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O ESTUDO DO GESTO NA ENCRUZILHADA


DAS PRÁTICAS E CONCEITOS:
APONTAMENTOS PARA A REFLEXÃO SOBRE
ENCONTROS DE PESQUISADORES FRANCO-
BRASILEIROS NOS COLÓQUIOS ARTES DO GESTO
Suzane Weber da Silva
Professora Adjunta do Departamento de Arte Dramática e do Programa de Pós-Graduação em Artes
Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Mônica Fagundes Dantas


Professora Associada do Departamento de Educação Física, Fisioterapia e Dança e do Programa de
Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo Abstract
Este ensaio tem por propósito refletir sobre This essay aims to reflect about the meetin-
a trajetória dos encontros entre pesquisadores gs between Franco-Brazilian researchers arou-
franco-brasileiros em torno da leitura do gesto. nd movement and gesture analysis. We descri-
Descrevemos brevemente os eventos realiza- be the events organized by different Brazilian
dos em diferentes universidades brasileiras, universities, under the name of Colloquiums
sob o nome de Colóquios de Artes do Movi- of Movement Arts, between 2015 and 2017.
mento, realizados entre 2015 e 2017. Esboçan- Outlining cartographies, we highlight the par-
do cartografias, destacamos os participantes ticipants and themes involved in the events.
e temas envolvidos nos eventos. Propomos, a We propose, based on listening to the impres-
partir de da escuta das impressões que esses sions that these encounters have caused us,
encontros nos causaram, uma reflexão sobre to reflect on some conceptions that guide the
algumas concepções que norteiam a leitura reading and analysis of the gesture, compared
e análise do gesto, cotejadas à nossa própria to our own practice as researchers and con-
prática como pesquisadoras e confrontadas fronted with the concepts of hybridization and
aos conceitos de hibridação e antropofagia. anthropophagy.

Palavras-chave Keywords
Dança. Análise do Movimento. Leitura do Ges- Dance. Movement Analysis. Gesture Studies.
to. Pesquisa em Artes Cênicas. Research in PerformingArts.
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Por ocasião da VI Reunião Científica da As- publicações2. E suscitou o desejo de investir


sociação Brasileira de Pesquisa e Pós-Gradu- numa troca efetiva entre Christine Roquet e
ação em Artes Cênicas (ABRACE) ocorrida em pesquisadores brasileiros.
Porto Alegre em 2011, evento que congregou Este ensaio tem por propósito, justamente,
em torno de 400 pesquisadores, professores e pensar sobre os encontros realizados a partir
alunos de diversas instituições de ensino supe- de então. Os eventos foram organizados sob
rior do Brasil, entramos em contato com diver- a forma e o nome de Colóquios de Artes do
sos pesquisadores, entre eles a pesquisado- Movimento. Esboçando cartografias, desta-
ra francesae professora do Departamento de camos os participantes e temas envolvidos
Dança da Universidade Paris 8, Dra. Christine nos eventos que se seguiram. No intuito de
Roquet. A partir do tema Tempos de Encontro: “acompanhar um processo e não de represen-
criação, acontecimento e pesquisa, a IV Reu- tar um objeto” (Kastrup, 2015, p. 32), propo-
nião Científica1 proporcionou um grande nú- mos, a partir de da escuta das impressões que
mero de debates sobre diferentes dimensões esses encontros nos causaram, uma reflexão
da noção de encontro no âmbito das artes sobre alguns conceitos que norteiam a leitura
cênicas. A abertura do evento contou com as e análise do gesto, cotejadas à nossa própria
palestras de doisconferencistas convidados, prática como pesquisadoras no Programa de
Prof. Dr. Jorge Dubatti (Universidad de Buenos Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFRGS
Aires) e Prof.ª Dr.ª Christine Roquet. A palestra (PPGAC/UFRGS).
de Roquet intitulou-se Ao encontro da criação:
a análise do movimento e o processo de cria-
ção coreográfica e contribuiu para difundir o Trajetórias dos encontros
pensamento de pesquisadores franceses so- franco-brasileiro em torno da leitura
bre o estudo do gesto. do gesto nos Colóquios
Logo após o evento realizado em Porto Ale- Artes de Movimento
gre, Christine Roquet seguiu para a Universida-
de Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI- Dando continuidade aos estudos sobre
RIO), a convite da Prof.ª Dr.ª Joana Ribeiro. gesto desde um ponto de vista de trocas fran-
Sendo assim, a partir de 2011, a vinda da pes- co-brasileiras, em março de 2015 Joana Ribei-
quisadora Christine Roquet ao Brasil foi uma ro Tavares3 reuniu um expressivo número de
oportunidade de estreitaros laços de Christine
junto a pesquisadores e bailarinos brasileiros, 2 Ver artigo de Christine Roquet (2017) publicado nesse nú-
mero, no qual são listadas suas publicações em português.
proporcionando umatroca de experiências vol-
3 Professora/pesquisadora do Programa de Pós-Graduação
tada para o estudo e análise do gesto. O tema
em Artes Cênicas (Mestrado e Doutorado) /PPGAC e do Pro-
da análise do gesto e de vários conceitos que grama de Mestrado Profissional em Ensino das Artes Cêni-
cas/MPEAC da UNIRIO. Possui graduação em Teoria do Tea-
giram em torno dessa noção alimentou mui- tro, Bacharelado em Artes Cênicas pela Universidade Federal
tos debates, práticas, encontros, entrevistas e do Estado do Rio de Janeiro, mestrado e doutorado em Teatro
pela mesma instituição, com estágio de doutorado no exterior,
no departamento de Dança da Universidade de Paris-8, Vin-
cennes - Saint Denis (2005-06). Atualmente em afastamento
1 As palestras e outros textos significativos resultantes da VI para realização de pós-doutorado com missão de conferen-
Reunião Científica da ABRACE estão disponíveis em Carrei- cista/professora estrangeira convidada no Departamento de
ra, Torrese Bião (2012). Dança da Université Paris-8, Vincennes Saint-Denis.

