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Douglas Phillips Freitas

3.ª edição
revista, atualizada e ampliada
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Capa: Rafael Molotievschi

Produção de ebook: Freitas Bastos

CIP – Brasil. Catalogação na fonte.


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

F936a

Freitas, Douglas Phillips

Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010 – Douglas Phillips


Freitas – 3.ª ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014.
Inclui bibliografia

ISBN 978-85-309-5176-4

1. Brasil. [Lei 12.318/2010]. 2. Guarda de menores. 3. Guarda


compartilhada. I. Pellizzaro, Graciela. II. Título. III. Título: Comentários à Lei
12.318/2010.

10-4829. CDU: 347.157(81)


Ao meu filho, Matheus... meu orgulho.

À minha noiva e companheira, Isaura.


A lei encontra-se aplicada e reconhecida em todos os T ribunais,
não há dúvidas. Porém, ainda não se encontra em sua plenitude e
possibilidades, motivo pelo qual urge a necessidade de um debate mais
acurado sobre o tema, em especial, sobre a má utilização e
interpretação equivocada da norma.
Nesta atualização busco elencar novas possibilidades, à luz da
experiência pessoal e de outros profissionais, em especial do amigo
Felipe Ornell, que contribui com importante capítulo.
À luta, caro leitor...

Douglas Phillips Fre itas


Primavera de 2013
www.douglasfreitas.adv.br
A Síndrome da Alienação Parental, infelizmente, não é nova,
tanto no campo médico como no jurídico. A doutrina e, na esteira, a
jurisprudência já identificavam essa doença e, com parcos recursos,
mas forçosos estudos hermenêuticos, construíam algumas soluções
jurídicas para saná-la ou, pelo menos, minorá-la nas lides familistas
em que se constatava sua presença.
Lamentavelmente, muitos profissionais não sabiam como lidar
com a presença da Síndrome da Alienação Parental nos litígios em que
estavam envolvidos, ora não a identificando, por vezes não obtendo a
tutela necessária para resolver a situação.
Com o advento da Lei 12.318, publicada em 27.08.2010, no
Diário Oficial, e sancionada no dia anterior, alguns novos
instrumentais foram apresentados, e por isso essa realidade tende a
mudar.
A referida lei, que tutela especificamente a síndrome, chamando-a
apenas de “ Alienação Parental”, a conceitua como “ a interferência na
formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a
criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para
que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vínculos com este” (art. 2.º).
De forma didática, a redação da Lei da Alienação Parental elenca
alguns exemplos de identificação da síndrome: “ I – realizar campanha
de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade
ou maternidade; II – dificultar o exercício da autoridade parental; III –
dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV –
dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência
familiar; V – omitir deliberadamente a genitor informações pessoais
relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas
e alterações de endereço; VI – apresentar falsa denúncia contra
genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou
dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII –
mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro
genitor, com familiares deste ou com avós” (art. 2.º, parágrafo
único).
Infelizmente, essas condutas são comuns nas lides familistas, que
são tratadas como declarações de guerra, como já asseverava um dos
maiores doutrinadores de nosso país e presidente nacional do
IBDFAM, Dr. Rodrigo da Cunha Pereira.
A motivação pessoal na abordagem desse tema é resultado de
minha atuação exclusiva na área familiar, especialmente em dois casos
muito emblemáticos: o primeiro, em favor de meu irmão, e o segundo,
para meu assessor, também colega advogado.
No ano de 2010, dois meses antes do advento da Lei da Alienação
Parental, após dois anos de árduo trabalho, obtivemos uma decisão
judicial que permitiu reaver o contato entre o meu cliente (assessor e
colega advogado) e o seu filho, há quase três anos tolhidos da
convivência um do outro por uma grave e falsa denúncia promovida
pela genitora. Essa vitória se deu pela atuação em conjunto e pela
“ fibra” de excelentes e sensíveis profissionais do judiciário e da
psicologia, e de um incansável pai de uma criança alienada por outro
parente, que, sem medir esforços, lutou para reavê-la.
Essa experiência feliz, por conta do resultado, foi, no entanto,
muito traumática em minha profissão, pois tive que vislumbrar de
perto a tristeza dos reflexos que a conduta alienatória causa no
alienado, e com o advento desta lei tenho certeza de que casos como
este poderão ser mais bem resolvidos, embora não de forma menos
árdua.
O dia 27 de agosto (dia seguinte à sanção presidencial e data da
publicação da norma no Diário Oficial) jamais me será esquecido, não
apenas por conta dessa novidade legislativa, mas por ser o dia em que
meu irmão mais velho, infelizmente, nos deixou, após uma longa luta
contra o câncer.
No caso dele, houve também a prática da alienação parental,
sofrida por um de seus quatro filhos, como já citado, mas que,
infelizmente, pela sua partida tão breve, não pôde ter a felicidade da
reconciliação obtida na outra lide.
A alienação parental é, por esses e muitos outros motivos, uma
discussão que transcende o debate jurídico puro e simples, alcançando
verdadeiro mal sociofamiliar que precisa ser extirpado, e, na
impossibilidade, por falta da maturidade do genitor alienante, hão de
ser aplicadas as medidas trazidas nesta nova lei, para que pais, assim
como o meu assessor, não percam três anos de convívio com seu filho
ou, como meu irmão e meu sobrinho alienado, não se separem
definitivamente pelas tragédias da vida, deixando de conviver nos
últimos anos de suas vidas por conta de uma postura alienadora.
Acredito que, quando a alienação parental surge, não quer dizer
necessariamente que haja falta ou excesso de amor por parte do
genitor alienante em relação ao menor. É possível haver uma
alienação parental recíproca, em que ambos os genitores são
alienantes. Nos dois casos a maior vítima é o menor alienado.
A solução para a alienação parental é o amor... e quando os
genitores não conseguiam administrar suas frustrações e angústias,
permitindo o bloqueio da amplitude deste nobre sentimento, poucos
recursos cabiam ao Judiciário. A Lei 12.318/2010, que regulamenta a
alienação parental, agora apresenta importantes instrumentos para
mudar essa triste realidade, que parece não ter solução.
Mas não há que desistir, pois, como já cantava Raul, um sonho
que se sonha só, é só um sonho, mas o sonho que se sonha junto, é
realidade...
Portanto, eis uma legislação justa e boa que precisa ser divulgada,
e, sem dúvida, esta é (e será) a missão desta obra!

Boa leitura e seja feliz!

Douglas Phillips Fre itas


Florianópolis – Santa Catarina
www.douglasfreitas.adv.br
“Já tive a oportunidade de dizer que Douglas Phillips Freitas tem sido um
doutrinador pioneiro e corajoso, porquanto tem sido ele o primeiro a registrar
os elementares e consistentes escritos de um novo Direito de Família, pontuado
por essas mudanças que têm surgido em ciência tão dinâmica e carente de
mecanismos capazes de realizar os mais dignificantes relacionamentos
humanos, sustentados em uma família edificada no afeto e na afinidade, e não
mais exclusivamente nos vínculos consanguíneos. Dessa forma, o autor buscou o
valioso auxílio, na primeira edição, de Graciela Pellizzaro, e ambos produziram
essa bela peça doutrinária que enfrenta e explica a nova Lei 12.318/2010,
segundo a qual considera-se ato de alienação parental a interferência na
formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por
um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob
a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Como
dizem os autores, a alienação sempre existiu, contudo nós não a
identificávamos, e foi preciso que estudiosos nos mostrassem sua existência,
como doravante será necessário que profissionais nos mostrem sua
compreensão e extensão, ajudando nossos filhos e nossas sagradas relações
familiares. ”
Rolf Madaleno

“O brilhante professor Douglas Phillips Freitas, jovem jurista catarinense,


renomeado e conceituado no sul e que vem despontando no País como uma das
grandes autoridades em Direito de Família, neste livro, mais um entre tantas
obras já publicadas e de referência obrigatória, como Alimentos Gravídicos e
Guarda Compartilhada, trata do tormentoso tema da alienação parental. Na
doutrina, o assunto é denominado “síndrome da alienação parental”, em razão
dos sintomas psicológicos apresentados pelos filhos de pais em litígio, que
tentam (e muitas vezes conseguem) manipular a criança para repudiar e
hostilizar o outro genitor, causando grande sofrimento às partes envolvidas,
resultando na recente Lei 12.318/2010. O autor aborda em sua obra, com
maestria, de forma objetiva e didática, os registros históricos, conceitos e
sintomas da alienação parental, comenta fundamentadamente os artigos da
nova lei, orienta sobre a perícia interdisciplinar e os agentes do processo e trata
da guarda compartilhada e o exercício do poder familiar como forma de
redução da alienação parental. É um livro imprescindível para todos aqueles
que vivenciam o sensível Direito de Família. ”

Dimas Messias de Carvalho


O advogado e professor Douglas Phillips Freitas, presidente do
IBDFAM do Estado de Santa Catarina, lança mais uma obra sobre a
recente Lei da Alienação Parental (Lei 12.318, de agosto de 2010). A
primeira edição foi escrita em coautoria com a advogada Graciela
Pellizzaro, estudiosa da matéria naquele Estado.
Na linha dos seus outros estudos, o autor preocupou-se em abordar
as principais questões controvertidas relativas ao tema, contando com
o belo trabalho de pesquisa realizado por sua colaboradora. Teoria e
prática estão em simbiose, como muitos esperam nos livros jurídicos.
A obra está dividida em cinco partes. Na primeira, procurou-se
desvendar o conceito de alienação parental em uma visão
psicojurídica. Na segunda, foram comentados especificamente a nova
lei, levando em conta o texto sancionado, e os dispositivos que foram
vetados. A terceira parte enfoca a perícia multidisciplinar, trazendo
um conteúdo processual que muito interessa aos aplicadores do Direito
em geral. Ato contínuo, a sua quarta parte mergulha nas entrâncias das
formas de guarda, notadamente na estrutura da guarda compartilhada,
que, segundo os autores, pode contribuir para a diminuição efetiva da
incidência da alienação parental. O último capítulo do estudo – diga-se
de passagem, o mais interessante de todos – tem por objeto a
responsabilidade civil que surge em decorrência da alienação parental,
assunto dos mais destacados na atualidade do Direito de Família.
Por uma rápida passagem pela organização dos capítulos e pelo
conteúdo da obra, recomendo a sua leitura e o seu estudo, eis que a
problemática da alienação parental é das mais relevantes na
contemporaneidade jurídica. A obra merece elogios por não perder de
vista a visão multicultural do direito, o que muitas vezes é esquecido
pelos doutrinadores.

São Paulo, setembro de 2010

Flávio Tartuce
Doutor em Direito Civil e Graduado pela
Faculdade de Direito da USP.
Mestre em Direito Civil Comparado e Especialista
em Direito Contratual pela P UC-SP.
P rofessor e palestrante em cursos e seminários
jurídicos. Advogado e consultor jurídico
em São P aulo.
Capa
Frontispício
GEN
Página de rosto
Créditos
Dedicatória
Nota à 3.ª edição
Apresentação
Epígrafe
Prefácio
Lista de siglas
1 - Síndrome da alie nação pare ntal
1.1 O que é “ Síndrome de Alienação Parental”
1.1.1 Registros históricos
1.1.2 Conceito
1.1.3 Características (sintomas)
1.1.4 “ Gatilho” da alienação parental
1.2 O lado negro da alienação parental: cuidado aos operadores
2 - Come ntários à le i da alie nação pare ntal
2.1 Lei 12.318, de 26 de agosto de 2010
2.1.1 Texto sancionado
2.1.2 Texto vetado
2.2 Comentários
3 - Pe rícia multidisciplinar
3.1 Regras da perícia multidisciplinar
3.1.1 Da nomenclatura – perícia multidisciplinar
3.2 Auxiliares permanentes e eventuais
3.3 Da perícia judicial
3.3.1 Do perito e da perícia
3.4 Do procedimento
3.4.1 Da nomeação do perito
3.4.2 Dos honorários
3.4.3 Dos assistentes técnicos
3.4.4 Da inquirição pelo juiz, dos quesitos suplementares e da
nova perícia
3.4.5 Da publicidade
3.5 Anulação dos atos quando não há aplicação das regras da
perícia
3.6 A diferenciação dos instrumentais
3.7 Perícia multidisciplinar – um compromisso ético e social
3.8 Código de Ética do perito
3.9 Sigilo profissional e perícia
4 - Influê ncia da pe rícia multidisciplinar nas de cisõe s
judiciais
4.1 Da decisão judicial e seu fundamento
4.2 Da perícia multidisciplinar como fundamento
4.2.1 Decisões judiciais
4.2.2 Recursos
4.2.2.1 Agravo de instrumento
4.2.2.2 Apelação
5 - Pe rícia multidisciplinar nos casos de alie nação pare ntal
5.1 Convencimento do magistrado
5.2 Atuação do perito multidisciplinar: delimitação de campo
5.2.1 Perito social
5.2.2 Perito psicológico
5.2.3 Outros peritos
5.2.4 Quadro de perícias multidisciplinares em relação ao
objeto
6 - Guarda compartilhada como forma de re dução da
incidê ncia de síndrome de alie nação pare ntal
6.1 Poder familiar e seu exercício
6.1.1 Do pátrio poder
6.1.2 Do exercício do poder familiar
6.2 Da guarda e suas modalidades
6.2.1 Do “ mátrio poder”
6.2.2 Da guarda compartilhada (e sua diferença da alternada)
6.2.2.1 Guarda alternada como espécie da unilateral
6.2.2.2 Guarda alternada como espécie da
compartilhada
6.2.3 Da visita ao convívio
6.3 Da modificação da guarda quando há alienação parental
7 - Re sponsabilidade civil de corre nte da alie nação pare ntal
7.1 Abuso afetivo
7.1.1 A responsabilidade decorrente do poder familiar
7.1.1.1 Do “ abandono afetivo”: dano moral pelo
desamor
7.1.2 Do “ abuso afetivo”: dano moral decorrente de
alienação parental
7.2 Jurisprudência vinculada
8 - Tratame nto compulsório de pais
8.1 Da integral proteção da criança e do adolescente
8.2 Da prática de medidas alternativas
8.3 Da nomeação do perito
8.4 Experiência prática aplicada: relato
8.5 Modelo da ação de tratamento compulsório dos pais
9 - Me ntiras infantis
9.1 Um cuidado... não uma regra
9.2 Mentiras infantis
Epílogo
Mentiras infantis
A Mentira Infantil
Causas e formas de intervenção
T ipos de mentiras
Mentira utilitária
Mentira Compensatória
Mitomania
Conclusão
Re fe rê ncias bibliográficas
Ane xos
Considerações iniciais
I – Princípios norteadores na elaboração de documentos
1. Princípios técnicos da linguagem escrita
2. Princípios éticos e técnicos
2.1. Princípios Éticos
2.2. Princípios T écnicos
II – Modalidades de documentos
III – Conceito / Finalidade / Estrutura
1. Declaração
1.1. Conceito e finalidade da declaração
1.2. Estrutura da declaração
2. Atestado psicológico
2.1. Conceito e finalidade do atestado
2.2. Estrutura do atestado
3. Relatório psicológico
3.1. Conceito e finalidade do relatório ou laudo
psicológico
3.2. Estrutura
3.2.1. Identificação
3.2.2. Descrição da demanda
3.2.3. Procedimento
3.2.4. Análise
3.2.5. Conclusão
4. Parecer
4.1. Conceito e finalidade do parecer
4.2. Estrutura
4.2.1. Identificação
4.2.2. Exposição de Motivos
4.2.3. Análise
4.2.4. Conclusão
IV – Validade dos conteúdos dos documentos
V – Guarda dos documantos e condições de guarda
AP – Alienação Parental

APASE – Associação de Pais e Mães Separados

ART. – Artigo

CC/1916 – Código Civil de 1916

CC/2002 – Código Civil de 2002

Constituição da República Federativa


CF/1988 –
do Brasil de 1988

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

Instituto Brasileiro do Direito de


IBDFAM –
Família

LAP – Lei da Alienação Parental


LEI
– Lei 8.069, de 13.07.1990
8.069/1990

ONU – Organização das Nações Unidas

SAID – Alegações Sexuais no Divórcio

SAP – Síndrome de Alienação Parental

T JMG – T ribunal de Justiça de Minas Gerais

T ribunal de Justiça do Rio Grande do


T JRS –
Sul

T JSC – T ribunal de Justiça de Santa Catarina

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina


SÍNDROME DA ALIENAÇÃO
PARENTAL

1.1 O Q UE É “SÍNDRO ME DE ALIENAÇÃO PARENTAL”

1.1.1 Registros históricos


Um dos primeiros profissionais a identificar a Síndrome de
Alienação Parental (SAP) foi o professor especialista do
Departamento de Psiquiatria Infantil da Universidade de Columbia e
perito judicial, Richard Gardner, em 1985, que se interessou pelos
sintomas que as crianças desenvolviam nos divórcios litigiosos,
publicando um artigo sobre as tendências atuais em litígios de
divórcios e guarda.
Considerado um dos maiores especialistas mundiais nos temas de
separação e divórcio, Gardner observou que, na disputa judicial, os
genitores deixavam muito claro em suas ações que tinham como único
objetivo a luta incessante para ver o ex-cônjuge afastado dos filhos,
fazendo muitas vezes uma verdadeira lavagem cerebral na mente das
crianças.
Na esteira desse pioneiro trabalho, houve uma convergência de
trabalhos realizados por outros profissionais que, em suas pesquisas,
também identificaram tais sintomas, mas os nomearam de forma
diferente.
Blush e Ross, baseados em experiências profissionais também
como peritos em tribunais de família, traçaram um perfil dos pais
separados, observando que as falsas acusações de abuso sexual e
distanciamento de um dos genitores dos filhos também eram causas de
alienação, chegando a ser definida como Síndrome de SAID –
Alegações Sexuais no Divórcio, em que o genitor conta uma história
para a criança sobre ela ter sofrido um falso abuso sexual acusando o
outro genitor.
Nomenclatura paralela dada foi a de Síndrome da Mãe Maliciosa,
associada diretamente ao divórcio, quando a mãe impõe um castigo da
mulher contra o ex-marido, interferindo ou mesmo impedindo o
regime de visitas e acesso às crianças.
Outros estudiosos, a fim de aprofundar o tema, resumiram que,
além da Síndrome da Mãe Maliciosa, um dos ramos de estudo da
Síndrome da Alienação Parental está na Síndrome da Interferência
Grave, que é “ a postura do progenitor que se nega ao regime de
visitação ou acesso às crianças motivado por ressentimento pelo ex-
cônjuge, tal ressentimento pode ir desde a mágoa da separação ou pela
falta de pagamento de pensão alimentícia”.1
Alguns, ainda, a denominaram como Síndrome de Medeia, em que
os pais separados adotam a imagem dos filhos como a extensão deles
mesmos. É comum nestes casos estudados por especialistas que,
durante a investigação, venha a se descobrir que as crianças que se
recusavam a ter contato com um dos seus genitores sejam vítimas de
tais síndromes.
Alguns detalharam mais especificamente certos sintomas, mas
todos os autores, psiquiatras e psicólogos neste período apresentavam,
na verdade, definições diferentes para o que Gardner chamou de
Síndrome de Alienação Parental, em virtude de ter a mesma forma de
ação e a mesma reação psicológica nas crianças vitimizadas. Esse
neologismo foi o que “ vingou”, chegando esse termo ao Brasil por
meio de pesquisas de profissionais vinculados ao desenvolvimento
infantil e ao direito de família.
Assim como contribuiu grandemente para o projeto e divulgação
da Guarda Compartilhada, a Associação de Pais e Mães Separados
(Apase) repetiu o feito no projeto e processo legislativo da Lei da
Alienação Parental. Em texto obtido no site da Apase há o seguinte
relato:
“ Atualmente, como foi a Aids há 20 anos atrás, a Síndrome de Alienação
P arental (PAS/SAP ) é um mal não conhecido pela maioria daqueles que
trabalham na área de âmbito judicial de nosso país, e sobre a qual não existe
quase nenhuma informação disponível para os profissionais ‘ paralegais’ como
psicólogos sociais, médicos e assistentes sociais que devem participar do
trabalho envolvido. No entanto, este mal atinge milhares de crianças, todo ano,
e é responsável por um número desconhecido de patologias entre essas
crianças”.2

Ainda no cenário internacional, a explosão de pesquisas sobre a


Síndrome de Alienação Parental formou uma consciência social nos
Estados Unidos, entre outros Estados norte-americanos, que passaram
a reconhecer, em seus tribunais, os danos psicológicos causados aos
filhos por meio da Síndrome de Alienação Parental. Nos Estados da
Califórnia e da Pensilvânia, em seu regramento punitivo, há a
advertência de que, se o possuidor da guarda legal da criança impede,
com a intenção maliciosa, o outro genitor de exercer o direito de
visita é castigado com prisão máxima de um ano e multa, além de
penas alternativas (entre outras restritivas de direito, como suspensão
ou supressão da carteira de motorista). No Estado do Texas, o genitor
alienador, por ter provocado intencionalmente o desequilíbrio
emocional da criança e por ter procedido de maneira imprudente,
pode ser inquirido pelo tribunal, como punição mais severa que nos
anteriormente citados.
Na Europa, no país da Espanha mais precisamente, diversos
julgados mencionam a Síndrome de Alienação Parental como forma
direta de agressão psicológica às crianças nos casos de divórcio,
entretanto está apenas começando a considerar como um problema
grave, diferente do México, que incluiu na última reforma do Código
Civil dispositivos sobre a Síndrome da Alienação Parental.
Em 2002, em Frankfurt na Alemanha, foi realizada a Conferência
Internacional sobre a Síndrome de Alienação Parental, reunindo
profissionais de diversas áreas, entre eles psicólogos, psicoterapeutas,
psiquiatras infantis, juízes, peritos, assistentes sociais, pedagogos,
médicos generalistas e psiquiatras, destacando a presença de pais e
filhos que sofreram a alienação.
Já no Brasil, a divulgação da Síndrome de Alienação Parental
passou a ter maior atenção do Poder Judiciário por volta de 2003,
quando surgiram as primeiras decisões reconhecendo este fenômeno,
infelizmente muito mais antigo nas lides familistas. Esta percepção
começou a tomar corpo por conta da maior participação das equipes
interdisciplinares nos processos familistas e por conta de pesquisas e
divulgações realizadas por institutos como a APASE – Associação dos
Pais e Mães Separados, IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de
Família, entre outros. Não tardou para que o resultado desse e de
outros trabalhos e pesquisas fossem difundidos entre os demais
profissionais atuantes no Direito de Família e nas áreas
interdisciplinares correlatas.

