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Ainda lembro do gosto. Aquelas noites ganham cores novas agora. Mas nenhuma como
antes.
Nada muda.
Me desculpa. Eu menti.
Tenho a impressão de que sua busca não pode terminar.
O que te falta fica longe demais para alguém como você, de carne e osso conseguir
alcançar.
Talvez você tenha nos deixado por não saber ser feliz. Mas sinceramente, alguém sabe?
Sei que separados caímos em limitações. Vivemos a finitude. Mas sinto que juntos, nós
tínhamos por instantes tudo. Tudo que precisávamos.
Eu trazia inocência pro jantar, e você, preparava com toda malícia e sutileza uma dança
para mim.
Sempre gostou de ver aquele menino sem palavras, né?
Bom... talvez seja por isso que ele desenvolveu um caso de amor tão conturbado
duradouro com elas.
Você deixou um menino pensando nelas por tempo demais.
Tempos depois, se podemos dizer, ele e as palavras fizeram as pazes. Vivem hoje um
caso de amor muito longe do "felizes para sempre". Mas na medida da realidade, apenas
felizes por vezes. Vezes por esforço, vezes por acaso.
Há manhãs que acordo de um sonho bom, e acho que estou vivendo em outro tempo,
outro lugar.
Não preciso dizer que não estou. Mas esse frescor inicial, essa magia de reaparecer, só a
embriaguez e a ignorância podem dar.
Confesso que o sentimento inicial é ótimo, mas a realidade é uma só, e a lembrança me
estraga.
Aquele ano foi sobre você. E você nunca foi sobre coisa alguma que eu pudesse
escrever.
Me entrega seu sonho, que devolvo todo seu amor. Sempre sobrou demais no mundo.
A vida continua.
Te vejo sempre nos seus melhores traços, nas velhas lembranças, e no breve frescor
onírico das manhãs.
Fabrício Negreiros