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Fonologia, fonética * ensino ~ OUQINPOWU! CNB OSU} ‘OIGO MIKAELA ROBERTO \OUO- OLYAEOY VIaVyIN S © contribuigées a esta obra, para também, por honrar-me aceitando * agradeco a Deus pela oportunidade ‘ormarao linguistica de professores, la educasao no Brasil Sumdrio Preficio, APreSEMAGIO von 1. Conceitos basicos....... VA MtPOdUGE0 renner ddos estudos fonético-fonolégicos a articulatéria.. 14 Aparelho fonadotnun.. 1S Fonema e formu. 1.6 Var i260 vnmuun 17 Tragos distintivos... - Fonemas ¢ alofones do portugués bra: 2.1 Alfabeto Fonético Internacional (IPA 205 eal 23 3. Constituintes prosédicos, 3:1 Silaba... 3.2 Pé métrico. 3.3 Palavra fon 3.4 Demais ni SMSC nnn Pritica. 5, Processos fonolt 5.1 Processos foi 5.2 Processos fonol spor apagamento ou supressao. -0s por acréscimo.-.. 5.3 Processos fonol6gicos por transposigio..... 5.4 Processos fonol6gicos por substituici0... 5.5 Ressilabag0 nom a 5.6 Regras fonolégicas : 5.7 A fase de aquisicao da linguagem. 5.8 Os chamados desvios fonolégicos.... Sintese Pratica. 6.3 Os prineipios do sistema alfabético do PB... 64 Consciéncia fonoldgica e alfabetizagao... 6.5 0 ensino da ortogral Sintese .... Prtica no ReferenchaS nnn Glossario..... Prefacio Leonor SCLIAR-CABRAL 5 UFSC) £ oportuna a iniciativa de publicar uma obra de introdugao aos ‘estudos de fonética, fonologia e ortografia do portugués brasileiro (PB), destinada aos alunos da graduagao de ‘varios cursos nos quais tais conhe- timentos sdo necessrios, como os de Letras, Traducao, Fonoaudiologia e Educasao. Evidentemente, adequar o registro de teorias muito complexas ¢ especificas a estudantes iniciantes nao é tarefa facil, mesmo porque ain- dda hd muita controvérsia entre as préprias teorias e subsistem algumas questées polémicas da fonologia do PB, como é 0 caso da existéncia ou no de vogais nasa No entanto, é conveniente que, até para o iniclante, varias teorias, embora discrepantes, para que ele desenvolva seu es vrhiee endo aceite nenhuma delas como verdade absoluta eInquestion4vel, ‘Ao abordar as teorias fonolégicas, Mikaela Roberto apresenta nao 6 a proposta de Chomsky € Halle no The Sound Pattern of Engl também as chamadas fonologias nao lineares: a teoria autossegmental, a teoria métrica, a teoria lexical, a teorla da sflaba e a teorla pros Grande espago € dedicado no livro a variagao fonética ja descrita nas pesquisas sociolinguisticas brasilelras (capitulo 2) e, no capitulo 3, sio apresentadas recentes teorias sobre os constituintes prosédicos, aplicadas 4 descri¢ao do PB. 'A preocupacio didética da autora perpassa 0 livro. No capftulo 4, ela exemplifica as transcrigbes fonéticas e fonol6gicas de palavras do B, utilizando o IPA e se valendo da proposta de Cristofaro-Silva (2010). ‘. Os processos fonolégicos, que sao universais, podem ser examina- dos sob a ética diacrénica, sincrénica ou sob ambas. Mikaela Roberto se dletém na segunda, com vistas & aplicagao aos estudos de aquisigao da linguagem, a variasao soclolinguistica, as préticas de alfabetizacio e & clinica fonoaudiolégica. E importante conhecer tais processos, que sio naturais, para nfo confundi-los com desvios fonolégicos. Sabemos da existéncia de uma tendéncia em curso nos primeiros anos do ensino fundamental: “pa- fologizar” a crianga que apresente algum problema de aprendizagem, Particularmente no processo de alfabetizacio, Rotula-se a crianga como a, por exemplo, quando a causa estd, muitas vezes, no despreparo do professor, na falha ou auséncia de método e/ou na inadequacdo do material pedagégico. Sem priorizar 0 enfoque, a autora menciona a importancia dos rocessos fonéticos ¢ fonoldgicos nas mudangas das linguas (estudo dia. crOnico). No que se refere aos cursos de Letras, tais fendmenos vinham (€ vem) sendo estudados com o nome de metaplasmos, na disciplina de histéria (Interna) da lingua, sob o prisma filolégico e como fatos isolados. O capitulo 6 € dedicado ao ensino da ortografia, ao qual os profes. sores de portugués reservam grande espaco em suas aulas, sem obter 05 resultados desejados, uma vez que sua didética permanece centrada na memorizasdo de regras e/ou de listas com exceges, sem um fundamento cientifico baseado nos prinef let a conversao dos fonemas em grafemas, independentemen- te do contexto fonolégico, e a que pode ser prevista pela morfossintaxe (Seliar-Cabral, 2003). Ao final de cada capitul contetidos prineipais e ati © estudante encontrard uma sintese dos idades para autoavaliagao. Ao final do livro, lum glossirio também auxilia o estudante a compreender o significado biisico das palavras especializadas. Cumpre-se, assim, 0 obj Inielantes: no 'vo da autora de produzir uma obra para do da fonética, da fonologia e da ortografia do PB. | Apresentagao idade de sistematizar os estudos previstos Ree a esos eto dental oe = sap dos tpicos de fonéicae Fonologia comumnente oe are rape introdutérias sobre o assunto, esta obra estuda a aaa ee de eaerna, pico nem sempre abordado nessasdisciplinas, eer areas de nrofesores de ingua materna ealfabetzapto. A sete da erate prelminardo ivr cinta com incl das at Sane praflatas’mestrado profsslonal em rede proposto pelo MEC, sae cte a UPRa do al ners universities Basa atom saa somande extorg para fortleceraformasfo dos professors da ERATE ce Coal Kata abva contrtbul para ere fnijao par .guagem acess(vel ao piiblico ao qual se destina, educagao basica no Bra sscrita em uma li i wee cd ; flexdo sobre a relacao entre oralidade e escrita nos seis promovendo reflexio sol yrganizada. : re primeleo antl, ot apresentadosconeioe gras neces ético- -se uma breve introducao a0 case eee eg te delat specs da ont Eeiemeearee turacdo e funcionamento do aparelho fonador, screndais i comprenaio do procssodefona;ioe produ da fal. Sinise res doo cane nen ¢ alofonia, fundamentais para a compreensao dos capitulos seguint as segundo capitulo, o quadro de fonemas do portugues bra & contemplado, bem como 0S principais alofones da lingua. A partir da classificasto do alfabeto Fonético Internacional (International Phonet Alphabet — 1PA), as vogais da lingua s2o exploradas, com dnfase no es tudo das chamadas vogais nasais. Em sequéncia, os fonemas e alofones consonantals sio apresentados, com destaque para os réticos. 0 capitulo € conclufdo com o estudo dos glides ou semivogais. O terceiro capitulo explora os constituintes prosédicos, especi- ficamente o estudo da sflaba e do acento no PB. Sio apresentados os elementos possiveis nas diferentes posigées silabicas (ataque, niicleo ¢ coda). A partir da posi¢ao na estrutura silébica, retoma-se o estudo dos lides ou semivogais e se resgatam conceitos como os de ditongo, hiato, Aigrafo e encontros consonantais. Os demais constituintes prosédicos sao brevemente explorados. O quarto capitulo é um detalhado exercicio de transcrigao das varia ‘s6es do portugués brasileiro, Apés répida explanago do uso de diacriticos ¢ da diferenca entre os dois tipos de transcricdo, um quadro com palavras da lingua € apresentado, contendo transcrigdes que merecem estudo. Al- ‘gumas possiveis transcrigdes de cada uma das palavras apresentadas so explicadas em detalhes, contemplando diferentes fendmenos de varia¢ao sociolingufstica, preparando para a leitura do capitulo seguinte No quinto capitulo, s4o estudados os processos fonolégicos caracte- ilo retoma fenémenos mencionados no quarto lo, durante o detalhamento das transcrigdes. Os processos so organizados em quatro categorias: por apagamento ou supressio, por acréscimo, por transposiao e por substituicao. A nogdo de ressilabagao 6 explorada, além da no¢ao de desvio fonolégico,relevante para a formacao de professores. Por fim, 0 sexto capitulo trata das relagées entre fonemas e grax femas e explana a organiza¢ao do sistema alfabético do PB. Aqui se inicia o estudo da relagdo entre oralidade e escrita a partir do cardter convencional da norma ortografica. Apresenta-se, em sequéncia, a nogdo de transparéncia/opacidade do sistema alfabético do portugués bra- sileiro (doravante, PB), resgatando a evolusao ortogréfica da lingua e explorando introdutoriamente o impacto da iltima alterago no sistema oficial da escrita do PB, pelo Acordo de 1990. 