1.1.2 Conceito
O conceito legal da Síndrome de Alienação Parental é disposto no
art. 2.º da Lei 12.318, de 2010, no qual é definido:
“ Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua
autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo
ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”.
T rata-se de um transtorno psicológico caracterizado por um
conjunto sintomático pelo qual um genitor, denominado cônjuge
alienador, modifica a consciência de seu filho, por meio de estratégias
de atuação e malícia (mesmo que inconscientemente), com o objetivo
de impedir, obstaculizar ou destruir seus vínculos com o outro genitor,
denominado cônjuge alienado. Geralmente, não há motivos reais que
justifiquem essa condição. É uma programação sistemática promovida
pelo alienador para que a criança odeie, despreze ou tema o genitor
alienado, sem justificativa real.
A jurista e vice-presidente do IBDFAM Nacional, e uma das
maiores estudiosas do tema, Maria Berenice Dias, leciona que a
Síndrome de Alienação Parental pode ser chamada de implantação de
falsas memórias, pois o alienador passa a incutir no filho falsas ideias
sobre o outro genitor, implantando por definitivo as falsas memórias.3

1.1.3 Características (sintomas)


A Lei da Alienação Parental exemplifica alguns sintomas da
síndrome:
“ Art. 2.º [...] P arágrafo único. São formas exemplificativas de alienação
parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia,
praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: I – realizar campanha de
desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou
maternidade; II – dificultar o exercício da autoridade parental; III – dificultar
contato de criança ou adolescente com genitor; IV – dificultar o exercício do
direito regulamentado de convivência familiar; V – omitir deliberadamente a
genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente,
inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI – apresentar falsa
denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou
dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII – mudar o
domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste
ou com avós”.

A conduta do alienador, por vezes, é intencional, mas muitas


vezes sequer é por ele percebida (visto que se trata de uma má
interpretação e direcionamento equivocado das frustrações
decorrentes do rompimento afetivo com o outro genitor – alienado –,
entre outras causas associadas).
Esta conduta, intencional ou não, desencadeia uma campanha de
modificação nas emoções do alienador e da criança, na sequência, que
faz esta produzir um sistema de cumplicidade e compreensão da
conduta do alienante, ora justificando, ora praticando (a criança) atos
que visam a aprovação do alienante que joga e chantageia
sentimentalmente o menor, com expressões do tipo: “ você não quer
ver a mãe triste, né?”, entre outras.
Em todas as fases do processo alienante, temos vários fatores que
podem predispor à Síndrome de Alienação Parental, como é o caso da
relação que o genitor tem com a criança. O alienador trata de fazer
com que ela seja seu psicólogo particular, desabafando e lamentando as
decepções da sua vida, cujas consequências são trágicas para a criança,
que começa desde ir mal na escola até a agredir outras pessoas sem
motivos aparentes.4
Segundo Andréia Calçada, o genitor alienador é tido como um
produto do sistema ilusório, onde todo seu ver se orienta para a
destruição da relação dos filhos com o outro genitor. Em sua deturpada
visão, o controle total dos seus filhos é uma questão de vida ou morte.
O genitor alienador não é capaz de individualizar, de reconhecer em
seus filhos seres humanos separados de si. Muitas vezes, é um
sociopata, sem consciência moral. É incapaz de ver a situação de
outro ângulo que não o seu, especialmente sob o ângulo dos filhos.
Não distingue a diferença entre dizer a verdade e mentir.5
Assim como a bondade e a criatividade, a torpeza humana não
possui limites conhecidos. Portanto, todos os exemplos aqui trazidos
são amostras do que realmente ocorre ou que poderá ocorrer como
elementos identificadores da Alienação Parental.
Maria Pisano Motta apresenta outros exemplos de Alienação
Parental:
“ É a recusa de passar as chamadas telefônicas; a passar a programação de
atividades com o filho para que o outro genitor não exerça o seu direito de
visita; apresentação do novo cônjuge ao filho como seu novo pai ou mãe;
denegrir a imagem do outro genitor; não prestar informações ao outro genitor
acerca do desenvolvimento social do filho; envolver pessoas próximas na
lavagem cerebral dos filhos; tomar decisões importantes a respeito dos filhos
sem consultar o outro genitor; sair de férias sem os filhos e deixá-los com outras
pessoas que não o outro genitor, ainda que este esteja disponível e queira
cuidar do filho; ameaçar o filho para que não se comunique com o outro
genitor”.6

Em processo no qual tivemos o prazer de acompanhar a atuação


do psicólogo Evandro Luiz da Silva,7 de Santa Catarina, um dos
maiores especialistas no assunto, ao exercer cargo de assistente
técnico, além de rechaçar a perícia judicial realizada (que não fora
feita por psicólogo especializado em casos de Alienação Parental, o
que a Lei da Alienação Parental agora proíbe em seu art. 5.º),
promoveu análise da conduta da genitora alienadora, dando parecer
extremamente didático que coaduna com o atual texto da novel
legislação, em específico com o rol de indícios da prática elencado no
art. 2.º. É trecho do parecer (em que omito os nomes e número do
processo):
“ Os sintomas que XXX [filho das partes] apresenta são de uma criança
abusada psicologicamente, que visivelmente sofre a síndrome da alienação
parental. O discurso da mãe é de uma mãe alienante”.
“ O discurso da XXX [genitora alienante] é carregado de rancor e sem
sustentação, denunciando sempre que o conflito é dela com XXX [genitor
alienado], porém, coloca o filho no meio.”
“ Outra característica do alienante é retardar os estudos sociais e a perícia. A
perícia foi determinada, porém a XXX [genitora alienante] não depositou os
honorários, e como relatou a Sra. P erita, foram alguns telefonemas, pedidos para
parcelamentos etc. Após parcelar em oito vezes, a XXX [Genitora alienante]
ainda não o depositou. Após o XXX [genitor alienado] solicitar a Juíza para que
ele fizesse o depósito e após fazê-lo, a XXX [Genitora alienante] também o faz e
em seguida pede a P erita para devolvê-lo. Decorreu cerca de seis meses da
nomeação da P erita e do início das sessões.”
“ Igualmente, característica do alienante é interromper a perícia, quando há a
possibilidade de recuperar vínculos com pai e filho. Assim procedeu a XXX
[Genitora alienante]. Após a primeira sessão do XXX [menor] com o pai,
suspende a segunda sessão. O XXX [menor] está desenvolvendo a Síndrome da
Alienação Parental”.
A falta de autocrítica e percepção do sofrimento alheio, bem
como a conduta sinuosa são elementos próprios da sociopatia
presente de forma muito clara na Alienação Parental.
Complementa a autora8 que:
“ O sentimento do genitor alienador geralmente é de alegria sobre o
derrotado genitor alienado, sem o sentimento de culpa pelo que causou, nem
mesmo de dor por ter colocado o filho em uma situação emocionalmente difícil”.

O genitor alienador, com o passar do tempo, pode se apresentar


com uma personalidade agressiva, bem diferente do genitor alienado,
que geralmente não tem um padrão hostil. Entretanto, o alienado
pode vir a perder o controle como consequência da dor causada pela
campanha difamatória e pelo afastamento dos filhos, causando
frustração compreensível (mas que é utilizada pelo alienador como
justificativa de seus atos de alienação, e não como consequência).
Quando sua campanha denegritória não surte o efeito desejado nas
crianças, o genitor alienador fica extremamente triste e inconsolável,
uma vez que houve uma convicção de vingança e um doutrinamento
para que as crianças passassem a odiar o outro genitor.
Aguilar Cuenca,9 ao estudar o perfil do genitor alienador, conclui
que este geralmente demonstra uma grande impulsividade e baixa
autoestima, medo de abandono repetitivo, esperando sempre que os
filhos estejam dispostos a satisfazer as suas necessidades, variando as
expressões em exaltação e cruel ataque. Esta fase é a mais grave.
O genitor alienador pode até desinteressar-se pelo filho e fazer da
luta pela guarda apenas um instrumento de poder e controle, e não um
desejo de afeto e cuidado.
Infelizmente, “ os filhos são cruelmente penalizados pela
imaturidade dos pais quando estes não sabem separar a morte conjugal
da vida parental, atrelando o modo de viver dos filhos ao tipo de
relação que eles, pais, conseguirão estabelecer entre si, pós-ruptura”.10

1.1.4 “Gatilho” da alienação parental


A prática da alienação parental comumente está associada a uma
modificação do status quo familiar, quer pelo casamento do genitor,
uma nova namorada ou namorado, o ingresso de ação revisional de
alimentos ou o período de convivência.
Enfim, a modificação da situação em que se encontra o contexto
familiar geralmente está associada ao início da prática da alienação
parental ou a sua realização em um nível diferente do que vinha
comumente se realizando.
Este dito “ gatilho” é a forma mais aparente para a configuração
da falsa denúncia, por exemplo.

1.2 O LADO NEGRO DA ALIENAÇÃO PARENTAL: CUIDADO


AO S O PERADO RES
A Lei da Alienação Parental segue a linha adotada pela recente
produção jurídica familista, que é a do reconhecimento da inabilidade
dos operadores jurídicos em tratar todas as questões correlatas ao
direito de família. Logo, a presença e atuação da equipe
multidisciplinar torna-se cada vez mais salutar e imprescindível para a
formação do convencimento do juiz e a resolução do litígio.
Com o advento da Lei da Alienação Parental, contudo, iniciou-se
uma espécie de “ caça às bruxas” às ditas, em geral, “ mães
alienadores”, tornando quase todos os pedidos de redução, suspensão
ou adequação de direito de convivência como ato de alienação
parental.
Ocorre que pais ou mães que não exercem a guarda de seus filhos,
muitas vezes, sequer exercem seus direitos de convivência, e, por
motivos que só a própria pessoa conhece, talvez um novo
relacionamento, uma nova filiação ou um reencontro pessoal, tais
pais ou mães passam a querer conviver com seus filhos há muito
“ abandonados”.
Nessa situação rotineira, quando levada ao judiciário, há, em favor
de tais genitores, a fixação liminar, geralmente inaudita altera parte,
do regime de visitas ou, quando já fixado, às vezes, ocorre a obtenção
de uma liminar de busca e apreensão para cumpri-lo.
Em ambas as situações, muitas das vezes, o menor vê este genitor
como um “ estranho” e, sob a acusação de alienação parental, o
genitor guardião fica com o encargo de provar que não realiza tal
prática.
A estranheza, a frieza e até a apatia do relacionamento entre
genitor e filho, em casos assim, são frutos, quase que exclusivamente
por culpa daquele que não exercitou ao longo de anos, e até décadas, o
direito de convivência com seu filho.
Não há dúvidas de que o passado não pode ser óbice para a
modificação do presente ou do futuro, porém há que se compreender
que as agruras dos tempos idos refletem na produção afetiva do hoje.
Nestes casos, não há alienação parental, há ausência paterna ou
materna, o próprio genitor ausente alienou-se, sendo vítima de sua
própria conduta, motivo pelo qual se torna justificável a postura do
guardião em querer revogar, restringir ou modificar a liminar
concedida, quer de regulamentação de visitas, quer de busca e
apreensão, e, repise-se, tais atos não constituem alienação parental.
Outrossim, a linha entre a prática da alienação parental e o zelo
de um guardião na tentativa de minorar o dano ao menor que se vê
obrigado a conviver com um “ estranho” é tênue, embora seja seu pai
ou mãe e não deixe de ser uma pessoa diferente em sua rotina, e possa
causar, dessa forma, restrições.
Por isso, e, também, para FIXAR a forma de RECONCILIAÇÃO
FAMILIAR, progressiva, talvez acompanhada, há que ser ponderada e
orientada por aquele que tem o estudo, a experiência, enfim, a perícia
necessária para tanto: o psicólogo e os demais membros da equipe
multidisciplinar disponibilizada ao juízo.
A Lei da Alienação Parental é um dos maiores avanços jurídicos
familistas recentes, porém tem sido utilizada, por vezes, para
prejudicar genitores que não praticam a alienação, mas querem que a
reconciliação com pais e mães que se autoalienaram seja de forma não
danosa aos filhos.
Esta advertência há que pairar sobre todos os operadores
envolvidos nas lides familistas, para que excessos não sejam cometidos
e interpretações equivocadas não gerem os danos que a Lei da
Alienação Parental pretende evitar.

CUENCA, José Manuel Aguilar. Síndrome de alienação parental. P ortugal:


Almuzara, 2008. p. 35.
CUENCA, José Manuel Aguilar. Síndrome de alienação parental: o uso das crianças
no processo de separação. Lex Nova, 2005. Disponível em:
<http://www.apase.org.br/94012-josemanuel.htm>. Acesso em: 18 set. 2008.
Manual de direito das famílias. 4. ed. São P aulo: RT, 2007. p. 409.
CARNEIRO, Terezinha Féres, Alienação parental: uma leitura psicológica. In:
APASE – Associação de P ais e Mães Separados (Org.). Síndrome da alienação
parental e a tirania do guardião: aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. P orto
Alegre: Equilíbrio, 2007. p. 75.
Falsas acusações de abuso sexual e a implantação de falsas memórias. São P aulo:
Equilíbrio, 2008. p. 32.
A síndrome da alienação parental. In: APASE – Associação de P ais e Mães
Separados (Org.). Síndrome da alienação parental e a tirania do guardião:
aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. P orto Alegre: Equilíbrio, 2007. p. 44.
Mestre em P sicologia pela UFSC. Autor de diversas obras, como: Perícias
Psicológicas nas Varas de Família. Disponível em <www.formapsi.com>.
Idem, ibidem.
CUENCA, José Manoel Aguilar. Síndrome de alienação parental. P ortugal:
Almuzara, 2008. p. 93.
SOUZA, Raquel P acheco Ribeiro de. A tirania do guardião. In: APASE – Associação
de P ais e Mães Separados (Org.). Síndrome da alienação parental e a tirania do
guardião: aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. P orto Alegre: Equilíbrio,
2007. p. 7.
COMENTÁRIOS À LEI
DA ALIENAÇÃO PARENTAL

2.1 LEI 12.318, DE 26 DE AGO STO DE 2010

2.1.1 Texto sancionado

LEI N. 1 2 .3 1 8 , DE 2 6 DE A GOSTO DE 2 0 1 0

Dispõe sobre a alienação parental e altera o


art. 236 da Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990.
A rt. 1 .º Esta Lei dispõe sobre a alienação parental.
A rt. 2 .º Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica
da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou
pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para
que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos
com este.
Parágrafo únic o. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos
assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio
de terceiros:
I – realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da
paternidade ou maternidade;
II – dificultar o exercício da autoridade parental;
III – dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV – dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V – omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou
adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós,
para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;
VII – mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.
A rt. 3 .º A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou
do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações
com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e
descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou
guarda.
A rt. 4 .º Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício,
em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá
tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as
medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do
adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva
reaproximação entre ambos, se for o caso.
Parágrafo únic o. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor garantia
mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em que há iminente risco de prejuízo à
integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado por profissional
eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das visitas.
A rt. 5 .º Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma
ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial.
§ 1 .º O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial,
conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de
documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de
incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou
adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor.
§ 2 .º A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados,
exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para
diagnosticar atos de alienação parental.
§ 3 .º O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de
alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável
exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada.
A rt. 6 .º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que
dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou
incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente
responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a
inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I – declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II – ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III – estipular multa ao alienador;
IV – determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V – determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
VI – determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
VII – declarar a suspensão da autoridade parental.
Parágrafo únic o. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou
obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou
retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos
períodos de convivência familiar.
A rt. 7 .º A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que
viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em
que seja inviável a guarda compartilhada.
A rt. 8 .º A alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a
determinação da competência relacionada às ações fundadas em direito de convivência
familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores ou de decisão judicial.
A rt. 9 .º (Vetado.)
A rt. 1 0 . (Vetado.)
A rt. 1 1 . Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 26 de agosto de 2010; 189.º da Independência e 122.º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto
Paulo de Tarso Vannuchi
* Diário Oficial de 27.08.2010

2.1.2 Texto vetado


Apresentamos os artigos vetados do projeto que culminou na Lei
da Alienação Parental e o respectivo fundamento do veto, obtido por
meio da mensagem ao Senado abaixo transcrita:

Presidênc ia da Repúblic a

Casa Civil

Subc hefia para A ssuntos Jurídic os

MENSA GEM N.º 5 1 3 , DE 2 6 DE A GOSTO DE 2 0 1 0

Senhor Presidente do Senado Federal,


Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do § 1.º do art. 66 da Constituição, decidi
vetar parcialmente, por contrariedade ao interesse público, o Projeto de Lei n.º 20, de 2010
(n.º 4.053/08 na Câmara dos Deputados), que “Dispõe sobre a alienação parental e altera o art.
236 da Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990”.
Ouvido, o Ministério da Justiça manifestou-se pelo veto aos seguintes dispositivos:

A rt. 9 .º
“Art. 9.º As partes, por iniciativa própria ou sugestão do juiz, do Ministério Público ou do
Conselho Tutelar, poderão utilizar-se do procedimento da mediação para a solução do litígio,
antes ou no curso do processo judicial.
§ 1.º O acordo que estabelecer a mediação indicará o prazo de eventual suspensão do
processo e o correspondente regime provisório para regular as questões controvertidas, o qual
não vinculará eventual decisão judicial superveniente.
§ 2.º O mediador será livremente escolhido pelas partes, mas o juízo competente, o
Ministério Público e o Conselho Tutelar formarão cadastros de mediadores habilitados a
examinar questões relacionadas à alienação parental.
§ 3.º O termo que ajustar o procedimento de mediação ou o que dele resultar deverá ser
submetido ao exame do Ministério Público e à homologação judicial.”

Razões do veto
“O direito da criança e do adolescente à convivência familiar é indisponível, nos termos
do art. 227 da Constituição Federal, não cabendo sua apreciação por mecanismos
extrajudiciais de solução de conflitos.
Ademais, o dispositivo contraria a Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990, que prevê a
aplicação do princípio da intervenção mínima, segundo o qual eventual medida para a
proteção da criança e do adolescente deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e
instituições cuja ação seja indispensável.”

A rt. 1 0
“Art. 10. O art. 236 da Seção II do Capítulo I do Título VII da Lei n.º 8.069, de 13 de julho
de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, passa a vigorar acrescido do seguinte
parágrafo único:
‘Art. 236. ...............................................................................
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem apresenta relato falso ao agente indicado
no caput ou à autoridade policial cujo teor possa ensejar restrição à convivência de criança ou
adolescente com genitor.’ (NR)”

Razões do veto
“O Estatuto da Criança e do Adolescente já contempla mecanismos de punição
suficientes para inibir os efeitos da alienação parental, como a inversão da guarda, multa e até
mesmo a suspensão da autoridade parental. Assim, não se mostra necessária a inclusão de
sanção de natureza penal, cujos efeitos poderão ser prejudiciais à criança ou ao adolescente,
detentores dos direitos que se pretende assegurar com o projeto.”

Essas, Senhor Presidente, as razões que me levaram a vetar os dispositivos acima


mencionados do projeto em causa, as quais ora submeto à elevada apreciação dos Senhores
Membros do Congresso Nacional.

2.2 CO MENTÁRIO S
Apresentamos, a seguir, nossos comentários aos artigos em vigor
da referida lei:

A rt. 1 .º Esta Lei dispõe sobre a alienação parental.

Embora haja a máxima de que a legislação não promove mudança


de comportamento, há de destacar que, historicamente, leis que
instituíram a obrigatoriedade do cinto de segurança, ou majoraram a
punição para o consumo de álcool antes de dirigir, tiveram profundo
impacto social.
O Brasil, embora seja uma das maiores economias do mundo,
encontra-se entre os piores em desenvolvimento humano, que leva
em conta vários fatores para esta colocação: grau de instrução,
diferenças econômico-sociais, entre outras.
Com estas características, a população brasileira torna-se muito
sujeita, principalmente em razão do recente histórico de anos de
ditadura militar, ao paternalismo estatal.
Assim como ocorreu com a Lei da Guarda Compartilhada, em que,
na verdade, apenas houve um resgate do conceito originário de Poder
Familiar, a fim de romper com os vícios decorrentes da má
interpretação da Guarda Unilateral, mas que surtiu imenso efeito nas
relações paterno​- filiais, acreditamos que a Lei da Alienação Parental,
além de oficialmente assinalar à população em geral, inclusive aos
operadores, a existência desta síndrome e formas de combatê-la,
também promoverá grande impacto jurídico-cultural.
Mesmo já havendo instrumentos jurídicos para a coibição ou
minoração da alienação parental, uma lei específica desta natureza é
muito salutar.

A rt. 2 .º Considera-se ato de alienação parental a


interferência na formação psicológica da criança ou do
adolescente promovida ou induzida por um dos genitores,
pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob
a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie
genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à
manutenção de vínculos com este.

O rol do art. 2.º da Lei de Alienação Parental é exemplificativo,


tanto o conceito como as hipóteses e os sujeitos que podem incorrer
na prática de alienação, não se restringindo apenas aos genitores, mas
levando a vedação de tal prática a tios, avós, padrinhos, tutores,
enfim, todos os que possam se valer de sua autoridade parental ou
afetiva com o intuito de prejudicar um dos genitores.
O caminho contrário também pode ocorrer, em que os avós, tios
e demais parentes sofram a alienação parental praticada por genitores
e esta lei também os protegerá, afinal, o direito pleno de convivência
reconhecido a estes parentes pela doutrina e jurisprudência, também o
é por recente alteração legislativa, ora Lei 12.398, de 28 de março de
2011, que alterou os arts. 1.589 do Código Civil e 888 do Código de
Processo Civil.
Nesta mesma linha manifesta-se a lei de combate à Alienação
Parental, ao dispor que é forma exemplificativa da alienação parental:
“ VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiare s
de ste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivê ncia
de le s com a criança ou adolescente” (vide art. 2.º).
Como já dissemos acima, mas vale repetir, trata-se de um
transtorno psicológico caracterizado por um conjunto sintomático
pelo qual um genitor, denominado cônjuge alienador, modifica a
consciência de seu filho, por meio de estratégias de atuação e malícia
(mesmo que inconscientemente), com o objetivo de impedir,
obstaculizar ou destruir seus vínculos com o outro genitor,
denominado cônjuge alienado. Geralmente não há motivos reais que
justifiquem essa condição. É uma programação sistemática promovida
pelo alienador para que a criança odeie, despreze ou tema o genitor
alienado, sem justificativa real.

