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BIBLIOmECA DO
·- EXÉRCITO
Casa do Barão de Loreto
- 1881 -
Conoelho Bdllorl ..
Benemérito.
• At.....do f'ondl
Generoi-<11-DM..Jo F....,ci�eo de f'Olóla
G<•mll-de·DMMID JONU de Mo..U C"""la Fllho
Corotrel Profo uor Cebo J nl Pin6
Membn:. Ef'ethr01
Embai:uMior C<l;ro An16nlo s,..,.. • Silva
Ge..ruJ-<11-Divtllilo Carlo1 <M Meira MDII01
GeneruJ-<11-DMIIilo Manoel A"'IUIO Tdui,.
GeneNI-de-BTJsat/4 Arldlde• ti< M.,.., Molla
Coronel ti< ATIIIhtJrid e ÜIGÓo-MDior úat <M Alencar AIDrl,.
Corooe/ ti< AnlllttJrld e &lado-Maior Amerino /tapOJo FlU.o
Con:Jftt:l tú Cawalarla e útado-Maior Ni/.ron. Vieira Ferrei."YJ. rM MdW
DoUior U.iz. de Ca.rtro Sou:a
Bibllooec:a do l!x&cito
Palllcio Daque de Caxias
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Endereço lõleg�6Jico ..BmUI!X"
Carlos Alberto Uma Menna Barreto
A
FARSA
IANOMÂMI
Copyright © BIBLIEX
Capa:
Carlos Chagas
Revisão:
Renaldo di Stasio
José Lívio Dantas
Inclui bibliografia
ISBN 85-7011-203-3
CDD980.5
Apresen tação 11
In trodu ção 13
A Traição Oficial 17
O Povoamento Indígena 23
A Ianomamização dos Índios 29
O Testemunho da Ciência 37
A Perpetuação do Vazio 49
O Desmembramento do Brasil 53
A Vingança da Gringa 59
A Falácia do Estatuto 65
A Soberania Tribal 73
A Negação da Fé 79
O Separatismo Ingaricó 83
A Validade do Direito 87
O Culto à Incultura 91
Ineficiência da F UNAI 95
A Defesa do Privilégio 99
A FARSA IAIIOMlMI
Anexos 181
Relatório da Cruzada 183
Diretriz Brasil 187
A Deformação da História 193
Influência Militar 197
Amazônia e o Mundo 201
Ejpetáculo na Selva 207
A Internaciona lização da Amazônia 211
10
Apresentação
A
questão ianomâmi, como é apresentada pelos
interesses alienígenas, clama contra a lógica e o bom
senso. Como reivindicar o controle político de um
território brasileiro da extensão de 94. 1 91 km 2 (semelhante
à área de Santa Catarina e três vezes a superfície da Bélgica),
para uma tribo que o habita, de 5.000 índios, no máximo, e
que vive, até hoje, no mais baixo estágio de ignorância e
primitivismo?
Estes próprios índios ignoram as reivindicações
que são feitas em seu nome, por organizações internacionais
m as c a radas com i ntenç õ e s ci entífic as ( eco l o g i a,
ambientalismo, antropologia) e que fazem uma pressão cres
cente no sentido de entregar a soberania dessa área aos seus
habitantes .
Parece absurda, estapafúrdia, a proposta dessas
organizações internacionais. Só se pode entendê-la, admi
tindo que há um propósito velado atrás de tud o isto - a
internac ionaliza ção da Amazôn ia, em nome da sonhada cri
ação de áreas do interesse da humanidade, cujo controle
político passará para as mãos dos países do Primeiro Mun
do. É uma volta ao velho sonho da Hiléia Amazônica ( 1948).
A FARSA IAIOÜMI
12
Introdução
E
ste livro trata do problema indígena em Roraima. Tem
a visão de quem lá exerceu os cargos de Comandante
da Fronteira e Secretário de Segurança em diferentes
épocas e, em conseqüência, pôde testemunhar o abuso de
terem transformado o índio em instrumento da subversão
marxista, a leste, e em disfarce da infiltração imperialista, a
oeste.
É um depoimento e uma denúncia. E, também,
uma crítica da mentalidade predominante em certas cama
das da sociedade brasileira . Escrito por um rude soldado,
não tem pretensões acadêmicas ou de qualquer outro tipo , a
não ser a de alertar a Nação p ara a ameaça que se desenha ao
norte.
Ao longo de vinte e seis capítulos , tenta funda
mentar os motivos de suas preocupações, valendo- se de
mapas , quadros, esquemas e opiniões ou testemunhos trans
critos da imprensa como auxílio à narrativa. Porque o o bje
tivo de uma denúncia é mobilizar os cidadãos pela revolta
que desperta. E deve , p o r conseguinte, c onter dad o s
comprobatórios essenciais e bastantes para esse fim. Nada
m ais. Sem complicações. De form a clara e concisa. Dei-
A FARSA IAIOMlMI
14
lffTRODUÇ1o
15
A FARSA IAIOMlMI
16
1
A Traição Oficial
C
ornandante da Fronteira de Roraima nos idos de 1969,
1970 e 1971, vi com surpresa as sucessivas denúncias
de um pretenso genocídio dos ian ornârni s , que
renomados jornais do Brasil e do exterior publicaram a partir
de 1973. No período em que lá estive, empenhado em
reconhecimentos, experiências e estudos necessários ao
planejamento operacional, não ouvi jamais qualquer menção
a uma tribo com esse nome. Não entendia, também, corno
poderia ter surgido tanta gente assim em um lugar pouco
antes despovoado, ou quase isso.
Nas três vezes em que sobrevoei as montanhas
cobertas de floresta que queriam dar aos ianomârnis , só en
contrei índios nos famosos postos dos "missionários" norte
americanos. E, pelo que então pude saber, mal chegavam a
quinhentos. No Rio Mucaj aí, havia dois subgrupos de
xirianás ; na margem direita do Uraricoera, outros dois de
A FARSA IAIOMlMI
1 Ver Anexo A.
18
A TRAI;lo ORlAI.
2 Ver Anexo B.
3 Citavam a necessidade de preservar a cultura dos lndios; o interesse de
p rotegê-los do contágio por germes patogênicos antes inexistentes entre
eles, como gripe, varfola, sarampo, s lfilis e gonorréia (os m i ssionários es
trangeiros não eram considerados como pos s lveis transmissores dessas
doenças, já que sua prese nça ficava autorizada; e a conveniência de preve
nir abusos dos civilizados).
4 Comissão para a Criação do Parque lanomâm i .
19
A FARSA IAIIIO IIAMI
20
A TRAIÇlO OfiCIAL
21
2
O Povoamento Indígena
E
m 1923, T h eodor Koch-Grünberg publicou extensa
obra, intitulada De l Roraima al Orinoco , com
minu c i o s as o bs e rv aç õ e s s o b re os ín d i o s q ue
encontrou no período de 1911 a 1913 nesse território, cuja
divisão pelo s diferentes grupos dominantes resultou de longas
e s angrentas lutas . 7
O con tin gente m ais antigo na região era, a seu
ver, co nstitu ído pelos uaicás e xirianás, os quais habitavam,
nes sa época, "os mesmos lugares no Alto Urari c oera e na
Serra Parima, onde se haviam estabelecido ao chegar ".
8 Pos
teri orm en te julga Grünberg terem os aruaques estendido suas
,
9 Ibidem, p. 28.
1 0 Ibidem, p. 29.
1 1 Ibidem, p. 29.
1 2 Ibidem, p. 29.
13 Ibidem, p. 29.
1 4 Ibidem, p. 29.
24
O POVaa.IIID lllfiiEIA
25
A FAliA IAIOIIllll
26
O PGVIAIIEUO -·IA
22 Jean Jacques Rousseau: A Nova Heloisa. Casa Marc Michel Rey. Ams-
terdã, 1762 .
·
27
A FARIA 1110111111
• Em Roraima.