0 foco central do capitulo Sio os prineipios de correspondéncia grafémico-fonoldgica e fonolégico- ~Brafémica do sistema alfabético do PB, aplicados & Espec tura e a escrita, destaque ¢ dado a nosao de consciéncia fonoldgica, também conhecida como metafonologia, especificamente ao desenvolvimento da consciéncia fonémica e a sua relagdo com o processo de alfabetizacao. O capitulo termina com uma reflexdo sobre o ensino da ortografla. ‘Todos os capitulos apresentam uma sintese dos contetidos estudados ce exercicios, Ao final do livro, hd um glossario com a definicao dos termos: aque aparecem destacados ao longo da obra, «uma chave de respostas comentadas pode ser baixada gratuitamente do site da Pardbola Edito desde a pagina do ink a seguir: https://goo.gl/TnFnke. Mais do que revi ientagGes préticas de transcrigao ou andlise de processos fonol sentar em uma linguagem bastante acessvel as nogBes mais elementares da drea a professores da educardo bisica a estudantes de graduarao ‘em Letras e areas afins, muitas vezes sem a formago e o conhecimento linguistico necessarios para uma atuagao eficiente no ensino da escrita € da leitura, Nosso fio condutor & a associagéo com a oralidade para en- frentar as dificuldades vivenciadas durante o processo de aprendizagem ial da alfabetizagao, Nao apenas no los, sio feitas observacoes ro nk i teorias e apresentar da escrita, principalmente na fase capitulo final, mas ao longo dos demais a n € reflexes sobre 0 papel do professor frente a diferentes fenémenos abordados no livro. Esperamos que esta obra seja de real proveito aos que dela fizerem uso. ‘MIKAELA ROBERTO LO 1 Conceitos basicos troducao Vocé certamente consegue escrever muitas palavras diferentes em portugués, iza um nimero certo? Oralmente, acon- tece o mesmo. A lingua possui indmeras palavras com as inidade de enunciados, mas tudo 0 qu a partir de ero bastante limitado de unidades predominantemente sonoras, pensando na possibilidade de serem também visogestuais, como ocorre nas linguas de sinais. Conforme ‘em uma ordem ou outra, elas expressam 0 que queremos dizer. A presenga de uma dessas unidades ou de outra gera mudanga de significado, como em mata, lata, pata, cata. A ordem em que se dispoem essas unidades tem também valor di \ e navio. Essa po lidade de segmentagao et da linguagem verbal humana em unidades se algumas caracteristicas dessa pessoa, t: escolaridade, empatia ou nivel de estresse, bem como se exes Pessoa & ante native do portuguts © a mgito do Bras de ede ym, adn tase apenas por sua voz. Incrivel, nao? ‘ais como idade, sexo, nivel de linguisticos, mas nos dé as ferra estudos da fonologia, pois ambas | estudo: 0 universo sonoro das I mentas que viabilizam os diferentes convergem para 0 mesmo objeto de inguas, lescrever os sons produzidos pela enquanto cabe a fonologia o estudo ‘ol6gicas distintivas e abstratas de Passou a se ocupar dos tracos como eles se organizam, entre A fonética é descritiva, a fonologia é uma ciéncia explicativa e In- terpretativa, buscando, no no som em si, mas no valot dos sons de uma lingua, sua funedo lingu(stica (Massini-Cagliari e Cagliari, 2001: 106), 1.2 Inicio dos estudos fonético-fonolégicos ‘Segundo Henriques (2007: 6), 0 empenho em distinguir fonética de fonologia surgiu no inicio do século XX, a partir das ideias de Saussure. Podemos dizer: a fonética se relaciona a fala (parole), enquanto a fonologia esta relacionada & lingua (langue). Mas Saussure néo foi o tinico a se interessar pelas questdes fonéticas e fonolégicas das linguas. Tru- betzkoy, linguista russo, foi obrigado a detxar a Riissia, apds a Revolugio Comunista de 1917, e fixou residéncia na Austria, passando a dar aulas em Viena e em Praga. Em Praga, criou um circulo lingufstico conhecido como Circulo de Praga. ‘Trubetzkoy trabalhou na cria¢ao de uma ciéncia que se preocupas- se em investigar 0s sons no universo delimitado das linguas e de outra ciéncia que se ocupasse do som, mas na lingua em uso, no ato da fala Obviamente, por terem objetos de estudo diferentes, as duas ciéncias deveriam se valer de metodologias distintas. Muitos estudiosos se dedicaram a tais estudos e marcaram signi- ficativamente o inicio das duas ciéncias. Os protagonistas, sem diivida, foram Karchevski, Jakobson e Trubetzkoy, mas outros nomes também estdo relacionados a escola de Praga, tais como Biihler, Mukafovsky, Mathesius, Brun, Tesniére, Vendryés, Benveniste, Gougenheim e Marti- net. Embora a escola de Praga seja frequentemente associada ao nome de Saussure, tal relagio ocorreu a posteriori, por tragos em comum, néo Por um “parentesco genético", como comentam Dubois et al. (1999: 479). As teorias do Circulo de Praga foram apresentadas em oito volumes Publicados entre 1929 e 1938, representando um grande marco para 0s estudos linguisticos, especialmente no que diz respeito aos estudos fonético-fonolégicos. A preocupacao primordial do Circulo era estender & parte sonora da linguagem as ideias de Saussure, mantendo a dicotomia lingua/fala € postulando o fonema e suas variagdes fonéticas como uma unidade minima operacional a ¢ fonemética substituiram fonologia em algumas ngénuo tomar os termos como sindnimos. Callou e 3 exemplo, alertam: na escola britanica, a fonemé- nas 0 estudo dos fonemas segmentais, sem incluir os entos prosédicos. D._propostas estruturalistas, baseadas nos preceltos saussurianos, ‘is teorias gerativistas, alicersadas nas concepees defendidas por Noam Chomsky, diversas foram as teorias que tentaram apresentar modelos de etaglo dos aspectos sonoros das linguas, tais como a fonologia a fonologia autossegmental, a fonologia métrica, a teoria da oti- Imidade ete. Nao é propésito deste guia expland-las todas, mas apresentar rrodutoriamente os fundamentos fonético-fonolégicos — bem como os ortogrficos — de nossa lingua, a fim de oferecer instrumentos que Viabilizem o ensino do PB na educacio basica, Varias so as obras que poderao aprofundar seus conhecimentos te6ricos sobre fonética e fonologia, muitas das quais esto elencadas na lista de referéncias desta obra. | 1.3 Fonética articulatéria A fonética abrange trés importantes areas: a fonética articulatéria, que descreve e promove a classificagao dos sons da fala humana a par- ir do modo como eles so produzidos pelo aparetho fonador (estudado ; a fonética aciistica, que investiga e estuda as propriedades as dos sons lingu{sticos ¢ 0 percurso que as ondas sonoras trilham para chegar aos nossos ouvidos; e a fonética auditiva/perceptiva, que trabalha a forma pela qual os sons da fala so captados pelo aparelho auiitivo e decodificados pelo cérebro humano. Se pensarmos no cléssico circuito comunicativo, constataremos que 4 fonética articulatéria se preocupa em descrever os sons sob a ética de quem o ou seja, observa o som durante sua produgao, ainda A fonética actstica descreve esses sons com inte- cas actisticas, portanto, observa o resultado pelo que ha de mais complexo nesse processo: descrever como o receptor reconhece e percebe os sinais auditivos e os transforma em impuls03| sindpticos no cérebro. Ha, visivelmente, uma diferenca de foco no olhat de cada uma das reas fonéticas apresentadas. Pela simplicidade de sua aplicagao e pela necessaria base que fornece aos estudos das demais reas fonéticas, a fonética articulatoria costuma ser a mais difundida, sendo foco dos nossos estudos neste livro. Vamos la, entao! 1.4 Aparelho fonador 0 ser humano nao possui nenhum conjunto de érgdos exclusiva- ‘mente fonadores. Todos os érgdos do aparelho fonador esto, de alguma forma, envolvidos com outras atividades, como a respiragao, mastigac’o, deglutigao etc. ‘ 0 aparelho fonador constitui-se de trés sistemas: o sistema respi- ‘ema articulatério. 0 sistema respi- ratério é composto de pulmées, mésculos pulmonares, brénquios e tra- queia. 0 sistema fonatério é constituido pela laringe apenas, a cavidade anterior & traqueia, onde estao localizadas as pregas vocals (popular € indevidamente conhecidas como “cordas vocais"). Na parte superior da laringe, encontra-se a epiglote, uma espécie de valvula que impede que alimentos se desviem do es@fago em diresao aos pulmdes. Na figura a seguir, & possivel visualizar a localizagao das pregas vocais da epiglote, além dos 6rgios do sistema articulatério, formado por toda a estrutura que se encontra na parte superior a laringe: Palate duro Z Cavidodes nasa — b Lamina dating Dorse da lingu Vu do plato Avélos wis Dentes —— Farnge Praga voeats Enilote Fgura 1 Stes arcelos. A produsao dos sons da fala envolve varios érgios que conjuntamente fazem, Como resultado, soar nossa voz. Os pulmdes fornecem a corrente de ar, levada pelos. brénquios e pela traqueia até a laringe. Nossa fala, portanto, ocorre durante a safda de ar (som egressivo), nao sendo comum (embora possivel) produgao de fala no Callou e Leite (200: 17) citam o kare gua indigena brasileira, como uma lingua que contém uma consoante Implosiva em oposicéo | uma oclusiva explosiva Dents superores Alvéolos Palato duro Palato mole ou vet Oia Dentes interiors Dorso angus mina da ingua — modificagées a corrente de ar. Sao eles os chamados articuladores, que caracterizarao os diferentes sons da lingua. A ivula, por exemplo, 6a responsiivel por abrir e fechar a passagem de ar pela cavidade nasal (experimente alternar a prontincia de 4 e a, sentindo a mudanga na posicao da ivula), conforme pode ser observa- do na figura que segue, em que (a) representa a produgio oral e (b), a produgao nasal: 2 Fasagem doar em produgo de fonemas ors rasa. ‘A mandibula e a lingua, por sua vez, imprimem modificagdes na cavidade oral. Experimente, por exemplo, produzir diferentes vogais e ‘observe como a mandibula e a lingua se movimentam para cima ou para baixo, para frente ou para trés. Existem articuladores ativos e articuladores passivos. Os articula- dores ativos (mandibula, lingua, lébios, palato mole/véu palatino, tvula € pregas vocals) movimentam-se para constituir os diferentes sons da fala. Os articuladores passivos (dentes superiores, alvéolos, palato duro, fossas nasais) participam da articulac3o, como o nome sugere, de forma assiva. A classificasao do palato mole/véu palatino nao é consensual. Ele costuma ser classificado como articulador passivo, mas, por mover-se na Produce dos sons nasais, quando do abaixamento da tivula, nesta obra é considerado articulador ativo. Dadas suas configurasées, 0 nimero de sons possiveis na fala é li mitado (ndo podemos, por exemplo, produzir um som em que a ponta da lingua toque a tvula). Cada som possivel é representado por um simbolo fonético registrado no Alfabeto Fonético IPA — International Phonet mos no capitulo 2. Silva (2002) afirma que um conjunto de aproximada- € suficiente para representar 0 arcabouco de sons icos das Iinguas naturais. Obviamente, as diferentes tam na realizagao de seu repertério fonol6gico apenas possivels sons produzidos, Conforme os sons so produzidos, recebem uma classificagdo: vo- emivogais e consoantes. A eles dedicaremos bastante de nossos, estulos nos préximos capitulos, mas antes precisamos compreender mais alguns conceitos elementares associados aos estudos fonético-fonolégicos. 