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação


parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou
constatados por perícia, praticados diretamente ou com
auxílio de terceiros:
I – realizar campanha de desqualificação da conduta do
genitor no exercício da paternidade ou maternidade;
II – dificultar o exercício da autoridade parental;
III – dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV – dificultar o exercício do direito regulamentado de
convivência familiar;
V – omitir deliberadamente a genitor informações pessoais
relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares,
médicas e alterações de endereço;
VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares
deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência
deles com a criança ou adolescente;
VII – mudar o domicílio para local distante, sem justificativa,
visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente
com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

A conduta do alienador, por vezes, é intencional, mas muitas


vezes sequer é por ele percebida (visto que se trata de uma má
interpretação e direcionamento equivocado das frustrações
decorrentes do rompimento afetivo com o outro genitor – alienado,
entre outras causas associadas).
Essa conduta, intencional ou não, desencadeia uma campanha de
modificação nas emoções do alienador e da criança, na sequência, que
a faz produzir um sistema de cumplicidade e compreensão da conduta
do alienante,ora justificando, ora praticando (a criança) atos que
visam a aprovação do alienante, que joga e chantageia
sentimentalmente o menor, com expressões do tipo: “ você não quer
ver a mãe triste, né?”, entre outras.
Como o próprio texto do parágrafo único do art. 2.º da Lei da
Alienação Parental informa, são alguns exemplos de elementos que a
identificam. Veja outros exemplos de Alienação Parental, fornecidos
por Maria Pisano Mota no item 1.1.13.

A rt. 3 .º A prática de ato de alienação parental fere direito


fundamental da criança ou do adolescente de convivência
familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações
com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral
contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos
deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de
tutela ou guarda.
O art. 3.º da Lei da Alienação Parental subsidia a conduta ilícita (e
abusiva) por parte do alienante, que justifica a propositura de ação por
danos morais contra ele, além de outras medidas de cunho
ressarcitório ou inibitório por (e de) tais condutas.
Aguilar Cuenca,11 ao estudar o perfil do genitor alienador, conclui
que este geralmente demonstra uma grande impulsividade e baixa
autoestima, medo de abandono repetitivo, esperando sempre que os
filhos estejam dispostos a satisfazer as suas necessidades, variando as
expressões em exaltação e cruel ataque; esta fase é a mais grave.
O genitor alienador pode até desinteressar-se pelo filho e fazer da
luta pela guarda apenas um instrumento de poder e controle, e não um
desejo de afeto e cuidado.
Infelizmente, “ os filhos são cruelmente penalizados pela
imaturidade dos pais quando estes não sabem separar a morte conjugal
da vida parental, atrelando o modo de viver dos filhos ao tipo de
relação que eles, pais, conseguirão estabelecer entre si, pós-ruptura”.12
Os danos irreparáveis decorrentes da conduta alienatória só
podem ser minorados com a sua identificação e tratamento, muitas
vezes psicológico, não só do menor, como do alienante e do genitor
alienado.
A presente lei, neste sentido traz, inclusive, esta previsão,
ratificando práticas já correntes no judiciário por força do art. 3.º do
ECA,13 entre outras normas deste e de outros diplomas.
Sobre o abuso moral, consulte o Capítulo 7.

A rt. 4 .º Declarado indício de ato de alienação parental, a


requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual,
em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá
tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência,
ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias
necessárias para preservação da integridade psicológica da
criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua
convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação
entre ambos, se for o caso.
Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao
genitor garantia mínima de visitação assistida, ressalvados os
casos em que há iminente risco de prejuízo à integridade
física ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado
por profissional eventualmente designado pelo juiz para
acompanhamento das visitas.

O legislador previu, no art. 4.º, que partes, magistrado ou


representante do Ministério Público, ao identificarem a prática da
alienação, devem não só conferir tramitação prioritária ao processo,
como promover medidas assecuratórias dos direitos do menor e em
defesa do genitor alienado.
Ocorre que geralmente tais indícios de alienação parental são
apresentados somente após a descoberta de que denúncias graves,
como abuso sexual, por exemplo, eram fraudulentas.
Quando tais acusações são narradas, por exemplo, em ações de
redução ou de suspensão de período de convivência ou modificação de
guarda, o magistrado, ainda que desconfie da sua veracidade, deve
prezar pelo melhor interesse do menor, devendo dar a tutela
necessária para evitar majoração do dano ante a possível veracidade
da acusação. Outrossim, salvo raros casos, não se justifica a cessação
total do contato com o genitor acusado, devendo, por exemplo,
manter períodos de convivência vigiados até a conclusão da
investigação.
Infelizmente, grande parte destas acusações não são verdadeiras,
mas tal percentual não justifica falta de cautela ou seu exagero.
O texto do art. 4.º da Lei da Alienação Parental é muito salutar
nesse contexto, pois sugere que haja a mantença do convívio com o
genitor acusado (possivelmente alienado) até que se verifique a
veracidade da acusação. Para isso, poderá fixar período de convivência
assistido ou restringir o convívio a locais públicos, como shoppings e
praças.
Enfim, deve ser ultima ratio a separação total entre o acusado e o
menor, sempre buscando soluções que mantenham, mesmo que vigiada
ou diminuída, a convivência entre ambos.
Nota-se, no parágrafo único do art. 4.º da Lei de Alienação
Parental, que a suspensão de visitas ou modificação de guarda inaudita
altera parte torna-se inviabilizada, salvo conjunto probatório muito
robusto, pois o legislador vinculou tais medidas excepcionais somente
após a instrução processual (realização de perícia), devendo, enquanto
pairar a dúvida, manter o contato, porém, como dito, assistido ou
vigiado.

A rt. 5 .º Havendo indício da prática de ato de alienação


parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz, se
necessário, determinará perícia psicológica ou
biopsicossocial.
§ 1.º O laudo pericial terá base em ampla avaliação
psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso,
compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes,
exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento
do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação
da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a
criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual
acusação contra genitor.
§ 2.º A perícia será realizada por profissional ou equipe
multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso,
aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico
para diagnosticar atos de alienação parental.
§ 3.º O perito ou equipe multidisciplinar designada para
verificar a ocorrência de alienação parental terá prazo de 90
(noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável
exclusivamente por autorização judicial baseada em
justificativa circunstanciada.

A lei prevê a possibilidade de uma ação ordinária autônoma para


identificação de ocorrência de Alienação Parental.
Permite também que, no curso das ações de divórcio,
regulamentação de visitas ou modificação de guarda, venha a se
requerer a averiguação de prática de alienação parental.
Antes do advento da lei, tais situações já eram permitidas ante a
possibilidade de realização de todas as provas admitidas em direito,
incluindo perícia social, psicológica, entre outras de natureza
interdisciplinar.
A grande novidade está na utilização correta da terminologia
“ perícia” para a atuação dos profissionais interdisciplinares nas lides
familistas, que atuavam como assistentes, pareceristas, sem que
fossem sujeitados às regras da perícia, como preceitua a lei processual
vigente.
A atuação da equipe inter e multidisciplinar será mais bem tratada
no próximo capítulo. Adianta-se que tal atuação de profissional
especializado, de confiança do juiz, é de área que foge ao seu
conhecimento, como relações sociais, psicológicas, médicas, entre
outras, logo, por interpretação lógica, trata-se de perícia, sujeitando,
assim, a atuação destes profissionais às regras da perícia trazidas no
CPC, sob pena de nulidade.14
Neste sentido:
“ Determinação de estudo social para definição de guarda. P leito de perícia
social com a indicação de assistentes. Recurso provido. Apenas a perícia
permite aliar o conhecimento técnico às garantias processuais, entre elas o
contraditório” (TJSC, AI 02025189-0, Orli Rodrigues, j. 24.08.2004).
“ P rova. P erícia. Estudos técnicos de caráter social e psicológicos.
Trabalhos realizados por assistente social e psicóloga do juízo. Operações
sujeitas ao regime das perícias” (TJSP, AI 222788-4/9, Theodoro Guimarães).

Quanto à legitimidade para requerer a perícia multidisciplinar,


informa a lei que cabe ao juiz, de ofício ou sob pedido do Ministério
Público. Outrossim, em casos de litígio, as partes poderão se valer
desse pedido para produção probatória, como regra a presente lei, sob
pena de prejuízo a direitos básicos previstos na Carta Magna e Código
de Processo Civil, como contraditório, ampla defesa e devido
processo legal.15
“ A perícia multidisciplinar consiste na designação genérica das perícias
que poderão ser realizadas em conjunto ou separadamente em determinada ação
judicial. É composta por perícias sociais, psicológicas, médicas, entre outras
que se fizerem necessárias para o subsídio e certeza da decisão judicial”.

Consulte os Capítulos 3 e 5, para maiores detalhes sobre a perícia


multidisciplinar.

A rt. 6 .º Caracterizados atos típicos de alienação parental


ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou
adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o
juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da
decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla
utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou
atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:

No art. 3.º da Lei da Alienação Parental, o legislador cria a figura


jurídica do Abuso Moral, mas que consiste em tipo de dano moral
decorrente de alienação parental, podendo também ser chamado de
abuso afetivo, para dar maior vinculação ao tema.
Note que o legislador, de forma didática, informou que a
Alienação Parental “ fere direito fundamental da criança ou do
adolescente” (art. 3.º), logo, constituindo ato ilícito que gera o dever
de indenizar. No art. 6.º da mesma lei, complementa que todas as
medidas descritas nela não excluem a “ responsabilidade civil”.
Não há dúvidas de que a Alienação Parental gera dano moral,
tanto ao menor quanto ao genitor alienado, sendo, ambos, titulares
deste direito.
Destarte, no tocante às questões indenizatórias, o Estatuto da
Criança e do Adolescente já informava a obrigatoriedade da integral
proteção 16 aqui ratificada na Lei da Alienação Parental como um de
seus escopos, permitindo que se tomem todas as medidas necessárias
para tanto.
Assim, os incisos do art. 6.º da Lei da Alienação Parental são
numerus apertus, ou seja, trata-se de um rol exemplificativo de
medidas, não esgotando, de forma alguma, outras que permitam o fim
ou a diminuição dos efeitos da Alienação Parental, como aduz o
próprio caput do artigo: “ [...] e da ampla utilização de instrumentos
processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade
do caso”.
Sobre a responsabilidade civil, consulte o Capítulo 7.

I – declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o


alienador;

O legislador permitiu que partes, magistrado ou representante do


Ministério Público, no art. 4.º da Lei da Alienação Parental, ao
identificarem a prática da alienação, confiram preferência de
tramitação ao processo como medida assecuratória dos direitos do
menor e em defesa do genitor alienado.
Assim, o inciso I do art. 6.º é o passo inicial na realização de todas
as outras medidas para encerrar ou minorar a prática da alienação
parental. Não há, porém, qualquer óbice de que paralelamente à
advertência haja a determinação dos demais instrumentais descritos
nos outros incisos do art. 6.º, bem como outras medidas que forem
necessárias, dependendo sempre da oportunidade e eficácia da medida
aplicada ao caso.

II – ampliar o regime de convivência familiar em favor do


genitor alienado;

A Lei da Alienação Parental claramente pugna pela prática da


Guarda Compartilhada como solução para, pelo menos, diminuir os
efeitos da alienação, porém, independentemente de modificação da
modalidade de guarda, o período de convivência (terminologia
adequada, deixando de ser “ visita”) 17 há de ser fixado e ampliado em
favor do genitor alienado, nos termos do inciso II do art. 6.º da Lei da
Alienação Parental, a fim de que o menor não estigmatize este genitor
por conta da desmoralização praticada pelo alienante, permanecendo
maior tempo com aquele.
Havendo indícios de alienação parental, além da advertência, é
indispensável, ao magistrado, realizar ampliação do período de
convivência, alterando o sistema de “ visitação”, permitindo maior
tempo entre o genitor alienado e seu filho, vítima da alienação.

III – estipular multa ao alienador;

O Código de Processo Civil traz algumas alternativas à efetivação


da tutela específica, conforme o § 5.º do seu art. 461:
“ para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas
necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e
apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de
atividade nociva, se necessário com requisição de força policial”.

As astreintes, ou a multa informada tanto na norma acima


transcrita como no inciso III do art. 6.º da Lei da Alienação Parental,
serve como método alternativo e/ou cumulativo às demais medidas
previstas neste artigo como instrumentais de cessação ou diminuição
da alienação parental.
Importante, porém, destacar que a fixação das astreintes deve ser
em valor compatível com as condições financeiras do alienante, para
que não haja o seu empobrecimento ou o abrupto enriquecimento do
genitor alienado, também não podendo ser em valor que ridicularize a
ordem judicial. A execução da multa, via cumprimento de sentença,
deverá ocorrer no caso de prática pelo alienador da conduta que o
magistrado determinou que não se realizasse.
O magistrado, contudo, deve vincular a fixação das astreintes
somente às condutas alienatórias facilmente verificáveis
(comprováveis), se não sua execução será frustrada e as partes, que já
possuem um grau mais elevado de litigância, terão outro ponto a
discutir sem maiores resoluções.
A finalidade da fixação das astreintes é desestimular certas práticas
alienatórias, logo sua fixação não deve ocorrer para todas as práticas,
pois há outros instrumentais arrolados no art. 6.º, em seus incisos, sem
prejuízo de outras medidas já previstas na lei processual civil de
proteção à criança e ao adolescente.
A fixação de astreintes é perfeita nos casos de cumprimento de
dias de visitas, como estar no local fixado para entregar a criança ou
aonde esta seria buscada pelo genitor alienado.
Prática recorrente da alienação parental praticada pelo alienador
é fazer com que a criança falte à aula no dia de visitação ou marcar
compromissos nos finais de semana que são destinados ao genitor,
motivo pelo qual tal previsão torna-se interessantíssima, pois permite
de forma verificável – declaração da falta emitida pela escola, por
exemplo – a aplicação da sanção, desde que seja, é claro, injustificada.
Outro exemplo de aplicação é o não comparecimento
injustificado do genitor ou do menor sob sua responsabilidade às
sessões ou terapias psicológicas determinadas para a família, o casal,
os filhos, isolados ou em conjunto, a critério do perito nomeado.

IV – determinar acompanhamento psicológico e/ou


biopsicossocial;

O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece em seu art. 70


que “ É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação
dos direitos da criança e do adolescente”.
A doutrina informa que:
“ o art. 5.º, XXXV, da Constituição afirma que ‘ nenhuma lei excluirá da
apreciação do P oder Judiciário lesão ou ameaça a direito’ , com o nítido intuito
de viabilizar a tutela inibitória, ou seja, a tutela capaz de garantir a
inviolabilidade de um direito que está sendo ameaçado de lesão”.18
Antes do advento da Lei da Alienação Parental, o fundamento
acima justificava a propositura de ação de obrigação de fazer, com o
fito de determinar ao menor ou, mesmo ao alienador,
acompanhamento psicológico, a fim de minorar os efeitos da
alienação parental.
Agora, com a redação do inciso IV do art. 6.º da Lei da Alienação
Parental, a construção dos argumentos jurídicos para obtenção desta
tutela específica torna-se mais fácil.
É importante esclarecer que a realização de acompanhamento não
se restringe ao menor alienado, pois, em leitura sistemática com o
caput, o alienador geralmente é quem precisa de auxílio psicoterápico,
devendo ser ampliados os efeitos desta previsão a este e não
restringidos àquele, afinal, nos poderes conferidos por esta lei e pela
regra do art. 461, em seu § 5.º, do Código de Processo Civil, o
magistrado pode determinar de forma compulsória (sob pena de perda
da guarda ou astreintes, por exemplo) que o cônjuge alienador realize
também o tratamento.
Embora haja discordância entre os profissionais da saúde mental, a
eficácia de tal imposição, mesmo que a parte impelida a se inserir em
tal acompanhamento participe apenas para não ter que pagar
futuramente a multa fixada, terá, de uma forma ou outra, avanço em
seu quadro, pois o profissional multidisciplinar possui instrumentais
eficazes para atuar nestes casos.
Ademais, cabe lembrar que:
“ o princípio da efetividade do processo e o da necessidade devem ser
atendidos, pois, sem a intervenção judicial célere, os autores sofreriam danos,
evidentemente maiores do que eventual prejuízo de ordem financeira por parte
do estabelecimento comercial” (TJSC, Agravo de Instrumento 2002.005568-4,
Balneário Camboriú. Relatora: Juíza Sônia Maria Schmitz).

V – determinar a alteração da guarda para guarda


compartilhada ou sua inversão;
O poder familiar vem acompanhado de vários direitos e deveres
elencados no art. 229 19 da Carta Magna, no art. 1.634 do Código Civil
de 2002, em especial o da guarda dos filhos, também mencionados nos
arts. 1.583 e 1.584 do mesmo diploma legal.20
Decorrente do Poder Familiar, a guarda é a condição de direito de
uma ou mais pessoas, por determinação legal ou judicial, em manter
um menor de 18 anos sob sua dependência sociojurídica, podendo ser
unilateral ou compartilhada.21
A guarda exclusiva, unilateral ou invariável é preconceituosa e não
atende às necessidades da criança ou adolescente, visto que não se deve
dispensar a presença do pai ou da mãe diariamente, durante a
formação dos filhos. O modelo de guarda exclusiva cedeu lugar a
outros modos de exercício pleno da autoridade familiar.22
Claudia Baptista Lopes defende a ideia de que:
“ A desinformação de muitos sobre esse regime de guarda proposto iniciou
uma polêmica, pois se pensou que, com a adoção da guarda compartilhada, os
filhos menores permaneceriam por um período na casa da mãe e por outro período
na casa do pai, o que, dentre outros malefícios, dificultaria a consolidação de
hábitos na criança, provocando instabilidade emocional”.23

Tais observações são feitas, pois há uma confusão doutrinária


entre guarda unilateral alternada (que é criticada) e guarda
compartilhada alternada (que já ocorre nos EUA). Todas as críticas
que residem na guarda alternada são por conta da primeira modalidade,
realmente problemática. Embora não haja esta divisão na doutrina,
faço-a para dinamizar os conceitos que logo trabalharei e para
justificar o posicionamento, a meu ver, equivocado sobre os referidos
institutos.
Aos menores deve ser concedido o direito de conviver com ambos
os genitores. Não há dúvidas de que há “ traumas, sofrimentos e
angústia pela espera e pela incerteza da companhia daquele que é o
responsável por sua existência em um certo fim de semana”.24
Ana Carolina Silveira Akel Pantaleão afirma que:
“ A guarda compartilhada de forma notável favorece o desenvolvimento das
crianças com menos traumas e ônus, propiciando a continuidade da relação dos
filhos com seus dois genitores, retirando assim da guarda a ideia de posse”.25

Por esta razão é adequado que a Lei da Alienação Parental


incentive a realização da Guarda Compartilhada, pois esta permite a
aproximação dos filhos sem a conotação de posse que advém da
guarda unilateral, embora, na prática, a Guarda Compartilhada, como
instituto, seja o resgate do conceito clássico do Poder Familiar.26
Entretanto, caso haja necessidade, se o compartilhamento da
guarda tiver que ser revertido à guarda unilateral, o inciso V do art. 6.º
da Lei da Alienação Parental permite tal reversão, porém, parte-se da
premissa, como em toda novel legislação, de que a Guarda
Compartilhada deve ser a primeira opção, ou seja, sempre que
possível, deve-se realizar a conversão da unilateral para a
compartilhada a fim de diminuir ou cessar os efeitos da alienação
parental.
É importante ressaltar que, se preciso for, deve-se, inclusive,
encaminhar o menor para a guarda provisória dos avós, por exemplo,
quando não houver a possibilidade de inversão da guarda ante a
situação, às vezes, de alienação recíproca.
Nesse sentido o julgado:
“ Guarda. Superior interesse da criança. Síndrome da alienação parental.
Havendo na postura da genitora indícios da presença da síndrome da alienação
parental, o que pode comprometer a integridade psicológica da filha, atende
melhor ao interesse da infante mantê-la sob a guarda provisória da avó paterna.
Negado provimento ao agravo” (TJRS, 7.a Câm. Civ., Agravo de Instrumento
70014814479, rela. Maria Berenice Dias, j. 07.06.2006).

Sobre a guarda compartilhada como forma de redução da


incidência da Síndrome de Alienação Parental, consultar o Capítulo 6.

VI – determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou


adolescente;
É comum a constante mudança de endereço de menores vítimas
de alienação parental. Assim, o magistrado, com o intuito de
resguardar a efetividade das medidas elencadas na Lei da Alienação
Parental, pode determinar a fixação de domicílio a fim de que seja este
o prevento para o julgamento das ações e nele seja considerado o local
para intimações pessoais ou, para questões mais práticas, onde buscará
o genitor alienado o menor em seus dias de convivência.
A expressão “ cautelar”, informada no inciso VI do art. 6.º da Lei
de Alienação Parental, não consiste em ação cautelar, mas em medida
cautelar, por sua natureza acautelatória, até porque é dispensada tal
medida incidental por força da seguinte regra trazida no Código de
Processo Civil:
“ Art. 273. [...] § 7.º Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer
providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os
respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do
processo ajuizado”.

VII – declarar a suspensão da autoridade parental.

Em texto do ilustre jurista Paulo Luiz Netto Lôbo,27 ele leciona


que a terminologia “ poder familiar”, adotada no Código Civil de 2002,
“ não é a mais adequada, porque mantém a ênfase no poder”. Que em
“ relação à terminologia, ressalte-se, as legislações estrangeiras mais
recentes optaram por autoridade parental”, expressão utilizada no
inciso VII do art. 6.º da Lei da Alienação Parental.
Para o jurista, a “ autoridade parental” lhe parece traduzir “ melhor
o exercício de função ou de múnus, em espaço delimitado, fundado na
legitimidade e no interesse do outro”, pois decorre de uma relação
“ parental”, destacando “ melhor a relação de parentesco por
excelência que há entre pais e filhos, o grupo familiar, de onde deve
ser obtida a legitimidade que fundamenta a autoridade”.
Assim, o inciso VII do art. 6.º da Lei da Alienação Parental,
embora não use a expressão “ Poder Familiar”, refere-se ao mesmo
instituto, logo, deve ser a Alienação Parental acrescida ao rol das
causas que permitem a “ suspensão do poder familiar”, que pode ser
por tempo determinado, de todos os seus atributos ou parte deles.
Na verdade, a Lei da Alienação Parental traz de forma incisiva,
por se tratar de prática abusiva da autoridade parental, o que já era
causa de suspensão do poder familiar no Código Civil, in verbis:
“ Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos
deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz,
requerendo algum parente, ou o Ministério P úblico, adotar a medida que lhe
pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o
poder familiar, quando convenha”.

Lembre-se que a reiteração das práticas da alienação parental,


após suspenso o poder familiar, pode ser causa de extinção do referido
poder, conforme regra presente no Código Civil:
“ Art. 1.638. P erderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: [...]
IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente”.

Sobre o poder familiar, consulte o Capítulo 6.

Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de


endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o
juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou
retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por
ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar.

O parágrafo único do art. 6.º ratifica a premissa de efetivação da


tutela específica, e, ao ser interpretado com os incisos que lhe
antecedem, nota-se que a determinação nele contida pode ser
cumulada com a fixação cautelar de domicílio (inciso VI), a fixação de
astreintes (inciso III), a modificação da guarda (inciso V), entre outras.
A rt. 7 .º A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por
preferência ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da
criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em
que seja inviável a guarda compartilhada.

