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Teste de avaliação – 11.

o Ano
Versão 1

Nome _____________________________________________ Ano ________ Turma _________ N.o _______

Grupo I
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

PARTE A

CENA XIV
MADALENA, JORGE, ROMEIRO
Romeiro – Hoje há de ser. Há três dias que não durmo nem descanso, nem pousei esta cabeça, nem
pararam estes pés dia nem noite, para chegar aqui hoje, para vos dar meu recado… e morrer
depois… ainda que morresse depois; porque jurei… faz hoje um ano – quando me libertaram, dei
juramento sobre a pedra santa do Sepulcro de Cristo…
5 Madalena – Pois éreis cativo em Jerusalém?
Romeiro – Era: não vos disse que vivi lá vinte anos?
Madalena – Sim, mas…
Romeiro – Mas o juramento que dei foi que, antes de um ano cumprido, estaria diante de vós e vos
daria da parte de quem me mandou…
10 Madalena (aterrada) – E quem vos mandou, homem?
Romeiro – Um homem foi, – e um honrado homem… a quem unicamente devi a liberdade… a
ninguém mais. Jurei fazer-lhe a vontade, e vim.
Madalena – Como se chama?
Romeiro – O seu nome, nem o da sua gente nunca o disse a ninguém no cativeiro.
15 Madalena – Mas enfim, dizei vós…
Romeiro – As suas palavras trago-as escritas no coração com as lágrimas de sangue que lhe vi chorar,
que muitas vezes me caíram nestas mãos, que me correram por estas faces. Ninguém o consolava
senão eu… e Deus! Vede se me esqueceriam as suas palavras.
Jorge – Homem, acabai!
20 Romeiro – Agora acabo: sofrei, que ele também sofreu muito. – Aqui estão as suas palavras: «Ide a
D. Madalena de Vilhena, e dizei-lhe que um homem que muito bem lhe quis… aqui está vivo… por
seu mal!... e daqui não pôde sair nem mandar-lhe novas suas de há vinte anos que o trouxeram
cativo».
Madalena (na maior ansiedade) – Deus tenha misericórdia de mim! – E esse homem, esse homem…
25 Jesus! esse homem era… esse homem tinha sido… levaram-no aí de donde?... de África?
Romeiro – Levaram.
Madalena – Cativo?...
Romeiro – Sim.
Madalena – Português?... cativo da batalha de?...
30 Romeiro – De Alcácer Quibir.
Madalena (espavorida) – Meu Deus, meu Deus! Que se não abre a terra debaixo dos meus pés?...
que não caem estas paredes, que me não sepultam já aqui?...
Jorge – Calai-vos, D. Madalena: misericórdia de Deus é infinita; esperai. Eu duvido, eu não creio…
estas não são coisas para se crerem de leve. (Reflete, e logo como por uma ideia que lhe acudiu de
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35 repente) Oh! Inspiração divina… (chegando ao romeiro) Conheceis bem esse homem, romeiro, não é
assim?
Romeiro – Como a mim mesmo.
Jorge – Se o víreis… ainda que fora noutros trajos… com menos anos, – pintado, digamos – conhecê-
lo-eis?
40 Romeiro – Como se me visse a mim mesmo num espelho.
Jorge – Procurai nesses retratos, e dizei-me se algum deles pode ser.
Romeiro (sem procurar, e apontando logo para o retrato de D. João) – É aquele.
Madalena (com um grito espantoso) – Minha filha, minha filha, minha filha!... (em tom cavo e
profundo) Estou… estás… perdidas, desonradas… infames! (com outro grito do coração) Oh minha
45 filha, minha filha!... (Foge espavorida e neste gritar.)

CENA XV
JORGE e o ROMEIRO, que seguiu MADALENA com os olhos, e está alçado no meio da casa, com
aspeto severo e tremendo.
Jorge – Romeiro, Romeiro! quem és tu?
Romeiro (apontando com o bordão para o retrato de D. João de Portugal) – Ninguém.
(Frei Jorge cai prostrado no chão, com os braços estendidos diante da tribuna. O pano desce
lentamente.)
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, Lisboa, Editorial Comunicação, 1994, pp. 175-185.

1. Analisa a evolução do estado de espírito de D. Madalena, considerando as didascálias.

2. Comprova que a identidade do Romeiro pode ser confirmada através das respostas que dá a Frei
Jorge.

3. Seleciona a opção de resposta adequada para completar as afirmações abaixo apresentadas.


O uso do vocábulo «Ninguém» (linha 47) salienta o modo como o Romeiro se sente, uma
vez que se _______, enquanto pessoa com identidade própria, ao verificar que a sua família
construiu uma nova vida, _______.