1.5 Fonema e fone © mais elementar dos conceitos da fonologia & o fonema. Nem todo som produzido pelo homem serve para propésitos linguisticos, nem pode ser utilizado em combina¢o com outros em uma cadeia sonora signi- ficativa. 0 estalar da lingua em situagdes de contrariedade, pigarros e arrotos, embora possa exprimir algo socialmente (um pigarro pode servi para chamar a atengao de alguém, um arroto pode servir para indicar satisfaso em certas culturas), ndo se combinam com outros sons para sgerar palavras, Os fonemas é que tém tal fungio. Vocé sabe o que é um fonema? Pense no que distingue os diversos pares de palavras a seguir: bata e pata; mata e nata, av6 e avé, tia e dia, ‘caga e casa. Em todos os casos, temos os chamados parés Wifflii6s, ou seja, pares de palavras em que apenas um elemento sonoro os diferen- cia. Neste caso, se pensarmos na realizacao sonora (ndo na escrita), este elemento correspondera a um fonema Se tomarmos o primeiro par minimo acima, bata e pata, ¢ 0 anali- sarmos por um processo chamado comiitagao, veremos que o que muda /0/ € /p/, certo? Bis o que caracteriza essencialmente um fonema: trata-se de uma unidade formal capaz de distinguir o significado entre palavras. Vejamos 0 que dizem Dubois et al. (1999) a respeito do fonema: Fonema 6a menor unidade destituida de sentido, passf itago 1a cadela da fala, Cada lingua apresenta, em seu cédigo, um nimero itado ¢ restrito de fonemas (de vinte a cinquenta, conforme a lin- constituir os significantes das mensagens, e se opdem, segmentalmente, em diferentes pontos da cadeia da fala, para distinguir as mensagens uumas das outras. Sendo esta sua fungao essencial, o fonema é segui- damente definido como a unidade distintiva minima, 0 caréter fénico do fonema é acidental (L. Hjelmslev propée o termo cenema, “unidade vazia, desprovida de sentido"); nao obstante, isto é importante, jd que todas as linguas conhecidas so vocais. 0 fonema 6, pols, definido com referéncia a sua substncia sonora, por certas caracteristicas que se els da transmissio da mensagem (nivel encontram nos diferentes motor ou genético, nivel acistico, nivel perceptivo etc) (Dubois et al, 1999: 280, grifos dos autores). Vamos “traduzir” 0 que os autores explanaram na citagao? “Fonema é a menor unidade destituida de sentido.” Isso significa que, se tomarmos um fonema isoladamente, ele nao significa nada em si mesmo. Pense na palavra “menina’. Se pegarmos o primeiro fonema dessa palavra, /n/, ele nao significa nada. Nesse sentido, o fonema se distingue do motfema, a unidade minima significativa, pots todo morfema carrega em si algum significado, seja ial ou gramatical. 0 fonema, por sta vez, ngo, Ele sozinho nao significa nada, dat a afirmagao de que ele é a menor unidade destituida de sentido em uma lingua. Quanto ao fato de ele ser ‘a menor unidade, a partir da definigao de R. jakobson (1969: 39) do fone- ma como “feixe de tracos distintivos’, nao se considerou mais o fonema ‘como a unidade minima com a fungdo de distinguir significados, uma vez. que 0 fonema nao é a menor unidade, mas um conjunto ordenado — ndo mais um feixe, portanto, de acordo com teorias atuais — de tragos (caracteristicas) que 0 compdem. Vamos estudar os tracos distintivos dos fonemas mais adiante. Continuando a “traduzir” a citagao de Dubois et al. (1999): os, fonemas “se combinam sucessivamente ao longo da cadeia da fala’. Esse trecho esté facil. Ao pronunciarmos a palavra "menina’, podemos perceber a presenca de seis fonemas que se sucedem: //, /e/, /n/, /1/, fal e /a/, Bssa sucessao ao longo da cadeia da fala tem a ver com a nogao de linearidade discutida por Saussure. Se vocé ainda nao a estudou, recomendo que a estude. A bem da verdade, esta sucessio @, consequentemente, esta linearidade nao sao assim tao tranquilas quanto Dubois e¢ al. fazem parecer. Se pensarmos no acento, por exemplo, vere- mos que ele é uma caracteristica que diferencia um vocabulo de outro (pense no que diferencia sonoramente, por exemplo, as palavras “sabia e “sabia"). Essa caracteristica distintiva ndo se manifesta linearmente ‘em um fonema distinto, mas no chamado #fag6 SUprasSegmental. Isso torna a nogao de linearidade discutivel, mas se trata de assunto para outro espaco'e néo invalida a nogdo de sucesso dos fonemas apresen- tada pelos autores. > Continuemos nossa “tradugao”: os autores afirmam que os fonemas "se opdem segmentalmente”. Aqui cabe re~ lembrar as nogdes saussurianas de rela ‘cdo sintagmatica e Felacao paradigmiatica, observando que, com maior rigor, se reserva 0 termo “oposicdo” de elementos somente a segunda, enquanto para a pri melra se usa o termo “contraste” entre unidades. Peguemos a palavra que estamos estudando: “menina’. Nela, os seis fonemas estabelecem entre si uma relagdo contrastiva, ou seja perceber que /m/ é di- ferente de /o/, que é diferente de /n/, que, por sua ver, é diferente de /i/, que também difere de /n/, que, por fim, difere de /a/. 0 contraste entre as unidades presentes na cadeia sonora (portanto, in praesentia) ocorre na relacao sintagmatica entre os fonemas (unidades minimas da lingua). Pessoas nao alfabetizadas nao conseguem segmentar a consoante da vogal com a qual ela se coarticula, conforme pesquisas recentes da psicologia cognitiva. Dai decorrem, por exemplo, os atuais, avangos nas pesquisas sobre a importancia do desenvolvimento da consciéncia fonémica para contornar tais dificuldades e auxiliar no processo de alfabetizacao. Castelar de Carvalho (4997: 109-130) explana ‘de modo muito didatico as relagées sintagma tieas e paradigméticas estabelecidas por Saus- sure, Aprofunde seus es tudos conferindo a obra! ‘Agora, se pensarmos na palavra “menina” e na palavra “menino", teremos dois fonemas que se opdem numa relagdo paradigmatica: /a/ « /o/, gerando a disting’o entre as duas palavras que constituem 0 par inimo. Os dois se distinguem em uma relagao diferente da anterior, pois no ocorre a presenca simultanea de ambos na mesma cadeia sonora, vocé concorda? Dai dizermos se tratar de uma oposigio que se dé na auséncia (in absentia). Afinal, se um fonema esta presente, 0 outro no pode estar, mas ambos mantém essa relacdo distintiva entre = J “Avancemos na nossa “traduso” para um trecho bastante curios caréter fonico do fonema 6 acidental’. Voce jd tinha parado para pensar nisso? Que nossa manifestacSo linguistica por meio da voz é acidental? © fato de os érgios do aparelho fonador nao serem exclusivamente empre- ¢gados para a fala é um dos motivos que levam a se poder afirmar isso. 0 ser humano poderia manifestar sua capacidade de comunicagao verbal por meio de gestos, por ‘exemplo, tal qual fazem os surdos, no caso de ser impossivel eles se apropriarem da linguagem oral Muito provavelmente 0 fato de co homem ter aprimorado tanto sua articulagao motora e desenvolvido polegar opdsitor, que Ihe permite ‘o movimento de pinca, gerando ha- fez com que 0 cérebro evoluisse, de modo a levar o homem a desenvol- ver a linguagem verbal oral, pois as ‘Aifredo Pereira J. (2007) apre- senta uma teoria interessante sobre o assunto, em que relacio- na o surgimento da linguagem verbal ofal nos seres humanos 20 bipedalismo, que teria prover ‘ado 0 desiocamento da laringe {consequentemente, o desenvol- Vimento do aparelho fonador) © 6 redirecionamento de uma area cerebral, antes dedicada 3s fun Bes exercidas pelos membros Superiores, para as funcdes da linguagem. Isso explicaria, por exemplo, a proximidade das regides responsdveis pelas espe: tificldades motoras manuais 85 reas de Broca e de Wernicke, importantes regides cerebrals a5: sociadas 8 fala e & compreenséo. mos eram ocupadas para iniimeros outros fins. Independentemente de qual teoria dé conta de explanar 0 cardter oral da linguagem verbal humana, 0 carter acidental dos fonemas fica bastante evidente nas linguas de sinais, como a LIBRAS, nas quals as unidades sonoras so substituidas por configuragées manuals, cujas uunidades minimas, que distinguem um significado de outro, sao chama- das quiremas. Nas