Na Lei da Guarda Compartilhada que alterara o art. 1.584 do


Código Civil, havia a seguinte previsão:
“ § 2.º Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do
filho, será aplicada, sempre que possível, a guarda compartilhada”.

A informação de que a guarda compartilhada será aplicada sempre


que possível, em uma interpretação extensiva do inciso II deste artigo,
permite, em tese, que o juiz determine esta modalidade,
independentemente do pedido das partes.28
A Lei da Alienação Parental alcança a discussão promovida com o
advento da Lei da Guarda Compartilha e reafirma que esta deve ser a
regra, sendo a exceção a Guarda Unilateral.
Outro destaque da Lei da Alienação Parental que merece ser
debatido com mais ênfase é a modificação de nomenclatura de período
de visitas para período de convivência.
Há grandes avanços nesta singela modificação. Se não houvesse
sua inclusão no texto da lei, muito se perderia sobre o instituto. Pai,
mãe e demais parentes deixam de ser meros visitantes, como um
médico que passa em casa para saber como está o paciente, e, em um
aspecto afetivo e de crescimento físico-mental, a relação de afeto
entre parentes é ressaltada.
Por estas razões, há de ser interpretado este artigo da Lei da
Alienação Parental em consonância com a redação dada ao art. 1.584
do Código Civil pela Lei da Guarda Compartilhada, que aduz que as
“ necessidades específicas do filho” ou “ a distribuição de tempo
necessário ao convívio” devem ser levados em conta na fixação da
guarda e do período de convivência.
A rt. 8 .º A alteração de domicílio da criança ou adolescente
é irrelevante para a determinação da competência
relacionada às ações fundadas em direito de convivência
familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores ou
de decisão judicial.

O art. 8.º da Lei da Alienação Parental parece contrariar toda a


estrutura processual sobre o foro competente ser o do menor,
inclusive com recente súmula do ST J neste sentido.29 Entretanto, em
uma leitura mais atenta, nota-se que a “ alteração de domicílio” seria
aquele decorrente da prática da alienação parental, principalmente
quando já proposta a ação.
O presente artigo deve ser interpretado de forma sistemática com
o inciso VI do art. 6.º desta lei, que permite ao juiz, caracterizados
atos típicos de alienação parental, “ determinar a fixação cautelar do
domicílio da criança ou adolescente”.

CUENCA, José Manoel Aguilar. Síndrome de alienação parental. P ortugal:


Almuzara, 2008. p. 93.
SOUZA, Raquel P acheco Ribeiro de. A tirania do guardião. In: APASE – Associação
de P ais e Mães Separados (Org.). Síndrome da alienação parental e a tirania do
guardião: aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. P orto Alegre: Equilíbrio,
2007. p. 7.
Art. 3.º (ECA). A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
social, em condições de liberdade e de dignidade.
FREITAS, Douglas P hillips; FREITAS, Karinne Brum Martins. Perícia social: o
assistente social e os efeitos da perícia no judiciário. Florianópolis: OAB, p. 45.
FREITAS, Douglas P hillips. Guarda compartilhada à luz das regras da perícia.
Florianópolis: Conceito, 2009. p. 50.
Art. 4.º do ECA. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Art. 70 do ECA. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos
direitos da criança e do adolescente.
Neste sentido, o jurista P aulo Luiz Netto Lôbo leciona que: “ O direito de ter o filho
em sua companhia é expressão de direito de convivência familiar, que não pode ser
restringido em regulamentação de visita. Uma coisa é a visita, outra a companhia ou
convivência” (Direito civil: famílias. São P aulo: Saraiva, 2008. p. 174).
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela específica (arts. 461, CP C e 84, CDC). São
P aulo: RT, 2000.
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos
maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Alterados pela Lei da Guarda Compartilhada (Lei 11.698/2008).
FREITAS, Douglas P hillips. Guarda compartilhada e as regras da perícia
interdisciplinar. Florianópolis: Conceito, 2009. p. 135.
GRISARD FILHO, Waldyr. Op. cit., p. 438.
Guarda compartilhada. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 124.
MARTINS, Ronaldo. Guarda de filhos de pais separados. Disponível em:
<http://www.apasepr.com.br>. Acessado: 2 jul. 2003.
Crianças em jogo: guarda compartilhada é o modelo ideal em separação. Disponível
em: <http://conjur.uol.com.br/view.cfm? id=15106&ad=a>. Acesso em: 5 jan. 2008.
Art. 7.º A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que
viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas
hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada.
Do poder familiar. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?
id=8371>. Acesso em: 29 jun. 2010.
FREITAS, Douglas P hillips. Guarda compartilhada à luz das regras da perícia.
Florianópolis: Conceito, 2009. p. 48. Nota: nesta obra, afirmou-se que a fixação de
uma guarda compartilhada por imposição judicial seria uma temeridade, pois
sustentamos que, para sua fixação, “ embora não seja obrigatória a harmonia entre os
guardiões, pelo menos, um mínimo de cordialidade e abnegação em relação ao menor
deve haver sob pena de tornar impraticável pela litigiosidade o instituto”. Nesta
oportunidade, o ora coautor revê a maneira como se expressou, pois é possível que
haja a fixação da guarda compartilhada em casos de litígio, uma vez que reduz o
sentimento de “ donismo” sobre o menor, e realça o conceito básico de poder familiar.
Somente em casos muito extremos, de total falta de diálogo, e não apenas litígio ou
conflitos menores, há de se fixar a guarda unilateral.
Súmula 383 (STJ). A competência para processar e julgar ações conexas de interesse
de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.
PERÍCIA MULTIDISCIPLINAR

3.1 REGRAS DA PERÍCIA MULTIDISCIPLINAR

3.1.1 Da nomenclatura – perícia multidisciplinar


A perícia multidisciplinar, como é nominada pela Lei da
Alienação Parental,30 consiste na designação genérica das perícias que
poderão ser realizadas em conjunto ou separadamente na ação judicial.
É composta por perícias sociais, psicológicas, médicas, entre outras
que se fizerem necessárias para o subsídio e certeza da decisão judicial.
Embora a legislação, em regra, use a expressão multidisciplinar e
algumas, como a lei que instituiu a guarda compartilhada,
“ interdisciplinar”, que também é correta, há um certo dissabor
ideológico, uma vez que não foi utilizada a expressão transdisciplinar,
que é “ grau ulterior das relações entre as disciplinas”, ou seja, com
relação entre as áreas com maior profundidade do que com a própria
interdisciplinaridade.31
Segundo Izabel Cristina Petraglia:
“ A interdisciplinaridade controla as disciplinas como a ONU controla as
nações. Cada disciplina pretende primeiro fazer reconhecer a sua soberania
territorial, e, à custa de algumas magras trocas, as fronteiras se confirmam, em vez
de se desmoronarem”.32

Na prática transdisciplinar “ não há espaço para conceitos


fechados e pensamentos estanques, enclausurados em gavetas
disciplinares, mas há obrigatoriamente a busca de todas as relações que
possam existir entre todo conhecimento”.33
O assistente social ou psicólogo, quando atua como perito, deve
ser denominado perito social, conforme o médico (perito médico), ou
o contador (perito contábil), haja vista o objeto periciado. A
designação coletiva dos mesmos é perícia multidisciplinar, haja vista
sua inter-relação com o direito.
Perícia multidisciplinar é gênero. Perícia social, psicológica,
médica, entre outras, é espécie. Neste diapasão, a lei processual civil já
prevê a possibilidade de produção interdisciplinar da perícia:
“ Art. 431-B. Tratando-se de perícia complexa, que abranja mais de uma área
do conhecimento especializado, o juiz poderá nomear mais de um perito e a parte
indicar mais de um assistente técnico”.

Os processos de família que necessitam da perícia multidisciplinar


não são compostos apenas por questões fático-sociais conflitantes,
mas por situações biopsicossociais determinantes ao desfecho da ação,
que no caso da Alienação Parental é o que determinará com certeza
técnica sua existência, o que não exige apenas a intervenção pericial
do psicólogo, mas de outros profissionais, por exemplo, assistente
social e até o médico.
Ademais, há necessidade de que as partes e o magistrado, além do
próprio psicólogo, saibam os limites da atividade dos peritos
envolvidos, exigindo-se o chamamento de outros peritos, quando
houver vários objetos a serem periciados.
3.2 AUXILIARES PERMANENTES E EVENTUAIS
O juiz é aquele que detém o poder jurisdicional de uma
determinada vara ou comarca. No que tange à consecução de suas
tarefas, o magistrado necessita da colaboração de órgãos auxiliares,
que, em seu conjunto e sob sua direção, formam o juízo.34
O sistema judiciário, como o próprio nome revela, é a
composição de diversos entes com funções próprias que, em um todo,
proporcionam ao Poder Judiciário um funcionamento sistemático e
organizado. Havendo o protocolo inicial da ação, a parte requerente
deverá cumprir o procedimento determinado em lei, para que, ao
final, seja cominada uma sentença judicial favorável ou desfavorável,
em parte ou no todo, daquilo requerido inicialmente.
Não é possível a realização da prestação jurisdicional sem a
formação e o desenvolvimento do processo. Para cada uma das
tarefas, o juiz contará com um auxiliar específico, que pode agir
isoladamente ou dirigir uma repartição ou serviço complexo, como o
escrivão. Sem a participação de funcionários encarregados da
documentação dos atos processuais praticados, a funcionalidade do
sistema judiciário ficaria comprometida, como o corpo sem algum de
seus membros, causando o aleijamento parcial ou total do sistema.35
Neste contexto, a função do perito é legitimar as alegações das partes
ou a desconfiança do juízo sobre a existência ou melhor solução para
tal fato, ante o caráter de tal profissional, especializado e imparcial.
O Código de Processo Civil diz que:
“ Art. 139. São auxiliares do juízo, além de outros, cujas atribuições são
determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o oficial de
justiça, o perito, o depositário, o administrador e o intérprete” (grifo nosso).

A doutrina divide os auxiliares da justiça em duas categorias: os


permanentes e os eventuais. Entende-se como permanentes aqueles
que prestam serviços ao juízo de forma contínua e indiscriminada,
como os escrivães, oficiais de justiça e agentes. Em outro plano,
temos os eventuais, ou seja, aqueles que são convocados pelo juízo,
para prestarem uma determinada função especializada, como o perito,
por exemplo.
Embora o perito seja um auxiliar eventual, não há óbice legal em
que ele seja contratado de forma permanente pelo Estado. O trabalho
prestado pelo perito é remunerado, sendo que o ônus da despesa será
atribuído às partes.36 Outrossim, por uma questão histórica (como será
visto no capítulo a seguir), entre as perícias multidisciplinares (perícia
social, médica, contábil, psicológica, entre outras), uma área é
disposta gratuitamente pelo Estado: o serviço social, presente em
quase todas as comarcas do país.

3.3 DA PERÍCIA JUDICIAL


Embora os peritos sejam, normalmente, auxiliares eventuais, pela
natureza de sua atuação, quando o juízo possui em seus quadros
determinado profissional multidisciplinar, como o assistente social ou
o psicólogo, por exemplo, se sua atuação se der com o fito
investigatório determinado pelo juízo, mesmo sendo auxiliar
permanente, não deixará de ser considerado perito.
No que tange aos processos familistas, principalmente o de
guarda, por ordem da Lei 11.698/2008 (Guarda Compartilhada), que
alterou o art. 1.584, § 3.º, do CC, o juiz, de ofício ou a requerimento
do Ministério Público (ou mesmo a pedido das partes), “ poderá
basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe
interdisciplinar”.
No mesmo sentido, a Lei da Alienação Parental determinou que:
“ Art. 5.º Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação
autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica
ou biopsicossocial”.

Sabendo do prejuízo físico e mental que pode decorrer de uma


decisão errônea do parecer emitido pelo assistente social ou do
psicólogo que atuam nos referidos processos, há uma necessidade de
melhor tutela jurídica no acompanhamento destas atuações.
Embora a lei traga o regramento para tal monitoração, na prática,
por uma questão histórica, como dito, estes instrumentais não são
aplicados, principalmente aos assistentes sociais, em virtude de sua
presença como auxiliar permanente, pois ele não é visto como um
perito, como o são outros profissionais de auxílio eventual.
Com base nos fundamentos abaixo elencados, vislumbra-se que tal
vácuo jurídico-prático pode ser tranquilamente preenchido, sanando
assim o referido problema por uma simples mudança de pré-conceitos
teórico-práticos.

3.3.1 Do perito e da perícia


Conforme os arts. 145 a 147 do CPC, entre os auxiliares
eventuais da justiça, temos o perito, que é o profissional com
conhecimento técnico, científico, solicitado pelo juiz, nos casos em
que a prova de fato depender de algum esclarecimento
especializado.
A perícia, termo que deriva do latim peritia, o qual significa
conhecimento adquirido pela experiência, é o meio probatório com o
qual se intenta obter, para o processo, uma manifestação fundada em
especiais conhecimentos científicos, técnicos ou artísticos, útil para o
descobrimento ou valoração de um elemento de prova.37
“ Trata-se de meio de prova destinado ao exame ou à avaliação de
determinados fatos ou causa, que somente podem ser percebidos por quem
possui conhecimentos técnicos ou científicos.”38

O princípio da isonomia trazido pela Constituição impede a


valorização do sistema probatório. Entretanto, na prática, pelas
vicissitudes de tipos de provas, como a testemunhal, há, sem dúvida,
uma ordem de preferência ou valoração de provas, que não pode ser
destoante do resto do conjunto probatório, mas que é preordenado no
campo subjetivo. Arroladas entre as mais valorosas, encontram-se a
perícia e a confissão.
O juiz, muitas vezes, se vê tolhido da realidade fática vivida pelas
partes, portanto vale-se dos auxiliares do juízo para constatação
daquilo que não possui condições técnicas para avaliar. O magistrado,
nesses casos, nomeia um perito (profissional de sua confiança,
conforme art. 145 do CPC) para verificar a realidade sob a ótica desse
expert no assunto.
Por uma questão lógica, a perícia tornar-se-á fundamento da
decisão processual, a ponto de o magistrado transcrever muitas vezes
na íntegra o parecer dado pelo expert. Muitos magistrados informam
que “ sem o laudo social ficaria difícil ou impossível a tomada de uma
decisão”.39
Lembrando, porém, a todo julgador a advertência da lei:
“ Art. 436. O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua
convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos”.

O perito é o sabedor do conhecimento técnico específico,


nomeado pelo juiz, ou por meio de solicitação das partes ou
intervenientes no processo, para apreciação de uma dada situação
conflituosa.
O assistente social, psicólogo, médico, contador, entre outros
profissionais de conhecimento técnico-específico, quando nomeados
pelo juiz, são, obrigatoriamente, peritos.
O dever de cumprir os ditames procedimentais da lei preserva os
princípios processuais trazidos na Constituição Federal, como o do
devido processo legal. O trabalho pericial feito é regido por um
rigorismo técnico-científico que resultará na verdade ou na sua
proximidade, cumprindo por meio do direito às partes de realizar suas
manifestações, impugnações, formulações de quesitos e nomeação de
assistente técnico, resultando na efetivação de outros princípios,
como ampla defesa e contraditório, por exemplo.
O procedimento legal aplicado à perícia, portanto, não sendo
cumprido, culminará na anulação do trabalho pericial, por vezes, da
própria ação, causando prejuízo às partes e à justiça em sua
administração.
3.4 DO PRO CEDIMENTO
O atual processo civil brasileiro, instituído sob a Lei 5.869, de
11.01.1973, é oriundo de uma antiga forma de produção de direito.
No decorrer dos longos e árduos trinta anos de sua existência, sendo
que destes há quase quinze anos está sob a luz da atual Constituição,
diversas “ minirreformas” graduais e pontuais foram realizadas durante
este ínterim com o intuito de constitucionalizar o processo civil
brasileiro, adequando-o às necessidades da sociedade atual.
A contínua tentativa de constitucionalização da legislação
processual, ou melhor, do garantismo processual, se dá pelo fato de
que a Constituição estabelece os direitos e garantias protecionistas
fundamentais, como o devido processo legal, contraditório, ampla
defesa, entre outros.
Todos os pretensos direitos subjetivos que podem figurar nos
litígios a serem solucionados pelo processo se originam de fatos (ex
facto ius oritur).40 A solução da apresentação de fatos contraditórios
se dará pelos meios de prova. O cerne do processo civil é o seu meio
probatório. Independentemente se o processo é de conhecimento,
executivo e, em especial, cautelar, a prova e as alegações
contraditórias são aquilo que fará do processo o instrumento estatal de
averiguação das versões levantadas pelas partes.
O sistema probatório constante do Código de Processo Civil, bem
como os direitos constitucionais das partes referentes ao processo, são
algumas das diversas facetas da busca pela verdade real. Quando são
levadas à tutela jurisdicional do Estado as versões conflitantes sobre
um mesmo fato, o juiz deverá optar (em todo ou em parte) por uma
das versões levantadas. Por isso que o meio probatório terá suma
importância nesta decisão, uma vez que não é desejada a injustiça
dentro da Justiça.
O due process of law,41 ou seja, o preceito trazido pela
Constituição do “ devido processo legal”,42 confere a todo aquele que
buscar a tutela jurisdicional do Estado um processo que propiciará
garantias fundamentais esposadas na Carta Magna, tal como o direito
do contraditório, que servirá para alcançar o objetivo de que ao final
da ação haja a certeza de que o resultado aproximou-se o máximo
possível da equidade e verossimilhança da realidade fática. A
prevenção do cometimento de qualquer injustiça é a meta do jurista e
dos atores do direito, pois “ é preferível absolver noventa e nove
culpados do que condenar um só inocente”.43
O regramento áureo sobre o sistema probatório é que o ônus da
prova deve ser daquele que alegou o fato. Algumas variações no
sistema judiciário são constatadas, por exemplo: no Direito do
Consumidor, seu código institui, no art. 6.º, VIII, que se o consumidor
estiver na posição de parte hipossuficiente, o ônus da prova será da
parte contrária (fornecedor). Entretanto, com suas exceções, a
obrigação de provar será daquele que produziu a informação, e, para
tal, deverá utilizar-se dos meios lícitos de prova para fundamentar sua
alegação. As regras sobre o ônus da prova e sua distribuição
constituem uma inerência do princípio dispositivo.44
A produção probatória no processo judicial, a contrario sensu do
que muitos defendem, não possui em seu âmago o sentido negativo da
defesa, ou melhor, a oposição/resistência ao alegado pela parte
contrária. A garantia constitucional do contraditório transcende a
possibilidade de influir ativamente sobre o desenvolvimento e o
resultado do litígio.45
Os ônus processuais probandis, ou simplesmente, os encargos –
ou “ pesos” – postos sobre as partes para a realização/confirmação de
suas afirmações, possuem medidas e valores que variam de acordo com
o caso concreto.
T ratando-se de disputa sobre direitos indisponíveis, como nos
casos que envolvam direitos de crianças e adolescentes,46 por
exemplo, e, logo, aqueles que o presente trabalho se propõe a estudar,
o juiz se acautelará ainda mais que nos processos que envolvam
direitos disponíveis, pois uma decisão errônea acarretará um dano que
alvejará a moral de uma criança e adolescente, além de sua família,
jamais sendo reparado, por vezes compensado de maneira que não
supre sentimentos de perda e aflição anteriormente sofridos em
decorrência do erro.
As opiniões quanto ao “ peso das provas” sempre são motivo de
divergências. A priori, uma prova documental seria aquela mais
confiável, nominada por vezes como a rainha das provas, enquanto a
meretriz probatória,47 como referida no jargão “ jurídico”, seria a
prova testemunhal, em virtude de sua mutabilidade ser razoavelmente
comum, originada de falsos testemunhos, ou simplesmente pela
memória humana ser tão suscetível a variações e lapsos no decorrer
do tempo.
Uma prova documental é válida quando no caso concreto se
discutem questões fáticas; de igual forma, a prova pericial é a mais
valiosa, quando se busca a verdade em determinadas situações que
demandam conhecimento especializado; como também, nas relações
em que os documentos e as perícias são conflitantes, a prova
testemunhal será de maior peso, por sua verossimilhança e
consonância com as demais versões a serem expressas no litígio.
Conforme Eduardo J. Couture, “ provar é demonstrar de algum
modo a certeza de um fato ou a veracidade de uma afirmação.”48
No sistema processual brasileiro não há propriamente hierarquia
de provas, de modo que o juiz examina livremente o conjunto dos
elementos instrutórios do processo. Podem, assim, a confissão, a
prova pericial e até mesmo a testemunhal sobrepujar, em um caso
concreto, a prova documental.49
O processo não se submete a pesos e medidas, tampouco se pode
considerar determinada prova como a mais fiel. O que, na verdade,
vale para a apuração da realidade, com a real influência no
subjetivismo da decisão judicial, é o bom senso e a verossimilhança do
conjunto probatório apresentado ao julgador.
O respeito ao procedimento público e isonômico confere
segurança às partes e aos seus direitos em litígio.
3.4.1 Da nomeação do perito
O juiz, ao nomear o perito multidisciplinar, deve fixar de imediato
o prazo de entrega do laudo, conforme regra o art. 421 do CPC,
devendo ser respeitada ou requerida dilação quando necessário,
conforme o art. 432 da mesma lei.
Nas ações em que o objeto seja a identificação de Alienação
Parental, na Lei 12.318/2010 há pré-estipulação de tal prazo, ora de
90 (noventa) dias.50
Mesmo que a prova de fato deva ser produzida por um perito, o
juiz poderá dispensar a referida prova quando as partes, na inicial e na
contestação, apresentarem sobre as questões de fato pareceres
técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes,
conforme art. 427 do CPC.
O § 3.º do art. 1.584 do CC, com redação dada pela Lei
11.698/2008, prevê que o juiz de ofício, ou o Ministério Público,
poderá basear sua decisão sobre a guarda compartilhada em
“ orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar”, a qual
deve observar as regras da perícia. Deste modo também se deve
proceder quando houver requisição de perícia para análise de
existência de Alienação Parental.

3.4.2 Dos honorários


Embora a lei, no art. 33 do CPC,51 determine a fixação de
honorários para o perito, no caso do assistente social forense,
nomeado pelo juiz, que seja funcionário público remunerado pelo
Estado, ficam as partes dispensadas deste ônus. Nada impede que o
magistrado escolha outro perito,52 que não seja o oficial, pois este
profissional deve ser de sua confiança (e livre de suspeição), ao
contrário dos assistentes técnicos, que são de confiança das partes (e
sob suas custas ficam os honorários, podendo ser posteriormente
reembolsados).
Nas demais áreas, o juiz fará nomeações em que, se no processo
houver o benefício da justiça gratuita ou assistência judiciária, haverá
igual isenção; caso contrário, a parte que requereu a perícia terá que
arcar com as despesas, ou o autor, se ordenado pelo juiz.
No tocante aos honorários dos assistentes técnicos, cada parte
arcará com o seu, podendo ser reembolsado aquele que for vitorioso na
lide.

