Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
©2013 GRACCOLIVEIRA
todos os direitos estão liberados para reprodução não
comercial. qualquer parte desta obra pode ser utilizada ou
reproduzida em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou
eletrônico, fotocópia, gravação, etc. desde que não tenha
objetivo comercial e seja citada a fonte (autor e editora).
direção de arte:
daniel minchoni
hérnia
primeira edição. 2013
a Rodrigo Alberto Nunes
“(...) ‘Quem quiser nascer tem que destruir
um mundo’ — eis a mensagem — destruir no sentido
de romper com o passado e as tradições já mortas,
de desvincular-se do meio excessivamente cômodo
e seguro da infância para a consequente dolorosa
busca da própria razão de existir: ser é ousar ser... . (...)”.
era negra
a neve que caia
onde as palavras ardem em despedaços
todo verso é crasso
e as letras
maltrapilhas
12 hérnia
se flagelam
mantras e blasfêmias
nadam raso
na saliva
olhares alagáridos de lonjúrias
a manhã ontenrrada em nuas escuridões
15 graccoliveira
morremo
-nos
uns
aos outros
roemo-nos
e somos um
erro
espelho envolto em nuvens
- o hálito não mente
fôlego: a dança
do fogo ao redor
do gelo
16 hérnia
as unhas dos
olhos são
incortáveis
minha sombra me arrasta pela língua
por epiléticas ruas sou levado
de tarso se debate em garrafas e não se cala
há motores guturais em marcha fúnebre
o sol
silencioso e surdo
se move
não sabe que horas são
as nuvens nos cegam
mundo só se vê à beira da janela
à traz da tela
entre o balé do limpador do para-brisas
brisas há
o verde envenena a cidade com vida
poucos sabem menos querem
dos poros do asfalto a escuridão mais pura
olhos néon não bastam nem morna lágrima alguma bastará
minha sombra gargalha
17 graccoliveira
e não me enfraquece
luto é
lucro e
tudo posso
quem dirá o que ninguém ouviu? dia
logo ausente a lua uiva pra matilha
18 hérnia
e deseja explodir
( [ tanta
mudez dentro
do canto quanto silêncio envolto em grito
] )
20 hérnia
do domingo
cascos cavam fundo
chifres furam muros
e o mundo é fraco vasto
e mudo
vens numavalanche
desavessar o passo do meu verso
quando a noite geme nas janelas
28 hérnia
amor
sonho naufrágios
o profundo de ti em meus pulmões
águas rubras
sangue teu em que me sei cardume
30 hérnia
[amor é um Deus
que me devora
e me dá de comer]
31 graccoliveira
asfixia
agora em mim em teu lugar
adia o dia
meço em falso o passo que me hesita
já é tarde
direi coisas terríveis quando amanhecer
e as pedras e as nuvens
37 graccoliveira
aprendi a andar
descalço
e com meus pés
44 hérnia
02
meu passo é certo nesse descaminho:
o vento me convida e as aves dizem ‘vai!’
45 graccoliveira
03
na rota das nuvens
sem mapa nem bagagem
sou tudo que posso tocar
46 hérnia
se afoga
em si
e se retorce
e
me sorri
depois da pedra
o canto se tornou questão de honra
na inutilidade das asas
48 hérnia
imaginando a nuvem
ninho
agonizou sorrindo à gaiola vazia
4:20 p.m
é verde a voz da paz que se aproxima
49 graccoliveira
e finalmente
tendo tudo surdo à voz do atraso
adormecer
matilhas de
cordeiros
devoram o sol
o poema
não responde
de olhos boquiabertos
um garoto mergulha
e bebe em suas
próprias mãos
- um
51 graccoliveira
punhado
de mar perdido
nelas –