linguas de sinais, portanto, um fonema corresponde a um quirema e todas as nogdes que estamos comesando a estudar em relagdo ao universo sonoro das linguas devem ser transportadas para universo visogestual, Muito interessante, nao? Para concluir a “tradugdo” da citagao de Dubois et al. (1999), pegue- ros o trecho final, que afirma: o fonema é “definido com referéncia a sua substancia sonora, por certas caracteristicas que se encontram nos diferentes niveis da transmissio da mensagem’. Esse trecho deixa bem evidente a abstragao do fonema. Ele ndo é som. » & som... 0 fonema é 0 qué? E 0 som é 0 qué? Boas pergun- a 6a representardo mental que se tem de uma classe de exemplo da palavra “porta’, em que o terceiro segmento ser pronunciado de maneiras completamente diferentes por um por um nordestino, por um caipira, ou nalgumas regides do Rio \de do Sul e da cidade de Curitiba, mas 0 fonema é 0 mesmo, pois, re mudanga de significado quando voce substitu! qualquer um daqueles sons por outro, Um fone, por sua ver, é a realizacéo concreta de um fonema, Em termos saussurianos, o fonema seria a forma e o fone, a substéincia, & qual se referem Dubois et al. na definigdo “traduaida” aqui. {Ao pronunciar a palavra “menina’, na verdade, 0 que voc® ouve S40 0s fones, nao os fonemas. Embora cada pessoa produza realizagdes sempre muito semelhan- tes umas das outras, ao ouvirmos a palavra “menina’ falada por um nordestino, uma crianca, um doutor, um analfabeto, um estrangeiro ou uma pessoa com algum tipo de distirbio articulatério leve, por exemplo, conseguimos entender que se trata (apesar das diferentes prontincias) dos fonemas /a/, /e/, /a/, /4/, /n/ e /a/, certo? Conseguimos, ainda, per- ceber que algumas palavras tém sua re lizacdo mais alterada que outras. Muito bem, se 0 fone é a realiza¢ao de um fonema e se o fonema pode ser realizado de diferentes formas, estamos falando de variagao. E a variagdo ocorre por diversos motivos, uns externos ao sistema linguisti- co, tais como lugar de origem do falante, profissao, grau de escolaridade, idade etc, outros, porém, condicionados a aspectos lingu{sticos, como veremos a seguir. 1.6 Variagao ‘Alofoinia é 0 nome dado ao fendmeno muito comum da variagdo sarmos em quais possiveis proniincias existem para ite", em que o /t/ pode ser pronunciado chiado “teh” mse em duas pessoas conversando, de modo que uma delas fale lum carioca, por exempla) e a outra fale “tia” (um potiguar, talvez) ‘Aponar da fala de ambos ser diferente, nao ha dificuldades para eles se ‘nteniderem, O fonema é um sé: /t/, mas ao ser pronunciada a palavra, m1 sendo realizado como (t] ou [t{] (a representagao do “e” chiado). O [tS] ndo é um fonema do portugués, apenas um alofone (uma variante) do fonema /t/. Assim: ‘Observe que 0 fonema é registrado entre barras | Kal enquanto 05 fones 58 Us registrados entre colche- tes]: Trata-se de uma Fonemas diferentes geram palavras || ‘Vengo que deve diferentes (pois sio distintivos), enquanto || sempre se respeitaca alofones diferentes nao geram palavras diferentes. ‘Ge falamos “tia” e "dia, alternar /t/ e /A/ gera mudanca de palavra, certo? Portanto, /t/ e /A/ séo fonemas distintos da lingua. Agora, se fa- amos “tia” e "tchia’, por exemplo, alternar [t] e [t{] néo gera palavras digtintas. Continuamos nos referindo & mesma palavra: “tia’. Entdo, (¢] Jodn th) nos Shoes dts, ie (representagao do “tch”) ndo so fonemas, mas ee ‘ico fonema: /t/. duas possiveis realizagées associadas a um 1.6.1 Variagao livre e variagao posicional ao muitas as alofonias possiveis no PB. E as condig6es para que jem advém de diferentes motivagées, linguisticas e extra: icas. Se tomarmos como exemplo a palavra “mar” e pensarmos nas realizagées feitas por cariocas, alguns falantes do interior de Sa0 } Paulo e alguns gatichos, teremos trés possibilidades: na primeira, (‘max], ddgs cariocas, teremos uma friceo na parte posterior do trato vocal, na regido velar estudaremos mais adiante os detalhes sobre pontos ¢ ™0- ddos articulat6rios).na segunda, [‘na.], dos falantes do interior de So ‘ra ou, num termo mais apropriado, Paulo, teremos 0 chamado “r i retroflexo; por fim, a terceira, (‘nar}, prépria de alguns falantes gatichos, hha uma vibragdo na parte anterior do trato vocal. E esses trés exemplos nao esgotam todas as possiveis realizagdes correspondentes a “t" no PB, ‘os chamados réticos, estudados mais a frente, dada a ampla gama de variagZo que sofrem. : ‘A alofonia presente na palavra “mar”, contudo, nao ¢ igual & al nia que se manifesta em “tia, As realizagbes (x, 4 1), de “mar sto Indes | pendentes de amblentes fonol6gicos, uma vez que taisvarlagbes podem ocorrer apés qualquer vogal. Em “tia” no ocorre o mesmo, jé que [tS] aparece apenas diante da vogal /1/, na fala carioca, por exemplo, sendo que diante das demais vogais s6 seré possivel a re " as den izagao [t]. No pri- mei seus (‘mar’), 0 condicionamento para uma realiza¢ao ou outra & iene lee ‘Trata-se de um fator regional, que chamamos de extra- iguistico, Jé no segundo, ofator que condiciona uma ou outra realizacao 6 foné é fonético, pois a motivarao advém do contexta em que aquele fonema se encontra. Nesse exemplo, os alofones i e [tS] estdo em variagao posicional ou distribuicao complementar, ja que o contexto lingui em que um ocorre nao permite a ocorréncia do outro ait pani livres, por sua vez, sao aquelas nao condicionadas quer pelo contexto linguistico, quer por fatores externos a ling dependem de escolhas do falante, como no caso das variantes e: | Hora (2012: 42) Retomando 0 vocabulo tia, se com- parado a tua ou teia, por exemplo, fica evidente que a realizagao afriéada [tS] 86 se realiza diante da vogal /i/, de modo que ndo teremos proniincias como “tchua” ou “tcheia’, Essa condigdo fonética para a ocorréncia da realizacao africada (chiada) tar (variaggo como em pal! buigao complement c y jentar —, ou seja, diante de /i/ se realizaré [tS] e diante das demais vogais [t]. ; Ao explicar a varia¢ao posicional a partir da estamos considerando uma pronii prontincia como a cari oe carioca, que realiza a Palavra com fonema inicialafricado. Se pensarmos, por exempl nidincia baiana, na qual nao ocorre o som africado, nao haver4 variacao, uma vez. que os falantes baianos se Pr ° inos sempre realizarao 0 fone [t] em qualquer contexto, oes 17 Tragos distintivos Vejamos, agora, os tragos distintivos. “ Vocé certamente jé ouviu falar da chamada dupla articulagao da inguagem. André Martinet (1966), do Circulo de Praga, foi quem propé: | essa dupla organizagao dos sistemas lin- guisticos, até hoje amplamente aceita. Para Martinet, as Iinguas esto organizadas em duas articulagées: a primeira, de ordem ‘morfol6gica, tem 0 morfema (denominado por Martinet de monema) como unidade de estudo; a segunda, de ordem fonolégica, vem q temissio quanto na per 6 fonema como unidade minima. sical 0 problema de entender o fonema I como “unidade minima indivisivel’, como definem varios autores, é que essa unidade minima é composta de um conjunto de caracteristicas (tragos) que distinguem um fonema de outro, como vimos ao traduzir a definigio de fonema apresentada por Dubs et al, Pensemos, por exemplo, no que rencia os fonemas /£/ e /v/. Em /v/, ha bragdo das pregas vocals, enquanto em /f/ | Sauna € pose! mndo hd, ou seja, dizemos que /v/ €:vaeado |} sentra vibragfo em st pu sanaro e /f/ nfo 06. Essa diferensa en- }} mao, enquanto em [5] tre um e outro 6 um trago distintivo. no se produ vibragso- Portanto, o fonema nao é indivisivel, uma vez que é composto de um grupo de tragos organizados, ‘Agora podemos afirmar: ndo é exatamente o fonema que disting'® os signos numa lingua, mas sim, os tragos. No par mimo Jaca ¢ VAM, a dois fortemas distintos, mas, mais que isso, esses fonemas se distin quem entre si apenas por um nico trago (oda sonoridade), de modo que \guem os signos faca e vaca, mas 0s tragos ferencia um 20 ext articulagdo mencionada por M: embram fque ela evita a sobre da meméria, de esforgos, tanto na ‘se voce colocar sua mao aberta encastada em sua garganta, poderd perce bera diferenga entre con soantes vazeadas/sonoras fe nfo vozeadas/nio So- roras (estas bém chamadas d das). Tente produtl [f) © perceba que nfo sao os fonemas que di fesonoro] e [-sonoro, jf que é apenas esse aspecto que fonema de outro. ‘Ds tragos distintivos, de acordo com Dubois etal. (1999: 198), “elementos fonicos minimos capazes de opr, numa mesma Lingua, dis signos divers0s", sto, como afirma Hernandorefia (1999), P79 vniniimas, de carater acistico ou articulatorio, como “nasalida ‘oronalidade’, que, de forma coocorrente, consti- as. ‘9, 08 tragos sio caracterizados por Chomsky e Halle omo escalas fisicas que descrevem aspectos do evento da podem ser tomados independentemente, seja do ponto de vista 40 ou do ponto de vista da representagao perceptual. (..] NO vel Fonolégico, 0s tragos so marcadores cassificatérios abstratos, que lentificam 0s itens lexicals da lingua, Nesse nivel, os tragos captam os contrastes fonolégicos da lingua (Hernandoreia, 1999: 17), Garcia (2008: 77-81) apre- Eles seriam, entdo, a unidade minima senta uma