325 Dantas, Weber // O Estudo do Gesto na Encruzilhada das Práticas e Conceitos:


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pesquisadores4 na UNIRIO para participar do no meio acadêmico e sua influência é marcan-


I Colóquio Nacional de Artes do Movimento: A te, tendo formado bailarinos, pesquisadores,
análise do movimento e a pesquisa em artes, professores e terapeutas corporais que tra-
promovido pelo Programa de Pós-Graduação balham com análise do movimento. Ao longo
em Artes Cênicas da UNIRIO. O evento abran- das últimas décadas, isso se deve pela sua
geu o curso Abordagem Sistêmica do Gesto participação em cursos e palestras em festi-
Expressivo e o Colóquio propriamente dito. O vais de artes cênicas, bem como em eventos
curso, ministrado por Christine Roquet e Joa- acadêmicos e congressos nacionais e interna-
na Ribeiro, teve duração de 45 horas e contou cionais, demonstrando a força da perspectiva
com a participação das professoras doutoras dos estudos de Laban6 e Laban-Bartenieff no
Mônica Dantas (UFRGS), Suzi Weber (UFRGS) Brasil7.
e Lenira Peral Rengel (UFBA), que colabora- O contexto de debate proporcionado pelo
ram na tradução simultânea do francês para o Colóquio em torno do gesto significou uma
português. O Colóquio reuniu pesquisadores oportunidade para o grupo de pesquisadores
que mostraram interesse em dar continuidade que se encontravam no evento, vindo de di-
àleitura do gesto, relacionando-a a aspectos ferentes universidades do Brasil,de explorara
históricos, problemas de terminologia, propos- leitura do gesto sob diferentes perspectivas
tas de grades e de ferramentas para análise e práticas corporais. Desse modo, ao final do
do movimento. As palestras de abertura do evento, surgiu a ideia de promover um encon-
evento foram proferidas por Christine Roque- tro anual desse grupo de pesquisadores,a fim
te Regina Miranda, e dando prosseguimento de continuar os estudos sobre leitura do gesto.
ao Colóquio, outros pesquisadores brasileiros Em 2016, dando continuidade ao encontro
tambémapresentaram suas pesquisas. Cabe realizado no Rio de Janeiro, o Programa de
ressaltar que Regina Miranda é uma impor- Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFRGS
tante referência no que tange aos estudos do
movimento, tanto no Brasil quanto no mundo5.
6 Rudolf Laban (1879-1958), nascido em Bratislava, então
Regina Miranda é uma pesquisadora de visibi- pertencente ao Império Austro-Húngaro, desenvolveu seu
trabalho na Alemanha e na Inglaterra. Criou um importante
lidade tanto no contexto de formação e produ- método para análise do movimento humano, em que espaço,
ção artística quanto no contexto acadêmico. tempo, peso, energia/esforço são alguns parâmetros. Desen-
volveu uma concepção de espaço a partir da figura da kinesfe-
Mesmo sem titulação de doutorado, suas pes- ra – esfera englobando o espaço de proximidade do corpo em
quisas e publicações são bastante respeitadas movimento, cujo centro corresponde ao centro de gravidade
do corpo. Criou um sistema de registro de movimento – laba-
notation. Desenvolveu também uma metodologia para o en-
sino da dança, cujo objetivo principal era preparar o corpo do
4 Entre outros pesquisadores encontravam-se reunidos bailarino para que ele pudesse responder a diferentes exigên-
os pesquisadores Lenira Rengel (UFBA), Gustavo Cortês cias e solicitações relativas à expressão de sentimentos, sen-
(UFMG), Vinicius Machado de Almeida (UFRJ), Ana Terra sações e emoções. As principais instituições de disseminação
(UNICAMP) e Mônica Dantas e Suzi Weber (UFRGS). das pesquisas de Laban são o Trinity Laban Conservatoire of
Music and Dance (Reino Unido) e o Laban-Bartenieff Institute
5 Com formação e larga atuação no Laban-Bartenieff Insti- of Movement Studies (LIMS®) (Nova Iorque). Os estudos em
tute of Movement Studies (LIMS®), no qual ocupa o cargo Laban estão presentes em instituições de vários países; na
de Diretora de Arte e Cultura, divide-se entre Nova e Rio de América Latina, destacam-se Brasil, Argentina e Chile.
Janeiro. Foi coreógrafa e diretora da Companhia Atores Bai-
larinos, foi diretora do Centro Coreográfico do Rio de Janeiro 7 Sistema de Análise Laban/Bartenieffem Movimento desen-
(2004-2008) e desde 2010 é coordenadora da pós-graduação volvido principalmente por Irmgard Bartenieff(1900-1981), a
latu sensu no Sistema Laban-Bartenieff na Faculdade Angel partir de sua colaboração com Rudolf Laban, ao longo do sé-
Vianna. Ver Miranda (1980, 2008). culo XX. Ver Bartenieff e Lewis, 1997.

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promoveu o II Colóquio Internacional de Artes somáticas desenvolvidas por Klauss e Angel


