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Década de 1920 atte do tbo fren te tarpe nec opreesa & seate boron eens finan enamente 5 acetan qoipotendaidce 0 bictge operant os ao GAVZANIGA. @ HEATHERTON inteiramente consciente, com uma parte do crania temporariamente removida para expor a superficie do seu cerebro. Seu cirurgiao no Montreal Neurological institute, 0 Dr, Wilder Penfield, tocau a cérebro, delicadamente, com tum pequeno cletrodo e a paciente anuniciou que tivera a sUbita experiencia “de estar em sua cozinha escutando patio. Ela podia ouvir o$ ruidos da vizinlaniya, como os Carros pasando na rua, e Compreendia que isso poderia significar um perigo para ele A paciente sofria de epilepsia, a Uveti,a debilitante em que as convulsoes, ‘tempestades” descontroladas de atividade elétrica, comesam om alguma parte do cérebro e se espalham por grande parte dele, freqentemente provocando convuls6es violentas, na corpo toda, que paem em risco a prépria vida. Como Lltimo recurso, ela cuncordara em fazer uma cirurgia para tentar encontrar @ Temover a arte de seu cérebro em que as convulzdes comogavam. Penfield estava estimulando eletricamente pontos da superficie de seu cerebro fem uma tentativa de desencadear uma convulsio, pata determinar exatamente a parte Uo cerebro que deveria ser excisada (Figura 4.1), Ele também estava mapeancin as fungées de areas especiticas do cérebro para determinar quais podiain ser removidas sem danificar a capacidade de falar da paciente. A pequena Corrente elétrica interferia na drea local de tecido corebral percorrido, desativando-a winpuratiamente. Se a paciente parasse de falar durante uma dessas estirnulacdes, Penfiald saberia que aquela rea era vital para a fala e nao deveria ser removida, Interessantemente, a corrente, enquanto desativava a regiao imediatamente vizinha 20 elettodo, reativava regides cercbrais mais distantes que estavain conectadas 2 neurdnios na area estimulada. O resultado foi um vivido redesportar de memérias especificas na paciente E: a década de 1940, ¢ a paciente estava deitada na mesa de uperayau, s vor do fhe pequeno, que est. b:insanh: 0 Embora Penfield repetisse essa demanstracao muitas vezes, atualmento se acredita que esses fendmenos de meméria especifica podem ser resultado dos transtornos da paciente e nao refletem, necessariamente, um cérebro normal Entretanto, induces elétricas de experincias, de sensagdes, de movimento, de Ce Ee es ed Coma a cécehee possibilita 3 a emogoes e, inclusive, de crencas foram reproduzidas inumeras vezes desde entan ™ ; Esse redespertar fisico de eventos mentais demonstra a natureza fisica da mente eae ace Longe de existir como uma substancia incompreensivel distinta do munda fisieo, a eee mente & parte integrante dele, consistindo na atividade elética © quinies de um de orga als: 0 cérebr Cada metade do cérebro possui enka eee eee «& mesmas capactdages? Sane Evistem periodos crticor durante ‘ovesenvolvimento do cerebro? © capitulo anterior apresentou os fundamentos bioldgicos do sistema nervoso. Atviades ments © © cérebro 4 reorganize durante 3 " : ara srentzager,cervetnecimerto | Smportamentos so produsios por procesos bckgicosdenw du creo, cu a ao de ess eo reparo de lessex? nervosas e reacdes quimicas asociadas. Ese capitulo examina coma a eéehra fscn possiblita a mente e o comporta ento. Os estudiosos discordaram durante séculus sub ve us process pico Década de 1950 1953 Década de 1960 Década de 1980 Década de 1990 Regtand Opacente HM, ouartes | Chrebrosseconador 0 Imagem crsrat Arann Manic genta & Ieoromon, Ded be een rages bist de | pucbeloge esoduene (dinogersor Te pean sing Tonten We oem oF Serhipocanoo,oPacentehm. | Rage per ese dune uncon semi aviusease ancien pe primates egos te sezonos | pede aan opactade ce Mido! Catan eam octet tumano om ‘ramet oc san loss no oe eed, ‘er nat meme pare Desc com pacers qe ‘nooner ‘gs rarer re sracarianoo m popreasaes | erteonenton toda gor | treramnann Penstees Toads eles screens