explanacéo detahade da chomiag || 44 chamada teréeira articilagao, como terceira artulagéo. eis | afltma Scliar-Cabral (20034), confirat Dubois et al. (1999: 199) lembram ue “0s tragos distintivos podem ser defi- nidos nos diferentes estados da transmissio da mensagem lingufstica (neurol6gica, articulatéria, actistica, auditiva)’, salientando ser este um Problema que ainda hoje difculta uma definigio coerente, Dois exemplos llustram bem esse problema e ambos podem ser mostrados com o par /e/ e Pol. H4 quem os classifique como oclusivos e outros como plosives, como veremos. Os termos, embora parecam se referir 4 mesma carac- ica, descrevem os fonemas com base em diferentes enfoques. Ao chamar os fonemas de oclusivos, a referéncia é ao impedimento total na passagem do ar num ponto do trato vocal. Ao chamar os fonemas dle plosivos, estamos nos referindo a forma como o ar rompe a barreira nposta pelos labios, numa espécie de explosio, Quando dizemos que fonemas /p/ e /b/ sio bilabiais, estamos nos referindo a0 ponto de ticulagao, sendo este, portanto, um traco de carater articulat Quando dizemos que /p/ ¢ [-sonoro] e /b/ é [+sonorol, esse trago nao ¢ articulatério, pois se refere a vibragio das pregas vocais na emissao Som. Eis o problema levantado por Dubois e¢ al. quanto & incoeréncia has classificasdes dos tragos distintivos: a falta de uniformidade nos eritérios de categorizacao desses tragos, Como seria de prever, sao varias as propostas de classificagao e righo Feltas por diferentes estudiosos. Hora (2012) apresenta a pro- tle Jakobson, Fant e Halle (1951), que sofreu variagdes ao longo dos conta de todas as oposiges presentes nas linguas do ‘mundo em um conjunto bastante reduzido de doze a quinze tragos. Vale a pena conferir para aprofundar o assunto! No modelo de Chomsky e Halle (1968), o ntimero de tragos foi con- sideravelmente ampliado, e cada um deles é definido por dois pontos na escala fisica,representando um a presenga, outro a auséncia da pro- priedade. Dessa forma, no nivel fonol6gico, tem-se a representacéo com apenas dois valores para cada par de tragos opositivos. 1.7.1 Proposta de tragos de Chomsky e Halle (1968) Os tracos propostos por Jakobson, Fant e Halle foram definidos aciistica e articulatoriamente como: — consonantal; — voedlico; — compacto; = difuso; — tenso; — vozeado; = nasal; = continuo; —estridente; — checked; — grave; — flat; — sharp. Chomsky e Halle, com a publica¢do do The Sound Pattern of En- glish (SPE), em 1968, ampliaram o conjunto proposto pelos autores, mantendo a caracteristica binéria e dando maior énfase ao aspecto articulatéri Os tragos, de acordo com o SPE, sao, segundo sintetiza muito bem Hora (2012), tragos de classe principal, tragos de ponto de articulagio, tragos de modo de articulagao, traco laringal e trasos prosédicos. Os tragos de classe principal sao trés: consonantal,silabico e sane. (@) Consonantal: possui tal trago 0 segmento produzido com al- guma obstrusio da passagem de ar pelo trato vocal. No PB, (b) Silabico: possui tal trago 0 segmento com maior proeminéncia na sflaba, No PB, apenas as vogais tém este trago. (9 Soante: possui tal traco o segmento com sonoridade espontanea, No PB, vogais, sernivogai vas, fricativas e africadas nao, luidas e nasais tém este traco. Oclusi- Os tracos de ponto de articulagao dividem-se entre os referentes as conso- antes e os referentes as vogais. Os tracos referentes ao ponto de arti- culagao das consoantes so quatro: ©) Coronal: segmento produzido com a elevagdo da lamina da lingua, como /t, d,s, z, §, 3, r,o, 1, AV, respectivamente des. facados nas palavras tato, data, sapo, casa, ché,jé, rato (em al Sumas variedades sociolinguisticas), barata, lata e malha (em algumas variedades soci as). (0) Anterior: segmento produzido na parte da frente do trato vo- cal, a partir da regtéo dos labios, dentes incisivos ou alvéolos Os fonemas labiais /p, b,m, £, v/ e os dentais/alveolares /t, a, 8, 2, 1, n/ tém o traco [+anterior] (© Labial: possui tal trago o segmento produzido com o est Mento dos labios, como /p, b, m, £ v/. (4) Distribuido: segmento produzide com obstrusio que se esten- de consideravelmente pelo trato vocal. No PB, /s, z, {, 3/ tém ° traso [+distribuido}, respectivamente destacados nas pala- ras sapo, casa, ché e jé, enquanto /f, v/ nao tém, Os tragos referentes ao ponto de ar- ticulagao das vogais, por sua vez, sdo seis. Os trés primeiros s2o relativos a posigao da lingua a partir de um ponto chamado neutro (correspondente 3 posicao da lingua quando em descanso): (@) Alto: segmento produzido com a \gua na posi¢do mais alta. No PB, /i, u/ témo traco. (b) Baixo: segmento produzido com a lingua na posigao mais bat xa. No PB, apenas o /a/ tem este traco, 0s simbolos presey esta segdo sero devi explorados nos capttulos seguintes, Quanto & posigzo da lin is conside- Fadas médias precisarso 0s dois tragos. Assim, (© Posterior: segmento produzido com a retrarao da lingua a partir do ponto neutro. No PB, as vogais /o, 0, W, respectivamente desta- cadas nas palavras avé, avé e uva, tém 0 trago [+posterior]. Vale res- saltar ainda que, para os autores, todas as vogais sio redundantemente [-anteriores}, j4 que 0 trago [anterior] refere-se a posicdo onde ha alguma obstrucao na cavidade oral, Como as vogais nao resultam de obstrucao alguma a passagem das moléculas de ar, elas sao [-anteriores} (@) Arredondado: segmento produzido com 0 arredondamento ios. No PB, tém o traco as vogais /o, 0, u/ jossuem tal trago as vo- gais produzidas com 0 corpo ou Esses tragos também so usados para caracterizar consoantes, além de ar- como labializacao, tallzagdo etc. Essas nodes relativas as consoantes e vogais ficaréo mais claras no Préximo capitulo, de constrigo do que vogais re- laxadas. Vogais longas e ditongos tém 0 trago (8) Raiz di gue Root] é um refinat por Jakobson, Fant ani dos com maior distintividade e pressao do que seus correspon dentes fonemas sem tensio. A tensdo muscular afeta a lingua, as paredes do trato vocal e da glote. Quanto maior a tensio, malor a deformagao de todo o trato vocal em relagdo a sua po- sigdo neutra. Kenstowicz (1994: 14) é o autor que melhor ex- plica o trago ATR. Depois que a corrente de ar deixa a laringe, percorre trés cavidades cujas propriedades especificas a exci- tam de forma caracteristica. Tais cavidades so a faringeal, a nasal e a oral. Na faringe, a raiz da lingua pode ser projetada para a frente, criando uma abertura faringeal maior (de onde vem 0 acrdnimo em inglés ATR) ou pode falhar em avangar tanto, Esse avango da raiz da lingua é a base da distingao entre a relativa sensagio de tenséo e nitidez das vogais em beat ¢ bait e da menor tensio das vogais em bit e bet do inglés igos de modo de articulagao séo quatro: (a) Continuo: segmento produzido sem a interrupcao da passa- gem de ar pelo trato vocal. No PB, todas as fricativas tém o tra- 0 [+continuo}, (b) Metdstase retardada: segmento que, apés uma obstrugao da passagem de ar, tem uma soltura, como os sons africados do PB (que nao s4o fonemas e, sim, alofones condicionados pelo contexto fonético).. fegmento em que hd passagem de ar pelo trato vocal e imultaneamente. No PB, /m, n, n/, respectivamente des- tacados nas palavras mata, nata e ninho, tém o traco [+nasal], além das vogais ditas nasais. (@) Lateral: segmento produzido com obstrugao na parte central da boca e escape de ar pelas laterais. No PB, /1, A/, respectivamen- te destacados nas palavras lata e illo, tém o traco [late Os tracos laringais definidos no SPE sio trés (spread glottis, cons- tricted glottis, voice}, mas interessa ao PB apenas o tiltimo, 0 traso voze- ado [+voz/-vo7] (referido por muitos autores como trago de sonoridade [+sonoro/-sonoro] @) Vozeado: segmento produzido com a vibracao das pregas vo- cais. No PB, as vogais, as semivogais, as liquidas e nasais sio sempre vozeadas, além das oclusivas /b, d, g/, respectivamen- te destacadas nas palavras bata, data e gata, as fricativas [v, z, 3, ¥], respectivamente destacadas nas palavras vaso, vaso, jé e carro, e a africada [43], que ndo é um fonema, mas um alofone condicionado pelo contexto fonético na proniincia carioca da palavra dia, por exemplo. Por fim, os tragos prosédicos do SPE constituem propriedades fon Cas que esto sobre os segmentos, no nivel da prasédia. Interessam-nos aqui dois: acento e pitch, mas existem outros, como durago, tempo, ritmo etc (@) Acento: trata-se da proeminéncia na emissao de uma sflaba, de modo que haja mais energia em sua producao do que na pro- uso das demais silabas da palavra. No PB, o acento tende a cair sobre a pendittima silaba da palavra, daf afirmar-se que 0 padrao canénico de acentuacao no portugués é paroxttono. (No capitulo 3, estudaremos mais a respeito do acento) (b) Pitch: refere-se a frequéncia da vibrasdo das pregas vocais e std associado ao tom ou a entona¢ao. Hé linguas tonais, como © chinés, em que o significado das palavras se distingue entre apenas pelo tom com que sao proferidas. No PB, tal caracte- ristica associa-se as diferengas de entonacdo presentes em di- ferentes regises. 