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12/11/2020

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OBRA: Romanceiro da Inconfidência
AUTOR: Cecília Meireles
Romanceiro da ANO DE PUBLICAÇÃO: 1953
GÊNERO LITERÁRIO: O livro apresenta caráter épico-lírico, ou seja, caracteriza-se, ao
Inconfidência mesmo tempo, pela presença da reflexão e pelo conteúdo narrativo apoiado em fatos
históricos. Ao investigarmos sua constitutividade de gênero, levamos em conta sua herança
medieval, mas, sobretudo, os aspectos modernos que a constituem, no arranjo da forma e
também na expressão de conteúdo.
Cecília Meireles MOVIMENTO LITERÁRIO: a data de publicação do livro, o ano de 1953, permite
associá-lo ao Terceiro Tempo Modernista (1945-70). Embora Cecília Meireles seja,
tradicionalmente, inserida ao Segundo Tempo Modernista. A retomada reflexiva do passado
brasileiro e o experimentalismo (uso de várias formas métricas, mistura de gêneros e a
quebra da noção épica) usado em o Romanceiro nos permite associar o texto ao Terceiro
HENRIQUE LANDIM / FUVEST 2021
Tempo Modernista, movimento de Guimarães Rosa e Clarice Lispector, por exemplo.

ROMPIMENTO DA BARREIRA DE GÊNEROS: A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO:


Os poemas a que Cecília Meireles denominou “Romances”, segundo Goldstein (1998), O Romanceiro é composto por
são os que reconstroem a história de Ouro Preto e do movimento inconfidente e, por
noventa e seis textos, divididos em
isso tendem para o gênero épico-narrativo, embora também haja a presença do
gênero lírico, encontrado nas reflexões, além do caráter dramático, presente no
cinco “Falas”, quatro “Cenários”, uma
discurso direto das personagens. Os “Cenários” e “Falas” funcionam como uma “Imaginária serenata”, um “Retrato” e
ligação entre os romances: as últimas proporcionando pausas reflexivas, oitenta e cinco “Romances”. Os textos,
questionamentos que manifestam a postura do eu-lírico diante dos fatos; quanto aos no todo, caracterizam o local dos
primeiros, apresentam os ambientes onde se passam os fatos referidos, possibilitando acontecimentos, seus antecedentes, o
entrever não apenas os lugares da antiga Vila Rica, mas também recriação da clima emocional em Vila Rica e a
atmosfera dos acontecimentos da época. No decorrer do livro, os ambientes e as sequência dos episódios até as
atmosferas criadas nos cenários fundem-se com divagações de uma voz poética, que punições dos envolvidos no
proporciona um diálogo entre passado e presente, entre real e imaginário.
movimento contra a coroa (LAURITO,
2007; MELLO, 2009).
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O que é Romanceiro? O que é Romanceiro?


A palavra “romanceiro” tem sua origem ligada à romanização da A composição do Romanceiro da Inconfidência poderia ser comparada à de um
Península Ibérica, nos primeiros séculos do Cristianismo, quando houve mosaico ou à de uma rosácea. O livro completo – o poema longo, o conjunto de
transformações na língua latina em decorrência da assimilação dos romances – corresponderia à rosácea ou ao painel de mosaicos. As partes que o
povos conquistados pelos romanos, fazendo surgir a língua “romance”. compõem seriam as pedras do mosaico ou as pétalas da rosácea: uma unidade
No contexto literário espanhol, “romanceiro” designa um válida por si mesma, que também compõe o desenho maior. Essa arquitetura do
ajuntamento de composições de caráter épico-lírico, cujas narrativas texto torna-o dinâmico e flexível, sugerindo a possibilidade de múltiplas formas
de guerras medievais eram transmitidas oralmente, acompanhadas de de leitura e interpretação. (GOLDSTEIN, Norma Seltzer. Roteiro de leitura: Romanceiro da Inconfidência de Cecília
um instrumento musical, como forma de manter vivos os ideais de Meireles. São Paulo: Ática, 1998. 128 p. 27). Goldstein (1998) resume a definição do termo

liberdade (PELET, 2012, p.14). Uma das particularidades dos romanceiro como sendo um poema narrativo, de assunto histórico-épico com
romanceiros que explica sua escolha por Cecília Meireles pode estar na caráter popular. A autora afirma que essa forma chegou ao Brasil juntamente
ancoragem do enredo, na transmissão e recriação das realidades com seus colonizadores, reduzidas, muitas vezes, às cantigas de ninar. Muitos
humanas universais, cabíveis na ação narrativa porque demonstram a autores defendem seu prolongamento nos cantadores de cordel, que são
atualização constante de aspectos temporais da história. caracterizados pela continuação da cultura oral e cantada, e a utilização de rimas
simples, de fácil assimilação.