(A) anula … ciente da sua existência


(B) anula … a partir da sua «morte»
(C) afirma … ciente da sua existência
(D) afirma … a partir da sua «morte»

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PARTE B

Vindo pois, irmãos, às vossas virtudes, que são as que só podem dar o verdadeiro louvor; a
primeira, que se me oferece aos olhos hoje, é aquela obediência, com que chamados acudistes todos
pela honra de vosso Criador, e Senhor, e aquela ordem, quietação, e atenção, com que ouvistes a
palavra de Deus da boca de seus servo António. Oh grande louvor verdadeiramente para os peixes, e
5 grande afronta, e confusão para os homens! Os homens perseguindo a António, querendo-o lançar
da terra, e ainda do mundo, se pudessem, porque lhe repreendia seus vícios, porque lhe não queria
falar à vontade, e condescender com seus erros; e no mesmo tempo os peixes em inumerável
concurso acudindo à sua voz, atentos, e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio, e com
sinais de admiração, e assenso1 (como se tivessem entendimento) o que não entendiam. Quem
10 olhasse neste passo para o mar, e para a terra, e visse na terra os homens tão furiosos, e obstinados
e no mar os peixes tão quietos, e tão devotos, que havia de dizer? Poderia cuidar que os peixes
irracionais se tinham convertido em homens, e os homens não em peixes, mas em feras. Aos homens
deu Deus uso de razão, e não aos peixes: mas neste caso os homens tinham a razão sem o uso, e os
peixes o uso sem a razão. Muito louvor mereceis, peixes, por este respeito, e devoção, que tivestes
15 aos Pregadores da palavra de Deus; e tanto mais quanto não foi só esta a vez, em que assim o
fizestes. Ia Jonas2, Pregador do mesmo Deus, embarcado em um navio, quando se levantou aquela
grande tempestade; e como o trataram os homens, como o trataram os peixes? Os homens
lançaram-no ao mar a ser comido dos peixes, e o peixe que o comeu, levou-o às praias de Nínive,
para que lá pregasse, e salvasse aqueles homens. É possível que os peixes ajudam à salvação dos
20 homens, e os homens lançam ao mar os ministros da salvação? Vede, peixes, e não vos venha
vanglória3, quanto melhores sois que os homens. Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao
mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra.
Padre António Vieira: Obra Completa (dir. de José Eduardo Franco e Pedro Calafate), tomo II, volume X,
Sermões Hagiográficos I, Lisboa, Círculo de Leitores, 2014, pp. 140-141.

NOTAS
1
assenso – ato ou efeito de assentir; concordância.
2
Jonas – profeta chamado por Deus para viajar até Nínive para pregar entre os assírios.
3
vanglória – convencimento; vaidade.

4. Relaciona a passagem da vida de Santo António com a intencionalidade crítica de Vieira.

5. Explicita a relação que se estabelece entre os homens e os peixes, considerando a repetição da


palavra «entranhas», nas linhas 21 e 22.

6. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.

Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número
que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

Neste excerto, Vieira concretiza os objetivos da oratória: docere, através do exemplo de Jonas,
com o qual a) ; delectare, ou seja, agradar e captar o interesse e a atenção do auditório,
utilizando a b) ; movere, isto é, persuadir o auditório, levando-o a alterar o seu
comportamento, com, por exemplo, o recurso a c) .
a) b) c)
1. apela às emoções do auditório 1. estruturas paralelísticas 1. interrogações retóricas
2. pretende transmitir um 2. frases imperativas 2. interpelações ao auditório
ensinamento 3. metáforas e comparações 3. repreensões diretas
3. evita causar aborrecimento ao
auditório

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PARTE C

7. Escreve uma breve exposição sobre a dimensão patriótica e a sua expressão simbólica em Frei
Luís de Sousa, de Almeida Garrett.
A tua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;

• um desenvolvimento no qual explicites dois momentos da obra que evidenciem esta temática;

• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

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Grupo II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

Lê o texto.