28
3
A /anomamização dos
"'
Indios
30
A IAIOIIIAIIIZAçiG DOS líiJIJS
31
A FARSA IAIOIIIAM I
32
A IAIOMAIIIZAçlO DOS IIDIOS
33
A fARSA IAIOMlMI
34
A IAIOMAMIZAçiO DOS [miiS
35
A FARSA IAIOMlMI
36
4
O Testemunho da Ciência
A
população indígena do território correspondente à
atual Reserva Ianomâmi tem sido exaustivamente
estudada pelos mais sábios cientistas nesses últimos
250 anos. Desse persistente e meticuloso trabalho resultou
copiosa literatura especializada, nos campos da Antropologia
e Etnologia. Sabe-se assim que, ali, as tribos mais ferozes e
primitivas são as dos xirianás e uaicás, localizadas nas Altas
Bacias do Uraricoera e do Orenoco , entre os meridianos de
63° e 66° W.28
Alexander von Humboldt conta, nas memórias
de suas viagens ao Novo Continente ,29 que, em 1761, Fran
cisco Fernandez Bobadilla, membro da Comissão Hispano-
38
O TESTEMUM DA ClbCIA
39
A FARSA WIOMllll
39 Alexander Hamilton Rice . uThe Rio Negro , the Cassiquiare Canal , and
the U p pe r O rinoco", setembro 1 9 1 9-abril 1 920. The Geographical Joumal,
v. LVI I I , n. 5, nov 1 92 1 , pp. 32 1 -334 .
40 Ibidem, pp. 321 a 330 .
41 G rü nbe rg. Ibidem, T. 11 1, p. 249 . Trata-se de uma cadeia de colinas na
margem direita do O renoco, a jusan te da · catarata dos Guaribas · .
40
O TESTEMUH DA aliCIA
41
A FARSA IAIDMAMI
42
Grünberg admite a probabilidade de serem estes
xirianás da Serra Parima os mesmos índios que impediram
Humboldt de atingir as nascentes do Orenoco.49 E diz tê-los en
contr.ldo duas ve-zes. Uma no Natal de 1 9 1 3, quando um grupo da
aldeia do Alto Unuicaá veio visitá-lo na Catarata de Punumamé, a
convite de seus valentes fudios. Outra, um mês depois, na desola
da maloca às margens do igarclpé Motomotó, em frente à serra
Urutanin.50 Aqueles eram homens hercúleos, bem mais altos que
os outros fudios, com um tórax descomunal e a musculatura forte
mente desenvolvida Rosto largo, olhos um pouco oblíquos ou
grandes e abertos, olhar às veres feroz e inconstante, nariz geral
mente curvo e com a ponta pendente. Alguns tinham a barba ablDl
dante e outros o cabelo ondulado, quase crespo. O tipo físico,
porém, não era homogêneo, provavelmente, pelo costume de in
corporarem à tribo os prisioneiros e as mulheres dos inimigos ven
cidos.51 As mulheres dos xirianás do Uraricaá eram bem menores
que os homens e bastante graciosas. Elas, também, não apresenta
vam um tipo físico uniforme. Talvez pela mesma razão.
Os xirianás do Motomotó eram homens peque
nos , com a média de I ,52 m de estatura. Suas mulheres
eram ainda mais baixas , parecendo até atrofiadas . Essa gen
te, feia por natureza, tomava-se também repugnante pela falta
de asseio corporal . Uma espessa capa de imundície quase
lhes escondia a cor da pele. A m aioria estava desfigurada
por uma asquerosa moléstia cutânea que lhes cobria quase
todo o corpo com grandes manchas escuras .52 A essa época,
43
A FARSA IAIOÜMI
44
e nas selvas ao sul do Uraricoera, representando, provavel
mente, uma subdivisão dos xirianás, com os quais ora esta
vam em paz, lado a lado, ora em cruentas guerras. E que
ambas as tribos se entendiam sem dificuldade, parecendo
não haver grandes diferenças entre os respectivos dialetos. 59
Robert Schomburgk jamais menciona os uaicás ,
referindo-se, tão somente, aos kirischanás, seja os da serra
Urutanin, seja os da serra Parima. Também os iecuanás cha
mam uns e outros de schirischan ás, o que reforça a hipótese
de se tratar de um mesmo grupo dividido em dois subgrupos.60
Consideradas, porém , as peculiaridades culturais e as rivali
dades, parece mais lógico concluir-se que as tribos conheci
das como guaribas, guaicás , xirianás e uaicás pertençam a
grupos diferentes e autônomos a despeito de usarem um idi
oma comum.
Além das tribos de idioma xirianá, registram-se
c o m o ocup antes des s a área o s iecuanás - c aribes , o u
maiongon gues , como s ã o chamados pel o s macuxis e
taulipangues ou, ainda, maquiritares e uaiongomos, como
os tratam os venezuelanos do Orenoco e do Caura, respecti
vamente. Habitam o Mereuari (Alto Caura) , o curso superi
or e os afluentes da margem esquerda do Ventuari e os aflu
entes do lado direito do Orenoco, especialmente o Padamo e
o Cunucunuma. Sua única povoação na área da Bacia Ama
zônica se encontra junto ao Alto Auari, o grande tributário
esquerdo do Uraricoera. A população total da tribo foi ava
liada por Grünberg, em 1 9 1 3, entre oitocentas e mil almas. 61
59 G rünberg. Ibidem, p. 243.
60 Ibidem, p . 243 .
61 Ibidem, T 11 1, p. 24 .
45
A FARSA IAIOMlMI
46
Em fraternal convívio com os iecuanás , encon
tram-se os guinaús-aruaques, embora já bastante desfigura
dos pela i n fl uência c aribe domi nante . A Com i s s ão
Demarcatória de Limites Brasileiro-Venezuelana encontrou
em 1 882 um grupo de guinaús em viagem nas proximidades
das nascentes do Uraricaá e verificou que residiam na ver
tente sul do Monte Machiati. 67
S i tu am-se , ainda, n a região em c au s a , os
macus do Méd i o Auari , com uma única cas a de parente
la e apenas cinq üenta a oitenta rem anescentes. Perten
cem ao grupo de línguas isoladas e usam um dialeto se
melhante ao dos xiri an ás .
N o estado d o Amazonas predominam os aruaques
e os tucanos, que deixarão de ser analisados nesta obra.
Designar todas essas tribos como ianomâmis ser
ve apenas para situá-las em um mesmo território arbitraria
mente reservado. Porquanto, com diferenças tão marcantes
e rivalidades tão agudas, não há como igualá-las com a mes
ma denominação.
Se a razão de ser de uma reserva é preservar a
cultura do povo nela contido, para cada cultura deverá exis
tir uma própria, separada das demais. Pois uma reserva co
mum para múltiplas culturas é o mesmo que nenhuma . . .
47
5
A Pe rp e t ua ção do
Vaz io
A
dm irav a- s e G rünberg d o grande v az i o h u m an o
e x i s te n te n o te rritório q ue v ai d o R o raim a a o
Orenoco , especialmente na B acia d o Uraricoera.68
Não compreendia por que os índios preferiam m orrer de fome
no lavrado69, pela inclemência da seca de 1 9 1 3 , a buscar
salvação naquela selva exuberante e des povoada.70 A única
explicação possível para ele era o terror que o curare mortaF1
das flechas dos xirianás e sua fama de canibais72 i nspiravam
68 G rO nberg . I bidem , p. 1 9 .
6 9 O regionalismo " l av rado " designa o s cam po s a nordeste d e Roraima .
70 GrOnberg . I bidem , p. 1 9 .
7 1 Ibidem, p . 245.
72 Henri Coudreau. La France Equinoxiale. Paris. T. 11 , pp . 234, 235 , 395 e 396 .
A FARSA IAIOMlMI
aos outros índios. Não lhe ocorria indagar por que, então, os
próprios xirianás e seus aliados uaicás não desciain dos
imponentes chapadões do Pari m a e do Urutani n e se
espalhavam por todo aquele vale.
Se, no entanto, além dos índios lhe interessasse
a Geografia, Grünberg teria sabido que a riqueza florística
daquelas montanhas provém mais do calor e da umidade que
da fertilidade do solo.73 Veria, também , que a força da ero
são rasgou, nos rochedos, sinuosos desfiladeiros de encos
tas escarpadas, separados por cristas afiladas de difícil trans
posição; que a orientação atravessada dos anticlinais em re
lação ao fluxo predom inante das águas vai dar naquela su
cessão de cataratas e corredeiras que infemiza a navegação ;74
que a febre amarela e a malária, endêmicas no vale, deixam
de existir no clima mais frio da serra, onde o mosquito trans
missor não chega; 75 que, em contraste com as dificuldades
de baixo, no altiplano da Venezuela, bem ao lado e muito
perto, o ar é mais puro; o trânsito, pelos campos abertos,
fácil e franco ; a caça abundante e os rios mansos e piscosos .
Sabedor disso, o sábio alem ão teria en tendi
do o v azio humano e a preferência dos xirianás p elos
"lugares em que se haviam estabelecido", em cima do
planalto. Lugares que, por sinal, estavam , quase todos,
entre os meridianos de 6 3 e 6 6 graus, sobre os tabulei-
50
A PERPE1UAÇlo DO VAZIO
76 G rü nberg. Ibidem, p. 26 .
77 Ibidem, p. 266 .
78 Ibidem, p. 251 .
79 Ibidem, p. 250 in fine.
80 Ibidem, p. 267 .
8 1 . O Globo. Carta do Preside nte Fernando Col lo r ao D r. R o be rto Marinho .