1.7.2 Neutralizagao Ha casos nos quais a variagao reflete a perda de caracteristicas dis- tintivas entre dois fonemas da lingua em determinados contextos. Tome, or exemplo, a palavra “cora¢ao", que pode ser pronunciada com 0 “o” fechado ou aberto (compare, por exemplo, a proniincia de cariocas e baia- nos). Nesse caso, o que ocorre é um fendmeno chamado neutralizacéo, ou seja, dois fonemas, /o/ (titibie fechado, como em “avé") e /o/ (timbre aberto, como em “avé"), distintos entre si (a prova de que sao fonemas distintos da lingua é a presenga de pares minimos como avé/avé), acabam Perdendo suas caracteristicas distintivas, sendo apenas duas possiveis realizagdes num contexto especifico (neste caso, em s{labas preténicas, (ou seja, em sflabas anteriores a silaba tOnica), Ora, se entendemos que o fonema é a representacdo mental de uma classe de fones, quando ocorre neutralizacao, temos uma abstra- s0 ainda maior. Neste caso, temos o que chamamos de arquifonema, Os arquifonemas representam as neutralizagées de fonemas e é comum serem representados entre barras verticais | |, quando representados ‘soladamente, e com letras maitisculas (geralmente convencionadas pelos estudos fonol6gicos) No caso da palavra “coragao”, podemos registrar da seguinte forma 0 Contexto em que ocorre neutralizarao: ¢|0|ragao, em que |0| representa @ neutralizagao de /o/ e /o/ em contexto silabico pretanico. ‘A nneutralizasao é um fendmeno comum ainda em ouitros contextos consonantais e vocélicos no PB. Cite-se o caso do [S| em po: silabica (Final de sflaba), em que a realiza¢o pode ser bastante variada, como ocorre na realizagao de “dois” nos casos a seguir: * [5] na fala mineira para “dois ou “dois pares”, [2] na fala mineira para “dois meses” ou quando falamos "d amigos” independentemente da variante soci do & jungao das duas palavras na proniincia, fendmeno estuda- do mais adiante, + [J] na fala carioca para “dois” ou "dois pares". * [3] na fala carioca para “dois meses’, em que o °s” élido usan- do 0 mesmo som que o da consoante em A que podemos encontrar intimeros pares mfnimos que evidenciam a presenca de tais fonemas, tais como assar e achar, chd e j6,selo e zelo etc. ‘Alguns tragos de tais fonemas, porém, ao se apresentarem em posigao final de sflaba, perdem suas propriedades distintivas, que se neutralizam. Em se tratando das vogais, & possivel adiantar, em relagao 4 neu- tralizacio: Quanto maior o grau de atonicidade, maior o alcance da neutralizagao: nas sflabas atonas finals, de atonicidade maxima, desaparece a oposigéo centre as trés vogais da série anterior e as trés da série post jema reduzido a trés vogais i, a, u:fac(i], fagl pont[u], ponta etc. (Callou, Morais e Leite, 2013: 78). 1.7.3 Classes naturais Os tragos propostos por Chomsky e Halle combinavam-se sem hierarquiza¢do. Um fonema era, na época, definido como um “feixe de tragos", que passava uma ideia de “amontoado” de tragos, dispostos sem critério especifico. Embora atualmente criticado por esse fato, 0 modelo de Chomsky e Halle conseguiu explicar a aplicacao de algumas regras fonolégicas nfo a fonemas isoladamente, mas a grupos de fone- mas que partilhavam tragos, formando classés naturals, o que viabilizou a representacao de generalizagdes (falaremos sobre processos e regras fonolégicas no capitulo 5). Classes naturais so, segundo Hora (2012: 58), grupos de segmen- tos que compartilham os mesmos valores dos tragos distintivos. Assim, vogais formam uma classe natural, pots compartilham o trago [+silabi- co] e as consoantes [p, f, t, 8, §, x, k] formam uma classe natural, pois compartilham o trago [-voz] ou [-sonoro} ' Quanto menor for a classe natural, maior serd o niimero de tragos neces- sivios para descrevé-la, Essa correlacao inversa, de certa forma, expli- caria por que os processos fonol6gitos, em geral, envolvem mais classes naturais do que segmentos isolados (Hora, 2012: 59). 1.7-4 Fonologias ndo lineares (0 modelo de Chomsky e Halle abriu caminho, segundo Hernando- refia (1999: 44), para a formacao das chamadas fonologias nao lineares, tais como a teoria autossegmental, a teoria métrica, a teoria lexical, a teoria da silaba e a teoria prosédica. Como esta obra se propée apenas a uma abordagem introdutoria, indico a leitura de Bisol (1999) para aprofundar o assunto. Cabe, po- rrém, buscar entender minimamente a diferenga entre a teoria linear de Chomsky ¢ Halle e as fonologias nao lineares, entender que a fonologia autossegmental — especificamente a geometria de tracos, que tem como principais representantes Clements e Hume (1993) — postula haver uma jerarquizagao entre os tragos que compdem determinado segmento da ingua (fonema). Assim, esses tragos, que podem funcionar isoladamente ou como um conjunto solidario, estariam ordenados de modo a alguns serem mais “centrais” ou mais periféricos. A crianca, no processo de aquisigao das estruturas do componente fonolgico, consequentemente, da linguagem, consegue, segundo a teoria, perceber o valor distintivo de alguns tragos (mais centrais) antes de outros (mais periféricos). 0 que essa proposta quer mostrar é que i estrutura e, & medida que a c1 indo o sistema do adult vai ligando — primeiro em caréter experimental e, depois, de forma defi- nitiva — os tragos periféricos com o valor fonolégico pertinente naquele sistema-alvo que esta adquirindo, até construir a estrutura interna de cada segmento da lingua (Hernandorefia, 1995: 102). mente 6 projetada uma inga vai descol ‘Traduzindo... a hierarquiza¢ao proposta por Clements e Hume (1993) da conta de explicar por que as criangas, ao adquirirem sua lin- ‘gua, tém mais facilidade em perceber alguns tracos, enquanto outros demandam mais tempo. Mas a teoria dos tragos ¢ ainda muito recente, havendo bastante divergéncia quanto ao real conjunto de tragos e a como les organizados na formagao de um fonema, Por esse motivo, 10S nos estender no assunto. nologia métrica, junto a teoria da sflaba e & teoria prosédica, estrutura da sflaba e analisa 0 acento, assuntos abordados no lo 3. A fonologia lexical, por sua vez, integra estudos morfol6gicos « fonoldgicos ou, nas palavras de Hernandorefia (1999: 67), as relagdes entre a estrutura morfol6gica de uma palavra e as regras fonolégicas que a ela se aplicam’. Nosso objetivo aqui é estudar os fenémenos sem nos prender a uma ou outra corrente tedrica. Por isso nao enveredamos por aprofundamentos que dificultariam nossos estudos neste primeiro contato com a area. -Sintese — eae YA fonética estuda e descreve os sons produzidos pelo ser humano quando fala, enquanto a fonologia estuda os fonemas e os tracos fanéticos como unidades fonolégicas distintivas e abstratas. Y-_Interessa aos nossos estudos a fonética articulatéria, que estuda a producso dos sons da fala pelo aparelho fonador. YA preocupagio em distinguir a fonética da fonologia surgi no ini século XX, a partir das idelas de Karchevski e de Saussure, sendo difunc pelo Circulo de Praga jo do as YA fonagdo consiste no ato humano de emitir sons articulados. A articulagso dos sons € a realizacéo dos fonemas, os quais nao tém significado, mas server para distinguir um de outro. Nao existe, de fato, um drgdo exclusivamente responsével pela produgo dos sons da fala; os 6rgos da fonacao servem primeiramente para realizar outras atividades no organismo humano. Y- Aproducdo de sons envolve os Srgios do sistema respiratério, fonatério e digestivo e a emissio dos sons da fala se dé durante o processo de expira (0, salvo raras excegdes em algumas linguas, ndo sendo o caso do PB. ¥_Existem articuladores ativos e articuladores passives envolvidos na producso da fala. Mandibula, lingua, lébio inferior e superior, Gvula, pregas vocals € plato molejvéu palatino sao articuladores ativos. Dentes superiores, alvéo. los e palato duro so articuladores passivos. Fonema é uma unidade de natureza psiquica que no tem significado, mas serve para distinguir significados, 0 fonema representa uma classe de sons {que o realizam na cadela da fala. Todas as linguas apresentam um nimero restrito de fonemas (entre vinte e cinquenta, dependendo do idioma). Os sons se coarticulam sucessivamente na cadela da fala, formando as unidades dotadas de significado. E possivel identificar um fonema por meio de um par minimo, através do proceso de comutacdo. (0s fonemas contrastam segmentalmente em relagdes sintagmdticas e se ‘opdem por relacdes paradigmsticas.. 0 cardter fénico do fonema é acidental. Em linguas de sinais, os fonemas so chamados de quiremas, configurag6es gestovisuais dstintivas. Fones so as realizacGes possivels de um fonema. Alofones sio diferentes variantes de um fonema. Alofonia é o fendmeno de variacdo estudado pela fonologia. A variaclo é chamada livre quando depende exclusivamente das escolhas do falante. Quando ha algum tipo de condicionamento, quer linguistico quer extralin- Bulstico, a variagdo néo é livre. Neutralizagao ¢ a suspensio da funcdo de um ou mais tracos distintivos de dois ou mais fonemas, da qual resulta 0 arquifonema. Arquifonema é uma entidade ainda mais abstrata que o fonema, represen- tativa do proceso de neutralizaczo. 05 tracos distintivos $80 a unidade minima da chamada terceira articulacéo. 