3.4.3 Dos assistentes técnicos


Além de ser da confiança das partes, pela ética profissional, os
assistentes técnicos devem pugnar pela verdade, e, no exercício de sua
função, resguardar os princípios inerentes à sua atuação, como a
imparcialidade, por exemplo.
O seu ingresso no processo dar-se-á da seguinte forma:
“ Art. 421 do CP C. [...]
§ 1.º Incumbe às partes, dentro em 5 (cinco) dias, contados da intimação do
despacho de nomeação do perito:
I – indicar o assistente técnico;
II – apresentar quesitos”.

Assim como o perito, o assistente técnico possui prazo para


apresentação de seu parecer, além da resposta aos quesitos, que
deverão ser formulados no mesmo prazo de sua indicação:
“ Art. 433 do CP C. [...]
P arágrafo único. Os assistentes técnicos oferecerão seus pareceres no prazo
comum de 10 (dez) dias, após intimadas as partes da apresentação do laudo”.

O assistente técnico é facultativo, não estando as partes obrigadas


à sua constituição.

3.4.4 Da inquirição pelo juiz, dos quesitos suplementares e da


nova perícia
Por sua vez, o magistrado poderá ouvir diretamente os peritos e
assistentes quando a natureza do fato o permitir, ou se houver
necessidade para tanto, conforme regra de lei:
“ Art. 421 do CP C. [...]
§ 2.º Quando a natureza do fato o permitir, a perícia poderá consistir apenas
na inquirição pelo juiz do perito e dos assistentes, por ocasião da audiência de
instrução e julgamento a respeito das coisas que houverem informalmente
examinado ou avaliado”.

Ademais, não sendo suficiente a conduta acima, o magistrado ou


as partes podem requerer, principalmente quando o tempo da
realização da perícia conflitar com novas situações fáticas ou pela
própria natureza volátil do objeto periciado, outros procedimentos
complementares ou mesmo ratificadores daquela que já fora feita.
“ Art. 425 do CP C. P oderão as partes apresentar, durante a diligência,
quesitos suplementares. Da juntada dos quesitos aos autos dará o escrivão
ciência à parte contrária”.

“ Art. 426 do CP C. Compete ao juiz: [...]


II – formular os que entender necessários ao esclarecimento da causa”.

“ Art. 435 do CP C. A parte, que desejar esclarecimento do perito e do


assistente técnico, requererá ao juiz que mande intimá-lo a comparecer à
audiência, formulando desde logo as perguntas, sob forma de quesitos.

P arágrafo único. O perito e o assistente técnico só estarão obrigados a


prestar os esclarecimentos a que se refere este artigo, quando intimados 5 (cinco)
dias antes da audiência”.

“ Art. 437 do CP C. O juiz poderá determinar, de ofício ou a requerimento da


parte, a realização de nova perícia, quando a matéria não lhe parecer
suficientemente esclarecida”.

“ Art. 438 do CP C. A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre
que recaiu a primeira e destina-se a corrigir eventual omissão ou inexatidão dos
resultados a que esta conduziu”.

“ Art. 439 do CP C. A segunda perícia rege-se pelas disposições


estabelecidas para a primeira.

P arágrafo único. A segunda perícia não substitui a primeira, cabendo ao juiz


apreciar livremente o valor de uma e outra”.
3.4.5 Da publicidade
Dentre as perícias que compõem a perícia multidisciplinar, na
perícia social ou psicológica há uma certa volatilidade nas situações
sociofamiliares, sendo imprescindível que o disposto abaixo seja
cumprido sob pena de nulidade (e incerteza) do primeiro trabalho
pericial realizado:
“ Art. 431-A do CP C. As partes terão ciência da data e local designados pelo
juiz ou indicados pelo perito para ter início a produção da prova”.

E a lei informa ainda prazos a serem cumpridos para acesso às


partes do laudo social emitido:
“ Art. 433 do CP C. O perito apresentará o laudo em cartório, no prazo fixado
pelo juiz, pelo menos 20 (vinte) dias antes da audiência de instrução e
julgamento”.

3.5 ANULAÇÃO DO S ATO S Q UANDO NÃO HÁ APLICAÇÃO


DAS REGRAS DA PERÍCIA
Há uma prática equivocada quanto aos experts em sua atuação nos
processos familistas, principalmente o assistente social, e por vezes, o
psicólogo, em relação à sujeição destes às regras da perícia. Não se
trata de uma questão meramente acadêmica esta diferenciação ou
formalismo na atuação dos profissionais, mas de importante substrato
fático-jurídico, pois, não cumprindo os ditames da lei, tornarão nulos
os seus atos. Julgaram os T ribunais:
“ Agravo de instrumento. Ação cautelar inominada c/c alimentos.
Determinação de estudo social para definição de guarda. P leito de perícia social
com a indicação de assistentes. P retensão rejeitada. Temática relevante.
Necessidade de confecção de uma peça que possibilite um posicionamento
técnico amparado por normas processuais de salvaguarda dos litigantes.
Recurso provido. Apenas a perícia permite aliar o conhecimento técnico às
garantias processuais, entre elas o contraditório (art. 5.º, LV, da CF/88), a
declaração de impedimento e a arguição de suspeição (arts. 134, 135 e 138, III,
do CP C)” (Agravo de Instrumento 02.025189-0, Rel. Orli de Ataide Rodrigues,
j. 03.09.2004).
“ P rova. P erícia. Estudos técnicos de caráter social e psicológico. Trabalhos
realizados por assistente social e psicóloga do juízo. Operações sujeitas ao
regime das perícias. [...]. Aplicação do art. 435 do CP C. Constituem autênticas
perícias os trabalhos típicos de assistente social e de psicólogo, como meios
instrutórios destinados a prover o juiz das regras técnicas que lhe fogem à
preparação jurídica, [...]. Aplica-se, por conseguinte, o art. 435 do Código de
P rocesso Civil” (Agravo de Instrumento 222.788-4/9-00. P or unanimidade,
Desembargadores Theodoro Guimarães, J. Roberto Bedran e Osvaldo Caron).

3.6 A DIFERENCIAÇÃO DO S INSTRUMENTAIS


A Lei da Alienação Parental exige peritos na acepção da palavra,
ou seja, profissionais especializados na área que irão periciar.53 O
trabalho do perito culminará na apresentação de um laudo que servirá
certamente para a fundamentação das medidas necessárias a serem
tomadas pelo magistrado.
A confecção do laudo pericial, que é o documento do perito a ser
entregue ao juízo (nas perícias judiciais), exige, por sua natureza,
tecnicidade na formulação das respostas aos quesitos essenciais do
processo de perícia: “ declaração de ciência” (estudo) e “ afirmação de
juízo” (parecer).
O estudo social (em caso de assistentes sociais) ou psicológico (em
caso de psicólogos), bem como o Parecer, são fáceis de identificar,
pois o primeiro refere-se ao estudo in loco, valendo-se de
instrumentais técnico-operativos próprios para cada situação a ser
averiguada; enquanto o segundo remete à emissão da opinião técnica
obtida do estudo realizado.
O “ laudo social ou psicológico”, de outro lado, não possui uma
conceituação mais aprofundada, uma vez que se trata apenas do
documento em que constam o estudo e o parecer do profissional
multidisciplinar. Esclarecendo, sob o aspecto rigorosamente técnico,
no tocante à perícia:
“ O laudo não se confunde com o parecer, pois enquanto aquele é elaborado
pelo perito (que é auxiliar do juízo: CP C, art. 139), este é feito pelo assistente
técnico (que é simples auxiliar da parte: CP C, art. 422)”.54
3.7 PERÍCIA MULTIDISCIPLINAR – UM CO MPRO MISSO ÉTICO E
SO CIAL
Quando somos remetidos a temas que discutem sobre ética e
moral, principalmente a sua diferenciação, somos obrigados a
estabelecer determinados conceitos operacionais para que, ao
trabalharmos com a temática, não venhamos a ser descuidados ou
omissos com os sentimentos tidos como os mais nobres do ser
humano.
Os vocábulos ética e moral sempre estiveram envoltos em certa
ambiguidade. A conceituação de ambos é polêmica e contraditória,
assim buscar-se-á apresentar alguns conceitos norteadores para a
discussão do tema.55
Etimologicamente, as palavras ética – do grego, ethos – e moral –
do latim, mores – significam: costume, ou seja, determinado
comportamento aceito pela sociedade. Embora sejam empregados por
muitos como sinônimos, os termos são semelhantes funcionalmente,
porém antagônicos na conceituação.56
Entende-se que o sistema de normas, princípios e valores que
sistematizem a inter-relação entre os indivíduos e a sociedade, aceitos
pela maioria da população, mediante um processo histórico social, é
tido como moral.57
Por outro lado, ética são as regras de condutas não sancionadas
por outras normas,58 ou, ainda, a ciência prática de caráter filosófico,
que expõe e fundamenta os princípios universais sobre moralidade dos
atos humanos.59
A moral é a face subjetiva; nela a norma é regra da ação
reconhecida interiormente pelo sujeito. A ética é a face objetiva, dado
que a norma constitui-se em princípio norteador dos costumes do
grupo social. A moral representa o ponto de vista do indivíduo, e a
ética o ponto de vista da cultura.60
Independentemente do meio em que pretenda prestar os seus
serviços (esfera administrativa ou judicial – civil, trabalhista,
previdenciária ou penal), o perito, principalmente na seara familista,
bem como o advogado, juiz, promotor, entre tantos outros “ atores”
jurídico-sociais envolvidos, deve, em uma postura inter e
transdisciplinar, buscar cumprir todos os ditames constitucionais, a
fim de ser promovida a justiça social tão almejada nesses tempos de
crise.

3.8 CÓ DIGO DE ÉTICA DO PERITO


A busca pela conclusão da perícia, seguida pelo sentimento de
trabalho realizado, somente será obtida pelo profissional quando tiver
em mente que:
“ I – Não é juiz: por conseguinte, não lhe é facultado oferecer conclusões sem
fundamentá-las tecnicamente;
II – Não é testemunha: assim não pode basear seu pronunciamento naquilo
que ouviu e lhe foi confessado;
III – Apura fatos físicos, com imparcialidade e acuidade, demonstrando ou
comprovando-os, devidamente, sempre que possível;
IV – Analisa e coordena esses fatos, à luz de sua experiência técnica e de seus
conhecimentos científicos;
V – Redige seus laudos com método, precisão e clareza, sem esquecer que
serão apreciados por pessoas de nível universitário, mas não por especialistas
na matéria;
VI – Não se deixa influenciar por injunções políticas, familiares ou de
amigos, ou outras de natureza subalterna;
VII – Não omite ou silencia sobre os fatos que, aparentemente, possam
enfraquecer a força da conclusão pericial, explicando-os ou justificando-os,
sempre que possível, mesmo que não tenham sido objetos de quesitos;
VIII – P leiteia remuneração condigna para seu trabalho, sem estimativa
exagerada e sem permitir seu aviltamento;
IX – Aceita com contingência natural a luta judiciária a críticas e
contribuições que forem feitas ao seu lado, desde que se trate de considerações
de ordem técnica;
X – Não recusa encargo judiciário, a não ser por motivos relevantes, de
natureza técnica, legal ou ética”.61

Em 30 de junho de 2010, o Conselho Federal de Psicologia, por


meio da Resolução n.º 08, dispôs sobre a atuação do psicólogo como
perito e assistente técnico no judiciário. O texto integral da resolução
encontra-se no fim desta obra em seus anexos, mas deve-se destacar o
seguinte, no tocante à postura inicial deste profissional em sua
atuação como perito ou assistente técnico:
“ Art. 1.º O psicólogo perito e o psicólogo assistente técnico devem evitar
qualquer tipo de interferência durante a avaliação que possa prejudicar o
princípio da autonomia teórico-técnica e ético-profissional, e que possa
constranger o periciando durante o atendimento.
Art. 2.º O psicólogo assistente técnico não deve estar presente durante a
realização dos procedimentos metodológicos que norteiam o atendimento do
psicólogo perito e vice-versa, para que não haja interferência na dinâmica e
qualidade do serviço realizado.
P arágrafo único. A relação entre os profissionais deve se pautar no respeito e
colaboração, cada qual exercendo suas competências, podendo o assistente
técnico formular quesitos ao psicólogo perito.
Art. 3.º Conforme a especificidade de cada situação, o trabalho pericial
poderá contemplar observações, entrevistas, visitas domiciliares e
institucionais, aplicação de testes psicológicos, utilização de recursos lúdicos
e outros instrumentos, métodos e técnicas reconhecidas pelo Conselho Federal
de P sicologia.
Art. 4.º A realização da perícia exige espaço físico apropriado que zele pela
privacidade do atendido, bem como pela qualidade dos recursos técnicos
utilizados.
Art. 5.º O psicólogo perito poderá atuar em equipe multiprofissional desde
que preserve sua especificidade e limite de intervenção, não se subordinando
técnica e profissionalmente a outras áreas.

[...]

Art. 8.º O assistente técnico, profissional capacitado para questionar


tecnicamente a análise e as conclusões realizadas pelo psicólogo perito,
restringirá sua análise ao estudo psicológico resultante da perícia, elaborando
quesitos que venham a esclarecer pontos não contemplados ou contraditórios,
identificados a partir de criteriosa análise.
P arágrafo único. P ara desenvolver sua função, o assistente técnico poderá
ouvir pessoas envolvidas, solicitar documentos em poder das partes, entre
outros meios (art. 429, Código de P rocesso Civil).”

A produção documental e outras observações técnicas sobre a


atuação deste profissional já se encontravam regradas por norma
anterior, notadamente a Resolução 07/2003, do Conselho Federal de
Psicologia, também em anexo.
3.9 SIGILO PRO FISSIO NAL E PERÍCIA
O sigilo profissional é garantia intrínseca dos profissionais da
psicologia, serviço social, medicina, direito, entre tantas outras áreas.
Contudo, tais profissionais, quando atuam como peritos, não
podem ficar receosos por possivelmente violarem as regras de sigilo (e
serem sujeitados a processos administrativos por suas categorias) ao
trazer para o processo informações dadas pelas pessoas envolvidas que
foram por eles visitados ou entrevistados.
Não há quebra de qualquer regra de sigilo, uma vez que o
profissional, primeiro, não é de confiança da parte, mas do juízo;
segundo, porque, desde o início, o profissional na figura de perito é
identificado como tanto e aduzido às partes que sua função é relatar ao
juiz a realidade.

Art. 5.º Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma
ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou
biopsicossocial.
§ 1.º O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial,
conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame
de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação,
cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da
forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra
genitor.
§ 2.º A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados,
exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou
acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.
§ 3.º O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de
alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo,
prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa
circunstanciada.
MONDARDO, Dilsa; ALVES, Elizete Lanzoni; SANTOS, Sidney Francisco Reis
dos. O ensino jurídico interdisciplinar: um novo horizonte para o direito.
Florianópolis: OAB, 2005. p. 22.
MORIN, Edgar apud P ETRAGLIA, Izabel Cristina. Edgar Morin: a educação e a
complexidade do ser e do saber. 4. ed. P etrópolis: Vozes, 2000. p. 74.
Idem, ibidem, p. 74.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Op. cit., p. 207.
Idem, ibidem, p. 207.
O art. 33 do Código de P rocesso Civil institui como é distribuída a remuneração do
perito e do assistente técnico.
NORES, Cafferata. La prueba en el processo penal. Buenos Aires: Depalma, 1986. p.
47.
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. P rova pericial. Cadernos de Processo Civil,
São P aulo: LTr, n. 13, p. 7, 1999.
FREITAS, Douglas P hillips; FREITAS, Karinne Brum Martins. Perícia social: o
assistente social e os efeitos da perícia no judiciário. Florianópolis: OAB-SC, 2003.
p. 115.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do
direito processual civil e processo de conhecimento. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1998. p. 445.
Também chamado de the law of the land, que no seu significado original, mais amplo,
consistia em uma limitação do P oder P úblico perante os particulares. O respeito dos
direitos das pessoas, sem cometer arbítrios, por meio destes institutos, teve a sua
origem na Great Charter de João Sem-Terra, de 15.06.1215.
Conforme reza o art. 5.º, LIV, da CRFB/1988.
Esta é uma das muitas ideias do Iluminismo, que tinha por fundamento a defesa das
garantias primordiais de cada indivíduo, tratando com cautela os casos que feriam
tais direitos individuais. Cesare Beccaria, no direito, pode ser considerado o autor
mais influente destes ideais.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., p. 202.
MARINONI, Luiz Guilherme. Novas linhas do processo civil. 3. ed. São P aulo:
Malheiros, 1999. p. 258 apud TROCKER, Nicolò. Processo civile e Constituzione.
Milão: Giuffrè, 1974. p. 371.
Segundo a Lei 8.069, de 1990, ora o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA),
renomeou o termo menor (do código de menores) para criança e adolescente, e, nesse
sentido, optou-se por utilizar essa última nomenclatura (de maneira genérica) para
trabalhar os assuntos e menções que envolvam menores de 18 anos (conforme nova
redação dada pelo Código Civil de 2002, que entrou em vigor em 10.01.2003).
Também é dado ao termo, em um sentido mais chulo, como: prostituta das provas.
Fundamentos del derecho procesal civil. Buenos Aires, 1974, p. 215.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Op. cit., p. 445.
Art. 5.º [...] § 3.º O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a
ocorrência de alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do
laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa
circunstanciada.
Art. 33 (CP C). Cada parte pagará a remuneração do assistente técnico que houver
indicado; a do perito será paga pela parte que houver requerido o exame, ou pelo
autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de ofício pelo juiz.
Em cidades do interior, onde todos se conhecem, a suspeição que venha recair sobre
o perito pode impulsionar o magistrado a nomear outro.
Art. 5.º [...] § 2.º A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar
habilitados, exigindo, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico
profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.
FREITAS, Douglas P hillips; FREITAS, Karinne Brum Martins. Perícia social: o
assistente social e a perícia no judiciário. Florianópolis: OAB/SC, 2003. p. 70.
CARLIN, Volnei Ivo (Coord.). Ética e bioética: novo direito e ciências médicas.
Florianópolis: Terceiro Milênio, 1998. p. 25.
Consoante o posicionamento, Jean Ladrièri leciona em uníssono. LADRIÈRE, Jean.
Ética e pensamento científico. Rio de Janeiro: Letras & Letras, p. 82, 83 e 87.
COLOMBO, Olírio. Pistas para filosofar II: questões de ética. P orto Alegre:
Evangraf, 1993. p. 12 apud Adolfo Sánchez Vázquez.
CARLIN, Volnei Ivo. Deontologia jurídica. Florianópolis: Obra jurídica, 1996. p.
35.
Idem, ibidem, p. 37.
Conforme lecionam Joseane Aparecida Corrêa e Sérgio Eduardo Cardoso. Idem. Ética
e bioética: novo direito e ciências médicas. Florianópolis: Terceiro Milênio, 1998. p.
25.
Retirado do Código de ética pericial, do Instituto Dell P icchia. In: BUONO NETO,
Antônio; BUONO, Elaine Arbex. Op. cit., 1996, p. 7.
INFLUÊNCIA
DA PERÍCIA MULTIDISCIPLINAR
NAS DECISÕES JUDICIAIS

4.1 DA DECISÃO JUDICIAL E SEU FUNDAMENTO


Concluídos os andamentos processuais, compreendidos na
produção das provas solicitadas, alegações fático-jurídicas e ouvidas
das partes, intervenção do Ministério Público, quando houver, o
processo será entregue ao juiz da causa que proferirá sua decisão.
Embora a sentença não seja mais o ato pelo qual o juiz põe termo
ao processo, a estrutura exigida por lei em relação à mesma continua
intacta no tocante às formas (metodologia) que devem ser seguidas,
sob pena da anulação ou nulidade do instrumento.
Toda decisão judicial, obrigatoriamente, deve ser fundamentada. O
magistrado, examinando as questões de fato e de direito, constrói as
bases lógicas da parte decisória. T rata-se de operação delicada e
complexa em que o juiz fixa as premissas da decisão após laborioso
exame das alegações relevantes que as partes formularam, bem como
do enquadramento do litígio nas normas legais aplicáveis.62
O relatório prepara o processo para o julgamento. Mas, antes de
declarar a vontade concreta da lei perante o caso dos autos, cumpre ao
juiz motivar sua decisão,63 expondo os fatos e o direito que geraram
sua convicção.64
A função dos requisitos da sentença não é mero formalismo
processual, pelo contrário, é a necessidade de haver clareza e precisão
no decisum.65 A ambiguidade e incertezas de uma sentença causarão
problemas e morosidade ao processo, dado que por meio de recurso 66
as partes terão que novamente buscar no Judiciário a discussão de um
assunto que deveria ter sido concluído no momento da decisão de
primeiro grau, caso fosse transparente o entendimento do julgador.
No que tange à aplicabilidade prática dos efeitos da sentença,
pode-se dizer que, ao ser prestada a jurisdição estatal (efeito formal), a
decisão judicial cria uma série de novas situações jurídicas para os
litigantes (efeito material), que poderão ser ou não aceitas pelas
partes, que, no intuito de expressarem o seu descontentamento, trarão
novamente à baila a discussão sobre o processo (no todo ou em parte),
mediante recurso próprio.
João Monteiro afirma: “ Para que a sentença declare o direito, isto
é, para que a relação de direito litigiosa fique definitivamente
garantida pela regra de direito correspondente, preciso é, antes de
tudo, que o juiz se certifique da verdade do fato alegado”,67 o que se
dará por meio das provas.
A perícia multidisciplinar será um dos instrumentos no conjunto
probatório da ação. A produção da perícia como prova processual
possui um caráter objetivo e outro subjetivo. O primeiro se dá pelo
fato de que o instrumental apresentará nos autos da ação um
instrumento hábil e verificável, que tem por finalidade demonstrar a
existência de um fato. O segundo é a influência psíquica que a perícia
produz, pois retratar – documentar – uma realidade fática traz às
partes envolvidas na ação a possibilidade de apreciação da prova
produzida, para que seja corroborada ou contestada.
A conceitualização de prova fornecida pelo Código de Processo
Civil, em seu art. 332, é todo meio legal, bem como o moralmente
legítimo, ainda que não especificado pelo Código de Processo, hábil
para provar a verdade dos fatos em que se funda a ação ou defesa nos
processos judiciais.
Assim:
a) Moralmente legítimos: o princípio segundo o qual o que não
está no processo não está no mundo é análogo ao meio de
prova ilícito, não é prova processual. Em um processo
judicial, não pode haver ilicitude na produção das provas
apresentadas, bem como nestas propriamente ditas. A
Constituição, em seu art. 5.º, LVI, é claro quando dita que “ são
inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos”.
b) Quando não for especificada pelo Código: além do Código de
Processo Civil, outras legislações apresentam vários meios de
prova, por exemplo, no Código Civil de 2002, que em seu art.
212 leciona que: “ Salvo o negócio a que se impõe forma
especial,68 o fato jurídico pode ser provado 69 mediante: I –
confissão; II – documento; III – testemunha; IV – presunção;
V – perícia.”
c) Hábeis para provar: é facultado ao juiz apreciar livremente a
prova, atendo-se aos fatos e circunstâncias apresentados nos
autos, ainda que não alegados pelas partes.
d) Verdade dos fatos em que fundada ação ou defesa: o
requerente e o requerido são detentores do direito de
produzirem provas para corroborarem as suas alegações,
independentemente de o fato alegado ser imputado a outrem.