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O que é Romanceiro? O que é Romanceiro(Conclusão)?


Trata-se, em todo caso, de um “Romanceiro”, isto A palavra romanceiro pode ser classificada
é, de uma narrativa rimada, um romance: não é como um substantivo coletivo para romances.
um “cancioneiro”... O “Romanceiro” teria a Nesse caso, a palavra romance tem um
vantagem de ser narrativo e lírico; de entremear significado diferente do que estamos
(1)Rima toante (ou assonante): Em
a possível linguagem da época à dos nossos dias; habituados. ROMANCE é “uma composição de
que há apenas a repetição dos sons
de, não podendo reconstituir inteiramente as estrofação irregular, de extensão vocálicos.
cenas, também não as deformar inteiramente; de indeterminada, surgida por volta do século XIV,
preservar aquela autenticidade que ajusta à em versos com rima toante(1), geralmente com boca/moça;
verdade histórica o halo das tradições e da lenda 7, 5 ou 10 sílabas poéticas. Pelo fato de serem pálida/lágrima;
(MEIRELES, 2015, p. 252). (Conferência proferida na Casa dos quase sempre narrativos, o nome romance plátano/cálamo.
Contos, em Ouro Preto, por Cecília Meireles, no 1º Festival de Ouro Preto, em 20 de
abril de 1955 – grifo meu).
passou mais tarde a designar uma obra
literária em prosa, com grande variedade de
personagens.

A GÊNESIS: A GÊNESIS:
Vim com o modesto propósito jornalístico de descrever as comemorações de uma Semana Muitas vezes me perguntei por que não teria existido um escritor do século XVIII – e houve
Santa; porém os homens de outrora misturaram-se às figuras eternas dos andores(1); nas tantos, em Minas! – Que pusesse por escrito essa grandiosa e comovente história. Mas a
vozes dos cânticos e nas palavras sacras, insinuaram-se conversas do Vigário Toledo e do duzentos anos de distância, pode-se entender por que isso não aconteceu, principalmente se
Cônego Luiz Vieira; diante dos nichos de roupas arcaicas, com seus perfis inatuais e seus levarmos em conta a importância do traumatismo provocado por um episódio desses, em
nomes de outras eras. Na procissão dos vivos caminhava uma procissão de fantasmas: tempos de duros castigos, severas perseguições, lutas sangrentas pela transformação do
pelas esquinas estavam rostos obscuros de furriéis(2), carapinas(3), boticários, sacristães, mundo, em grande parte estruturada por instituições secretas, de invioláveis arquivos. [...]
costureiras, escravos – e pelas sacadas, debruçavam-se aias(4), crianças, como povo aéreo, a Também muitas vezes me perguntei se devia obedecer a esse apelo dos meus fantasmas, e
levitar sobre o peso e a densidade do cortejo que serpenteava pelas ladeiras (Conferência proferida na tomar o encargo de narrar a estranha história de que havia participado e de que me
Casa dos Contos, em Ouro Preto, por Cecília Meireles, no 1º Festival de Ouro Preto, em 20 de abril de 1955 – grifo meu).
obrigaram a participar também, tantos anos depois, de modo tão diferente, porém, com a
mesma, ou talvez maior, intensidade (Conferência proferida na Casa dos Contos, em Ouro Preto, por Cecília Meireles, no 1º
Festival de Ouro Preto, em 20 de abril de 1955 – grifo meu).
1 - Padiola portátil e ornamentada na qual se transportam ao ombro as imagens nas
procissões.
2 - Pôsto militar, que não existe atualmente, e que era inferior ao de sargento. (Cast.
furriel).
3 - O mesmo que: carpinteiros, marceneiros.
4 - Mulher que realiza serviços domésticos para alguém que faz parte da nobreza; ama.

