios problemas do cora"ão vinham se #untar 
a outras enfermidades que minavam o enorme corpo do maior dos $uardavalas.
3or tudo isso, os torcedores do Municipal estavam certos da vitória. Panto é que pro$ramaram uma
celebra"ão literalmente bestialC cercaram a )ai!ada com cai!as de pomboscorreios. Mensa$ens
aneladas nas patas das inocentes aves alardeariam a suposta vitória aos mais lon$*nquos rincJes do 7io
&rande. \uase ao lado dos portJes do estádio, um bando de cachorros pintados de vermelho Lpor onde
andava a sociedade protetora dos animais, meu 5eusN estavam amarrados uns aos outros  prontos para
serem soltos no campo assim que o t*tulo histórico fosse conquistado.
3ouco tempo antes do #o$o, 4ara continuava acamado e com escassas perspectivas de poder participar 
do mat$h. @o momento da escala"ão, porém, conta a evista do Grémio, Rele mesmo pediu para #o$ar, o que
ocorreu nos primeiros I; minutos, com $rande esfor"o. e( prod*$ios para evitar a queda de sua cidadela.
Mas defender não bastava. ' empate só favoreceria o adversário, que lutava leoninamente para manter 
sua posi"ão na tabela. % o primeiro tempo terminou empatado em = ! =.
 

 @a se$unda etapa, o &rémio voltou sem 4ara e com o $i$ante 2hico em seu lu$ar. ' problema é que o placar 
continuou em branco. % a$ora #á eram I= do se$undo tempoC mais cinco minutos e os cães ladrariam e os
 pombos seriam al"ados aos céus. / rude plebe rubra fa(ia ver$ar as arquibancadas, feste#ando antes da
hora. Mas então, houve uma falta nas pro!imidades da área do Sport 2lub Municipal. oi então que o
incandescente o$uinho 0 um dos maiores #o$adores da história do futebol mundial  apro!imouse do
volante Mascarenhas, o cobrador oficial de faltas do &rémio, e sussurroulhe ao pé do ouvidoC 5á no
7isada. 7isada, é claro, o nome #á o di(, era um dos (a$ueiros do adversário. % 7isada não amarelou.
/ntes tivesseC ele subiu lá no se$undo andar e afastou a bola da área... direto no pé esquerdo de o$uinho,
conforme o plane#ado. % o$uinho estufou as redes encarnadas, fa(endo i ! o para o &rémio.
3ara mim, e para o &rémio, 9 ! = é $oleada. Mas contra o Municipal sempre é pouco. /ssim,
tão lo$o o aturdido adversário dá a sa*da atabalhoadamente, o &rémio recupera a bola e o$uinho parte
com ela dominada, rumo à meta dos verm*culos Lsem ofensa, tratase apenas de uma questão
semântica.... 3enha, o arqueiro colorado, sai do $ol em desespero, e o$uinho lar$a a pelota
rolandinha para 4aci... e 4aci estufa os cordéis. 5ois a (ero, G. ! o, G ! o+ 's pombos, que haviam sido soltos
antes da hora, voaram muitas outras, che$ando à fronteira com a not*cia eirada. O ru$ido da
vibra"ão tricolor fe( os 99 cães vermelhos se soltarem tambémC eles morderam o dono e se espalharam
 pelo bairro, virando latas no Moinhos de Tento. % o $rande 4ara esqueceuse da dor no peito e foi pular
 #unto com a torcida no pavilhão da )ai!ada.
Tamos dar nome aos heróis, repetindo a escala"ão do &rémio naquele memorável dia GG de
setembro de 9:>;C 4ara L2hicoQ 5ario e 4ui( 4u(Q -or$e, Mascarenhas e Sardinha AAQ 4aci, 7ussinho,
/rti$as, o$uinho e 5ivino. % acho que é o caso de fa(er #usti"a aos derrotados, revelando uma das
Bnicas escala"Jes do S. 2. Municipal  que entrou para a históriaC 3enhaQ @atal e 7isadaQ &arni(é, /ndrade e
4eviQ Pi#olada, Pupã, Mancuso, 5arc6 e Konório.
Pão monumental, tão inesquec*vel, foi aquela vitória, que Sardinha A, o capitão do &rémio, que não
 pDde #o$ar, decidiu que o t*tulo seria comemorado durante cem anos com um -antar arroupilha. % até
ho#e assim se fa(. %m G=>;, você me verá lá, um #ovem de H> anos, feli( como cusco pintado, pac*fico como
 pomba, dando risada, comendo $arni(é assado, celebrando @atal fora de época, a$radecendo aos deuses,
inclusive Pupã. % pensando em o$uinho. % re(ando, como sempre fa"o, para 4ara, o craque imortal.

%le$ância fora de campoC a dele$a"ão do &rémio em e!cursão ao pa*sirmão, o Eru$uai


 

Na tra%e: a sorte, que sempre acompan*ou os #randes #oleiros, nunca dei0ou de estar ao lado do maior de todos, o ini#ualá%el Eurico 4ara

5. FUTEBOL SE JOGA COM AS MÃOS

's pés 0 ou os pé, como falam os $aBchos 0 são importantes, é claro. /final, o nome do #o$o, não há
quem desconhe"a, provém de]oof Lpé  bali LbolaC ou se#a, pé nas bolas. Mas também é indispensável ter tanto
cabe"a Le não apenas para separar as orelhas e cabecear a bola como peito Le não só para matar a bola, certo,
 pessoalN. /té aqui, nenhuma $rande novidade. /o contrário do que #ul$am os puristas, porém, o cotovelo e a
canela Lem especial a do adversário devem ser  pe"aschave na anatomia de quem #o$a futebol. /$ora,
fundamental mesmo são as mãos. @ão apenas porque eventualmente servem para marcar $ois Lcomo bem
 

sabe o $rande Maradona como em especial porque evitam $ols 0 os dos outros.
% no verdadeiro futebol um dos ob#etivos primordiais é #ustamente esseC evitar que os outros
marquem $ois. Sim, porque muitas ve(es o empate serve e condu( ao que interessaC à ta"a no armário e à
fai!a no peito. % nada melhor do que $anhar um t*tulo com o velho e bom o ! o com chuva, não é mesmoN
Só depois de n)o levar $ols é que um time de verdade pensa em fa(êlos. 3orque, em incontáveis ocasiJes,
quem fa(, leva 0 e às ve(es leva mais do que fa(. /o passo que quem não fa(, mas também não leva, vai para a
final, da* fa( um $ol(inho só, no contraataque  tipo assim, a &récia, campeã da %urocopa de G==I , e
comemora o t*tulo.
Asso posto, bem pesado, pensado e repensado, podemos afirmar sem sombra de dBvidaC o $oleiro  ou
se#a, aquele su#eito que #o$a na
 

$oleira 0 é o cara mais importante para a


 prática do verdadeiro futebol, o futebol de resultados. )em, está certo, admitoC estou e!a$erando.
%!cedime um dedinho, dei!ando a ob#etividade de lado por um instante. Mas isso se e!plicaC
como sempre fui $oleiro, pu!ei a brasa para o meu assado. Pendo feito a confissão, vou reconhecerC o $oleiro
n)o é o #o$ador mais importante de um time de futebol. ' #o$ador mais impo rt an te de um time
de fut ebol é o vol ante de con ten"ão, aque le cara que usa o Lpróprio cotovelo e a canela Ldo
adversário para diminuir o trabalho do $oleiro, o segundo #o$ador mais importante do ti me . '
ter cei ro, tod os sab em, é o centroavante rompedor, o su#eito forte, desa#eitado e cruel que fica
trombando na área do adversário, importunando os dois #o$adores mais importantes do rivalC o
volante de conten"ão e o $oleiro deles. / não ser, é claro, que o adversário prefira bale, não se importe em
levar um baile, e #o$ue sem volante de conten"ão. Mas da* não é #o$oC é covardia.
3or isso, costumase di(er que todo o $rande time come"a com um $rande $oleiro. /ssim sendo, é
óbvio que o &rémio sempre teve $randes $oleiros. Mais do que issoC o &rémio teve o maior $oleiro da
história do futebol cisplatinobrasiliense, um dos maiores $oleiros do mundo. ' $rande, o ini$ualável, o
incomensurável %urico 4ara, o craque imortal, o )óris Warloff das $oleiras, o $uardametas que se ia   em
todas, o arqueiro (en, o valoroso $uardavalas, o goal!eeer por e!celência, o primeiro e Bltimo homem, a
 barreira intranspon*vel, a muralha humana, o homemborracha. ' $oleiro que virou letra de hino  e hino
composto por 4upic*nio. ' $oleiro que virou busto. ' $oleiro que tinha peito. ' maior $oleiro da
história.
Podas as muitas histórias escritas sobre 4ara come"am e terminam da mesma forma. @ão sou eu
quem vai ousar contála de modo diferente. 3ortanto, come"arei e terminarei da forma clássica, #á que 4ara é
um autêntico clássico.

4á em Eru$uaiana tem um $oleiro que, quando ele #o$a, o seu team não perde, declarou Má!imo
4avia$uerre, transpassado de lu( como vitral de i$re#a. /ntes de mais detalhes, atente para a loca"ãoC
Eru$uaiana, #á quase no Eru$uai e bem ali na tr*plice fronteira que mantinha a cidade pró!ima também 
que peri$o+  à /r$entina. Em baluarte ine!pu$nável, uma vila fronteiri"a, um bastião sempre alerta

)oris WarloffC enorme, $i$antesco, incomensurável, 4ara, o $oleiro maior que a vida, posa para a
 posteridade -unto c om seus tricolores c ompanheiros, tra#ados d e bla$OPblue
 

na defesa dos interesses difusos da distante pátria dos brasilienses. Ema $uarni"ão militar perdida nas
co!ilhas ondulantes do pampa, onde a $rama nasce mais verde porque re$ada a san$ue. Em abafadi"o
e poeirento entreposto do Telho 'este $aBcho, vendo  passar tropas lideradas por caudilhos,
contrabandistas de $ado, bandos de rene$ados armados até os dentes. / cidade que deteve o avan"o de
Solano 4ópe(+ / terra de -u "uma, ci$arro vendido até a década de 9: ?o, sete ve(es mais forte que Marlboro.
' lar dos bravos, a pátria da liberdade. Eru$uaianaC o ber"o de %urico 4ara, o maior $oleiro do mundo.
 @ascido em 9<:<, 4ara se$uira, é claro, a carreira militar. %ra um homem de caserna, discreto e
disciplinado. 2ome"ou no time do quartel, enfrentando centroavantes de coturno que chutavam até cantil.
Mais tarde, foi convidado para #o$ar numa equipe local 0 há quem di$a que seus craques tinham praticado
com a cabe"a de &umercindo Saraiva, na 7evolu"ão ederalista de 9<:>, mas parece que há certo e!a$ero
nisso. 5e todo modo, dá para ima$inar aquele bando de *ndios velhos 0 descendentes, como 4ara, dos
indómitos 2harrua — #o$ando de poncho, barbicacho e espora, arrancando toco e  batendo no couro com o
$arrão. % 4ara lá na $oleira, tendo que defender até poron$o. % com uma mão só, que ele não ia dei!ar de
sorver o amar$o só porque estava em campo.
5eve ter sido assim que Má!imo 4avia$uerre, centroavante rompedor que #o$ava no &rémio, viu 4ara
atuar. 7etornando a 3orto /le$re, proferiu a frasechaveC 4á em Eru$uaiana tem um $oleiro que, quando
ele #o$a, o seu team não perde. 4avia$uerre, velho de $uerra, matador de fé, era muito respeitado na
)ai!ada. \uando ele insistiu na tese hiperbólica, a dire"ão do &rémio enviou um #o$ador, 4ui( /ssump"ão,
um volante de conten"ão, é claro, em missão de

O craque imortal: 4ara, o #oleiro de corpo e alma c*arruas contempla a eternidade, antes de %irar *ino

reconhecimento. /ssump"ão foi, viu e voltou como se tivesse ascendido aos céusC o tal $oleiro era mesmo
uma muralha. ' &rémio decidiu contratálo.
Mas como se la"a um potro selva$emN Pão lo$o /ssump"ão retornou para Eru$uaiana e convidou 4ara
 para se transferir para o &rémio, ouviu um sonoro não como resposta. ' charrua não queria dei!ar a
toldariaC não poderia viver entreos caraspálidas da cidade $rande, sem o hori(onte infinito de  4a ama
 brotando ao final de cada estreita esquina. Mas a contrata"ão do $oleiro que não perdia se tornara obsessão
 para o &rémio. %ntão, al$uém arrumou sua transferência no quartel de Eru$uaianaC 4ara passaria a servir 
em 3orto /le$re, decidiram seus superiores.
 

mochila e embarcou no trem que cru(ava as co!ilhas e condu(ia à capital. \uando ele desceu na esta"ão
2omunicado da mudan"a, 4ara ainda simulou uma enfermidade e bai!ou no hospital militar. '
&rémio esperou, o potro acalmouse e, embora contrafeito, acatou as ordens, arrumou a

ferroviária em 3orto /le$re, foi um espantoC o homem era enorme, ossudo e desen$on"ado. 5evia ter 
99H9:=, se não mais. /s mãos, descomunais, lembravam $arras. /s pernas pareciam eucaliptosC ri#as,
finas, lon$as. % o olhar era ma$nânimo, mas desconfiado.
5esconfian"a também houve do lado de cá. Será que um su#eito com aquele porte e aquela pinta era
mesmo tudo o que di(iamN %ntão, vieram os treinos e os #o$os. % 4ara de fato não era o que di(iamC
era mais+ Mas tinha um estilo, di$amos, peculiarC %le era um tanto bruto, revela %dison 3ires em sua istria
do Grémio. @ão fa(ia pe$adasC defendia a socos. Mas seus voos, seu arro#o nas sa*das do $ol, seu senso
de coloca"ão, sua lideran"a inata dentro e fora do campo lo$o o t ornara m ti tular incon test ável. %
o novato foi aprimorando sua técnica.
%m breve, 4ara não apenas continuava sendo a muralha que sempre fora como dei!ara de rebater a
 bolaC a$ora, ele a amortecia contra o peito, a agarrava com as mãos imensas e a dei!ava aninhada entre os
 bra"os. 5epois, com um balão preciso, repunha a pelota em #o$o, em $eral armando um contraataque.
-o$ava de man$as curtas na maior parte das ve(es, mas não dispensava as #oelheiras. Esava um quepe, mas
nunca soube o que eram luvas.
4ara estreou na temporada de 9:G=  e foi campeão, é claro. -o$ou 9; outras temporadas, sempre como titular,
de 9:G= a 9:>;. Tenceu n delasC n em 9;, até que não está mal. %mbora nunca tenha #o$ado em outro time
que não o &rémio, 4ara defendeu a sele"ão do %!ército, sa$randose campeão brasileiro em 9:GG, no
torneio das or"as /rmadasC não houve /eronáutica nem Marinha que pudessem vencêlo. @aquele mesmo
ano, obteve fama no pa*s dos brasilienses. oi em um #o$o no 3arque /ntártica pela sele"ão ga*$ha, num
confronto com a sele"ão paulista. 's $aBchos perderam a partida por I!G Lafinal, a na"ão dos
vermelhos imiscuiuse no $rupo. Mas, além de ter praticado pelo menos de( defesas imposs*veis,
de acordo com a insuspeita imprensa local, 4ara fe( mais do que o imposs*velC atacou um pênalti cobrado
 por /rtur riedenreich. % riedenreich nunca desperdi"ava pênalti. /o final do #o$o, a plateia invadiu o
campo para $arregM!lo nos ombros, $arante o cronista 2*dio 2arneiro.
 

Pão $remista tornarase 4ara que morava com a mulher em uma dependência locali(ada sob o pavilhão
social da histórica )ai!ada. /lém de aparar a $rama 0 depois de ter treinado horas a fio, em solitário,
 #o$ando a bola contra um muro , era também o $uardaesporteC cuidava do material esportivo do
&rémio. /ntes dos #o$os, distribu*a as camisetas, meias e cal"Jes para os #o$adores. % se o time,
 porventura, come"ava mal uma partida, narra a evista do Grémio, Rele, lá pelas tantas, praticava uma
defesa daquelas de assombrar, ou #o$avase aos pés do adversário com risco da própria vida, e então seus
companheiros enchiamse de brios e entusiasmo, partindo para uma rea"ão que os levaria a um brilhante
triunfo.
Mas para que você não di$a que isso tudo é e!a$ero, vou admitirC 4ara não era perfeito, nem
aperfei"oável em um certo sentido. 2omo conta o mesmo %dison 3iresC Se um tento era conquistado
ile$almente, ele não se continha. 3rovocava a interrup"ão da partida e e!i$ia satisfa"Jes do árbitro ?até
aB, tudo bem, s #ue ent)o>A chamava o autor do $olo e apelava à sua consciência. -amais perdoava àquele que
lhe va(asse a meta ile$almente e não reconhecesse o erro perante o #ui(. Tamos atribuir esse desli(e à
in$enuidade ind*$ena de 4ara.
%m outubro de 9:>=, o campeonato citadino teve que ser interrompido devido à eclosão do $olpe
militar liderado por &etBlio Tar$as. ' &rémio foi declarado campeão, pois faltavam apenas três rodadas e o
time estava com G= pontos, contra 9; do 2ru(eiro e apenas 9I do velho fre$uês, o S. 2. Municipal. @ão
tendo que defender o &rémio, 4ara não pDde ficar surdo ao patriótico bradoC 7io &rande, de pé pelo
)rasil+, e #untouse às tropas rebeldes que derrubaram a 7epBblica ?botaA Telha ?nissoA e foi amarrar seu
cavalo no obelisco da avenida 7io )ranco, no 7io. 2onsolidada a 7evolu"ão de >=, 4ara foi promovido a
tenente.
2inco anos e cinco t*tulos depois, lá estava ele na )ai!ada enfrentando o Santos. 5urante o matai — 
vencido pelo &rémio por > ! G  4ara deu uma de suas sa*das suicidas e o #oelho de um certo. Mário Sei!as
chocouse com violência contra o peito do charrua. 4ara  sentiu tanta dor que foi parar no hospital. \uando
os médicos lhe e!aminaram o corpan(il, ficaram estarrecidosC o espantoso não era que o homem
estivesse #o$andoQ o fato de ele estar de pé #á confi$urava um prod*$io. Ema tuberculose lhe corroerá os
 pulmJesQ havia uma s*filis não curada e outras fontes $arantem que ele também sofria de hepatite. % a$ora, o
cora"ão. Seus dias estavam contados.
Mas 4ara não iria ficar de fora do &repal do século, o &repal arroupilha. \uando o time estava se
fardando, ele entrou no vestiário e disse ao capitão Sardinha A que queria.#o$ar. @a foto, sacada minutos antes
do in*cio da partida, ele parece recémsa*do de uma cama de hospitalC está a#oelhado, meio encolhido, com a
 bola nas mãos. -o$ou todo o primeiro tempo e $arantiu o o ! o. Saiu no intervalo e. nunca mais entrou em
campo. Morreu um mês e meio depois, na )eneficência 3ortu$uesa, dia ? de novembro. Pinha >H anos.
%urico 4ara foi velado no salão nobre da velha )ai!ada. -a(ia em um cai!ão simples, ma$nificado pela
 bandeira tricolor do time que ele tanto amou e defendeu. 3orto /le$re parou para o enterro. % então o rumor 
incontido da lenda come"ou a se disseminar.
Pão mitoló$ica foi a passa$em de 4ara pelo &rémio que durante anos acreditouse que ele havia
morrido em campo. % maisC que morrera depois de defender um pênalti cobrado por riedenreich. 'u,
ainda mais dramaticamente, um pênalti batido pelo próprio irmão, Titorino, uma espécie de 2aim, #á que
tra#ava vermelho. Seu irmão de fato #o$ara pelo Municipal 0 mas nunca venceu 4ara. % 4ara realmente
defendera pênalti cobrado por riedenreich, em 9:GG. % houve um pênalti no #o$o contra o Santos, em
9:>;, mas este 4ara dei!ou ried fa(er.
5e todo modo, 4ara não precisava de fic"ão al$uma para virar lendaC os fatos falavam por si. /inda
assim, ao virar estrofe do hino
 

O ar#entino %oador: o #rande Germinara, o in%entor da camiseta amarela para #oleiros moda #ue, mais tarde, teria se#uidores no to #uali)icados
#uanto o ori#inal

'ér#io Moac;r Torres Nunes: ele era (ai0in*o, mas sa$a do c*o! Mais tarde, como treinador, re%elouse um ma#n$ )ico retran#ueiro! Uma pena #ue
ten*a trocado de lado tantas %e=es

composto por 4upic*nio 7odri$ues, ele ascendeu ao rol da fama eternaC 4ara o craque imortal]Soube o
teu nome elevar]Ko#e com o mesmo ideal]@ós saberemos te honrar, escreveu o Mudd6 1aters dos
 pampas. U o quanto basta para um homem se tomar maior do que a vida.

4ara foi o maior, mas evidentemente não foi o Bnico $rande $oleiro do &rémio, que #á teve a defendê
lo até mesmo o mestre 3icasso, aquele da $rande obra... ops, estou confundindo este com aquele mestre
deobras da pista de a"o. Mas de fato foram muitos os $remistas que ensinaram aos brasilienses que o
verdadeiro futebol se #o$a com as mãos. ' mais recente dentre os quais o pessoal do  centro do pa*s não
esquece foi o $rande 5anrlei. 5anrlei de 5eus, como os pais o bati(aram, numa premoni"ão. 5anrlei, um
dos meus *dolosC o $oleiro que a$arrou 9G t*tulos em 9= anos de &rémio. Mas falaremos dele ao final,
 porque vou come"ar pelo come"o.
/lberto WneRit( foi o primeiro. Mas esse quase não #o$ou talve(, na verdade, nem tenha #o$ado. 3elo
menos não um #o$o oficial. /final, foi o $oleiro de 9:=>, e em 9:=> o &rémio não disputou nenhuma
 

 partida oficial. Mas ele participou dos treinos e, portanto, enfrentou #o$adores do próprio &rémio. % um
su#eito que, além de ter enfrentando #o$adores do &rémio, ainda por cima tinha um nome com cinco
consoantes e usava uniforme com $ravata, só pode ter sido um $rande $oleiro. 3ortanto, ponto para ele.
'sRaldo Siebel foi o se$undo. % como virou presidente do &rémio  um time de $oleiros ,
também há de ter sido um
tremendo goal!eeer. Wasstrup era sapateiro, portanto sabia pe$ar no couro. Peichman, que #o$ou de 9:9= a
9:9G, era tão bom que retomou a titularidade em 9:9;. Wun( foi o nBmero i de 9:9H a 9:9:Q di(em que ele era
 bom, mas como aceitou uma proposta do lamen$o, não vou falar mais nada dele. 4ara foi titular 
incontestável de 9:G= a 9:>;C9; anos defendendo o &rémio ! não era um homem, era um an#o+
' $i$ante 2hico substituiu 4ara no se$undo tempo do &repal do século, em setembro de >;, e ficou
sob as traves tricolores até o fim da temporada se$uinte. 5epois, veio %dmundo, um $oleiro animal, que
 #o$ou de 9:>H a 9:IG, enfrentando toda a AA &rande &uerra e transformando o $ol do &rémio numa
trincheira indevassável. ' $rande -Blio 3etersen assumiu o posto a se$uir, de 9:I> a 9:I<, época at*pica em
que o Municipal esteve bem.
3etersen passou o cetro para seu ami$o e conterrâneo de Paquara do Mundo @ovo, Sér$io
Moac6r Porres @unes, o melhor $oleiro bai!inho do mundo Ltinha pouco mais de 9mH=, que foi titular 
de 9:I: a 9:;?, e depois virou um maravilhoso treinador retranqueiro como tantos que o &rémio teve a
honra de possuir ?leia no $aBtulo <A. O espetacular ar$entino &erminara #o$ou de 9:;H a ;:, com sua não
menos espetacular camisa amarela que fa(ia os atacantes adversários... amarelarem.
' ma$ro e alto e á$il Kenrique #o$ou de 9:;: a ?>C portanto, foi supercampeão em 9:?G. /rlindo e
/lberto se alternaram entre 9:?> e 9:?:C eram tão bons que nin$uém sabia ao certo quem era o titular 
Lembora eu particularmente preferisse o /lberto com aquela sua maravilhosa camisa a(ul celeste. -air foi um
dos maiores $oleiros anJes do mundo, mas, como #o$ou em uma época um tanto turbulenta para o &rémio,
fiquei com a impressão que ele não media muito mais do que 9mI=. 5epois, veio o 3icasso. %le pintava muito
 bem.

'anto Ma=aropi: aqui, quem está de -oel*os é ele, mas diante do altar das deidades tricolores, onde )oi entroni=ado, quem re=a, eternamente
#ratos, somos n>s

' ar$entino 2e#as e o uru$uaio 2orbo eram meio para$uaios, acho eu. Man$a, o Man$uita fenómeno,
era bom demais, todo mundo que o viu #o$ar sabe, mas como dei!ouse contaminar pelo contato *ntimo com a
 

cor vermelha, vou i$norálo. 4eão ru$iu ruidosamente no arco tricolor de 9:<= a 9:<G, e foi campeão
 brasiliense em 9:<9Q tudo isso antes de virar, quem diria, um adepto do futebolbailarino, cu#o nome ele
 próprio inventou num ras$o de $enialidade.
\uando 4eão voltou para a toca, quem assumiu em seu lu$ar foi, podes crer, um $oleiro ainda melhorC o
venerável e lendário Ma(aropi, que além de bom era lindo, tanto é que, di(em, antes de #o$ar pelo &rémio,
fora astro de cinema na terra do -eca Patu  ou se#a, lo$o ali no pa*s vi(inho. -o$ava muito, o Ma(aropi. 5urante
os sete anos em que ocupou o lu$ar no qual o impecável $ramado do 'l*mpico cresce mais verde, de 9:<> a
9::=, Ma(aropi operou prod*$ios. ' maior foi no dia ; de #ulho de 9:<>, quando ele pe$ou um pênalti contra
o /mérica de 2ali, no final(inho do #o$o, no 'l*mpico, e só por causa daquela sofrida vitória por 21,& &rémio
foi campeão da 4ibertadores. /l$uns meses depois, em Póquio, o -eca Ma(aropi se tornaria campeão mundial
interclubes. ' que pode ser maiorN
5e 9::I a G==>, quem defendeu a $oleira do &rémio foi meu ami$o 5anrlei, uma espécie de 4ara do
final de século. /firmo isso porque o vi #o$ar durante os on(e anos em que ele atuou  pelo &rémio. /lém
de usar admiravelmente bem as mãos para a$arrar a bola, ele também sabia usálas para dar uns cascudos
em quem merecia, como um certo Tálber, então no 3almeiras, deve lembrar bem, embora até ho#e lute para
esquecer que, naquele #o$o, o time dele tomou ; ! o  e era uma partida pela 4ibertadores+
%mbora, pelo menos para mim, 5anrlei tenha sido uma reencarna"ão de 4ara, eu não afirmaria isso
 perante o se$undo maior #o$ador da tra#etória do &rémio, o $i$ante 'sRaldo 7ola, que a história
consa$rou sob a alcunha de o$uinho. /final, quando al$uém 0 qualquer al$uém  falava de al$um
$oleiro ! qualquer $oleiro 0 o$uinho fran(ia o cenho e abria o verbo, com seu arrastado sotaque $ermânicoC
 ' senhorr não sabe o que é um $oleirro. ' senhorr nunca viu um. %u #o$uei com o maiorr de todos.
o$uinho referiase a 4ara, é claro. % se o$uinho falou, está falado.
 

5anrlei de 5eusC uma reencarna"ão de 4ara, o $oleiro que foi titular durante a década de 9::= al$um dia voltará  e ainda será presidente do clube que ama

O %ulc<nico -o#ador: ?o#uin*o, o maior atleta da *ist>ria do Grémio! 5omo se no (astasse ele ainda se tornou o mais (ril*ante treinador da *ist>ria
da 2ro%$ncia 5isplatir 
tina

K! OGU3NLO E O UTE@O4 3N5END3R3O

Pão lo$o a bola estufou as redes encarnadas, naquele memorável GG de setembro de 9:>;, o$uinho, o
autor do disparo fatal, desferido aos I= do se$undo tempo, correu em dire"ão ao alambrado da )ai!ada e
 procurou, em meio ao redemoinho de rostos e!ultantes, a visa$em marmórea do maior $oleiro da históriaC
 procurou a face imortal de %urico 4ara. 4ara, com tuberculose, s*filis, problemas card*acos e Ltalve(
hepatite, havia #o$ado durante todo o primeiro tempo, você lembra. Sa*ra de campo no intervalo para morrer 
dali a I= dias. Seu rosto #á parecia máscara mortuária.
Mas um homem como 4ara só poderia morrer em $lória, e sua derradeira $lória come"ou no momento
em que a bola, vinda da testa de 7isada, caiu no pé de fo$o de o$uinho e foi morrer nas redes, naquele i ! o
que lo$o virou G ! o e deu ao &rémio o t*tulo mais lon$amente feste#ado da história do futebol mundialC
o t*tulo que vem sendo celebrado há ?: anos 0 e ainda faltam >9.
 

' olhar de lince de o$uinho lo$o avistou os olhos encovados, as fei"Jes ind*$enas, a testa lar$a e os cabelos
corredios do charrua, ali no efervescente pavilhão da )ai!ada. Mas não houve o contato visual buscado por 
o$uinhoC 4ara urrava o $rito da vitória definitiva. 4ara pulava feito louco em meio à massa ensandecida. %
o$uinho pode vêlo, mas ele não viu o$uinhoC #á olhava para os campos do Senhor, onde em breve estaria 0 
 provavelmente aparando a $rama antes de bater uma bola com a sele"ão celestial, cu#a camisa nBmero i tem dono
desde ? de novembro de 9:>;. 8ashin, lamento informar, pe$ou o banco.
Se os brasilienses conse$uissem olhar além do próprio umbi$o,saberiam que a meiaesquerda do time
dos céus também temcandidato. %le é o$uinho, o se$undo maior #o$ador da história do &rémio Lpelo
menos do meu &rémio, que, no caso deste livro, é o que importa. /inda assim, o$uinho não se importaria
de ficar no banco 0 não na reserva, claroC no comando. /final, além de um craque dentro das quatro
linhas, o velho 'sRaldo 7olla foi um $i$ante também fora delas. o$uinho foi um técnico
verdadeiramente espetacular. /final, pode ser inclu*do entre os inventores daquilo que, redundantemente,
há quem chame de futebolfor"a.
'ra, futebol é for"a. utebol é fibra. utebol é flama e fo$o. % poucos atletas ou treinadores deste mundo,
que é uma bola, foram, ou são, tão flamantes, fortes e fo$osos quanto o$uinho.'sRaldo 7olla veio ao
mundo com cabelos cor de fo$o  um sinal dos céus. -á na barri$a de sua aben"oada mãe, desferia, di(em,
chutes bem potentes de esquerda. %le come"ou a $arreira no honrado São -osé, de 3orto /le$re. % sei bem o
valor do São -osé, pois o terceiro #o$o de futebol a que assisti na vida foi no estádio dele, no 3asso da /reiaC
São -osé ! &aBcho de 3asso undo. \uem me levou pela mão foi meu primo 4ui( 2arlos, filho de meu tio
7omeu, um dos inte$rantes da sant*ssima trindade $ra"as aos quais torneime $remista militante e a
quem este livro é dedicado.Mas pensando bem, aquele São -osé ! &aBcho pode ter sido meu primeiro
verdadeiro #o$o de futebol. /final, minha estreia na arquibancada foi no 3acaembu, em 9:?I, para assistir a
Santos H!I 2orinthians  e aquilo esteve mais para bale. / se$unda partida, &rémio I!= Municipal, o
fabuloso &repal do hepta, não foi #o$o, foi baile. utebol mesmo, pela primeira ve(, deve ter sido então no
embate entre São -osé e &aBchoC bola marrom, campo pelado, botinas e botinadas, cal"Jes, camisetas e
meiJes de al$odão $rosso empapadas de suor e poeira. 2oisa de $ente $rande.
 @ascido em 9> de setembro de 9:=:, 'sRaldo /((arini 7olla era aprendi( de alfaiate 0 profissão que
manteve durante décadas, #á que nunca cobrou um centavo para #o$arQ o que tinha a $anhar, $anhava em
campo. Pão profética era a li$a"ão de o$uinho com o &rémio que, além de ter nascido dois dias antes
de o clube comemorar seu se!to aniversário, e!ercia a mesma atividade do au$usto ma#or WocV. /inda
assim, por um destes a(ares da sorte, come"ou a carreira no São -osé, o simpático equinha.
oi no velho estádio do 3asso da /reia, campo de chão vermelho, duro pra burro, que 'távio
ialho, então meia do &rémio, viu o $uri #o$ar bola, como relatou em depoimento a 7u6 2arlos 'stermann.
 @aquele dia memorável, ialho estava acompanhado por Severino &omes da Silva, o popular 4a$arto 0 
meiaesquerda, como o$uinho, assim apelidado pela forma insidiosa como se diri$ia, velo( e vora(, ao $ol
do adversário. ' $rande 4a$arto. %ra novembro de 9:G<, e ialho virouse e disseC 4a$arto, temos que
 buscar esse o$uinho para nós. ' $uri é muito bom.
' $uri tinha 9: anos e, além de bom, era um tronco. Media im<o e pesava ?H quilos, só de ossos e
mBsculos. 2om o tempo, acrescentaria outros de( musculosos quilos ao corpinho de halterofilista. %
não se trata de fi$ura de ima$emC como MohrdiecV e SchubacV antes dele, o$uinho era um atleta
completo. /lém de levantamento de peso, praticava Raterpolo Lera titular do 2lube de 7e$atas 3orto
/le$re, pelo qual também remava, e muito. 2omo &eor$ )lacV, era um espartanoC acordava e dormia
cedo, fa(ia
 

' ruivoC a Bnica cor vermelha admitida


na história do &rémio é a que está nos
cabelos de o$uinho

$inástica, corria, cuidava da alimenta"ão... e ainda falava alemão+ o$uinho estreou no ortim da )ai!ada
no dia 9< de novembro de 9:G<, e #ustamente num &repal. /divinhe quem $anhou de G ! oN o$uinho
virou titular na temporada de 9:G:, ao lado de homens como 4ara, Pelêmaco Lum dos maiores volantes de
conten"ão da história, uma coluna de Kércules, e que ainda por cima foi técnico do time e presidente do
clube, Sardinha A, /rti$as e, claro, 4ui( 2arvalho.
Mas como o$uinho continuava trabalhando na 7enner, ali da 7ua da 3raia, não mais como aprendi(
mas ainda como alfaiate, só podia se dedicar ao futebol nos finais de semana, e mal encontrava tempo para
treinar com seus companheiros Le eles ainda estavam dormindo enquanto ele remava no la$o &ua*ba, ali
 pelas cinco da matina. %ntão, em 9:>9, o &rémio decidiu iluminar o buner da Schuet(verein 3lat(. Sabe
 por quêN oi por minha causa que o &rémio colocou refletores na )ai!ada e implantou o futebol noturno
em 3orto /le$re, #urava o$uinho.
 