A natureza da prova, consoante o esposado, é a de “ demonstrar de


algum modo a certeza de um fato ou a veracidade de uma
afirmação”.70 O Código de Processo Civil divide os meios de provas
em depoimento pessoal (arts. 342 a 347); confissão (arts. 348 a 354);
exibição de documentos ou coisa (arts. 355 a 363); prova
documental (arts. 364 a 399); testemunhal (arts. 400 a 419); pericial
(art. 420 a 439); e inspeção judicial (arts. 440 a 443).
Entende-se por:
a) Depoimento pessoal: o meio de prova utilizado no
interrogatório da parte, com a finalidade de provocar a sua
confissão, ou simplesmente estabelecer os parâmetros dos
fatos discutidos na ação.
b) Confissão: a admissão da verdade de um fato, contrário ao seu
interesse e favorável ao adversário, por pessoa capaz que a
tenha produzido sem que haja qualquer vício de vontade.
c) Exibição de documentos ou coisas: o poder do Estado, em
consonância com o pressuposto legal de que todos devem
colaborar com o Poder Judiciário (arts. 339 a 341), em
determinar a apresentação de documentos ou coisas que se
achem na posse de terceiros, e o exame destes sirva para a
instrução do processo.
d) Prova documental: toda a “ coisa capaz de representar um
fato”,71 podendo ser escrita, auditiva ou visual, tais como
textos, desenhos, gravações sonoras, filmes, fotografias, entre
outros meios probatórios.
e) Prova testemunhal: é a ouvida de uma determinada pessoa
trazida em juízo, sabedora de fato ventilado no processo.
f) Prova pericial: ocorre sua produção quando, para averiguação
de determinados fatos, haja a necessidade de um técnico
especializado, visto que o juiz não detém conhecimentos
específicos na área que necessite do perito.

Teixeira Filho defende que:


“ A perícia é meio de prova destinado ao exame ou à avaliação de
determinados fatos da causa, que somente podem ser percebidos por quem
possua conhecimentos técnicos ou científicos.”72
A necessidade de discernir e melhor adequar os tipos de prova
àquilo que se pretende comprovar é indispensável para alcançar a
tutela almejada com certeza e eficácia. Embora não haja hierarquia
entre as provas, quando contraditórias, deve-se considerar a conclusão
obtida pelo conjunto.
Mesmo não sendo hierarquizada, a prova pericial, por sua
pertinência e especialização, tem sido priorizada em relação as
demais. Pergunta-se: Quando diverge de outras provas produzidas no
processo, deve o magistrado julgar de acordo ou contrário à perícia
multidisciplinar apresentada?

4.2 DA PERÍCIA MULTIDISCIPLINAR CO MO FUNDAMENTO

4.2.1 Decisões judiciais


A prova, por ser destinada “ a produzir a certeza ou convicção do
julgador a respeito dos fatos litigiosos”,73 deverá seguir um sistema de
persuasão racional, em que o seu julgamento será o “ fruto de uma
operação lógica armada com base nos elementos de convicção
existentes no processo”.74
O juiz não está adstrito a julgar no sentido do laudo juntado aos
autos, no entanto terá que fundamentar o porquê de sua contrariedade,
uma vez que o assistente social, o médico ou o psicólogo, na posição
de peritos, apuram a existência de fatos em que a certificação depende
de seu conhecimento técnico.
Na apreciação das provas é dada liberdade ao juiz,75 que poderá
analisá-las “ atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos,
ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença,
os motivos que lhe formaram o convencimento”.76
A obtenção do processo de convicção somente ocorrerá quando o
juiz condicionar sua decisão aos fatos nos quais se funda a relação
jurídica controvertida, com as provas desses fatos, colhidas no
processo.77
O Código de Processo Civil é claro quando diz que a sentença deve
estar de acordo com o conjunto de prova, sob pena de ser reformada
em grau de recurso. Por isso, a perícia multidisciplinar, possuindo os
quesitos necessários para sua validação, será fonte probatória de
imensa valia.
Por outro lado, o Código de Processo Civil, em seu art. 420,
parágrafo único, elenca os casos em que o juiz indeferirá a própria
perícia multidisciplinar, sob os seguintes fundamentos:
I – a prova do fato não depender do conhecimento especial técnico: ou
seja, quando no processo não houver controvérsias sobre determinados fatos
que exijam o conhecimento especializado do expert;
II – for a prova técnica desnecessária em vista de outras provas
produzidas: ocorre em casos em que houve confissão ou existam documentos
que esclareçam determinadas dúvidas, não necessitando, assim, da diligência do
perito, uma vez que não há controvérsias a serem sanadas;
III – a verificação pretendida for impraticável: a hipótese é concernente
quando não houver perito especializado na situação conflituosa apresentada, ou
simplesmente não existe mais o objeto a ser periciado.

Entretanto, o direito constitucional de ampla defesa dá à parte a


possibilidade de produção de provas, mesmo quando o juiz afirmar
possuir o conhecimento técnico necessário,78 devendo os envolvidos
no processo, que queiram a realização da perícia multidisciplinar,
invocá-la.
Por ser a perícia multidisciplinar um elemento, dentre um
conjunto probatório, a necessidade de sua feitura para corroborar as
demais é imprescindível. Assim, mesmo que o juiz entenda
desnecessário, havendo qualquer dúvida sobre fatos possíveis de serem
periciados, deverá, sim, a parte requerer a produção dessa prova.
A faculdade do julgador da causa de prolatar sua decisão em sentido
diverso da perícia ocorre somente quando ela carecer de
fundamentação lógica ou for contrária às demais provas do
processo.
A primeira hipótese é consoante aos casos em que o perito
subtraiu do “ conhecimento do juiz e dos interessados os motivos em
que se baseou para emitir a sua opinião, nenhum valor se poderá
atribuir ao seu laudo: é como se não existisse laudo pericial”.79
Por não ser prova hierarquicamente superior a nenhuma outra,
uma vez que todas possuem igual valor, a perícia multidisciplinar,
como as demais, depende do conjunto de provas apresentadas no
processo, subsidiando, assim, a convicção do magistrado com base na
verossimilhança do conjunto probatório. “ O parecer do perito é
meramente opinativo e vale pela força dos argumentos em que
repousa”, visto que o seu trabalho é a documentação da realidade, mas
a realidade é definida pelo conjunto de facetas, e não por uma única.
A fundamentação da sentença não deve ser realizada tão somente
na perícia, e, sim, no conjunto de provas. A perícia multidisciplinar,
pela sua natureza averiguadora, é um elemento válido para informar o
juiz, porém não é a única fonte da verdade. Da mesma forma que não
pode haver o julgamento contrário às provas dos autos, o julgador da
causa não pode efetuar a prestação jurisdicional sob o fundamento de
uma única prova. Caso o laudo social bastasse tão somente para a
fundamentação da sentença, deixaria de ser prova e tornar-se-ia uma
decisão arbitral, não necessitando sequer do processo judicial.80

4.2.2 Recursos
Na fase recursal, a parte que se sentir prejudicada pela decisão
proferida requererá a correção total ou parcial do decisum. Quer seja
por não acolher a regra da perícia ou não se valer dela como
fundamento da decisão, para as partes há este remédio no intuito de,
em outro grau de jurisdição, corrigir o direito que, a seu ver, fora
tolhido.

4.2.2.1 Agravo de instrumento


Há profissionais que, pelos fundamentos acima informados, se
encontram atuantes no processo sem o manto das regras da perícia
recaindo sobre si, sendo necessário sanear esse vício, que, se não for
reconhecido pelo magistrado, obriga a buscar por meio do agravo de
instrumento a correção da situação.
Nesse sentido, há algumas decisões concernentes à matéria:
“ Agravo de instrumento. Ação cautelar inominada c/c alimentos.
Determinação de estudo social para definição de guarda. P leito de perícia social
com a indicação de assistentes. P retensão rejeitada. Temática relevante.
Necessidade de confecção de uma peça que possibilite um posicionamento
técnico amparado por normas processuais de salvaguarda dos litigantes.
Recurso provido. Apenas a perícia permite aliar o conhecimento técnico às
garantias processuais, entre elas o contraditório (art. 5.º, LV, da CF/88), a
declaração de impedimento e a arguição de suspeição (arts. 134, 135 e 138, III,
do CP C)” (Agravo de Instrumento 02.025189-0, Rel. Orli de Ataide Rodrigues,
data da decisão: 03.09.2004).
“ P rova. P erícia. Estudos técnicos de caráter social e psicológico. Trabalhos
realizados por assistente social e psicóloga do juízo. Operações sujeitas ao
regime das perícias. [...]. Aplicação do art. 435 do CP C. Constituem autênticas
perícias os trabalhos típicos de assistente social e de psicólogo, como meios
instrutórios destinados a prover o juiz das regras técnicas que lhe fogem à
preparação jurídica, [...]. Aplica-se, por conseguinte, o art. 435 do Código de
P rocesso Civil” (Agravo de Instrumento 222.788-4/9-00. P or unanimidade,
Desembargadores Theodoro Guimarães, J. Roberto Bedran e Osvaldo Caron).

4.2.2.2 Apelação
No que tange à perícia multidisciplinar, havendo qualquer
contrariedade ao laudo apresentado pelo perito, a parte analisará o
conjunto probatório para saber se a perícia é a única peça que
corrobora com sua versão fática.
Sendo a perícia multidisciplinar a única peça que defenda o
posicionamento do requerente, deverá este buscar derrubar a força
probatória das demais provas, por meio da identificação de vícios ou
contrariedades entre elas, para que assim possa convencer o julgador,
em grau recursal, de que a perícia multidisciplinar não é inválida e que
a sentença foi contrária ao laudo social, psicológico ou médico.
Dentre os princípios gerais dos recursos temos o “ princípio da
dialeticidade”, que é concernente à força argumentativa, em que a
parte recorrente levará ao juízo os fatos que causaram a insatisfação
com a sentença recorrida, bem como o acolhimento da prova pericial,
mesmo que esta seja contrária às demais provas produzidas. O trabalho
de construção de uma tese fundamentada em uma única prova,
independentemente da validade desta, é árduo e, algumas vezes,
infrutífero.
Outrossim, quando a única prova é consoante com a verdade
fática, e as demais provas são conflitantes entre si, a perícia
multidisciplinar, que goza de presunção de verdade, será o fundamento
necessário para subsidiar o recurso por meio de sua verossimilhança –
cuja existência é fundamental para todas as provas produzidas em um
processo terem eficácia real.
Quando a perícia multidisciplinar estiver em consonância com as
demais provas, o juiz deverá prestar seu entendimento da causa sob o
escopo desse conjunto probatório. A sentença judicial deverá, nestes
casos, ser fundamentada na perícia multidisciplinar que foi
corroborada pelas demais provas apresentadas na ação, trazendo ao
gabinete do juiz a realidade flagrante vistoriada pelo perito –
assistente social, psicólogo, médico, entre outros.
A contrariedade da sentença com o conjunto de provas
apresentadas resulta objetivamente na re forma da sentença judicial
recorrida. Afinal, o dever do magistrado ao proferir sua sentença é
construir as bases lógicas de sua decisão, por meio das relações entre as
questões fáticas apresentadas pelas partes, com o escopo legal e justo
dos pedidos formulados e as provas levadas a juízo.

Idem, ibidem, p. 649.


THEODORO JÚNIOR, Humberto. Op. cit., p. 509.
Art. 131 do CP C.
O art. 280 reza que a sentença deve ser “ clara e precisa”.
Os embargos de declaração são o remédio judicial que serve para buscar o
esclarecimento de uma obscuridade, dúvida ou contradição na sentença.
Op. cit., p. 93.
Vide art. 5.º, XII e LVI, CF; art. 332, CP C, e arts. 107, 108 e 215 do Código Civil de
2002.
“ Salvo disposição especial em contrário, as provas devem ser produzidas em
audiência.” Art. 336, caput, do CP C.
COUTURE, Eduardo. Fundamentos del derecho processual civil. Buenos Aires,
1974. p. 215.
CARNELUTTI, Francesco. La prueba civil. Buenos Aires, 1955. p. 154.
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. P rova pericial. Cadernos de Processo Civil,
São P aulo: RT, n. 13, p. 7, 1999.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Op. cit., p. 419.
Idem, ibidem, p. 420.
“ A livre apreciação da prova, desde que a decisão seja fundamentada, considerada a
lei e os elementos existentes nos autos, é um dos cânones do nosso sistema
processual” (STJ, 4.ª Turma, REsp 7.870/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j.
03.12.1991, deram provimento parcial, v.u., DJU 03.02.1992, p. 469, 1.ª co., em.).
Art. 131 do CP C.
AMARAL SANTOS, Moacyr. Op. cit., p. 337.
Jurisprudência trazida na nota “ 7a” do art. 420 do CP C. NEGRÃO, Theotonio.
Código de Processo Civil e legislação processual em vigor anotado. 28. ed. São
P aulo: Saraiva, 1997.
MARTINS, P edro Batista. Comentários ao Código de Processo Civil. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1969. v. 3. p. 99.
MONTEIRO, João. Op. cit., p. 322.
PERÍCIA MULTIDISCIPLINAR NOS
CASOS DE ALIENAÇÃO PARENTAL

5.1 CO NVENCIMENTO DO MAGISTRADO


Embora não esteja adstrito ao resultado da perícia, o magistrado,
sem dúvida, na maioria dos casos, acolhe seu resultado como
fundamento da decisão.
O juiz, no momento da sentença judicial, está documentando um
determinado fato ou ato juridicamente relevante e “ verdadeiro”. Essa
ficção jurídica é oriunda da necessidade de aceitabilidade da prestação
jurisdicional do Estado.
Pela atual sistemática processual e estrutural do Poder Judiciário,
o magistrado se vê tolhido, em muitas vezes, da realidade fática vivida
pelas partes. O processo, por fim, torna-se muitas vezes apenas um
aglomerado de petições e documentos, em vez do pleito e necessidades
de pessoas reais, com sentimentos e anseios verdadeiros, materiais e
não surreais.
Essa relação sutil apenas se torna mais próxima, mas de maneira
insuficiente, no momento das audiências, quando o magistrado, antes
de proferir seu decisum, se depara com as partes.
Nesse sentido, os auxiliares do juízo são peças fundamentais para
o convencimento do magistrado, esposados em peças formuladas pelas
partes, por meio de seus procuradores ou representantes legais, ou
órgão do Ministério Público.
Os peritos multidisciplinares, no momento da averiguação dos
fatos, trazem ao processo uma amostra documentada da realidade,
mediante seus conhecimentos técnico-especializados, pois eles
participaram in locu daquilo que o magistrado não pôde vislumbrar.
Por estatística, em torno de 90% das decisões judiciais acolhem
parcial ou totalmente o laudo apresentado pelo perito
multidisciplinar.81 O entendimento e a realidade trazidos pela perícia
social em um processo judicial são determinantes para o desfecho da
lide, podendo inclusive, conforme já se vislumbrou, fundamentar
recurso para correção parcial ou total da decisão contrária a ela.

5.2 ATUAÇÃO DO PERITO MULTIDISCIPLINAR: DELIMITAÇÃO


DE CAMPO
Quer seja para averiguação das alegações trazidas pelas partes ou
percepção pelo magistrado ou representante do Ministério Público da
existência de Alienação Parental, quer seja para subsidiar a decisão
judicial na modificação da guarda ou outra medida que venha a atender
às necessidades do menor ou da parte alienada, é patente que deve
haver uma delimitação de qual área será objeto da perícia e qual
profissional será o responsável por ela, bem como se as perícias
interdisciplinares serão promovidas isoladamente ou em conjunto.
Assim, seguem algumas linhas iniciais sobre em qual área os
peritos normalmente atuam nas ações de guarda, bem como o objeto
de sua competência.
5.2.1 Perito social
A atuação do assistente social é padrão nos processos de guarda. O
magistrado sempre busca neste profissional os subsídios necessários
para sua decisão em virtude da proximidade que aquele possui em
relação às partes envolvidas no processo. Embora realize trabalhos de
“ mero expediente”, quando o trabalho do assistente social implica em
produção de prova, quer no campo administrativo, quer no campo
judicial, esse serviço é chamado de perícia social.
Está em construção a noção da atuação do assistente social como
perito social, haja vista sua longa presença no Judiciário e a confusão
que os operadores jurídicos criaram em compreender que sua atuação
ora é de um auxiliar permanente do juízo, ora é de um perito (que por
natureza é um auxiliar eventual, como já se explanou).
O fato é que diversas iniciativas buscam aplicar este regramento
da perícia social na atuação do assistente social, quando requerida pelo
magistrado.
O Ministério Público de Goiás, por exemplo, em 1998, abriu
concurso para provimento de cargo de T écnico Pericial em
Assistência Social (recentemente alterou-se a nomenclatura para
Perito em Serviço Social). Os trabalhos de perícia social têm sido
interligados com os de outros profissionais, formando uma equipe
interdisciplinar, empreendendo, assim, perícias psicossociais,
socioambientais, socioeducativas, socioeconômicas, entre outras. No
Distrito Federal,82 Santa Catarina,83 São Paulo 84 e Rio Grande do Sul,85
bem como em outros Estados, principalmente nas comarcas onde há
maior contato com o meio universitário, semelhante situação é
apresentada.
Nos casos em que se discuta a guarda, por exemplo, enquanto o
objeto periciado pelo psicólogo são as relações afetivas e subjetivas
dos envolvidos, o do assistente social será a convivência entre os pais
e o menor, verificando as condições e a realidade social existentes,
ponderando qual será a melhor para a criança ou adolescente.
Na prática da perícia social e pela rotineira e indispensável
presença desse profissional, por vezes há um avanço sobre outras
áreas que lhe fogem a formação técnica. Há de se atentar para que o
perito social não transponha seus limites teóricos, pois as questões
referentes às condições pedagógicas, físicas ou psicológicas
pertinentes às pessoas envolvidas nas discussões de guarda, bem como
em outros processos, não são objetos de sua perícia, mas de outros
profissionais, como se verá a seguir.
Nota-se que a funcionalidade do perito social (assistente social) é
mais premente nos casos de guarda, porém, nos casos de Alienação
Parental, é o psicólogo o profissional especializado.

5.2.2 Perito psicológico


Quando constatada na lide a presença de Alienação Parental, e
precisando o juiz determinar quem tem melhores condições
psicológicas para ter ou manter a guarda, o objeto a ser periciado são
questões que fogem à objetividade da realidade e estrutura social da
família, em que, pela necessidade de se vislumbrarem os impactos e as
questões subjetivas envolvidas, urge o chamamento do profissional da
psicologia para atuação nessas situações.
A perícia psicológica irá vislumbrar, por exemplo, qual dos
genitores tem melhores condições de corresponder às necessidades do
menor. Quais são essas necessidades?
Essas e outras questões serão respondidas por meio de um
profissional que terá condições e metodologia específicas e eficazes
para tal averiguação.
Segundo Saidy Karolin Maciel, a perícia psicológica consiste:
“ [em] fornecer provas técnicas, que possam subsidiar os juízes na tomada de
decisão sobre processos que estão em litígio, onde a tarefa do perito é o
informante sobre assuntos específicos.” (p. 12). [...]
“ O psicólogo está compromissado com o diagnóstico da saúde mental dos
periciados, com o reconhecimento das dinâmicas e vínculos por eles
estabelecidos” (p. 14). [...]86
O Decreto-lei 53.664, de 21.01.1964, que regulamenta a Lei
4.119, de 27.08.1962, sobre a profissão do psicólogo, informa que
entre as atribuições do psicólogo estão “ realizar perícia e emitir
pareceres sobre a matéria de psicologia”.
O psicólogo jurídico faz a escuta do não dito.87 Seu trabalho
pericial adentra no subjetivismo humano, nas questões que fogem da
competência de outros profissionais e sobre seu laudo apresentado
residirá, provavelmente, o fundamento da decisão judicial.
A atuação do perito psicológico servirá, também, para averiguar o
objeto de conflito vivenciado entre aqueles que disputam a guarda e
sua inter-relação com os motivos do conflito e interesses da criança
ou adolescente:
“ O sofrimento das pessoas que optam por um litígio é óbvio, as mágoas, as
frustrações e tudo o mais fica expresso nas folhas dos autos que são
apresentados aos juízes, porém não fica claro por que optaram por essa forma de
resolução de conflito. P artindo desse raciocínio, a eficácia seria tão mais
alcançada se as partes envolvidas pudessem entender melhor todo o trajeto que
percorreram até a situação de litígio e sobre a responsabilizarem pelas decisões
tomadas, se implicando no próprio processo. Esta atuação, que pode ser
chamada de um processo de mediação, poderia ser adotada no contexto da
perícia, ampliando o caráter investigativo que a perícia tem atualmente”.88

A diversidade dos motivos do litígio, que acompanha a


complexidade da família moderna, não se restringe apenas ao que
acima fora relatado, mas a outras de diversas ordens: ideológicas,
socioculturais, financeiras, políticas, religiosas, moral, de motivação,
estritamente práticas, entre outras.

