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Mas, afinal, qual ser o problema do interior? Mafalda Coelho De Padhdgio Grande, Aluna na Faculdade de Dirsito da Universidade de Coimbra, 17 de Junho de 2022, 1703 © Ouga este artigo aqui 10x Sou jovem, residente no concelho de Pedrégao Grande, e na minha curta vivéncia sempre me deparei com um pais a duas velocidades, repartindo-se entre o litoral, densamente habitado, onde as oportunidades de emprego sao abundantes e os negocios e o empreendedorismo florescem, e um interior, demograficamente desertificado, onde as oportunidades de emprego escasseiam e a resignagao parece ser a palavra-chave, Ter mesmo esta de ser a sua sina? préprio termo interior parece circunscrever parte do territério de um pais, assinalando e demarcando diferengas estruturais, que perpetuam diferengas em termos de oportunidades e que continuamente vém prejudicando esta faixa de territ6rio. O que muitos idealizam ao pensar no interior é uma realidade onde havera salarios baixos, pouco acesso a cuidados de satide, a cultura e pouca oferta formativa. Daf que se imponha a questéo - porque continuamos a perpetuar um ciclo, que continuamente falha na captagao dos jovens para o interior? Que falha na captacdo de empresas? Que falha na proteccao do seu patriménio natural e florestal? O que, afinal, tem falhado? A grande falha a apontar é do Estado e de quem o tem administrado. Pela falta de reformas to necessirias, pela falta de visio nas politicas pablicas a implementar nesta regiiio, pela falta de novos programas e apoios estatais que venham diversificar e criar novas actividades econ6micas no interior e pela falta de originalidade no aproveitamento das oportunidades que a pandemia nos veio proporcionar, nomeadamente através do teletrabalho. Podemios, pois, constatar que ha um interior envelhecido, rural, estagnado. Ha, por certo, razes histéricas que o poderao justificar e que aliadas a distribuicao geografica da actividade econémica cimentam e aprofundam assimetrias. Pelo que € de sublinhar que o interior representa cerea de 70% do territ6rio nacional e tem ja menos de 30% da populacdo. Desta forma, desde 2015, que vemos o primeiro-ministro afirmar o seu desejo de apostar no interior. Mas, ao mesmo tempo, vao-se encerrando servicos, vai-se deteriorando 0 acesso aos cuidados de satide, havendo populagées sem acesso a meédicos de familia, e que, esquecidas, se veem forcadas a satisfazer as suas necessidades em centros urbanos mais préximos. Ha que contrariar um ciclo vicioso que se foi instalando, onde a diminuigao da populacdo gera menos actividade econémica, levando ao encerramento de ‘empresas, passando a escassear oportunidades de emprego ¢ equipamentos bisicos. Desta forma, a solugdo passard pelos jovens e pela captagdo de populacdo, no sentido de promover e restruturar a actividade econ6mica do interior. E necess: arrojo e visao estratégia, integradas numa politica de gestaio do territorio sustentavel,, garantindo medidas de discriminagio positiva. io Este “nosso” interior 6 uma regiao de potencial, com qualidade de vida, com tradigdes seculares e especialista na arte de bem receber. Restard agora a0 Govern deixar um sinal positivo de que estas nao sao regides esquecidas. Concluo, reafirmando que ser jovem no interior em 2022 ¢ perspectivar com esperanga o futuro. £ saber que ha um longo caminho a ser feito, mas que sem nés, Jovens, sera impossivel contrariar esta tendéncia de despovoamento e desertificacao.

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