's holofotes foram inau$urados na noite fria de G< de #unho de 9:>9. %, claro, em um &repal, assistido
 por mais de cinco mil pessoas. 3recisa di(er quem $anhouN G ! o de novo, e o$uinho marcou um $ol. '
outro foi de 4ui( 2arvalho, el Maestro, o centroavante que o$uinho sempre considerou melhor que 3ele 
e se o$uinho falou, está falado, meu chapa. Mas ainda não che$ou a hora de comprovar   mais essa tese
irrefutável de seu 7olla. Toltemos, portanto, à carreira dele 0 e a$ora de viva vo(, transcrevendo uma
entrevista à evista do Grémio>
%u não era craque. @in$uém, entretanto, me superava em vontade. &ra"as a isso, conse$ui al$um
sucesso como #o$ador de futebol. Minha fun"ão, por vontade própria, era a#udar o meio de campo e ser 
 parte do ataque. Meu 5eus, o homem era um $énio. Mas outra ve( estou me antecipando, pois o$uinho
ainda estava por revelar sua $enialidade.
Pra#ando a imortal #aqueta tricolor, ele foi tetracampeão metropolitano invicto L9:>99:>I,
 bicampeão estadual L9:>99:>G, campeão farroupilha L9:>; e tricampeão citadino L9:>H9:>:. oi titular 
da meiaesquerda do &rémio durante 9I 0 espere um pouco que vou repetir, e em cai!a alta para que
fique mais claroC \E/P'7%  anos consecutivos, de 9:G: a 9:IG, tendo conquistado 99 t*tulos.
%ncerrou a carreira em G: de novembro de 9:IG, enfrentando o altivo 2anto do 7io, na )ai!ada.

2he$ando antesC embora fosse atacante, o$uinho sempre a#udou na marca"ão. 2om ele não tinha essa de
che$ar #untoC ele che$ava antes e, quando precisava, ba tia mais

2omo o$uinho foi e!cessivamente modesto na autoanálise transcrita acima, vou recorrer de novo à
 evista do Grémio, que assim o definiuC Sinónimo de #o$ador bravo, dinâmico e voluntarioso, marcou
época no &rémio como atleta de muita $arra e admirável esp*rito de luta. 4nsider rompedor, dono de notável
vi$or f*sico, aprimorado no e!erc*cio de vários esportes, tinha $rande poder de infiltra"ão e potente chute.
Panto municiava como fa(ia estremecer as redes. /cho que aqueles velhos redatores da evista do Grémio
eram tão bons quanto os boieiros da anti$aC Rinsider rompedor, $rande poder de infiltra"ão, fa(ia
estremecer as redes... \ue estilo+

Mas se você acha que o$uinho lar$ou o futebol quando parou de #o$ar, está quadradamente
en$anadoC ele estava apenas come"ando. 5e 9:I> a 9:I:, o homem foi #ui(C enér$ico, disciplinado, #usto,
honesto. Su#eito com tais qualidades não podia continuar vestindo preto e trilando apito, é óbvio. %ntão,
em 9:;=, ele virou treinador. %, em minha sempre ponderada opinião, o melhor treinador do mundo.
 

o$uinho come"ou orientando o %speran"a de @ovo Kambur$o. %m se$uida, transferiuse para


o 2ru(eiro de 3orto /le$re. % foi no 2ru(eiro que as coisas mudaram para sempre. @o 2ru(eiro, sim, mas
não em 3orto /le$reC em 9:;>, o 2ru(eiro de o$uinho partiu para uma e!cursão pela %uropa.
/costumado a distin$uir futebol de verdade de brincadeira com bola, o$uinho viu o que tinha que ver. Tiu,
em especial, a sele"ão da Kun$ria. Mas não se dei!ou enfeiti"ar pelo futebolbailarino dos futuros
derrotados, e sim pelo preparo f*sico admirável e pelo esquema I>> deles.
Mas o$uinho também dei!ou sua marca na %uropa  direta e indiretamente. /ntes de o 2ru(eiro
enfrentar o todopoderoso 7eal Madrid no Santia$o )ernabeu, durante a tal e!cursão, o$uinho foi direto
nas instru"JesC &ruda no 5i Stéfano, disse para um dos (a$ueiros de seu time. @o meio do #o$o, depois
de apanhar muito 0 nas canelas do bailarino ficaram as marcas indiretas de o$uinho , o suposto craque
esbrave#ouC
 0 Uo soL Di 6téfanoS
 0 % eu sou o Taltão, de 2anoas 0 rebateu o comandado de
o$uinho.
 @o dia n de #aneiro de 9:;;, cerca de um ano depois de voltar do Telho Mundo cheio de ideias Lque
 para ele não eram tão novas assim, o fo$oso o$uinho assumiu como treinador do &rémio. \uem o
levou para o 'l*mpico  sim, porque o &rémio tinha ficado maior do que a $loriosa )ai!ada e, em
setembro de 9:;I, se transferira para a /(enha Lou se#a, saiu de um moinho para outro, pois é isso que
a(enha quer di(er, caso você não saiba  foi 4ui( 2arvalho, então diretor de futebol do clube. 5entro do
campo, 4ui( 2arvalho e o$uinho tinham formado uma monumental dupla de matadores. ora dele, a
 parceria daria novos resultados mort*feros.
o$uinho não precisou implantar o re$ime militar no &rémio, pois o &rémio sempre foi prussiano.
Mas decidiu selecionar os novos recrutas a dedo. % montou um esquadrão imbat*velC o time que iria
$anhar 9G t*tulos em 9> disputados. Ema equipe com uma defesa decidida a não tomar $oisQ um meio de
campo velo( e combativo e um ataque rápido e letal. /ntes de o$uinho, os times #o$avam em I;
rota"Jes, recorda o avante Milton. 2om ele, o &rémio passou a #o$ar em H<.
2om uma rede de olheiros de fa(er inve#a à W&), o$uinho se mantinha informado sobre outros
times e, quando os rumores esquentavam, ia estudar in lo$o o desempenho de uma nova pe"a para,

Máquina tricolor: aqui está a mara%il*osa equipe montada por oquin*o, capa= de conquistar apenas 1C dos 1F campeonatos que disputou! Ele
escol*eu os -o#adores um a um

 se fosse o caso, adicionála à máquina tricolor que estava montando. oi assim que trou!e o avante &ess6
de Eru$uaianaQ o tanque -uare(, o ponta Tieira e o lateral i$ueiró, todos do interior de Santa 2atarina,
 

e o imenso 'rtunho, um 'rfeu @e$ro, do Tasco. 'rtunho, um maravilhoso lateralesquerdo que batia bem


e estava deslocado no futebol carioca, era quase um Taltão, de 2anoas.
's velo(es meias %lton e Milton #á estavam no 'l*mpico, mas quem os transformou em 3usVas e
Wocsis, entrando de trás Le eventualmente por trás com ela dominada, surpreendendo a (a$a adversária,
foi o$uinho. ' $rande /*rton 3avilhão  assim chamado por ter sido trocado com o or"a e 4u( pelo
lendário pavilhão da )ai!ada  também #á fa(ia parte do  plantei, mas como centromédio, e o$uinho o
transformou em um dos maiores (a$ueiros do planeta o$uinho também inventou 2alvet, que depois foi
dan"ar no Santos. % havia ainda %nio 7odri$ues, que viera do 7enner. \uando o Tasco quis levar %nio, e ele
recusou a proposta di(endo não há dinheiro no  mundo que me tire do &rémio, o$uinho percebeu que
estava diante do l*der ideal — e o fe( capitão do time. %stava pronto o esquadrão.
Seu 7olla não estava em busca de $ente que só enrolava em campo. %le não queria #o$ador com
muita frescura, não, confirma o $rande %lton Lsobrenome ensterseifer, para que você saiba com quem
está falando. \ueria atletas abne$ados, com habilidade e técnica, claro, mas em boa forma e dispostos a
 #o$ar pelo time. % para botar a turma em forma, o$uinho introdu(iu a prepara"ão f*sica no )rasil. 2omo tal
conceito ine!istia nos trópicos malemolentes, ele teve que inventáloC botou os #o$adores do &rémio a dar 
voltas no $ramado e a subir e descer as arquibancadas do 'l*mpico. _s ve(es, carre$ando uns aos outros+
\uarenta anos depois, 7u6 'stermann foi ouvir os comandados de o$uinho e publicou os
depoimentos deles no livro té a é ns iremos. % nós iremos transcrevêlos, com a Limpl*cita permissão do
 professor, pois se trata de um autêntico tesouro historio$ráfico. Se não, leiamosC
/ $ente #o$ava domin$o, então se$unda não tinha treino, conta o lateral i$ueiró. Mas na ter"a tinha a
famosa f*sica do seu 7olla. 3orque ele, naquele estilo alemão, como ele falava, botava todo mundo a fa(er a
mesma coisaC o $rande, o pequeno, o ma$ro, todos. 5e in*cio, ele mandava a $ente correr, e dávamos quin(e,
vinte voltas naquela pista. % depois tinha a famosa escadaC a $ente subia e descia aquelas escadas das sociais.
/ $ente sa*a dali bem cansado, tinha que ter saBde para a$uentar. % foi nesse estilo que nós #o$amos contra a
técnica do ?$ita o nome do rival $itadino do GrémioV,  porque o ?referido timeA botava a  bola no chão, tinha #o$adores
de alta técnica. %ntão a $ente partiu para cima deles com um futebol mais velo(, mais competitivo. % foi a* que
nós nos demos bem e fomos campeJes todos aqueles anos.

Escada para a #l>ria: comandados por o#uin*o +de costas, sem camisa, os -o#adores do Grémio c*e#aram ao topo #ra7as no s>  técnica, mas 
ri#orosa prepara7o )$sica

/$ora a. bola está com MiltonC 's caras tinham pavor de #o$ar contra nós, por causa da marca"ão. @a
época, éramos só nós que o fa(*amos. Asso implicava prepara"ão f*sica especial. U aquela história de subir e
descer escada e dar voltas no campo. %le fa(ia srinter e resistência. /$ora é pique, di(ia, e corria cada um
 

 prum lado. Tou $ritar dois nomes, quem estiver na dupla sai correndo. %ntão o tro"o era na base de muito
refle!o e treinamento.
Milton lan"a para %ltonC @ós marcávamos e atacávamos. Asso não era o modo dos outros times
 #o$arem. 'utra coisa que ele fa(iaC ele sempre insistia para a $ente antecipar. %ntão tu antecipavas a
 #o$ada e partias para cima do (a$ueiro. %lton domina e serve nio 7odri$uesC Penho a impressão de que
ele #á tinha no pensamento um certo tipo de #o$ada e escolheu os #o$adores que se adaptassem ao sistema
que ele tinha na cabe"a. % depois eram os treinamentos. %le   era muito ri$oroso nisso. @ós éramos uma
$arotada, mas ele nos dava um cansa"o+ Mas adquirimos um preparo que não t*nhamos. 3rincipalmente a
nossa meiacancha, que era um motor li$ado que não desli$ava mais.
nio vê -uare( livre na frenteC %sse modelo ele trou!e da %uropa. 4á #á era um sistema diferente,
uma educa"ão f*sica encarada com seriedade. /qui era uma recrea"ão  aqui no )rasil, di$o eu, porque aqui
em 3orto /le$re era diferente. /ndei por muitos clubes e nunca tive uma prepara"ão séria como aqui, com
ele. 3ude observar que a equipe do &rémio era uma equipe diferente, que tinha caracter*sticas europeias,
era uma mescla de futebol brasileiro com futebol europeu. %ra um esquema r*$ido. % a $ente tinha um
 preparo psicoló$ico muito bom. / $ente era derrotado às ve(es, mas vendia caro a derrota. / $ente bri$ava
até o Bltimo minuto em busca da vitória. oi uma das coisas que ele introdu(iu. %le di(ia assimC @in$uém
vai #o$ar bem sempre, a$ora a luta tem que ser constante. / vontade de vencer é indispensável. Asso o
 #o$ador tem que ter sempre. -o$ar mal é outra coisa. &ooool de -uare(, se$uindo as instru"Jes de
o$uinho.
Mas esse #o$o não pode terminar sem o depoimento de 'rtunho, também colhido  por 
'stermannC Ema ve( nós estávamos treinando na praia, em Porres. ' time titular estava perdendo e
ele tirou um dos nossos, entrou no lu$ar dele e nós $anhamos. %ntrou em campo+ -o$ava muito bem, tinha
um chute de pé esquerdo forte que vou te contar. \uando ele treinava conosco e pe$ava a bola, todo mundo
 bai!ava o sarrafo nele. Mas ele não tinha medo, era um cara forte.
o$uinho treinou o &rémio de 9:;; a 9:?9  e foi pentacampeão, de 9:;? a 9:?=. Mas para que você
não fique achando que naquele

9arrendo a área: o mais a#uerrido meiaesquerda


da *ist>ria do )ute(ol -o#a%a nas duas áreas,
atacando em uma e a-udando a limpar a pr>pria
 

 per *o do o &ré mi o só enfrentou os bailarinos do Municipal, o time #o$ou duas ve(es contra a
Sele"ão /r$entina, $anhando uma L9 ! =, em 9:?= e empatando a outra Lo ! o, em 9:;?, e ainda
empatou com a sele"ão do Eru$uai em pleno 2entenário. %, fa"anha suprema, tocou I ! i no )oca -uniors
Lcom quatro $ois de &ess6, que tinha passado no vestibular um dia antes e tomara um porre, decretando
a primeira derrota na )ombonera do futuro time de Maradona  o maior #o$ador de todos os tempos,
como você pode conferir ali na internet.
' corpo f*sico de o$uinho desencarnou em GH de outubro de 9::?, aos <H bem vividos anos. Mas
suas ideias  como as ideias de &etBlio Tar$as, o o$uinho da pol*tica  mudaram para sempre a história do
)rasil, moderni(ando o pa*s e o dei!ando menos belle éo$Tue, menos cafécomleite, menos fresco e mais
competitivo. Se você não lembra, ou fin$e que esqueceu, vou refrescar sua memória tropical nas pá$inas
se$uintes.

1. O O@E43'5O E O' MARA5ANAO' DO GRM3O

 @o Bltimo dia de outubro de 9:>=, &etBlio Tar$as fe( sua entrada triunfal no 7io de -aneiro. Testia
uniforme militar, um len"o no pesco"o e um chapéu $aBcho de aba lar$a. /pesar de o futuro chefe do $overno
 provisório ter vindo do 7io &rande do Sul de trem  uma lon$a #ornada noite adentro, ruidosa e apoteótica ,
muitos de seus aliados $aBchos cobriram o percurso de quase 9.;== quilómetros a cavalo. 5iversos
daqueles milicianos, inte$rantes dos chamados corpos provisórios, haviam sido recrutados nas estâncias
do pampa e eram veteranos de $uerras platinas. %les caval$aram pelas ruas da capital nacional com um
misto de despre(o e admira"ão pelo esplendor urbano, afrancesado e tipicamente belle éo#ue.o atin$ir o
centro da cidade, amarraram suas montarias ao pé do obelisco da avenida 7io )ranco.
oi uma cena emblemática. 3ara muitos revoltosos, aquela era uma forma de dei!ar claro que uma
nova visão de mundo estava che$ando ao poder e que a 7epBblica Telha tinha che$ado ao fim, caindo como
fruta mais que madura. 3ara inBmeros moradores da capital nacional, porém, o $esto era uma ver$onhosa
 profana"ão de um requintado s*mbolo da cultura europeia 0 tão venerada no refinado 7io de -aneiro.
%mbora Tar$as estivesse preparado para se tornar um pol*tico ardiloso e disposto a fa(er certas
concessJes para consolidarse no poder, sua vida e carreira  e a própria indumentária  o definiam
 

5arto %ermel*o: as*in#ton 4u$s dei0a o


5atete e %ai para o c*u%eiro mais cedo

como o herdeiro de uma lon$a tradi"ão caudilhista. /pesar de uma considerável parcela da popula"ão
carioca ter sa*do às ruas para saudar &etBlio naquele dia, os $aBchos ainda eram vistos com
desconfian"a na capital federal. /inda não haviam se passado duas décadas desde que o cr*tico literário
S*lvio 7omero declarara que o 7io &rande do Sul era $overnado por almas semibárbaras de e$ressos do
re$ime pastoril. Seu cole$a -osé Ter*ssimo o ecoara, afirmando que o %stado sulista era um corpo
estranho na edera"ão.
/ corte não estava preparada para um re$ime que e!i$iria mais esp*rito coletivo e menos carnaval,
menos dribles para os lados e mais preparo f*sico. %ra um refle!o da velha incompreensão com o Sul  de
onde, se$undo os brasilienses, vinham apenas frentes frias e $enerais. @o entanto, o $overno deposto por 
Tar$as era uma espécie de futebolarte da pol*ticaC muitos efeitos especiais e poucos resultados
 práticos. Ema elite parasitária de cafeicultores Lpaulistas e fa(endeiros Lmineiros  a turma do cafécom
leite  instaurara uma repBblica oli$árquica para servir aos próprios interesses. %stava mesmo na hora de
eles tomarem um cartão vermelho, e irem para o chuveiro mais cedo do que plane#avam.
/l$umas canelas ficariam marcadas  e talve( tenha havido até
 

2ai do po%o: Getlio 9ar#as preparado


para entrar em campo e matar a (ola

 pernas quebradas e um $ol de mão, nos descontos 0, mas o fato é que


Tar$as instaurou um re$ime de resultados. 2om todos os desli(es e
desmandos que se se$uiriam, o $olpe de 9:>=, bem ou mal, fe( o )rasil
in$ressar no século XX, embora com três décadas de atraso. ' pa*s
industriali(ouse em ritmo velo(, os trabalhadores tiveram seus direitos
enfim reconhecidos e, em ve( de escutar marchinha carnavalesca, a
na"ão entrou em ritmo de marcha unida.
Mas como entre os inBmeros defeitos de Tar$as estava o fato de ele não $ostar de futebol 0 o
caudilho curtia $olfe Lse ao menos fosse pólo... , no campo da bola tudo continuou como nos tempos de
1ashin$ton 4u*s, o presidente deposto, que tanto apreciava embai!adas, toque(inhos para o lado e futebol
espetáculo, sendo presen"a constante tanto nos estádios do 7io quanto nos de São 3aulo. 5eve ter sido por 
isso que, dentre as tantas derrotas do doutor barbudo Lcomo 14 era chamado pelo povo, é preciso
 

incluir o fracasso da sele"ão brasiliense na primeira 2opa do Mundo, que fora disputada em #ulho de 9:>=,
no Eru$uai, três meses antes do $olpe.

Sele"ão brasiliense é for"a de e!pressãoC além de os #o$adores do restante do pa*s terem sido solenemente
i$norados, o velho e constran$edor confronto entre cariocas e paulistas na hora de decidir quem driblava
mais e marcava menos provocou uma cisão entre as federa"Jes dos dois %stados. /ssim, apenas
 #o$adores cariocas embarcaram no vapor que partiu rumo a Montevidéu.
 @o dia 9I de #ulho, os bailarinos entraram em campo mas, ao que tudo indica, suas sapatilhas não se
adaptaram bem ao pasto Bmido do inverno uru$uaio 0 embora tanto o $ramado quanto o próprio estádio
2entenário fossem um esplendor. % assim, o time de 14, que nunca tinha ouvido falar no esquema 1M
Lque, a bem da verdade, ainda não e!istia, não perdeu por 1' mas foi batido pela -u$oslávia, do marechal
Pito, por G!9. Prês dias mais tarde, tocou I na )ol*via, mas a prepotência não deu em nadaC o time foi
eliminado antes das finais.
' &rémio poderia ter $anho aquela 2opa so(inho 0 representando a 3rov*ncia 2isplatina, claro.
)astaria repetir a fa"anha de al$uns anos antes, na )ai!ada, quando batera a celestial 2eleste 'l*mpica. @a
verdade, o &rémio bem pode ser considerado o vencedor daquela 2opa, a primeira da história, pois, menos de
dois anos mais tarde, em abril de 9:>G, o poderoso Montevideo 1anderers 7 2., base da sele"ão campeã
mundial, veio à )ai!ada enfrentar o imortal tricolor. % o &rémio $anhou por G!9. %m 9:>?, o &rémio faria
seu primeiro #o$o no território do pa*sirmão, vencendo o 'riental, de 7ivera, por G ! o. Mas como em 9:>=,
a ta"a do mundo ficou em boas mãos e ótimos pés 0 pés e mãos uru$uaios, é ló$ico 0, tudo bem.

Meses depois daquela pioneira conquista dos bravos orientales, o $rande 4ara 0 que
evidentemente não havia sido convocado para a sele"ão brasiliense  se escalou na sele"ão de tropas e
tropeiros que, #unto a Tar$as, adentrou ao 7io para depor um re$ime esclerosado. U interessante observar que
os corpos provisórios de voluntários que acompanharam &etBlio a cavalo até o 7io o fi(eram percorrendo
a velha trilha dos tropeiros de Sorocaba.

Mas, para che$ar à terra natal de 2ândido 5ias, eles teriam que cru(ar o rio 3aranapanema ! limite
territorial entre o )rasil tropical e o )rasil meridional, como #á foi dito. %m Atararé, as for"as paulistas leais
ao doutor barbudo tinham se acastelado à beira do profundo vale do rio e, di(iase, estavam preparadas
 para o confronto. Mas quando a tropa de $uascas lá che$ou, seus adversários haviam batido em retirada.
Atararé entrou para a história com o nome de a batalha que não houve. % não por causa dos $audérios.
5epois de amarrar seu $aranhão charrua no obelisco francês Lpara di(er a verdade, não sei se ele
estava em meio àqueles ousados cavalarianos, mas bem pode ter estado, pois de fato entrou na luta, 4ara
decidiu retornar aos pa$os 0 e nunca mais botou suas sacrossantas mãos no 7io, até porque, *ndio
$rosso como era, achava meio suspeita essa coisa de obeliscos.
2omo o flamante o$uinho — que, você lembra, tinha virado titular do &rémio um ano antes do
$olpe ! também preferiu continuar no Sul, e ainda faltavam vinte anos para ele virar treinador Le como,
 para completar, a bola de Tar$as, embora dura, continuava desse tamanho(inho, o futebol brasiliense,
sempre anacrónico, se manteve no mesmo ritmo belle éo#ue prérevolu"ãoC ou se#a, continuou barroco
rococó dentro das quatro linhas, mesmo quando estava fora do )rasil.
/inda assim se achava o melhor do mundo. % assim continuava se achando na se$unda 2opa, a de
9:>I, na Atália. Mas não foi páreo para os donos da casa, morrendo antes da final. Menos mal, pois
 

Mussolini, o Tar$as italiano, encontrara um método sutil para incentivar seus atletasC antes de cada #o$o
enviavalhes um bilhetinho com o lembrete Kin$ere o morire LTencer ou morrer. 's italianos
não morreram.
\uatro anos se passaram, e os brasilienses ainda se sentiam ou melhor, se sentiam ainda mais.
2he$ou então a 2opa de 9:><, na ran"a. Tar$as, entroni(ado no poder depois de decretar o %stado @ovo
de 9:>H, um $olpe dentro do $olpe, ainda não havia aprendido a $ostar de futebol. Mas aprendera que os
 brasilienses amavam o esporte sobre todas as coisas. %mpenhouse, então, em fin$ir que estava
interessado. % de tal forma que fe( de sua filha, /l(ira, madrinha da dele$a"ão de bailarinos que partiu
 para as 'ropa com a $erteza de que voltaria de lá coroada. /l(ira deles...
/o $hegar Hs semifinais, contra a Atália, em Marselha, o )rasil #á pensava em 3aris e na final. Panto é
que, mesmo sem estar de posse do caneco, entornou o copo. Kouve e!cesso de confian"a e de
champanhe, contam -oão Má!imo e 7oberto 3orto em sua  istria 4lustrada do "utebol rasileiro. '
)rasil desdenhou o potencial dos italianos. /lém de reservar todas as passa$ens de avião poss*veis no tra#eto
3arisMarselha, pois a final*ssima seria disputada na capital, os diri$entes autori(aram os #o$adores a
 participarem de comemora"Jes antecipadas, nas quais se bebeu, e muito. %m campo, que é onde as coisas
em $eral se decidem, veio a ressaca.
/o contrário do que afirmam as crónicas oficiais, a 2opa de 9:IG não apenas ocorreu como foi das
mais disputadas 0 talve( a mais disputada 0, pois foi #o$ada nos esburacados campos de batalha da %uropa,
entre morteiros e trincheiras. 's vencedores foram os descendentes do capitão @evill e seu pelotão de
 bravos britânicos. ' )rasil pouco participou daquela disputa, embora tenha tomado um certo Monte
2astelo Londe, di(em, um outro castelo, o tenente coronel 2astelo )ranco, teria amarelado.
Mas em 9:;=, quando foi escolhida para sediar o torneio, a na"ão in(oneira teve $erteza.  antes do #o$o,
como de hábito  que daquela ve( não iria dar chabu. 3elo visto os fo$os não eram 2aramuru...
Tar$as, que fora derrubado em outubro de 9:I;, seria eleito presidente e!atos cinco anos depois, após
a previs*vel final da 2opa de 9:;=, e retornaria ao 3alácio do 2atete nos bra"os do povo. Mas como povo
que não conhece a própria história está condenado a repetila, três meses antes de &etBlio ser aclamado nas
urnas,e]&ran CaitMn 'bdBlio Tarella e o insidioso ponta &hi$$ia também foram eleitos pelos deuses do
verdadeiro futebol e profanaram um obelisco  desta ve( er$uido na forma de um estádio de futebol, o
maior do mundo, aliás.
's bravos orientales reprisaram, dentro das quatro linhas, o que o próprio Tar$as, 4ara e os fo$osos
cavalarianos $aBchos haviam feito em outubro de 9:>=C ou se#a, dessacrali(aram um mito e despacharam
*dolos com pés de barro  barro mole , transformando obelisco em esfin$e. 5eciframe ou te devoro,
 balbuciava o futebol de verdade no ouvido dos bailarinos que, de tão verdes, amarelaram, de novo.
 @aquela inesquec*vel 2opa de 9:;=, o escrete nacional, repleto de artistas da bola paulistas e cariocas,
venceu todos seus #o$os 0 menos o mais importante. oi um dia má$ico aquele 9? de #ulho Laliás, o
mesmo dia em que, 9G anos antes, os brasilienses tinham sido abatidos em pleno voo pela Atália, na 2opa de
9:><. Mas não se preocupe, você que tanto ama o futebolarte Le que, por al$uma estranha compulsão,
continua lendo este livroC vou poupálo dos detalhes sórdidos e não relembrarei os episódios do
Maracanã  o tapa de 'bdBlio em )i$ode, a fulminante arrancada de &hi$$ia, o chute cru(ado, o vacilo do
 pobre )arbosa, o silêncio sepulcral do estádio, o constran$imento de -ules 7imet, sem saber o que fa(er com
a ta"a que levava seu nome , até porque sei que você ainda sonha com isso toda se$undafeira.
Mas, como disse &roucho Mar! Lou teria sido seu primo, WarlN, não são apenas os povos
despreparados que estão condenados a repetir sua históriaC a rria história repete a si mesma, em $eral
como tra$édia Lpara os amantes do futebolarte. 3or isso, para comprovar a veracidade da tese daquele
venerável humoristahistoriador barbudo, darei um salto temporal de quase meio século IH anos para ser 
 

e!ato  de modo que possa contar a se$uinte parábola ver*dicaC

 @a noite de GG de maio de 9::H, o meiaesquerda 2arlos Mi$uel, determinado como um


cavalariano charrua, fe( sua entrada triunfal na $rande área do lamen$o, aos >< minutos do se$undo
tempo. Testia a $loriosa camisa a(ul, preta e branca que lhe conferia o status de mosqueteiro, disposto a lutar 
até o fim pelas causas mais nobres  ainda que muitos paisanos demorassem anos para entender o quão
nobre era ser campeão da 2opa do )rasil Làquela altura #á por duas ve(es depositada na sala de trofeus do
'l*mpico.
/pesar de o &rémio ter via#ado de avião até o 7io para enfrentar o poderoso e lobista 2lube de 7e$atas
lamen$o  patrocinado, aliás, com o dinheiro dos meus impostos, #á que é pa$o por uma estatal do petróleo
 0, o esp*rito de cada atleta por cu#as veias corria san$ue a(ul emulava o hino do clubeC /té a pé nós iremos, para
o que der e vier, mas o certo é que nós estaremos, com o &rémio onde o &rémio estiver. % estar no topo, esse
lu$ar solitário, não é mera vontade, meu ami$o. U o destino de quem nasceu com o inconformismo ante a
derrota.
5iversos dos mosqueteiros tricolores, os cavalarianos da ve(, tinham sido recrutados no próprio clube,
como -oão /ntónio e 2arlos Mi$uel, autores dos $ois que deram mais um t*tulo ao &rémio. %ram veteranos
de muitas batalhas cisplatinas, como se verá. %les pisaram   no $ramado do Maracanã com um misto de
confian"a e admira"ão pelo esplendor daquela noite feita sob encomenda para os ale$res cariocas,
i$ualmente confiantes no poder de uma equipe que tinha 7omário, o bai!inho que, três anos antes, dera
uma 2opa do Mundo para o )rasil Lembora o verdadeiro campeão, todos sabem, tenha sido o $i$ante
5un$a, um volante de conten"ão que, embora com $rave mácula em seu passado, foi capa( de bati(ar toda
uma era.
oi #ustamente 7omário quem colocou o lamen$o em vanta$em no final do primeiro tempo, fa(endo
G!9, depois do desli(e inicial que permitira ao &rémio marcar o primeiro $ol da partida que decidia aquela
2opa do )rasil. 's flamen$uistas tinham tanta certe(a da vitória quanto sabiam que o 2risto 7edentor, er$uido na
forma de um obelisco de bra"os abertos, era o $uardião da 2idade Maravilhosa. %squeceram que o &rémio
re(ava para deuses pa$ãos 0 e era a nova esfin$e.
3or isso, quando a bola cru(ada por 7o$er, outro craque criado nas divisJes de base do imortal tricolor,
che$ou às pro!imidades do $ol rubrone$ro Le, caso você tenha esquecido, lembro que rubro é sinónimo
de vermelho, um vento frio, quase um minuano, percorreu a medula de cada um dos :I mil torcedores
do lamen$o amontoados no Maracanã, em um apavorante sentimento coletivo de medo, desconfian"a,
tremor e descren"a.
 @aquele instante, o tempo parou. / pelota, vinda da esquerda Le, quem sabe, curtida em Sorocaba,
desli(ou na $rama rumo à área como se cada um de seus $omos tivessem um destino tra"ado. /s $ar$antas
rubras secaram e os ne$ros olhos se esbu$alharam como se o desfecho iminente, embora inevitável, não
fosse poss*vel. %ra como se os fantasmas cisplatinos que ainda habitam o imenso estádio sussurrassem
 

aos ouvidos de quem quisesse ouvirC Tai acontecer de novo.

Gol de G*i##ia no Maracan: incorporando o esp$rito do Uru#uai, o Grémio trucida o lamen#o no Rio e con#uista a 5opa do @rasil com este #ol de
5arlos Mi#uel, no )inal=in*o da partida

' toque sutil de 2arlos Mi$uel, suficiente apenas para a bola bei#ar a rede, foi uma cena emblemática.
3ara os pouco mais de mil torcedores $aBchos que estavam no Maracanã, era uma maneira de reafirmar que
uma nova Lembora para eles velha visão de futebol continuava no poder. Pal visão #á havia conquistado o
)rasil, a /mérica e o Mundo, mas ainda precisava provar que era imbat*vel no tapete verde do Maracanã  o
obelisco em forma de estádio. 2omo, ao contrário deTar$as, aquele pequeno $rupo não precisava fa(er 
concessJes para se manter no poder, o emblema de sua confian"a sur$iu, debochado e sutil, na forma de
uma fai!a estrate$icamente escrita para aparecer na PTC %u #á sabia. 5epois virou moda, mas aquela foi a
 primeira ve( que a tal frase apareceu em rede nacional.
3ara a incrédula massa rubrone$ra, que #á cantava vitória em ritmo de samba  como em 9:><, como
em 9:;=, como em 9:<G , aquilo só podia ser uma profana"ão no templo do futebol belle éo#ue. %mbora os
t*tulos do &rémio tivessem dado ao clube certa admira"ão em al$uns setores da m*dia, os $aBchos ainda
eram vistos com desconfian"a na terra de /rmando @o$ueira e /ldir )lanc.
/final, é bom lembrar que, quando o &rémio fora disputar a final do Mundial Anterclubes, dois anos
antes, em Póquio, os holandeses do /#a!, seus adversários, subitamente $anharam a admira"ão irrestrita da
imprensa brasiliense, como se eles tivessem sido coloni(ados pelo pr*ncipe Maur*cio de @assau e devessem
favores à coroa laran#a. ' &rémio continuava sendo um corpo estranho na edera"ão, um time semibárbaro
 

de almas e$ressas do re$ime pastoril. U que aquela $ente confundia um time copeiro com um bando de
tropeiros com suas caval$aduras. Só que os muares eram eles.