HISTÓRIA E FICÇÃO: DIVERSAS MÉTRICAS:


Há metros curtos e longos; poemas rimados e sem rima, ou com rima assonante – o que
Assim, a primeira tentação, diante do tema insigne, e conhecendo-se tanto quanto possível,
permite maior fluidez à narrativa. Há poemas em que a rima aflora em intervalos regulares,
através dos documentos dos tempo, seus pensamentos e sua fala - seria reconstituir a
outros em que ela aparece, desaparece e reaparece, apenas quando sua presença é
tragédia na forma dramática em que foi vivida, redistribuindo a cada figura o seu verdadeiro
ardentemente necessária.(Conferência proferida na Casa dos Contos, em Ouro Preto, por Cecília Meireles, no 1º Festival de Ouro Preto,
papel. Mas se isso bastasse, os documentos oficiais com seus interrogatórios e respostas, em 20 de abril de 1955 – grifo meu).
suas cartas, sentenças e defesas realizariam a bora de arte ambicionada, e os fantasmas
Cenário Romance II Fala à antiga Vila Rica
sossegariam, satisfeito. [...] Nesse ponto descobrem-se as distâncias que separam o registro
histórico da invenção poética: o primeiro fixa determinadas verdades que servem à Pa/ssei /por/ e/ssas/ plá/ci/das/ co/linas (10) Mil/ ba/te/rias/ vão /ro/dando (7) Co/mo es/tes /rostos (4)
explicação dos fatos, a segunda, porém, anima essas verdades de uma forma emocional que
não apenas comunica fatos, mas abriga o leitor a participar intensamente deles, arrastado no e /vi /das /nu/vens,/ si/len/cio/so, o/ gado (10) so/bre /có/rre/gos /es/curos (7) dos /cha/fa/rizes, (4)
seu mecanismo de símbolos, com as mais inesperadas repercussões[...] A busca desse
pa/scer /nas/ so/li/dões/ es/me/ral/ dinas (10) a/ te/rra/ vai /sem/do a/berta (7) fo/ram /co/bertos (4)
essencial expressivo é que constitui o trabalho do artista. Ele poderá dizer a mesma verdade p. 19 p. 27 p. 69
do historiador, porém de outra maneira. Seus caminhos são outros, para atingir a
comunicação. (Conferência proferida na Casa dos Contos, em Ouro Preto, por Cecília Meireles, no 1º Festival de Ouro Preto, em 20 de abril de
1955 – grifo meu).

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EPOPEIA CLÁSSICA ROMANCEIRO ANTI-ÉPICO


DIÁLOGO ENTRE 4 TEMPOS: Normalmente, uso de versos decassílabos No livro há uma variação rítmica, métrica
e estrófica
Narrador objetivo e distanciado O livro é polifônico, temos vários pontos
de vista sobre os fatos históricos
 Época medieval Trajetória vitoriosa de um herói que O conteúdo também é anti-épico: o livro
 Momento dos fatos relatados metonimicamente representa toda uma trata de uma derrota, o “fracasso”
coletividade mineiro. Existe uma representação de
 Época da autora uma sociedade divida.
Vocação monumental dos episódios Ocorre uma preocupação com o mínimo
 Momento do leitor de hoje (agulhas, pedras, negros, mulheres)
Há uma lógica bastante coesa e Não há a lógica da causalidade entre as
organizada naquilo que é narrado. partes. O romance 2 não é uma
continuidade do 3. Caleidoscópio em
que tempos e paisagem não se sucedem
linearmente / montagem quase arbitrária

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AS PARTES DO LIVRO: RESUMO(parte 01):