Rio de Janei ro. Cad . O Pais , 1 99 1 .
51'
A FARSA IAIOMIMI
52
6
O Desmemb ramento
do Brasil
J
ovem cap itão , em 1 9 5 8 , ti ve de destacar alg u n s
subordinados p ara, c o m outros pára-q uedis tas e
companheiros da FAB , procederem à abertura de pistas
na selva amazônica. Não imaginava, então, que fossem cedê
las a "missionários" estrangeiros, para anos depois ser nelas
recebido como forastei ro indesejável . 83 Nem poderi a
imaginá-lo porque , n a época, era muito m ais forte o
sentimento de brasilidade. Tanto assim, que a missão
recebida mencionava apenas a necessidade de melhorar a
84 Ve r A n exo C .
54
O DESIE.RAMEITO DO IRASI.
55
A FARSA IAIII DMlMI
56
exigir-me satisfações pelas críticas feitas durante a visita.
Depois de havê-lo expulsado porta afora com a energia que
se impunha, transmiti ao escalão superior, em Manaus,
minhas impressões sobre a viagem e o incidente com Neil.
Com surpreendente rapidez, chegou-me a res
posta, determinando que não interferisse em "problemas in
dígenas", por estarem afetos ao Ministério do Interior.
57
7
A Vingança da Gringa
N
o começo de dezem bro de 1 98 5 , a população de
?
Boa Vista adm irou-se com tantos avi es da FAB
_
fazendo e v ol uções e ro ncando por c t m a do R I O
B ranco e d a Praça do Garim peiro . Ninguém lá se lem brava
de um dia ter visto algo parec ido. Eram dois transportes
Búfalo, uma esq uadri l h a de j atos e al g u ns helicópteros
Puma . Pensou-se que estav am chegando para compor a
B ase Aérea de B oa Vis t a recém-inaugurada. M as , logo no
d i a segui nte, um domingo , a euforia patriótica decorrente
da inédita aparição se transfo rmava em pesadelo para aquela
pobre gente .
N a delegacia de plantão choviam queixas e acu
sações . Contavam que policiais federais, trans portados pel a
FAB , haviam descido de helicóptero no Gari mpo de S an ta
Rosa c, após retirarem as pessoa..'> de suas choupan as ao lado
da pista, as teriam obrigado a se despirem , submete ndo-as a
A FARSA IAIOMiMI
60
A YINUIÇA DA GRINU
61
A FARSA IAIOMlMI
62
A VIIGAIÇA DA GRIIGA
63
8
A Falácia do Estatuto
D
i zer que e x te rm i n am o s n o s s os índi os é querer
desmen ti r a H i s tó r i a e fec har os o l h o s a e s ta
c o n v i vênc i a bras i l e i ra de raças , s em i g ual n o
mundo. Houve, s i m , quem m atasse índios , como tam bém
houve q uem morresse nas mãos deles . Mas o ódio , que
chegou a m atar, foi pouco para apagar as chamas do am or,
que fez surgir tanta gente com as m arcas incon fundíveis da
mestiçagem , no rosto e nos costumes .
Propalar, com base em meras suposições , que ha
via um milhão de índios em 1 500 e só restaram do massacre
uns poucos mil - como faz o etnólogo norte-americano Julian
Steward - é urdir fantástica impostura científica, para dividir
conosco as culpas pelos excessos q ue só eles cometeram .88 E
ele preside. 89
Surpreendente e muito estranho é ver etnólogos
brasileiros se curvarem à absurda invencionice de Steward,
admitindo o desaparecimento de 87 grupos indígenas de 1 900
para cá, sem levarem em conta que, feito o contato com a
civilização, o índio é logo assimilado por ela, passando à
categoria de cidadão e nunca à de desaparecido .90 Ninguém
de sã consciência irá acreditar que, em menos de um século,
tantos índios tenh am sucumbido à tuberculose, à sífilis e ao
sarampo trazidos pelos brancos. E, tampouco, que possa ter
acontecido aqui uma chacina de trezentos índios indefesos ,
como a de Wounded Knee, no Dakota do Sul, cem anos atrás,
ou como tantas outras naquele país 91 .
66
A FAlÁCIA 111 ESTmmt
67
A FARSA IAIIIO Mllll
92 Jean de Lery. Histoire d'un Voyage. Berna, 1 578 . Cap. XV (Trad. e Ed.
BIBLI E X, Rio de janeiro , 1 96 1 ) . A respeito , relembrem -se os verso s m agis
trais de G onçalves Dias, no poema I Juca Pirama, que em português
- -
68
A FAlÁCIA DO ESJATU111
69
A FARSA IAIOMlMI
Leitura Complementar
ÍNDIO QUER APITO
João Ubaldo Ribeiro
A resp ei to dos fndios brasi lei ros , duas noções, para perplexid ade
minha, co ntinuam politicamente corre t as . A p ri meira é um prec o n cei to
às avessas, ou seja, um preconceito p o sit ivo . O fndi o é um puro, não
mente, não agride a Natureza, não tem ambições etc. Já ouvi isso de
gen te q u e nunca viu u m fndi o, exceto em fotografias, e de gente que
conviveu c om el es a l gu m te mpo Desc o nheço que fu nd amento há nessa
.
c on v icç ão, até porque as evid ênc i as indicam o oposto, a não ser para um
ou outro deslumbrado que, depois de passar duas semanas filmando na
selva, acha que con hece uma real i dade em que mal roçou.
Se os f nd ios fossem imunes aos defeitos humanos, não seriam
hu ma nos, é claro. Como são, estão suj e i to s às mesmfssimas deforma
ções de caráter ou perso nalidade a que estamos nós todos. Ap en as , vi
vendo em s oci ed a des primi ti vas , n ão são expos to s às pressões sofridas
pel os civilizad os. (Um r ad i cal diria "assi m c h am ad os civilizados", como
se mosquitos, desconforto e comida mefftica fossem pre feríveis a ar
cond ici o n ado , b anhei ros decentes e alm oç o s em que o dri nque não re
pr oduz i r o su fic iente para cad a dia porque têm uma economia primitiva,
onde a nocão de armazenamento de v alor pr a ti c a me nte não existe, não
porque a amb ição sej a um sentimento que não possa ati ngi l os - .
70
A FAlÁCIA 110 ESJATiml
71
A FARSA IAIOIIllll l
72
9
A Sobe rania Tribal
A
o encarregado d e ne g óc i o s
20 de fevereiro d e 1 84 1 ,
de Sua Majestade B ri tânica no Rio de Janeiro, W.
G . Ouseley, c o m u n i cava ao Mini s tro Aureli ano
Coutinho que "o governo da Rainha vinha de encarregar
Robert Schom burgk d e fazer a e x pl o raç ão e a delimitação
da fronteira da Guiana B ri tân ica com o B rasil e de enviar ao
Governador d aquela c o l ô n i a i n s truç ões para se o p o r a
q ualq uer usurpação sobre o Pi rara ou sobre o território
ocupad o até agora por tribos independentes" .94
R e s p al d a v a - s e a tru c u l e n t a i n ti m a ç ã o de
Ou se l e y no p o d e ri o de u m a esquadra ancorada na B aía de
Guanabara e dava como prova dos d i rei tos alegados s o b re
o Pirara a sim ples presença na reg i ão de Thomas Youd e de
Roberto Schom b urgk d i s farç ad o s , um de missionári o, e o
94 Hélio Viana. História das Fron teiras do Brasil. Rio de Janeiro, 1 948.
Cap. XX/11, pp 23 7 a 245.
A FARSA IAIDMiMI
95 Como nos ve rs o s de Lufs de Camões: "O fraco rei faz fraca a forte gente."
74
Mas, ao mesmo tempo em que nos apontavam
seus canhões, propalavam , mundo afora, só estarem ali
para reprimir o tráfico negreiro, movidos pelo espírito hu
manitário do seu povo . . . E se outro brasileiro menos tí
mido, à frente do Ministério, os tivesse arrostado, fic aria
para a História que o fizera em defesa do infame c omér
cio. Esse comércio que enriquecera os ingleses por dois
séculos e agora os impedia de obter melhores preços para
os produtos de suas colônias asiáticas , pela concorrência
da m ão-de-obra vil.