/lém do ódio doentio que o estilo $ermânicocisplatinobritânico do &rémio despertava na terra do


samba e da cerve#a Lmelhor dei!ar o suor fora da lista, o t*tulo conquistado naquela amena noite carioca
veio, ainda por cima, por meio de um empate em G!G. Ema ve( mais, o time #o$ou com o re$ulamento
debai!o do bra"o, um artif*cio de$radante para os papas do futebolarte, os profetas da bele(a ineficiente
que não poupam poesia Lde duvidosa qualidade, aliás aos derrotados, como se as re$ras do futebol
 premiassem quem #o$a bonitoQ como se o mutismo dos torcedores cariocas ecoasse a velada satisfa"ão de
quem perde mas #o$a bem como em uma inesquec*vel tarde em Sarriá, na %spanha, em #ulho de 9:<G. Ema
 pena que o monólo$o interior dos que desciam a rampa do Maracanã de volta para casa se constitu*sse de
uma Bnica fraseC /conteceu de novo.
/quela vitória na 2opa do )rasil em 9::H está lon$e de ser a mais importante da história do &rémio.
Pratase, porém, de uma bela metáfora não só das inBmeras fa"anhas do time, mas também de seu papel
civili(ador no pa*s vi(inho, além de ter confi$urado uma completa reafirma"ão de sua identidade. Sim,
 porque o &rémio oot)all 3orto /le$rense reviveu, naquela noite de maio de 9::H, a odisseia de &hi$$ia e
'bdBlio Tarela, #á que, como este livro quer mostrar, estamos diante de um time cisplatino, quase uru$uaio,
com fibra in$lesa e disciplina alemã.
 @ão sou eu 0 um apolo$ista da alma pampeana e pastoril do &rémio  quem está di(endo isso. \uem
o disse, em ima$ens mais fortes que minhas pobres palavras, foi o cineasta -oão Moreira Salles em um
documentário sobre futebol. Em patético documentário sobre futebol, acrescentese  e tanto mais
 porque bemfeito. \uerendo contar a história de dois mestres do futebolarte  Aranildo e 4Bcio Lquem
lembra delesN , Moreira Salles produ(iu um pequeno épico no qual reservou ao &rémio o papel de
vilão.
Tocê #á viu o v*deoN 2orra na locadora e retire. U inacreditável. São not*cias de uma $uerra particular 
contra o &rémio. @ão, não é isso. Seria pretensão demais afirmálo. /o lon$o do enredo, o imortal tricolor é
apenas um coad#uvante sem nome. ' que importa ali é a tra#etória de 4Bcio e Aranildo LquemN. ' &rémio
só entra em campo para mostrar como é in#usto o futebol quando quem vence não é quem #o$a bonito.
Salles deu tudo de si para transformar o &rémio no Eru$uai de 9:;=. Sua fita #á está no pontoN %ntão ve#a e
di$a se estou errado.
' $ol de 2arlos Mi$uel 0 o $ol que asse$urou o t*tulo com o empate em G ! G  está no filme. Mas, em
ve( daquela musiquinha do Canal 1&&, do flamen$uista 2arlos @iema6er, quando a #o$ada vai ao ar, fa(se
silêncio na tela. Em silêncio fBnebre. /quele $ol não deveria ter acontecido, é a mensa$em óbvia, caro
'bdBlio. Ema pena que aquela 2opa do )rasil não tenha sido conquistada em um o ! o com lua cheia L#á
que nunca chove no 7io, pois para asse$urar o t*tulo com um honroso empate, o &rémio teve que marcar 
dois $ois na casa do adversário Lo primeiro #o$o, em 3orto /le$re, acabara com o placar em branco.
3ena também que o documentário de Moreira Salles não mostre que, naquela noite, não foi ao &rémio
que coube o papel de coco do cavalo do bandido. @os créditos ine!istentes, o bandido é o &rémio, e acho que
o cavalo também. Mas, quer saberN /pesar de involuntária, a homena$em não podia ter sido mais precisa  e
sincera.
/final, além de celebrar, mesmo que por vias transversas, a alma cisplatina do &rémio ao equiparálo com a
ma$istral sele"ão uru$uaia de 9:;=  um dos maiores times da verdadeira história do futebol de verdade ,
o documentário de Moreira Salles parece um rico banco de dados que relembra, ainda que
involuntariamente, outro momento marcante da história do imortal tricolor, não como farsa, embora,
outra ve(, como tra$édia 0 e, de novo, para os outros. Sabe por quêN 3orque o primeiro time não carioca a
 

 pisar no $ramado Maracanã após o Lassim chamado desastre de 9? de #ulho de 9:;= foi #ustamente o
&rémio.

%ra um feriado de novembro 0 mas infeli(mente não o de inados. /final, 9; de novembro, você
sabe, é apenas o dia em que eclodiu um outro $olpe militar no )rasil, aquele que entrou para a história sob a
denomina"ão de proclama"ão da 7epBblica. Mas tal 7epBblica nunca foi muito feste#ada no )rasilQ com
toda ra(ão, aliás, pois a na"ão in(oneira não apenas foi a *ltima a abolir a escravidão no 'cidente como
também a derradeira a dei!ar de ser uma monarquia nas /méricas  e com sete décadas de atraso com rela"ão
à /r$entina, à Tene(uela, à 2olDmbia e ao 3ara$uai.
/lém do mais, o que houve naquele 9; de novembro de 9<<: não foi muito mais do que um desfile de
tropas pelas ruas do 7io 0 desfile a que o povo assistiu bestiali(ado, atónito, surpreso, sem conhecer o que
si$nificava, conforme o relato de uma testemunha ocular da história, o #ornalista e futuro ministro da
7epBblica /ristides 4obo. 3ara aumentar a incon$ruência e a ironia daquele momento, o $olpe republicano
foi liderado por um militar, o marechal 5eodoro da onseca, que, além de ser ami$o do imperador e
monarquista convicto, tinha declarado ?o dias antesC 7epBblica no )rasil é coisa imposs*vel porque será uma
verdadeira des$ra"a. 's brasileiros estão e estarão muito maleducados para republicanos. ' Bnico
sustentáculo do nosso )rasil é a monarquiaQ se mal com ela, pior sem ela.
3or isso, seria mesmo um tanto constran$edor feste#ar a 7epBblica. Mas feriados são sempre bem
vindos na terra do samba e

Maracanao: contra o 7lamengo fregu&s de caderno 'alejo marca o gol 8.;;; do Gr#mio no primeiro jogo de um time <estrangeiro< no io depois do <desastre<
da 3opa de ()9;

do 2risto 7edentor. 3or isso, a massa rubrone$ra foi a campo naquele dia livre, 9; de novembro de
9:;=, na esperan"a de e!orciar seus fantasmas. Mas lo$o contra o &rémio, um time cisplatinoN @ão
 poderia dar certo, e não deu mesmo. ' primeiro #o$o de um clube estran$eiro no Maracanã depois da
final da 2opa de ;= terminou com vitória de > ! i do &rémio sobre o pobre lamen$o  e a massa
flamen$uista assistiu a tudo bestiali(ada, atónita, surpresa, sem conhecer o que si$nificava.
-usto naquela partida o imortal tricolor assinalou seu $ol de nBmero >.===, obra de )ale#o, como
mostra a foto a* em cima. %u, particularmente, acho que três mil $ois são um tanto demais para um time
como o &rémio, então com apenas IH anos de vida, #á que $anhar por meio a (ero me parece mais
emocionante. Mas como $ois do seu time são sempre le$ais, não sou eu quem dei!ará de feste#álos, ainda
que supérfluos.
 

elipo quando ainda era elipin*o: um santo *omem, desde #aroto, em(ora pro%a%elmente -á incompreendido por seus cr$ticos! Antes de entrar em
campo, ele sempre comun#a%a

P! O' ME'TRE' ORA DA' "UATRO 43NLA'

Sim, se meio a (ero e!istisse, aposto que esse seria o placar pelo qual um time pra$mático e eficiente
como o &rémio #o$aria, sempre que necessário. 3ois o ne$ócio do &rémio sempre foi futebol de resultados,
ou se#aC Lmeia bola na rede, bicho no bolso, fai!a no peito e ta"a no armário. /credito que o treinador do time
naquela histórica partida contra o lamen$o, em novembro de 9:;= 0 o #o$o que marcou a volta dos que
não foram, por assim di(er 0, concordaria com meu sólido ar$umento.
 

/final, o referido treinador era homem de ori$em alemãC su#eito r*$ido, compenetrado e cultor da for"a
f*sica. 2hamavase 'tto 3edro )umbel. oi o autêntico predecessor, virtualmente o mestre, do $rande
o$uinho. Sim, porque por mais emblemática e inovadora que tenha sido a passa$em de o$uinho pelo
&rémio, ele teve antecessores. % o maior foi #ustamente 'tto 3edro )umbel 0 nome tão sonoro e sólido
quanto a própria fi$ura.
Metido em indefect*veis óculos escuros, )umbel era militar e fora responsável pelo Piro de &uerra na
$ermânica @ovo Kambur$o, vi(inha a 3orto /le$re. )em poderia, portanto, ter sido sócio do Piro /lemão, a
$loriosa a$remia"ão er$uida bem ao lado da não menos $loriosa )ai!ada e onde o &rémio se tra#ava antes
de abater seus primeiros adversários.

3rofessor de educa"ão f*sica com dois diplomas 0 era formado tanto pela E7&S quanto pela %scola
de %du ca"ão *sica do %!ército, no 7io , 'tto 3edro também introdu(ira a prática do vDlei e do basquete
na Sociedade &inástica de @ovo Kambur$o, mas isso, acho eu, só para provar que nin$uém é perfeito.
eli(mente ele lo$o virou #o$ador de futebol e, a partir de 9:><, treinador. Sabe de quemN 5o lamen$o.
Sim, houve um tempo em que aquele clube de re$atas praticou o futebol. Panto é que che$ou a ser 
treinado pelo $enial 5ori Wrushner, o hBn$aro que em 9:>H introdu(iu o sistema 1M no )rasil, apenas
dois anos depois de o sistema ter sido criado por Kerbert 2hapman, no /rsenal, da velha e boa An$laterra.
)umbel tão predestinado que nascera em @ãoMePoque, no interior do munic*pio de 3asso undo ,
falava alemão fluentemente. 3or conta disso, foi encarre$ado de tradu(ir para a plebe i$nara o que Wrushner 
tinha a di(er. 3ena que os rubrone$ros achassem que ele estava falando $re$o.
'ito anos mais tarde, )umbel assumiu o comando técnico do &rémio, onde, enfim, foi entendido.
Asso se deu no $lorioso ano de 9:I?. ' &rémio passava por um dos raros maus momentos de sua história,
 pois, em chave oposta, o S. 2. Municipal vivia um de seus rar*ssimos momentos ra(oáveis. %ntão, o $rande
-osé &erbase   pai de meu ami$o, o cineasta, escritor, mBsico, replicante e $remista 2arlos &erbase 
assumiu a presidência do clube. /lém de populari(ar o slo$an 2om o &rémio onde estiver o &rémio e
de estabelecer como s*mbolo do clube um mosqueteiro Lcu#o lema é um por todos e todos por um, o
imortal dr. &erbase ainda repatriou )umbel, que andava des$arrado nos tristes trópicos.
% )umbel, que sabia que futebol não é a mesma coisa que #o$o de botão, foi lo$o mudando as coisas 
não no )rasil, é claro, que o )rasil nunca foi disso, mas na 3rov*ncia 2isplatina. 4eia as sábias e

)umbel bombandoC com 'tto 3edro )umbel Lprimeiro à esquerda, o &rémio estreia o esquema 1M e patrola os adversários, conquistando o 2ampeonato &aBcho de
9:I?
 

sacrossantas palavras que ele proferiu em um depoimento ao 3ro#eto To!, da EnisinosC 2omecei a lan"ar no
7io &rande do Sul uma orienta"ão estraté$icotática diferenciada em rela"ão aos tempos anteriores. 2ada
 #o$ador treinava de manhã e de tarde. / intensidade do trabalho, a orienta"ão, a estraté$ia, a tática, a
mecani(a"ão, a dinâmica funcional do time é que era elevada.
)umbel botou o &rémio a #o$ar no esquema 1M, claro. Se você vive ao norte do Mampituba Lpai do
frio, em tupi, o rio que estabelece a fronteira entre o 7io &rande do Sul e o )rasil, então nem sequer deve
saber o que isso si$nifica. a(endo uso de meu parco vocabulário, tentarei e!plicar. /té 9:>;, o mundo
continuava fin$indo que era poss*vel #o$ar futebol no esquema G>; Ldois (a$ueiros, três médios e... 5eus do
céu+... cinco atacantes. Sur$iu então o 1M, que consistia em usar três (a$ueiros Lde preferência $rossos e
durJes, dois r*spidos volantes de conten"ão, dois armadores e três atacantes,

5onquistas inesquec$%eis: o Grémio cala o 5entenário e #an*a do Nacional em Monte%idéu, e stra#andol*e a )esta +acim a, e d epois conqui sta in%icto
o 5ampeonato Gac*o de 1BQB

formando um J embai!o e um m em cima. /inda não era o ep*teto da perfei"ão Ltão bem representado pelo
esquema :9, mas pelo menos #á era um passo evolutivo em dire"ão ao >;G Ltrês (a$ueiros, cinco volantes
fero(es e dois rompedoresmatadores.
2ausará surpresa afirmar que o &rémio 1M de 'tto 3edro )umbel foi campeão em 9:I?, o ano de
 

ouro do dr. &erbase e do sur$imento do slo$an imortalN %m 9:IH, porém, outros cartolas assumiram o
comando do clube e tentaram se meter no trabalho dele. %ntão, )umbel pe$ou o boné e foise embora. Mas
voltou em 9:I: para pDr em prática as mesmas nobres verdadesC muita prepara"ão f*sica, disciplina tática,
férrea determina"ão e #o$o coletivo. ' resultadoN @ovas $lórias e novos t*tulos.
&lórias avassaladoras, como a vitória contra o @acional de Montevidéu, em um $élido 9I de maio de
9:I:, em  pleno estádio 2entenário, o maior palco mundial do futebol de verdade. %ra a festa do
cinquentenário do então pentacampeão uru$uaio e base da sele"ão que, dali a um ano, se tornaria
 bicampeã do mundo no mausoléu do Maracanã. ' &rémio sentiuse honrado com o convite do $lorioso
coirmão oriental, mas estra$oulhe a festa. ' tricolor uru$uaio saiu na frente, lo$o aos G= se$undos de
 partida. Mas o tricolor $aBcho virou para > ! 9 , com $ois de PeotDnio, &eada e /le$retti, transferindo os
feste#os uru$uaios para o 7io de -aneiro, onde eles enfrentariam um adversário mais fraco.

% t*tulos inesquec*veis, como o do campeonato $aBcho de 9:I:, que come"ou a ser $anho em um &repal
memorável, disputado no, por assim di(er, estádio dos %ucaliptos. ' #o$o foi em >= de outubro, com
recorde de pBblico e renda. @a noite anterior, sabendo que no dia se$uinte haveria festa, dois titulares do
&rémio fu$iram da concentra"ão e ca*ram na farra. Mas feste#ar antes do #o$o nunca foi do feitio do
&rémio, e 'tto )umbel sacou os farristas do time. 2omo dois outros titulares estavam lesionados, o tricolor 
entrou em campo com quatro reservas.
/os G= minutos do primeiro tempo, o $rande &eada  meu centroavante, um alemão, divino #o$ador,
 pela disciplina, modéstia e competência, como nunca se cansou de elo$iar )umbel 0 marcou um $ol. Mas
a se$uir, levou uma cusparada, desferida por um (a$ueiro rubro. 7ubra ficou também a cara do a$ressor 
com o murro que tomou de &eada. ' #ui(, o lendário mr. )arricV, in$lês r*$ido Le meio ce$o, viu o soco
mas não a cuspida, e e!pulsou &eada, dei!ando o cuspidor em campo. 3ouco depois, o ponta 2lor6
torceu o torno(elo num buraco do campo que mais parecia potreiro. 2omo, naqueles bons tempos,
substitui"Jes não eram permitidas, o &rémio ficou com nove 0 sendo quatro reservas.
Sim, mas entre os nove $uerreiros restantes, um deles era o pontaesquerda /riovaldo Tendt, o
lendário 5etefon. 5etefon era o nome de um veneno para mosquitos, conta )umbel. % era também o
apelido de um #o$ador de $rande velocidade, alto, quase im<o, que chutava com os dois pés. %m velocidade,
superava qualquer um e, quando a bola era lan"ada para ele, o adversário ou ficava para trás ou cometia falta.
/inda assim, era muito dif*cil fa(êlo parar. 5ali sempre resultava um arremate, um $ol ou uma bola na
trave, completa o bom 'tto 3edro.
%ntão, no se$undo tempo, )umbel amontoou todo o time numa velha e boa retranca, aprimorou o
1M Ltransformandoo em :9 e só dei!ou 5efeton, o e!terminador de insetos, lá na frente.
%nlouquecidos com seus veloc*ssimos contraataques, o verm*culos quase esqueceram de atacar. % o #o$o
terminou com aquele $ordo i ! o Lou se#a, o dobro de meio a (ero, dei!ando o campeonato
 

E0terminador de insetos: o Grémio de Dete)on +a#ac*ado  direita e de 'ér#io Moacir +#oleiro a(ateu o '! 5! Municipal em pleno %oo, no
estádio dos 5*orJes, em 1BQB

virtualmente nas mãos do &rémio. % com nove contra on(e+ \ue coisa linda, que coisa rara, o rolo virou
taquara, cantava a massa a(ul. ' t*tulo de 9:I: só veio em 9:;=  o $lorioso ano dos maracana"os do
Eru$uai e do próprio &rémio , em um disputado prélio contra o @ovo Kambur$o, então chamado
loriano, numa sin$ela homena$em ao saudoso Marechal de erro, loriano 3ei!oto.
D

\uatro dias depois de $anhar do lamen$o, naquele histórico 9; de novembro de 9:;=, )umbel dei!ou o
&rémio e foi para a /mérica 2entral, treinar a sele"ão da 2osta 7ica Lde $rande desempenho no 3an
americano de 9:;?, sob comando dele, e depois para 3ortu$al Londe foi campeão pelo 3orto, e, a se$uir,
 para a %spanha Londe treinou vários times, levantando a ta"a com o /tlético de Madri. 'tto 3edro
)umbel saiu da vida para entrar na história em a$osto de 9::<, aos <I anos, dei!ando seu testamento
nas pá$inas de um $rande livro, 3a 3ogBsti$a dei "utbol$tual, em cu#a capa relu( a ima$em do se$undo maior 
 #o$ador de todos os tempos, /lfredo 5i Stefano Lo primeiro, di( a internet, foi o quase uru$uaio 5ie$o
Maradona.
\uando )umbel saiu do &rémio, no final da temporada de 9:;=, foi substitu*do por Pelêmaco
ra(ão de 4ima, um espetacular volante de conten"ão, que à frente da (a$a do &rémio fora titular entre
9:G; e 9:G:, e em 9:I=, por servi"os prestados, che$ou à presidência do clube. ' $rande Pelêmaco foi
um dos primeiros #o$adores a fa(er sucesso como treinador, tanto é que em 9:>? tentou ensinar a um outro
clube de re$atas carioca, um certo Tasco da &ama Lnão seria 3edro Flvares 2abralN, a #o$ar futebol. 3arece
ter sido esse o Bnico fracasso de sua $loriosa carreira.
%ntre idas e vindas, Pelêmaco treinou o &rémio de #aneiro de 9:;9 a novembro de 9:;I. @o dia n
de #aneiro de 9:;;, quem assumiu o car$o foi o vulcânico o$uinho, cu#a $loriosa história você #á leu e
 #amais esquecerá. % quando o$uinho saiu, em novembro de 9:?9, depois de dar ao &rémio o
 pentacampeonato $aBcho L9:;? a 9:?=, o clube, sempre coerente em sua defesa intransi$ente do
verdadeiro futebol, botou em seu lu$ar Lapós a passa$em pelo car$o de %nio 7odri$ues, campeão em 9:?G
o pequeno $rande Sér$io Moac6r Porres @unes.
'ra, Sér$io, co$nominado a ma#estade do arco, havia sido $oleiro tanto do time de )umbel quanto
do de o$uinho. 3ortanto, além de saber que futebol se #o$a com as mãos, o homem tinha escola  a
verdadeira escolaC aquela que pre$a defesa forte, ataque matador, uma boa retranca e eventuais cascudos no
adversárioQ esquema que, em $eral, condu( à vitória, se poss*vel, por meio a (ero. 
 

Mas Sér$io era su#eito um tanto dBbioC parecia )ento Manoel 7ibeiro, o $eneral que trocou de lado
quatro ve(es na &uerra dos arrapos. Panto é que não só tra#ou vermelho como treinou os vermelhos. %
com eles foi campeão em 9:?9  Bnico ano em 9> em que o Municipal conse$uiu feste#ar al$uma coisa. Mas
como tal t*tulo foi celebrado com uma derrota histórica para o &rémio ?leia sobre esse Togo no $aBtulo
 p, Sér$io acabou sendo demitido pelos vencedores e assumiu o comando do &rémio em fins de 9:?G.
 @o 'l*mpico, Sér$io não foi apenas campeãoC foi supercampeão+ Asso porque, quando faltavam
apenas quatro #o$os para o final do &auchão de 9:?G, o &rémio estava seis pontos atrás daquele que sempre
se #ul$ou seu tradicional rival. %ntão, o rival supostamente tradicional perdeu três #o$os se$uidos,
enquanto o &rémio $anhou dois e perdeu um, diminuindo a diferen"a para apenas dois pontos. 2he$ou
então o &repal final, e o &rémio $anhou de novo. /*, foi preciso marcar um &repal e!tra.
2omo o supercampeonato de 9:?G é um dos t*tulos mais feste#ados da era dos 9G em 9>, é caso de
rememorálo com mais va$ar, saboreando os detalhes. @a penBltima rodada, vitória tricolor fora, contra o
3elotas, por I ! o, e derrota vermelha em casa, 9 ! > contra o /imoré do centroavante 3aulo 4umumba 
l*der ne$ro $remista, que estava emprestado ao time de São 4eopoldo e cumpriu a promessa de marcar dois
$ois, pois marcara um no &rémio. Pudo ficou então para o &repal final. 2aso o imortal tricolor vencesse,
haveria o tal &repal e!tra.
' &rémio, cheio de brios e eternamente inconformado com a derrota, venceu por G ! = , com $ois de
Marino, e provocou nova partida. 5epois de uma pausa para as festas natalinas  com o 3apai @oel a(ul
 percorrendo as ruas de 3orto /le$re , a decisão foi marcada
 

O capito (rucutu: 5arlos roner, $dolo de


elipo, que incenti%a%a seus pr>prios
 -o#ad ores 6metendol*es as esporas6

 para o dia H de fevereiro de 9:?>, no estádio das Paquaras, dos 2horJes, uma árvore qualquer...2om
dois $ois de Avo 5io$o, um de Tieira e um de -oão(inho, o &rémio venceu por I!G. /pesar do evidente
desequil*brio de for"as, semp re é bom $a nhar deles 0 e dessa ve( foi melhor ainda, pois, para
variar, do lado de lá havia $ente feste#ando antes da hora. %m 9:?>, Sér$io Moac6r $arantiu o bi.
%ntão, no come"o de 9:?I, quem assumiu o comando do &rémio
vencedor foi o imortal capitão 2arl os )eneven utt o
roner. Militar durão, fã de volantes brucutus, apai!onado pelo infal*vel esquema :9, roner era
tele$rafista do e!ército. Mas como os turnos na caserna eram de GI horas de trabalho por I< de
descanso, ele tinha dois dias a cada um para se dedicar ao que mais $ostavaC ensinar meros mortais a se
tornarem $uerreiros maias reencarnados através da prática do o!tai!o, o nobre esporte, praticado com a
canela e os cotovelos, que deu ori$em ao futebol.
roner, provável reencarna"ão, ele próprio, do capitão 3. @evill, sempre foi $remista, como não cansava
de di(erC Tirei torcedor do &rémio por causa de 4ara. @unca vi atleta como ele. % o primeiro time que ele
treinou foi o &rémio, só que o &rémio 4eopoldense, que assumiu em 9:IH. Sempre fui adepto da
 participa"ão total dos   atletas, di(ia. Podos devem se comprometer com a a"ão defensiva e o ataque. %ste
foi o motivo do ê!ito de minha carreira.
Mas não foi apenas esse o motivo, caro roner. /lém de estrate$ista brilhante, você sabia a fórmula
certa de incentivar os atletas. %m uma mesa, no vestiário, colocava a ponta de cabos de vassoura que você
serrara e, com o au!*lio dos toquinhos 0 pintados de a(ul Lseu time e de vermelho Lo adversário 0,
e!plicava o esquema tático. 5e repente, no meio da palestra, desferia violento peteleco em um dos
 pau(inhos 0 do  seu time 0 e enquanto o toquinho voava para lon$e, di(iaC /h, bandido, tu #á estás te
entre$ando+ 7ecado mais óbvio, só se você batesse no frou!o.
Sempre fui nervoso, confessa roner. /rrebentei meu cora"ão com o futebol. /ntes, !in$ava meus
 #o$adores. 5epois, substitui os palavrJes por bandido. U que tem #o$ador que, para render, só mesmo
metendolhe as esporas. Meu 5eus, onde estão as esporas do capitão roner, a$ora que escrevo em fins
de G==I, per*odo tão sombrio Lquanto passa$eiro na $loriosa história do imortal tricolorN
roner assumiu o comando técnico do &rémio em 9:?I e $anhou o campeonato daquele ano, é
claro. % #ustamente contra Sér$io )ento Manoel Porres @unes, que de novo se bandeará de lado. @o
&repal decisivo, disputado em novembro daquele ano, o &rémio #o$ava pelo empate. 4eia o que disse
roner em depoimento a 7u6 2arlos 'stermannC

' #o$o era contra o Sér$io, que tinha estrela. omos para a televisão discutir o assunto. @ós estávamos um
 ponto na frente e eu disseC Tamos #o$ar pelo re$ulamento. % a torcida bu(ina comi$o, porque eu ia #o$ar 
 para empatar. 2ome"ou o #o$o e meu time foi para cima. 2om quatro minutos, fi(emos um $ol, e outro, e
um terceiro. &anhamos de > ! o. % estava tudo previsto para #o$ar na retranca, #á que eu era retranqueiro.
Te#a você, eu era retranqueiroC tinha o $oleador do campeonato, o ataque mais positivo, a defesa menos
va(ada e $anhava os campeonatos. % era retranqueiro... Ko#e, todo mundo #o$a com três ou quatro
cabe"asdeárea. 'u se#a, eu #á era moderno naquele tempo.
roner foi campeão invicto em ?I e o &rémio ficou >? partidas sem perder. %m 9:?;, ele levantou o
tetra, também de forma invicta, empatando apenas dois #o$os e $anhando todos os demais, inclusive os dois
&repais finais. % então ele saiu do &rémio, mas voltou em 9:?H, para ser he!a. /ben"oado capitão roner+
 

5eus o tenha. % de fato ele há de estar no para*so, pois pa$ou os pecados aqui mesmo, nesta Perra, #á que,
 pouco depois de dei!ar o &rémio, foi escalado para reensinar o lamen$o de 5ori Wushner a #o$ar futebol.
Mas isso, sabemos todos, é imposs*vel, pois o má!imo que eles sabem é remar. %m sua passa$em pela
&ávea, roner ainda lan"ou ico, o famoso pintinho de \uintino.
%m 9:?<,= &rémio recontratou Sér$io Moac6r e, à frente de um time invenc*vel e irretocável  /lberto,
/ltemir, /ri %rc*lio, Fureo e %veraldoQ 2léo e Sér$io 4opesQ )abá, -oão(inho, /lcindo e Tolmir , foi
heptacampeão, conquistando o décimose$undo t*tulo em 9> disputados. / conquista foi encaminhada
com retumbante I ! o em um &repal histórico, em #ulho de 9:?< 0 minha primeira ida ao estádio
'l*mpico, meu primeiro &repal+

Sim, isso tudo, esses 9G t*tulos em 9> anos 0 feito ini$ualado aqui na prov*ncia 0, se deu, ia
esquecendo de contar, no monumental estádio 'l*mpico. Asto porque, em 9:;>, ano de seu cinquentenário,
o &rémio come"ou a sair da simpática )ai!ada, ber"o de sua romântica infância e da promissora
adolescência, simplesmente

O %erdadeiro campo santo: %ista do monumental estádio Ol$mpico, no dia de sua inau#ura7o! Ao )undo, podemse %er os cemitérios para onde so
en%iados os ad%ersários do Grémio

 porque ficou $rande demais para o pequeno fortim. 3recisava de uma fortale(a, uma nova casa própria com
tamanho suficiente para abri$ar sua imensa torcida. ' clube, assim, se viu for"ado a construir o maior estádio
 particular do pa*s na época  um colosso com capacidade para >< mil pessoas.
 

/s obras do 'l*mpico, er$uido onde antes ficava a Tila 2aiu do 2éu, pró!ima à 2ascatinha Londe 2ândido
5ias e o $rupinho da bola desferiram seus primeiros petardos, foram iniciadas em abril de 9:;>. 3ara
terminálas, o presidente Saturnino Tan(elotti homem que caiu do céu, provavelmente vindo de outro
 planeta 0 via#ou ao 7io de -aneiro, capital federal, e lá obteve um empréstimo de 2r^ G; mil, com
aprova"ão do eterno presidente Tar$as. %, é bom di(er, tal empréstimo foi #uitado, rapa(es.

4á %ai passando a procisso: marc*a de #remistas


da @ai0ada ao Ol$mpico, uma pere#rina7o reli#iosa

/ inau$ura"ão do autêntico campo santo do &rémio deuse no dia 9: de setembro de 9:;I, um


ano e quatro dias após o cinquentenário, com vitória sobre o velho e bom @acional do Eru$uaiC G ! o,
$ois do centroavante Titor, aos Gose$ e >6min
T*tor, aos Gose$ e >6min do se$undo tempo. Sim, é is so a*C o & rémio só precisou #o$ar um tempo e um
ter"o de minuto para marcar seu primeiro $ol na casa nova.
 @aquele memorável
dia, uma procissão de $remistas  autênticos saunterers ! partiu da )ai!ada e venceu a pé todo o percurso até
o 'l*mpico, saindo dos Moinhos e indo até o bairro da /(enha, onde novos adversários passariam a ser 
mo*dos, reprodu(indo a marcha dos que tinham inau$urado o matadouro da Schuet(verein 3lat( em 9:=I.
/ partir de 9:;?, uma comissão diretiva, fiel ao slogan um por todos, todos por um, come"ou a
trabalhar para as obras de amplia"ão do estádio. /no após ano, al$uma melhoria era feita. / partir de
9:HH, a remodela"ão do 'l*mpico se tornou prioridade. ' então presidente Kélio 5ourado visitou 9;H
cidades do interior $aBcho e arrecadou G? mil sacos de cimento. @o dia ; de maio de 9:<=, a Bltima
 por"ão de concreto foi lan"ada para unir as duas e!tremidades superiores do estádio. ' 'l*mpico
Monumental, que fica no 4ar$o dos 2ampeJes, nO i, e tem capacidade para ;9.=<9 pessoas, foi inau$urado
em G9 de #ulho de 9:<=, com vitória do &rémio sobre o Tasco por i ! o.

/inda seriam necessários al$uns anos mais, mas o 'l*mpico de tantas $lórias iria se tomar a eterna
casa do maior treinador da história do futebol mundial, 4ui( elipe Scolari. 2erto, vamos $orrigir> o
 segundo maior, pois o próprio elipão fa( questão de afirmar que o maior de todos foi seu mestre, 2arlos
)enevenutto roner L#á que o$uinho, todos concordam, é um ser sobrenatural, que paira acima de
classifica"Jes.
Pão monumentais são a vida, a carreira, as conquistas, a fibra e a fBria de elipão 0 e tão profunda e
 

or$ânica sua li$a"ão com o &rémio ! que, com o au!*lio do belo te!to e a e!austiva pesquisa de 3aulo 2ésar 
Pei!eira Lpublicados no livro "eli)o ! a alma do 5entaA, sintome impelido a contálas aqui, e desde antes de
o prota$onista estar no Btero de sua santa mãe, dona 4eda.

/ história come"a em 9<:9, quando a bisavó paterna de elipão, 4ui$ia )ellini Scolari, desembarcou,
viBva, desamparada e com seis filhos pequenos, na pedra do porto de 7io &rande, tendo cru(ado a barra
diabólica seis meses depois de partir de sua Terona natal, a bordo da terceira classe de um navio de
imi$rantes. ' ca"ula da intrépida matriarca era o pequeno 4ui$i, então com dois anos e de( meses. 4ui$i
cresceu, virou 4ui(, casou com dona &enoveva, teve quatro filhos com ela e mudouse com a fam*lia para a
&ran#a Scolari, uma propriedade rural de H= hectares a quatro quilómetros do centro da mui leal e valorosa
cidade de 3asso undo. /li, no luminoso dia : de novembro de 9:I<, nasceu o $aroto 4ui( elipe,
 primeiro filho homem de )en#amin Lum dos quatro filhos de 4ui( e &enoveva e dona 4eda. )en#amin, que
saiu da &ran#a Scolari em 9:;G para virar dono do )ar )olão SnooVer Scolari, instalado na avenida
 principal de 3asso undo, $ostava de bater uma bola. %le #o$ava na (a$a. %mbora quase tenha escolhido a
 posi"ão certa, optou pelo estilo erradoC era um (a$ueiro clássico e ele$ante, asse$uram todos os que o
viram #o$ar. 5eve ter sido a influência perniciosa do sobrenome de solteira de sua avó, )ellini.
Mas quis o destino que o #ovem elipão não se$uisse o Bnico mau e!emplo dado pelo pai. '
responsável pela boa ventura talve( tenha sido o campo sempre embarrado do colé$io marista @ossa
Senhora da 2oncei"ão  ho#e absurdamente recoberto de $rama, o que lhe matou o esp*rito. oi lá que o
 #ovem 4ui( elipe, desinteressado de letras e nBmeros que os padres tentavam enfiarlhe na cabe"a,
descobriu como matar o tempo  e a bola.
% a bola passou a ser uma obsessão para ele, #á desde então incompreendido pelos cr*ticos. %le era
uma nulidade como #o$ador, ousa afirmar um e!cole$a. Mas se superava pela determina"ãoC tinha
muita $arra, não se acovardava e não $ostava de perder, apressase em admitir. 2om isso concorda /irbal
2orralo, primeiro professor de %duca"ão *sica do futuro atletaC Sem dBvida, ele não era o melhor 
tecnicamente. Mas chamava a aten"ão pela disciplina e pela assiduidade.
Pão lo$o a fam*lia Scolari se mudou para 2anoas 0 a capital do mundo de elipão Lembora se#a pouco
mais do que uma cidadedormitório um tanto sem $ra"a nas vi(inhan"as de 3orto /le$re , ele deu in*cio
à carreira de boieiro. %, $remista como semre foi, inicioua... no &rémio. \ue diferen"a fa( que tenha sido
no &rémio

São 2ristóvão, se o time no qual ele come"ou a #o$ar em 9:?I #á carre$ava a palavra má$ica no nomeN
Mas a coisa era amadora naquele &rémio. 3or isso, elipão só virou profissional da (a$a quatro anos
mais tarde, em 9:?<, no /imoré. % aqui a história come"a a se tornar ainda mais coerente e sincrDnica.
Sim, porque além de o /imoré ter sido o time que pro#etou roner, sabe quem aprovou elipão no
 primeiro teste em São 4eopoldoN %le mesmo, o $rande, ini$ualável 'sRaldo 7olla, que o mundo consa$rou
como o$uinho.
elipão foi titular na defesaferrolho do /imoré até 9:H>, arrancando boa parte da $rama do estádio
2risto 7ei, na comovente tentativa de tornarlhe semelhante ao velho campo de terra do colé$io de 3asso
undo. %ntão, dando sequência ao c*rculo afortunado, Sér$io Moac6r Porres @unes  disc*pulo de o$uinho e
de 'tto 3edro )umbel e cole$a de roner  levou o (a$ueirão para o 2a!ias. % foi no topo da serra $aBcha que
elipão che$ou ao topo e e!plodiu como #o$ador e!plodindo com os adversários também. /o lado de
2edenir, ele formou uma dupla quase tão animal quanto MohrdiecV e SchubacV.
/pelidado de 2aminhão pelos companheiros de time  sabese lá de onde eles tiraram tal ideia ,
 

elipão foi titular de a$osto de 9:H> a novembro de 9:H:. @ão apenas issoC Sér$io Moac6r transformouo em
capitão e l*der do 2a!ias. ' homem #o$ou nada menos do que >>> partidas pelo time  e che$ou a marcar dois
$ois. Asso mesmoC dois $ois inteiros+ % foi e!pulso de campo uma Bnica ve(. %le era tosco e viril, mas nunca
desleal, atesta um e!diri$ente do clube.