dovnesno | Srenaamine: HM eta | carta eons pr {dig neuronal hn pena de om umestca cece xo | tratamete da ele es Feet bln oo stn uienk arenaon | euotsologs exotre ue es Pets ‘ecto La ote hnearat raspensesterese aicos etavam lcalizados em partes especticas do cérebro ou dstibuidos por todo ele. Esse debate ‘ontiow por tanto tempo, em parte, porque os pesquisadores nao tinham métodos para estudar a tivdade mental no cérebro-em funcionamento. A invencao dos métados de imagem cerebral na <&écada de 1980 mudou eso de forma eipida e dramatica, Desde essa época, houve uma verda caplesio de pesquisa, attavessando varios nfveis de ands, vinculando drcas cexebrais especficas 2 determiados comportamentose processos mentas. Este capitulo apesenta o nosso conbecimento sobre como o cérebro funciona. Partindo de uma visio histérica da fungi e disfungio cerebral, que seve como ui exemplo excelente de como a cigncia psioldgica se baseia em principios curula ‘os, nds discutimos as principais estruturas ¢ regides do eézebro, com énfase nas fungdes psicolog «as associadas a cada ea COMO EVOLUIRAM AS NOSSAS IDEIAS SOBRE O CEREBRO? 14 muito tempo se reconhheceu que o cérebvo tna certo envolvimento com a mente. Fm dife- rentes locais, como Franga e Peru, os cientistas encontraram cranios pré-hist6ricos com buracos feitos pelo homem no cranio, a estrutura é5Sea que protege o cérebro. Muitos desses-buracos eram cevidéncia de tratamento curativo ¢ indicavam que o sujeito sobrevivera por um longo perfodo apés 0 procedimento, 0 propssito de tal cirwia, conhecida como tepanagdo, & desconhecido, mas ela sugere que 05 povos antigos atribufam algum significado ao cérebro. Em algumas partes da Aftica e lo Pacifico, vros grupos mantinhamm essas prétécas, em pleno século XX, para tratamento da epilep- sia, dores de cabega ¢, mais notavelmente, insanidade. Talvez a trepanagao pré-histérica também fosse motivada por nogGes le uma conexdo entre a mente eo cétebro. Nesta sega, examinaremos como os estudiosos consideraram essa gonexio no decorrer dos anos, A ligagao entre mente e cérebro é cogitada ha séculos Nim sempre o eérebro foi reconhecido como a morada da mente. Os egipcios, por exemplo, via o coragao como o local onde habitava a alma; eles embalsamavam cuidadosamente 0 coragio de seus mottos, mas 0 cérebro eles simplesmente jogavam fora. © coragio sera pesado na vida apés ‘morte para determinar o destino do falecido. Os antigos povos da th bes exrdneas semelhantes. No clima questionador da Gréci, todavia, foresceram algumas idéias alternativas, © médico Hipdcrates (460-377 a.C,) e seus seguidores demonstraram una visio notavelmente moderna em set trabalho coletivo, 0 Corpus Hippocraticum: “Algumas pessoas dizem que 0 coragio € 0 érgio com ‘ qual nds pensamos, e que ele sente dor e ansiedade. Mas nao ¢ assim. Os homens deveriam saber que é0 cétebro, e sé o cérebra, a origem de nossos prazeres, alegria,riso ¢ lagrimas. Por meio dele, em especial, nds pensamos, enxergamas, ouvimos e distinguimos o feio do belo, o ruim do bom, © agradavel do desagradével”. Notavelmente, as opinides de Hipécrates decorreram, em parte, de suas da China tinham concep CIENCIA PSICOLOGICA 121 FIGURA 4.1 Um dos pacentes de Penfild submetidos & estimulacao deta do cétebra. A esqueeda: a paciente imediatamente antes da crurgia. Um anestésico lacal era apicado no couro cabeludo; os pacentes de Penfield permaneciam inteiramente conscientes durante tad peocedimento, A tieita: a superficie exposta de seu cértex. AS ‘ebquetas caquerda para uma pa de tirar neve. O participante foi entdo »svonad por que escothera esses itens. © hemisfério esquerdo falante certamente ndo poderia ter idéia do que © hemisfério ‘equerdo vita, Entvetanto, 0 paciente (ou melhor, seu hemistério tsquerdo) replicou ealmamente: "Oh, € simples. A pata da galinha {oz parte da galinha e nds precisamos de uma pi para limpar o galinheiro", O hemistério esquerdo, evidentemente, interpretara a ‘osposta da mao esquerda de uma maneira