do Movimento: narrativas do gesto e do movi- Vianna. O evento foi também uma oportunida-
mento nas Artes Cênicas8. O evento, organi- de para a difusão da obra e do pensamento
zado por Suzi Weber e Mônica Dantas, pos- de Angel e Klauss Vianna11, por meio de pa-
sibilitou a realização de trocas efetivas entre lestra realizada por Joana Ribeiro Tavares e
pesquisadores e estudantes de graduação e Marito Olsson-Forsberg, na qual destacou-se
pós-graduação, enfatizando o cruzamento o importante papel desempenhado por esses
entre teoria e prática. A palestra de abertura artistas, pedagogos e professores brasileiros –
foi realizada por Christine Roquet e Adriana Angel e Klauss Vianna – no desenvolvimento
Bonfatti9, propondo um cotejamento entre a de uma proposição original de ensino e inves-
abordagem sistêmica do gesto expressivo, tal tigação do gesto tanto na dança e quanto no
como é praticada na Universidade de Paris 8, teatro (Tavares, 2010).
e a análise do movimento na perspectiva do Em um terceiro momento, em 2016, o mes-
Sistema Laban-Bartenieff, especialidade de mo grupo de pesquisadores encontrou-se na
Adriana Bonfatti. As oficinas seguiram essa cidade de Salvadorpara participar do III Co-
proposta de integração entre diferentes pers- lóquio Internacional de Artes do Movimento:
pectivas eforam ministradas por Christine Ro- olhares cruzados sobre a capoeira, promovido
quet, Lenira Rengel10, Joana Ribeiro Tavares, pelo Programa de Pós-Graduação em Dança
Marito Olsson-Forsberg e Adriana Bonfatti. As da Universidade Federal da Bahia e coordena-
oficinas visaram um estudo crítico e reflexivo do pela Prof.ª Dr.ª Lenira Rengel, em colabo-
sobre o gesto, entrecruzando a Abordagem ração com a Doutoranda Sandra Santana. A
sistêmica do gesto expressivo, o Sistema La- proposição do evento foi de utilizar a especi-
ban-Bartenieff, os temas de movimento de Ru- ficidade das diferentes abordagens de leitura
dolf Laban (ver Rengel, 2008) e as abordagens do gesto em torno de um mesmo objeto de
pesquisa: a capoeira. Para isso, as organiza-
8 O evento foi realizado de 12 a 15 de abril de 2016, pro- doras convidaram o capoeirista Alex Santo
movido pelo PPGAC/UFRGS em parceria com os cursos de
Graduação em Teatro e de Dança da UFRGS, bem como do Muniz – Alex de João Pequeno, seu nome de
coletivo Sala 209 Usina das Artes. Os professores convidados batismo na capoeira– para participar do even-
do evento foram Prof.ª Ms. Adriana Bonffati (UNIRIO), Prof.ª
Dr.ª Christine Roquet (Paris 8), Prof.ª Dr.ª Joana Ribeiro (UNI- to e compartilhar certos conhecimentos so-
RIO), Prof.ª Dr.ª Lenira Rengel (UFBA) e Prof. Ms. Marito Ols-
son-Forsberg (Faculdade Angel Viana). Também participaram
bre a capoeira.Sendo assim, foram propostas
as pesquisadoras e doutorandas Sandra Santana (UFBA) e oficinas de capoeira angola baiana (Santana,
Caroline Maria Holanda Cavalcante (Universidade Federal do
Ceará/UFC). 2017), seguidas de reflexões e discussões so-
9 Adriana Bonfatti é mestre em Artes Cênicas pela Universi- bre dimensões cinéticas, dinâmicas e simbóli-
dade Federal do Estado do Rio de Janeiro-UNIRIO. É analista cas da capoeira. Problematizou-se também as
Laban de Movimento (CMA) pelo Laban/Bartenieff Institute of
Movement Studies e Professora do Departamento de Inter-
pretação do curso de Atuação Cênica da UNIRIO.
11 Klauss Vianna (1928-1992) e Angel Vianna (1928). Inicia-
10 Professora Doutora da Escola de Dança da Universidade ram a parceria profissional nos anos 1950 e casaram-se em
Federal da Bahia. Aborda a Dança, com ênfase nos processos 1955. Rainer Vianna, o único filho do casal, nasceu em 1958
cognitivos que se dão no ensino/aprendizagem, principalmen- e faleceu em 1995. Foi o primeiro a sistematizar o método
te nos temas: aspectos enativos e evolutivos do movimento; desenvolvido pelos pais. Voltaremos a falar mais das abor-
Ciências Cognitivas; procedimento metafórico do corpo; cor- dagens corporais desenvolvidas pelos Vianna. Ver Acervo
ponectividade; Agrega esses temasàs pesquisas na Arte de Klauss Vianna (http://www.klaussvianna.art.br/) e Acervo An-
Movimento de Rudolf Laban. gel Vianna (http://www.angelvianna.art.br/).

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vantagens e limites na utilização de diferentes baniana, funcional12, ou mesmo de uma pers-


sistemas de leitura do gesto aplicados à capo- pectiva gordardiana13, sinaliza o quanto é ne-
eira. cessário compreender o gestual da capoeira
O evento também tratou da capoeira como como uma práticacorporalassociada direta-
possibilidade de gesto brasileiro ou afro-brasi- mente a um conjunto de elementos tais como
leiro. Nessas discussões, ficaram evidentes os o canto, a música, os instrumentos e os gestos
contrastes culturais, que tanto potencializam desde uma perspectiva cultural. Mais que isso,
quanto limitam a compreensão de umagestua- o descompasso não ocorre somente em ter-
lidade pretensamente marcada como brasilei- mos conceituais, mas deflagra questionamen-
ra. tos sobre a hierarquia de saberes a partir de
Como destaca Evani Tavares Lima (2002), a perspectivas modernistas, as quaisvislumbram
origem da capoeira é bastante controversa. No a modernidade como um processo civilizatório
entanto, a grande maioria dos teóricos e prati- decorrente do racionalismo da cultura ociden-
cantes defendem uma teoria única, segundo a tal (Habermas, 1981). Podemos circunscrever-
qual, a “capoeira foi criada no Brasil por africa- nesse projeto de modernidade certas noções
nos, a partir de uma referência específica, uma advindas das teorias de análise do movimen-
espécie de reinvenção de algo já trazido por to, nas suas diferentes acepções e práticas.
eles” (Lima, 2002, p. 35). Para além da con- Como destaca Leda Martins (2003), predomina
trovérsia sobre origem da capoeira, a autora no Brasil a herança dos arquivos textuais de
destaca a primazia, na capoeira, de uma práti- tradição e de retórica europeia, os quais legiti-
ca corporal de jogo e luta, com forte utilização mam uma ideia da natureza do conhecimento
de pernas, pés, cabeças e ocasionalmente, centrada na visão e no domínio da linguagem
braços e mãos como instrumento. Lima (2002) como modos de apreender e delinear o real;
salienta o sentindo de ataque e defesa. Parte para a autora “[a] textualidade dos povos afri-
da força da capoeira reside na esquiva, a qual, canos e indígenas, seus repertórios narrativos
permitindo, a princípio, escapar do golpe do e poéticos, seus domínios de linguagem e mo-
adversário, constitui-se como um movimento dos de apreender o real e figurar o real, deixa-
que contém em si uma defesa e um ataque, dos à margem, não ecoaram em nossas letras
e vice-versa. Outro ponto de destaque dessa escritas” (Martins, 2003, p. 64).
prática corporal é a inter-relação do conjunto
de elementos que ocorrem simultaneamente
12 A análise funcional do movimento refere-se aos estudos,
tais como o jogo corporal, a luta, a música e desenvolvidos sobretudo na França, à partir dos anos 1980.
Também é denominado Análise Funcional do Corpo no Mo-
o canto. vimento Dançado (AFCMD). Segundo Roquet (2011), os co-
No âmbito da práticas corporais afro-bra- nhecimentos técnicos que compõem esse sistema baseiam-
-se na biomecânica do movimento humano, referenciada na
sileiras, onde a capoeira está circunscrita, a anatomia e na fisiologia, buscando questionar e sofisticar o
ensino da dança.
análise do gesto a partir de uma perspectiva
da estética da dança, predominantemente la- 13 O que denominamos nesse texto de perspectiva godardia-
na está referida no trabalho pioneiro desenvolvido por Hubert
Godard no Departamento de Dança da Universidade de Paris
8. Pesquisadores como Christine Roquet continuam a desen-
volver essa abordagem, denominando-a como Abordagem
Sistêmica do Gesto Expressivo. Ver Roquet (2011), Roquet
(2017), Hinz (2017).