Sob a lideran"a de elipão, o 2a!ias tornouse a terceira for"a do futebol $aBcho Li$noro quem tenha sido a
se$unda. %m 9:H<, a imprensa o ele$eu o melhor (a$ueiro do campeonato. @o ano se$uinte, o 2a!ias ficou
em oitavo lu$ar no )rasileirão, uma fa"anha. % em 99 de

%le$ância também fora de campoC o


fla$rante acima revela que, além da apurada
técnica que demonstrou nos $ramados
esburacados do mundo, elipão também se
vestia muito bem

fevereiro de 9:H<, em disputa válida pelo campeonato do ano anterior e no primeiro sinal daquela que seria
sua futura sina, o ca!ias elipão pisou pela primeira ve( no $ramado do Maracanã  e com o empate em i !
i, o 2a!ias eliminou o lamen$o da competi"ão.
-á veterano, com muitas marcas na coronha e na canela, elipão se transferiu  para o 2S/, de
/la$oas. % foi lá que saiu do campo para o banco  mas não para a reservaC para o comando. 4ui( elipe
 

virou treinador em 9O de #aneiro de 9:<G. 3articularmente, acho que a data deveria se tornar feriado. 3or 
de( anos, ele andou pelo mundo dando bronca até em pr*ncipe árabe que quis se meter na escala"ão do time
lá pelas terras dos petrodólares. %ntão, em 9::9, elipão impDs ao &rémio  seu time do cora"ão  uma das mais
elucidativas derrotas de uma história na qual quase não se re$istram derrotas.
Sim, em a$osto de 9::9, o &rémio e o 2riciBma, treinado  por elipão, entraram em campo para
decidir a 2opa do )rasil e ver quem iria $arantir va$a no Bnico campeonato que fa( al$um sentido
disputar, a 4ibertadores da /mérica. ' &rémio #á havia descoberto que a tal copa era o atalho ideal para a
/mérica  tanto é que $anhara a primeira edi"ão do torneio, em 9:<: ?leia no $aBtulo nA. %ntão, achando
que iria faturar mais uma, assim no mole, entrou de salto alto naquela decisão de 9::9, e se... deu mal. '
$énio elipão fe( seu time empatar no 'l*mpico Li ! i e, com um velho e bom o ! o nublado em casa,
$arantiu o caneco $ra"as ao m*sero $ol(inho que marcara fora. @ão dá nem para reclamar, só cumprimentar.
/inda mais que, podese dizer, foi $ra"as àquela vitória maiBscula 0 especialmente porque
constru*da com dois empates 0, que elipão retornou ao 'l*mpico. Sim, ele #á havia passado pelo &rémio
em 9:<H, e sa*ra de lá com fai!a no peito e ta"a no armário, pois faturou o &auchão daquele ano. Mas era
 pouco para um $énio. %ntão, em a$osto de 9::>, ele voltou. Toltou e construiu um dos maiores e mais
vitoriosos times da história do &rémio, da história do Eru$uai, da história do )rasil e, claro, da história
deste mundo redondo. Pão monumental é a passa$em de elipão pelo &rémio que, evidentemente, vai $anhar 
um cap*tulo só para ela.
Mas há um tema que se impJe #áC é -ardel, o pernadepau.

Nosso pernadepau é mel*or que o dos outros: o matador ardel, nmero 1K s costas, so(e no se#undo andar para #uardar de ca(e7a mais um #ol

%le$ância dentro de campoC com suas co!as $rossas e coladas o !erife elipão, #o$ando pelo 2a!ias, che$a #unto
com um bailarino do Municipal. \uem você acha que $anhou a divididaN

do Grémio im(at$%el de ?elipo


 

E0plosi%o, sim: ?elipo in%ade o campo +depois do -o#o para comemorar mais um t$tulo com o Grémio, o 5ampeonato @rasileiro de 1BBK,
conquistado contra tudo e contra todos

/final, -ardel se tornou um dos maiores s*mbolos da passa$em de elipão pelo &rémio, um retraio de sua
visão de mundo e de sua visão de bola, pois foi o homem que inventou uma nova maneira de o $remista ver 
futebol.
-ardel, que iria se transformar em um dos maiores $oleadores estran$eiros da história do futebol
europeu, che$ou a 3orto /le$re desacreditado, para #untarse ao e!ército de rene$ados que elipão estava
montando. Pinha sido escorra"ado pelo 2lube de 7e$atas 3edro Flvares 2abral Lou seria Tasco da &amaN.
3arece que, de fato, -ardel não remava nada bem. /final, embora parecidos, remo e perna de pau não são
idênticos.
Anstru*do por elipão, velho (a$ueiro que sabia onde o sapato aperta na $rande área, -ardel
aprendeu a driblar com o corpo para  poder cabecear livre, pois dominar a bola não era com ele. ' que
importaN Sua missão não era têla nos pésC era vêla descansando nas redes adversárias.
3or isso, tão lo$o a redonda passava do meiocampo, a torcida do &rémio #á sentia um calafrio na
espinha. Se interceptada pelo (a$ueiro para a linha de fundo, era como se a ale$ria pudesse ser avistada no
hori(onte. 5e pé, só restava aos $remistas esperar a hora de sair pulando depois de mais um cabe"a"o mortal
do seu artilheiro, aos $ritos de eu sou $aBcho e com os olhos no $ramado onde um cearense obstinado
 bei#ava sua camiseta.
-ardel foi o maior pernadepau que pisou no %stádio 'l*mpico. / questão é que nosso pernadepau é
melhor que o dos outros. % eis aqui um motivo a mais de infelicidade para a conspira"ão anti$remista.
 

Losana nas alturas: André 5atim(a, o centroa%ante #enial, atin#e os p$ncaros da #l>ria ap>s marcar o #ol do t$tulo #ac*o de 1BII, o ano da
reconquista, em cima do '! 5! Municipal

10. OS MATADORES: JOGANDO POR MÚSICA


%m futebol se mata ou se morreQ não há meiotermo  e esta é apenas uma dentre as tantas ra(Jes pelas
quais a meiacancha nunca teve maior importância no #o$o, a não ser, é claro, quando se trata do inócuo
futebolarte. Mas no verdadeiro futebol, theres no neutral ground. % entre matar ou morrer, o &rémio
sempre preferiu matar, é claro. U por isso que, embora nunca tenha dei!ado de ser um time de $randes
$oleiros, étimos (a$ueiros e estupendos volantes de conten"ão, o imortal tricolor sempre possuiu em
suas hostes um bando de matadores 0 inclusive os de alu$uel, como -ardel. &ente cruel, muito cruel, para
quem nunca houve bola perdida e que estava tão habituada Le habilitada a sacrificar o adversário que al$uns
dos que foram abatidos em plena área #ul$aramse v*timas de bala perdida.
's matadores $remistas são $enu*nos herdeiros da tradi"ão do o!tai!o, o futebol maia no qual a
vitória era feste#ada com o cora"ão dos vencidos pulsando nas mãos dos vencedores. 2oisa de macho. '
 presente cap*tulo 0 que, não por acaso, leva às costas o lendário nBmero :  quer celebrar os antecessores
de -ardelC a venerável estirpe, a nobre linha$em, que se iniciou com )ooth e &runeRald, membros da
 pioneira blitzrieg tricolor, e se prolon$a aos dias fero(es de 2láudio 3itbull.
/l$uns dos $randes centroavantes do &rémio foram craques, como el maestro 4ui( 2arvalho, o rei da
virada, titular de 9:G> a 9:G?, depois de 9:>= a 9:>> e por fim de 9:>H a 9:I=, quando pendurou as
 

%l maestroC 4ui( 2arvalho, o rei da virada, centroavante matador que #o$ava mais que 3ele

machucouse no come"o, -uare( fe( um $ol in#usta e absurdamente anulado, o lateral /ltemir foi absurda e
in#ustamente e!pulso, ulano de Pal marcou o primeiro $ol dos vermelhos no come"o do se$undo tempo e
fe( outro aos G=.=!G, com de( em campo e três desfalques.
Mas o &rémio continuou lutando. @adir descontou, de falta, aos GImin, Marino empatou, aos
Iomin. /os IImin, o bafe#o do destinoC -uare( e o $oleiro Silveira se chocaram e a bola se chocou contra as
redes coloradas. ' cronista e torcedor 3aulo Santana entrou em campo vestido de 3apai @oel a(ul, como
 prometera. ' treinador Sér$io Moacir, campeão pelo rival, foi demitido e assumiu o comando técnico do
&rémio no ano se$uinte
'utros matadores do &rémio foram sonhadores, como 4ima, que via os $ois que iria marcar 
enquanto dormia 0 e de fato os
chuteiras. o$uinho, seu companheiro na avassaladora linha de frente do &rémio dos anos >=, o
considerava melhor que 3ele. % você #á sabeC neste livro, a palavra de o$uinho é sa$rada, portanto 4ui(
2arvalho foi melhor que 3ele e não se fala mais nisso. 4ui( 2arvalho foi o 4ara da linha.
'utros avantes tricolores foram rudes rompedores, como o tanque -uare(, ne$rão atarracado que
invadia a área levantando polvadeira e espalhando retratista, como bem definiu uma testemunha
ocular da história. @os tempos de -uare(  o popular leão do 'l*mpico  até eventuais derrotas tinham
o seu lado $lorioso. %m 9:?9, por e!emplo, o ano em que perdeu o Bnico t*tulo dos 9G em 9>, o imortal
tricolor aprontou das suas no final do ano e estra$ou a festa vermelha, $ra"as principalmente a -uare(.
' derradeiro &repal da temporada, marcado para 9= de de(embro, assim como o t*tulo #á obtido,
 parecia ser dos inimi$os. ' &rémio entr ou em campo se m o $énio bo émio &ess 6, Ulton
 

4eão do 'l*mpicoC o tanque -uare(, no tra"o de Kélio, ensaia uma bicicleta antes de arrancar pela esquerda, levantando polvadeira e espalhando retratista, para entrar com bola e
tudo

marcava ao acordar. Mas como meu tempo e meu espa"o estão se es$otando rapidamente, vou me
concentrar em três maravilhosos centroavantes que vi #o$arC /ndré 2atimba, /lcindo, o bu$re !ucro, e
)alta(ar, o $oleador de 5eus. Mas a questão é que, cada ve( que falo no $rande /ndré, lembro de &ilberto &il,
e cada ve( que falo em &il, penso em 4upic*nio 7odri$ues. /ssim sendo, este cap*tulo matador vai ter que
come"ar a #o$ar por mBsica. 3ortanto, prepare os ouvidos 0 e o cora"ão, é claro 0 para escutar o doce som
da vitória.

' torcedors*mbolo de um time a(ul e preto só podia ser bla$Pblues. 4upic*nio 7odri$ues é o nosso
cantor de blues ne$ro. Sim, ele mesmo, o velho 4upi  o homem que transformou o &ua*ba em Mississippi e
3orto /le$re dos anos ;= em 2hica$o dos anos G= , era $remista ro!o. %mbora não se#a necessário e!i$ir 
mais de um ser humano, 4upi conse$uiu se suplantar, tanto é que, além de ecoar Mudd6 1aters, se antecipou
em mais de uma década a MicV -a$$er e a )ob 56lan. Sim, pois ao compor a clássica Kingan(a, em 9:;9, 4upi
for#ou sua versão de olling 6tone, #á que nela cantouC Kás de rolar como as pedras que rolam na beira da
estrada....
4upi foi boémio, foi not*va$o, foi um amante insaciávelQ fe( serestas e serenatas. 2antou sereno,
 perambulando por bares e cal"adas, para provar que a vida é um cabaré. Se al$um dia se confirmar a tese
de /urélio 3orto se$undo a qual a palavra $aBcho si$nifica homem que canta triste, 4upic*nio
7odri$ues se transformará então no maior dos $aBchos, pois nin$uém foi capa( de transformar solidão e
melancolia em arte tão refinada quanto o menino ne$ro e pobre nascido em um dia de chuva, em 9:9I, na
 periferia de 3orto /le$re. 4upi foi o virtual inventor da dorde cotovelo  ou pelo menos seu mais pleno
ve*culo de e!pressão.
 
 

Génio da ra7a: o (oémio 4upi, no seu *a(itat


natural, a mesa de (a r, usando o coto%elo

% 4upic*nio vivia suas letras. %le come"ou a compor em 9:>>, mas só ficou nacionalmente conhecido
no in*cio da década de ;=, quando a maravilhosa Kingan(a desembarcou nas paradas com o vi$or de
uma avalanche. /inda assim, com o passar dos anos, suas can"Jes clássicas 0 preciosidades como Kolta,
 "eli$idade, 9ervos de 2(o, 6e 2$aso Ko$= Chegasse e de(enas de outras  ca*ram no esquecimento, e as si m fi ca ra m
até sere m redescobertas, na década de 9:H=, pelos maiores nomes da M3). Só depois de -oão &ilberto,
2aetano Teloso, 3aulinho da Tiola, &al 2osta, &ilberto &il e %lis 7e$ina  os dois Bltimos $remistas
declarados — $ravarem suas mBsicas foi que o )rasil relembrou que no 7io &rande do Sul vivia um $énio. Só
que 4upi não fora feito para desfrutar plenamente da $lória. %le morreu em a$osto de 9:HI.
Mas #á havia carimbado o passaporte para a eternidade, simplesmente porque tinha composto o hino
do &rémio. % que hino+ Ema marcha nupcial em ritmo marcial com uma letra arrebatadora. Em cântico ao
 pé na estrada, um hino on the road, uma versão premonitória de 3ie a olling 6tone, o cântico de um
autêntico saunterer. Ema declara"ão de amor incondicional que também pode ser vista como o relato de
uma via$em à Perra Santa e uma homena$em ao poder da vontade individual sobre o sindicalismo
corporativista. \uase um tratado da desobediência civil.
2erta ve(, cru(ei com um historiador mar!ista Linfeli(mente, para ele, não da linha &roucho, e o cara
me disseC ' hino do &rémio fa( o elo$io do fura$reve. 3obre intelectual. @in$uém pode impedir o rio de
se$uir sua marcha para o marQ militante al$um, de qualquer tendência, pode bloquear o sa$rado direito de
ir e vir de um homem — até porque os homens dei!aram de ser macacos quando se puseram em marcha.
Mais imposs*vel ainda seria impedir um $remista de ver seu time em a"ão.
 

%mbora a história nunca tenha sido plenamente esclarecida, o hino composto por 4upi teria
nascido depois que uma $reve de bondes foi defla$rada em 3orto /le$re, o que impediria os tricolores de
irem para o estádio em transporte coletivo. /té a pé nós iremos, para o que der e vier, mas o certo é que
nós estaremos com o &rémio onde o &rémio estiver, rabiscou o $énio num $uardanapo na mesa do bar 
2opacabana, antes de se levantar e partir para o #o$o, #unto com u m séquito de torcedores,
tamborilando a nova obraprima numa cai!a de fósforos. / tal $reve teria ocorrido em H de de(embro de
9:;G.
' #ornalista 4u*s Mendes $arante, porém, que não foi assim que a coisa se passou. Se$undo ele, tudo
come"ou quando a dele$a"ão do &rémio se apro!imava do estádio em 2achoeira do Sul e encontrou a
rua  bloqueada  por obras de pavimenta"ão .

O poeta pop: o #rande @o( D;lan no dia em quetocou em 2orto Ale#re e se tornou #remista

4upi, que estava no Dnibus  #unto com o time e os diri$entes, desembarcou e todos se$uiram a pé para
o estádio Londe o &rémio $anhou por ; ! >, no dia GI de maio de 9:;G  e esse teria sido o episódio que
realmente inspirou o poeta.

3articularmente, prefiro a versão ori$inal da história. Panto é que a contei para )ob 56lan certa ve(,
numa su*te de hotel, aqui mesmo em 3orto /le$re, não muito lon$e de onde o &rémio foi fundado e a cerca
de três quilómetros do lendário 2opacabana. Pradu(i para 56lan o refrão do hino Luma tradu"ão livre, claro, do
tipoC 1e Rould RalV, Re Rould even craRl ] but Rell sta6 Rith &rémio, an6Rhere, an6hoR. Pambém
lhe falei sobre Kingan(a L7even$e e sua letra profética L6ou shall roll liVe the stones b6 the side of a dirt6
roR, inventei, #á que a can"ão foi feita em 9:;9, no mesmo ano em que Mudd6 1aters compDs a clássica
 olling6tone — ou se#a, mais de uma década antes de MicV e Weith criarem a maior banda de rocV da
história, Phe 7ollin$ Stones Lde 9:?>, e 9I anos antes de o próprio 56lan escrever sua verti$inosa 3ie a
 olling6tone, eleita em novembro de G==I apenas a melhor can"ão da história do rocV.
\uando lhe contei o caso, o bardo eni$mático sorriu seu raro e eni$mático sorriso  e não disse nada,
como de hábito. Mas uma série de ind*cios posteriores, que não revelarei aqui, me fa(em ter certe(a de
 

que )ob 56lan  o maior poeta pop do século XX tornouse $remista, embora $oste mesmo é de beisebol
Lapenas para confirmar a velha tese de que nin$uém, nem mesmo 56lan, o $énio $remista, é perfeito.

/$ora, $remista de placa Le de carteirinha foi %lis 7e$ina, a -anis -oplin da M3). /ssim como
$remista declarado e de cora"ão é &ilberto &il, embora seu primeiro time se#a o )ahia. 2om rela"ão a

Gremista de ouro: a pequena notá%el Elis Re#ina rece(e a pl aca de prata da pai0o

56lan, você vai ter que acreditar em mim, porque, posso $arantir, é quase imposs*vel saber al$uma coisa
deleQ falar com o cara, então, só quando o mar se abre. Mas sobre %lis e &il as provas são pBblicas 
embora no caso de &il eu tenha uma pequena nota de pé de pá$ina para acrescentar ao causo.
2omecemos pela pequena e notável %lis, uma $i$ante da vo(. @ascida em 3orto /le$re, ela come"ou
como caloura de pro$ ramas de rádi o antes de estourar, no in*cio da década de 9:?=, no circuito do )eco
 

das &arrafas, em 2opacabana, no 7io, como requintada intérprete de )ossa @ova. %m 9:?<  o ano do hepta, o
ano de meu primeiro &repal LI ! o, o ano do desbunde , %lis $anhou o estival Anternacional da 2an"ão,
cantando uma mBsica de %du 4obo. %m meio à fama e à consa$ra"ão que se se$uiram, nunca dei!ou de
declarar abertamente o quanto era $remista.
%m certa entrevista, revelou até a ori$em da pai!ãoC quando meninamo"a em 3orto /le$re, encantou
se pelo craque boémio e boapinta do &rémio, o $rande &ess6 4ima. &ess6, aquele mesmo que marcara
quatro $ois no )oca, em plena )ombonera, um dia depois de passar no vestibular em 3orto /le$re e
de ter se embebedado a noite toda. &ess6, apelidado de 7elâmpa$o, não pela velocidade em campo, mas
 pela rapide( com que riscava os fósforos para acender um ci$arro atrás do outro. &ess6, que queria
ser  dentista, e não boieiro 0 e virou dentista. &ess6, tão $alante e tão $alã que a menina %lis, sempre que
 podia, ia vêlo #o$ar no 'l*mpico.
\uando %lis veio a 3orto /le$re lo$o depois de $anhar o A2, &ess6 #á lar$ara o futebol havia seis
anos. Pinha só G?, mas não conse$uia mais correr. Tocê até pode se$uir #o$ando, disse o pneumolo$ista
que o e!aminou, desde que carre$ue um tubo de o!i$énio nas costas. -á %lis estava no au$e da forma
f*sicotécnica, e os diri$entes do &rémio foram ao hotel onde ela estava e lhe deram uma placa de prata que
a tornou $remista de ouro. Meses depois, ao cru(ar com a dele$a"ão tricolor em um hotel, em &oiânia, ela
abriu o peito, soltou a vo( e cantou o hino composto por 4upi, comovendo o sa$uão inteiro.
 @ão sei se &ilberto &il #á cantou o hino do &rémio publicamente. Mas deu tantas e tamanhas
declara"Jes de seu afeto pelo imortal tricolor $aBcho que é como se o tivesse feito. Ema delas, e das mais
espetaculares, o homem que virou ministro da 2ultura a fe( para o escriba que vos fala. \uer di(er, havia
outros repórteres na área, mas quem fe( a per$unta fui eu, e ele respondeu olhando para mim. 3ode
confirmar quando o encontrar por a*. 5e qualquer forma, como tudo se passou em um dos dias mais
memoráveis de minha vida, vou contar a história desde o come"o.

%m 9:HH, o pobre S. 2. Municipal, de $lórias tão vãs e tão, di$amos, re$ionais, vivia uma suposta
fase áurea praticando, ve#am só, o tal futebolarte. ' &rémio, que havia se cansado de $anhar L9G t*tulos
em 9> anos dá um certo trabalho e #á se preparava para conquistar a /mérica e o mundo  como veremos a
se$uir , vivia seu per*odo de entressafra. Mas naquele ano, aborrecido com a empáfia da turma da beira
la$o, decidiu afo$ar os sonhos verm*culos e

Time dos son*os: até desarrumada, a monumental equipe campe de 1BII )ica%a muito (em na )oto! No )la#rante acima esto os *er>is do Grepal que
marcou a reconquista do Gauc*o

montou um tima"o, autêntica máquina tricolor.


 

' $oleiro era... uru$uaio, é claro. 2hamavase 1alter 2orbo Lpor quem nunca morri de amores, mas
naquele ano ele foi bem. ' lateraldireito era o admirável %urico, o rei do carrinho, que subira na vida ao
trocar o 3almeiras pelo &rémio na temporada anterior. ' (a$ueiro central era... uru$uaio, é claro. Seu
nomeN /t*lio /ncheta. ' quarto(a$ueiro era o monumental 'berdan, o patrão da área, o cara que ao ser 
contratado disseC @a minha área ulano de Pal ?referindo!se a um adversMrio vermelhoV não cabeceia maisQ e
não é que o tal fulano não mais cabeceouN ' lateralesquerdo era 4adinho, aquele que falava fino e #o$ava
$rossoQ e pelo ladinho dele nunca mais passou um certo /r$emiro, 1ardomiro, sei lá como se chamava o
 ponta deles.
 @a frente da (a$a, como volante de conten"ão Lembora esse sonoro nome ainda não e!istisseQ foi
inventado bem depois, #o$ava  Titor Ku$o, o centromédio que transformava adversários em
coad#uvantes de seu melhor romanceC Os /iserMveis, não sei se você #á leu. -unto a ele, meu *dolo 8ura, o
3assarinho, um s*mbolo do &rémio, o #o$adorfibra, um cora"ão de leão, a quem se #untava o frio, cerebrino
e calculista Padeu 7icci. ' ataque era brincadeira, meu irmãoC na direita Parciso, o lecha @e$raQ na
esquerda, Uder, um potro indomável, então com 9: anos e, no comando das a"Jes, um dos maiores
matadores que #á viC /ndré 2arimba, meu ami$o pessoal, persona$em central da história que vou contar.

2om 2orbo, %urico, /ncheta, 'berdan e 4adinho, Titor Ku$o, 8ura e Padeu 7icci, Parciso, /ndré e
%der, o &rémio come"ou a disputar aquele &auchão em mar"o. / fórmula era das mais esdrB!ulasC GI
rimes, #o$ando todos contra todos, com os de( melhores se classificando para o deca$onal final. 3ara dar 
mais $ra"a à conquista, o &rémio ficou em se$undo lu$ar na fase classificatória. Mas $anhou o primeiro e o
se$undo turnos da fase final. /inda assim, não foi considerado campeão. 2omo o amontoado da beira
la$o $anhara a inócua fase de classifica"ão, marcouse um #o$o e!tra.
' &repal decisivo foi disputado no 'l*mpico, no dia G; de setembro de 9:HH, GI horas depois de
eu ter reencontrado minha namorada de infância, com quem casei pouco depois. ui ao #o$o ainda
embebido em pai!ão, cabeludo e de cabe"a feita, na flor dos 9: anos. Mas não me diri$i ao monumental
'l*mpico como torcedorC era repórter do #ornal Wero ora, e ainda por cima escalado para fa(er a crónica da
 partida.
' #o$o come"ou tenso, mas com o &rémio pressionando, embora precisasse só do empate para asse$urar 
o t*tulo. ' time era tão superior ao adversário que Pareiso se deu ao lu!o de desperdi"ar um pênalti, #á

5a(e7a e cora7o )eitos: o autor destas mal


ra7adas lin*as, na reda7o do -ornal em 1BII

aos G; minutos. Mas a primeira etapa ainda não havia acabado quando o &rémio marcou o $ol do t*tulo.
% que $ol, mLfriendS
/ boa fortuna veio dos pés de um enviado da )ahia de todos os santosC o maravilhoso /ndré
2arimba, o melhor centroavante que vi #o$ar nesta e noutras vidas Lincluindo minha encarna"ão maia. Pudo
come"a com o $enial Padeu 7icci dominando pela meiadireita e lan"ando 8ura na meiaesquerda. 8ura vê
/ndré entrando pelo meio e lhe enfia a bola. /ndré en$ana o (a$ueiro com um #o$o de corpo e entra na área.
Mas a bola à sua frente está enviesada e só pode ser dominada por um malabarista. ' ân$ulo do chute
 

tem que ser calculado por %instein. / for"a precisa obedecer aos insondáveis critérios da f*sica quântica.
Mas /ndré não é afeito a re$ras r*$idasC prefere a teoria do caos. 3or isso, quando deveria ter dominado e
chutado cru(ado e rasteiro de esquerda, bate com o contrapé, de direita  alto e no ân$ulo.
/ velocidade da #o$ada, do pensamento, da decisão e do chute de /ndré ludibriou a (a$a do rival
citadino. ' $oleiro rubro  ainda por cima para$uaio  teve seus refle!os desarticulados. ' tempo, que um
 poeta chamado &ilberto &il disse que poderia ser parado para que se mudasse o curso da história, mudou
de ritmo e de rumo na cabe"a feita e nos pés á$eis de /ndré. ' artilheiro estava noutra frequência e noutra
dimensão ao estufar as redes na tardenoite iluminada do %stádio 'l*mpico, naquele G; de setembro de
9:HH. %  fe( um $ol para a história tricolor. Em $ol com a bên"ão dos deuses e a sauda"ão dos ori!ás,
coroado pela frase ma$istral de um poeta.
Sim, pois nosso filme épico ainda não acabou. 5epois de marcar, /ndré sai correndo em dire"ão à linha de
fundo. %ntão, um salto mortal o fa( er$uerse quase dois metros do chão. \uando ele está lá em cima, nos
 p*ncaros da $lória, vendo o pequenino mundo lá embai!o, uma fis$ada distendelhe o mBsculo posterior da
co!a. % /ndré cai espatifado de peito contra o $ramado. Só quando pára de vibrar é que a torcida do &rémio
 percebe que o herói #á dei!ou o campo, de maca.
 9oroblem> o se$undo tempo se passa como num sonho e nem em sonhos o Municipal se apro!ima da
área do patrão 'berdan. ' #o$o termina como terminara o primeiro tempoC com i ! o para o &rémio. ' t*tulo
está $arantido. 9:HH será para sempre o ano da reconquista.

Perminada a partida, me diri#o ao vestiário, comedido e controlado. /final, estava a trabalho e não
dera um pio durante o #o$o todo. @ão vibrei nem no $ol de /ndré  só por dentro, claro. %ntão, ao mer$ulhar 
no turbilhão da festa tricolor, dou de cara com quemN 2om o $rande, o notável, o espetacular &ilberto &il,
todo de a(ul. %le está abra"ado a seu conterrâneo /ndré, o bom baiano, o maluco bele(a, o herói do #o$o, o
autor do $ola"o do t*tulo. 2he$o #unto e per$untoC
 'i, &il. ' que está fa(endo aquiN Teio cumprimentar /ndréN
 Sim, sou ami$o de /ndré  di( ele.  Mas vim mesmo porque sou $remista.
 TerdadeN % por que um baiano como você é $remistaN
 'ra, sou $remista  rebate ele, de sempulo  porque o céu é a(ul, a pa( é branca e eu sou ne$ro+
'h, céus+ \ue homem+ &il, o cara que se refe(, refavelou e manteve sempre o maior realce. '
su#eito que anda com fé e que,

quando quer falar com 5eus, embarca no %!presso GGGG. ' homem que cantou o Domingo no 5ar#ue, que
se$uiu a 5ro$iss)o, que ainda sobe no 5al$o com a alma cheirando a talco, como bumbum de nené. @osso )ob
Marle6, um pr*ncipe rasta, arrasta pé e arrasa cora"ãoQ nosso Steve 1onder visionário, nosso pr*ncipe 'bá
 oba, oba+ &il, o mestre baianoC $remista, péquente, cabe"a fria e cabe"a feita.

\uando o baiano bele(a /ndré 2atimba se lesionou saltando às alturas para comemorar um dos mais
lindos $ois da história do 'l*mpico, sabe quem entrou em seu lu$ar aos I> minutos do primeiro tempo
do &repal que $arantiu o t*tulo de 9:HHN /lcindo Martha de reitas. Sim, ele mesmo, o bu$re !ucro, o
inimi$o pBblico nBmero um do S. 2. Municipal, o matador, o $oleador nato. ' $rande, o ini$ualável
/lcindo 0 meu primeiro *dolo+
/lcindo foi #o$ador tão monumental que bem mereceria não apenas um cap*tulo inteiro mas um
livro todo só para ele. 2ircunstâncias adversas nos obri$arão a fa(erlhe #usti"a em poucas e mal tra"adas
linhas. Mal tra"adas e poucas, é verdade, mas escritas com fervor devocional  o mesmo que ele sempre
 

dedicou ao &rémio.
/lcindo não fe( $ol naquele &repal de 9:HH. Mas isso só porque não era necessário. Sim, pois 9> anos
antes, em abril de 9:?I, quando estreou no assim chamado choquerei, com apenas 9: anos, ele precisou
de apenas seis minutos para estufar as redes coloradas. % antes do final do #o$o, estufouas duas ve(es mais,
$arantindo ao &rémio a vitória por >!=. Sob o comando do capitãobrucutu 2arlos roner, o tricolor 
come"ou a encaminhar o tricampeonato naquele #o$o. Mas para conquistálo de fato, foi preciso #o$ar outro
&repal, esse marcado para o dia 9O de novembro de 9:?I  véspera de inados, uma #usta homena$em ao
adversário.
 

O (u#re 0ucro: Alcindo, o inimi#o


p(lico nmero 1 do '! 5! Municipal

/quele foi o &repal em que o &rémio de roner só precisava empatar com o Municipal de Sér$io
Moac6r para ficar com o t*tulo e nosso adorável milico $arantiu que o time iria #o$ar pelo re$ulamento. Mas
/lcindo estava em campo 0 e dessa ve( não $astou mais do que quatro minutos para faturar o primeiro. %
antes do final da etapa inicial, enca"apou outro. ' $rande -oão(inho, o 3equeno 3ole$ar Ltão bom que
também mereceria um cap*tulo à parte, mas como era técnico e ele$ante, terá que se contentar só com essa
 

 breve men"ão, marcou o terceiro, e roner er$ueu a ta"a.


 @in$uém que conhecesse /lcindo poderia revelarse surpreso com o fato de ele ter marcado cinco
$ois em seus dois primeiros &repais como profissional. /final, nos dois primeiros como #uvenil, marcara
nove... no &rémio. Sim, é verdadeC o lendário bu$re !ucro come"ou a carreira no Municipal Lmá influência
dos irmãos, que  #o$avam lá e desencaminharam o inocente. Mas, sempre sovina, o rival citadino do
&rémio não quis dar uns centavos a mais para /lcindo. % mandouo embora, ao romper da aurora, com
soar de clarins e requintes de humilha"ão.
/ história do suposto rival é constitu*da por uma sequência de erros crassos. Mas talve( nenhum tenha sido
maior do que este. /o apontar a porta da rua como caminho para /lcindo, o pobre S. 2. Municipal $anhou
Lbom, al$uma coisa eles têm que $anhar o mais ferrenho, intrépido, irado, obsessivo, obstinado,
obcecado, fero(, perverso, arrai$ado, impiedoso, impetuoso, desumano, san$uinário, tena(, desvairado,
duradouro, decidido, furibundo, desmedido, funesto, infausto e sinistro inimi$o que #amais teve. Sim, GG
ad#etivos para qualificar o ódio de /lcindo pelo Municipal, pois tanto ele quanto seu rancor valiam
mesmo por dois times completos.
Podas as bri$as em &repal come"avam comi$o, relembrou /lcindo em conversa com 7u6 2arlos
'stermann. U que eles sempre tiveram bronca de mim, e eu deles. %m todas as entrevistas que pudesse
falar, sempre procurava botar eles lá embai!o. 3odendo pisar em cima, eu pisava. ui escorra"ado, fui
mandado embora. % $ra"as a 5eus, pois se tivesse ficado lá, não teria o sucesso que tive no &rémio. %
depois, sou $remista doente, $osto de ser $remista. oram poucos #o$os contra eles em que não fi( $ol.
' ódio contra o Municipal era especial, claro. Mas /lcindo revelouse um matador implacável contra
qualquer outro adversário do tricolor. Te#a o quão elucidativo, edificante e construtivo é esse outro
depoimento do !ucro bu$re para o mesmo cronistaC / $ente ia #o$ar em 3asso undo e era uma $uerra. Aa
-o$ar em 3elotas e lá também estava cheio de bandidos. Se eu me virasse para dominar a bola, eles me
arrancavam o pulmão, a cabe"a. %les me amea"avam demais. Pinham or$ulho de bater, nem queriam #o$ar.
' fulano é quem dá mais pontapé, e aquilo era como uma medalha para eles.
2ontinue escutando /lcindo, cu#a vo( ecoa a própria essência do o!tai!o, o verdadeiro futebolC
%u estava come"ando, tinha só 9: anos, e eles falavamC 'lha, $uri, a primeira bola que tu pe$ares, eu vou
quebrar a tua perna, vou quebrar os teus dentes. %u ficava quieto. @a primeira que recebia, eu che$ava pra
matar, dando soco neles. Sabia que ia apanhar o #o$o inteiro depois. 'lha, $uri, tu quebraste meus dentes,
di(ia um. @ão, eu apenas me defendi. \uem me amea"ou foi tu. %ntão tu foste entrar e eu fui me defender.
Aas me dar um soco na cara e eu, pra me defender, quebrei teus dentes. %ra o ar$umento que eu usava. Se
tu me amea"aste é porque tu vais cumprir. %ntão, eu vou te dar uma porrada bem forte de in*cio para
depois a $ente come"ar o papo. /h, bons tempos aqueles, quando nem o cartão amarelo havia sido
inventado.
/lcindo quebrou muitos dentes, marcou muitos $ois e deu ao &rémio muitos t*tulos. oi tri em ?I,
tetra em ?;, penta em ??, he!a em ?H e hepta em ?<. % ele come"ou a ser hepta no dia G de #unho de 9:?<,
quando, aos 9= tenros anos de idade, fui ao 'l*mpico assistir meu primeiro &repal. oi só I ! o, e /lcindo
marcou apenas dois. 5ois anos antes, também marcara dois  só que da* contra um adversário de verdade
e um $oleiro idem.
%m fevereiro de 9:??, no 'l*mpico, o &rémio tocou G ! o na sele"ão russa 0 e o $oleiro era 8ashin,
uma espécie de 4ara soviético. 3or causa de sua atua"ão neste #o$o, /lcindo foi convocado para a sele"ão
 brasiliense em uma das melhores 2opas da história, a de 9:??, na An$laterra. Mas acho que ele preferiria
ter #o$ado pelo time da casa, uma sele"ão de verdadeQ aliás, uma das mais verdadeiras sele"Jes da história,
 perdendo apenas para a do Eru$uai de 9:;=. %m 9:H>, /lcindo foi embora do &rémio, mas voltou em HH, o
ano da reconquista, para ser campeão ao lado de /ndré.
 