5.2.3 O utros peritos


Com a diversidade de objetos dos conflitos familiares, a
experiência e competência dos profissionais do serviço social ou da
psicologia não suportam a amplitude daquela seara; é preciso a
intervenção de outros profissionais, de outras áreas como a medicina,
pedagogia, entre tantas outras que se fizerem necessárias.
5.2.4 Q uadro de perícias multidisciplinares em relação ao
objeto
Na discussão da guarda ou existência de alienação parental sempre
são ventilados motivos para ensejarem a mudança ou revisão dos
termos da guarda ou visitação. Como nos casos da guarda
compartilhada há de certa forma um acordo entre os guardiões na
utilização desta modalidade, é na mudança de guarda unilateral ou
conversão da guarda compartilhada em unilateral (quando aquela não
mais funciona) que residem algumas discussões que deverão ser
apreciadas por peritos competentes.
Assim, segue um quadro esquemático com uma breve narrativa
funcional e o respectivo perito judicial ou extrajudicial competente
para a matéria:

MA TÉRIA PERITO A SER INDICA DO

Condição e análises da situação familiar, sua


comunidade e realidades vivenciadas pelas Assistente Social
partes

Condições e análises do subjetivismo e das Psicólogo


inter-relações entre as partes envolvidas

Situações clínicas quanto à saúde física dos Médico em suas especialidades


envolvidos

Questões concernentes à escola, planos Pedagogo ou psicopedagogo


pedagógicos, relação e ambiente escolar

A seguir apresentamos alguns exemplos de situações fáticas que


ilustram o quadro acima:

SITUA ÇÃ O PERITO A SER INDICA DO


Situações em que há de se averiguar casos
de guardião que se ausenta (ou viaja) com a Assistente social
criança sem comunicar ao não guardião, nos
dias da visita designada

Problemas de saúde que determinam que o


local onde o menor reside ou irá residir lhe
seja agravante por conta da alta ou baixa Médico
umidade ou outras causas relativas à sua
saúde

Questões sobre a idoneidade do guardião ou Assistente Social


não guardião

Relação afetiva consolidada para justificar a Psicólogo


mantença ou mudança da guarda

Indicação de mudança de guarda por causa Pedagogo ou psicopedagogo


de melhor acesso ao ensino

Percepção de existência de Alienação Psicólogo


Parental

Anexo I – Questionário realizado com juízes de primeiro grau. In: FREITAS, Douglas
P hillips; FREITAS, Karinne Brum Martins. Perícia social: o assistente social e a
perícia no judiciário. Florianópolis: OAB/SC, 2003. p. 125.
Vinculado ao Ministério P úblico do Distrito Federal há o Núcleo de P erícia Social
(Nupes).
Em Santa Catarina há um grande expoente e pesquisador sobre a matéria, o assistente
social e bacharel em Direito, serventuário do TJSC, Alcebir Dal P izzol.
Em São P aulo, por exemplo, a Portaria 9, de 13.03.2007, do Juiz Federal Nelson de
Freitas Porfirio Junior, presidente em exercício do Juizado Especial Federal de
Lins, no uso de suas atribuições legais e regulamentares, regulou a realização das
perícias sociais relativas às ações previdenciárias e de benefícios assistenciais em
trâmite naquele Juizado.
Denise Duarte Bruno, assistente social do Judiciário gaúcho produz importante
trabalho de conceituação e aplicação da perícia social.
MACIEL, Saidy Karolin. Perícia psicológica e resolução de conflitos familiares.
2002. Dissertação (Mestrado em P sicologia) – UFSC, Florianópolis. Disponível em:
<http://www.tede.ufsc.br/teses/P P SI0080.pdf>.
FERNANDES, H. M. R. Psicologia, serviço social e direito: uma interface
produtiva. Editora Universitária UFP E, 2001.
MACIEL, Saidy Karolin. Perícia psicológica e resolução de conflitos familiares.
2002. Dissertação (Mestrado em P sicologia) – UFSC, Florianópolis, p. 34.
Disponível em: <http://www.tede.ufsc.br/teses/P P SI0080.pdf>.
GUARDA COMPARTILHADA COMO
FORMA DE REDUÇÃO DA
INCIDÊNCIA DE SÍNDROME DE
ALIENAÇÃO PARENTAL

6.1 PO DER FAMILIAR E SEU EXERCÍCIO

6.1.1 Do pátrio poder


Em Roma, o poder familiar era um direito do pater familias
exercido sobre os filhos, esposa e demais descendentes. O filho,
independentemente da idade e do estado civil, continuava a ser
dominado pela autoridade do pai enquanto ele vivesse, quando então
passava a ser o pater familias.89
Etimologicamente, a palavra Pater está relacionada com os
deuses, em linguagem religiosa; e em linguagem jurídica, a todo
homem que não dependesse de outro e que tivesse autoridade sobre
uma família ou sobre um domínio.90
Em país de tradição romana, a soberania era do pai. Nos povos
germânicos, o poder do pai consiste na orientação e proteção dos
filhos, como parte de uma proteção mais geral projetada para todo o
grupo familiar, sendo seu exercício temporário, com atribuições
funcionais à mãe e sem impedimento à constituição de bens pelos
filhos.
Conforme Waldyr Grisard Filho,
“ O Cristianismo, de indubitável influência como fatos de temperança dos
costumes, produziu uma síntese destes dois sistemas, impondo aos pais o
gravíssimo dever e direito primário de, na medida de suas forças, cuidarem da
educação, tanto física, social e cultural, como moral e religiosa da prole.”91

Os poderes conferidos ao chefe da família não eram puramente


domésticos. Havia em torno de si todo um reflexo político, religioso e
econômico.
Karen Ribeiro Pacheco Nioac de Salles afirma que:
“ O pater familiae exercia, exclusivamente, para si e em seu proveito, as
funções de sacerdote, de juiz, de chefe e administrador absoluto do seu lar.”92
“ Nesses primórdios, o pai não era apenas o homem forte que protegia os seus
e que tinha também a autoridade de fazer-se obedecer: o pai era, além disso, o
sacerdote, o herdeiro do lar, o continuador dos ancestrais, o tronco dos
descendentes, o depositário dos ritos misteriosos do culto e das fórmulas
secretas da oração. Toda religião residia no P ai.”93

O pai possuía não apenas os “ direitos” acima descritos, mas dava


o sustento à família, logo, sua legitimidade não era apenas moral, mas
decorrente de uma necessidade vital, o de alimento, portanto, sua
palavra era soberana e acolhida por seus “ subalternos”.
O absolutismo desse poder patriarcal conferia o direito de expor
ou matar o filho (ius vitae et necis), vendê-lo (ius venendi), abandoná-
lo (ius exponendi) ou de entregá-lo à vítima de dano (ius noxae
deditio).
Sustenta, ainda, a autora:
“ O pai de família gozava de autoridade própria, independente, que não era
conferida por lei, nem adstrita pelo Estado, e se assemelhava à autoridade
pública, a pequena monarquia, com as seguintes características: não possuir
território e constituir simples associação de pessoas.”94

Somente em caso de falta ou impedimento do pai, a mãe assumia


a função.95 A função da mulher, que era de gerar, criar e educar os
filhos, bem como cuidar da casa, não a permitia questionar as decisões
do marido, logo, os homens, em um inconsciente coletivo, assumiam
melhor gradação em relação às mulheres, perdurando por séculos a
total inexistência de isonomia entre homem e mulher, mesmo quando
não casados. A mulher, em posição secundária, foi por muitos anos
uma coadjuvante em relação ao homem.96
Entre o Código Civil de 1916 e a vigência da Constituição Federal
de 1988, o poder familiar era exercido legitimamente pelo pai, tanto
que a expressão legal era de “ pátrio poder” e a este eram dadas
prerrogativas únicas em detrimento da genitora. Com a igualdade
entre homens e mulheres consagrada no art. 5.º da Carta Magna,
houve uma necessária mudança de interpretação e de nomenclaturas
da referida lei civilista.
Somente com o advento do Código Civil de 2002 houve a
oficialização dessa mudança de expressão, passando agora o poder
gerencial dos filhos menores aos pais, não apenas ao genitor, a ser
chamado de “ poder familiar”, consequentemente, consagrou-se o
entendimento de que a expressão da Lei de 1916 (pátrio poder) não
havia sido recepcionada pela Constituição Cidadã.
Segundo Paulo Luiz Netto Lôbo:
“ Significa dizer que suas normas hão de ser interpretadas em conformidade
com os princípios e regras que a Constituição estabeleceu para a família no
ordenamento jurídico nacional, animados de valores inteiramente diferentes dos
que predominavam na sociedade brasileira, na época em que se deu a redação do
capítulo ao pátrio poder do código de 1916, que, em grande medida, manteve-se
no capítulo destinado ao poder familiar para a família do século XXI.”97
O inovador texto constitucional informa:
“ Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do estado. §
1.º O casamento é civil e gratuita a celebração. § 2.º O casamento religioso tem
efeito civil, nos termos da Lei. § 3.º P ara efeito da proteção do estado, é
reconhecida a união estável entre homem e mulher como entidade familiar,
devendo a Lei facilitar sua conversão em casamento. § 4.º Entende-se, também,
como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes. § 5.º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são
exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 6.º O casamento civil pode ser
dissolvido pelo divórcio. § 7.º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa
humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do
casal, competindo ao estado propiciar recursos educacionais e científicos para o
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais privadas. § 8.º O estado assegurará a assistência à família na
pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a
violência no âmbito de suas relações”.

Conforme se pode vislumbrar no § 5.º do texto acima, há


igualdade plena entre o homem e a mulher, também quando pais, de
modo que ambos passaram a exercer, de forma igualitária, o poder
familiar, equiparando-lhes a importância dos respectivos papéis na
vigência e organização da família. Mãe e pai exercem conjuntamente,
casados ou não, o poder familiar.
O mais significativo efeito da metamorfose jurídica no que tange à
família foi com relação à prioritária tutela da proteção à dignidade da
pessoa, base comum da qual derivam todos os demais princípios que
informam um ou outro ponto do direito de família.98
Na lei civil de 2002, em seu art. 1.630, é disposto que: “ Os filhos
estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores”. Maria Helena
Diniz dita que:
“ O poder familiar consiste num conjunto de direitos e obrigações, quanto à
pessoa e bens do filho menor não emancipado, exercido em igualdade de
condições por ambos os pais para que possam desempenhar os encargos que a
norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o interesse e a proteção dos filhos”.99

Com a independência do poder familiar em relação à existência da


união conjugal dos pais, a discriminação havida em relação às famílias
monoparentais100 ou biparentais,101 entre outros tipos, torna-se
inconstitucional.
Observe-se que a Constituição Federal fixa os deveres atribuídos
não só àqueles que detêm o poder familiar, mas ao Estado e à própria
sociedade:
“ Art. 227. É dever da família, da sociedade e do estado assegurar à criança,
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão”.102

O poder familiar vem acompanhado de vários direitos e deveres


elencados no art. 229 103 da Carta Magna, art. 1.634 do Código Civil
de 2002, em especial o da guarda dos filhos, também mencionado nos
arts. 1.583 e 1.584 do mesmo diploma legal (alterados pela Lei
11.698/2008).
A isonomia e proteção trazidas pelos textos acima obtêm no
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei 8.069/1990) uma
pormenorização. Inclusive, a criação de uma série de institutos com
intuito de dar proteção integral à criança e ao adolescente.
Decorrente dessa evolução sociojurídica, não há definição de
limites ou competências no exercício do poder familiar que será
realizado pelos pais de forma conjunta. Lembrando que tal evolução,
nas palavras do grande jurista paranaense Eduardo de Oliveira Leite,
decorre de dois grandes catalisadores, um de ordem fática (o
desaparecimento da família patriarcal e a substituição pela família
nuclear, estruturada na igualdade e no companheirismo), outro por
força do dito legal dos arts. 5.º, I, e 226, § 5.º, da Carta Magna de
1988 (que estabeleceu igualdade absoluta entre homens e mulheres na
condição de pessoas ou pais).104
Antes do advento da lei que institui a guarda compartilhada, na
separação dos pais, em regra, a guarda era entregue a apenas um deles,
o que dificultava o exercício pleno do poder familiar por ambos: um
deles seria prejudicado em razão da permanência inconstante junto ao
filho. Apesar desta dificuldade, permanece o poder-dever do pai ou
mãe que não recebeu a guarda física da criança de auxiliar o guardião
na educação, orientação e sustento do filho, fora da estrutura familiar
que, muitas vezes, nem existe.105
O poder familiar possui determinadas características. É
irrenunciável: os pais não podem desobrigar-se do poder familiar por
tratar-se de um dever-função; é imprescritível, dado que o fato de não
exercê-lo não leva os pais a perder a condição de detentores desse
poder, e é inalienável e indisponível, pois não pode ser transferido a
outras pessoas pelos pais, seja a título gratuito ou oneroso.
Apesar de o Estado ter estabelecido o poder familiar como um
preceito de proteção e defesa da criança, do adolescente e da família
natural, o Código Civil, em seu art. 1.635, previu algumas
possibilidades de acontecimentos naturais que operariam a sua
extinção: morte dos pais ou do filho, emancipação, maioridade,
decisão judicial e adoção.106 É prevista também a destituição do poder
familiar, no art. 1.638 do Código Civil, como consequência de
abandono ao filho, material ou moral, castigo imoderado, atos
contrários à moral e aos bons costumes, bem como incidência nas
faltas previstas no art. 1.637.107

6.1.2 Do exercício do poder familiar


Em relação ao exercício do poder familiar, é o tratamento
jurídico do atual codex civilista:
“ Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: I –
dirigir-lhes a criação e educação; II – tê-los em sua companhia e guarda; III –
conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV – nomear-lhes tutor
por testamento ou documento autêntico, se outro dos pais não sobreviver, ou o
sobrevivo não puder exercer o poder familiar; V – representá-los, até aos
dezesseis anos, nos atos da vida civil e assisti-los, após essa idade, nos atos em
que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VI – reclamá-los de quem
ilegalmente os detenha; VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito, e os
serviços próprios de sua idade e condição”.
A realização das tarefas legais dos pais deve ser cumprida com zelo
e amor necessários para o bom desenvolvimento físico e emocional da
prole, sob pena de prejuízos irreparáveis ao menor. Há quem sustente
que o cumprimento insatisfatório desta obrigação gera a possibilidade
de reparação civil (abandono afetivo), porém a atual posição do ST J é
no sentido contrário.108
Outrossim, com o advento da Lei da Alienação Parental, embora
o “ Abandono Afetivo” não seja reconhecido pelo ST J, parece que o
“ Abuso Afetivo” ou “ Abuso Moral”109 pelo exercício abusivo do
Poder Familiar na prática da alienação parental gera direito de
compensação, tanto pelo menor como pelo genitor alienado,
conforme será discutido na última parte do livro.

6.2 DA GUARDA E SUAS MO DALIDADES


Guarda é a condição de direito de uma ou mais pessoas, por
determinação legal ou judicial, em manter um menor de 18 anos sob
sua dependência sociojurídica, podendo ser unilateral ou
compartilhada. Do latim guardare e no germânico wardem, seu
significado reside em proteger, conservar, olhar, vigiar.110
No Decreto 181, de 1890, era estabelecido que:
“ Art. 90. A sentença do divórcio mandará entregar os filhos comuns e
menores ao cônjuge inocente e fixará a cota com que o culpado deverá concorrer
para a educação deles, assim como a contribuição do marido para sustentação da
mulher, se esta for inocente e pobre”.111

O Código Civil de 1916 fazia distinção entre separação amigável e


litigiosa para decidir qual dos ex-cônjuges ficaria com a guarda dos
filhos menores. Quando consensual, a guarda era atribuída conforme
ajuste das partes; já no litígio, eram analisados diversos fatores, como
a idade e o sexo das crianças, e a existência ou não de um cônjuge
culpado pela dissolução familiar.
No Decreto-lei 3.200, de 1941, a prioridade era do pai, salvo em
caso de prejuízo do bem-estar da criança e do adolescente.
Posteriormente, na Lei 4.121, de 1962, o Estatuto da Mulher Casada,
os fatores idade e o sexo dos filhos não eram mais determinantes, mas
qual dos cônjuges era o inocente. No caso de culpa recíproca, ficaria
com a mãe.
A Lei do Divórcio (Lei 6.515, de 1977) conferia a guarda àquele
com quem a criança convivia à época da separação, ou àquele que
melhor pudesse mantê-los.
Nas legislações posteriores – a Constituição de 1988, o Estatuto
da Criança e do Adolescente e o Código Civil de 2002 –, a criança
finalmente deixa de ser uma espécie de espólio de guerra ou prêmio ao
inocente, e passa a ser fixada a guarda para aquele que melhor
condição possuir para a mantença do infante, sendo analisados, para
tal conclusão, em primeiro lugar, o interesse e o bem-estar da criança
e do adolescente e, posteriormente, as condições de cada um dos pais
de atender individualmente a esses interesses.112
Antes de entrar em vigor a Lei 11.698/2008 (Lei da Guarda
Compartilhada), o Código Civil de 2002 estabelecia a guarda unilateral
como modalidade legal. Com a nova regra jurídica, a guarda
compartilhada passa a ser uma opção que deve ser incentivada e
explicada a fim de sua adoção.
Independentemente de ter sido fixada guarda unilateral ou
compartilhada, a lei civilista informa:
“ Art. 1.586. Havendo motivos graves poderá o juiz em qualquer caso, a bem
dos filhos, regular de maneira diferente da estabelecida nos artigos antecedentes
a situação deles para com os pais”.

6.2.1 Do “mátrio poder”


Após anos de um ordenamento jurídico (anterior à Carta Magna
de 1988) que dava preferência ao homem, a mulher, enfim, goza de
nova situação sociojurídica. Independentemente de ter sido acusada
por dar causa à separação (mito este que perdura no direito: apenas um
responsável pela separação),113 não deve ser a criança punida se a mãe
é quem tem melhores condições de receber a guarda. Neste sentido:
“ Se a mulher não teve a pecha de mau comportamento e se é boa mãe, embora
tenha falhado como esposa ao praticar adultério, a ela deve ser conferida a
guarda do filho, pois o interesse e bem-estar do menor devem o tribunal maior a
decidir o seu destino, sobretudo tendo-se em conta que a profissão do pai o leva
a estar sempre ausente de casa” (Tribunal de Justiça Minas Gerais (TJMG), Rel.
Des. Francisco Figueiredo, RT 694/161).

Essa decisão, destarte a expressão “ falhado como esposa”,


demonstra a evolução jurídica havida no sentido de não discriminar a
mulher adúltera, que sempre fora alvo de preconceito, principalmente
após o escândalo havido em 60 a.C, em Roma, onde surgira a frase “ a
mulher de Cesar não basta ser honesta, tem que parecer honesta”.
Por ser a sociedade, até recentemente, ditada exclusivamente
pelos homens, a noção de mulher se aproxima demasiadamente da de
mãe, pois há apenas algumas décadas as mulheres viviam
exclusivamente na labuta da maternidade, e esta era a única correlação
que se fazia ao gênero feminino. A mulher-mãe no imaginário
moderno supera a figura do homem, neste mesmo ideário, uma vez
que o genitor é vinculado à mantença do lar, à responsabilidade pelo
trabalho, e não ao carinho, amor e proteção que aquela possui.
Embora nos últimos anos haja uma alteração de papéis, em que os
homens se aproximam dos filhos e as mulheres assumem os encargos
financeiros do lar, ainda há preconceito no que tange à guarda paterna
dos filhos. De maneira geral, considera-se a mulher naturalmente boa,
abnegada, apegada aos filhos (ideário da mulher-mãe), razão pela qual
os julgadores ainda lhes têm, na maioria dos casos, atribuído a guarda
dos filhos.114
A Associação dos Pais Separados (Apase), que anos mais tarde se
tornou a Associação dos Pais e Mães separados, teve sua gênese
exatamente na crítica exposta acima e na (re)conceitualização do
homem-pai, entre outras bandeiras. Desse importante instituto surge o
projeto que culminou na lei da guarda compartilhada.
O fato é que, ao pugnar pelo melhor para a criança, deve o
julgador levar em conta os critérios estabelecidos em lei, a orientação
dada pelos profissionais que auxiliam o juízo (equipe multidisciplinar)
e, de forma alguma, preconceitos sexistas.
6.2.2 Da guarda compartilhada (e sua diferença da alternada)
A guarda exclusiva, unilateral ou invariável é preconceituosa e não
atende às necessidades da criança ou adolescente, visto que não se deve
dispensar a presença constante do pai ou da mãe em plena formação
dos filhos. O modelo de guarda exclusiva cedeu lugar a outros modos
de exercício pleno da autoridade familiar.115
A Carta Magna declara que homens e mulheres são iguais perante
a lei, razão pela qual não deve existir preferência, visto que a
felicidade dos filhos somente será assegurada se eles crescerem com o
acompanhamento direto dos pais.116
Segundo Waldyr Grisard Filho:
“ A redistribuição dos papéis na comunidade familiar, como exigência da
evolução dos costumes nas sociedades modernas, decretou a impropriedade da
guarda exclusiva, impondo a reconsideração dos parâmetros vigentes, que não
reservam espaço à atual igualdade parental”.117

Para diminuir a ausência de proximidade da criança ou adolescente


com pai ou mãe que já não compartilha com ele o mesmo lar, e para
atender às necessidades surgidas do novo enfoque dado pela sociedade
ao direito de família, que privilegia o interesse da prole, surgiu a
modalidade de guarda conjunta ou compartilhada.
A guarda compartilhada é um sistema em que os filhos de pais
separados permanecem sob a autoridade equivalente de ambos os
genitores, que vêm a tomar em conjunto decisões importantes quanto
ao seu bem-estar, educação e criação. Esse é um dos meios de
exercício da autoridade familiar, que busca harmonizar as relações
pai/filho e mãe/filho, que espontaneamente tendem a modificar-se
depois da dissolução da convivência.118
Relata, ainda, Grisard Filho:
“ Este modelo, priorizando o melhor interesse dos filhos e a igualdade dos
gêneros no exercício da parentalidade, é uma resposta mais eficaz à continuidade
das relações da criança com seus dois pais na família dissociada,
semelhantemente a uma família intacta. É um chamamento dos pais que vivem
separados para exercerem conjuntamente a autoridade parental, como faziam na
constância da união conjugal, ou de fato”.119
“ É uma modalidade de guarda na qual ambos os genitores têm a
responsabilidade legal sobre os filhos menores e compartilham, ao mesmo tempo
e na mesma intensidade, todas as decisões importantes relativas a eles, embora
vivam em lares separados”.120

Karen Ribeiro Pacheco Nioac de Salles121 explica bem esta


modalidade de guarda:
“ A modalidade compartilhada atribuída à guarda dá uma nova e inédita
conotação ao instituto do pátrio poder, já que tem por finalidade romper com a
ideia de poder e veicula a perspectiva da responsabilidade do cuidado das
crianças e do convívio familiar. A partir deste novo conceito, é retirada da
guarda a conotação de posse, privilegiando-se a ideia de estar com, de
compartilhar, sempre voltada para o melhor interesse das crianças e
consequentemente dos pais”.