Há tantos anos ouvindo a pérfida e cínica argu
mentação dos poderosos, estamos habituados a fingir que
acreditamos neles, para disfarçar nossa tibieza. Sabedores
disso, eles nos mandam agora outros "missionários" e ou
tros "cientistas", para de novo protegerem tribos "indepen
dentes". E, outra vez, transige-se. E se suspende a constru
ção da BR- 1 74 e da B R- 3 64 para não criar problemas "eco
lógicos" . E nos rendemos às pressões para demarcar a "Ter
ra Ianomârni" .
N ã o é, porém, c o m gestos pac i fi stas que o s
m antere m o s longe d e n ó s . Porque, após o c o l apso da
União S o viética, voltamos a v i ver os s o b ressaltos dos
velhos temp o s , d i ante dos mes m os sete grandes bem
conhecidos .
Diz Liddell Hart, o eminente estrategista inglês,
que "as nações pacíficas tendem a atrair perigos desneces
sários com sua aparente fraqueza. Quando, porém , estes
se concretizam , mostram-se mais dispostos a ir a extremos
do que as nações de caráter predatório. Es t as últimas, que
fazem da guerra um meio de obter vantagens, estão sempre
75
A FARSA IAIOMlMI
Leitura Complementar
A REDOMA FATAL
O ato presidencial que demarcou a reserva i anomâmi n ão está
alcanç ando i nternamente o acolhi mento que foi projetado para o hori
zonte internaci onal .
Por i sso críticas e protestos surgem aqui de todos os lados e, n o
Congresso, j á tram ita o projeto d e decreto legislativo do Senador César
Dias suspendendo a demarcação .
Com o l ance i anomâmi, a política indigen ista brasileira pretende
dar um salto do chão raso em que vinha chap i n han d o para níveis
estratosféricos. Os 9,4 mi lhões de hectares desti n ados a alegados 1 2 mil
índios (provavelmente, o número real será muito i n ferior a este, fruto da
propaganda), numa área fron tei riça estratégica e rica de minerai s no-
96 Basil Henry Liddell Hart: Strategy. Londre s (Trad. de Celso dos Santos
Meyer. Rio de Janei ro. B I B LI E X , 1 966, p . 463 ) .
9 7 A f rase em l atim : Si vis pacem para bel/um. S e queres a paz, prepara-te
para a guerra .
76
bres, demonstram ao mesmo tempo o irrealismo dessa dimensão física
(três vezes a B élgica) e o absurdo dos critérios adotados em todos os
planos: o antrop ológico. o da segurança nacional, o do desenvolvimento
econômico do País etc . O Governo faz da pequena comunidade i ndíge
na um clube privilegiado de zel adores de um tesouro i nviolável e de
opções econômicas petrificadas - quando esses eleitos ainda clamam
pelo atendi mento de necessidades básicas. Nenhuma das quai s, regis
tre-se, atend ida pelo gesto polít ico da demarcação.
Uma faixa de segurança na fronteira com a Venezuela em n ada
reduziri a o nú mero de pacas e tatus da caça dos í anomârnis. Por que
perturbar, através do tampão da reserva, o que o Programa Calha Norte
representa como fator de segurança, de soberania e de desenvolvimento
da regi ão?
O País n ão pode ter donos, nem a preservação da cultura indíge
na exige esse preço.
A preservação de grupos étnicos em redomas que se mantenham
distantes de contatos humanos não passa de urna tentativa de fazer parar
o tempo, como se isso fosse possfvel, em zonas cuj as dimensões e n atu
reza tom am impossível um policiamento protetor.
O artificial ismo condena esse equívoco - e o resultado final ame
aça ser a contaminação dos grupos primitivos pela ação clandestina do
que há de pior na sociedade moderna, enquanto o que esta tem de melhor
é mantido à distância pelo respeito à lei .
(Editorial de O Globo, 1 992 . )
n
10
A Negação da Fé
S
ou católico . Há dez anos participo. com minha mulher,
da pastoral do Encontro de Casais com Cristo . No
Rio de Janeiro, reunimo-nos mensalmente com outros
sete casais para disc utir temas alusi vos à D ou t ri na Cristã e
coorden ar ati v i d ad e s de au xíl i o aos necessi tados , sob
orientação paroquial .
Acred i to ser a fo rç a d o apelo p ara se am arem
uns aos o u tros a razão maior da propag ação da fé , pelo
fascíni o que exe rcem as causas s u bl i m e s e gran d i o s as .
E, e m refo rç o a isso, a re l i g i o s i d ade i m anen te a o s e r h u
m a n o to m a v u l to e v i g o r com a m ística tran scendental
que a p re g ação cristã des perta ao e vocar o s ac ri fíc i o e a
g l ó r i a d o S e n h o r.
Quem se tenha contagiado de sentimentos tais,
dessa fé tão intensa e envol vente, não p od e duvidar da exis
tência de Deus, porque perc e be em toda parte sua presença.
A FARSA IAIDMlMI
80
A lEGAÇÃO DA FÉ
81
A FARSA IAIOIIllll
82
11
O Separatismo Ingaricó
al
M
o p il o to corto u o m ot o r, nos vimos c ercados
por mais de c i n qüe nta índios. Eram i ngari c ós da
mal oc a da Serra do Sol, situada q u ase no sopé do
Monte Roraima. Estavam termin ando de levantar dois tapiris
dentro d a Fazenda Campo Grande, bem perto do igarapé que
serve de limite da p ropri edad e .
Com certeza o fa zi am instigados pe l os p adre s
" "
84
O SEPARATISMO .GARICÓ
85
12
A Validade do Direito
D
e quantos aqui viveram, num passado que ninguém
sabe, só restam vestígios vagos e escusos rastos; há
muitos soterrados, em lugares incertos por onde
andaram . E as densas trevas de quinze mil anos guardam
ainda segredo da história dos primitivos povos que lograram
impor no continente a força do seu domínio.
Mas, pela evidência dos traços impressos no sem
blante dos heróicos descendentes que, desde a chegada dos
brancos, disputaram a primazia nestas terras, se deduz a ori
gem asiática e malaio-polinésia que tiveram . Porque o pen
samento científico hoje predominante rejeita a hipótese de
ter sido na Patagônia,99 ou noutro lugar das Américas, o
berço da humanidade. Admite-se , pois, no contexto dessa
99 Refe rência ao autoctonismo de Florentino Ameghino, baseado em res
to s humanos com esqueletos de animai s e objetos de origem supostam e n
t e muito remota, achados na Patagônia. E ssa hipótese, entretanto , n ão
dispunha de prova s suficientes para su stentar-se.
A FARSA IAtiOMlMI
88
A VALIIAIIE DO U.ITO
89
A FARSA IAIOMlMI
90
13
O Culto à Incultura
A
paixão pela idéia ou a ohra pode levar ao exagero
de confundi r-se meios com fins . E fazer da
reverência cu curiosidade com que se olha o passado
um apostolado, em vez de simples busca de inspiração cívica
ou desejo de melhor i nterpretar nossas origens.
O passado é o exemplo, o mito, a língua, a raça,
a tradição. O presente é a vida; o futuro, a esperança. Não
há como inverter o tempo, remontando aos túmulos ou ante
cipando os sonhos. As desigualdades humanas podem criar
tal ilusão. Mas nem o antigo, nem o provável conseguem
superar o ridículo d1ante do presente .
Não se vive de sonhos nem de lemhranças . É na
realidade vinda do passado, com o nome de cultura, que se
constrói o presente a cada dia e a cada hora. A cultu ra não
pára. Progride sempre, com o ímpeto de perfeição inerente
ao ser humano, numa competição incessan te e decisiva.
A FARSA IAIOMlMI
92
O CIIJO À IICUI.TIIIA
93
14
Ineficiência da FUNAI
J
ulga Sidney Possuelo que a existência de reservas
indígenas na faixa de fronteira não afeta a segurança
nacional. Para ele, os i n garicós da Serra do Sol dizerem
que ali "não é Brasil nada" e demonstrarem tanto ódio dos
brasileiros não é motivo de preocupação. Manter os vazios
humanos nas bacias do U raricoera, do Mucaj aí e do
Catrimani, também não. Tampouco lhe parece p erigoso
ignorar-se o que se passa naqueles confins do Brasil: quem
os freqüenta e quem os habita. E, muito embora "tolere" a
presença nessas áreas de escassos efetivos militares, não a
valoriza nem a prestigia como deveria fazê-lo todo agente
direto ou indireto da administração federal .