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Há no Brasil e América Latina, saberes tais – são oferecidas como fusão e osmose (Can-
como a capoeira que escapam a uma análi- clini, 2015)15.
se de retórica europeia, fortemente legitimada Evidenciaram-se, nesse último encontro em
no Brasil, sobretudo no ambiente acadêmico Salvador, as dificuldades de, em tão pouco
das artes. No entanto, o guarda-chuva das tempo, fundir reflexão, teoria e prática e pro-
práticas culturais, resultado de processos de duzir algumas assertivas ou sínteses, mesmo
hibridação14, apresenta saberes de uma gno- que provisórias. Surgiu então, a vontade de
sis e episteme diversas de uma lógica de fun- organizar uma publicação que difundisse as
do eurocêntrica. Segundo Martins (2003), são ideias do grupo e que, ao mesmo tempo, por
performances do corpo que revelam o que os meio de chamada pública, permitisse dar a co-
textos escondem. No nosso caso: um grupo nhecer outras abordagens de pesquisadores
de pesquisadores, em sua maioria brasileiros, brasileiros sobre o tema. Assim, propusemos
brancos, com formação em dança clássica, o dossiê Leituras do gesto em artes cênicas,
moderna e contemporânea, tentando circuns- para alavancar as seguintes questões: Como
crever a prática da capoeira sob o ponto de os sistemas de análise do gesto e do movi-
vista predominante estético da dança. Nesse mento abrem-se à diversidade dos modos de
sentido, acreditamos que práticas tais como encenação do corpo na cena contemporânea?
a capoeira escapam, burlam e se contrapõem Como as ferramentas propostas por esses
às grades de análise reconhecidas no âmbito sistemas dialogam e contribuem com propo-
da dança contemporânea, tanto no espectro sições pedagógicas emancipatórias? Como
de análise do movimento labaniana ou funcio- esses sistemas situam-se em relação aos con-
nal ou godardiana. Reconhecer essa falésia é textos pós-coloniais, permeados pelo intenso
algo profícuo, que pode demonstraro quanto- fluxo migratório, pela aceleração das trocas de
as práticas corporais de matriz afro-brasileira informação em escala mundial, pela mobilida-
e provavelmente outras, como os repertórios de cultural, pela desterritorialização e relações
indígenas, resistem e destoam do projeto mo- assimétricas de poder?
dernista. Tal projetoemerge do mundo ociden-
tal e cultiva uma autoestima etnocêntrica, a
qual acaba por abarcar o contexto universitário O gesto na encruzilhada
latino-americano e nós, especialistas em dan- dos conceitos
ça. No entanto, em “um mundo fluidamente
interconectado”, confrontação e diálogo são Nos últimos anos, em uma perspectiva de
necessários, afim de contrastar como que nas pós-graduação, sobretudo no âmbito do Pro-
interculturalidades migratórias, econômicas e grama de Pós-Graduação em Artes Cênicas
midiáticas – ou nos processos de globalização da UFRGS, as pesquisas que abordam o gesto
propõem investigações a partir de uma pers-
14 As noções de hibridação ou processos de hibridação de pectiva reflexiva impulsionada pela análise do
que tratam os estudos do pesquisador argentino Nestor Gar-
cia Canclini (2015), está embasada em uma complexa refle-
xão para pensar os países da América Latina em uma pers-
pectiva intercultural nas relações que configuram fenômenos 15 Essas assertivas são de ordem pessoal das autoras, con-
da atualidade entre as tradições culturais com a modernida- siderando que muitas das experiências do último encontro em
de. Salvador ainda estão sendo por nós digeridas e assimiladas.

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fazer artístico, imbricado ou não a práticas pe- verino18, Carlota Albuquerque19, Cecy Franck20.
dagógicas16. Para entender o gesto na dança, vemos na
Temos procurado abordaro estudo do gesto perspectiva filosófica da estado-unidense Su-
por meio de diferentes autores, temporalidades sanne Langer (1980)21 um marco primeiro e re-
e hierarquias conceituais. Buscamos cotejar ferencial, seja pela atualidade de sua escrita,
as produções de pesquisadores universitários datada de 1953, seja pela a busca em determi-
e de pesquisadores artistas. , tais como Des- nar a especificidade da dança na força de sua
se modo, situamosa produção acadêmica de gestualidade, ou ainda pela possibilidade de
autores que buscam refletir sobre o gesto em contraste com autores contemporâneos.
perspectivashistórico-cultural, filosóficaou es- Quanto à especificidade da dança, a autora
tética como Annie Suquet (2008, 2012), Ciane sustenta que a dança é uma arte independen-
Fernandes (2002, 2014), José Gil (2004), Hu- te da música, repudiando a “quase-identida-
bert Godard (1995), Laurance Louppe (1997), de” na relação entre dança e música. Também
Susanne Langer (1980), Sylvie Fortin (1996, a vê comoindependente de “quadros em mo-
2008) face a perspectivas práticas e a narrati- vimentos”, desenho animado, ou estátuas de
vas de artistas como Eva Schul17, Eduardo Se- movimento, o que vincularia a especificidade
do gesto na dança à pintura. Repudia também
a dança enquanto como uma arte dramática

