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o Ano
Versão 1
Grupo I
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.
PARTE A
CENA XIV
MADALENA, JORGE, ROMEIRO
Romeiro – Hoje há de ser. Há três dias que não durmo nem descanso, nem pousei esta cabeça, nem
pararam estes pés dia nem noite, para chegar aqui hoje, para vos dar meu recado… e morrer
depois… ainda que morresse depois; porque jurei… faz hoje um ano – quando me libertaram, dei
juramento sobre a pedra santa do Sepulcro de Cristo…
5 Madalena – Pois éreis cativo em Jerusalém?
Romeiro – Era: não vos disse que vivi lá vinte anos?
Madalena – Sim, mas…
Romeiro – Mas o juramento que dei foi que, antes de um ano cumprido, estaria diante de vós e vos
daria da parte de quem me mandou…
10 Madalena (aterrada) – E quem vos mandou, homem?
Romeiro – Um homem foi, – e um honrado homem… a quem unicamente devi a liberdade… a
ninguém mais. Jurei fazer-lhe a vontade, e vim.
Madalena – Como se chama?
Romeiro – O seu nome, nem o da sua gente nunca o disse a ninguém no cativeiro.
15 Madalena – Mas enfim, dizei vós…
Romeiro – As suas palavras trago-as escritas no coração com as lágrimas de sangue que lhe vi chorar,
que muitas vezes me caíram nestas mãos, que me correram por estas faces. Ninguém o consolava
senão eu… e Deus! Vede se me esqueceriam as suas palavras.
Jorge – Homem, acabai!
20 Romeiro – Agora acabo: sofrei, que ele também sofreu muito. – Aqui estão as suas palavras: «Ide a
D. Madalena de Vilhena, e dizei-lhe que um homem que muito bem lhe quis… aqui está vivo… por
seu mal!... e daqui não pôde sair nem mandar-lhe novas suas de há vinte anos que o trouxeram
cativo».
Madalena (na maior ansiedade) – Deus tenha misericórdia de mim! – E esse homem, esse homem…
25 Jesus! esse homem era… esse homem tinha sido… levaram-no aí de donde?... de África?
Romeiro – Levaram.
Madalena – Cativo?...
Romeiro – Sim.
Madalena – Português?... cativo da batalha de?...
30 Romeiro – De Alcácer Quibir.
Madalena (espavorida) – Meu Deus, meu Deus! Que se não abre a terra debaixo dos meus pés?...
que não caem estas paredes, que me não sepultam já aqui?...
Jorge – Calai-vos, D. Madalena: misericórdia de Deus é infinita; esperai. Eu duvido, eu não creio…
estas não são coisas para se crerem de leve. (Reflete, e logo como por uma ideia que lhe acudiu de
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35 repente) Oh! Inspiração divina… (chegando ao romeiro) Conheceis bem esse homem, romeiro, não é
assim?
Romeiro – Como a mim mesmo.
Jorge – Se o víreis… ainda que fora noutros trajos… com menos anos, – pintado, digamos – conhecê-
lo-eis?
40 Romeiro – Como se me visse a mim mesmo num espelho.
Jorge – Procurai nesses retratos, e dizei-me se algum deles pode ser.
Romeiro (sem procurar, e apontando logo para o retrato de D. João) – É aquele.
Madalena (com um grito espantoso) – Minha filha, minha filha, minha filha!... (em tom cavo e
profundo) Estou… estás… perdidas, desonradas… infames! (com outro grito do coração) Oh minha
45 filha, minha filha!... (Foge espavorida e neste gritar.)
CENA XV
JORGE e o ROMEIRO, que seguiu MADALENA com os olhos, e está alçado no meio da casa, com
aspeto severo e tremendo.
Jorge – Romeiro, Romeiro! quem és tu?
Romeiro (apontando com o bordão para o retrato de D. João de Portugal) – Ninguém.
(Frei Jorge cai prostrado no chão, com os braços estendidos diante da tribuna. O pano desce
lentamente.)
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, Lisboa, Editorial Comunicação, 1994, pp. 175-185.
2. Comprova que a identidade do Romeiro pode ser confirmada através das respostas que dá a Frei
Jorge.