Aliás, outros maus brasileiros, que exerceram a
presidência da FU NAI, não escondiam, também , sua aver
são aos militares - a despeito de ter sido Rondon um ge n e
ral. Um deles, para cúmulo do ridículo, enviou correspon-
A FARSA IAIIOMlMI
96
IIIEFICI!ICIA DA FUIAI
97
A FARSA IAIOMlMI
98
15
A Defesa do Privilégio
T
arde da noite, o go vernador telefonou preocupad o :
o s índ i o s tinham i nvadido a Fazenda G u an abara, de
Newto n Tavare s , em N o rm an d i a . Era um sábado de
verão . Que m não estava para o inte ri or tinha saído para j antar
ou dançar na alegre noite de Boa Vista. Reu n i r o pes soal de
fol g a n ão seri a nada fác i l . Dei x ar para se g un da- fei ra pod e ri a
agravar o problema c o m a vi nda de m ai s índios trazidos pe l o s
" p adres" d as m al ocas d a Serra e da G u i a n a , c o n fo r m e
rum ore s c h eg ado s ao palác i o.
Precisávamos ag i r com rapid e z p ara nos antec i
parmos a o s reforços e sur pre e n dê l o s com a prontidão da
-
1 00
A DEFESA 110 PRIVÚGIO
1 01
A FARSA IAIOMIMI
1 02
16
A Contestação de Rondon
m
E
carta de 1 4 de m arço de 1 9 10 ao Min istro Rod olfo
de Miranda, como resposta a o convite para chefiar o
,
S e rv i ç o de Proteção aos I n d i o s em v i a de s e r
,
1 02 Esthe r de Vivei ros . Rondon Conta sua Vida . E d . Cooperativa C u ltu ral
dos Esperanti stas . Rio de Janeiro , 1 969, p p . 3 39 e seguinte s .
1 03 Ibidem, p p . 3 4 0 e 34 1 .
A FARSA IAIOMlMI
1 04
A COIITESTAÇÃO DE ROJIJOI
1 05
A FARSA IAIOMIMI
1 06
17
A Vitória da Intriga
B
ons tem pos se vivia em Roraima, vinte anos atrás ,
quando comandei o CFR/2° B EF. 1 04 Tudo era difícil
e precári o . Não havia eletricidade, telefone nem
asfalto . As casas eram, quase todas, de taipa, c obertas de
palha de buriti . Algumas nem portas tinham , porque n ão
havia l adrões e assim ficava mais arej ad o .
Mas, c o m toda a pobreza, nunca v i gente tão boa
e tão feli z ! E, tam bém , nunca vi melhores soldados ! Pou
cos se podiam dizer "puros-sangues" . A m i scigenação esta
va estampada nas feiç ões do rosto e nos costumes de quase
todos. Não eram índios nem brancos : eram mestiços . E
orgulhavam -se disso . Porque assim se sentiam mais brasi
leiros. E duvido que existisse povo m ais patriota ! Talvez a
disputa pelo Pirara os tivesse deixado com aquela brasilidade
1 08
A VITÓRIA DA II'IRIGA
1 09
A FARSA IAIOMlMI
110
A VITÓRIA DA INTRIGA
Leitura Complementar
111
A FARSA IAIOMllll
112
DECUAN
O MILAGRE
Tribos do Uraricoera e do Orenoco
transformadas em /anomâmis por decreto
Convenção:
c:==:::J Grupo de línguas isoladas
- Grupo canbe
.,
""":
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--o
C-
�5,
0· I
< o
u:::;:
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• •
o c ' ..
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a
a
Xirianás do Alto Uraricaá
Observe a graciosidade das índias
A farsa Acima, aruaques de Maturacá(AM).
À esquerda,xirianá fotografada pelo
autor em Surubai(RR). Abaixo, uaicá
em Surucucus(RR).
Veja-se a enorme diferença.
5 6 7 8
A CONQUISTA DO NORTE
I! •c.e•. I; '20 000 000
-!'
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O Povoamento Português
Antes que outros o fizessem, trataram os lusos de ocupar a Amazônia, organizando e x pedições militares e missões religiosas
com esse fim. Os militares funda ram o Forte São Joaquim; os carmelitas, a Fraguesia de N. S. do Carmo da Boa Vista
COLONIZAÇÃO PORTUGUESA
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As riquezas
r-··f. •
a • Planta da aldeia
b - pro,eção vertiCal de um teto protetor
das on em:>éroes
c • Armação de um teto protetor visto
de trente
; 'I/
,, .
Fazenda Guanabara
O Monte Roraima co roado de nuvens
Na escola, em Brasília
No dia do casamento
em Bela Vista
O declínio da fama
Índios são notícia no exterior
A VllÚRIA DA IITRIIIA
c ia, as nações-chaves dos quatro blo c os pouco teriam a fazer com o Sul
além de continuar sua "satanização", deixando-o à margem da ordem e
do progresso. A força de coação se exerceria no sentido de transferir
culpas e responsabi l idades para as nações que outrora eram subjugadas
em outras pautas de do minação. À con :a dos pobres são debitados a
poluição da atmosfera terrestre e a produção e o tráfico de drogas.
As nações ricas e l i mi n am sua própria consciência de culpa pelo
envenenamento da atmosfera e as alter ações letais do meio ambiente,
jogando toda a responsabil idade nos países si tuados em regiões que abri
gam paraísos ecológicos remanescentes e que estariam sendo devasta
dos para atender a desprezíveis empenhos de melhorar suas próprias
c ondições de vida. Querem por e feito de uma co n denação moral e fi
nanceira coagir o Sul a perman ec er na situação de fornecedor de oxigê
nio, a nova matéria-prima indispensável para o desfrute dos bens de que
são donos p r ivile giados .
Quanto às drogas, esquecem-se as nações ricas de que o essencial
p ara a pr odução delas é a existência de um merc ad o de consumo . Na
América do Norte e Europa suaviza-se a repressão ao comérc i o e consu
mo das drogas para financiar camp anhas mundiais destinadas a eliminar
as fontes da produção de matéria-prima nas nações indigentes da Ásia e
América do Sul. Gasta-se tudo para combater os cartéis de produção e
distribuição da droga e quase nada para reduzir ou eliminar os mercados
de consumo.
S antos Neves, como fecho da sua análise, conclui que há se m
pre uma referência de natureza un ivers al a justificar as es truturas de
poder. Estados Unidos e União Soviética lutavam pela difusão de con
cepções antagônic as que tentavam simbo l izar. Hoje, com o fim da
u topi a socialista, seria necessári a outra idéia- força p ara justi ficar a ar
mação de um novo poder. O ide al ecológico de união de todos os
homens para o bom uso e a pre servação do planeta que habitamos seria
essa nova utopi a, numa suave sugestão de quem não se quer render às
realidades do mundo.
À margem da palestra do diplomata brasileiro, deve-se anotar
indíc ios do possível diálogo que já c omeça a brotar desse esboço de
utopia. Os grupos radicais de esquerda ou contestatórios sem definição
113
A FARSA IANOMlMI
114
18
O Encantamento do
Eldorado
H
á lugares que encantam pela beleza, outros, pela
magnitude, e, alguns pelo mistério que os envolve.
O Planalto do Roraima encanta pelos três motivos.
A imponência da gigantesca escarpa rochosa cria o cenário
adequado ao apelo transcendental que parece vir das
profundeza�> ou do espaço sideral, inundando o ambiente de
misticismo e devoção. Como Machupichu e o Vale do
Amanhecer, desperta-nos para os se gredos inescrutáveis do
Universo. Quem o conhece sabe por que se diz ter sido ali o
lendário Eldorado.
Existem razões para crer que, bem antes dos
portugueses, outros representantes da raça branca tenham
A FARSA IAIOMIMI
116
O EICAIR'AMEITO DO EUIORAIIO
117
A FARSA IAIOMllll
118
Leitura Complementar
119
A FARSA IAIOMllll
120
19
A Suspeição do Interesse
A
natureza humana é mais propensa a destruir que a
edificar. P ri me i ro porque é mais fácil. Segundo.
,
122
A SUSPEIÇlO DO IIIERESSE
123
20
O Exemplo da Dina
M
ari a Dina era o nome da indi azi nha s i m pática e
desconfi ada que minha mulh er resolveu trazer
c o nosc o d o Su api . Meu bata lhão realizava
man obras na fazenda de Levindo de Oliveira , um bravo
u berabense estabelecido no lugar h avi a m u i tos anos . Em
suas terras , m isturavam -se as ati vidades de m i neraç ão e
pecuária c o rno, aliás, era comum naquel e famoso planal to
q ue tivera um dia o nome de Eldorado.