)em, ao contrário de /lcindo, 4upic*nio 7odri$ues nunca nutriu rancor e nem sequer despre(o pelo
S. 2. Municipal. 3or isso, seria in#usto encerrar essa pequena história musical do &rémio sem revelar que
4upi, o $énio $eneroso, compDs pelo menos duas can"Jes em homena$em ao rival citadinoC afinal, para quem
mais poderia ele ter escrito os clássicos 5obres /o(os e Cadeira KaziaX

3nternacional é isso a$: De 4e>n +com a ta7a, 5*ina +a(ra7ado nele e Tarciso +ao )undo )este-am a conquista do mundo na capa da re%ista World
Soccer, de )e%ereiro de 1BPQ

1! O @RA'34, A AMR35A E O MUNDO

\uatro anos depois do encontro com /ndré no vestiário do 'l*mpico, lá estava &ilberto &il de
volta ao vestiário do &rémio, só que, dessa ve(, a cena rolou no salão de festas do Morumbi, em São
3aulo, onde o &rémio acabara de conquistar seu primeiro campeonato brasileiro, vencendo o São
3aulo, dono da casa, por i a o, $ol de )alta(ar, o artilheiro de 5eus e substituto de /ndré. Sim, &ilberto
&il, aquele do pé quente e da cabe"a feita, de novo no vestiário, celebrando mais uma conquista tricolor.
-ustamente por não ser brasiliense 0 e muito menos brasileiro 0, o &rémio demorou vários anos
 

 para disputar campeonatos acima do rio Mampituba, ali no pa*s vi(inho. ' primeiro no qual entrou foi a tal
Pa"a )rasil, institu*da em 9:;: por uma certa 2)5. Ampressionante o nBmero de ve(es que roubaram
o imortal tricolor nesse torneio menor. \uando se iniciou o 7oberto &omes 3edrosa, o popular 7obertão,
em 9:?H, o &rémio, quarto colocado na edi"ão inau$ural da competi"ão, continuou sendo $arfado. %m
9:H9, quando o 7obertão virou campeonato nacional Lnacional de quem, carapálidaN, o &rémio, por 
al$uma estranha compulsão, aceitou entrar na disputa. 2ara, como esse time foi roubado+
4embro de uma ocasião em especialC foi em 9:H9 mesmo, no dia ; de de(embro, conforme meus
alfarrábios. ' #o$o era contra o )otafo$o, no Maracanã, válido pelas semifinais. ' #ui( era,
simultaneamente, um *cone de masculinidade e um ep*teto de lisura
e decência. 2hamavase /rmando Marques. Sim, aquele mesmo que, anos depois, foi fla$rado mandando um
 #ui( alterar a sBmula e que, ainda assim, no momento em que me esfalfo para tascar um ponto final neste
livro, se$ue intocado no poder, como chefe da 2omissão de /rbitra$em da impoluta 2)7 
/rmando Marques, esse 3aulo Maluf do apito. /liás, viu o filme que os dois estrelaram #untosN %u,
7obD, uma obraprima. 3ois sabe o que /rmandinho fe( naquele fat*dico dia de de(embro de 9:H9N /nulou
dois $ois le$*timos do &rémio e validou dois em impedimento do )otafo$o. ' #o$o, que deveria ser 
> ! 9 para o &rémio, foi > ! i para o )otafo$o+ % o &rémio terminou aquele @acional em quarto lu$ar.
)om, mas o assunto não é este. % me irritei só de lembrar do episódio espBrio e constatar que a
 gazela, ainda respira. 3assemos, portanto, ao que interessaC o )rasileiro de 9:<9. 5epois de reconstruir seu
ma$n*fico estádio e reconquistar a he$emonia do futebol $aBcho, o &rémio entrou na década de 9:<= cheio
de ener$ia e ful$or. %m campo, tinha um time sólido e determinado e, no banco, um treinador brilhanteC
nio /ndrade, o 2abe"a, um dos mais ardilosos da história do futebol brasileiro, multicampeão pelos
vários times que diri$iu, e que só não entrou na minha lista de favoritos porque não era um retranqueiro
convicto.
' time que ele montou aliava a e!periência de #o$adores como o $oleiro tricampeão mundial 4eão, o
caudilho uru$uaio 5e 4eón e o ponteiro Parciso à voluptuosidade do meiocampo 3aulo Asidoro Ltrocado
 pelo craque Uder naquele ano e à #uventude de pratas da casa Lcomo o lateral 3aulo 7oberto e o ponta
'dair. %ntão, formávamos assimC 4eão, 3aulo 7oberto, @eRmar, 5e 4eón e 2asemiroQ 2hina, 3aulo
Asidoro e Tilson PadeiQ Parciso, )alta(ar e
 
 

O 5a(e7a: o #rande Snio Andrade, comandando o Grémio campeo do @rasil de 1BP1! 'eu nico de)eito er a no s er retranqueiro

'dair L7enato Sá. 3ara mim, é o que basta.


5epois de uma campanha apenas ra(oável 0 beirando o med*ocre, para tornar a conquista mais
t*pica e saborosa , o &rémio precisava vencer sete #o$os para che$ar à final. %ra hora de reacender 
= velho esp*rito da inconformidade e o tricolor foi derrubando, um a um, seus obstáculos. @a fase decisiva,
restaram dois paulistas, que feli(mente não eram de Sorocaba L3onte 3reta e São 3aulo, o )otafo$o
e o &rémio. 'u se#a, uma barbada.
2om uma atua"ão e!uberante em 2ampinas, o &rémio carimbou o passaporte para a final
vencendo por >!G. %m 3orto /le$re, #o$ando pelo resultado, como de costume, o time perdeu por 9 ! o
e $arantiu a va$a. 2oisa boa feste#ar a classifica"ão com uma derrota+ /inda mais que, naquele #o$o, o
'l*mpico recebeu o pBblico recorde de sua história Lmais de <o mil pessoas. -á o São 3aulo, conse$uiu
uma virada consa$radora sobre o )otafo$o, em casa, e che$ou à final certo de que venceria o &rémio, um
time menor, pois tinha sete #o$adores na sele"ão brasiliense e se #ul$ava invenc*vel no Morumbi. 3ena que
teria que #o$ar duas ve(es contra um tricolor que não tem vermelho na camisa.

 @a primeira partida, no dia >= de abril de 9:<9, uma vitória dramática no 'l*mpico, G ! i de virada,
com shoR e dois $ois de 3aulo Asidoro. '  #o$o foi intenso e movimentado desde o in*cio. /inda no
 primeiro tempo, houve um pênalti a favor do &rémio  tão $ritante que o #ui( marcou. \uem não marcou

Mais uma máquina tricolor: a$ está o )a(uloso esquadro de 1BP1, no parque de di%ersJes do Morum(i, prestes a )a=er com que o @rasil en)im se
cur%asse ante o %erdadeiro )ute(ol

foi )alta(ar. % o pior é que, lo$o em se$uida, o São 3aulo fe( i ! o. /o final da primeira etapa, )alta(ar disseC
5eus deve estar reservando al$o melhor para mim. @o se$undo tempo, 5eus continuou na reserva,
quieto em seu canto, pelo menos com rela"ão a )alta(ar. Mas, para del*rio da massa verdadeiramente
tricolor, 3aulo Asidoro meteu dois  e seus $ois de
O

fato pareceram obra do %sp*rito Santo.


%ntão, no domin$o se$uinte, em São 3aulo, no dia > de maio, diante de um pBblico de :> mil
 

 pessoas, houve arro$ância, pressão, prepotência e tentativa de roubo Laos sete minutos de #o$o, -osé
7oberto 1ri$ht marcou tiro livre indireto dentro da área do &rémio porque o $oleiro 4eão estaria
retardando a devolu"ão da  bolaQ retardado era o #ui(. Kouve também a$ressão e covardia Lo
centroavante Ser$inho 2hulapa chutou a cabe"a de 4eão quando ele estava ca*do. Mas, sobretudo, por 
um baita a(ar dos sãopaulinos, houve )alta(ar Maria de Moraes -r. e sua consp*cua li$a"ão com 5eus.
%ram 9: minutos do se$undo tempo, quando 3aulo Asidoro iniciou contraataque pela direita, livrou
se de um adversário e tocou para 3aulo 7oberto. ' lateral cru(ou da intermediária e 7enato Sá Lque
entrara no lu$ar de 'dair, lesionado aparou a bola de cabe"a, escorando no alto para )alta(ar. 3arado ali
na meialua da $rande área, o artilheiro de 5eus, um dos pioneiros dos /tletas de 2risto, não esperou a
redonda bater no solo. 5ominou no peito, matando a bola bem em cima da medalhinha de @ossa Senhora,
respirou fundo, mirou no canto e desferiu um chute potente.

5as silenciosas e apreensivas arquibancadas lotadas do Morumbi deu para ouvir o (unido da
 pelotaC (uuuum+ % lá foi ela, via#ando, via#ando, muito velo( e, ainda assim, aparentemente, em câmera
lenta. Ema bola forte, alta, decidida  e indefensável. / redonda foi se aninhar no canto superior esquerdo
de Taldir 3eres. )em no ân$ulo+ &ol do &rémio+ &ol do primeiro t*tulo brasiliense. %ra o tricolor 
faturando a Pa"a de 'uro e fa(endo do Morumbi seu novo parque de diversJes no centro do pa*s, porque
aquela coisa de $anhar só no Maracanã estava ficando chata.

%m meio àquele redemoinho de celebra"ão, al*vio e ale$ria que era o vestiário do &rémio após a partida, eis
que adentra, de cal"a a(ul, sandálias de plástico e estrelas brancas pintadas no cabelo, o $rande, o belo
&ilberto &il. 3ara os repórteres, o poeta declara em alto e bom somC Sou $remista há muito tempo. 3or isso,
vim dar um abra"o nos #o$adores pela conquista da Pa"a de 'uro. / partida foi o maior barato. ' &rémio
mereceu a vitória porque #o$ou com muito mais realce. &il, nós te amamos+

%ntão, $ra"as àquele t*tulo, o &rémio che$ou à sua primeira 4ibertadores da /mérica. Em torneio
matamata, especialidade do &rémio, cu#o ne$ócio sempre foi matar. Ema copa, e nin$uém duvida que o
&rémio é o time mais copeiro do )rasil. 'ps, ato falhoC o &rémio não é brasileiro, nem brasiliense, você #á está
cansando de saber.
3or falar nisso, é inacreditável que os times brasileiros ousem disputar a 4ibertadores. %les #amais
deveriam ter sido convidados para participar do torneio, mas #á que o foram, é preciso eliminálos
sumariamente, e ho#e mesmo. Sério+ Mas não se trata de e!clusivismo, mal*cia ou preconceitoC trata
se, apenas e tãosomente, de uma questão histórica.
Se não, ve#amos. 3or que, afinal, sur$iu a 4ibertadores da /méricaN ' próprio nome #á o di(, 3edro
)óC sur$iu para homena$ear os... libertadores da /mérica. 'usados caudilhos que lutaram pela
independência das colónias sulamericanasC $ente com san$ue nas veias e ideias na cabe"aQ pés nos estribos
e armas nas mãos. 4*deres populares cheios de carisma que eram cavaleiros indómitos e $uerreiros
auda(es, acostumados a amarrar cavalos nos obeliscos dos outros. &ente como Simón )ol*var, o maior de
todos, mas também /rti$as, San Martin, )el$rano, 'ribe, 7osas, 4ope(. %m uma palavraC homens, se é que
você entende o que isso si$nifica.
% quem foi o libertador do )rasilN oi um pr*ncipe portu$uês, e ainda por cima filho do rei de 3ortu$al.
Em mulheren$o que, ao bradar independência ou morte, estava se borrando  literalmente, #á que o pobre 5.
3edro A, você sabe, estava com uma tremenda ca$aneira quando se viu for"ado a romper os la"os da colónia
com a metrópole. 2olónia que ele declarou separada de 3ortu$al, mas que manteve como uma monarquia, e
 

ainda por cima uma monarquia escravocrata+


 @ão houve $uerra de independência no )rasilC houve apenas um acordo tácito de um continu*smo
constran$edor. %, como não bastasse, a tal independência, proclamada em H de setembro de 9<GG, veio com
quase uma década de atraso com rela"ão às da /r$entina, do 3ara$uai, da Tene(uela, do 2hile e da 2olDmbia,
na"Jes que, tão lo$o se libertaram da %spanha, tornaramse repBblicas e aboliram a escravidão. /ssim
sendo, que história é essa de os times brasilienses se al"arem à disputa de um torneio cu#o propósito é
homena$ear heróis que eles nunca tiveramN
%m meados da década de 9:<=, um #ornal de São 3aulo fe( uma pesquisa entre os torcedores
 paulistas. Sabe o que a maioria declarouN \ue preferia ver seu time ser campeão estadual do que
campeão da /mérica. ' recorte ainda está aqui nos meus arquivos implacáveis, pois sabia que al$um dia
esse papel amarelado ia me servir para al$uma coisa. 5e in*cio, achei apenas patético. Mais tarde, e mais
maduro, compreendi que os votantes estavam cobertos de ra(ãoC paulistas, mineiros, cariocas, baianos 0 
 brasilienses em $eral 0 não têm nada a ver com um torneio libertário como... a 4ibertadores. %les têm é que
se concentrar nas suas disputas re$ionais.

/lém do mais, a 4ibertadores foi feita para times que #o$am futebol de verdade, flertando com o o!tai!o.
Pratase de um torneio que nasceu para premiar aquelas equipes que não só não fo$em do pau como sabem que
a melhor defesa é bater antes e melhor, como o $rande /lando fa(ia  e que esta é a melhor forma de ataque
também. Pimes cu#os *dolos são $randes $oleiros, volantes de conten"ão, (a$ueiros machos e matadores de
alu$uel. % que não têm nin$uém #o$ando na meiacancha, dando passe(inhos para o lado ou aplicando, em
si mesmos, o famoso drible da vaca Lque vai para o bre#o.

7epresentando a 7epBblica do 3iratini  vamos dei!ar o Eru$uai em pa( e esquecer a velha


3rov*ncia 2isplatina 0, o &rémio #o$ou nada menos do que on(e 4ibertadores. &anhou duas e, como no
caso das 2opas do Mundo que disputou metaforicamente Lenver$ando as cores do Eru$uai, da /lemanha
e da An$laterra, foi roubado ou in#usti"ado nas outras.
/ primeira 4ibertadores do imortal tricolor rolou em 9:<G e o time, um tanto ine!periente, acabou
eliminado pelo 3enharol, do Lpelo menos isso Eru$uai, o pa*sirmão. 3ortanto, essa 4ibertadores espec*fica
não nos interessa. 3assemos lo$o para a se$unda. oi assimC campeão do Lvá lá... )rasil, em 9:<9, o
&rémio entrou com tudo no @acional de 9:<G. %mbora tenha sido escandalosamente roubado na final,
conquistou o que lhe interessavaC a va$a para a 4ibertadores de 9:<>.
Sim, em 9:<G, o &rémio foi vicecampeão porque perdeu para 'scar Scolfaro. / final do campeonato
foi disputada contra... o lamen$o, ve#a só. ' primeiro #o$o foi no Maracanã, e o time de ico, o pinto de
\uintino 0 aquele que em sua autobio$rafia disse que a ifa trocou o velho e bom balão de couro pelas atuais
 bolas brancas com o ob#etivo de pre#udicar a habilidade dos #o$adores brasileiros, ora, fa"ame o favor+ 0,
atacou o tempo inteiro. 2omo se esqueceu de se defender, tomou um de contraataque, aos G< do se$undo tempo.
Em $ol de Ponho, ainda por cima. / dois minutos do fim, o tal ico empatou.
's deuses do futebol enfim fi(eram #usti"a, $ritou o narrador da PT brasiliense. Se uma equipe
retranqueira como o &rémio sa*sse do Maracanã com a vitória, estar*amos diante de uma das maiores
in#usti"as da história. ' cara falou isso, meu+ %u ouvi, nin$uém me contou. Tá nos arquivos da &lobo e
confira se não é verdade. % isso em de(embro de 9:<G, cinco meses depois de a Atália ter feito o servi"o
naquela ensolarada tarde em Sarriá, tirando um sarro e mostrando ao mundo como funciona o mundo do
futebol.
' se$undo #o$o foi em 3orto /le$re, e o &rémio massacrou. @a retranca, e com medo, quem ficou foi o
lamen$o. ' #o$o terminou com o placar em branco, mas como os cariocas se disciplinaram a ponto de
 

 #o$arem no esquema :9, o &rémio nem reclamou. oi marcado, então, um #o$oe!tra. % o &rémio
trucidou de novo. Mas descuidouse e levou um no contra$olpe. a( parte do #o$o e, outra ve(, o &rémio
não reclamaria. Mas depois que /ndrade tirou uma bola com a mão de dentro do $ol e Scolfaro, o #ui(
(arolho, fe( de conta que não viu, a* não deu mais para ficar calado. 5e novo, ve#a na PT e me di$a se estou
inventando.
Mas, tudo bem, não importa. ' &rémio nunca teve muito interesse no campeonato brasileiro mesmo.
' que conta é que o time voltou à 4ibertadores, entre seus semelhantes. 'u se#aC viuse envolvido em
 #o$os que mais pareciam batalhas campais, contra adversários fero(es e indómitos, babando, #o$ando e
 batendo muito, em estádios minBsculos, na altitude de 4a 3a(, na umidade pachorrenta da ama(Dnia
colombiana ou no chaco pantanoso 0 sem antidopin$ e com #ui(es larápios.
/ fase inicial foi mole(aC o adversário, afinal, era o lamen$o, velho sambista e velho fre$uês. 2omo, dessa
ve(, os #ui(es não o a#udaram, o rubrone$ro chapa branca perdeu em 3orto /le$re e levou um baile no
Maracanã Li ! >. 5epois, o &rémio eliminou o )ol*var e o )loomin$, respectivamente campeão e vice da
)ol*via, vencendo os quatro confrontos, dois em casa e dois fora. %ntão, vieram as semifinais e as coisas
ficaram sérias, pois era um trian$ular envolvendo o /mérica de 2áli e o %studiantes de 4a 3lata.
/ disputa contra o /mérica, no 'l*mpico, teve #ornada heróica do $oleiro Ma(aropi, como #á foi dito
no cap*tulo ;. @a tarde nublada do dia ; de #ulho, só a vitória interessava ao &rémio, que fora derrotado
em 2áli por i ! o. 2om $ois de 'svaldo e 2aio contra um de )ata$lia, tudo parecia encaminhado até que o
 #ui( Kernan Silva apontou a marca do pênalti, aos >< do se$undo tempo. / torcida emudeceu. ' treinador 
Taldir %spinosa virouse de costas para o campo. Mas Ma(aropi fitou o batedor 'rti( nos olhos, adivinhou
o canto, defendeu o chute forte e $arantiu = G ! 9 que eliminou os colombianos da disputa.
' confronto se$uinte, marcado para a $élida noite de < de #ulho, em terras ar$entinas, teve contornos de
$uerra aberta e foi recheado de fatores e!tracampo. Pudo come"ou na tarde daquele mesmo dia, quando um
avião in$lês pousou para abastecer na base aérea de 2anoas, a capital do mundo de elipão. /r$entina e
An$laterra, que normalmente #á não vão muito com a cara uma da outra Lmas quem é que vai com a cara da
/r$entinaN, estavam em $uerra pelas ilhas alVlands Lque há quem chame de Malvinas. -ul$ando que o
&rémio fosse um time brasiliense, os ar$entinos decidiram considerar os tricolores como traidores de sua
 pátria. 3or conta disso, trataram o #o$o entre %studiantes e &rémio como uma luta pela honra e pela vida 0 
como se, normalmente, #o$ar em 4a 3lata #á não fosse filme de terror.
Ema vitória lá colocaria o tricolor na final da 4ibertadores, pois o &rémio havia vencido o %studiantes
no 'l*mpico. / questão é que o #o$o nem havia come"ado e o atacante 2aio #á estava sendo a$redido na
escada de acesso ao vestiário. 5epois, com a bola ainda  parada no centro, Parciso tomou um bico na
canela do ponta adversário. ' #ui( viu e e!pulsou o fac*nora. Asso tudo antes do apito inicial. 5o!tai!o é
isso a*, compadre. @o intervalo, o bandeirinha 7amón )arreto também apanhou. / pol*cia ar$entina, de
costas para o mundo e com o olhar voltado para as Malvinas, i$norou solenemente os fatos, e o #ui(
uru$uaio 4ui( de Aa 7osa disse, mais tarde, que temeu pela própria vida.
Mas ainda não acabou. ora do campo Lna real, quase dentro dele, 9; mil fanáticos torcedores
cuspiam e #o$avam de tudo no $ramado e no banco de reservas tricolorC de pilhas a cadeiras, de sapatos a
$uardachuvas. ' au$e do requinte era um en$olidor de fo$os que ficava atrás de um dos $ois, mas é preciso
não esquecer das taquaras que os torcedores enfiavam pelos basculantes do vestiário improvisado,
cutucando os #o$adores do &rémio. Ká quem #ure que um recémnascido foi atirado em campo e quase
atin$iu um dos atletas tricolores, mas parece que há certo e!a$ero nisso.
' fato é que, além de bom de pau, o &rémio é bom de bola. Mesmo com 9= #o$adores em campo, o
%studiantes sa*ra na frente aos >< do primeiro tempo, mas o &rémio empatou aos II, com um $ola"o de
'svaldo, e o adversário ficou com nove lo$o em se$uida. @o come"o do se$undo tempo, mais dois
 

celerados foram e!pulsos Lsa*ram se debatendo em camisasdefor"a, di(em e o &rémio marcou dois
$oisC 2ésar, aos H, e 7enato, aos 9< minutos. /ssim, apesar dos dois $raus ne$ativos e da violência insana do
adversário, o tricolor vencia por > ! i e a va$a para a final parecia asse$urada.
' problema é que ainda faltava meia hora para o #o$o acabar e, apesar de estar com apenas sete
 #o$adores em campo, o %studiantes, sua torcida, seus diri$entes e, de certo modo, a /r$entina inteira
convenceram o #ui( e o &rémio de que seria preciso pa$ar por aquela

2assando por cima do 2en*arol: o %oluptuoso Renato dei0a para trás seu marcador +acima enquanto Tit +a(ai0o marca de ca(e7a o #ol do Grémio
no 5entenário, no empate em 101 

vitória com a vida. ' treinador Taldir %spinosa contou que ele e o time se viram diante da se$uinte op"ãoC
ceder o empate ou morrer em 4a 3lata. ' &rémio optou pela vida e dei!ou o %studiantes marcar dois $ois
Laos >9 e aos IG minutos do se$undo tempo. Mas $anhou sobrevida uma semana mais tarde, quando,
mesmo fora da disputa e com 9= #o$adores desde os 9< do primeiro tempo, o valoroso /mérica de 2áli
se$urou um empate sem $ois contra o ensandecido %studiantes e colocou o &rémio na final, contra o
3enharol.

/quela final*ssima oferecia ao &rémio não só a possibilidade de desfrutar o doce sabor da vin$an"a
Lrevidando a elimina"ão de 9:<G, como a oportunidade de retribuir um favor ao coirmão oriental, o
 

$rande @acional de Montevidéu Linimi$o de morte do tal 3enharol, pois em 9:<= o tricolor uru$uaio
$anhara a final da 4ibertadores batendo o S. 2. Municipal, na Bnica ve( em que o time da beirala$o
che$ou tão lon$e na vida.
/ primeira partida da final da 4ibertadores foi #o$ada em Montevidéu, no dia G= de #ulho. 5o
2entenário lotado  e ululante, apesar da temperatura $lacial , o &rémio saiu com um e!celente e heróico
empate em i ! i, levando a decisão para o 'l*mpico Monumental. /os i<min, Pitã fi(era, de cabe"a, o
$ol dos $aBchos, mas ernando Morena, lenda da 2eleste, empatou quando faltavam apenas três minutos
 para o fim do #o$o. ' 3enharol, é bom lembrar, era o atual campeão do mundo.

Mas o &rémio, além d e s er o &rémio, tin ha um 3oleir o intranspon*vel com nome de comediante,
Ma(aropi, tinha a #uventude de 3aulo 7oberto e o vi$or de )aideV, um (a$ueiro $rosso e duroQ tinha a seriedade
e a aplica"ão comoventes de 2asemiro e de 2hinaQ tinha o pulmão de Parciso, tinha a técnica refinada
Lmas máscula dos

articuladores Pitã e 'svaldoQ tinha o oportunismo letal de 2aio e de 2ésar, tinha a lideran"a vibrante e
san$u*nea do capitão Ku$o de 4eón. Mas, acima de tudo, tinha a $enialidade de um $aBcho nascido na Serra,
com pinta de 7ichard &ere, fibra de Stanle6 MattheRs e irresponsabilidade de &arrinchaC o ini$ualável
7enato 3ortaluppi.
/té 7enato fa(er mila$re, tudo parecia sob controle para o 3enharol naquele memorável #o$o do dia
G< de #ulho de 9:<> em 3orto /le$re. %ram >imin;>s de um se$undo tempo a$uerrido e animicamente
favorável aos uru$uaios. ' empate em i ! i L$ois de 2aio, aos 99 do primeiro tempo, e, de novo, de Morena,
no in*cio do se$undo for"aria um partida final e!tra, em )uenos /ires. /os >Gmin, porém, o $oleiro
ernande( é um homem abatido cumprindo o pior ato de um $uardavalasC recolher a bola aninhada nas
 próprias redes, a$arrála firme com um sentimento de trai"ão e mandála de volta para o meio do campo.
/ coisa toda se passou em sete má$icos se$undosC aos >imin;>s, 7enato está encurralado #unto à
linha lateral. Pem a bola e a bandeirinha de escanteio à sua frente e dois cães de ca"a vestidos de amarelo e
 preto rosnando em sua colaQ aos >imin;Is, o ponteiro encosta o bico da chuteira na bola e lembra de sua
obstina"ão desde os tempos em que era padeiro em )ento &on"alvesQ aos >imin;;s, quase de costas para o
campo e de frente para a torcida, 7enato sente uma lu( divina percorrendo suas pernas e levanta a bola
 para si mesmo, desafiando o espa"o e a lei da $ravidadeQ aos >imin;?s, com a precisão $eométrica de um
arquiteto, ele conse$ue cru(ar de pu!eta uma bola imposs*vel para a área do 3enharolQ aos >imin;6s,
ernande( ainda não se deu conta do lance de $énio.
/ quase quarenta metros dali, o centroavante 2ésar arranca leivas da $rama e move seus mBsculos
em dire"ão ao nirvanaQ aos  >imin;<s, ernande( percebe que a bola vem na dire"ão da área. 3ressente que
é tarde para esbo"ar a defesa, mas tenta movimentar cada nervo de seu corpo. %m vão, pois, aos >imin;:s, a
 bola #á está a mil*metros da cabe"a de 2ésar. ' atacante arre$ala os olhos, se #o$a no espa"o como um
astronauta, desafiando a f*sica, a ló$ica, a métrica, a retórica, a $ramática, e encontra a pelota à fei"ão,
impulsionandoa, de pei!inho, para as redes. %le nem vê ela entrar. /o levantarse da $rama molhada,
cora"ão disparado, sorriso nos lábios, arrepio em toda a pele, #á está escutando o estrondo do tamanho da
/mérica que toma conta do 'l*mpico. /ve, 2ésar+
 @a noite luminosa de G< de #ulho de 9:<>, o &rémio conquistou a 4ibertadores pela primeira ve(
e sua torcida encheu os pulmJes para cantar, num transe reli$ioso, o hino daquele anoC &rémio, &rémio,
nós somos campeJes da /mérica. %ra a plena confirma"ão do destino $lorioso do time nascido <o anos
 

antes, na )ai!ada, em torno de uma bola curtida em Sorocaba.

2laro que 7enato 0 bem como Pitã, Ma(aropi e 'svaldo 0 foi um dos s*mbolos daquela conquista.
Mas a autêntica cara da primeira 4ibertadores do &rémio era barbuda, séria e an$ulosa 0 e estava
recoberta de san$ue. %ra o rosto de um caudilho, a face de um $enu*no libertador da /mérica. %ra, é claro, a
cara do (a$ueiro uru$uaio Ku$o de 4eón, um homem capa( de san$rar por seu time, um $uerreiro
embebido em supera"ão, suor e ra"a.

5e 4eón che$ara ao 'l*mpico em #aneiro de 9:<9. -á contratado pelo time $aBcho, tinha sido o l*der da 2eleste
uru$uaia que derrotara o )rasil no Mundialito, disputado no Eru$uai. ' )rasil estava cheio de craques, mas não
tinha a mesma determina"ão que nós. /$ora, deuse o mesmo, dissera ele, após a vitória contra o São 3aulo no

' libertador da /méricaC Simón )ol*var, um herói de verdade. %le não é a cara de Ku$o de 4eónN

Morumbi, em maio de 9:<9, apenas quatro meses após ter che$ado ao &rémio, naquela que, à época, foi a maior
transa"ão da história do futebol brasileiro.
Sim, o &rémio pa$ou I= milhJes de cru(eiros para ter o capitão que o levou a suas maiores $lórias.
Taleu cada centavo, pois decisão era com ele mesmo. 5e 4eón #á tinha conquistado a 4ibertadores em 9:<=,
 pelo @acional de Montevidéu, #ustamente contra o rival citadino do &rémio. -á tinha sido campeão do
mundo no mesmo ano, em Póquio. 2om ele na (a$a, o &rémio foi campeão do )rasil, da /mérica e do
mundo. Asso, $ra"as a atitudes como a que ele teve quando Morena marcou o $ol de empate no 'l*mpico.
Ancorporando o esp*rito de 'bdBlio Tarela, ogran $aitMn, de 4eón pe$ou a bola nas redes, diri$iuse ao meio
do campo e $ritou para o timeC /vante+ Só a vitória interessa.
% então, no pódio, após o #o$o, coube ao caudilho nascido em 7ivera e inimi$o mortal do 3enharol a
honra de er$uer o trofeu da
 

2onquistador da /méricaC o $rande 5e 4éon er$ue a 4ibertadores no 'l*mpico, no dia em que o continente tin$iuse de a(ul. 5o(e anos depois, /dilson repetiria o $esto, na
2olDmbia

San$ue e suorC o caudilho de 7ivera dei!a o $ramado do 'l*mpico, com a 4ibertadores debai!o do bra"o, e san$ue a(ul escorrendolhe pela face s empre risonha e amistos a

vitória. Sua foto com a ta"a da 4ibertadores na cabe"a e o san$ue escorrendo pelo rosto é um emblema, um
s*mbolo, uma metáfora, uma revela"ão. ' retrato da $arra de um &rémio maior que a vida.
5ois dias após a vitória, 5e 4eón cumpriu a promessa e raspou a barba em nome da conquista da
/mérica nos G== anos de Simón )ol*var. %ntão, ao final da cerimónia, na qual 2hina fe( as ve(es de
 barbeiro, o caudilho declarouC /$ora, vou aprender a comer com pau(inhos e a di(er $ol em #aponês, pois
nós vamos ser campeJes do mundo no -apão.

Sim, porque dois dias depois de fa(er a /mérica, o &rémio come"ou a se preparar para conquistar o
mundo e amarrar seu cavalo Le sua Po6ota I ! I no obelisco de Póquio  se é que há obeliscos em Póquio.
3ara $anhar o  #o$o mais importante de sua história centenária, o imortal tricolor reservou todo o
se$undo semestre de 9:<>, defla$rando a 'pera"ão Póquio, que come"ou com as idas do treinador 
%spinosa e do preparador f*sico Athon rit(en para a %uropa, onde eles foram estudar o Kambur$o, que
derrotara a fort*ssima -uventus de Purim na final europeia e seria o adversário do &rémio no -apão. /
estraté$ia teve continuidade com as contrata"Jes dos craques Mário Sér$io e 3aulo 2ésar 2a#u e com a decisão
de poupar os titulares dos #o$os no interior do %stado pelo campeonato $aBcho.
%ntão, che$ou o 99 de de(embro de 9:<>, o dia em que a Perra parou. @aquela tarde, o %stádio
 

'l*mpico de Póquio estava lotado de ?o mil curiosos torcedoresC os  primeiros $remistas #aponeses da
história. %m campo, o &rémio oot)all 3orto/le$rense, campeão da /mérica, e o Kambur$o Sport
Terein, campeão da %uropa, decidiriam quem seria o dono do planeta bola. 's alemães, treinados

'o todos -aponeses: o nico time %erdadeiramente internacional da Rep(lica do 2iratini é aclamado em T>quio! O técnico 9aldir Espinosa dá
aut>#ra)os para seus )s de ol*os pu0ados

 pelo holandês %rnst Kappel, tinham sido advertidos de que os #o$adores do &rémio eram trai"oeiros. %
Kappel, que nada mais sabia 0 nem quisera saber 0 sobre o adversário, entrou no estádio cheio de si, de
salto alto, e recusouse a cumprimentar Taldir %spinosa.
5e camiseta tricolor, cal"Jes brancos e meias a(uis  um uniforme lindo, embora menos bla$Pblue
que o habitual , o &rémio administrou bem toda a partida. @a defesa, a muralha uru$uaia 5e 4eónQ no
centro do campo, um craque no mane#o da pelota e na distribui"ão de  #o$o, Mário Sér$ioQ ao seu lado,
atraindo a marca"ão dos adversários, um tricampeão mundial, 3aulo 2ésar 2a#uQ na frente, 7enato, que faria
da camisa H tricolor um s*mbolo imortal.
/os >min do primeiro tempo, 7enato dribla uma, duas, três ve(es o alemão SchrJeder. \uando o
atónito (a$ueiro prepara o bote
 

' dia em que a Perra parouC 7enato, e!padeiro, fa( a d efesa do Kambur$o comer o pão que o diabo amassou e inicia a #o$ada do $ol que daria ao &rémio o maior t*tulo de sua
história] utebol é bola na redeC o $oleiro está ca*do, o (a$ueiro está atónito, a pelota #á estufou os cordéis da cidadela hambur$uesa e 7enato virou herói. ' Kambur$o vestia
vermelho

 que seria certeiro, 7enato dispara um petardo direto para as redes alemãs, i ! o para o &rémio. Mas, aos
I9min do se$undo tempo, impJese a má!ima alemãC lutar até o apito final. %ntão, com 2hina #o$ando no
sacrif*cio e 7enato com câimbras fora de campo, o determinado Kambur$o empata o #o$o. ' $ol foi do
vin$ativo SchrJeder, que havia sido humilhado pelos dribles de 7enato e, talve( emhonra a MohrdiecV 0 o
(a$ueirão que, antes de #o$ar pelo &rémio, #o$ara no Kambur$o , foi lá e i$ualou o escore. Meio chato, mas
di$no e heróico.
%ntão, veio a prorro$a"ão. % com ela o nervosismo e a apreensão. /final, o adversário não era brasilienseC
era $ermânico. % eles não desistem antes do fim, nem feste#am antes da hora. Mas, quem mandou o
Kambur$o tra#ar vermelho, a cor dos insetos esma$adosN %, #usto para o desespero rubro, o &rémio tinha
7enato. /ssim, três minutos após o #o$o recome"ar, a bola che$a outra ve( na área alemã. SchrJeder leva o
 primeiro corte, mas o truque não é novo e ele #á sabe o que fa(er para brecar o se$undo. Só que 7enato,
trai"oeiro e letal, não espera. )ate cru(ado, de esquerda. &ol do &rémio+ &ol do &rémio+ &oooooooool do
&rémio+ &rémio, campeão mundial. / Perra, além de a(ul, a$ora também é preta e branca.
 