18 Eduardo Severino (1965) coreógrafo, fundador e diretor da


Eduardo Severino Companhia de Dança (2000), em conjunto
com Luciano Tavares. Tem formação em dança moderna e
contemporânea. Integrou a Ânima Companhia de Dança. O
caráter performativo de suas produções tem-se se acentuado
nos últimos tempos, a partir de colaborações com diversos
artistas de dança, performance e música. Ver Dança em Rede
16 Essa tendência está em sintonia com estudos recentes so-
(http://www.spcd.com.br/danca_em_rede/)
bre a pesquisa em artes cênicas no Brasil conforme Santos
(2013) e Carreira (2012). Segundo os estudos estatísticos de 19 Carlota Albuquerque (1957) coreógrafa, com formação em
Santos (2013) grande parte da produção de dissertações e balé e em dança moderna. Em 1981, foi uma das bailarinas
teses produzidas nos programas de pós-graduação no Brasil fundadoras da Terra Companhia de Dança, em Porto Alegre.
versa sobre a análise de proposta relacionadas ao fazer ar- Em 1987 fundou a Terpsí Teatro de Dança, onde aprimorou
tístico. Carreira (2012) também endossa esse ponto de vista sua poética ligada à dança-teatro. Tem trabalhado em cola-
quando afirma que cada vez mais as pesquisas em artes cê- boração com diretores teatrais. Desde 2015 é diretora artís-
nicas desenvolvidas em âmbito acadêmico no Brasil estreita tica e coreógrafa do Canoas Coletivo de Dança, na cidade
fortemente laços com a criação artística que circula no país. de Canoas/RS. Ver Dança em Rede (http://www.spcd.com.br/
danca_em_rede/)
17 Eva Schul (1956) coreógrafa e professora, atualmente dire-
tora da Ânima Companhia de Dança sediada em Porto Alegre. 20 Cecy Franck (1924-2000) iniciou os estudos em balé em
Estudou balé em Porto Alegre e nos Estados Unidos, dedican- Porto Alegre já na idade adulta. O encontro com a dança
do-se depois ao estudo da dança moderna em Buenos Aires moderna, através das aulas com Nina Verchinina no Rio de
e em Nova Yorque. Suas principais referências nesse campo Janeiro, nos anos 1960, e na Escola de Martha Graham em
são Hanya Holm e Alwin Nikolais. Uma das primeiras a traba- Nova Iorque, nos anos 1970, foi decisivo para a carreira dessa
lhar com dança moderna e contemporânea no sul do Brasil e professora e coreógrafa. Em 1981 criou o Choreo – Espaço
a utilizar procedimentos de criação baseados em improvisa- Alternativo de Dança e Grupo Choreo. O Grupo Choreo esteve
ção e composição coletiva, atuou nos anos 1980 em Curitiba ativo até 1998, tendo sido um espaço para as criações coreo-
e, a partir dos anos 1990, em Porto Alegre. A coreógrafa foi gráficas de Cecy Franck e de outros bailarinos do grupo. Ver
também responsável por constituir ambientes voltados para a Dança em Rede (http://www.spcd.com.br/danca_em_rede/)
prática e a difusão da dança e da arte contemporânea, como o
Espaço Mudança (anos 1970) a Ânima Companhia de Dança 21 O livro Feeling and Form foi publicado pela primeira vez em
e o Coda, centro de terapia corporal e dança (Anos 2000). 1953. No livro Dança, o enigma do movimento (Dantas, 1999),
Destaca-se também uma prolífica e significativa produção co- já utilizávamos as reflexões de Susanne Langer sobre gesto
reográfica, que impactou o cenário da dança contemporânea e movimento como definidores da dança como manifestação
no Brasil. Ver Dantas e Schul, 2012. artística.

330 Dantas, Weber // O Estudo do Gesto na Encruzilhada das Práticas e Conceitos:


apontamentos para a reflexão sobre encontros de pesquisadores franco-brasileiros nos Colóquios Artes do Gesto
Rev. Cena, Porto Alegre, n. 22, p. 324-338, jul./out. 2017
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cena n. 22

próxima à pantomima. “A pantomima, como se torna expressão, tornando-se gesto. A au-


padrões de movimento puro, imagens plásti- tora sustenta que o caráter gestual da dança é
cas e formas musicais, é material de dança, reconhecido pelos dançarinos da modernida-
algo que pode tornar-se um elemento baléti- de, desde Isadora Duncan, passando por Mary
co22, mas a dança em si é outra coisa” (Langer, Wigman e Rudolf von Laban, entre outros.
1980, p. 181). Sendo todo gesto expressivo, o que dife-
Langer (1980) identifica no gesto o elemento rencia o gesto dançado do gesto cotidiano é
básico da dança: “todo o movimento de dan- capacidade de produção de jogos de poderes
ça é gesto, ou um elemento na exibição do tornados visíveis, jogos esses que estão na es-
gesto [...] O gesto é a abstração básica pela fera dos poderes virtuais. Esses poderes não
qual a ilusão da dança é efetuada e organiza- podem ser medidos, nem calculados, eles são
da” (Langer, 1980, p. 182-183). Dentro dessa virtuais, como os poderes misteriosos que do-
concepção, o gesto diferencia-se do movi- minam a imaginação pré-científica.
mento pelo seu caráter expressivo: os gestos
podem constituir-se em sinais ou sintomas de Todas as forças que não podem ser
cientificamente estabelecidas e medi-
desejos, intenções, expectativas, exigências e das devem ser consideradas, do ponto
sentimentos. Ao mesmo tempo, os gestos po- de vista filosófico, como ilusórias; se,
portanto, tais forças parecem ser parte
dem ser organizados em sistemas Iogicamente de nossa experiência direta, elas são
expressivos, como no caso da linguagem dos “virtuais”, isto é, semelhanças não-
-reais... Pois, de maneira bastante es-
surdos-mudos. No entanto, para a autora todo tranha, artistas que sustem as teorias
gesto é expressivo, dançado ou não. O gesto mais fantasticamente diversas quanto
ao que é a dança – uma música visível,
na vida cotidiana, quer tenha um significado uma sucessão de quadros, uma peça
linguístico ou não, é sempre expressivo, seja muda – todos reconhecem seu caráter
de gesto. Gesto é a abstração básica
em virtude de suas formas plásticas (grande, pela qual a ilusão da dança é efetuada
pequeno, etc), seja como o reflexodo estado e organizada. (Langer, 1980, p. 182-
183)
emocional de quem o executa. Desse modo,
como comportamento humano, esse gesto
Para autora, não são os sentimentos reais
não é arte, é simplesmente movimento vital.
que governam a dança, e sim os sentimentos
Langer (1980) considera que “a ilusão pri-
imaginados; o movimento na dança é real, no
mária” de uma arte é algo criado como não
entanto o gesto é virtual, tendo sua origem no
real, como ilusório, embora existente na ima-
que Laban chamou movimento-pensamento-
ginação e nos sentidos. A autora exemplifica
-sentimento. Aqui surge a contradição de um
dizendo que a pintura não é a tinta sobre a pa-
gesto que é ao mesmo espontâneo e plane-
rede, mas a ilusão que o pintor cria por meio
jado, ou seja, na dança o movimento é real,
de tinta sobre ogesso molhado. Sendo o mo-
enquanto o gesto é expressão virtual. A abs-
vimento a matéria prima da dança, como ele
tração básica da dança é o gesto virtual, que
é transformado, e em quê? Em gesto. Langer
é tanto um fenômeno visível quanto muscular,
(1980) considera que o movimento na dança
que pode ser visto, sentido e de certo modo,
22 A autora emprega balético com o sentido genérico de re- compartilhado cinestesicamente.
ferente à dança.