O Estado-Ma i o r do Exérci to de ter m i nara a re
a l i zaç ão de u m exercíci o co m tropa, dentro de u m a h i
pótese real is ta, q ue lhe perm i ti sse avaliar a conven i ên
c i a de tran sferi r pa ra BV -8 o pe l otão de Sur u m u . Já no
fi n al d o s m eus três anos de com ando, julgu ei-me, não
obsta n te, na obrigaçã o m o ral de re ali zá-lo para n ão trans
fe rir ao meu su bstituto um one ros o en cargo d ecor rente
de p ro p o s ta m i n h a.
A FARSA IANOMlMI
126
O EXEMPLO DA DIIA
127
A FARSA IAIOMlMI
1 28
21
O Declínio da Fama
E
nquanto , na teoria, se discute em vão, há cinco séculos,
a m elhor forma de convi ver com os n ati vos ai nda
selvagens, na prática, o que se tem visto ao longo da
his tóri a é o preval ecim ento sempre da "razão do m ais
forte" , como ens i n a La Fontai n e na fáb u l a (A razão do
mais forte é sempre a melhor). A m es m a razão que tem
presidi do as rel ações entre os povos no c o rrer dos tempos .
A co n s c iênc i a d e s u a val i d ad e refr e i a o s i n s ti n t o s
des trui dores , pelo tem or d a vingança e prestigia o s m a i s
fortes , p el a ameaç a m aior que represen tam d e torná- la
m a is c r u el . P o rqu e , s e é ob rigat ó rio r e v i d a r - s e o s
inimigo s , q u e n ã o s ejam eles os m ais tem íveis, d i z a lógica
d o amo r à v i d a . . . E, c o m o ensinava S i g m u nd Fre u d ,
n e n h u m a i n fl u ê n c i a é m a i o r q u e o s i n s t i n t o s d e
conservação no comportame nto hum ano . O sexo para a
soc i ed ade; o m edo para o indi víduo.
A FARSA IAIOMlMI
108 Jean de Lery: Histoire d'un Voyage. (Trad. BIBLIEX. Rio de Janeiro,
1961, p. 165.
109 Ibidem, p. 166.
130
O IIECÚNIO DA FAMA
131
A FARSA IAIOMlMI
11 1 Ibidem, p. 942.
132
Em 1640, por ocasião do malogro da poderosa
esquadra de 87 velas ao mando do Conde da Torre, diante
dos 41 navios dos holandeses que devia destruir, para então
retomar-lhes as terras invadidas, lamentou o Padre Antonio
Vieira: "Perderam os derrotados e tristes conquistadores o
mar, perderam a terra, perderam a esperança. E nós que ne
les a tfuhamos fundado, também a perdemos".
s m ados éramos a vencer e tri
"Os que tanto c o tu
unfar, não por fracos, mas por castigados, fazeis q u e volte
mos as costas a nossos inimigos ... "
1 12 Ibidem, p. 990.
133
A FARSA IAIOMllll
Leitura Complementar
134
22
A Herança Lusa
A
enormi dade do territóri o brasi leiro ao proc lam ar
se a Independência constitui, por si só, a maior glória
de Portugal. Não há paralelo históri co para tão
fantástica conquista. Era preci s o outro Os Lusíadas para
descrevê-l a com a mereci da gala.
Aq uela gente es c assa, m u lti plican do -s e pelo
hero ísmo , lançou-se impávida oceano afora, e x puls ou os
flamen gos , perseguiu os franceses , afastou os espanhói s c se
impôs aos índios para legar-nos, três séculos passados, este
país imenso, com os lim ites definidos e integrado, de sul a
norte, de leste a oeste, pela mesma fé c o m esmo idioma. Ca
bia-nos, tão-somente, preservar a heran ça formidável. E havê
lo conseguido, nesses quas e dois séculos , contra a ambi ção
estranha e a traição nativa, é também a nossa m aior glóri a.
Mas, agora que a e x plosão demográfica aflige nações
e governos , a anti ga idéi a de lançarem mão da Amazôni a
A FARSA IAIOMllll
136
A IERANÇA WSA
137
A FARSA IAIOIIIlMI
Leitura Complementar
A AMEAÇA
Carlos Castello Branco
É provável que tenha faltado naturalidade ao encontro de ontem
em Tóquio, d os pres iden tes do Brasil e dos Estados Unidos, programa
do para escassa mei a hora. A insólita di vu lg ação por autoridades norte
americanas de que Bush advertira o Governo japonês para não fmanciar
o projete de conclusão e pavimentação da estrada que, através do Peru,
abrirá acesso de produtos brasileiros ao Pacífico criou entre autoridades
nacionais a impr essão de que o chefe do governo dos Estados Unidos
estava atuando como uma esp é cie de lobby dos produtores d e grãos do
seu país. A estes não i nte r e ss ar ia a m e l h ori a d as con d iç õ es de
competitividade do concorre n te sul-americano. em condições de ampli
ar sua já notável produção de soj a em Mato Grosso e Rondônia, que
seguiria urna rota de 1.500 quilômetros ( contra os quase4 mil atuais) até
um porto na bacia do Pacífico, na q u al se conc en tr a hoje a fome por esse
e outros grãos.
O secretário-geral do ltamarati, embaixador Paulo Tarso Flexa
de Lima. tem gasto nos últimos di as pelo menos 20% do seu tempo útil
para tratar das questões eco lógicas susci t ad as contra o desenvolvimento
brasileiro, não só nos Estados Unidos corno na Europa. Ele acha que as
pressões atuais são as mais chocantes que já se exerceram contra os pro
jetos brasileiros, superiores mesmo, em escala e em tom. à campanha do
governo Carter re lacion ada com a de fesa dos direitos humanos. Para o
secretário-geral do Ministério do Interior, I osé Carlos Mello, especialis
ta em engenharia de transportes e que vem de uma viagem a Washington
e Nova York, os americanos ainda não en te n der an que a rota para o
Pacífico está praticamente aberta, carecendo apenas de rnelhorarnentc
das picadas abertas na selva (já foram derrub adas as árvores que teriam
de cair), da construção de obras de arte e de pavimen tação para que
utilizemos o porto de Callao, no Peru, já por convêni o aberto aos embar
ques dos nossos produtos . A estrad a será comp letad a com ou sem ajuda
dos Estados Unidos ou do J apão.
A p r opó s i t o lembra-s e que, em 1960, qu an d o o presidente
Eisenhower veio a Brasília, numa conversa com Juscelino Kubitschek
138
A IERAII;A WSA
139
A FAlSA IAIOIIIIMI
140
23
Catequese e pretextos
ecológicos
N
o instante final de sua trágica agonia, perdoou Jesus
os ím pios que, nos limites da condição humana, não
p uderam reco n hecer-lhe a d i v i ndade c, ass i m,
ignoravam o m al que faziam ao c ruc i fi c á- l o . Porque só o
arrependimento d o pecado ou a inc onsc iênc i a de havê- lo
cometido merecem a m i sericórd i a dos céus ou o perdão
dos homens .
E, e m seu extremo sacri fíc i o , o próprio Mestre
admi tia o justo preço do perd ão. Pois ens inava, nesse exem
plo, não ser a graça devida a q uem , sabedor do m al que cau
sa, ainda sustente o ânimo de continuar a praticá-lo, como
alguns índios de Roraima que, desprezando apelos e com-
A FARSA IAIOIIAMI
142
CATEQUESE E PIETEXTOS ECOLÓGICOS
143
A FARSA IAIOMlMI
144
CATEQUESE E PRETEXTOS ECOI.ÓQICDS
145
A FARSA IAIOMlMI
Leitura Complementar
UMA HISTÓRIA ANfiGA
EÇA E AS RIQUF2AS DO BRASIL
Carlos Tavares de Oliveira
Não é de hoje que as g randes potên c i as consideram o Brasil inca
paz de cuidar de seu terri tório e de suas imensas riqu ezas naturais. No
sécu l o p assado impressi onante rep or tag em na p rimei r a página em The
Times, maior j ornal inglês, despertou interesse em toda a Europa, com
evidente repercussão na Corte, no Rio de Janeiro .
Ao contrário do que ocorre h oj e com a Amazônia que n ão se
-
quer ver exp l ora da , n aquela época a pre ocupação estrangeira era c om
-
146
CATEQIESE E PIIOEXTOS ECGI.IiaiCOS
1 47
A FARSA IAIGMlMI
148
24
A Exorbitância da Lei e
a Detupação dn Idealismo
D
emocrac i a é o respeito à Lei , disse Rui B arb os a . E
com uma simples frase resum iu o que é fundamen
tal nessa fo rm a de govern o . Pri m eiro , o equ il íbrio
n ecessário entre dire i tos e deveres, obtido pela l i m i tação
da liberdade de c ad a u m , de modo a p oderem to d o s ser
igual mente li vres . Segundo, a primazi a da Lei c d o Dire i to
em c o n traste com a i n seg urança d o s reg i m es autori tários .