3ara ser campeão do mundo, além da $enialidade insidiosa de Mário Sér$io e da matreirice insinuante
de 2a#u, o &rémio teve em Póquio o caudilho 5e 4eón, que outra ve( carre$ou a ta"a, a se$uran"a de
Ma(aropi, a mocidade de 3aulo 7oberto, )aideV, 3aulo 2ésar Ma$alhães e 2hina, e as estocadas de 'svaldo,
3aulo )onami$o, Parciso e 2aio. Mas, acima de tudo, o &rémio teve 7enato.

Sim, 7enato 3ortaluppi se tornou herói e imortal com apenas G9 anos. oram seus pés que constru*ram
a epopeia de Póquio. @ão havia muito tempo, suas mãos fa(iam pães que alimentavam a cidade de )ento
&on"alves. %!padeiro, 7enato transformouse no pão que o diabo amassou para a defesa do Kambur$o.
7enato, o maluco $enial, imortali(ou a cabal*stica camisa H que #á fora de equinha, de lecha, de Parciso,
de )abá, de 2lor6, de 4umumba, e que depois vestiu 3aulo @unes, o diabo loiro da /(enha.
orte, vi$oroso, á$il e aben"oadamente irresponsável, 7enato &remista foi e!atamente tudo o que
queria ser e o que dele se esperava quando enfiou duas bolas no $ol do Kambur$oC o 7ichard &ere dos
$ramados, comemorando a vida sem limites nem preocupa"ão, como seu ator predileto Le sósia em 6em
 "Ylego, versão moderni(ada de $ossado, de &odard. 7enato foi o craque da maior afirma"ão da história do
imortal tricolor, o dono da bola de um clube que nasceu dela, o art*fice da vitória, o enviado de 5eus para os
$ramados do 'l*mpico  e o 'l*mpico também fica em Póquio. 7enato &aBcho foi o &rémio em sua
má!ima e!pressão.
&rémio, campeão do mundo. ' que pode ser maiorN

2om o mundo a seus pésC a* estão os on(e heróis de Póquio Lmais o massa$ista )anha, pouco antes de disputarem a partida mais importante da $loriosa história do tricolor 
 

O 5apito América: o =a#ueiro Adilson @atista er#ue e (ei-a a Ta7a da 4i(ertadores da América, con#uistada pela se#unda %e= pelo Grémio depois da
(atal*a de Medell$n

11. CONTRA TUDO E CONTRA TODOS

5e Póquio direto para Tacaria. Sim, porque o &rémio não dei!ou o mundo subirlhe à cabe"a e,
mesmo no au$e do sucesso planetário, não esqueceu suas ori$ens. % o que poderia estar mais li$ado às
ori$ens do &rémio do que a Tacaria dos 2ampos de 2ima da SerraN ' altivo vilare#o er$uido ao lado do
caminho dos tropeiros de Sorocaba, no lendário Telho 'este sulistaQ a destemida vila de $aBchos
chan$adores e do $ado chimarrão...
Tacaria sur$iu em meados do século XTAAA, em meio a um descampado batido pelo minuano, entre
o chamado Mato 2astelhano Londe fica 3asso undo, a cidade natal de 4ui( elipe Scolari, #unto a @ão
MePoque, onde nasceu 'tto 3edro )umbel, e o Mato 3ortu$uês, #usto na trilha percorrida pelos
 bandeirantes. \uando aqueles piratas do sertão devastaram as MissJes &uaran*ticas, por volta de
 

9?;=, o $ado criado pelos #esu*tas e pelos ind*$enas dispersouse serra acima. 2omo acontecera na Tacaria
do Mar  nos arredores de 7io &rande, #unto à barra diabólica , também nos campos serranos foram
sur$indo lu$are#os fundados por vaqueiros, $audérios e carneadores que se aproveitavam daqueles rebanhos
dispersos. %ra a Tacaria de 2ima da Serra.
's 2ampos de 2ima da Serra, com suas co!ilhas ondulosas, seus capJes de mato coroados por 
solenes araucárias e recortados por riachos murmurantes, são um pampa mais perto do céu, a mil metros de
altura. oi lá que, da noite para o dia, nasceu Tacaria, a porteira do 7io &rande. % foi lá que o &rémio foi dar 
com os costados, roto e alquebrado, em maio de 9:<:. 3orque a tra#etória do &rémio imita a vidaC é repleta
de altos mas tem seus bai!os, acumula sucessos e enfrenta reveses, está cheia de vitórias consa$radoras
que incluem honrosas derrotas. Sim, ami$os, de ve( em quando o &rémio perde. / questão é que Lquase
sempre vende caro as eventuais derrotas.
2omo bom time $aBcho Lcom o maior deles não seria diferente, o &rémio enfrentou muitos duelos
di$nos de filmes de coRbo6 no interior do 7io &rande do SulC encarou (a$ueiros de relho nas mãos, faca nas
 botinas e esporas afiadas, à espera dos atacantes em $randes áreas tão esburacadas quanto o /fe$anistão pós
n de setembro, com torcedores mordendo o alambrado em partidas #o$adas sob chuva e neblina, neve e frio,
sobre a lama. )ri$a de cachorro $rande.
Ema das mais emblemáticas dessas batalhas campais foi #ustamente aquela travada contra o $lorioso
&lória de Tacaria, em maio de 9:<:. /li, o &rémio vivia o céu ou o inferno. Se não $anhasse, o tricolor seria
submetido ao torneio da morte, que apontaria os clubes rebai!ados... do &auchão. 2omo iria enfrentar o
&lória numa pior, o &rémio tratou de se refor"ar, disposto a inverter uma temporada que come"ara mal.
3or isso, contratou o (a$ueiro %dinho e o volante -andir do luminense, mais o lateral Kélcio, do &uarani
de 2ampinas, e ainda arrumou lu$ar para o ponta 3aulo %$*dio e o centroavante Wita. @um #o$o dific*limo,
repleto de suor e poeira, o &rémio venceu o combate full!$onta$t de Tacaria, e %dinho, o menino do 7io, de
camiseta tricolor e cal"ão, corpo aberto no espa"o, fe( o $ol da vitória na estreia.
/quela vitória épica encaminhou o pentacampeonato re$ional, pois, quarenta dias depois, em 9< de
 #unho, o &rémio conquistou, nos pênaltis, o campeonato $aBcho, batendo o suposto arquiinimi$o

 
Menino do Rio: o capito Edin*o er#ue a 5opa do @rasil de 1BPB, depois de li%rar o Grémio do a(ismo em 9acaria! O tricolor )oi o primeiro a
desco(rir o atal*o para a 4i(ertadores

citadino. Ma(aropi defendeu dois e os vermelhos perderem pela se$unda ve( em poucas semanas uma
 

decisão naquele tipo de loteriaC após desperdi"ar um pênalti no #o$o contra o 'l*mpia, na semifinal da
4ibertadores, em pleno )eirala$o, o S. 2. Municipal ficou fora da final ao ser derrotado na cobran"a dos
tiros diretos. 3ontaria nunca foi o forte daquele pessoal.
Mas o melhor de tudo é que o o ! o no tempo re$ulamentar e os pênaltis que $arantiram o penta no
&repal #o$ado no 'l*mpico revelaramse uma espécie de cenas dos pró!imos cap*tulos para uma novela
nacional de final feli(C a conquista da 2opa do )rasil de 9:<:.

Sim, com o mesmo 2láudio 5uarte como treinador e o mesmo %dinho como capitão, o time que sa*ra
vencedor da Tacaria levantou a primeira 2opa do )rasil, contra o Sport 7ecife. @a semifinal do torneio
que a 2) teve a feli( ideia de inventar  e que iria se tornar a especialidade do &rémio, #á que disputado no
sistema matamata , o tricolor despachou seu velho cliente, o lamen$o, de -Bnior, inho e 4eonardo
Laquele que sabia usar muito bem o cotovelo. @o #o$o de ida, no mausoléu do Maracanã, o &rémio $anhou
 por G!G. &anhou sim, porque além de ter sa*do perdendo por G!=, marcou dois $ois fora de casa  critério
important*ssimo que o imortal tricolor sempre soube utili(ar. Mas, daquela ve(, tal vanta$em nem lhe serviu
 para nada, pois o #o$o de volta, no 'l*mpico, em 9: de a$osto de 9:<:, foi só ? ! 9.
 @a partida final da primeira 2opa do )rasil o &rémio não encontrou a mesma mole(a. /final, embora
rubrone$ro, o adversário era o leão da Alha do 7etiro, o Sport, o verdadeiro e Bnico campeão brasileiro de
9:<H. % o Sport, além de estar invicto em casa, $anhara três das quatro partidas que tinha #o$ado fora. 3or 
isso, no #o$o de ida, disputado no al"apão da Alha, o velho e bom &rémio foi, di$amos, cauteloso. % saiu
de lá com um ótimo o ! o. %m casa, em frente a quase H= mil pessoas, $anhou a partida. %, para dar mais
sabor e valor ao t*tulo, $anhoua pela diferen"a m*nimaC G!9.
4o$o aos : minutos do primeiro tempo, o &rémio fe( i ! o Lnão direi quem fe( o $ol, pois o referido
 #o$ador 0 e seu dentu"o irmão 0 tornaramse ersonas non gratas no 'l*mpico. 5e todo modo, aquele não foi
o $ol do t*tulo, pois aos >9 da primeira etapa, o heróico Ma(aropi falhou inacreditavelmente e socou a bola
 para dentro do próprio $ol. ' lance foi tão bi(arro que o #ui( assinalou $ol contra. Se o placar permanecesse
assim, o Sport levaria a ta"a. Mas, lo$o no in*cio do se$undo tempo, 2uca, o 2ora"ão de 4eão, anotou o tento
do t*tulo.
2om aquela vitória maiBscula por diferen"a minBscula, o &rémio  além de coroar a campanha
invicta com sete vitórias e dois  empates Le o ataque mais positivo, com G; $ois, e defesa menos va(ada,
com apenas quatro 0 obteve a Bnica coisa que sempre lhe interessouC a va$a na 4ibertadores, entre times
de verdade, para disputar um campeonato de verdade que só é vencido por quem #o$a futebol de verdade.
%sperto e pra$mático, o tricolor foi o primeiro time do pa*s a perceber que a 2opa do )rasil era o
atalho ideal para o torneio continental. Sim, a 2opa do )rasil, uma competi"ão sem frescura e sem
formulismoC uma competi"ão de resultados e, portanto, com a cara do &rémio, que, não por acaso, em 9I
edi"Jes, che$ou a sete finais e $anhou quatro delas.
' &rémio acabou eliminado da 4ibertadores de 9::= Lnão lembro por quem ou como, mas deve ter 
sido roubo ou falta de sorte. /inda assim, 9::= terminou se revelando um ano bem le$al, pois o imortal
tricolor sa$rouse he!acampeão $aBcho pela se$unda ve( em sua $loriosa história. 3ena que a fra$ilidade do
adversário no #o$o decisivo tenha desvalori(ado a conquistaC para levantar a ta"a, o &rémio $oleou o
terceiro colocado da competi"ão, o S. 2. Municipal, por I!9. 5epois, no )rasileiro daquele ano, o &rémio
foi escolhido pela insuspeita imprensa do centro do pa*s o melhor time do campeonato. Mas foi $arfado
 pelo São 3aulo, numa suspeit*ssima semifinal, no Morumbi, e acabou ficando em terceiro lu$ar.

%ntão, após flertar com o abismo em 9:<:, lá na Tacaria, o &rémio acabou despencando nele em 9::9. Sim,
 

 porque qual a $ra"a de che$ar ao topo se você não conhece o fundo do po"oN % o &rémio sempre foi como
aqueles heróis de filmes )C o su#eito calado e eni$mático, que nin$uém sabe de onde veio mas todos
sabem que che$ou. % che$ou para ficar. %, no fim, vai acabar namorando a mocinha, antes de caval$ar 
 para o desconhecido, sob um céu crepuscular, enquanto rolam os créditos.
' treinador do &rémio naquele ano ne$ro era 5ino Sani. % o que se pode esperar de um cara que,
além de ter treinado a turma da beirala$o, assistiu, quando comandava o 3enharol, ao teste de um (a$ueiro,
não $ostou do que viu e mandouo de volta para casa, em 7iveraN % o que di(er quando se sabe que tal
(a$ueiro se chamava Ku$o de 4eónN Mas até que aquela dispensa foi uma boa, pois 5e 4eón acabou indo
 #o$ar no @acional de Montevidéu, tomouse de ódio pelo 3enharol e a#udou a derrotálo no 'l*mpico,
conquistando o primeiro t*tulo da /mérica para o &rémio.
' problema é que o mesmo 5e 4eón estava em campo no dia 9: de maio de 9::9. Só que, daquela ve(,
embora tra#asse preto e branco, não vestia a(ul. Sim, 5e 4eón estava no )otafo$o. % o &rémio estava à beira
do precip*cio. 7enato 3ortaluppi também estava no )otafo$o, #á que havia se tornado 7enato 2arioca. Mas
continuava $aBcho e, acima de tudo, $remista, por isso simulou uma lesão e não entrou em campo, nem
olhou o #o$o. Melhor não olhar mesmo, pois embora o &rémio $oste de levar a vida aos sobressaltos,
aquele time não merecia tra#ar a honrosa #aqueta tricolor. 2ara, que time ruim. L2onfira a lista dos vilJes
ao final do livro, se tiver paciência.
' &rémio havia #o$ado quator(e partidas naquele campeonato de 9::9  e conse$uira o prod*$io de
 perder nove. 2ontra o )otafo$o, no 2aio Martins Lo pardieiro que há quem chame de estádio, perdeu a
décima, por > ! i, e desabou para a Se$unda 5ivisão. 3ara outra equipe qualquer, seria um fiasco inominável.
3ara o &rémio foi um aprendi(ado  e o passaporte para $lórias futuras, como veremos #á, #á.
%nquanto passava pelo calvário da Se$undona, o &rémio ainda teve a chance de reali(ar um feito e
humilhar os demais times  brasiliensesC poderia ter $anhado a velha e boa 2opa do )rasil de 9::9 e, mesmo
rebai!ado, teria $arantido va$a na 4ibertadores. Seria o má!imoC por mim, o imortal tricolor poderia
 permanecer o resto da vida na Se$undona, caso se$uisse disputando o Bnico torneio que tem al$um
interesse na /mérica.
Mas quis o destino que, do lado de lá, no banco do 2riciBma, estivesse elipão. % elipão $anhou o
t*tulo sem $anhar do &rémioC empatou duas ve(es, fe( um $ol(inho no 'l*mpico e levantou a ta"a. Mas até
isso acabou sendo le$al, pois pouco tempo depois, tendo aprendido a li"ão que vinha tentando ensinar aos
outros, o &rémio contratou o $rande 4ui( elipe.
/ntes disso, o time #á $arantira a volta para a 3rimeira 5ivisão, depois de >GI dias fora dela. ' #o$o
decisivo, contra o 'perário de Tár(ea &rande LMP, no dia : de abril de 9::G, levou mais de H= mil pessoas
ao 'l*mpico. % o &rémio enfiou H ! i no pobre adversário. 5i(em as más l*n$uas que o tricolor voltou
 pela porta dos fundos. @ão procedeC o re$ulamento foi mudado, sim, mas n)o por causa do &rémio. / 2)
 #amais faria qualquer coisa para favorecer o time que sempre pre#udicou. /lém do mais, se apenas quatro
times Le não oito como foi decidido mais tarde se classificassem, o &rémio daria um #eito de ficar entre
eles. @ão ficou porque não precisava  e o tricolor nunca foi de $astar bala em mara$ato.

5e todo modo, o que importa é que em 9::> o &rémio, do craque 5enner  aquele que costurava muito ,
não só estava de volta à Série / como quase $anhou de novo a 2opa do )rasil Lperdeu uma final muito
estranha para o sempre desvalori(ado 2ru(eiro e ainda recuperou a he$emonia $aBcha, desta ve( contra
um adversário de respeito, o 3elotas Lempate em i ! i, na )oca do 4obo, no dia 9; de #ulho. '
tradicional rival Ltradicional por quê, per$unto euN ficou em... quinto lu$ar, uma posi"ão bem de
acordo com sua tradi"ão. 5epois do t*tulo, o e!(a$ueiro tricolor 2ássia, velho !erife, na época
 

treinando o &rémio, dei!ou o clube e cedeu seu lu$ar para outro e!(a$ueirão que também virara técnico.
%ste, embora infeli(mente nunca tenha #o$ado no &rémio, fi(era fama dando trabalho aos
 #ardineiros dos $ramados sulistas de tanto buraco que cavava em campo. Pambém havia quebrado o nari(
 para evitar um $ol e só foi ao médico para arrumálo duas décadas depois. ' referido treinador, você #á sabe,
e se não sabe, ima$ina, era um cidadão e!emplar e um estrate$ista ini$ualável. 2hamavase 4ui( elipe
Scolari, uma espécie de o$uinho reencarnado, que nunca vestiu encarnado.
2om uma equipe de poucos recursos, elipão fe( do &rémio de 5anrlei, /6upe, 3aulão, /$naldo e
7o$er, 3in$o, -amir, %merson e 2arlos Mi$uel, abinho e @ildo um time a$uerrido, competitivo e
inconformado  ou se#a, um time com a cara dele. % foi campeão da 2opa do )rasil pela se$unda ve(, em
9= de a$osto de 9::I. 3ara che$ar ao t*tulo de seu torneio nacional favorito, o &rémio primeiro se vin$ou
eliminando o 2riciBma, que nunca teve muito carvão no saco. 5epois, deu um che$a pra lá no
2orinthians Loutro velho fre$uês, uns safanJes no Titória e um pé na bunda do pobre Tasco, cu#o ne$ócio
sempre foi remar e não #o$ar bola.
% então veio a final contra o honrado 2eará. %m ortale(a, com a $uarda fechadinha, como convém a
um velho boeur, o &rémio arrancou um lindo o ! o. %ntão, no 'l*mpico, em frente a quase ;= mil
tricolores, o time precisou de apenas três minutos para asse$urar o t*tulo. /pós três chances de $ol nos
 primeiros cento e oitenta se$undos de #o$o, a bola, vinda de um escanteio cobrado da direita,  alcan"ou a
cabe"a de @ildo. &oleador má!imo da equipe, ele escorou para o $ol. 5epois, foi só se$urar o resultado
com chutJes para o mato, pois era #o$o que valia campeonato.

' i ! o que veio cedo na tarde do 'l*mpico foi suficiente para recondu(ir o &rémio ao portal da
/mérica. Sim, porque ali, contra o honroso e surpreendente 2eará Lque havia eliminado o 3almeiras e o Y
Sport 2lub Municipal, o &rémio usou seu atalho favorito para driblar a burocracia e carimbar o passaporte
 para disputar a 4ibertadores do bicampeonato, conquistada em campos colombianos.
3ara che$ar à 2olDmbia, foi no 'l*mpico que elipão comandou o time e a torcida na vitória sobre a
sele"ão da 3armalat Lclube anteriormente e  após uma série de escândalos, ne$ociatas e falência e uma
 passa$em pela Se$undona  outra ve( conhecido como... 3almeiras, uma academia de supostos craques
L2afu, 7oberto 2arlos, 2ésar Sampaio, 4ui(ão e treinada por 1anderle6 4u!embur$o, o rei do e$o.
% o &rémio despe#ou ; ! = neles, em #ulho de 9::;, com uma atua"ão memorável de -ardel, nBmero 9? às
costas e cruel carrasco das (a$as oponentes. oi um relaL da humilha"ão a que o &rémio #á submetera o
mesmo 3almeiras, nos tempos em que a equipe ) da 3arlamat era conhecida como a /cademia do 3arque
/ntártica. Sim, em GH de outubro de 9:?;, pela Pa"a )rasil, com shoR do novato pontaesquerda Tolmir e
 pBblico recorde de ;9 mil pa$antes, o &rémio $oleou o time treinado por Mário Prava$lini e que tinha
5#alma Santos e 5#alma 5ias na (a$a, 5udu e /demir da &uia no meio, -ulinho, Serv*lio, /demar e
7inaldo na frente, por apenas ;!9. /pós a estrondosa $oleada de ; ! o pela 4ibertadores no 'l*mpico !
um estádio de verdade para um time verdadeiro , o &rémio teve que enfrentar o 3orco em sua pocil$a.
4á, na arapuca que chamam de estádio, o Terdinho armou uma $uerra contra o tricolorC escalou #udocas
disfar"ados de $andulas e contratou se$uran"as parrudos e covardes que amea"aram os diri$entes e o
 banco do &rémio, que ficou trancado num vestiário imundo. oi uma repeti"ão de 4a 3lata em 9:<>, com a
diferen"a que paulistas não che$am aos pés de ar$entinos.
%m campo, a sele"ão da 3armalat fe( cinco $ois. Mas -ardel $uardou un(inho e o &rémio $arantiu a
va$a com aquele 99 ! 9= no #o$o de 9<= minutos. 3ara o 3almeiras restou chorar o leite derramado 0 e
assim seria ao lon$o de toda a década de 9::=. Se eles são /ntárctica, o &rémio é a nBmero um...
5epois da vitória no matamata das quartasdefinal, o imortal tricolor asse$urou a ida para a final ao
 patrolar o %melec do %quador Lempate em &ua6aquilQ vitória por G ! o em 3orto /le$re. % a $rande final,
 

contra o %l @acional de Medell*n, come"ou com um > ! 9 em casa, no dia G> de a$osto de 9::;. 'u
melhor, come"ou com um o ! i no 'l*mpico.
Sim, porque foi no moinho da /(enha, poucos dias antes da vitória por >!9 contra o %l @acional, que
o &rémio come"ou a $anhar o t*tulo sulamericano, $ra"as ao desempenho de uma das mais fantásticas
torcidas do mundo, numa das maiores demonstra"Jes de solidariedade #á vistas em um estádioC ?o mil
vo(es $remistas cantaram o hino do clube, a solene can"ão de 4upic*nio, que afirma que a torcida vai estar 
sempre com o &rémio, onde o &rémio estiver. Asso se deu na noite em que o tricolor #o$ou melhor mas
 perdeu a final da 2opa do )rasil de 9::; para o 2orinthians Lque não perdia por esperar, pois o que era dele
estava $uardado.
% sábia a vo( que vem das arquibancadas, e os $remistas sabiam

Na (ola e no pau: depois de tocar 0 na sele7o da 2armalat, em -o#o %álido pela 4i(ertadores, no Ol$mpico, o #eni al Din*o ensina
9ál(er a praticar o pok-tai-pok 

que aquela passa$eira derrota nacional seria o combust*vel para voos maiores. @o momento em que o
 povo saudava uma derrota, o &rémio do esp*rito de 4ara, da vontade de o$uinho, do *mpeto de -uare(,
da lealdade de /*rton 3avilhão, da estrela tricampeã de %veraldo, da #uventude de Uder, da cate$oria de
Taldo e da $enialidade de 7enato come"ou a reconquistar a /mérica  outra ve(.
&ra"as à se$uran"a do $rande 5anrlei, à ra"a para$uaia de /rce e de 2atalino 7ivarola, ao vi$or e à
re$ularidade dos e!#uvenis 7o$er e 2arlos Mi$uel, à matreirice do e!re#eitado Lpelo lamen$o 3aulo
 @unes, à devo"ão do can$aceiro 5inho Lliberado pelo São 3aulo, à comovente aplica"ão de 4u*s 2arlos
&oiano, à obstina"ão de -ardel Ldispensado pelo Tasco e à impávida lideran"a de /dilson, o 2apitão /mérica
travestido de mosqueteiro tricolor, o &rémio dos rene$ados foi campeão da /mérica de 9::;.
\uando os 99 $uerreiros de elipão entraram em campo na noite de >= de a$osto para enfrentar 
mais de ?o mil colombianos em Medell*n, depois da vitória por >!9 em casa, sabiam que #o$avam a vida.
2edo, muito cedo, apesar da superioridade $remista no in*cio da partida, um tal /risti(abal marcou i ! o para
eles. %ram apenas 9G minutos do primeiro tempo. Mais um $ol do %l @acional e a decisão iria para os
 pênaltis. / partida ficou nervosa, a pressão aumentava, elipão $esticulava sem parar. /dilson era sua
e!tensão dentro do campo, enquanto 7ivarola encarava com cara de bandoleiro o ataque colombiano. % o
 primeiro tempo terminou o ! 4
/ melhor torcida do Sul do mundo esperaria mais I; intermináveis minutos para feste#ar, outra
ve(, a conquista da /mérica. /preensiva, a torcida do arquiinimi$o local  $ente que vive de $lórias
e!clusivamente nacionais, conquistadas na lon$*nqua década de 9:H= , re(ava desesperada, acendendo
velas para santos colombianos e assistindo ao &rémio pela PT Lcomo têm feito ao lon$o dos Bltimos G;
 

anos.
5esta ve(, o nome de seu pior pesadelo era curtoC atendia por 5inho. Em leão no combate, um monstro
nos atalhos, um 4ampião no comando das a"Jes, um can$aceiro que nunca chamou a bola de Maria )onita, ele,
5inho, o suprasumo dos volantes de conten"ão, foi quem liderou o &rémio contra um @acional que parecia
intimidado em sua própria casa, com se escutasse a torcida $remista cantando o hino do clube, a de( mil
quilómetros de distância, em 3orto /le$re.
%ntão, aos >: minutos do se$undo tempo, @ildo, que acabara de entrar Le cu#o $ol contra o 2eará pusera
o &rémio na 4ibertadores, fa( um lan"amento lon$o para outro reserva, o ponteiro /le!andre. \uando o
avante en$atilha o chute, #á dentro da área adversária, é cal"ado por trás. ' #ui( chileno Salvador Amperatore,
com a frie(a de

/ /mérica é a(ul, de novoC a máquina de moer carne comandada por elipão feste#a mais um t*tulo internacional para a sala de trofeus do imortal tricolor 

uma cordilheira andina, aponta para a marca da cal. %ntão, o heróico 5inho  que também é bom de bo!e 
se apresenta para cobrar o pênalti. ' folclórico Ki$uita nada pode fa(er contra o petardo desferido pelo
mosquete can$aceiro. % a bola estufa a rede. &ol do &rémio+ &ooool do &rémio+ esta tricolor em Medell*n.
esta tricolor em 3orto /le$re. / /mérica é a(ul, preta e branca. 5e novo.
 

%ntão, Póquio, outra ve(. Sim, de Póquio para Tacaria, de Tacaria para a Se$undona e da Se$undona para
Póquio again. /ssim é a vida. /ssim é o &rémio, capa( de sair da sar#eta direto para o topo do mundo.
Sim, porque mesmo não tendo levantado a ta"a no -apão, o &rémio che$ou ao topo e foi o vencedor moral
da partida que  #o$ou contra tudo e contra todos, com e!ce"ão dos ;= mil #aponeses $remistas, velhos
conhecidos que foram reencontrar o imortal tricolor naquele 9; de de(embro de 9::;.
%m primeiro lu$ar, o &rémio teve que encarar o poderoso /#a!  o supostamente imortal /#a! , que era uma
autêntica sele"ão. @a verdade, era a rria sele"ão holandesa Laquela que #o$a, #o$a e não $anha nada, pois
sempre dan"a no final, #á que se especiali(ou em praticar o futebolbailarino. %m /msterdam, antes do #o$o,
a torcida do /#a!  confiante no time que tinha os irmãos siameses 5e )óer, o $oleiro$aribaldo Tan der Sar,
os ce$uinhos )lind e 5avids, mais Wluivert e 'vermars, que ficam cor de laran#a de tanto que amarelam 0
 passeava pelos canais vestindo camisetas com os di(eresC 1ho the fucV is &rémioN %les lo$o saberiam.
%m se$undo lu$ar, o &rémio precisou enfrentar o )rasil 0 ou, quando menos, sua imprensa esportiva.
Pido como time truculento e retranqueiro, o clube das três cores, eterno vencedor, despertara fero(es
antipatias na terra do samba e do futebolarte, pa*s que não se

Reencontro no apo: do=e anos depois de conquistar o mundo em T>quio, o Grémio %oltou  terra do sol nascente para re%er sua leqio de )s de
ol*os pu0ados e sorrisos a(ertos

importa de perder contanto que #o$ue bonito. elipão e seus $uerreiros eram odiados e difamados nos
quatro cantos da na"ão in(oneira. Panto que uma poderosa rede de PT  você sabe qual !enviou para a sede
da /$ência 7euters, em 4ondres, uma fita só com lances supostamente violentos do representante
 brasileiro em Póquio. @ela, o $alante 5inho virou vilão e não $alã.
3or fim, o &rémio teve que enfrentar o #ui( 5avid %llera6, ver$onha de sua nobre estirpe britânica.
Terdade que %llera6 foi influenciado pela PT  tanto pela fita e!ibida pela 7euters quanto pela ima$em
que viu no telão do estádio, no relaL, e que o levou a e!pulsar o esplêndido 7ivarola, aos 9; minutos do
se$undo tempo, só porque ele #o$ava futebol de verdade.
Mas sabe que a e!pulsão até que foi uma boaN Sim,  porque até aquele momento o /#a!  #o$ava um
 pouquinho melhor, tomando a iniciativa. %ntão, com de( em campo La ri$or com oito, pois /r*lson e 2arlos
Mi$uel, que, não por acaso, mais tarde iriam #o$ar no Municipal, tremeram a perninha, o &rémio é que foi
 para cima. Sim, com oito, contra o carrossel holandês... e só deu &rémio. %ntão, aos >< minutos do se$undo
tempo, /rce cru(ou, como sempre cru(ava, e -ardel bateu de virada. %ra o $ol do t*tulo, mas, caprichosa e
malvada, a bola passou a dois mil*metros da trave.
/*, veio a prorro$a"ão e o &rémio voltou a ter de( em campo, #á que o $énio elipão percebeu que tinha
$ente pipocando e sacou os dois bundJes, colocando em campo os novatos &élson e 4uciano. 5epois,
Ma$no entrou no lu$ar de -ardel, que estava com as cabe"as na noiva, que ficara em 3orto /le$re. %ntão,
 

após duas horas de futebol  sendo que durante uma hora inteira o &rémio tivera Lno m*nimo de( homens
em campo , a partida terminou em o ! o. ' poderoso /#a! #o$ando contra de( do &rémio n)o $anhou o #o$o
 0 na verdade, escapou de perder. Se você duvida, dê uma che$ada aqui em casa dia desses e assista ao teipe.
5a* vieram os pênaltis  e /rce e 5inho, que nunca erravam, erraram e o &rémio teve que se contentar 
com o t*tulo moral. Kouve vibra"ão no )rasil inteiro, pois o time uru$uaio não levara a ta"a de campeão do
mundo. Peve $ente que escreveu isso no #ornal.