331 Dantas, Weber // O Estudo do Gesto na Encruzilhada das Práticas e Conceitos:


apontamentos para a reflexão sobre encontros de pesquisadores franco-brasileiros nos Colóquios Artes do Gesto
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cena n. 22

Outro ponto de destaque no pensamento teoria do Esforço24 em Laban. Como ressalta


precursor de Langer (1980) é a compreensão Louppe (1997), Laban nos ensina a “aceitar o
da dança e, consequentemente do gesto dan- peso, trabalhar com ele como se trabalha uma
çado, como uma relação de desafio à gravi- matéria viva e produtiva” (p. 97), seja resistindo
dade. A elaboração da dança passa pelo pro- à força da gravidade e projetando o corpo ver-
cesso de transformação dos movimentos em ticalmente, seja abandonando o corpo à ação
gestos virtuais, o que ocorre devido, especial- gravitacional.
mente, ao movimento trabalhado ritmicamente Partindo da noção de Langer (1980) de que
e à ilusão de conquista da gravidade. Langer dança se realiza pela conquista da gravidade,
reconhece esse poder em diferentes formas de interessa-nos encontrar os conceitos de orga-
dança, não só na dança considerada cênica ou nização gravitacional, pré-movimento e musi-
artista: nas danças sociais, através “das forças calidade postural, desenvolvidos por Godard25
magnéticas que unem um grupo”, nas danças (1995). Com ele aprendemos que as relações
de casais, pelo poder do ritmo que transporta primordiais que uma pessoa estabelece com
dois corpos pelo espaço ou nas provocações a gravidade possibilitam um enraizamento no
da esfera do sonho produzidas pelas danças mundo e determinam uma organização do cor-
eróticas. Langer vê nesses exemplos um tra- po em movimento. O fato de estar de pé pres-
balho de elaboração do movimento ruma à ilu- supõe uma atitude em relação ao peso e à gra-
são da conquista da gravidade que pelo menos vidade e uma determinada atividade muscular,
em aparência, disfarça as exigências usuais mesmo que não se esteja realizando nenhum
de esforço do gesto. Para Langer (1980), esse movimento aparente. A menor movimentação
poder virtual é que torna a dança social intrin- do corpo provoca um reajuste na ação dos
sicamente arte, ainda que por vezes, possua músculos antigravitacionais. Godard (1995)
formas plásticas elementares. denomina este fenômeno de pré-movimento,
Segundo a autora, o movimento da dança entendendo-o também como pano de fundo,
produz, tanto para o bailarino quanto para o como contexto onde o movimento é executa-
espectador, a ilusão de uma conquista da gra- do. O pré-movimento antecipa cada gesto e
vidade, a libertação de forças reais que são anuncia suas qualidades. E traz já um projeto,
sentidas como controladoras do corpo. Esse uma tomada de posição, uma postura em re-
pensamento sobre a especificidade da dança lação ao mundo. Como diz o autor, a cultura,
na sua relação com a gravidade é contem- a história de um bailarino, sua maneira de sen-
porâneo às pesquisas de Laban23. Se Langer tir determinada situação, de experimentá-la e
(1980) não aprofunda o diálogo com Laban, de interpretá-la vão induzir uma “musicalidade
cabe a nós imaginarmos cruzamentos entre as postural” que acompanhará os gestos inten-
ideias de Langer sobre dança e gravidade e o cionalmente executados.
conceito de peso e seus desdobramentos na

24 Ver Fernandes, 2002.

23 Langer (1980), no capítulo Poderes Virtuais, cita Laban em 25 O artigo seminal de Hubert Godard, Le geste et sapercep-
pelo menos duas passagens, através do livro de Laban Die tion, foi publicado em francês em 1995 e publicado em portu-
Weltdes Tänzers: Fünf Gedankenreigen, publicado em 1922 guês no Brasil em 2003, em tradução de Silvia Soter (Godard,
na Alemanha. 2003).