Terceiro, a i m p ortân c i a de q ue as leis expressem c o m fide
lidade a consciência d a p o p u l ação para garantia de serem
acatad as . Po rq u e , se não houver l i m ites à liberd ade , só os
p oderosos terão d i re i tos ; se as autori d ades se co l o c are m
aci m a da Lei , não h a verá respe i to a es ses d i rei tos c se a lei
A FARSA IAIDMlMI
150
A EX-ITAIICIA DA LEI E A DETURPAÇIO DO IIWISMO
1 51
A FARSA IAIIOMllll
152
A EX•nllcll DA lEI E A DE1URPAÇIO 110 IJEAUSMO
153
A FARSA IAIOMIMI
1 1 5 A d i s po n i b ilid ade para o batal hão no ú n i co vôo men sal da FAB para a
frontei ra (LIA- 1 ) era de ape na s 230 kg . Conside rados os efetivos dos pelo
tões de No rmandia, Bonfim e S u ru m u . n o total de q u ase cem home ns, isso
e ra m u ito pouco, q u a n do não se podia conta r com ou tro meio de t ran s p o rte .
1 54
A EXOIII ITiiCIA DA LEI E A DE1URPAçlO DO ltW.ISMO
155
25
O Garimpo e a TecntXracia
O
devassamento e a povoação do B rasil se devem
principalmente à indústria extrativa, à pecuária, à
agricultura e à mineração. Os fortes, as capelas , as
e s trad a s , as v i l as e as c id ad e s vie ram n o rastro d o
i n te resse q u e e l a s c ri aram . E vi raram ruínas q u ando o
i n te resse ac abou . . .
Porque a vida civilizada requer condiç ões de
conforto , segurança, saúde e cultura, que só a riqueza pode
oferecer. E nossa história conta a busca da riqueza em su
cessivos ciclos econômicos m arcados pela importância co
m ercial predominante de alguns produtos . Como o pau
b rasil, a cana-de-açúcar, o ouro, a borracha e o café. Onde
m aior é a riqueza, mais avançada é a cultura. Mais requinta
da e nobre é a vida. Mais poderosa e respeitada é a nação .
Ela nasce da iniciativa dos indivíduos para en
grandecer a sociedade . Ao contrári o da honra, que a força
A FARSA IAIOMiMI
1 58
O GARI..U E A TECIIJCRACIA
159
A FARSA IAIOIIAMI
160
O IARIMN E A m:mCRACIA
161
A FARSA IAIOMlMJ
1 62
O GARIMPO E A TECNOCRACIA
163
26
O Restabelecimento da Otdem
e a Retomada do Progresso
N
ão c o m p ree n d i a G r ü n b e r g po r q u e os í n d i o s
p referiam morrer d e fome c s ed e n o l avrado, pel a
inclemênci a da seca de 1 9 13, a buscar salvação na
sel v a exub erante e despovoada. E hoje, passados oiten ta
ano s , n ão se comp re e nde também , por que as pessoas têm
de m o rrer de fome no Nordeste e nas favelas das grand es
cidades, ao i nvés de buscarem s al v ação nas ri que zas i m ens as
m antidas ao sopé das serras de Roraima.
Para Grünbcrg a explicaç ão e s tava no temor q ue
as fl ec h as m ortais dos xi ri an ás inspiravam . Para os bras i le i
ros, a razão de não pod e rem i r a tr ás do o uro está no interesse
das grandes m i neradoras e s tr an ge iras em m an tê-lo esco nd i -
A FARSA IAIOMlMI
1&6
O IIESJ&LEC_,...O DA CRIEM E A RETOMADA DO PRDGIIESSI
1 67
A FARSA IAIOIII MI
1 22 Ibidem, p. 7 1 .
1 68
O IIESTABELECIIIEITO DA -EM E A RETOMADA DO PR..SSO
Leitura Complementar
169
A FARSA IAIDMIMI
170
Militar da Amazônia a empregar seus soldados, treinados em guerra na
selva, para botar em prática essa decisão de gabinete, que só pode ser
aplicada à força sobre milhares de pessoas enraizadas por ali. Os milita
res, por questão de fronteira, vêem com muito bons olhos essa invasão,
que para eles evita outras - de países estrangeiros.
(Transçrito do Jornal do Brasil, 25 de junho de 1989.)
O CAOS
João Ubaldo Ribeiro
A maior parte de nós, brasileiros, ao contrário do que nos querem
levar a pensar, vive sob ditadura. Há a ditadura básica, dos que estão por
cima da carne-seca, ou seja, os muito ricos e privilegiados, os muito
poderosos que ganham dinheiro com a infl ação e a miséria, não pagam
os impostos com que se arrocham os assalariados e, em última análise,
estão se lixando para o destino da Nação, a não ser que a Nação resolva
a sério consertar este estado de coisas, caso altamente improvável em
que eles iriam embora, gastar o dinheiro que têm lá fora. E há as diver
sas subditaduras, cuja proliferação é conseqüência direta ou indireta da
existência da primeira.
Há a subditadura dos bancos, que toma nosso dinheiro, nos trata
a pontapés e prospera esplendorosamente sobre a pauperização geral. A
dos burocratas, que nos impõe normas kafkianas mudadas todos os dias
e nos envolve num cipoal diabólico de siglas, formulários, instruções e
obrigações tirânicas, forçando-nos a alimentar um exército de despa
c�antes para resolver os problemas criados por ela e lançando sobre to
dos os nossos atos as malhas do governo, desde o voto compulsório
descrito farisaicamente como "direito" até a proibição de dispormos li
vremente dos nossos bens, em caso de herança. A das empresas, que
também impõe suas regras, estabelece os preços como lhe dá na telha,
capitaliza-se indecentemente e nos fornece. alguns dos piores, mais caros
e atrasados produtos e serviços do mundo. A dos governos paralelos,
como no Rio de Janeiro, que decreta feriados, interdita ruas e bairros,
conduz programas de "assistência social" e sentencia os infratores de
171
A FARSA IAIDIIlMI
suas leis. E a lista poderia ser bastante encompridada, mas não há neces
sidade, porque já é conhecida de todos.
Temos instituições democráticas, mas o governo sempre, e com
razão, foi visto corno "eles", que fazem o que querem, sem necessidade
de nos dar satisfações. Eles são eleitos ou nomeados e, imediatamente,
passam a ter autonomia, não são mais representantes ou empregados do
povo, mas donos da coisa pública Tratam a educação como se fosse
.
1 72
são lobbies n ão regulamentados de poder desmedido, cuja influência é o
que verdadeiramente conta, na condução de nosso destino. Quem é que tem
conhecimento de alguma coisa das 1 7 mil emendas apresentadas nessa revi
são con stitucional açodada, atravancada pela sujeira entrevista nas CPis e
atrapalhada pela "grande festa do povo brasi leiro , que vem aí daqui a um
"
pervertido como já está sendo, nos levará a uma sociedade ainda mais
d oente e não a uma sociedade "moral". Thdo está ficando denunciável e
daí a pouco viveremos uma situação parecida com a de 1984 de Orwell
ou a do Terceiro Reich descrita por Brecht, todo mundo dedando todo
mundo, como se isso fosse o alicerce de uma coletividade eticamente
sadia, quando na verdade é sintoma de grave enfermidade.
Temos, se não me falha a memória, uns 20 partidos pol íticos Tere
.
1 73
Epílogo
O
m otivo deste trabalho é alertar a Nação p ara a
a m e a ç a q u e l h e ro n d a as fro n te i ras . Para a
possibilidade de se repetirem , a curto prazo e em
maior escala, antigas tentativas das potênci as imperialistas de
nos subjugar. Porque, embora ninguém mais duvide da realidade
desse perigo, ainda há quem não pressinta sua iminência. Pois,
o povo brasileiro é, por natureza e tradição, avesso a precaver
se do que quer que seja, confiante de que as previsões sinistras
só possam ocorrer com as gerações futuras. Uma confiança
que, muitas vezes sem nenhum respaldo na certeza ou, sequer,
na razoável convicção de uma correspondente garantia, passa a
ser pura imprudência ou comodismo irresponsável.
Mas, se é custoso convencer nosso povo a ver
na escuridão do horizonte a tempestade que chega, maior
empenho na eficácia do alarme haverá de caber a quem pos
sa ou deva preveni-lo de males e desgraças .