Pudo bem. 's brasilienses não precisaram esperar nem um ano inteiro, pois >;G dias após o #o$o em
Póquio contra o tal /#a!  que nun$a mais $anhou nada, eta pra$a boa aquela que ro$uei+ , o &rémio
faturou o bi do )rasileirão. % de novo contra tudo e contra todos. oi assimC na fase classificatória, o
&rémio ficou com a oitava  e Bltima  va$a para o octo$onal final. /lém de ser uma coloca"ão com a cara do
&rémio, foi uma bên"ão, pois no cru(amento, o imortal  tricolor deveria enfrentar, em duas partidas mata
mata, o primeiro colocado. % sabe quem era o primeiroN 'ra, era o 3almeiras da 3armalat. \#ae maravilha+
' primeiro #o$o foi no 'l*mpico, no dia G< de novembro de 9::?. ' &rémio trucidou no primeiro
tempo, mas então, em sua Bnica escapadela, aos I9 minutos, o 3orco Lapelido estranho... fe( i ! o. '
&rémio não iria ficar falando em in#usti"a  muito menos os narradores das PTs brasilienses, que urraram
loucamente. Só que ainda faltava um tempo inteiro e os I; minutos restantes foram mais do que suficientes
 para o &rémio usar a cabe"a e fa(er três $ois, todos na base do chuveirinho. Eé, $ol assim vale menosN @o
domin$o se$uinte, em São 3aulo, uma bela derrota por o ! i colocou o imortal tricolor na semifinal.
' adversário se$uinte foi o valoroso &oiás. Só que o Terdão do centrooeste dei!ou o aparente sucesso
subirlhe à cabe"a, anunciou que iria $olear o &rémio e tomou > ! o no Serra 5ourada lotado. @o #o$o de
volta, em 3orto /le$re, o &rémio  que le$al+  perdeu de novo. 3ena que só por o ! i, pois daria para
 perder por dois e ainda assim ir para a final.
%ntão o &rémio se superou e, da* sim, perdeu por o ! G a primeira partida da final. ' #o$o foi no dia
99 de de(embro, no salão de festas do Morumbi, e o adversário era a pobre(inha 3ortu$uesa de 5esportos,
o time predileto do pa*s naquela semana, a namoradinha do )rasil, o ep*teto do futebolarte,
uma equipe ale$re, de técnica apurada. Meu, o )rasil inteiro estava apai!onado pela mocinha
lusa Ltanto que nem lhe notaram o bu"o.... % o &rémio, outra ve(, era o vilão me!icano, bi$odudo e com
 bafo de on"a. ' malvado de plantão.
/que les = ! G no Morumbi encheram os bras ilienses de esperan"a verde e vermelha. 3ena que ainda
faltasse a partida final, marcada para o 'l*mpico, no dia 9; de de(embro de 9::?, um domin$o a(ul e
ensolarado. % o monumental estádio 0 sim, eu disse estádio  estava lotado, todo a(ul e cheio de sol. '
&rémio #á estava há meses sem o matador -ardel, vendido para o futebol europeu, mas continuava sob o
comando firme de 4ui( elipe. 3or isso, entre os ?o mil $remistas que estavam lá 0 entre eles o escriba que
vos fala 0 não havia um Bnico que não acreditasse no t*tulo.
' problema é que a$ora faltam menos de de( minutos para o fim do #o$o e a minBsculaimensa
torcida da 3ortu$uesa  uns cem milhJes de brasilienses naquela semana  está prestes a vibrar com o t*tulo
nacional. ' &rémio come"ara avassaladorC em dois minutos, com um $ol de pé esquerdo do diabo loiro
3aulo @unes, a máquina de moer carne de elipão desfi(era parcialmente a vanta$em conquistada pela
4usa em São 3aulo. )asta um $ol mais e o tricolor vai asse$urar o bi.
Mas a vitória haverá de ser custosa, sofrida, desesperadamente demorada. /final, quem está em campo é
o &rémio, e o &rémio de elipão, e as coisas nunca foram fáceis para ele e seu time. Mas tudo sempre termina
com um lon$o sorriso na face e o $rito de $uerra adotado por uma na"ão que #o$a com o time e sabe que o
&rémio tem ra"a uru$uaia, fibra in$lesa e determina"ão $ermânicaC /h, eu sou $aBcho+.
/ lon$a tarde de de(embro é daquelas de arrebentar cora"Jes fracos. ' &rémio insiste com todas as
 

for"as, a 3ortu$uesa resiste como pode. %ntão, quando restam apenas 9;min para o final e a arquibancada
 #á não vibra tanto quanto se espera de uma torcida fabulosa, o capitão 5inho, e!tenuado, encosta em
elipão e su$ereC Me tira e bota o /*lton. @os primeiros cinco minutos, o carioca /*lton, bai!inho, hábil e
 batalhador, não fa( nada. 5epois, fe( tudo.
' lance come"a quando 2arlos Mi$uel recebe uma bola no meiocampo, sem tempo para pensar em
esquemas, estraté$ias ou táticas. / redonda tem que che$ar na área, porque é lá que está um centroavante
$randalhão e desa#eitado que seria reprovado até como $andula nos times que enaltecem o futebolarte. %le
se chama é /fonso, e está #o$ando no sacrif*cio os minutos que restam. %ntão, ele vê a bola vindo lá do
$rande c*rculo em sua dire"ão, e vê também, como num filme, seu passado sofrido, vê milhares de
torcedores re(ando, e se vê fa(endo um dos $ois na virada contra o 3almeiras, duas semanas antes. % salta
em dire"ão à $lória.
2om dores lancinantes na coluna, é /fonso estica todos os mBsculos do corpo, cansados desde a
aurora dos tempos, porque, $aroto pobre, nunca teve uma prepara"ão f*sica adequada. %le mira a bola,
arre$ala os olhos e alon$a o pesco"o. Mas a bola passa raspando em sua cabe"a, sem que ele a atin#a. U um
milésimo de se$undo desesperador para é /fonso, para elipão, para o &rémio e sua torcida. %stará tudo
 perdidoN
/ntes mesmo de é /fonso voltar ao chão, porém, a bola passa outra ve( sobre sua cabe"a, só que
a$ora na dire"ão oposta, rumo ao bico da $rande área. / redonda fora rebatida pelo (a$ueiro 2ésar, que,
encoberto pelo atacante tricolor, recolocara, de cabe"a, as esperan"as $remistas no lu$ar certo. 3ois a pelota
encontra /*lton, um duende que sur$e como um raio e não espera para pensar no que vai fa(er, nem como o
fará.
Sim, /*lton, que acabara de entrar no lu$ar do $i$ante 5inho. %ntão, sem que a bola bei#e a $rama, sem
 pensar que humanos têm o direito de errar, /*lton desfere uma bomba de pé esquerdo 0 seu pé de subir no
 bonde. São >: minutos do se$undo tempo  dois minutos antes, um certo 7ivelino dissera na PT que o
&rémio parecia não ter mais for"as  e o pé errado de /*lton fa( a coisa certa, e não tem erro. / bola estufa
as redes do a(arado 2lemer, a torcida estufa o peito, elipão e!plode e a panela de pressão do 'l*mpico
e!plode com ele. &oooooooooollllll do &rémio. G ! =, o resultado e!ato para $arantir o bicampeonato
 brasileiro. ' capitão /dilson chora ao erguer a ta"a, lembrando o quanto é bom ser $remista.

/ sa$a de vitórias admiráveis ainda não acabou  na verdade, acho que está apenas come"ando. Sim,
 porque #á no ano se$uinte, 9::H, o &rémio, mais uru$uaio do que nunca, como bem notou um cineasta de
lin$ua$em muito rica, faturou sua terceira 2opa do )rasil, aquela, contra o brasiliense lamen$o, no Maracanã
lotado. Mas você #á leu sobre ela e, como não estou disposto a chutar cachorro morto, não vou tripudiar no
rubrone$ro. /té porque o ne$ócio deste cap*tulo  um cap*tulo de esquerda, que leva o numero 99 às
costas é humilhar a sele"ão da 3armalat, aquele time cafécomleite que só $anhou al$uma coisa depois
que usou seus lactodólares Lprovavelmente vindos de al$uma conta na Su*"a para contratar elipão, seu
fiel escudeiro Murtosa, o ala /rce, o (a$ueirão 7ivarola e o atacante 3aulo @unes. %, ainda assim, $anhou
nos pênaltis.
%ntão, em G==9, o &rémio deu continuidade à sua odisseia no espa"o sideral das conquistas
maiBsculas e $anhou outro t*tulo nacional no Morumbi, novamente contra um time treinado por 
1anderle6 4u!embur$o 0 e!lateral do S. 2. Municipal e arquiinimi$o declarado do tricolor $aBcho,
 para quem cansou de perder pelo lamen$o, pelo 3almeiras e a$ora pelo 2orinthians... / primeira 2opa do
)rasil do novo século voltou para as mãos de seu verdadeiro dono na tarde de 9H de #unho, quando os
&aviJes da iel  a torcida que tem um time  lotaram o parque de diversJes do
 

5*ora, @rasil: Danrlei, Din*o e o time de ?elipo )este-am a conquista do @rasileiro de 1BBK, depois de (aterem na 6namoradin*a do @rasil6, a po(re
2ortu#uesa de Desportos

tricolor que veste a(ul para ver o &rémio ser tetracampeão de seu torneio predileto.
Sob a re$ência de inho e com a habilidade de Marcelinho 3ara*ba, a se$uran"a dos colecionadores de
t*tulos 5anrlei e 7o$er, a velocidade de Pin$a, o despertar de 4u*s Mário, a e!periência de Mauro &alvão, a
 #uventude impetuosa de %duardo 2osta e nderson 3ol$a Lsim, dois volantes de conten"ão+, a modernidade
dos alas nderson 4ima e 7ubens 2ardoso, o oportunismo de 1arle6 e a qualidade de ábio )aiano, o
time que vestia meias a(uis, cal"Jes brancos e a camisa tricolor, como em Póquio, passeou em campo e
$anhou fácil, numa de suas mais brilhantes atua"Jes de todos os tempos. 5e cabe"a, o (a$ueiro Marinho
inau$urou o placar, aos IGminQ inho aumentou no primeiro minuto do se$undo tempo, Uverthon
descontou aos G:min, mas o o!i$enado e turbinado Marcelinho 3ara*ba, 9== paraBcho, sepultou
o 2orinthians, 4u!embur$o e a iel aos Iimin. >!9.
3ra di(er a verdade, eu nem ia falar sobre esse #o$o. %m primeiro lu$ar, porque ele foi fácil demais. %m
se$undo, porque não foi um #o$o t*pico do imortal tricolorC naquele dia, o &rémio ! ai, ai -esus !teve um
desempenho que, olhando assim de lon$e, poderia ser facilmente confundido com futebolarte.
%mbora os r*spidos e r*$idos %duardo 2osta e /nderson 3ol$a estivessem em campo Le ho#e, #unto
com o $rande %merson, eles brilham na %uropa, onde se #o$a futebol de verdade, o problema foi que o tal
inho, criado na &ávea, quis fa(er bonito. % pensar que depois ele teve cora$em de processar o &rémio...
' &rémio é que deveria têlo processado por causa daquela que foi 0 5eus me livre+ ! a vitória mais
bonita de sua lon$a sa$a de vitórias sofridas. % tem coisa mais sem $ra"a do que $anhar #o$ando bonitoN
oi #ustamente por esse motivo 0 o #o$o bonito 0 que não usei as fero(es pá$inas deste livro para falar 
de dois dos maiores *dolos do &rémio em todos os temposC o meia @oronha e o (a$ueiro /*rton, o
ine!pu$nável 3avilhão. /mbos eram bons  a questão é que eram bons demais. Mas fica aqui re$istrada nossa
sin$ela e sincera homena$em a esses dois craques, embora eu não vá $astar ad#etivos saudando sua técnica
 primorosa, sua ele$ância em campo, seu requinte no trato com a bola, porque isso pode parecer coisa de fresco.

%m G==G, o &rémio ficou em terceiro lu$ar no )rasileiro. ' time até poderia ter ido à final, mas
 perdeu para o Santos, no moqui"o da Tila )elmiro, com sete  sim, sete ! reservas, por =!>. 5epois, com
a volta de três titulares, $anhou no 'l*mpico, por i ! o, com um $ola"o de 7odri$o abri e com os tais
meninos da Tila se  borrando nas fraldas. ' que importa é que $ra"as àquela vitória o time che$ou à
4ibertadores de G==>. % nela, avan"ou até às semifinais. Mas da* foi escandalosamente roubado por um
 #ui( ar$entino e acabou sendo eliminado nos pênaltis pelo 'l*mpia, em pleno 'l*mpico.
 

 @a verdade, acabo de lembrar que isso foi em G==G, pois a elimina"ão da 4ibertadores de G==> deu
se por obra de um certo Andependiente de Medell*n, que $anhou do &rémio com um $ol aos I? do se$undo
tempo 0 em partida disputada no Bnico pa*s do mundo que, em ve( de 3roduto @acional )ruto, tem
 produto nacional refinado. ' en$ra"ado é que os #o$adores do Medell*n continuaram correndo meia hora
depois de o #ui( ter acabado o #o$o, com um baba amarela escorrendo pelo canto da boca e fun$ando muito.
5evia ser efeito da altitude.
%ntão, che$ou G==>, o ano do centenário  e, com ele, a maldi"ão dos cem anos, que #á atin$ira até o
7eal Madrid. % o &rémio se viu de novo em flerte e!pl*cito com o abismo, até porque a 2) mudou as
re$ras do #o$o e o campeonato brasileiro passou a ser disputado por pontos corridos. % pontos corridos,
todo mundo sabe, é coisa de fresco. 5e qualquer forma, o ano acabou em festa, pois o &rémio escapou do
rebai!amento na Bltima rodada, tocando > ! o no 2orinthians e, além de um arco*ris ter aparecido sobre o
'l*mpico naquele final de tarde, ainda deu para curtir os ; ! o que o São 2aetano enfiou no S. 2.
Municipal, modesto resultado que lhes tirou a va$a na 4ibertadores  torneio que eles não disputam há
mais de uma década Lmas a que sempre assistem pela PT.
/* raiou o sombrio G==I. % sobre esse ano supostamente ne$ro, só o que tenho a di(er é que,
incorporando o esp*rito do &rémio, a &récia de elipão foi campeã da %urocopa, o 3orto foi campeão
europeu e o $rande 'nce 2aldas entornou o caldo de Santos e São 3aulo, conquistando a 4ibertadores 
e todos eles che$aram aos t*tulos #o$ando futebol de verdade, fechadinhos na retranca e marcando só no
contraataque. ' problema é que o próprio &rémio #o$ou futebol de mentirinha, fe( uma campanha p*fia
e... caiu para a Se$undona.
Mas você não está achando que este é o fim, estáN @ão, nãoC tratase apenas e tão somente de um
 

novo recome"o. 3ois esta história não termina nunca  e se, por acaso, um dia ela se encerrar, o &rémio
estará no pódio. 3ois no fim, sabemos todos, o &rémio semre $anha.

&rémioC o dicionário define a palavra como con#unto de pessoas unidas em torno de um ob#etivo. / pirâmide humana tric olor feste #a o tet ra da 2opa do )rasil

ENTRADA DURA 2OR TR'

%ste livro foi escrito sob inspira"ão de meus historiadores favoritos, os membros Lnão muito
ativos do 2asseta ` 3laneta. %mbora ultimamente eles venham pe$ando demais no p..., vá lá, no pé do
&rémio, são os su#eitos que, dentre tantos outros feitos, certa ve( estarreceram o pa*s com a denBnciaC
5eputados comprados vieram com defeito. 3ortanto, se você acreditou que as teses defendidas aqui
são sérias... fe( muito bem, como #á disse em 4ntroduzindo. Mas se preferiu perceber que era uma maneira
de debochar do )rasil e de seu desconhecimento da própria história, de sua visão obtusa sobre o 7io
&rande do Sul, os $aBchos e, acima de tudo, o futebol #o$ado na 3rov*ncia 2isplatina, peri$a ter se
apro!imado mais do esp*rito da coisa...
 @ão sou separatista, é óbvio. 3ara di(er a verdade, acho que nem $aBcho sou. \uer di(er, em termos
técnicos claro que sou $aBcho e portoale$rense, #á que nasci lo$o ali no Kospital Moinhos de Tento La
cerca de um quilómetro da )ai!ada onde o &rémio #o$ou seus primeiros #o$os  e tocou 9= a o no S. 2.
Municipal. % ho#e, depois de várias andan"as por a*  como bom saunterer !, moro e trabalho em 3orto
/le$re, outra ve( ao lado da )ai!ada Le de onde consi$o ver também o clarão dos holofotes do monumental
'l*mpico em noites de #o$o. / questão é que, embora se#a $aBcho, não e!er"o. @unca usei bombacha e
sou ve$etarianoC carne, só como humana e viva, de preferência se me!endo.

 @a verdade, como cantaram certos titãs do rocVnroll, não sou brasileiro, não sou estran$eiro] eu
não to nem a*, eu não to nem aqui. ' que sou mesmo é $remista. /liás, como é bom ser $remista. ' Bnico
 pequeno problema de ser $remista  além dos problemas causados por cartolas incompetentes e #o$adores
tão ruins que deveriam tra#ar vermelho Lmas que não vou discutir aqui, pois se trata de questão de economia
interna, como diria 7ud6 /rmin 3etr6, um bom cartola da década de 9:?=  são os autodenominados
amantes do futebolarte e o imenso espa"o que eles ocupam na m*dia.
Tocê sabe de quem estou falandoC estou falando daqueles cronistas de te!to refinado fin$indo
ob#etividadeQ aqueles caras do centro do pa*s, um tanto equivocados Lquando não mal
intencionados, o que é bem pior, que fi(eram de conta que ficaram mais feli(es com a derrota bonita
em Sarriá do que com a feia vitória em 8oVohama. &ente que, na final do )rasileiro de 9::?, torceu
 para a 3ortu$uesa até os IH e meio do se$undo tempo. \ue achava que a 2opa do )rasil não valia nada.
\ue fin$ia achar o campeonato paulista mais importante que a 4ibertadores. \ue declarou que iria
torcer para o /#a! em Póquio porque o &rémio era uru$uaio Lbom, neste ponto eles quase estavam
certos. &ente que vibrou nas duas ve(es em que o imortal tricolor caiu para honrosa Se$undona.
 

\uer que eu dê nome aos boisN 3ois bem, estou falando dos S*lvio 7omero e -osé Ter*ssimo da vida.
Mas desisti de citarlhes nominalmenteQ não vale a pena. /té porque, no fundo Lbem no fundo, acho que
esse povo tem todo o direito de achar o que acha e escrever o que escreve. Mas quem fala Le escreve o que
quer tem mais é que ouvir Le ler o que não quer. a( parte do #o$o democrático que eles fin$em e!ercer.
Mas, mais no fundo ainda, to nem a* ] to nem a*, como di( a musiquinha $rudenta. %stou mais
interessado em @ova 8orV, San rancisco, )arcelona e Shan$ai do que em 3orto /le$re ou no 7io. % não
dou a bola para )ras*lia. Mas a questão é que essa $ente encheu demais a paciência  a minha e a de todos os
$remistas que conhe"o. %, na minha opinião, eles não entendem nada. /o fim e ao cabo, a questão se
resume no se$uinteC o bom é $anhar. &anhar com o time #o$ando bem é bem le$al. &anhar com o time
 #o$ando mal é tão le$al quanto 0 às ve(es até mais.
/lém disso, elipão é um milhão de ve(es melhor que 1anderle6 4u!embur$o  e os curr*culos
estão a* mesmo para proválo. % tem outraC na pontaesquerda do meu time #o$aria o 4oivo e não a$allo, que
 permaneceria no banco Lsem mandar nada, como de hábito e no rol da infâmia do &rémio, #unto com
/rmando Marques, o próprio 4u!embur$o, o tal @u!i Lo primeiro #ui( que roubou do &rémio e outros
tantos com os quais não vou $astar tempo nem papel. % tem maisC entre 3ele, de terno e $ravata, curtindo
mBsica sertane#a e fa(endo aquela lista da ifa, e Maradona, doidão, balofo, cheirada"o, podre de punV, com
Mão PséPun$ tatuado no bra"o, peri$a eu ser mais o Maradona, meu compadre. Sim, o Maradona, o $énio
Lquase uru$uaio, o Marlon )rando da bola, o MiVe P6son dos rin$ues $ramados.
/inda assim, a maior parte das teses hidrófobas que esse livro fin$e defender, inclusive esta Bltima, é
apenas ironia. Mas como o )rasil é, de acordo com as luminosas palavras de %$berto &ismonti, o pa*s onde é
 preciso e!plicar ironia, aqui estou eu perdendo meu tempo.
' fato é que o &rémio não tem mais nada a provar para os brasilienses, nem para mara$atos e
chiman$os, $re$os e baianos, blan$os e colorados. ' &rémio #á $anhou tudo que e!iste para $anharC  a cidade,
o estado, o )rasil, a /mérica e o mundoQ estamos apenas esperando o campeonato inter$aláctico. ' &rémio
 #á foi roubado de todas as formas pelas quais se pode roubar um time. ' &rémio #á sofreu todos os
achaques e infâmias que se podem fa(er a um clube. % sobreviveu na boa, sempre altivo e vencedor.
% o &rémio está sempre $anhando, de primeira ou na Se$undona. @as raras ocasiJes em que não
o fa( com a própria e $loriosa camisa, o fa( metido na camisa daqueles times que honram seu esp*rito, como
a An$laterra de 9:??, a /lemanha de 9:;I e 9:HI e a &récia de G==I, montada ao estilo elipão e que bateu
3ortu$al... de elipão. 'u como o )rasil de elipão, que bateu nos cronistas antielipão e levantou uma das
mais deliciosas 2opas da história, lá do outro lado do mundo. 'u, então, tra#ando, é claro, a $loriosa
camisa da celeste ol*mpicaC a camisa do Eru$uai, a pátria virtual do &rémio, um time cisplatino com fibra
in$lesa e disciplina alemã.
Mas, como #á falei, tais times e camisas servem apenas como metáfora, pois o que importa é o &rémio.
&rémio oot)all 3orto /le$rense. &rémio, campeão do mundoC nada pode ser maior. % para encerrar de ve(
essa história sem fim e de mais de cem t*tulos, minhas sábias e derradeiras palavras sãoC o &rémio tem mais é
que disputar a Se$undona em G==;, e $anhála, como sempre $anha. %, então, quando che$ar a hora de
voltar à Série /, deveria anunciar ao mundo estarrecidoC @ão, obri$ado, rapa(es. Tamos continuar por 
aqui mesmo, nos campos esburacados onde #o$am os times que têm ra"a e praticam futebol de verdade.
3orque futebolarte, todo mundo sabe, é coisa de veado.
%is a Bltima entrada dura deste livro 0 e esta foi por trás.
 

5RONO4OG3A

();8  0 &rémio, o imortal tricolor, é fundado no dia 9; de setembro, no prédio IH da Latual rua
5r. lores, no centro de 3orto /le$re, em torno da bola tra(ida pelo sorocabano 2ândido 5ias. @o dia >=
do mesmo mês, o novel team escapa da amea"a de tra#ar vermelho Lpalavra ori$inária de verme e
decide usar as cores Kavana, preto e branco. 3or insistência do ma#or, alfaiate e volante de conten"ão
/u$usto WocV, o havana vira a(ul.
();/  0 ' time disputa seu primeiro #o$o Lem ?]> e obtém, é claro, sua primeira vitória, contra o

uss)all, pelo dilatado escore de i ! o Lo autor do $ol não foi re$istrado Q é inau$urado o estádio da
Schuet(verein 3lat( Lortim da )ai!ada, em 9I]<, e adotada a primeira bandeira oficial, nas cores
a(ul, preta e branca, com o distintivo no canto superior esquerdo.
();* 0 2onquista definitiva da primeira ta"a L1anderpreis, na vitória contra o ussball, em ;]> L> !

i.
();)  0 3rimeiro #o$o contra um time de outra cidade LGI];, o S. 2. 7io &rande Lderrota por G!>,

 por causa de um #ui( ladrãoQ primeiro #o$o e primeiro massacre contra o pretenso arquiinimi$o citadino,
Sport 2lube Municipal L9<]H, na )ai!ada L9= ! o, com ; $ois de )ooth.
()((  0 3rimeiro #o$o contra um time por assim di(er estran$eiro, a sele"ão do Eru$uai, pa*s

irmão Lo ! >Q conquista do primeiro campeonato da cidade, com destaque para o centroavante   %dRin
2o! e para a defesa formada pelos alemães MohrdiecV e SchubacV, a famosa (a$a hambur$uesa.
1:12 0 2onquista do bicampeonato da cidadeQ maior $oleada da história do &rémio, G> ! o no
 @acional de 3orto /le$re, com 9I $ois de Sisson.
1:1@ 0 ' &rémio desli$ase da 4i$a portoale$rense e priori(a os amistosos Lo mais importante foi o
 primeiro de um time uru$uaio na )ai!ada, o )ristol.
1:1; 0 2onquista do campeonato metropolitano, invicto.
1:1' 0 2onquista do bicampeonato da cidade.
1:1F  0 Titória sobre a sele"ão do Eru$uai, campeã sulamericana daquele ano, na )ai!ada L9H]:, por G!9
L$ois de /ssump"ãoQ conquista da ta"a 7io )ranco, contra o ussball L; ! iQ cria"ão da evista ao Grémio.
9:9< 0 Anstitu*da a nova bandeira oficial, nos moldes da bandeira brasileira Lsubstitu*da em 9:II
e, novamente, em 9:?>, pela bandeira atual.
9:9: 0 2ontrata"ão do $rande %urico 4ara, $oleiro e #o$ador s*mbolo do &rémio, que #o$aria até
morrer em 9:>;, $anhando 9? t*tulosQ conquista do primeiro campeonato metropolitano.
9:G= 0 2onquista do bicampeonato metropolitano.
9:G9 0 2onquista do primeiro campeonato $aBcho e do tri metropolitano.
9:GG 0 2onquista do bicampeonato $aBcho e do tetracampeonato metropolitano, com destaque para o
craque 4a$arto.
9:G> 0 2onquista do pentacampeonato metropolitano.
9:G; 0 2o nqui sta do campeo nato metropoli tano, com destaque para 4ui( 2arvalho e Pelêmaco.
9:G? 0 2onquista do campeonato $aBcho Linvicto e do bicampeonato metropolitano.
()=>  0 Anstitui"ão do tradicional uniforme tricolor, usado até ho#e, e estreia do #o$adors*mbolo

o$uinho, que #o$aria até 9:IG.


()8;  0 2onquista invicta do campeonato metropolitano, liderado por 4ara, o$uinho e 4ui(
 

2arvalho. 4ara participa da 7evolu"ão de >=. Ancorporando o esp*rito do &rémio, o Eru$uai $anha a
 primeira 2opa do Mundo.
()8(  0 Anau$ura"ão dos refletores da )ai!ada L9<]H, mais um pioneirismo em 3orto /le$reQ

conquista do campeonato $aBcho e do bi metropolitano.


9:>G g 2onquista do bicampeonato $aBcho Linvicto e do tri metropolitano.
()88 g 2onquista do tetracampeonato metropolitano Linvicto outra ve(Q #á estava ficando chato.

()89 g 2onquista do campeonato metropolitano, com destaque para 4ui( 4u( na (a$aQ

vitória sob re o Sport 2lu be Municipal, no chamado &repal do século LG ! o, na )ai!ada, em G:]:,
quando o mundo Lcentrado em 3orto /le$re feste#ava o centenário da 7evolu"ão arroupilha.
()8*  0 3rimeiro #o$o no e!terior, em 7ivera, no Eru$uai LG!= no 'riental.

()8? g 2onquista do campeonato metropolitano, com destaque para @oronha.

()8>  0 2onquista do bicampeonato metropolitano.

()8) g 2onquista do tricampeonato metropolitano.

()/; 0 3rimeira vitória sobre um time ar$entino LG ! i no Andependiente, na )ai!ada.

()/(%/9  @ada aconteceu, pois durante esses anos o mundo estava em $uerra.

()/*  0 2ria"ão do slo$an com o &rémio onde estiver o

&rémio e institui"ão do Mosqueteiro como s*mbolo, na $estão de -osé &erbaseQ concurso ele$e o hino
oficial do dube,/ar$ha de Guerra sobre o Grémio, de )reno )lauth, com vo( de /lcides 7odri$ues Ldepois
substitu*do pela can"ão de 4upic*nio 7odri$uesQ /urélio 36 é nomeado patrono do clubeQ conquista do
campeonato $aBcho Lem #o$o disputado em 9:IH e do metropolitano Lambos tiveram o ponteiro
2ordeiro como destaque.
@ ()/)  0 Titória de > ! i sobre o @acional do Eru$uai Lbase da sele"ão campeã de 9:;=, em

Montevidéu L9I];Q primeira e!cursão Linvicta à /mérica 2entral Lcom dura"ão de >H diasQ conquista do
campeonato $aBchoQ conquista do campeonato metropolitano.
()9;  0 3rimeiro #o$o de um time não carioca no Maracanã depois da $loriosa 2opa de 9:;=, com

vitória sobre o lamen$o, por >!9Q neste #o$o, )ale#o marcou o $ol >.=== do imortal tricolor.
()9=  0 ' presidente Saturnino Tan(elotti contrata oficialmente o primeiro ne$ro do

&rémio, Pesourinha, embora o clube #á houvesse tido inBmeros mulatos em suas equipes.
9:;> 0 Meio século de $lórias comemorados ruidosamenteQ ado"ão do hino escrito para os ;= anos,
com o refrão até a pé nós iremos, de 4upic*nio 7odri$ues Lcomposto no restaurante 2opacabana,
no final de 9:;G, como oficialQ lan"amento do primeiro livro sobre o &rémio, Zlbum do Cin#uentenMrio,
escrito por %dison 3iresQ se$unda e!cursão à /mérica 2entral L9> #o$os.
9:;I 0 @a inau$ura"ão do $lorioso 'l*mpico L9:]:, vitória sobre o não menos $lorioso @acional do
Eru$uai, com dois $ois de Titor.
9:;; 0 'sRaldo 7olla, o vulcânico o$uinho, assume como treinador e monta o time imbat*vel dos
9G t*tulos em 9>.
9:;? 0 2onquista do campeonato $aBcho, com destaque para o (a$ueiro /irtonQ conquista do
campeonato metropolitano.
()9?  0 2onquista do bicampeonato $aBcho Lfinal disputada em 9:;< e do bicampeonato da cidade.

()9>  0 2onquista do tricampeonato da cidadeQ conquista do tricampeonato $aBcho, com

destaque para o tanque -uare(, o atacante matador.


()9) g Titória sobre o )oca -uniors da /r$entina, na )ombonera LI ! i, com I $ois do craque

 boêmio &ess6Q conquista do tetracampeonato $aBcho, com 'rtunho destro"ando na lateral.


()*;  0 ernando Wroeff é indicado patrono do clube Lcar$o que ocupou até morrer, em 9::HQ
 

vitória contra a sele"ão /r$entina Li ! oQ conquista do pentacampeonato $aBcho.


()*(  0 3rimeira e!cursão à %uropaQ em Sofia, na )ul$ária, uma recémnascida foi bati(ada &remina em

homena$em ao clube.
()*=  0 2onquista do torneio sulbrasileiro de clubes L4e$alidadeQ se$unda e!cursão à

%uropaQ conquista do supercampeonato $aBcho, com Sér$io Moac6r como treinador Lfinal disputada em
9:?>.
9:?>  0 @ovo escudo é institu*do, com o nome &rémio no centro e inclusão do ano de funda"ãoQ
conquista do bicampeonato $aBcho, com -oão Severiano no ataque.
9:?I  0 ' capitão 2arlos roner comanda a conquista do tricampeonato $aBcho, com destaque
 para o meiocampo Sér$io 4opes e mais um pioneirismo, um preparador f*sico para o time LMário
5oernt.
9:?;  0 2onquista do tetracampeonato $aBcho invicto, com destaque para o ponteiroesquerdo
Tolmir.
9:??  0 2onquista do pentacampeonato $aBcho, com $ol de /lcindo na final.
9:?H 0 2onquista do he!a, com destaque para o time todo.
()*>  0 2onquista do heptacampeonato $aBcho, com destaque para os I ! o no &repal 0 aliás o
 primeiro da vida do autor deste livro.
9:H= 0 ' lateral %veraldo é titular do time tricampeão mundial de futebol, no Mé!ico, mas #usti"a se#a
feitaC não era o melhor #o$ador da equipe. ' melhor era o (a$ueiro )rito.
9:H9 0 ' centroavante ar$entino Scotta, do &rémio, marca o primeiro $ol da história do campeonato
 brasileiro, na vitória La primeira na história de um campeonato )rasileiro do &rémio sobre o São 3aulo
L> ! o, no Morumbi.
()?=%()?*  0 /nos de chumbo no )rasil, uma época ne$ra. 3ortanto, não aconteceu nada di$no de

re$istro.
9:HH 0 2onquista do campeonato $aBcho, com Pelê Santana no comando e $ol de /ndré 2atimba na
final e &ilberto &il no vestiário.
()?)  0 2omandado por 3aulo 2ésar 2a#u e com Uder na ponta, o &rémio conquista o campeonato

$aBcho.
()>;  0 2onclu*da a amplia"ão do estádio do &rémio, rebati(ado 'l*mpico MonumentalQ

o &rémio do $oleiro 4eão conquista o bicampeonato $aBchoQ 5estaque do anoC o clubeirmão


 @acional do Eru$u ai é campeão da 4ibertadores contra um adversário menor, o S. 2. Municipal Li
! o, $ol de Tictorino.
()>(  0 ' (a$ueirocaudilho 5e 4eón levanta a ta"a na conquista do primeiro $ameonato

brasileiro L>];, em São 3aulo Li ! o no São 3aulo, com $ol de )alta(ar.


()>8 0 Taldir %spinosa é o treinador, Mário Sér$io o craque e 7enato o $oleador, e o &rémio conquista

sua rimeira 3ibertadores da 2méri$a LGH]=H, em 3orto /le$re LG ! 9 no 3enharol e, a se$uir, o $ameonato


mundial inter$lubes L99]9G, em Póquio LG ! 9 no Kambur$o.
()>9 0 2onquista do campeonato $aBcho, com um novo craque, Taldo.

9:<? 0 2onquista do bicampeonato $aBcho.


9:<H  0 ' centroavante 4ima sonha com $ois Le os marca e o &rémio conquista o tricampeonato
$aBcho, com o novato 4ui( elipe Scolari como treinador e $énio da ra"a.
9:<< 0 2onquista do tetracampeonato $aBcho.
9:<:  0 Preinado por 2láudio 5uarte, o &rémio conquista sua  rimeira Coa do rasil LG]:, em 3orto
/le$re LG ! i no Sport 7ecifeQ conquista do pentacampeonato $aBcho.
9::=  0 2onquista do he!acampeonato $aBcho, com um tima"o comandado por %varisto de MacedoQ
 

conquista do supercampeonato brasileiro, no 7io Lempate sem $ois contra o Tasco da &ama.
9::9 0 2ansado de incompreensJes e farto da vi(inhan"a do futebolarte, o &rémio decide disputar
a honrosa Série ).
())=  0 ' &rémio vence por H ! i ao 'perário de Tár(ea &rande LMP e volta para a Série /

 pela porta da frente.


1::@  0 2onquista do campeonato $aBcho.
1::;  0 2om elipão no banco e $ol de @ildo, o &rémio conquista sua  segunda Coa do rasil L9=]<, em
3orto /le$re Li ! o no 2eará.
1::'  0 2om elipão e -ardel, conquista da segunda 3ibertadore sda 2méri$a, em Medell*n Li ! i contra
o %l @acional da 2olDmbia, $ol de 5inhoQ conquista do campeonato $aBcho com o time reserva.
1::F  0 2onquista da e$oa 6ul!2meri$ana, em Póquio LI ! 9 no Andependiente da /r$entinaQ com
elipão e 3aulo @unes, conquista do bi$ameonato brasileiro L9;]9G, em 3orto /le$re LG ! i na 3ortu$uesa de
5esportosQ conquista do bicampeonato $aBcho com o time reserva ?anguzinhoA[ arquiinimi$o citadino
$anha o apelido de "lanelinha.
1::  0 /ara$ana(o tricolor, na conquista do tri$ameonato da Coa do rasil LGG];, no 7io LG!G
contra o lamen$o, com pBblico de :G mil pessoas e %varisto de Macedo como treinador.
())) 0 2onquista da primeira Coa 6ul, em 2uritiba Li ! o no 3araná, com 2elso 7oth no comandoQ

conquista do tricampeonato $aBcho.


=;;(  0 2onquista do tetra$ameonato da Coa do rasil L9H]?, em São 3aulo L> ! i no 2orinthians,

com Pite como treinador e inho como capitão.