 A PRIMEIRA PARTE (ROMANCE I-XIX): ilustram a época da denominada “Gênese de Ouro e Fala Inicial: criativa reflexão sobre poder e a passagem do tempo. O narrador parece se
Diamante”. São poemas que remetem a histórias ocorridas entre 1700 e 1775. Utéza (2006) encontrar no Rio de Janeiro no local onde Tiradentes foi morto.
escreve que os dramas relatados neles são resultantes de uma “maldição do ouro”, que se Cenário: há uma descrição poética de Ouro Preto e, ao mesmo tempo, notamos uma
configura negativamente para alguns, mas, para outros, é o início de uma libertação. condensação temática de quase tudo que o livro irá tocar à frente.
 A SEGUNDA PARTE (ROMANCE XX-XLVII): também precedida por indicações locativas, Romance I ou Da Revelação do Ouro: inicia o processo de descoberta de ouro do sertão
revela a marcha da conspiração, seu malogro e o pronuncio das desgraças que se há abater de Minas Gerais.
sobre os conluiados. Romance II ou Do Ouro Incansável: é iniciada a exploração do ouro e uma multidão de
 A TERCEIRA PARTE (ROMANCES XLVIII-LXIV): A morte de Cláudio Manuel da Costa e de pessoas ocupa Ouro Preto. À medida que a cidade cresce, a ambição aumenta, cadeias
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, constitui o cerne. vão subindo e algemas são feitas.
 A QUARTA PARTE (ROMANCE LXV-LXXX): abre-se com um “Cenário” evocador do ambiente Romance III ou Do Caçador Feliz: cena quase onírica acerca da descoberta do ouro, visto a
em que viveu Gonzaga, seguindo-se os passos do infortúnio que sobre o poeta se abateu.
abundância do mineral, por isso o título deste romance.
 A QUINTA PARTE (ROMANCE LXXXI-LXXXV): representa um novo plano temporal: curta,
Romance IV ou Da Donzela Assassinada: manifesta-se a voz de uma moça cuja história
incisiva, trata de D. Maria I, a mesma que vinte anos antes lavrara as sentenças de morte e
ocorreu em 1720: uma jovem rica e de família aristocrática foi assassinada pelo pai, que
degredo, a contemplar com olhos de loucura a terra onde se desenrolou o drama de
soldados, poetas e doutores.
desconfiou que ela estivesse envolvida com um rapaz de posição social inferior.

Romance V ou Da Destruição de Ouro Podre: alusão à Revolta de Felipe dos Santos. Após um Romance XI ou Do Punhal e da Flor: Ouvidor Bacelar joga uma flor a uma moça em uma igreja
mês de rebelião, o Conde Assumar dialogou com os revoltosos pedindo trégua para, em do Tejuco (atual Diamantina), fato escandaloso e sacrílego que quase resultou na morte do
seguida, persegui-los e matar o líder do movimento, Felipe dos Santos. Ouvidor pelo familiar da jovem, Felisberto.
Romance VI ou Da Transmutação dos Metais: há uma irônica alusão ao modelo de vida Romance XII ou De Nossa Senhora da Ajuda: embora esse romance esteja inserido na seção
luxuoso dos nobres lusos e espanhóis, condição sustentada com o ouro do Brasil. Neste do ciclo do diamante, ele se refere à infância de Tiradentes. Vale destacar os episódios
romance, há um episódio que em vez de mandar para Europa um caixão de ouro, foi enviado envoltos à vida da Chica da Silva são contemporâneos, isto em 1752, aos 6 anos de idade do
um caixão repleto de chumbo. mártir da inconfidência. No decorrer do poema são feitas previsões sobre o destino da
Romance VII ou Do Negro nas Catas: o sofrimento dos negros é representado neste romance. criança, Joaquim José.
Romance VIII ou Do Chico-Rei: Francisco foi aprisionado na África com sua tribo e enviado Romance XIII ou Do Contratador Fernandes: contratador era uma pessoa autorizada pela
para Vila Rica. Na viagem, perdeu a mulher e os filhos, sobrevivendo apenas um. Resignado, o coroa a explorar o diamante no interior de Minas Gerais. Neste caso, João Fernandes ocupou
negro trabalhou, libertou o filho, a si próprio e toda sua tribo, até que formaram, em Vila Rica, essa função entre 1753 a 1770, sendo considerado um dos homens mais ricos do Brasil. Ele se
um Estado, do qual Francisco era rei. envolveu com uma mulata, escrava alforriada nomeada de Francisca da Silva de Oliveira, a
Romance IX ou De Vira-E-Sai: Neste romance, a santa se torna protagonista: concede a força famigerada Chica da Silva. Nesse romance, encontramos a figura do Conde Valadares que a
que anima os escravos e transforma, como em um milagre, toda a montanha em ouro. pedido do governador estava atrás de João Fernandes para informá-lo a respeito da perda do
Romance X ou Da Donzelinha Pobre: assim como o romance que retrata uma moça direito de explorar diamantes. Na história oficial, João Fernandes é preso por contrabando.
assassinada pelo pai, aqui, neste encontramos uma donzela pobre que não pode se expressar, Romance XIV ou Da Chica da Silva: Chica da Silva aparece poderosa, rica e ocupa o centro do
visto a sua condição social e pelo fato de ser mulher. espaço e do tempo.