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A conquista da gravidade anunciada por gel Vianna26. A Conscientização do Movimento


Susanne Langer, os princípios teórico-meto- tem por objetivo permitir ao indivíduo ampliar
dológicos desenvolvidos pelo Sistema Laban e os conhecimentos do corpo, através da per-
as nuances da organização gravitacional enun- cepção de suas estruturas ósseas, articulares
ciadas por Hubert Godard constituem algumas e musculares. Ela visa a liberação de tensões
das referências que são deglutidas, digeridas e acumuladas, o relaxamento, o contato com o
incorporadas por nós, visando a elaboração de outro, a expressividade e desperta nos prati-
novas sínteses, num gesto antropofágico, que cantes um conhecimento de ordem sensível,
será melhor explicitado a seguir. motor e cinestésico. O sistema foi desenvolvi-
do por Klauss e Angel Vianna a partir de suas
investigações sobre o ensino da dança. Num
O gesto na combustão das práticas segundo momento, eles desenvolveram uma
pesquisa sobre a função das estruturas corpo-
Em nossas pesquisas, buscamos cotejar rais (sistemas ósseos, musculares, articulares)
as produções de pesquisadores universitários no movimento dançado. Posteriormente, foram
àquelas de pesquisadores artistas. Acredita- também influenciados por abordagens somáti-
mos que além do reconhecimento do legado cas como o método Feldenkrais e a técnica de
deixado por grandes pensadores europeus e Alexander. O eixo pedagógico desse sistema
estado-unidenses como Rudolf Laban, Susan- está centrado “[...]na experimentação do movi-
ne Langer, Hubert Godard, Laurence Louppe, mento, no respeito à autonomia do aluno e na
entre outros, é necessário disseminar o recen- extração da teoria a partir do vivido”.(Escola e
te pensamento brasileiro desenvolvido por ar- Faculdade Angel Vianna, 2017, s/p.).
tistas e pesquisadores como Klauss e Angel Do mesmo modo,é necessário dar voz e vi-
Vianna e Regina Miranda, entre outros. Já res- sibilidadea precursores tais como Mercedes
saltamos a importância de Regina Miranda no
desenvolvimento de estudos e obras artísticas
referenciados pelo Sistema Laban-Bartenieff.
Destacamos agora o trabalho de Klauss e An-
gel Vianna. A consciência do movimento é uma
das ideias fundadoras do trabalho de Klauss
e Angel Vianna, um método de educação do
movimento que pode ser considerado como
uma prática somática. Atualmente, denomi-
nada Conscientização do Movimento e Jogos
Corporais, ela inspira uma visão de dança, de
movimento, de ensino e de mundo presentes 26 A Escola de Dança Angel Vianna foi criada em 1983, no
nos cursos de formação profissional, na Gra- Rio de Janeiro, por Angel Vianna. Desde sua criação, oferece
cursos livres e duas possibilidades de formação profissional,
duação em Dança e nos Cursos de Pós-Gra- uma no eixo dança contemporânea e outra no eixo da reedu-
cação do movimento. A partir de 2001, foi criada uma Gradua-
duação, oferecidos na Escola e Faculdade An- ção em Dança, com formação em Licenciatura e Bacharelado.
Atualmente, dononima-se Escola e Faculdade Angel Vianna e
oferece também Cursos de Pós-Graduação Latu Sensu.

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Batista27 e Raimundo Bispo dos Santos28 – ou africanas, indígenas e de outros povos não eu-
Mestre King - respeitando o desejo de revelar ropeus, práticas de hibridação e mestiçagem
nossa cultura híbrida por meio da dança. tão caras às artes latino-americanas, avanços
O legado da estética negra no Brasil, como tecnológicos, culturas massivas e midiáticas
é o caso de Mercedes Batista e de Mestre O reconhecimento da verticalidade de pen-
King, dentre outros artistas, nos permite re- samentos ocidentais seminais para os estudos
pensar aspectos do gesto brasileiro para além em dança, relacionados a saberes advindos
das noções de autenticidade e de identidade, das danças, dos rituais edas práticas perfor-
afastando-nos de qualquer noção de pureza máticas de matriz africana ou indígena,ou mes-
cultural. Trata-se de reconhecer como as nar- mo da dança contemporânea brasileira resta
rativas recentes do gesto brasileiro, que sea- como uma difícil encruzilhada a ser atraves-
firmamcomo arte a partir da segunda metade sada (Martins, 2003). Dialogar com todo esse
do século XX, podem ser revisitadas pelo olhar espectro de demandas frente à combustãode
contemporâneo, impregnado por recentes questões emergentes provenientes das práti-
epistemologias e tecnologias. Estamos cons- cas artísticas pós-modernas, requer escolhas,
cientes de que habitamos um país periférico e embates e reconciliações.
de que vivemos entre uma modernidade pre- Como compreender, captar, analisar e per-
cária, sinuosa e inacabada e uma pós-moder- formar o gesto frente a questões espistemoló-
nidade que acentua as relações assimétricas gicas, interdisciplinares e interculturais? Esse
de poder. Por isso, interessa-nos problemati- desafio merece ser desenrolado feito o fio de
zar o gesto entrecruzando abordagens teórico- Aridne, labirintos que cada pesquisador pode
-metodológicas europeias, estado-unidenses ou deve percorrer à sua maneira. O encontro
e brasileiras, saberes oriundos das tradições de um grupo em sua maioria brasileiros com
a pesquisadora Christine Roquet, permite-nos
27 Nascida em 1930, no estado do Rio de Janeiro, mudou-se uma troca profícua de pensamentos e vivên-
para a capital ainda pequena. Fez formação em balé na Es- cias interculturais entre o exercício crítico do
cola de Bailado do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e tor-
nou-se a primeira bailarina negra do Teatro Municipal do Rio pensamento francês não somente de pensar a
de Janeiro. Integra o Teatro Experimental do Negro. Após as
apresentações no Rio de Janeiro da Companhia de Dança de
dança, mas o corpo, frente a nós pesquisado-
Katherine Durham, em 1951, Mercedes Baptista obtém uma res latino-americanose nossa adaptabilidade
bolsa de estudos e vai para Nova York estudar com a coreó-
grafa. Duham mesclou os princípios da dança moderna esta- camaleônica de dialogar e buscar a solidifica-
do-unidense aos das danças afro-caribenhas. Um ano depois, ção da pesquisa do gesto num espaço nacio-
no seu retorno, reúne um grupo de artistas negros e inicia o
trabalho que viria a gerar o Balé Folclórico Mercedes Baptista nal, latino, cosmopolita e internacional. Parece
e gestando o que seria denominado posteriormente de Dança
Afro. Segundo Monteiro (2011), a dança afro de Baptista con- importante no contraste com a vasta cultura
figurou-se “como uma prática e um repertório em ruptura com francófona que Christine Roquet nos propor-
o balé clássico e completamente identificado com os novos
parâmetros da dança moderna, tendo como referência a tradi- ciona e representa, reconhecer e descortinar
ção africana tal qual se configurava no Brasil” (p. 10).
nosso próprio e recente legado daqueles que
28 Nascido em 1943, em Santa Inês/Bahia, com formação ini- como Mercedes Batista, Angel e Klauss Vian-
cial em capoeira, foi o primeiro homem e negro a se formar
no Curso de Graduação em Dança da Universidade Fede- na, Cecy Franck e Eva Schul, entre outros,
ral da Bahia. Coreógrafo e professor, seu trabalho de dança
afro-brasileira foi se delineando na fusão entre danças dos
buscaram e buscam através de uma prática e
terreiros de candomblé com técnicas de dança moderna e tor- reflexão somática/cinestésica do gesto acom-
nou-se referência. Ver Oliveira, 2008.