Minha primeira leitura de Frei Luís de Sousa


A minha primeira leitura de Frei Luís de Sousa foi marcada toda ela pela desobediência, a
perplexidade e o sobressalto: tinha eu dez anos de idade, maravilhada como sempre frente aos
tantos livros nas estantes do escritório do meu pai, indiferente à ordem que ele me dera — não ler
senão aquilo que me ia permitindo.
5 De pé num pequeno banco de vime entrançado, olhar subido e atento, trepando pelas lombadas
que ia escolhendo ao acaso, acabei por me deter diante de um autor devido à estranheza do seu
nome que, aliás, nem sequer sabia pronunciar: Garrett, Almeida Garrett…
Agarrei naquele volume estreito e alto, desci-o ao peito, ao qual o apertei, e fui sentar-me no
chão, perto da janela, escondida pelo cortinado corrido até metade. E então uma estranha aventura
10 começou, numa leitura ora corrida ora indecisa, impaciente e estupefacta, diante do tamanho
excesso e da tanta conturbação de sentimentos, medos e paixões que não conseguia entender na
totalidade, embora, simultaneamente, todo esse fogo insano me estonteasse, me fascinasse. Assim,
ia deslizando pelas suas páginas, saltando algumas das falas das suas personagens, correndo nas
entrelinhas da primeira peça de teatro que lia, mais atraída pelos medos e terrores de Madalena de
15 Vilhena do que pelas superstições do escudeiro Telmo Pais ou pela banalidade gloriosa e heroica de
Manuel de Sousa Coutinho; até que, num repente quase inexplicável, Maria surgiu em cena, débil e
febril, olhos de um azul desmaiado, mãos e braços cheios de flores, reclamando um livro que lhe
havia sido prometido: narrativa «da ilha encoberta de onde el-rei D. Sebastião, que não morreu e há
de vir, num dia de névoa muito cerrada».
20 Com Maria apareceu também a luz que, num súbito relâmpago, inundou todo o texto de Garrett
deixando a descoberto os secretos recantos de sombridade, premonições e fatalidades, que, apesar
de ainda me escaparem enquanto metáforas belíssimas, encobrimentos e contradições do ser
humano, já me pareciam evidentes na qualidade de antevisões de perdas e tragédias.
E, como se num passo de mágica, dei conta de que, diante de Maria, ia descobrindo o meu
25 próprio imaginário, numa transferência de emoções, susto e recuo. Então, passei a seguir
especialmente as suas palavras, assim como tudo aquilo que as outras personagens diziam sobre ela,
apercebendo-me da ameaçadora silhueta do terror, que se foi adensando até à sua morte, sem
nenhuma misericórdia.
Hoje, sei também do maravilhamento eterno que é a literatura, pois só a escrita será capaz
30 destes matizes, destas tessituras de deslumbramento e queda. Ainda me recordo como, já dada na
altura a devaneios e sonhos, me equilibrei a custo no cimo das ondas encapeladas de todo o
temporal desfeito de Frei Luís de Sousa, obra que, quase dois séculos depois, se mantém imensa.
Maria Teresa Horta, «Minha primeira leitura de Frei Luís de Sousa»,
In Mensagens 11, 2016.

1. A autora confessa que, quando leu pela primeira vez Frei Luís de Sousa,
(A) alterou a ordem dos livros nas estantes do escritório do pai.
(B) desobedeceu ao pai, ao ler um livro que ele não tinha assinalado.
(C) o fez por uma ordem distinta daquela que o pai indicara.
(D) ficou fascinada com a ordem dos livros na estante do escritório.

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2. O fascínio dessa primeira leitura deveu-se, num primeiro momento,
(A) à estranheza do nome do autor que não sabia pronunciar.
(B) ao facto de não entender o que as personagens sentiam.
(C) à imensa perturbação interior das personagens.
(D) aos medos e paixões que toda a agitação lhe provocou.

3. Maria Teresa Horta, apesar de ter somente dez anos,


(A) compreendeu algumas informações implícitas.
(B) conseguiu ler integralmente Frei Luís de Sousa.
(C) apreendeu todas as passagens da obra.
(D) procedeu a uma leitura literal de Frei Luís de Sousa.

4. Com o surgimento de Maria em cena, a autora


(A) teve dificuldade em apreender o comportamento das demais personagens.
(B) compreendeu as premonições e medos das restantes personagens.
(C) teve dificuldades na decifração da conduta misteriosa das personagens.
(D) percebeu as metáforas utilizadas nas falas das restantes personagens.

5. Maria exerceu um claro deslumbramento naquela criança de dez anos, visível


(A) na reserva perante o que lhe ia acontecendo.
(B) no distanciamento emocional ocorrido.
(C) na similitude das vivências de ambas.
(D) na transposição de sentimentos e emoções.

6. No contexto em que ocorrem, as palavras sublinhadas em «Hoje, sei também do maravilhamento


eterno que é a literatura, pois só a escrita será capaz destes matizes» (linhas 29-30) contribuem para
a coesão
(A) temporal.
(B) frásica.
(C) interfrásica.
(D) lexical.

7. Em «Há três dias que não durmo nem descanso, nem pousei esta cabeça, nem pararam estes pés
dia nem noite, para chegar aqui hoje» (Grupo I, Parte A, linhas 1-2), as palavras sublinhadas são,
respetivamente,
(A) deíticos espaciais e deítico temporal.
(B) deíticos pessoais e deítico temporal.
(C) deíticos espaciais e deítico pessoal.
(D) deíticos temporais e deítico espacial.

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Grupo III
«Hoje, sei também do maravilhamento eterno que é a literatura, pois só a escrita será capaz
destes matizes, destas tessituras de deslumbramento e queda.»
Maria Teresa Horta, «Minha primeira leitura de Frei Luís de Sousa»,
in Mensagens 11, 2016

Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas
e cinquenta palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre a afirmação de Maria Teresa Horta
sobre a literatura.

No teu texto:
– explicita, de forma clara e pertinente, o teu ponto de vista, fundamentando-o em dois
argumentos, cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utiliza um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como
uma única palavra, independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2020/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre duzentas e trezentas e cinquenta palavras
–, há que atender ao seguinte:
– um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto
produzido;
– um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

FIM

COTAÇÕES
Item
Grupo
Cotação (em pontos)

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I
16 16 12 16 16 12 16 104

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II
8 8 8 8 8 8 8 56

III Item único


40
TOTAL 200

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