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Romance XV ou Das Cismas de Chica da Silva: a astúcia da mulher ao identificar a cobiça e


as intenções maldosas do Conde de Valadares. Ela tenta persuadir o ingênuo marido, que
RESUMO(parte 02):
não toma as precauções sugeridas por ela. Cenário: Nesse cenário, o eu-lírico destaca a névoa como índice de que a conspiração está
Romance XVI ou Da Traição do Conde: atesta a razão de Chica ao desconfiar do Conde, sendo preparada e que os presságios não são bons.
que acaba por trair João Fernandes, fazendo-o retornar a Portugal. Fala à Antiga Vila Rica: o eu do texto dirige-se à cidade que foi cenário dos
Romance XVII ou Das Lamentações no Tejuco: conta as lamentações do povo do Tejuco acontecimentos. Há uma voz lírica que dialoga com Vila Rica, questionando o fato de não
em relação à prisão de João Fernandes e ao destino de Chica da Silva. Há também uma agir contra as injustiças cometidas, porém, demonstra a força do destino trágico dos
declaração sobre a desgraça trazida pelo ouro. inconfidentes, como se este fosse uma sina a ser cumprida.
Romance XVIII ou Dos Velhos no Tejuco: narração acerca da decadência de Chica da Silva. Romance XX ou Do País da Arcádia: transpõe o ambiente pastoril da Arcádia, na lendária
Romance XIX ou Dos Maus Presságios: aqui se encerra a primeira parte do livro. Neste Grécia, servindo como contraponto ao ambiente de tristeza que está por vir sobre Vila
romance, há uma conclusão acerca da gênese do ouro e do diamante (espécie de reflexão Rica.
sobre o tempo) e um presságio sobre o que está por vir. Romance XXI ou Das Ideias: pode-se destacar a força da descrição que transporta em si o
dia a dia fervilhante de Vila Rica, seu espaço e sociedade, seus negros e a escravidão, seus
senhores e a nobreza, seus padres e seus poetas. E “as ideias” verso que se repete
fechando cada estrofe, remete à atmosfera de conspiração.

Romance XXII ou Do Diamante Extraviado: A história remonta a uma denúncia dos Autos Romance XVII ou Do Animoso Alferes: há o relato da última viagem de Tiradentes,
da Devassa, na qual um negro alto, corpulento e soberbo teria vendido pedras de partindo de Vila Rica ao Rio de Janeiro, em 1789, para tentar convencer o vice-Rei a lhe
contrabando a dois moradores da cidade de Mariana. confiar as obras de canalização de água da cidade do Rio de Janeiro. Neste texto, o Alferes
Romance XXIII ou Das Exéquias do Príncipe: retrata o luto oficial proclamado na capitania é exaltado, devido a suas atividades de curandeiro, além disso, ressaltam-se aspectos do
em 20 de fevereiro de 1789 pela morte do herdeiro do trono de Portugal, D. José em 11 de seu caráter e sua abnegação em prol do bem comum. Há menção do traidor Joaquim
setembro de 1788. Silvério dos Reis, como negro demônio, que esteve a caminho do Rio, atrás de Tiradentes.
Romance XXIV ou Da Bandeira da Inconfidência: observa-se um diálogo entre memória, A poetisa constrói uma imagem de Tiradentes cavalgando pelo céu, animado e
história e poesia. Esse romance conta como eram os encontros dos inconfidentes. A entusiasmado.
repetição dos versos: “atrás de portas fechadas, / à luz de velas acesas” (MEIRELES, 1989, Romance XVIII ou Da Denúncia de Joaquim Silvério: a escritora faz uso de imagens
p. 106) descreve e reforça a ambientação tensa em que a conspiração ocorria. bastante negativas para representar o caráter traidor e bajulado de Joaquim Silvério.
Romance XXV ou Do Aviso Anônimo: fala de denúncias de uma carta anônima, que Romance XIX ou das Velhas Piedosas: neste romance, como no anterior, continua a ácida
alertava sobre uma possível repressão por parte das autoridades portuguesas. caracterização do traidor, Joaquim Silvério.
Romance XVI ou Da Semana Santa de 1789: em um cenário que forma uma imagem sacra Romance XXX ou Do Riso dos Tropeiros: visão dos tropeiros acerca da figura de
do espaço, duas vozes se alternam: a voz dos tercetos faz uma espécie de profecia. Tiradentes que passou próximo a eles levando esperança de um país melhor.
Segundo Utéza (2006), pode-se reconhecer os inconfidentes no vós que se apresentam Romance XXXI ou De Mais Tropeiros: há várias referências aos ideais de liberdade
nas quadras. Neste romance, fala-se do mistério da Eucaristia e, mais uma vez, a poetisa pregados por Tirantes nessa parte (alusão à Independência dos EUA), segundo a visão dos
estabelece um paralelo entre o percurso de Tiradentes e o de Cristo. tropeiros.