0 fonema nao ¢ indivisivel, uma vez que se caracteriza por um grupo de tragos hierarquicamente organizados. Desse modo, nao é 0 fonema que distingue dois signos numa lingua, mas seus tracos. ‘Tragos distintivos so propriedades minimas, de cardter acistico ou arti culatério, como “nasalidade”, “sonoridade”, lade”, “coronalidade”, que, de forma coocorrente, constituem os fonemas das linguas. 05 tragos distintivos so descritos entre colchetes [], sempre com sinais de Positivo (+) ou negativo (-) diante do termo que os denominam. Ex.: /p/ é E-voz] ou [-sonora] e /b/ é [+voz] ou [+sonoro]. 05 tragos distintivos apresentados pela proposta de Chomsky e Halle, com a publicagdo do SPE, so de classe principal (consonantai icos e so. antes), de ponto de articulago (coronal, anterior, labial, distribuido, alto, baaixo, posterior, arredondado, tenso, raiz de lingua avancada), de modo de articulacSo (continuo, metdstase retardada, nasal, lateral), laringal (vozeado) @ prosédicos (acento e pic). Classes naturais so grupos de segmentos que compartilham os mesmos. valores dos tragos distintivos. Vogais constituem uma classe natural; conso antes, outra; obstruintes, outra etc. Processos e regras fonolégicas podem ser aplicados a classes naturais, ndo apenas a segmentos isolados. ¥Ateoria linear dos tragos proposta por Chomsky e H cativamente para o surgimento de recentes teor! conta de e» ro lineares que dio F como se organizam a sflaba e os fonemas. Pratica Marque 0 conceito correto em relago ao estudo dos sons: (@) A fonologia se aproxima das ciéncias fisicas e bioldgicas, interessando-se Pelos efeitos actisticos produzidos pela articulagdo dos 6rgios fonadores. (b) A fonologia cuida do papel que os sons desempenham, de modo mais amplo, nunca no sistema de uma lingua particular, é a ciéncia dos sons da lingua. (©) A fonética lida com as abstragées formais que constituemn um si (d) 0 ato da fala implica o uso de uma lingua comum a dois ou mal terlocutores e pode ser analisado sob duas éticas: aspecto fsiologico e aspecto social, (@) A fonologia descreve detalhadamente como so produzidos os sons e uals 05 seus efeitos actsticos. (@) Uma fefas da fonética articulatéria € estudar 0 aparelho fonador, constituido pelo que chamamos de érgsos da fala. Em relacdo 8 produce do som, marque o que estiver correto: (6) 0s pulmoes fornecem a corrente de are a fonaco se dé na inspracéo. (©) Na laringe, as cordas ou pregas vocais produzem o som que passa pela faringe @ é exteriorizado exclusivamente pela cavidade bucal (©) Todos os sons da fala resultam das modificac6es vibratérias que a cor rente de ar expirado sofre durante o processo de fona¢io. (@) As pregas vocais impedem que liquidos e slides entrem na traqueia, ‘em direcio a0s pulmées. (©) Nenhuma das alternativas esté correta, (3) Observe as trés des a seguir: '. © par minimo “pata” e “bata” se dstingue, numa relacdo paradigmatica, pela troca dos fonemas /p/ e /b/, Ha uma relacéo sintagmatica entre as trés consoantes e as duas vogals ue compéem 0 vocsbulo “livra”. Os quiremas das linguas de sinais s30 prova efusiva do caréter acidental ‘62 manifestaggo oral de nossa capacidade comunicativa verbal Assinale a alternativa correta nas questdes acima: (2) Nenhuma alternativa é verdadeira, (b) Todas as alternativas s80 verdadeiras. (0) S80 verdadeiras apenas as alternativas | ¢ Il (d) S80 verdadeiras apenas as alternativas IIe (©) So verdadeiras apenas as alternativas |e Il. (@) Coloque (AP) para articulador passivo e (AA) para articulador ativo: C) (© dentes () (2) palato duro) (©) labo inferior) *) vuln QO (©) pregas vocals. ( ) (2) Fones slo unidades abst (b) Alofones sao realizagoes arquifonema. (©) Fonemas so unidades que distinguem significado. (4) Fones, alofones e fonemas sao equivalentes: referem-se a sons da lingua. (@) Nenhuma das alternativas esta correta, (©) Assinale a alternativa que contém, em termos fonolégicas, apenas pares (a) botejpote; colajtola; secdo/sessio. (2) Assinale a alternativa correta ) Nao existe a chamada terceiraartculagSo, (6) Tragos distintvos sao caracteristicas que os fonemas possuern e que os dlferenciam uns dos outros com base em diferentes critrios, tals como sonoridade, ponto e modo de artculagdo, | (©) Anogéo de fonema como fee de tacos & aque até hoje méthor define o termo. (@) A representacdo bindria dos tracos, com a adacgo de [+] e [-] jd nao mais adotada, mas marcou 0 inicio dos estudos na érea, — ‘ om base na proposta de Chomsky «Hale para estudo dos races distin, vos, idetiique otraco distintivo dos pares minimos a seguir: (a) calafcara: 4 () asalassa: (©) sabitjsibia: () gelo(eu) geto: ( de neutraizacéo a seguir, qual trago & perdi: ‘ ple pine (6) Identifique, nas ca: ) Pepino > pli ]pino (b) Dols > doifs] ou di ‘concenen boson, Fonemas e alofones do Portugués brasileiro Ao estudar os tragos distintivos no capitulo anterior, vocé jé pode constatar diferencas entre consoantes e vogais. Viu que, de acordo com a obstrucdo ou ndo da passagem do ar que vem dos pulmdes em direcio ao exterior, no ato da fala, 05 sons sao classificados como vocéllcos ou consonantais. Em ambos os grupos de sons, é preciso conhecer o que 9s caracteriza, em se tratando de sua articulagao. Exploraremos neste capitulo 0s sons vocdlicos, consonantais e as semivogais, os chamados glides, com a ajuda do IPA. 2.1 Alfabeto Fonético Internacional (IPA) As letras do alfabeto latino nao conseguem representar fielmente as di- ferentes variagdes da proniincia, Por esse como rile do PA in {ene bum espa ce? mn oeconpuores im Com aun totes pont | err a formes eds tional Phonetic Alphabet — IPA). 0 IPA || em editores de texto. E ne. permite que as transcrigées fonéticas |] cessério ata a da tee ai aierats vette es | cnepoumecseaa ‘Sejam universals e possibilitem o registro mente a partir de diferentes de todos os fones das linguas existentes. sites. As fontes precisam ser Ble muito utizado nas clncas | insras na pase ae ores para registrar disturbios da fala, avan- ba a sree a {0s em trtamentosfonoaulotgins, || <4 Pes sete além de ser extremamente eficiente nos estudos linguisticos, uma vez que ¢ necesséria uma linguagem precisa para apresentar fenémenos cientificamente investigados. Na educaséo, 9s professores podem recorrer a essa iitil ferramenta para registrar problemas de oralidade e escrita de seus alunos, a fim de definir enca- minhamentos possiveis. A maioria dos simbolos do IPA deriva do alfabeto latino ou do alfabeto grego, mas ha simbolos que nao pertencem a nenhum outro registro, Cada s{mbolo corresponde a um possivel som da fala (fone) em dada lingua, Estudaremos neste capitulo os fonemas e fones vocilicos, consonantais e semivocélicos (glides) do PB com base no IPA, Sendo as. sim, os simbolos e suas classificagdes sero apresentados em momento ‘oportuno neste estudo, 2.2 Vogais A vogal é emitida sem nenhuma obstrugao da passagem da corrente de ar pelo trato vocal, sendo sempre, no PB, niicleo de sflaba (estuda- remos a sflaba do PB no capitulo 3). Na produgdo das vogais, no PB, usualmente hi a vibragdo das pregas vocais, por isso elas s4o também conhecidas como {+voz] ou [+sonora] — incluindo-se entre as soantes —, mas, no contexto de silaba dtona, final de vocdbulo, depois de consoante voz], como em {‘paty], costumam ser produzidas sem vibragao das regas vocals, isto é, como [-voz]. Nesse caso, na transcrigdo fonética, alguns estudiosos costumam registré-las sublinhadas 2.241 Vogais orais do PB As vogais do PB jé foram estudadas por diferentes estudiosos. Como a transcri¢do delas nesses estudos costuma variar consideravelmente, este livro adotard os simbolos do IPA, de modo que, antes de estudarmos as vogais do PB, é interessante conhecer os simbolos das vogals do IPA, apresentadas no esquema a seguir, Cada simbolo do esquema representa uma vogal possivel em alguma lingua do mundo. Cada uma dessas vogais é definida a partir de determi nnadas caracteristicas, tals como abertura maior ou menor da boca, altura @ Fecuo ou avango da mandfbula e da lingua, além do arredondamento Fone, fonds «ens: gu ee Anterior central Posterior AtalFechad i + ———— Qu v és ata 5 ¥Oo Meo fechaes Mesa baeal Meoabera Baleaberta gras: Vogt do 1. Fonte adapsado do 1A (2005) 4 nao dos labios, conforme estudamos na segao sobre tragos distintivos (Segao 1.7: 28). Nao se preocupe. Recuperaremos essas classificagdes ainda neste capitulo, Das vogais apresentadas na figura 2.1, algumas correspondem a fonemas ae ee 0s do PB e outras correspondem a | 60) cts ocorréncas co possiveis realizagdes alofénicas. vogais t6nicas, como © quadro a seguir apresenta as sete || em “f{e]chaif{e]cha’, vogais orais do PB, presentes em silabas t6nicd§ (as silabas pronuniadas com mais energia nas palavras), nas quais nao é co- mum a variagdo nos diferentes falares do Brasi omen farrédondadas)| arr Alas i Médias aitas Médias baixas Baixa 18 Quadro 21: ogais tna ras dP. Fonte: fal kel fet das com 0 avango progressivo da ponta da lingua, puxados pela mandibula em posigo neutra, Altura da gua Labios distendidos Labios arredondados a SSS Média alta Média baixa vogal /a/, que aparece mais ao centro, com maior abertura dos labios, sem arredondamento, ‘Ainda em relagao ao arredondamento ‘undo dos labios, observe que ao lado da Muitas gramaticas uti- lizam a letra y para se vogal /i/, no esquema de vogals do IPA, | referic& semivogal pre hd o /y/ (reveja a figura 2.1). Muito bem! sente em palavras como Sabe de que vogal se trata? Este é 0 sim- saree, rex omae bolo para a vogal francesa que aparece na) aetvde so xn palavra tu (pronome pessoal que equivale [y] representa a vogal ao nosso “tu"), a vogal anterior mais alta || oral anterior, mais al do francés, mas, a contrério do nosso} “redondada, come €0 sistema, no qual todas as vogais anterio- tudo francés res so distensas, no francés existe uma ordem de vogais anteriores com os labios distensos e outra com os labios arredondados. Para pronunciar o u do francés que aparece em tu, diante do espelho, basta pronunciar 0 nosso /i/ e, sem modificar a posicio da lingua, nem da mandibula, modificar a posicdo dos labios, arredondando, ou seja, fazendo um biquinho. Ora, como vocé pode ver, /i/ e /y/ tém quase tuclo em comum (basta olhar como estao préximas na figur distinguindo-se apenas pelo trago [+arredondado] da segunda. Assi enquanto /2/ € [-arredondadol, /y/ 6 [+arredondado}. 