Vindo pois, irmãos, às vossas virtudes, que são as que só podem dar o verdadeiro louvor; a
primeira, que se me oferece aos olhos hoje, é aquela obediência, com que chamados acudistes todos
pela honra de vosso Criador, e Senhor, e aquela ordem, quietação, e atenção, com que ouvistes a
palavra de Deus da boca de seus servo António. Oh grande louvor verdadeiramente para os peixes, e
5 grande afronta, e confusão para os homens! Os homens perseguindo a António, querendo-o lançar
da terra, e ainda do mundo, se pudessem, porque lhe repreendia seus vícios, porque lhe não queria
falar à vontade, e condescender com seus erros; e no mesmo tempo os peixes em inumerável
concurso acudindo à sua voz, atentos, e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio, e com
sinais de admiração, e assenso1 (como se tivessem entendimento) o que não entendiam. Quem
10 olhasse neste passo para o mar, e para a terra, e visse na terra os homens tão furiosos, e obstinados
e no mar os peixes tão quietos, e tão devotos, que havia de dizer? Poderia cuidar que os peixes
irracionais se tinham convertido em homens, e os homens não em peixes, mas em feras. Aos homens
deu Deus uso de razão, e não aos peixes: mas neste caso os homens tinham a razão sem o uso, e os
peixes o uso sem a razão. Muito louvor mereceis, peixes, por este respeito, e devoção, que tivestes
15 aos Pregadores da palavra de Deus; e tanto mais quanto não foi só esta a vez, em que assim o
fizestes. Ia Jonas2, Pregador do mesmo Deus, embarcado em um navio, quando se levantou aquela
grande tempestade; e como o trataram os homens, como o trataram os peixes? Os homens
lançaram-no ao mar a ser comido dos peixes, e o peixe que o comeu, levou-o às praias de Nínive,
para que lá pregasse, e salvasse aqueles homens. É possível que os peixes ajudam à salvação dos
20 homens, e os homens lançam ao mar os ministros da salvação? Vede, peixes, e não vos venha
vanglória3, quanto melhores sois que os homens. Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao
mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra.
Padre António Vieira: Obra Completa (dir. de José Eduardo Franco e Pedro Calafate), tomo II, volume X,
Sermões Hagiográficos I, Lisboa, Círculo de Leitores, 2014, pp. 140-141.
NOTAS
1
assenso – ato ou efeito de assentir; concordância.
2
Jonas – profeta chamado por Deus para viajar até Nínive para pregar entre os assírios.
3
vanglória – convencimento; vaidade.
Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número
que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.
Neste excerto, Vieira concretiza os objetivos da oratória: docere, através do exemplo de Jonas,
com o qual a) ; delectare, ou seja, agradar e captar o interesse e a atenção do auditório,
utilizando a b) ; movere, isto é, persuadir o auditório, levando-o a alterar o seu
comportamento, com, por exemplo, o recurso a c) .
a) b) c)
1. apela às emoções do auditório 1. estruturas paralelísticas 1. interrogações retóricas
2. pretende transmitir um 2. frases imperativas 2. interpelações ao auditório
ensinamento 3. metáforas e comparações 3. repreensões diretas
3. evita causar aborrecimento ao
auditório
7. Escreve uma breve exposição sobre a dimensão patriótica e a sua expressão simbólica em Frei
Luís de Sousa, de Almeida Garrett.
A tua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicites dois momentos da obra que evidenciem esta temática;
Lê o texto.
1. A autora confessa que, quando leu pela primeira vez Frei Luís de Sousa,
(A) alterou a ordem dos livros nas estantes do escritório do pai.
(B) desobedeceu ao pai, ao ler um livro que ele não tinha assinalado.
(C) o fez por uma ordem distinta daquela que o pai indicara.
(D) ficou fascinada com a ordem dos livros na estante do escritório.
7. Em «Há três dias que não durmo nem descanso, nem pousei esta cabeça, nem pararam estes pés
dia nem noite, para chegar aqui hoje» (Grupo I, Parte A, linhas 1-2), as palavras sublinhadas são,
respetivamente,
(A) deíticos espaciais e deítico temporal.
(B) deíticos pessoais e deítico temporal.
(C) deíticos espaciais e deítico pessoal.
(D) deíticos temporais e deítico espacial.
Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas
e cinquenta palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre a afirmação de Maria Teresa Horta
sobre a literatura.
No teu texto:
– explicita, de forma clara e pertinente, o teu ponto de vista, fundamentando-o em dois
argumentos, cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utiliza um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como
uma única palavra, independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2020/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre duzentas e trezentas e cinquenta palavras
–, há que atender ao seguinte:
– um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto
produzido;
– um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
FIM
COTAÇÕES
Item
Grupo
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I
16 16 12 16 16 12 16 104
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II
8 8 8 8 8 8 8 56