Romance XXXII ou Das Pilatas: visão de um garoto sobre as injustiças sociais do Romance XXXVII ou De Maio de 1789: fala-se sobre os principais momentos do
Brasil. Há um desejo de partir para o Rio de Janeiro como feito por Tiradentes. fracasso da revolta: no dia primeiro de maio, Tiradentes é perseguido por Joaquim
Romance XXXIII ou Do Cigano que viu Chegar o Alferes: referência à chegada de Silvério, na estrada do Rio; no dia nove de maio, o Alferes é caçado no Rio de Janeiro,
Tiradentes ao Rio de Janeiro. A cena desenvolve-se às portas da cidade e consiste após a denúncia de Joaquim Silvério; a prisão do Alferes, no dia dez de maio; e no final
em um cigano, que dirige seu discurso ao leitor para analisar o destino do herói. do mês, há o desfecho da conspiração.
Romance XXXIV ou De Joaquim Silvério: este é equiparado a Judas, estereótipo de Romance XXXVIII ou Do Embuçado: relata a presença de alguém, que portava uma
traidor, reforçando a imagem sórdida esboçada nos romances mensagem a Tiradentes. Não se sabia sua identidade e, por isso, o poema é cercado de
Romance XXXV ou Do Suspiroso Alferes: Tiradentes se encontra atolado em “águas mistério.
podres”. O Alferes possui a ilusão de que seus amigos estão trabalhando, Romance XXXIX ou De Francisco Antônio: fala do destino de um dos inconfidentes,
juntamente com ele, para alcançar o ideal de liberdade. Francisco Antônio de Oliveira Lopes, que foi preso e degredado
Romance XXXVI ou Das Sentinelas: conta a solidão de Tiradentes, na sua situação Romance XL ou Do Alferes Vitoriano: relata a prisão do alferes Vitoriano Veloso, que
de vigiado permanente. não consegue levar uma carta de aviso a mando do Coronel Francisco Antônio.
Romance XLI ou Dos Delatores: fala sobre os falsos testemunhos do processo que
prenderam os inconfidentes.

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Romance XLII ou Do Sapateiro Capanema: relata a prisão do sapateiro como Romance XLVI ou Do Caixeiro Vicente: relata a traição de Vicente Vieira da Mota
conspirador. para com Tiradentes, que prestou serviços para esse caixeiro.
Romance XLIII ou Das Conversas Indignadas: conta-se da força decisiva de quem Romance XLVII ou Dos Sequestros: trata da ordem aos meirinhos de sequestrar
governa e reflete sobre o fato de que o mais fraco é sempre escolhido para todos os bens de Tiradentes.
receber o castigo por todos. Assim acontece com Tiradentes, que foi Fala aos Pusilânimes: situa-se em meio a segunda parte da história, censurando
responsabilizado pelo crime de todos os companheiros. os que não tiveram a ousadia de lutar pela liberdade e os condenando, pois
Romance XLIV ou Da Testemunha Falsa: a voz-enunciadora relata as reflexões foram esses traidores que fizeram com que a opressão vitimasse a todos.
de uma testemunha falsa, que prefere mentir a respeito de outras pessoas,
condenando-as, a fim de se salvar e se inocentar.
Romance XLV ou Do Padre Rolim: fala sobre o possível envolvimento desse
padre com os conspiradores e a possibilidade de uma crise com a Igreja