0 arredondamento €0 que distingue ambas ou, em outras palavras, o traco distintivo [+ar- redondado] é o que diferencia /y/ de /i/, Experimente pronunciar as vogais pausadamente, observando como toda a cavidade oral se modifica em cada uma. Ao pronunciar o /i/, toda a produsdo ocorre na parte anterior da cavidade oral, enquanto, 20 pronunciar 0 /u/, a posigao da lingua desloca-se para trés, na parte Posterior do trato (apesar de os lébios se posicionarem mais A frente, caracterizando 0 artedondamente tipico da vogal e o alongamento da caixa de ressonancia bucal). Note, ainda, a diferena na posicao da lingua ao alternar /1/, /e/ e /a/. Explore o esquema, faca tal exercicio. Constatamos, com 0 exercicio, {ue a vogal /a/ se caracteriza por ser baixa, centrale ndo arredondada (uma ‘vez que. lingua est em estado de repousc). A vogal /u/, por sua vez, é alta, Posterior e arredondadla (observe os labios). Exercite bastante e se certifique de ter compreendido essas nogdes antes de avancar em seus estudos. Feotogs, i [As vogais étonas do PB, por sua vez, podem ser pretonicas (anterio- res A silaba tdnica) e posténicas (posteriores & silaba tonica), sendo que as posténicas podem ser finais e no finais (também conhecidas como mediais). A variagao dialetal das vogais do PB situa-se principalmente no grupo das vogais atonas, tornando-se melhor o estudo de cada grupo separadamente. (0 quadro a seguir apresenta as vogais pretOnicas orais do PB: Anterior Ceneais Posteri {arredondadas|caredondads|_(oarredonadas tas 1 u ©) Médias altas ° Médias baixas e) Baia a sro 29: Voga prensa oP. Font: adap de rte (200 8). : et ratose de stones ode pas a nga. Vogeley (2012; 136-137) retoma Camara J. sinalizando a comple: dade dos falares no PB envolvendo as pretOnicas. Hi possivel alterndncia entre [2, 0] — [¢, 9], por exemplo, a depender da variedade diale ocorre proniincia predominantemente fechada das médias nas regiées Sul e Sudeste e predominantemente aberta nas regides Norte e Nordeste. 0 ‘a’ preténico presente na escrita costuma ser pronunciado como ticas, como uma central médi a depender da variedade geogréfica ou do registro mais formal 6faro-Silva registra o chué [9] como uma ou informal do falante. Cris a (2002: 84), podemos generalizar: todas cas do portugues brasileiro apresentam /i, @, 8, 0, u/ como vogais pretonicas e as vogais /e, 0/ em posi¢ao pretd- nica nas formas derivadas com sufixos “mente, -inh, -z formas primérias apresentam tais vogais abertas (sério/seriamente; ‘mole/molinho; pé/pezinho; leve/levissimo). Qualquer outra produgaio pretonica de /e, 0/ caracterizard especificidade da variedade sock guistica, como & comum ocorrer na fala nordestina para palavras como “c{o}ragao” e "R{e]cife” 0 a seguir apresenta as vogais posténicas ora finais do PB: Anteriores Centrais Posteriores arredondadas) -arredondadas) — rarredondadas) Altas (x Médias atas (©) Médias batxas (3) e Babea (a) cris Fis do PB Fonte: adapta de Csr Siva (202 eta alguas ealia;6es elon do PB, no pene eee tes de variedades tro formal ou informal. Observe os exem- los a seguir, adaptados de Cristétaro-Silva (2002. 87-90): Variedade’ Variedade2 Variedade 3 Variedade « Teulingustica 1 Registroinformat,.Registroforsal Registro informal Registro formal tratiJeo © ndmfe}ro erful sifsyba Observe que as vogais posténicas mediais /o,0/ sao geralmente zidas a [v] no estilo informal. Redugdes tambéim ocorrem com 0 Brafico, que pode se realizar como [z], [3] ou redusinoe « zero, como em “niim[z}ro", “num[2]ro" e “nu ro’, respectivamente. A autora aponta a necessidade de mais estudos a respeito do tema, uma vez que 0 apagamento da vogal também, por vezes, leva a0 apagamento da consoante seguinte, como em *numo’, 2.2.2 Vogais nasais do PB Apresentadas as vogais orais do ‘Se voc# abservar no qua. 8 vogals do IPA, 0 (2) est préximo do ‘mas & mais central & caracteristico na fala lusitana, sendo também Possivel como realzacio alofénica no PB, € chegado 0 momento de estudar &s chamadas vogais nasais.O primeiro ponto que precisa ser esclarccn do € a difereng sociolinguisticas do portugués brasi- leiro em silabas ténicas, preténicas ou ostdnicas. Ha, contudo, um grupo de vogais ue podem se realizar como nasaliza- das em algumas variedades apenas. Nesses casos, a substituigo da vogal nasalizada por uma oral e vice-versa nao altera 0 sentido da palavra. £ 0 caso de palavras como c[a]neta/c[4]neta, sfa}nela/i[S]nela, bfa}nana/b{S]nana, Esses casos configuram nasalidade. Anasalidade, segundo Cristéfaro- ‘a (2002: 93), marca a variagio sociolinguistica. "Variantes nordestinas arecem preferir a nasalidade. Varian- tes paulistas, por outro lado, expressam uma falta de preferéncia no uso da nnasalidade.” Yoc® deve ter observado que come transcrcgo da nasal foi fard uma sutl elevacio do dorso da lingua © da raiz contra 0 mole na vogal nas: |ustifca @ adog3o do simbolo (contira, no esquema das © som produzido na 4e ressoa todo na cavidade | bucal, resultando as vogais orais. Quando 0 palato mol abaixa, ocorre a aber regio velofaringea ressoa nas cavidades nasal el A nasalizagdo — que distingue significado — divide opinides. Ha quem postule a existéncia de vogals nasais no PB (Pontes, 1976: 3-4), de modo que o quadro de vogais da lingua seria de sete vogais orais e Cinco nasais(Jé que as abertas /e, 9/ nao tém correspondentes nasais), num total de doze vogais. A existéncia de pares minimos é usada como argumento em defesa dessa teoria monofonémica da nasalizagdo. Assim, alavras como “Ia” e “sim” teriam estrutura si + vogal (CV), Mattoso Camara Jr. (1989 [1970)), por Sua vez, e seus adeptos postulam que a na- salizacao & a uniéo de uma vogal oral com um arquifonema nasal |N| em posi¢ao de coda silébica, Essa interpretacio bifonémica da nasalizagdo tem carter abstrato, con- forme lembra Cristéfaro-Silva (2010), pois foneticamente nio se constata a presenca de Consoante nasal (ndo confunda com a escrital), Defendé-la significa postular ‘ue palavras como “la” e “sim tém estruturasibica CVC (travada, eomo se diz, quando ha elemento consonantal em posigio de coda silabica} o que é Coerente com o argumento de que silabastravadas impedem a produsao do chamado “ aco" (pe), enquanto sftabas de estrutura CV nao. Na palavrn Israel, que tem a primeira Sflaba travada (VC), ha o “r forte" em seguida, Observe, agora, as palavras honra e hora para constata adiferenga, Outro argumento a favor da teoria € 0 de que hi, ainda, diversos ca- 50s de hiatd no PB, mas ndo ha hiatos em que a primeira vogal seja nasal Cristéfaro Silva (2010: 166) retoma Mattoso Camara J. ao explicar que s casos que poderiam gerar hiato com primeira nasal acabam gerande blato oral ou uma consoante nasal em ataque da silaba seguinte, como em bom/boa e valentéo/valentona, Esses sdo alguns argumentos a favor da interpretasio bifonémica (ogal oral + arquifonema nasal) da nasalizagdo no PH. Ha, contudo, que Considerar 05 argumentos contrérios & postulaco do mestre, elencados & seguir a partir de notas com citasdo autorizada de aulas da professora Leonor Scliar-Cabral: © arquifonema é um construto de natureza abstrata que resulta 4a suspensio da fungao distiniva de um traco de um ou mais fonemas, ibica canénica: consoante ‘A nasalidade nem sem. pre é facilmente per. cebida nas vogais mé: dias e altas, sendo mais evidente com a central baixa fa. A nasalizacio, Por sua vez, néo cos: tuma gerar dificuldade erceptiva, Fong, fonda © ens: ocorrendo uma neutralizacao de tal Fungo, como em |S|, que resulta da suspensio da funsao distintiva de um trago de quatro fonemas em coda no PB; ou de |I| ou |U], que resultam da suspensdo da fungao distinti- va de um traso de dois fonemas em silaba final dtona. A postula¢éo do arquifonema nasal |N| ndo se sustenta, porque nao ocorre a suspenso

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