consistente com @ hnecimento do cérebro exquerdo. Essa tendéncia do hemistério Jerdo de construir um mundo que faz sentido ¢ chamada de o intérprete™. {> inléxprete influencia fortemente a maneira pela qual \embrannos o mundo. Depois de wer uma série de figuras ‘iain uma histéria e solicitados mais tarde a escolher quai sie oul grupo de figuras eles tinham visto previamente, sujeitos rormais tinham ma forte tendéncia a “reconhecer” falsamente figuras consistentes com o tema da série original ¢ a rejeitar as figuras inconsistentes com o tema. <érebro esquerdo, entio, tende 2 “comprimir” suas experiéncias em uma historia compreen- sive ereconstrOi detalhes lembrados com base nessa histria, Océrebio dircito parece simplesmente experienciar o mundo Lage cs esas ic naa anes demas pate ltbcpewioe eee ete peat fa do chcbro arvantagensos, —FIGURA 4.22 0 mecarsmo deintpete do cerebro esuedo. 0 Coffipres-ao parecem ¢laras. E parece que © cérebro direito pade hemisfério esquerdo tenta explicar 0 comportamento do hemisfério direito verificar 2% especulacbes ndo-garantidas do cérebro esquerdo. com base em informacdes Eitadas.. volvendo seus cérebros,ativando e refazendo sua rede neural, de maneiras importantes, por muitos anos. Além disso, as conexdes de nosso cérebro sio refinadas e ressintonizadas cam cada nova expe- ridncia de nossa vida. A pesquisa sobre a plastcidade do cérebro promete revelar muita coisa sobre a natureza iterativa das inluéncia biologicas e psicoldgicas sobre o nosso comportamento,valen- do-se da emocionante pesquisa que atravessa todos os niveis de andlise. A interacdo entre os genes e o meio ambiente ativa o cérebro " ‘Conforme voce leu no Capitulo 2, existem interagbes complexas entre os genes e o meio ambi- ente, 0 desenvolvimento do cérebro segue seqiéncias determinadas codificadas nos genes: a acui- dade visual dos bebés se desenvolve antes de sua capacidade de enxergar em estéreo, por exemplo, € 0 crx préfrontl no estéanatomicamente maduro antes do final da adolescénca ou inicio da | Plasticidade ‘Uma propriedade iad lla, Mas, mesmo com esas instrugesgenticas metculosamente especficadas, oambien- | Meee em gana de wap, tedesempenha um papel importante. O comportamento das préprios genes depende totalmente do} drogas ou danos. ‘ambiente. Diferentes genes so “expressos” em diferentes células, ¢ quais genes sio expressos e em periode critica. Moments em Que certs experiéncias precisom ocorrer para que o cerebro se desenvolva normalmente, tal corm ‘> exposigdo 2 informagaes visusis ‘durante 0 periodo de bebe para o desenvolvimento normal dos ‘caminhos visuais do cérebro. GA7ZANIGA @ HFATHERTON ‘que extensio é determinado pelo meio ambiente. 0 ambiente nao afeta apenas 0s produtos da ativi- dade do uosso DNA; ele afew a prdpria atividade do DNA. Sinais quimicos orientam as conexdes que esto crescendo No embrio em deser ‘olvimento, novascélulas eccbem sinas de seus arredores, que determinam que tipo de células elas se tamario. As célulasliberam sinaisquimicos entre i que agem diretamente sobre eu material genético, para determinar quais dos miles de intrugGes coutidas nv oédigo genético serio executadas Se as cdlulas de uma parte de um embrigo forem cirurgicamente transplantadas para outra parte, o resultado depende de quao longe chegou o processo de desenvolvimento, Tecidos transpkan lads prewoeemente3¢ Warsfoninan wompletanrcute nv tips apropriade & sua nova localizagio, Mas, A medida que o tempo passa, a células se tornam cada vez mais comprometidas com suas identida des, de modo que transplanté las resulta em organismos desfigurados. No caso de tecido neural, 3 célulastransplantadas precocemente assumem a identidade apropriada & sua nova localizaglo, ¢ 9 organism se desenvolve normalmente. Mas as célulastransplantadas mais tarde desenvolvem co: nexGes como se nao tivessem sido transplantadas: itu & as vélulas se conectam a dreas que teria sido apropriadas se tivessem permanecido em sua antiga localizagio. Tecidos removidos