RESUMO(parte 03): Romance LII ou Do Carcereiro: traz o monólogo de um carcereiro que prevê a
execução de Tiradentes.
Romance XLVIII ou Do Jogo de Cartas: Nesta parte, há uma metáfora da história
Romance LIII ou Das Palavras Aéreas: a voz enunciadora exalta o poder e a força
como sendo um jogo de cartas: os homens seriam as próprias figuras do baralho.
das palavras, que podem destruir e construir, simultaneamente o sonho e a vida
A voz enunciadora fala que o destino dos protagonistas da revolução seria o
de qualquer pessoa.
exemplo de uma “lei universal”, em que os homens são apenas peças usadas por
uma ordem superior. Romance LIV ou Do Enxoval Interrompido: comenta o noivado de Tomás
Antônio Gonzaga e sua Marília, e a interrupção do sonho de se casarem.
Romance XLIX ou De Cláudio Manuel da Costa: refere-se ao destino do poeta,
que morreu misteriosamente Romance LV ou Do Preso Chamado Gonzaga: há a sugestão da angústia desse
poeta na prisão.
Romance L ou De Inácio Pamplona: relata o desaparecimento de Inácio, no
mesmo dia da morte de Cláudio Manuel da Costa. Romance LVI ou Da Arrematação dos Bens do Alferes: relata um leilão com os
bens sequestrados de Tiradentes.
Romance LI ou Das Sentenças: retrata o julgamento e a preparação das
Romance LVII ou Dos Vãos Embargos: menciona a recusa do embargo judicial
sentenças dos revoltosos
em defesa de Tiradentes.

Romance LII ou Do Carcereiro: traz o monólogo de um carcereiro que prevê a Romance LVIII ou Da Grande Madrugada: demonstra o sofrimento do Alferes,
execução de Tiradentes. na madrugada que antecede seu enforcamento.
Romance LIII ou Das Palavras Aéreas: a voz enunciadora exalta o poder e a força Romance LIX ou Da Reflexão Dos Justos: a voz enunciadora relata a ingratidão
das palavras, que podem destruir e construir, simultaneamente o sonho e a vida dos homens para com Tiradentes.
de qualquer pessoa. Romance LX ou Do Caminho da Forca: descreve a multidão que assiste à
Romance LIV ou Do Enxoval Interrompido: comenta o noivado de Tomás cerimônia de enforcamento e retrata Tiradentes carregando sozinho todo o peso
Antônio Gonzaga e sua Marília, e a interrupção do sonho de se casarem. da Inconfidência.
Romance LV ou Do Preso Chamado Gonzaga: há a sugestão da angústia desse Romance LXI ou Dos Domingos do Alferes: a poetisa utiliza de um jogo de
poeta na prisão. palavras usando o termo “Domingos”, referindo-se a nomes próprios, como o do
Romance LVI ou Da Arrematação dos Bens do Alferes: relata um leilão com os pai de Tiradentes, e ao dia de domingo.
bens sequestrados de Tiradentes. Romance LXII ou Do Bêbedo Descrente: manifesta-se a voz de um homem do
Romance LVII ou Dos Vãos Embargos: menciona a recusa do embargo judicial povo, que teria presenciado a cerimônia de enforcamento de Tiradentes. Ele fala
em defesa de Tiradentes. dos acontecimentos como sendo uma grande festa popular.

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Romance LXIII ou Do Silêncio do Alferes: descreve o que aconteceu com


Tiradentes na última viagem que fez ao Rio de Janeiro e a sua morte.
RESUMO(parte 04):
Cenário: em que o jardim de Gonzaga é apresentado como forma de mostrar a
Romance LXIV ou De Uma Pedra Crisólita: é o último poema do “ciclo
solidão e a tristeza que ficou após sua prisão.
Tiradentes” e retrata, segundo Utéza (2006), uma informação dos Autos da
Devassa: Tiradentes teria deixado uma pedra crisólita para ser polida em um Romance LXV ou Dos Maldizentes: sugestão da ida de Gonzaga para a África.
lapidário no Rio de Janeiro, levando-a de volta sem polir. Romance LXVI ou De Outros Maldizentes: alusão à ida de Gonzaga e à venda de
alguns objetos do poeta.
Romance LXVII ou Da África do Setecentos: espécie de descrição da África,
espaço do degredo.
Romance LXVIII ou De Outro Maio Fatal: relata o sofrimento de Gonzaga ao ter
que deixar Vila Rica e sua Marília.