A FARSA IAIDIIIAM I
176
EPÍ.OGO
177
A FARSA IAIOMlMI
178
EPi.OGO
179
ANEXOS
A
Relatório da Cruzada
184
IIEUilÍIII DA CllUlAIIA
3. RESUMO
AUARIS MAIONGONG 40 a 80
MACU 40 a 80 INDE'JERMINADO
1 85
B
Diretriz Brasil
DIREIRJZES
A A Amazônia Total, cuja maior área fica no Brasil, mas com
-
188
IIIETRIZ ..UIL
189
A FARSA IIID Mllll
sa. Cada simpatizante deve ser instruído para que consiga mais 1 O, esses
1 0 e cada um deles mais 1 0 e assim sucessivamente, até formarmos um
corpo de simpatizantes de grande valor.
b) Maximizar, na medida do possível , a carga de in forma
ções, aperfeiçoar o Centro Ecumênico de Documentação e, a p artir
dele, alimentar os p aíses e seus veículos de divulgação com toda
sorte de informações.
c) Enfatizar o lado humano, sensível, das comunicações, perrni
tindo que o objetivo básico permaneça embutido no bojo da comunica
ção, evitando discussões em torno do tema. No caso dos países abrangi
dos por estas diretrizes, é preciso levar em consideração a pouca cultura
de seus povos, a pouca perspicácia de seus pollticos ávidos por votos
que a Igreja prometerá em abundância.
d) Criticar todos os atos governamentais e de autoridades em
geral, de tal modo que nosso ideal continue presente em todos os
veículos de comunicação dos países amazônicos, principalmente do
Brasil, sempre que ocorra uma agressão à Amazônia e às suas po
pulações indígenas.
e) Educar e ensinar a ler os povos indígenas, em suas línguas
maternas, incutindo-lhes coragem, determinação, audácia, valentia e até
um pouco de espírito agressivo, para que aprendam a defender os seus
direitos. É preciso levar em consideração que os indígenas desses países
são apáticos, subnutridos e preguiçosos. É preciso que eles vejam o
homem branco como um inimigo permanente, não somente dele, índio,
mas também do sistema ecológico da Amazônia. É preciso despertar
algum orgulho que o índio tenha dentro de si. É preciso que o índio veja
e tenha consciência de que o missionário é a única salvação.
O É preciso infiltrar missionários e contratados, inclusive não
religiosos, em todas as nações indígenas. Aplicar o Plano de B ase das
Missões, que se coaduna com a presente Diretriz e, dentro do mesmo, a
posição dos nossos homens em todos os setores da atividade pública, é
muito importante para viabilizar estas diretrizes.
g) É preciso reunir as associações de antropologia, sociologia e
outras em torno do problema, de tal maneira que sempre que necessite
mos de assessoria, tenhamos essas associações ao nosso lado.
h) É preci so insi stir no c onceito de etn i a, para que desse
1 90
DIETRIZ IRASI.
SUPORJE E EXPLICAÇÕES
I - As verbas para o início do cumprimento desta etapa já se acham
depositadas, cabendo a distribuição ao Conselho de Curadores definir e
avaliar a distribuição. Da verba SA 4-8 1 , 60% serão destinados ao Bra
sil, 25% à Venezuela e 1 5% à Colômbia. Ficarão sem verbas até 1 983 o
191
A FARSA IAIOIIAIII
B . S arnuelson
1 92
c
A Deformação da HistóriLl
A. Gomes da Costa
194
CIMI . Não
deste n aipe corno l i vro básico n as escolas dirigidas pelo
a leram; se foi testada
i mporta que sej am muitas ou poucas crianças que
em Tapirapé, no Mato Grosso, ou em Kunina, no Acre; ou se vai já na
quarta edição e foi considerada por alguns pedagogos com a "vulgata da
chuchadeira". B astaria ter sido lida por um único aluno para merecer o
repúdio e a condenação de todos aqueles que sentem uma ponta de orgu
lho de serem brasileiros - e não trocam a n acionalidade pela ideologia,
nem carre gam às costas a mochila dos complexos .
Para preparar as ger ações do futuro é i mportante respeitar os
val ores e os elementos que i n formam a n ossa própri a identidade -
e, p ara i sso, não podemos permitir que a escola se sirva do bagaço
da ignorânci a e que os l i vros de Hi stóri a se trans formem em i n stru
men tos de den ú n c i a, c omo se, porventura, se ti vesse c o metido um
crime ao c o nstrui r o B rasil como ele é, c o m a sua di mensão e a su a
unidade, com a sua riqueza e a sua cultura, c o m a sua m i stura étni c a
e a sua formação espiritual
(Transcrito do jornal O Globo , Rio de Janeiro, 1 992.)
195
D
Influência Militar
1 98
IIR.UhCIA MI.IJMI
1 99
E
Amazônia e o Mundo
Roberto Marinho
212
AIIAZII II E I MUIDO
203
A FARSA IAIOMlMI
204
AMAZIIIIA E O MU.
205
-- - - :_
- -=-��- -
F
Espetáculo na Selva
Para as televisões, o cenário não poderia ter sido mais bem mon
tado: uma grande assembléia de índios no Xingu, com danças rituais e
ameaças aparentemente ferozes contra representantes do governo. Para
a imprensa estrangeira, melhor ainda: um choque de culturas como já
não se vê na Europa ou nos Estados Unidos; uma encenação carregada
de pitoresco tratando do tema que agora recebe prioridade número um
no mundo desenvolvido - a floresta amazônica.
Do lado brasileiro, também há quem extraia dividendos políti
cos do encontro - como o "deputado ecológico" que prometeu obstruir,
no Congresso, o projeto de construção de uma hidrelétrica perto de
Altamira. A atriz e ativista Lucélia Santos declarou que as hidrelétricas
foram construídas pelo regime militar, e não interessam ao povo .
A causa ecológica transformou-se, de fato, num superassunto
internacional ; e o Brasil está na berlinda por abrigar em seu territó
rio a maior floresta do mundo. Também temos muitos índi os, o que
estaria a sugerir que o nosso reco rd histórico nesse terreno não é
tão mau quanto o de outros p aíses. Um índio sioux (n orte- ame
rican o ) presente ao encontro de Al tam ira decl arou exp l icitamen
te que se o s assuntos in dígen as ti vessem merec ido tratamento
A FARSA IAIOMlMI
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ESPETAcul.o IA SB.VA
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"missionários do progresso" - missionários que, em seus países de ori
gem, não fizeram o que agora pregam.
A Internacionalização da
Amazônia
Carlos de Meira Mattos
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A INTERIACIOULIZAÇIO DA AMAZOIOA
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A FARSA IAIOMlMI
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A IITERIACIOULIZAÇlO DA AMAZIIIA
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A FARSA IAIOMlMI
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Comp o sição e Diagram aç ão Regina Rodrigues Bimbi
Copidesque e revisão ortográfica Renaldo di Stasio
José Lívio Dantas
Capa Carlos Chagas
Quantidade de pág i n as 216
Formato 14 x 2 1 cm
Mancha 26 x 41 paicas
Tip o l o g i a Tzmes new roman
Fotolitos de miolo Papel vegetal em espelho (mirrar)
Fotolitos de c apa A cargo da BIBLIEX
Papel de miolo Offset 75 g
Papel de capa Offset 240 k (plastificada)
Impressão e acabamentG Marques Saraiva
Gráficos e Editores LTDA
Tiragem 3.000 exemplares
Térmi n o d a obra Dezembro/95
EDITORIAL DE 1 -
(PREVISÃO )
Col eção G e n e ral Benício
Para distribuição aos assinantes
A PRÁTICA DA HISTORIA
Barbara W Tuchman
O SOLDADO E O ESTADO
Samuel P. Hun t ing t on
OS MERCENÁRIOS DO IMPERADOR
Juvêncio Saldanha Lemos
OS MARECHAIS DE NAPOLEAO
Hugo Jorge de Brito Chaves
O BRASIL E A NOVA GEOPOLÍTICA EUROPÉIA
Francisco de Assis Grieco
CARTAS DOS CAMPOS DE BATALHA
DO PARAGUAI
Sir Richard Francis Burton
Coleção
Marechal Tro m p owski
Livros Didáticos
ANTOLOGIA ESCOLAR/1
Cel Prof lguamir Antônio T. Marçal
Coordenador
ANTOLOGIA ESCOLAR/2
Ce/ Prof /guamir Antônio T. Marçal
Coordenador
HIST0RIA DO BRASIL/1
Guilherme de Andréa Frota
lÍNGUA: INSTRUMENTO DE COMUNICAÇAO
Suei i Shibao
Coordenadora