das areas visuals se conectam as partes visuats do tlamo, e assim por diate Essa predestinagio de conexées das ceulas que tiveram tempo para determinar suas identidades ‘expe 2 natureza pré-programada da rede neural do eérebra. As conexies do cérebro sio produzidas em grande part pela detecco dos axOnios em erescimento das moléculas especificas que es dizean taonde ir aonde nao i. As amplas pinecladas do cérebro sio dadas por essa especifcidade quimica: os neurénis em uma regio esto procuranda determinadas substincias quimicas, € 0s neurons em ‘outra a esto produzindo. O>axduis da print regio buscaun ou se afastam regularmente de con centragies crescentes ou decrescentes dessassubstineias qumicassinalizadaras — os asim chamades _radients qumicos. Segiros gradientes de alzumas substancias quimicas orienta os axénios em longa viagens até suas dreas de destino, ao passo que a concentraso de outassubstincias quimicasgoverna seus padres de ramificag depois que chegam li Esse método estaelece as conexoes entre todas 2s cestrutras cerebraise induc as conendes espevficas enue as dveas do cértex cerebral. A experiencia sintoniza com precisdo as conexdes neurals Mas essa nio & a hist Fia toda, Mesmo que as conexies mais importantes sejam estabclecidas por gradientes quimicos, as conexGes detalhadas so goveradas pela experiéncia. Se os olhos de um gato forem suturados fechados no nascimento, privando-o do inpu visual, os mapas em seu vr tex visual nao va se desen- volver apropriadamente: quando as suturas forem removidas semanas mais tarde, 0 gato estara ego, Evidentemente, a atividade constante dos caminhos visuais € necessaria para rfinat 0 mapa o sufieute pata que ee sea til. Eur getal, cava plasticidade tem perfodos criticos, momentes em aque ceras experiéncias precisam ccorrer para que o desenvolvimento prossiga normalmente. Os gatos adultos submeridos & mesma privaglo ndo perderam a visio. alguns anos, descobriu-se que os ratos criados em grupo em ambientes “enriquecidos", com 'montes de brinquedose obstaculos,cresceram com eérebros maiores do que os criados em condicbes normais de laboratirio (Rosenzweig et al, 1972). Entretanto,veja quais eram as condigées “nor mais’: essencialmente,cairas desinteressantes com um lugar para dormir no funda, Talue, na rea lidade, as condigoes “enriquecidas” fossem simplesmente uma aproximacio da vida livre dos ratos, permitindo um desenvolvirnento normal, enquanto a privacéo mental causada pelo ambiente de Taboratrin provocava atrofia nos cérehrosnao-utilizads ds ratos. Mas isso demonstra, no mimo, que o meio ambiente € importante para o desenvolvimento nora 0 cérebro se reorganiza por toda a vida Embora a plasticdade diminua com a idade, o cérebro mantém a capacidale de vefazer sua rede neural durante toda a vida. Essa &a base da aprendizagem. Mudangas na fora das conexdes esto por trés da aprendizagem Com cada momento da vida, ganhamos novas lembrancas: expetiéncias e conhecimentos instantaneamente adquiridos que podem mais tarde ser recordados e habitos que se formam gradualmente. Todas essas formas de meméria consstem em mudangasfisicas no cérebro. CIENCIA PSICOLOGICA Hoje € amplamente aceito pelos cientistas psicogieos que essas mudancas sio mais provéveis rio na totalidade da rede neural do eérebto, mas simplesmente na forca de conexdes preexistentes. ‘Uma possibilidade € que a agéo de dois neurdnios descarregando a0 mesmo tempo reforgaa conexdo sindpticaentte eles, tomando mais provavel que descarreguem juntos no fururo ¢ que, reciproca ence, nao deseartegar 20 mesmo tempo tende a enfraquecer a conexio entre dois neurBnios. Go- | © cerebro refaz sua rede neural rnhecida teenicamente como aprendizagem de Hebb (discutida no Capitulo 6), essa teoria pode ser SAaheltiniv co nous de Feeumida pela frase “Descarregam juntos, criam rede neural juntos" ¢ € consistente com muitas | esoes? tvidénelas experimentais ¢ muitos modelos tedricos. Ela explica tanto como uma experéncia fica “nateada” — um padro de