Romance LXIX ou Do Exílio de Moçambique: descreve a viagem do poeta pelas Romance LXXIV ou Da Rainha Prisioneira: há a reflexão sobre o fato de que a
terras de Moçambique. rainha D. Maria I, que mandara executar os inconfidentes, acaba se tornando
Romance LXX ou Do Lenço do Exílio: menciona a angústia de Marília ao bordar prisioneira de sua loucura que é pior que qualquer masmorra, desterro ou morte
um lenço para o amado, enquanto espera sua volta. de forca.
Romance LXXI ou De Juliana de Mascarenhas: relata o encontro de Juliana Fala à Comarca do Rio das Mortes: como nas falas anteriores, também possui
Mascarenhas, uma fazendeira, com Gonzaga em Moçambique. um tom de tristeza pelos relatos da tragédia, e da ruína nos campos e na cidade.
Aqui o eu-lírico relata as mágoas de Bárbara Eliodora, cujo esposo, o poeta
Imaginária Serenata: que sugere o sofrimento de Marília, e sua ilusão quanto ao
Alvarenga Peixoto, fora exilado para a África.
reencontro com seu amado
Romance LXXV ou De Dona Bárbara Heliodora: referência ao sofrimento de
Romance LXXII ou De Maio no Oriente: relata o casamento de Tomás Antônio
Bárbara que era esposa de Alvarenga Peixoto.
Gonzaga e Juliana Mascarenhas.
Romance LXXVI ou Do Ouro Fala: ligeiras descrições acerca da beleza de Bárbara
Romance LXXIII ou Da Inconformada Marília: há menção da desilusão e tristeza
Heliodora. Também há alusão ao sofrimento da esposa separada do marido.
de Marília que não acredita que Tomás não se lembre mais dela.

Romance LXXVII ou Da Música de Maria Ifigênia: sugestão da morte de Maria. RESUMO(parte 05):
Romance LXXVIII ou De Um Tal Alvarenga: referência a vida de Alvarenga
Retrato de Marília em Antônio Dias: apresenta uma Marília envelhecida,
Peixoto, poeta e advogado, que sonhou com a liberdade de Minas Gerais.
diferente da Marília formosa dos poemas de Gonzaga, pois, sem a presença dele,
Romance LXXIX ou Da Morte de Maria Ifigênia: alusão à morte de Maria Ifigênia ela prepara-se para a sepultura.
após a queda do cavalo.
Cenário: voz lírica descreve o estado de loucura em que se encontrava a Rainha,
Romance LXXX ou Do Enterro de Bárbara Heliodora: neste é retratado a morte Dona Maria I, que assinou as sentenças de morte dos inconfidentes.
de Bárbara e, um pouco antes, momentos de demência metal, visto as perdas
Romance LXXXI ou dos Ilustres Assassinos: a voz enunciadora, em um tom
experienciadas em vida.
evocativo, critica os responsáveis pela condenação dos inocentes, chamando-os
de assassinos.
Romance LXXXII ou Dos Passeios da Rainha Louca: D Maria I, a rainha louca,
anda pela cidade, cheia de remorsos visto a condição dos inconfidentes, cercada
de batedores.

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12/11/2020

Romance LXXXIII ou Da Rainha Morta: romance marcado pelas homenagens à (adaptada ENEM) – Leia o texto a seguir: O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da
rainha morta. Ai, palavras, ai, palavras Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no episódio
que estranha potência a vossa! histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora
Romance LXXXIV ou Dos Cavalos da Inconfidência: há uma comparação entre Todo o sentido da vida uma reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o
os cavalos que são descritos e os inconfidentes mineiros. principia a vossa porta: homem e a linguagem:
o mel do amor cristaliza a) A força e a resistência humanas superam os danos
Romance LXXXV ou Do Testamento de Marília: que evoca o testamento de
seu perfume em vossa rosa; provocados pelo poder corrosivo das palavras.
Marília, dando a dimensão da tristeza de Marília por causa dos fatos passados. sois o sonho e sois a audácia, b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu
Fala aos Inconfidentes Mortos: essa parte finaliza a obra, a partir de reflexões calúnia, fúria, derrota... equilíbrio vinculado ao significado das palavras.
A liberdade das almas, c) O significado dos nomes não expressa de forma justa e
do eu-lírico, que afirma que tudo jazia em silêncio e reflete sobre o destino dos ai! Com letras se elabora... completa a grandeza da luta do homem pela vida.
homens antigos que fizeram parte da conjuração, quando tudo se dissolve na E dos venenos humanos d) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às
força implacável do tempo, remetendo-nos à “Fala Inicial” que demonstra o sois a mais fina retorta: gerações perpetuar seus valores e suas crenças.
frágil, frágil, como o vidro e) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu
quanto as questões pontuais transcendem os fatos ocorridos, pois estes foram e mais que o aço poderosa! alcance limitado pelas intenções e gestos.
aniquilados pelo esquecimento. Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...
(MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento)).

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