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panhada de questões em torno da expressi- entre nós mesmos. Nada é consenso em um


vidade e da arte. Ainda, difundir e compreen- mundo pretensamente globalizado, há muitos
der esses e outros artistas/pesquisadores que brasileiros que não tem samba no pé. Entre a
estão atuantes na busca de apreensões do umbigada e dança da corte européia, muitas
gestoreferenciado em matrizes brasileiras, tais trocas podem ser profícuas. A busca desse
como Mestre King, Antônio Nóbrega29, Luiz de pequeno grupo franco-brasileiro cosmopo-
Abreu30, para nos alimentarmosde nossa pró- lita frequentado por pesquisadores e artistas
pria cultura. que se agregam e desagregam a um pequeno
Há na cultura brasileira, uma dança reco- núcleo estável, nos faz deslizar, reconhecer e
nhecida através de um gestochamado de um- confrontar além das tradições e modernidades
bigada, um bater-se ou um encontrar-se de da dança, do movimento e do gesto. O desli-
umbigos que serve como convite para entrar zamentotambém está entre o culto, o popular
ou sair da dança. Com as nossas roupas cur- e o massivo/midiático, o somático e o estéti-
tas, como metáfora da nossa entrada recente co, e outras tantas polarizações e espectros
no campo dos estudos em dança, frente ao que nos permite pensar o corpo dançante em
legado de conhecimento europeu e norte-a- meio a instabilidades, poros, lacunas, obliqui-
mericano, resta praticar a umbigada entrenós dades, enfim, o gesto como enigma e mistério
mesmos e com os outros e outros. A umbigada na combustão da pós-modernidade.
deu origem ao samba, nosso maior produto de Ensaiamos então, a exemplo de Oswald de
exportação de dança brasileira, clichê e sofisti- Andrade (Andrade, 1976) e de tantos outros ar-
cação da arte e da cultura brasileiras. O samba tistas antropófagos brasileiros, o gesto antro-
permite a troca e o swing com os estrangei- pofágico. A Antropofagia, a partir de O mani-
ros, estrangeiros esses que, às vezes, estão festo antropófago, publicado pela primeira vez
em 1928 retoma as ideias de canibalismo ritual
29 Antônio Nóbrega (1952) nasceu em Recife. É violinista praticados pelos índios da tribo Tupinambá e
desde criança. No final dos anos 1960 passou a integrar como propõe a ação antropofágica: devorar a cultura
instrumentista e compositor, o Quinteto Armorial - grupo pre-
cursor na criação de uma música de câmara brasileira de raí- estrangeira, digeri-la e assimilá-la seletivamen-
zes populares. A partir dos anos 1970, percorreu quase todo
o Brasil estudando as manifestações populares, aprendendo
te para restaurar seu próprio patrimônio cultu-
cantos, toques instrumentais, danças, modos de representar ral. A Antropofagia reivindica e se apropria dos
dos brincantes, folgazões e demais artistas populares. Desde
1975 começou a desenvolver um estilo próprio de concepção estereótipos do Novo Mundo – o exotismo, o
em artes cênicas, dança e música e criou inúmeros espetá- barbarismo, o canibalismo – com ironia e sar-
culos nos quais desenvolveu suas concepções. Juntamente
com sua mulher, Rosane Almeida, idealizou e dirige, em São casmo. Engajar-se com esses estereótipos é
Paulo, o Instituto Brincante local de cursos, oficinas, mostras
e encontros que procuram apresentar aos próprios brasileiros também um modo de admitir a diferença, reco-
um Brasil ainda pouco conhecido. nhecer a fatalidade de ser colonizado e as pos-
30 O primeiro contato de Luiz de Abreu com dança ocorre na sibilidades de lidar com isso. As metáforas de
década de 1960, nos terreiros de umbanda em Araguari, onde
interpreta várias entidades do culto. Em 1986 muda-se para consumo de carne humana são talvez violen-
Belo Horizonte e trabalha na Companhia de Dança de Minas tas. Mas elas podem operar como estratégias
Gerais e Companhia de Dança Primeiro Ato. Nos anos 1990,
começa a carreira solo em São Paulo, e dança com Ivaldo de produção artística, cultural e política em pa-
Bertazzo e Mim Tanaka. Em 2004 estreia o solo O samba do
crioulo doido, referência como um trabalho coreográfico que
íses periféricos como o Brasil, sendo menos
expõe modos de estereotipar e desconstruir estereótipos so- demagógica e consensual que as proposições
bre o corpo negro e brasileiro.

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de interculturalismo, multiculturalismo, hibri- DANTAS, Mônica Fagundes;SCHUL, Eva.


dação, justamente por oferecer experiências Apontamentos para uma reflexão sobre dan-
de violências transformadas (Dantas, 2008). ça contemporânea ao Sul do Brasil a partir do
Gestos antropofágicos são noções a serem Projeto Dar carne à memória. In: MEYER, San-
melhor desenvolvidas, afinadas em práticas de dra; XAVIER, Jussara; TORRES, Vera. (Org.).
devoração, digestão, indigestão, assimilação, Histórias da Dança. Coleção Dança Cênica.
realização de novas sínteses e reconhecimen- Florianópolis: Editora da UDESC, 2012, v. 2, p.
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Recebido: 01/07/2017
Aprovado: 07/07/2017

338 Dantas, Weber // O Estudo do Gesto na Encruzilhada das Práticas e Conceitos:


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