descarga neuronal apresenta maior probabilidade de ocorrer novamen- te, levando-nasa recordar um evento — quanto como 0s hibitos se tornam arraigados: simplesmen- te repetir um comportamento faz com que tendames a executélo automaticamente. ‘Outro método possel de plastcidade € ocrestimento de conexdes inteiramente novas isso leva snuito mais tempo, mas parece ser um fator importante na recuperagéo de lesdes. Av muito recente- mente, acreditava-se que, de forma dnica entre os érgios corporais, o cérebro aduko no produzia novas células. Isso, presumivelmente, para evitar obliterar as conexdes estabelecidas em resposta & experiénia Entretanto, agor foi descoberto que novos neurénios sao produzides no eérebro adulto. Parece haver uma rotatividade bastante grande no hipocampo. Lembre que as meméias so inical- mente guardadas dentro (ou pelo menos querer) dessa estrutura, mas So posteriormente transfer- das para 0 cSriex, om 0 hipoampo sendo continuamente sobrescrito. Talvez os neurbnios perdidos passim str sulstituidos sem perurbagies na memnria, Novos neurbnios também slo produzios no sex adulto, mas ainda ndo sabemos que papel desempenha essa “neurogénese”, Mudangas no uso distorcem os mapas corti ‘Todos os mapas no cértex cerebral misdam em resposta sua atividade, Lembre o horninculo (Figura 4.17), em que mais tecdo cortical dedicado a partes corporais que recebem mais sensagéo ou sio mais utilizadas. Se o dedo de um. rmacaco for repetidamente estimulado, por exemplo, a represeatacaa cortical daquele dedo vai ex pandirse (Figura 4.23). Entretanto, esa plasticdade aparentemente nio acontece se océrebro no estiver prestando atengio: distraia o macaco durante a ‘estimulagdo, e esse efeito no ocorrer’, A reorganizagio cortical também pode ter resultados bizarros. As pessoas amputadas sofrem freqientemente de membrosfontasma, a intensa sensacdo de que a parte corporal amputada ainda nist. Alguns membros-fantasma sio experienciados como se moverdo normalmente, sendo usados para gesticular em conversas como se realmente existssem, por exemplo, enquanto outros parecem congelados em uma posi¢do. Infelizmente, os imembros-fantasma sio muitas vezes acompa- 0: thados por sensagBes de dor, o que pode resul- tar do crescimento improprio dos nervos da dot secionados no coto, com a dor sendo interpreta da pelo cértex como vindo do lugar de onde vi- nham originalmente aqueles nervos (Figura 4.24). [sso sugere que 0 cérebro nda se reorgani- ou em resposta 20 ferimento e que a represen taco cortical do brago ainda esta intacta. Con- tudo, VS. Ramachandran, da Universidade da California, San Diego, descobriu que algumas dessas pessoas, quando seus olhos estavam fe- chads, percebiam um toque na bochecha como se fosse na mao que faltava! Aparentemente, @ mio esta representada perto do rosto no nosso hhamdnculosomatossensorial. Seguindo-sea per- da do membio, o cértex nio-wlizado do pac (4) é ‘ente assumiui, até certo ponto, a fungao do gru- po mais prdximo, que estava epresemtado na FIGURA 4.23 Mudancas nas representagdes corticais de regides da pele em macacos que ple do stearate 8 fon ped x Mberacs pe dts cb Sumo TO Loran ees Ses neurdnins, De alguna forma, o restante dO eyay a uma reptesenagio aumentada em éeas cortices (confome mostramos em a), Em b, cérebro no acompanhow 0 ritmo da rea soma- eos preenchidos inciarn onde os dedos fram tocados para os dedos teinados (eras) © 930- tossensorial osuficiente para perceber anova ta- _treinados (verdes). Os ciculos mostian as regides do dedo que se tornaram sensivess 3 refa desses neurnios. estmagio. Uma extensio maior do dedo fia sensiel 3 eslulcio apts @ weinameno ) Bi rete teinada HB Pele ngo-treinada Loy 4G 142 FIGURA 4,26 0 remapeamento cortical apés uma amputac3o, GAZZANIGA @ HEATHERTON O cérebro pode se recuperar de lesGes 0 inverso da reorganizacio do cérebro cm resposta ao super au subuso a sua reorganizagio em resposta ao dano cerebral. Apds uma eso no cértex, a substancia cinzenta citcundante assume