=;;=  0 4ui( elipe Scolari leva o )rasil ao pentacampeonato mundial, na 2opa da 2oreia]-apão Los

$énios $remistas %merson e /nderson 3ol$a estavam no $rupo. ' &rémio é escandalosamente roubado
 pelo #ui( em pleno 'l*mpico e fica fora da final da 4ibertadores.
=;;8  2em anos de $lória tens imortal tricolor. ' ano termina como havia come"adoC com festa. '

&rémio vence o 2orinthians L> ! o um dia depois de o Municipal levar cinco La (ero e ficar, mais uma ve(, a
ver navios.
=;;/  0 ' &rémio é imortal e maravilhoso, mas às ve(es um monte de $ente incompetente, com o

 pé frio e a cabe"a quente, se instala no 'l*mpico. XD+


=;;9  0 &rémio vai conquistar um t*tulo inédito em sua história.

ESCALAÇÕES

();8 Lneste ano não houve nenhuma disputa contra outro timeQ estes atletas posaram para a primeira foto /lberto WneRit(, -osé
Mussnich, -oão WneRt(, 'tto Mussnich, 'sRaldo Siebel, 3edro 2leres, -oão &esVe, -acob Molter, Flvaro )rochado, -oão Stelc(6V, rederico
 

7eincido 3anit(.

();/
'. Siebel, /. WneRit(, 2. aedrich, &. Ehri$, 3. Kuch./. Seibel./. SchRar(, /. 2attaneo, 3. 2leres, -. WneRit( e -. Stelc(6V Lprimeiro quadroQ
/. Woch, 3. Strenlau, %. 3anit(, -. &ersVe, %. &e6er, 3. SchucV, &. Wallfel(, /. )rochado, %. &erlach e '. Mussnich Lse$undo quadro.

();9A();*
2. 5epperman, -. Stelc(6V, %. &e6er, /. Woch, -. )lacV, -. &esVe, /. )rochado, K. )oore, 3. Kuch. &. Wallfel( e -. &runeRald LP. Schroeder
também #o$ou.

();?
)achman, 5epperman e &e6erQ Martau, )lacV e )ierQ Wallfel(, Schroeder, &runeRald, )rochado e )ucVs.

();>
)achman, 5epperman e &e6erQ 4udRi$, )ier e WochQ )rochado, Martau, Mi$uelito, Waastrup e &runeRald Ltambém #o$aram &raeff, Kelm,
7ech AA, Mussnich, 2aris, KanVe, 4emos e oern$es.

();)
Waastrup, Martau e 5eppermanQ 2aris, )lacV e WochQ )rochado, )ooth, Kuch, Wallffel( e &runeRald Ltambém #o$aram 3resser, Peichman,
Sommer, Mostardeiro, 5e!heimer, &e6er, Moreira, 7icardo, irbes, )ecVer e Kelm.

()(;
Peichman, Martau e 5eppermanQ )ento, Sommer e Mostardeiro AQ )rochado, &e6er, )ooth, &runeRald e Mostardeiro AA.

()((
Peichman, Schubach e MohrdiecVQ )ento, Sommer e Mostardeiro AQ )ooth, Moreira, 2o!, &runeRald e Mostardeiro AA.

()(=
Peichman, Schubach e MohrdiecVQ Xiru, Sommer e 7ibeiroQ /lencastro, &e6er, )ooth, Kaensel e Sisson.

()(8
7ibeiro, Schubach e MohrdiecVQ )ento, Kanssen e /lencastroQ /shlin, &e6er, )ooth, 1oods e Soares.

()(/
Pércio, 2orrêa e SchubachQ MohrdiecV, Kanssen e /lencastroQ Sisson, /ntunes, 2idade, 7amos e 1. Peichman.

()(9
Peichman, Schubach e MohrdiecVQ 2hiquinho, Kanssen e /lencastroQ Sisson, /ntunes, 2idade, Scalco e 4. /ssump"ão.

()(*
Schiel, MohrdiecV e Kanssen AAQ Kanssen, Saavedra e 2hiquinhoQ 4. /ssump"ão, 2arneiro, Sisson, Scalco e 1. Peichman.

()(?
Wun(, &aribotti e MohrdiecVQ 5orival, Kanssen e 2hiquinhoQ 2arneiro, )ehe$ara6, 7odri$ue(, -or$e 36 e Scalco.

()(>
Wun(, &aribotti e -. 36Q 3avani, 5orival e 2hiquinhoQ amela L-or$e, &ertum Lranco, 4a$arto, )runo e Scalco.

()()
5emétrio, &aribotti e -. 36Q 3avani, 5orival e 2hiquinhoQ /ssump"ão, &ertum, 4a$arto, )runo e 4ev6.
 

()8;
%urico 4ara, -. 36 e Manoel 2ostaQ /ssump"ão, 5orival e MorenoQ Mene$hini, Taninho, 5anico, 4ev6 e 7amão.

()=(
%urico 4ara, -. 36 e @ecoQ &ertum, /ssump"ão e 5orivalQ Mene$hini, 4a$arto, )runo 2ossi, 7amão e Moreno.

()==
%urico 4ara, -. 36 e @ecoQ Mene$hini, 5orival e Sardinha AQ 4eo, 4a$arto, Potte, 7ibeirinho e 7amão.

()=8
%urico 4ara, /ssump"ão e ran"aQ Mene$hini, ilhote e )issacoQ 4eo, Potte, eio, 4a$arto e 4ui( 2arvalho.

()=/
%urico 4ara, /droaldo e -. 36Q Macarroni, eio e Mene$hiniQ 4eo, )runo 2ossi, Potte, 4ui( 2arvalho e 2arrapicho.

()=9
%urico 4ara, /droaldo e Sardinha AQ /dão 4ima, Pelêmaco e 2arrilhoQ 5omin$os, 2oro, 4ui( 2arvalho, %speran"a e @ené.

()=*
%urico 4ara, /droaldo e Sardinha AQ 3itoco, /dão 4ima e 2arrilhoQ 5omin$os, 2oro, 4ui( 2arvalho, %speran"a e @ené.

()=?
%urico 4ara, /droaldo e SardinhaQ /dão 4ima, Pelêmaco e 3itocoQ 5omin$os, 2oro, 4ui( 2arvalho, %speran"a e @ené.

()=>
%urico 4ara, 5ar*o e Sardinha AQ Macarroni, 3oroto e 7ussoQ @estor, 2oro, 4ui( 2arvalho, o$uinho e @ené.

()=)
%urico 4ara, 5ario e Sardinha AQ Macarroni, Pelêmaco e @enéQ )renol, Marcelo, 5écio, 2oro e o$uinho.

()8;
%urico 4ara, 5ario e Sardinha AQ Macarroni, 3oroto e 7ussoQ -avel, 2oro, 4ui( 2arvalho, o$uinho e @ené.

()8(
%urico 4ara, 5ario e Sardinha AQ Mab*lia, 3oroto e 7ussoQ 4ac6, /rti$as, 4ui( 2arvalho, o$uinho e @ené.

()8=
%urico 4ara, 5ario e Sardinha AQ Keitor, 3oroto e Sardinha AAQ 4ac6, /rti$as, 4ui( 2arvalho, o$uinho e @ené.

()88
%urico 4ara, 5ario e Sardinha AQ Keitor, 3oroto e Sardinha AAQ 4ac6, /lemão(inho, 4ui( 2arvalho, o$uinho e @ené.

()8/
%urico 4ara, 5ario e Sardinha AQ -ame$ão, /costa e Sardinha AAQ /lemão(inho, 7ussinho, 4ui( 2arvalho, o$uinho e @ené.

()89
%urico 4ara L2hico, 5ario e 4ui( 4u(Q -or$e, Mascarenhas e Sardinha AAQ 4ac6, 7ussinho, /rti$as LPorell6, o$uinho e 5ivino.

()8*
2hico, Motrin e 4ui( 4u(Q -or$e, Mascarenhas e 7ussoQ 4ac6, Teronese, Porell6, o$uinho e 2asaca.

()8?
%dmundo, 5ario e 4ui( 4u(Q 7enato, @oronha e 7ussoQ 4ac6, Tanário LPorell6, /lemão(inho, o$uinho e 2asaca.

()8>
%dmundo, /r6 5el$ado e 4ui( 4u(Q -or$e, @oronha e 7ussoQ Mesquita, Tanário, 4ui( 2arvalho, o$uinho e 2asaca.

()8)
%dmundo, 5ario e 4ui( 4u(Q -or$e, @oronha e 4a!i!aQ Mesquita, Tanário, 2ésar, o$uinho e 3epito.

()/;
%dmundo, 5ario e 4ui( 4u(Q /ndré, @oronha e 4a!i!aQ 2asaca L4ac6, Salvador, /lemão(inho L4ui( 2arvalho, o$uinho e Malaquias.

()/(
%dmundo, 5ario e 4ui( 4u(Q /ndré, @oronha e 3orotoQ Sório, Avo, 2ésar )as*lio, o$uinho e 'chotorena.
()/=
%dmundo, 5ario e 1alter L2iareiQ -osé Mi$uel, Ponelli e /ndréQ Medina, 3aulo &arcia, @ichele, o$uinho e Malaquias.

()/8
-Blio, 2iarei e 7uiQ /ndré, )adanha e KeitorQ &aldino, Soares, Tin*cius, @ichelli e Mário.
 

()//
-Blio, 2iarei e 7uiQ Tin*cius, Pou$uinha e San$uinettiQ )entevi, )ombachudo, 7amón 2astro, Avo e Mário.

()/9
-Blio, 2iarei e Ku$oQ @iedsber$, Pou$uinha e San$uinettiQ )entevi, )ombachudo, 7amón 2astro, Silva L@adir e Sadi.

()/*
-Blio, 2iarei e -oniQ Mário, Pou$uinha e San$uinettiQ 2ordeiro, )eresi, Kélio, Se$ura e )entevi.

()/?
-Blio, 2iarei e 5antonQ Mário, Pou$uinha e San$uinettiQ )eroci LKermes, )eresi, 3re$o, Se$ura e 7oni.

()/>
-Blio LSér$io, 2aneco, 2iarei L2astrinho e 5anton LPonelliQ Tin*cius L7ui, -oni, Pou$uinha e @elson /dams L7ibeiroQ )ero LPeotDnio,
Kermes L&ita, &eada L3re$o, Marimba e 3elado L7oni.

()/)
Sér$io, 2iarei e -oniQ Ku$o, /rio e /le$rem L5antonQ 3aulista L2lori, Kermes, &eada, Flvaro e &ita.

()9;
Sér$io, 'rlando e SararáQ Ku$o, Terardi e 5irceuQ )ale#o, 2lori, &eada, 3edrinho e Fpis L5etefon.
()9(
1ilson, 5anton e 'rl6Q )e!i$a, )entevi e TerardiQ erra(, Tasconcelos, &eada, 3edrinho e )ale#o.

()9=
Sér$io, &a$o e 5antonQ Ku$o, Sarará e )enteviQ 7obson LPesourinha, erra(, 2amacho, 3edrinho, e )ale#o.

()98
Sér$io, /ltino e @oronhaQ 'rl6, é Avo e SararáQ Pesourinha, )ebeto, 2amacho L&rin$o, Milton e Atamar.

()9/
Sér$io, 7oberto, %nio 7odri$ues e 'rl6Q Sarará e AtamarQ Pesourinha, Milton, 2amacho LT*tor, unino e Porres L-or$inho.

()99
Sér$io, /*rton e /ltino LMauroQ i$ueiró LKu$o, Sarará e %nio 7odri$uesQ Pesourinha Lunino, Kerc*lio LTitor, -uare( L5elem, Milton LAtamar
e Tieira LPorres.

()9*
Sér$io L'nete, /*rton e @elciQ i$ueiró, 2alvet e %nio 7odri$uesQ Kerc*lio, &ess6, -uare(, Milton e Tieira.

()9?
&erminara, /*rton e )obQ i$ueiró, Ulton e %nio 7odri$uesQ 'svaldo, &ess6, -uare(, Milton e Tieira.

()9>
&erminara L2andinho, 'rlando, /*rton e MourãoQ Ulton L4eo e %nio 7odri$uesQ /lfredinho LPoquinho, &ess6, -uare( L7udimar, Milton e
Tieira.

()9)
&erminara, 'rlando, /*rton e 'rtunhoQ Ulton e %nio 7odri$uesQ &iovanni, &ess6,  7udimar, Milton e Tieira.

()*;
Suli, i$ueiró, /*rton e 'rtunhoQ Ulton e %nio 7odri$uesQ Marino, &ess6, -uare(, Milton e Tieira.

()*(
Arno, /ltemir, /*rton, 'rtunho e MourãoQ Ulton L@adir e MiltonQ 2ardoso, Marino, -uare( e Tieira.

()*=
Kenrique, 7enato, /*rton, /ltemir e 'rtunhoQ Ulton e MiltonQ Marino, -oão Severiano, Avo 5io$o e Tieira.

()*8
/lberto, Talério, /*rton, Fureo e 'rtunhoQ 2leo e MiltonQ Marino, -oão Severiano, 4umumba e Tieira.

()*/
/lberto L/rlindo, 7enato LTalério, /*rton, Fureo e 'rtunhoQ 2leo e Sér$io 4opesQ 4umumba, -oão Severiano, /lcindo e Tieira.

()*9
/rlindo L/lberto, /ltemir, /*rton, Fureo L3aulo Sou(a e 'rtunhoQ 2leo e Sér$io 4opesQ 'don LPorres, 4umumba, -oão Severiano, /lcindo e
Tolmir LTieira.

()**
 

/rlindo L/lberto, /ltemir, /*rton, Fureo e 'rtunhoQ 2leo e Sér$io 4opesQ 4umumba, -oão Severiano, /lcindo e Tolmir LTieira.

()*?
/rlindo L/lberto, )reno, /ltemir, /ri %rc*lio, Fureo e %veraldoQ 2leo e Sér$io 4opesQ )abá, -oão Severiano, /lcindo e Tolmir.
()*>
/rlindo L/lberto, -air, /ltemir, 3aulo Sou(a, Fureo e %veraldoQ 2leo L-adir e Sér$io 4opesQ )abá, -oão Severiano, /lcindo e Tolmir L4oivo.

()*)
/rlindo L/lberto, %spinosa L7enato, 3aulo Sou(a L/ri %rc*lio, Fureo L5i e %veraldoQ 2leo L-adir, 2la*rton e Sér$io 4opes L-Blio /maralQ
)abá Llecha, Kélio 3ires L-oão Severiano, '6arbide, /lcindo LPupã(inho e Tolmir L4oivo.

()?;
)reno L7ubens, %spinosa, /ri %rc*lioL5i, iorese, )eto LFureo e %veraldo L2lóvis, -amirQ -adir L2la*rton e Sér$io 4opesQ lecha, Kélio 3ires, -oão
Severiano e 4oivo LTolmir.

()?(
-air, %spinosa, /ri %rc*lio, )eto e %veraldoQ -adir L2hamaco, Porino e &asparQ lecha, 2aio LScotta, /lcindo e 4oivo.

()?=
-air L3icasso, %spinosa L%veraldo, /ncheta, )eto e -or$e Paba#araQ -adir LAvo e &aspar L@e$reiros, 2arlos /lbertoQ 2atarina L2arlinhos,
)uião, Ma(inho, 'berti L4a*rton e 4oivo.

()?8
3icasso L-air, 2láudio L%spinosa, /ncheta L7enato 2o$o, )eto e Paba#araQ 2arlos /lberto L3aulo Sér$io e Kumberto 7amosQ 2arlinhos,
Ma(inho, 'berti LParciso e 4oivo.

()?/
3icasso, %veraldo, /ncheta, )eto uscão L)eto )acamarte e Paba#araQ 2arlos /lberto L'rcina, Kumberto 7amos e PorinoQ 8ura Lequinha,
Parciso e 4oivo L)ol*var.
()?9
3icasso, Tilson L2elso, /ncheta LPadeu, )eto uscão L)eto )acamarte e )ol*varQ 2acau, @eca e 8uraQ equinha, Parciso e @ené L4oivo.

()?*
2e#as L/le!andre, Tilson L%urico, /ncheta, )eto uscão e )ol*var LPaba#araQ -erDnimo L2acau, @eca e 8uraQ equinha, /lcino LParciso e
'rti( L2hico Spina.

()??
2orbo L7emi, %urico, /ncheta L2ássia, 'berdan e 4adinhoQ T*tor Ku$o, Padeu e 8ura L4eandroQ Parciso, /ndré L/lcindo e Uder.

()?>
2orbo L7emi, %urico LTilson, Taldoir, /ncheta L2ássia, 'berdan LTicente e 4adinho LSer$inhoQ T*tor Ku$o LTaldere(, Padeu e 8ura
L-urandirQ Parciso, /ndré Lrancisco e Uder.

()?)
Man$a, %urico, Tantuir L/ncheta, Ticente L2ássia e 5irceu L4adinhoQ Titor Ku$o L2ardaccio, 8ura L@ardela e 3aulo 2ésar 2a#uQ Parciso,
/ndré L)alta(ar e Uder L-ésum, 7enato Sá.

()>;
4eão, @elinho LMauro, Tantuir, Ticente e 5irceuQ Titor Ku$o L)onami$o, 3aulo Asidoro e 5e#air LTilson Padei, -urandirQ Parciso, )alta(ar e
'dair L7enato Sá.

()>(
4eão, 3aulo 7oberto LEchoa, Silmar, @eRmar, 5e 4eón LTantuir e 2asemiro L5irceu, 3aulo 2ésarQ 2hina, 3aulo Asidoro e Tilson Padei
LPonhoQ Parciso, )alta(ar L3lein, &eraldão, Kéber e 'dair L7enato Sá.
()>=
4eão, 3aulo 7oberto, 4eandro, 5e 4eón LTantuir e 2asemiro L3aulo 2ésarQ )atista L2hina, 3aulo Asidoro e )onami$o L-or$e 4eandroQ
Parciso L7enato, %dmar e 'dair L-Blio 2ésar, Asa*as.

()>8
Ma(aropi L)eto, 3aulo 7oberto L7aul, )aideV L4eandro, @eRmar, 5e 4eón e 2asemiro L3aulo 2ésarQ 2hina L)onami$o, 4u*s2arlos,
'svaldo L7óbson e Pitã L3aulo 2ésar 2a#u, Ponho, Mário Sér$ioQ 7enato, 2aio L2ésar, 2aio -r. e Parciso.

()>/
-oão Marcos L)eto, 7aul LSoter, )aideV L4eandro, 5e 4eón L4u*s %duardo e 2asemiro L3aulo 2ésarQ 2hina, 'svaldo LTaldo e
)onami$o L4u*s 2arlos, Mário, &ilsonQ 7enato, 2aio L-Blio 2ésar e Parciso.

()>9
Ma(aropi, 7onaldo L7aul, )aideV, 4u*s %duardo e 2asemiroQ 2hina, 'svaldo LTaldo e )onami$o LSabella, 4u*s ernandoQ 7enato
LParciso, 2aio -r. L7oberto 2ésar e /demir.
 

()>*
Ma(aropi, 7aul, )aideV, 4u*s %duardo e 2asemiroQ 2hina L)onami$o, 'svaldo e 4u*s 2arlosQ 7enato LParciso, 2aio -r. L/lbeneir e Taldo
LSabella.

()>?
Ma(aropi, /lfinete, /sten$o LKenrique, 4u*s %duardo e 2asemiro L/drianoQ 2hina L-oão /ntónio, 2ristóvão L5arci e )onami$o L4u*s
2arlosQ Taldo L2aio, ernando, 4ima e -or$e Teras.

()>>
Ma(aropi, /lfinete, Kenrique L/sten$o, 4u*s %duardo e /*rtonQ )onami$o L-oão /ntónio, 2ristóvão L5arci, 2láudio reitas e 2uca
L-or$inhoQ Taldo L2aio, 4ima LMarcus Tin*cius e -or$e Teras Lé 7oberto.

()>)
Ma(aropi, /lfinete LTilson, Prasante L%dinho, 4u*s %duardo e /*rton LKélcioQ -andir L)onami$o, -oão /ntónio, 2uca L2ristóvão e /ssis
L4ino, -or$inhoQ /lmir, @ando LMarcus Tin*cius, Wita e 3aulo %$*dio L-or$e Teras.

());
Ma(aropi L&omes, /lfinete Lábio, 2hina, -oão Marcelo LTilson, 4u*s %duardo e KélcioQ -andir L5oni(eti, 2uca e /ssis L/dilson KelenoQ
Maur*cio L2aio, 5arci, @ilson e 3aulo %$*dio.

())(
Sidmar L&omes, 2hiquinho L2hina, 3olaco, -oão Marcelo L&rotto, Tilson e 4iraQ 5oni(eti L-andir, -oão /ntónio L3ino, -amir e 5arci
L-uninhoQ Maur*cio L7enato, 2aio, /lcindo, @ilson L)i(u e /ssis L3aulo %$*dio.

())=
%merson, 4eandro Silva, -oão Marcelo L&rotto, Tilson, 3aulão LTá$ner, 4uciano e Xará L4iraQ -andir, 2aio, -uninho L/laércio e 2a"apa
L2arlos Mi$uelQ /lcindo e 4ima LMarcos Severo, Mab*lia, -airo 4en(i, 2arlinhos.

())8
%duardo Keuser L/demir Maria, 4u*s 2arlos 1incV, 3aulão L&rotto, 4uciano L&eraldão e %duardo L2arlos Mi$uelQ 3in$o, -amir,
2aio e 5ener L-uninhoQ abinho e &ilson L2harles, Mab*lia.
())/
5anrlei L%merson, /6upe, 3aulão, /$naldo e 7o$erQ -amir L/ndré Tieira, %merson e 2arlos Mi$uelQ abinho e @ildo L2arlinhos.

())9
5anrlei LS*lvio, /rce, 7ivarola LTa$ner, /dilson L4uciano e 7o$erQ 5inho L/ndré Tieira, &oiano, %merson L/r*lson, Ta$ner Mancini e
2arlos Mi$uel L7odri$o MendesQ 3aulo @unes e -ardel L@ildo, Ma$no.

())*
5anrlei LS*lvio, /rce, 7ivarola L4uciano, /dilson LMauro &alvão e 7o$er L/ndré SilvaQ 5inho L/ndré Tieira, &oiano, %merson L/*lton,
/r*lson e 2arlos Mi$uel L7odri$o MendesQ 3aulo @unes e -ardel Lé /lcino, é /fonso.

())?
5anrlei LMurilo, /rce, 7ivarola L4uciano, Mauro &alvão e 7o$er L/ndré SilvaQ 5inho L'tadlio, -oão /ntónio, &oiano, %merson L/r*lson
e 2arlos Mi$uelQ 3aulo @unes L5#air e é /lcino L7odri$o &ral, Marcos 3aulo, 5auri.

())>
5anrlei LMurilo, 5ário LTalmir, 7ivarola LScheidt, 7odri$o 2osta LUder e 7o$erQ abinho L&avião, 'tac*lio, 5#air, &oiano LPin$a,
)eto L7obert, 7odri$o Mendes e 3alhinhaQ 7onaldinho Lé /lcino e &uilherme L2lóvis, 4oco /breu, 5anlaba Mendi.

()))
5anrlei LS*lvio, Scheidt L7onaldo /lves, %merson L/le! Xavier e UderC Ataqui Lé 2arlos, abinho L5#air, 2apitão L&oiano, &avião,
7onaldinho L2leison, /r*lson e 7o$erQ Macedo L7odri$o &ral e /$naldo LMa$rão, é /fonso.

=;;;
5anrlei, /nderson 4ima LAtaqui, 3atr*cio, Marinho, Mauro &alvão L@ené e 7o$er LSandro @evesQ /strada L3ansera. %duardo 2osta,
%dinho L&avião 7onaldinho Lábio )aiano, -é e inho L7odri$o MendesQ 3aulo @unes L1arle6 e /mato L/dão, 7odri$o &ral.

=OO(

5anrlei, Mauro &alvão, Marinho L/le! Xavier e 7o$erQ /nderson 4ima LAtaqui, %duardo 2osta L/nderson 3ol$a, &avião, %merson, Pin$a
Lábio )aiano, inho L7odri$o abri e 7ubens 2ardosoQ 1arle6 L4ui( Mário e Marcelinho 3ara*ba L7enato Martins, 7odri$o Mendes.

=;;=

5anrlei, /nderson 3ol$a, /driano L2laudiomiro e 7o$erQ /nderson 4ima L3edrinho, &avião L%merson, Pin$a Lábio )aiano, )runo,
inho L7odri$o abri e &ilberto L7obertoQ 4ui( Mário e 7odri$o Mendes L/driano 2huva, &uilherme.

=;;8
5anrlei L%duardo Martini, /nderson 3ol$a, 2laudiomiro e 7o$erQ /nderson 4ima, &avião L%merson, Pin$a, )runo e &ilberto, 2hristian e
2láudio 3itbull.
 

=;;/
' &rémio licenciouse e não #o$ou durante esta temporada.

LA44 DA 4AMA: A 5A4NADA DA ?AMA @RU5UTU

Eis  !is" #$ "%#%s %s &%!'"$s #$ (%'"$')*% # +is",-i #% G-./i%:


/u$usto WocV, 'sRaldo Siebel, 3. Kuch, %. &e6er, &. )lacV, Martau, 4udRi$, 2aris, )ento, Xiru,
MohrdiecV, 2hiquinho, Kanssen, 5orival, 3avani, /ssump"ão, &ertum, Mene$hini, Macarroni,
Pelêmaco, /dão 4ima, 3itoco, Mab*lia, Keitor, -ame$ão, -or$e, 7enato, /ndré, -osé Mi$uel, Tin*cius,
 @iedsber$, Mário, Ku$o, )e!i$a, 'rl6, Sarará, i$ueiró, Ulton, 2alvet, @adir, 2leo, -adir, Avo, 2arlos /lberto,
2hamaco, 'rcina, 2acau, -erDnimo, Titor Ku$o, Taldere(, 2ardaccio, )onami$o, 2hina, )atista, -oão
/ntónio, -andir, 3ino, -amir, /ndré Tieira, 5inho, &oiano, 'tac*lio, abinho, &avião, 2apitão, /strada,
3ansera, %duardo 2osta, /nderson 3ol$a, %merson, /maral, Marcos 3aulo, /nderson 3ol$a, 2léber e 2oicito.

/ todos eles Lcom três ou quatro e!ce"Jes, nosso mais sincero Muito obri$ado+

AGRADE53MENTO'

%ste livro não teria sido feito sem a a#uda e o incentivo de um monte de $ente  ::,< por cento deles
$remistas, é claro. ' primeiro e maior a$radecimento deve ir para meu compadre Marcelo eria, autor de
 4mortal -ri$olor, uma bela bio$rafia do &rémio, e que também foi um dedicado colaborador aqui, pois
redi$iu o te!tobase sobre as maiores vitórias do &rémioC os campeonatos brasileiros de 9:<9 e 9::?, as
4ibertadores de 9:<> e 9::; e o Mundial de 9:<>, bem como preparou a cronolo$ia dos 9=9 anos de $lória
e or$ani(ou todas as escala"Jes do tricolor. Pambém foi dele a ideia de descrever em minBcias de detalhes os
$ois que asse$uraram aquelas imensas conquistas. Marcelo eria, meu velho companheiro de estádio
'l*mpico, thans a lotl 
5evo a$radecer também à querida dona %ma 2oelho de Sou(a, diretora, quase dona, do fabuloso
Memorial do &rémio que, com a inestimável a#uda de 7aimundo )ordin e Kélio 5evinar, vem a#udando
a manter há quase vinte anos, lustrando um trofeu atrás do outro. 2om o aval da dire"ão do clube, o
Memorial do &rémio cedeu $raciosamente de(enas de fotos utili(adas neste livro, reprodu(idas com
dedica"ão e fervor por 5udu 2ontursi e ernando )ueno, meu querido irmão, aos quais também a$rade"o 
embora, mais do que um trabalho, tenha sido um pra(er, pois ambos são tricolores de cora"ão. / sin$ela e
tricolor 7aquel /lberti, da /dams 5esi$n, fe( a dia$rama"ão e a editora"ão eletrDnica como se
disputasse #o$o decisivo e 7enato 5eitos revisou o te!to. &remistão como é, deu até uns palpites
conceituais.
3or fim, a$rade"o também a 7odri$o Pei!eira  tricolor que, infeli(mente Lpara ele, escolheu as cores
 

erradas, mas me convidou e me convenceu a escrever este livro, pois de outro modo eu continuaria envolvido
apenas com história do )rasil e #amais mer$ulharia nesta $loriosa epopeia. @ão dei!arei de a$radecer ainda à
minha linda filha 4*(ia, que nasceu no ano do bicampeonato brasileiro  não havia nem tirado as fraldas e #á
tinha ta"a no armário+ , e à mãe dela e minha mulher, 4Bcia, a primeira $remista com a qual casei.
%, é claro, com profunda pai!ão, quero, mais do que meramente a$radecer, prestar minha eterna
reverência a 2ândido 5ias, /u$usto WocV e aos homens que com eles formaram o $rupinho da bola,
ori$em de um dos maiores times da história do mundo  e certamente o maior desta parte do mundo
, o &rémio ootball 3orto /le$rense, uma das maiores ale$rias de minhas várias encarna"Jes terrenas
Lincluindo aquela na qual Toguei o!tai!o, em terras maias... % meu time $anhou+
7adiante e imortal &rémio, obri$ado por e!istir+

@3@43OGRA3A

/&'SPA@K', &ilberto, Ken$er ou morrer ! "utebol, geoolBtB$a e


identidade na$ional. 7io de -aneiroC Mauad %ditora, G==G /\--A@', 7ubim,  "utebol, uma ai)o
na$ional. 7io de -aneiroC ahar,
G==G
)E%@', %duardo et alli, 5au rasil. São 3auloC /!isMundi, G==G )EM)%4, 'tto 3edro,  3a 3ogBsti$a dei
 futbol a$tu al. MadridC San(
Martine(, 9:<G
2/77A4, )onifácio dei, El Ga*$ho. )uenos /iresC %mecé %ditores. 9:H< 2US/7, &uilhermino,  istDria do io
Grande do 6ul ! 5erBodo $olonial.
São 3auloC %ditora do )rasil S]/, 9:H= %7A/, Marcelo,  4mortal -ri$olor ! Grémio, 1&& anos de glDria.
3orto
/le$reC 4`3M, G==> 7/@2', Sér$io da 2osta, Guia istDri$o de 5orto legre. 3orto /le$reC
%ditora da Eniversidade ederal do 7io &rande do Sul, 9:<< 4'T%, -oseph 4., O egionalismo Ga*$ho.
São 3auloC 3erspectiva, 9:H; @'7'@A/, @ico e 2'AM)7/, 5avid,  istDria dos Grenais. 3orto
/le$reC /rtes e 'f*cios, 9::I '4AT%A7/, 2lóvis Silveira de,  5orto legre> a $idade e sua forma()o. 3orto
/le$reC &ráfica e %ditora @orma, 9:<; 'SP%7M/@@, 7u6 Ca*os,té a é nDs iremos. 3orto /le$reC
Mercado
/be rto , G=== 'SP%7M/@@, 7u6 2arlos, "eli)o> a alma do enta. 3orto /le$reC K
3ublica"Jes, G==G
3%7%A7/, 4eonardo /fonso de Miranda,  "ootballmania ! ma histDria
 so$ial do futebol no io de 0aneiro ?1:&2!1:@<V. 7io de -aneiroC @ova
ronteira, G=== 3A7%S, %dison, Grémio "oot!all 5orto legrense ! 5assado e resente de
um grande $lube. 3orto /le$reC 5icorel, 9:?H 7'57A&E%S,  3uidnio, "oi assim. 3orto /le$reC 4`3M,
9::; S/@P'S @%P', -osé Moraes dos, Kis)o do Togo> rimDrdios do futebol no
 rasil. São 3auloC 2osac ` @aif6, G==G P'4%5', 4ui( Kenriqu e de,  9o a Bs do futebol. 7io de
-aneiroC
ahar, G===

P$-i,#i(%s:
 

 evista do Grémio, 3orto /le$re 7evista Gool, 3orto /le$re 7evista 5la$ar, São 3auloC
%ditora /bril -ornal Correio do 5ovo, 3orto /le$re -ornal O Estado de 6. 5aulo, São
3aulo -ornal "olha de 6. 5aulo, São 3aulo -ornal O Globo, 7io de -aneiro -ornal  Wero
 ora, 3orto /le$re

C\D4-O6  D26  4/2GE96 >
 5Mginas F e ,1@,1:, 22, 2<,@&,@',@F,@<, ;&, ;;, ;<, '1, '2, F1, FF, &, 2, F, <1, <;, <:, :&, :2, :@, :', :F,1&&,1&1,1&, no,
111,11;,11F,12&,121,1@@,1@;,1@,1@<,1;1,1;,1;<,1'<,1':, 1F;,1F<,11,1;,1: e 1:&> /emorial do Grémio, rerodu(Ies Dudu Contursi
 5Mginas 1F, 2&,1&@,1&',12<,1;;,1'2,1'@,1';,1'',1'F,1F1,1F2,1FF,1,1<F,1:1,1:@,1:;,  0 :'i S:. 1:<, 2&1, 2&:, 211, 21@, 21:, 22@> CD4 !
Centro de Do$umenta()o e 4nforma(Ies !0ornal Wero ora ! Gruo 6 
 5Mgina 1@ ! ta#ue ingl=s H trin$heira alem)> imagem reroduzida do livro Tencer ou Morrer, de Gilberto gostino ?editora /auadA
 5Mgina 2F ! /aa do 6ul do rasil> dams Design
 5Mgina 2< ! 5orto legre antiga> rerodu()o do livro &uia Kistórico das 7uas de 3orto /le$re, de 6érgio da Costa "ran$o ?editora da "G6A
 5Mgina @' ! ugusto omulo> ar#uivo da famBlia
 5Mgina @< ! enrL David -horeau> -horeau 6o$ietL, Con$ord, /assa$husetts
 5Mgina ;& ! R3ombaR da /ostardeiro> rerodu()o do livro /té a pé nós iremos, de uL Carlos Ostermann ?editora /er$ado bertoA
 5Mgina F ! Ga*$hos mar$ando gado> desenho de 5er$L 3au reroduzido do livro Pipos e/spectos do )rasil, editado elo 4GE ?1:'FA
 5Mgina 12& ! Qashington 3uiz arte ara o eBlio> /useu da e*bli$a ?0A 5Mgina 121 !Kargas a $avalo> leo de 6$heffell, /useu
da e*bli$a ?0A
 5Mgina 1@; ! 5rimeira $omunh)o de 3uiz "elie> a$ervo da famBlia 6$olari, rerodu()o de Dudu Contursi
 5Mgina 1F< ! Eduardo ueno em 1:> ar#uivo da famBlia
 5Mgina 1:& ! 6imn olBvar> rerodu()o do livro %l 4ibertador, de ngel st*rias ?editora 5uma, uenos ires, 1<

 E6-E 34KO "O4 CO/5O6-O E/ KE9DE-- 34G- E 4/5E66O 5E3


GZ"4C /NG5 6OE 55E3 -O5 549- 'g D KO-O9-49. "O/ 
 5ODW4DO6 @&&& E]E/53E6 5  ED4OO E/ /7O DE 2&&'.

Você também pode gostar