Se você acordar dessa ilusão e entender que a existência do preto implica a
existência do branco, que o ego implica o outro, que vida implica morte (ou eu deveria dizer que a morte implica vida?), você pode sentir a você mesmo – não como um estranho no mundo, não como alguém aqui sob liberdade condicional, não como algo que chegou aqui por acaso – mas sim sentir sua existência como absolutamente fundamental. Eu não estou tentando vender esta ideia com a intenção de lhe converter. Eu quero que você brinque com ela. Eu quero que você pense nas possibilidades dela, não estou tentando prová-la. Só estou a apresentando como uma possibilidade da vida a ser pensada. Então, vamos supor que você pudesse, toda noite, sonhar qualquer sonho que quisesse sonhar, e que você pudesse, por exemplo, ter o poder de sonhar em uma noite 75 anos, ou qualquer período de tempo que você quisesse ter. E você iria, naturalmente, ao começar essa aventura de sonhos, completar todos os seus desejos. Você teria todo tipo de prazer durante seu sono. E depois de tantas noites de 75 anos de total prazer cada, você poderia dizer “Bom, foi ótimo, mas agora vamos ter uma surpresa, vamos ter um sonho em que não tenhamos controle, em que algo vá acontecer comigo e que eu não saiba o que vai ser” E você entraria de cabeça no sonho, e ao acordar falaria “uau, isso foi muito intenso, não?” E então você ficaria mais e mais aventureiro e curioso, e faria mais e maiores apostas sobre o que você quer sonhar. E finalmente, você sonharia com onde você está agora. Você sonharia o sonho de viver a vida que você está, na verdade, vivendo hoje. Isto faria parte das infinitas opções de escolhas que você teria. Ao atuar como um ator, fingindo não ser deus, porque toda a natureza da divindade, de acordo com essa ideia, é fingir que não é deus. Então, dessa forma, todos são fundamentalmente a realidade final, não deus em um sentido politicamente real, mas Deus no sentido de ser o Eu, o princípio básico, ou o que quer que seja. E você é tudo isso, apenas está fingindo que não. Traduzido por Alan Watts Brasil