a fungio da ‘ea danificada, com o mapa distorcendo tudo ao seu redor para recu- perar a capacidade perdida, como as lojas do comércio local Iucando para capturar os fregueses de uma loja que acabou de fait, Parte desse remapeamento parece ocorrer imediatamente e continvar duirante anos, Essa plasticidade envotve todos as niveis do sistema nervoso, do cértex até a medula espinal. Essa reorganizagio & muito maior nas eriangas do que nos adultos, de acordo cor os periados criticos do desenvolvimento normal. As crian G85 pequenas que sofrem de epilepsia grave e incontroivel is wezes sS0 submetidas a uma “hemisferectomia radical”: a remogao cinirgica de um hemisério cerebral inteir. Esse procedimento no & possivel em adultos por causa das inevitaveis e permanentes paralisia e perda de fungao re- sultantes. Mas as criangas pequenas acabam recuperando quase comple- tamente 0 uso do brago e perma inicialmente paralsados, assim coma as ‘utras fungSes do hemisfério perdido: elas sao, simplesmente,assumnidas pelo hemisfério remanescente. No entanto, mesmo nos adultes, a recupe ragdo da lesdo cerebral pode ser extraordinéria. Pacientes com acidente vascular cerebral com uum brago paralisado, por exemple, muitas vezes recuperam seu uso em poucos meses. Finalmente, uma das éreas mais emocionantes da atual pesquisa neurolégica € 0 transplante de células no cérebro para reparar danos. ~ Amputado tirooric Dende s botetw 6s prone eo eiue eee Essa abordagem, utilizando oélulas de tecido fetal humano, esté come toon nis ga lilba cando a ser explorada como um possive!tratamento para doencas dege- nerativas como a de Parkinson e a de Huntington e também para aciden tes vasculares cerebrais O desatio significativo ¢ fazer com que as células aque acabaram de ser introduzidasfagam a5 conexBes certasereparem os crcuitos daificadas. Essas tenicas esto apenas comecando e trazem dilemas éticos ébvies, mas talver logo se ornem métodos de tratamento muito importantes. O Como 0 cérebro muda? Embora a5 conexdes neurais sejam intricadas © precisas, elas so maledvels. O genoma humane é 0 projeto do desenvolvimento normal, mas é afetado por fatores ambientais, como lesGes ou estimulagSolprivagao sensorial Durante o desenvolvimento, apés lesdes, e por toda a nossa vids de aprendizagem, of cireuitos se reformulom ¢ se _atualizam. Muito dessa plasticidade pode requerer que estejamos prestando atengio, Apés uma lesso cerebral, ‘ecorte a reorganizagic, com uma recuperacio muito maior nas criangas do que nos adultos. CONCLUSAO (0 cérebro é um conjunto de estrturas nico e native, que evoluiucoletizamente para contro lar o organismo conforme ele tratava das questbes de sobrevivénciae reproducao, Nos humans, «ssa adaptativdade evoluiva permitiu o desenvolvimento de comunicagdes, cultura e pensamento complexos. 0 nosso conhecimento sobre o cérebro expandiuse rida e dramaticamente nas die mas décadas,valendo-se da pesquisa em todos osniveis de anise. Por mais de cem anos, osestdisos ebateram sobre se 05 processos psiol6gicos estavam localizados em partes especifcas do cérebro ov distrbuids por todo el. Ao longo do caminho, eles também construiram uma formidivel base de comhecimentos e prncipios. Foi s6 na década de 1990, com as resultados dos estudos do diagnés tico por imagem, entre outros métodos, que ficou claro que muitos processos menais esti localiza CIENCIA PSICOLOGICA, dos1on vegies especies do cérebro, que funcionam juntas para produzie comportaments ativ- das yoentel pesquisa sobre o cérebro revela muitos fenémencs fascnantes, como os membros faniesma, creas secionados, € um intrprete no eétebro esquetd que lta para dar sentido 20 anni. Embora ainda reste muito a ser deseoberto, os cientistas, utilizando as ferramentas da revo- lucio biolégica, estéo fazendo progressos imensos e acelerando cada vez mais 0 -avango no entendi- meuio de coma os cicuites do eérebro possibiltam a mente, Li. TURAS ADICIONAIS Brod, P (1998). 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