No ordenamento jurídico americano há larga produção doutrinária


sobre a guarda compartilhada, dentre seus maiores expositores há o
Dr. Henry S. Gornbein, que faz uma clara distinção entre a “ joint legal
custody” (compartilhamento na tomada das decisões) da “ joint
physical custody” (compartilhamento da guarda física e tomada das
decisões e responsabilidades diárias).122
Embora tenha se percebido que há uma necessidade dos pais e
filhos em terem maior tempo de convivência física, os tribunais
estrangeiros têm se valido da joint legal custody (guarda
compartilhada) como regra, somente algumas poucas decisões
permitem a joint physical custody (guarda alternada).
Nos Estados Unidos da América, onde o instituto tem maior
desenvolvimento e pesquisas, não há uma regra para definir qual
modelo de guarda deve ser adotado, pois o casal é submetido a um
estudo para se verificar o que é melhor para a criança.
No texto da lei brasileira, o juiz, na determinação de guarda
unilateral ou compartilhada, poderá (e deverá em casos de litígio) ser
orientado por uma equipe que será formada de assistentes sociais,
psicólogos, médicos, pedagogos e quem mais se achar necessário
dependendo do caso (sobre estes profissionais, melhor discussão se fez
no capítulo anterior). Não há proibição, entretanto, que a fixação seja
de guarda alternada, quando esta for espécie da compartilhada.
Embora haja uma diferença entre guarda compartilhada e
alternada feita pela doutrina, existindo, na primeira espécie, apenas o
compartilhamento das responsabilidades em relação ao menor,
enquanto na segunda modalidade a custódia física que é dividida, há
necessidade de se esclarecer que nesta não se pressupõe o
compartilhamento da guarda, trata-se de espécie da guarda unilateral,
por isto é tão criticada.
Ambas não se confundem com outra modalidade, muito rara de se
implementar, que é a nidação ou aninhamento, em que são os pais
quem alternam o período de convivência com o filho. A criança
permanece no mesmo lar, e os pais mudam-se periodicamente para a
residência do filho, modalidade difícil de implementar.123 Rolf
Madaleno informa que não é viável no plano prático, pois seria
extremamente dificultoso para os pais alternarem suas residências
todo ano, ficando também os filhos inseguros quanto à sua rotina.124
Sou igualmente contrário a esta modalidade (nidação ou aninhamento/
guarda alternada como espécie da guarda unilateral).
Não contrariando as críticas realizadas sobre a guarda alternada,
informo que, ao ser escolhida como espécie (modalidade) da
compartilhada, as críticas já tecidas na doutrina não contemplam esta
modalidade que, a meu ver, é de grande avanço ao instituto.
Conforme Claudia Baptista Lopes:
“ A desinformação de muitos sobre esse regime de guarda proposto iniciou
uma polêmica, pois se pensou que, com a adoção da guarda compartilhada, os
filhos menores permaneceriam por um período na casa da mãe e por outro período
na casa do pai, o que, dentre outros malefícios, dificultaria a consolidação de
hábitos na criança, provocando instabilidade emocional.”125

Tais observações são feitas, pois há uma confusão doutrinária


entre guarda unilateral alternada (que é criticada) e guarda
compartilhada alternada (que já ocorre nos EUA). Todas as críticas
que residem na guarda alternada são por conta da primeira modalidade,
realmente problemática. Embora não haja esta divisão na doutrina,
faço-a para dinamizar os conceitos que logo trabalharei e justificar o
posicionamento, a meu ver, equivocado sobre os referidos institutos.

6.2.2.1 Guarda alternada como espécie da unilateral


A guarda alternada como espécie da guarda unilateral, ou guarda
unilate ral alte rnada, confirma, sem dúvida, as críticas levantadas,
bem como tantas outras. Afinal, esta modalidade consiste na
alternância e não pressupõe cooperação entre os genitores nas
questões relativas aos filhos. Cada um decide sozinho durante o
período de guarda que lhe cabe, inclusive a guarda física da criança,
que, de tempos em tempos, muda de residência.126

6.2.2.2 Guarda alternada como espécie da compartilhada


Na guarda compartilhada não existe a conotação de posse. É
privilegiada a ideia de “ estar com”, “ de compartilhar”, sempre voltada
para o melhor interesse dos filhos e, consequentemente, dos pais. Ela
só é cabível em hipótese de total acordo sobre todas as questões
relativas à criança e ao adolescente.127
Como ocorrido nos Estados Unidos da América, no instituto do
joint physical custody, a guarda alternada como espécie de guarda
compartilhada (ou guarda compartilhada alternada) implica o
exercício concomitante não apenas do poder familiar, das decisões de
importância para a vida dos filhos (debatidas de maneira igualitária
entre o pai e a mãe), como de sua guarda física. sendo que, dependendo
da maturidade do relacionamento entre os pais e seu bom convívio,
poderão combinar até mesmo o livre acesso às residências durante a
alternâncias entre elas.
Arnaldo Rizzardo é contrário à guarda alternada, visto que todo
cidadão tem a necessidade básica de ter um lar ou moradia fixa. Caso
contrário, haverá instabilidade e insegurança por parte da criança e
adolescente, além de possíveis conflitos.128
Na guarda compartilhada alternada a criança tem sua residência
distribuída nos lares dos guardiões e a construção psicossocial em
torno deste conceito é feito gradativamente entre os familiares
envolvidos. A criança deve sentir-se em casa em ambas as residências
sob pena de inviabilizar o instituto.129 Assim, os problemas e críticas
sobre a criança não ter residência fixa, nestes casos, se tornam
superados.
Não há dúvidas de que tanto nos Estados Unidos da América, com
a joint physical custody, como no Brasil sua aplicação será gradativa,
com resistências e avanços, pois se trata de uma modalidade ulterior à
guarda compartilhada simples, pois rompe as barreiras da mera divisão
de responsabilidade e avança em outras fronteiras, como a inclusão do
tempo de convivência livre e ilimitado entre guardiões que, de forma
racional e madura, buscam e fe tivame nte o melhor para a criança.
Segundo Eduardo de Oliveira Leite:
“ Talvez, nem se trate de aprovar ou reprovar a guarda conjunta, mas, sim, de
avaliar seus pontos favoráveis (ou vantagens) e aqueles que ainda exigem dos
estudiosos a contribuição de seus estudos e experiência capazes de sugerir
melhorias, ou mesmo alterações, nas práticas vigentes. [...] quanto às vantagens,
tudo leva a crer que o interesse da criança seja o argumento fundamental
invocado pelos adeptos da guarda conjunta. Argumento válido e defensável já
que o interesse da criança é o critério determinante de atribuição da guarda.”130

6.2.3 Da visita ao convívio


Aos menores deve ser concedido o direito de conviver com ambos
os genitores. Não há dúvidas de que há “ traumas, sofrimentos e
angústia pela espera e pela incerteza da companhia daquele que é o
responsável por sua existência em um certo fim de semana”.131
Maria Berenice Dias se posiciona da seguinte maneira:
“ Ao contrário do que todos proclamam, esta não foi uma vitória dos pais,
mas uma grande conquista dos filhos, que não podem mais ser utilizados como
moeda de troca ou instrumento de vingança. Acabou a disputa pela posse do
filho que, tratado como um mero objeto, ficava sob a guarda da mãe que detinha o
poder de permitir ou não as visitas do pai. Agora os filhos adquiriram o direito
de não serem mais chamados de filhos da mãe!”132
Em todos os países que há institucionalizada a guarda
compartilhada, as experiências são positivas, bem como os reflexos
sociojurídicos:
“ Durante a infância e a adolescência, o ser humano se encontra em uma fase
peculiar de sua existência e as experiências que vai vivenciar ao longo desta
etapa da vida terão repercussão na formação de sua estrutura psíquica. Dentre os
fatos mais importantes deste momento tão peculiar estão aqueles que dizem
respeito ao relacionamento da criança com seu pai e sua mãe e que terão ligação
direta com o exercício das respectivas funções materna e paterna”.133

Para os estudiosos, a estabilidade dos filhos está relacionada à


presença dos genitores, com a segurança de que tem um lugar na casa
de cada um. Com a guarda compartilhada, os pais que não possuem a
guarda física passam a ter mais os filhos em sua companhia, podendo
levá-los para suas casas com maior frequência e lá manter um
ambiente onde ele possa se sentir protegido.
A aplicação desse instituto também significa que os genitores
passam a tomar as decisões sobre os filhos de forma conjunta e
consensual, pois ambos fazem parte do dia a dia da criança ou do
adolescente, não mais existindo a figura do cônjuge visitante. O filho,
consequentemente, sente menos os efeitos da separação dos pais.
Conforme Ana Carolina Silveira Akel Pantaleão:
“ A guarda compartilhada de forma notável favorece o desenvolvimento das
crianças com menos traumas e ônus, propiciando a continuidade da relação dos
filhos com seus dois genitores, retirando assim da guarda a ideia de posse.
Nesse novo modelo de responsabilidade parental, os cuidados sobre a criação,
educação, bem-estar, como outras decisões importantes, são tomadas e decididas
conjuntamente por ambos os pais que compartilharão de forma igualitária a total
responsabilidade sobre a prole. Assim, um dos genitores terá a guarda física do
menor, mas ambos deterão a guarda jurídica da criança. Não resta dúvida que a
continuidade da relação da criança com seus genitores acabam por manter de
forma mais normal e equilibrada o estado emocional e psicológico dos filhos. O
que se busca com a guarda compartilhada além, é claro, de proteção dos filhos, é
minimizar os traumas e demais consequências negativas que a separação pode
provocar. Com a guarda compartilhada almeja-se, através do consenso entre os
cônjuges separados, a conservação dos mesmos laços que uniam pais e filhos
antes da separação, buscando-se um maior equilíbrio e harmonia na mente
daqueles que são os destinatários desta solução”.134
A utilização da guarda compartilhada como forma de superação
das limitações da guarda unilateral é, entre tantos outros benefícios,
um meio de evitar a síndrome da alienação parental.
A jurista gaúcha Maria Berenice Dias informa: “ Quem lida com
conflitos familiares certamente já se deparou com um fenômeno que
não é novo, mas que vem sendo identificado por mais de um nome:
alienação parental ou implantação de falsas memórias”, que é a
conduta sistemática de fazer o menor alienado “ odiar o outro genitor.
T rata-se de verdadeira campanha de desmoralização. A criança é
induzida a afastar-se de quem ama e de quem também a ama. [...]
Neste jogo de manipulações, todas as armas são utilizadas, inclusive a
assertiva de ter havido abuso sexual. O filho é convencido da
existência de determinados fatos e levado a repetir o que lhe é
afirmado como tendo realmente acontecido. [...] Essa notícia, levada
ao Poder Judiciário, gera situação das mais delicadas. [...] como o juiz
tem a obrigação de assegurar a proteção integral, reverte a guarda ou
suspende as visitas”.135
Com a convivência em vez de visita, certamente será evitada a
mazela da síndrome da alienação parental, principalmente na guarda
unilateral, pois o genitor não guardião, em vez de ser limitado a certos
dias, horários ou situações, possuirá livre acesso ou, no mínimo, maior
contato com a prole. A própria mudança de nomenclatura produz um
substrato moral de maior legitimação que era aquele de visitante. O
não guardião passa a ser convivente com o filho.
Esta expressão “ convivência” adotada na Lei da Guarda
Compartilhada também o é na Lei da Alienação Parental, atualizando
a expressão “ visita”, demonstrando que pais não visitam seu filhos,
mas convivem com eles, e tal convivência não pode, de forma
alguma, ser impedida por atos sistematizados decorrentes de alienação
parental.
Por esta razão, é adequado que a Lei da Alienação Parental
incentive a realização da Guarda Compartilhada, pois esta permite a
aproximação dos filhos sem a conotação de posse que advém da
guarda unilateral, embora, na prática, a Guarda Compartilhada, como
instituto, seja o resgate do conceito clássico do Poder Familiar.136

6.3 DA MO DIFICAÇÃO DA GUARDA Q UANDO HÁ ALIENAÇÃO


PARENTAL
Além da ampliação do período de convivência, como forma
primeira de combate aos efeitos e prática da alienação parental, a
modificação da guarda é situação que também surge como opção
trazida na Lei da Alienação Parental.
A guarda compartilhada possui grande poder em sua nomenclatura.
Na prática, ela exige, da mesma forma que a guarda unilateral, a
fixação do período de convivência mínimo com cada um dos pais e, a
princípio, a decretação do domicílio do menor.
Na verdade, a aplicação da guarda compartilhada não tem sido
realizada de acordo com o escopo da norma jurídica vigente, pois
geralmente é fixada somente em casos de acordo. Para tal situação
não haveria necessidade desta legislação, que veio exatamente para os
casos de litígio.
A lei civil vigente, alterada pela Lei da Guarda Compartilhada,
regra exatamente esta possibilidade, da sua fixação em casos de litígio,
ao dispor, no § 2.º do art. 1.584 do Código Civil, que “ Q uando não
houve r acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, se rá
aplicada, se mpre que possíve l, a guarda compartilhada”.
Nota-se que a Guarda Compartilhada, em substituição à Guarda
Unilateral, é agora – ou assim deveria ser – a modalidade/regra em
nosso ordenamento jurídico.
O mesmo discurso foi reforçado com o advento da Lei da
Alienação Parental, pois, como dito, o nome “ Guarda Compartilhada”
atinge exatamente aquilo que é mais bem guardado pelo genitor
alienador, o sentimento de “ posse/propriedade” sobre o filho.
“ Compartilhar”, para o alienador, é um profundo e eficaz golpe na sua
conduta alienadora, pois o filho deixa de ser “ meu” para ser “ nosso”.
É claro que a Guarda Compartilhada, em reflexos práticos, não
precisaria existir, salvo algumas exceções em que o guardião tem certa
preferência, pois, como dito, o conceito da Guarda Compartilha nada
mais é do que um resgate do conceito clássico de poder familiar, afinal
os pais, quando separados, não perdem em nada o direito de gerência e
fiscalização sobre seus filhos, ou seja, o compartilhamento tanto de
seus direitos como de suas obrigações, inclusive a de prestar alimentos.
São algumas regras concernentes ao direito de fiscalização e
gerência sobre o menor por aquele que não é o “ guardião”:
“ Art. 1.579 do CC. O divórcio não modificará os direitos e deveres dos pais
em relação aos filhos”.

“ Art. 1.583 do CC. [...] § 3º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que
não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos”.

“ Art. 1.632 do CC. A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união


estável não alteram as relações entre pais e filhos senão quanto ao direito, que
aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos”.

É dispositivo que impõe ao “ guardião” o custeio, também, dos


alimentos:
“ Art. 1.703 do CC. P ara a manutenção dos filhos, os cônjuges separados
judicialmente contribuirão na proporção de seus recursos”.

Com as premissas das Leis da Guarda Compartilhada e da


Alienação Parental, novos elementos para fixação da guarda surgem,
dentre eles o da voluntariedade.
“ Art. 7.º da LAP. A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por
preferência ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança ou
adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda
compartilhada”.

A nova regra, por assim dizer, trazida na Lei da Alienação


Parental, de fixação da guarda, leva em conta, além das condições já
consolidadas pela lei, doutrina e jurisprudência, o critério objetivo
trazido também pela Lei da Guarda Compartilhada, que é a fixação em
favor daquele cônjuge que melhor disponibiliza a convivência com o
outro cônjuge.
Esta regra de voluntariedade encontra-se em total consonância
com a Lei da Guarda Compartilhada e com os objetivos da Lei da
Alienação Parental.
Contudo, é importante que tal modificação se dê sob a orientação
e o aval da equipe multidisciplinar, pois não é raro acontecer de o
filho alienado possuir verdadeira repulsa do genitor alienado, ante a
prática de alienação promovida pelo guardião, ou seja, a modificação
de guarda, nestes casos, causará enorme dano ao menor, pois, em sua
concepção, estará sendo entregue àquele que “ em sua mente” é um
assediador, um agressor, ou seja, a figura caricata construída pelo
genitor alienador ao longo dos anos de prática de alienação parental.
Em situações assim é aconselhável, por exemplo, antes da
modificação da guarda, a colocação do menor no lar de terceira pessoa
neutra, como avós, tios ou padrinhos, para que a transição ao novo lar
seja possível, ocorrendo somente quando os efeitos da alienação
parental forem diminuídos e, ao menor, tenha mudado a percepção
sobre seu genitor – outrora alienado.

CASABONA, Marcial Barreto. Guarda compartilhada: São P aulo: Quartier Latin,


2006. p. 33.
COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga. São P aulo: Martin Claret, 2004. p. 92-93.
Guarda compartilhada: um novo modelo de responsabilidade parental. 3. ed. São
P aulo: RT, 2005. p. 36.
Guarda compartilhada. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. p. 3.
Idem, ibidem, p. 96.
Idem, ibidem, p. 140.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. P orto Alegre: Livraria do
Advogado, 2005. p. 379.
CASABONA, Marcial Barreto. Op. cit., p. 34.
Do poder familiar. In: DIAS, Maria Berenice; P EREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.).
Direito de família e o novo Código Civil. 3. ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte:
Del Rey, 2003. p. 182.
CARBONERA, Silvana Maria. Guarda de filhos na família constitucionalizada.
P orto Alegre: Fabris, 2000. p. 38.
Curso de direito civil brasileiro: direito de família. São P aulo: Saraiva, 2003. v. 5, p.
447.
“ ‘ A Constituição Federal, ao alargar o conceito de família, elencou como entidade
familiar uma realidade que não mais podia deixar de ser arrostada (artigo 226, § 4.º): a
comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes’ . Esses núcleos
familiares passaram a ser nominados de famílias monoparentais, para ressaltar a
presença de somente um dos pais na titularidade do vínculo familiar” (DIAS, Maria
Berenice. Manual de direito das famílias. 3. ed. rev., atual. e ampl. São P aulo: RT,
2006. p. 184).
“ Família constituída em torno do pai e da mãe, os quais convivem em família com os
filhos” (TEDESCO, Maria Aglaé. Guarda compartilhada. Revista Escola da
Magistratura do Rio de Janeiro, v. 9, n. 33, p. 309, 2006).
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
São P aulo: Saraiva, 2007.
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos
maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Direito civil aplicado. Direito de Família. São P aulo: RT, 2005. v. 5, p. 276.
RAMOS, P atrícia P imentel de Oliveira Chambers. O poder familiar e a guarda
compartilhada sob o enfoque dos novos paradigmas do direito de família. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 68.
CORREIA, Marcelo Várzea. Da suspensão e perda do pátrio poder. Disponível em:
<http:/direitonet.com.br/doutrina/artigos/x/90/11/901/>. Acesso em: 9 maio 2008.
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça (STJ). REsp 158920/SP, 4.ª T., Rel. Min. Sálvio
de Figueiredo Teixeira, DJU 24.05.1999, p. 172.
Não cabe ao judiciário condenar alguém ao pagamento de indenização por desamor.
REsp 757411/MG (2005/0085464-3), Min. Fernando Gonçalves, DJ 27.03.2006.
Nomenclatura emprestada da Lei da Alienação P arental: “ Art. 3.º A prática de ato de
alienação parental fere direito fundamental da criança ou do adolescente de
convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com
genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o
adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou
decorrentes de tutela ou guarda”.
CASABONA, Marcial Barreto. Op. cit., p. 99.
GRISARD FILHO, Waldyr. Op. cit., p. 417.
GONÇALVES, Denise Willhelm. Guarda compartilhada. Revista Jurídica, São
P aulo, v. 50, n. 299, p. 49, set. 2002.
Ver mais: FREITAS, Douglas P hillips. A função sociojurídica do amante e outros
temas de família. Florianópolis: Conceito, 2008. p. 15.
LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias monoparentais. São P aulo: RT, 1997. p. 200.
GRISARD FILHO, Waldyr. Op. cit., p. 438.
DIAS apud SILVA, Chico; CÔRTES, Celina. Corações em conflito: a guarda
compartilhada pode ser a solução para casais que vivem brigando e não se entendem
quanto ao futuro dos filhos. Isto É, São P aulo, jan. 2001. Disponível em:
<http://www.terra.com.br/istoé>. Acesso em: 18 abr. 2008.
Op. cit., p. 140.
BARRETO, Lucas Hayne Dantas. Considerações sobre a guarda compartilhada.
Disponível: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp? id=4352>. Acesso em: 27
mar. 2008.
Guarda compartilhada: quem melhor para decidir? São P aulo: P ai Legal, 2002.
Disponível em: <http://www.pailegal.net/TextoCompleto.asp?
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GRISARD FILHO, Waldyr. A guarda compartilhada no novo Código Civil.
Disponível: <http://www.apase.org.br>. Acesso em: 27 mar. 2008.
Guarda compartilhada. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. p. 29.
In: GRISARD FILHO, 2002, p. 127.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 20 ed. São
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MADALENO, Rolf Hanssen. Direito de família em pauta. P orto Alegre: Livraria
do Advogado, 2004. p. 89.
Guarda compartilhada. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 124.
MADALENO, Rolf. Direito de família em pauta. P orto Alegre: Livraria do
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P EREIRA, Ricardo Alcântara. Guarda compartilhada sob o prisma técnico jurídico.
Disponível: <http://www.pailegal.net.>. Acesso em: 20 jan. 2008.
Direito de família. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense. 2004. p. 266.
TORRACA, Leila M. IV Congresso Brasileiro de Direito de Família, IBDFAM –
Bahia, 24 a 27.09.2003. Disponível em:
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MARTINS, Ronaldo. Guarda de filhos de pais separados. Disponível em:
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Filho da mãe. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/? artigos&artigo=433>.
Acesso em: 18 ago. 2008.
LAURIA, Flávio Guimarães. A regulamentação de visitas e o princípio do melhor
interesse da criança. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.
Crianças em jogo: guarda compartilhada é o modelo ideal em separação. Disponível
em: <http://conjur.uol.com.br/view.cfm? id=15106&ad=a>. Acesso em: 5 jan. 2008.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. P orto Alegre: Livraria do
Advogado, 2005. p. 410.
“ Art. 7.º A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que
viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas
hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada.”
RESPONSABILIDADE CIVIL
DECORRENTE DA ALIENAÇÃO
PARENTAL

7.1 ABUSO AFETIVO

7.1.1 A responsabilidade decorrente do poder familiar


O Estatuto da Criança e Adolescente impõe uma relação de
direito/dever decorrente do Poder Familiar. Institui que é dever de
quem detém tal poder, bem como de toda a sociedade, a manutenção e
proteção dos direitos relativos às crianças e adolescente.
A referida lei já sufragava, em seu art. 73, que “ a inobservância
das normas de prevenção importará em responsabilidade da pessoa
física ou jurídica, nos termos desta Lei”.
Esta responsabilidade inclui, entre outras, a civil, podendo haver a
fixação de indenização por danos morais, por exemplo, pelo
abandono afetivo.
No tocante à modalidade de responsabilidade civil, salvo atividade
de risco e casos tipificados por lei,137 a responsabilidade será subjetiva,
em que se tornam necessárias a apuração e a comprovação dos seus
elementos: ato ilícito, nexo causal, dano (patrimonial ou
extrapatrimonial) e culpa.
Na responsabilidade civil, na modalidade subjetiva, para “ chegar-
se à configuração do dever de indenizar, não será suficiente ao
ofendido demonstrar sua dor. Mas somente ocorrerá a responsabilidade
civil se estiverem reunidos todos os seus elementos essenciais”.138

7.1.1.1 Do “abandono afetivo”: dano moral pelo desamor


Tanto pais quanto cônjuges (e por isonomia, companheiros)
possuem deveres expostos na lei, logo, o descumprimento destes, sem
dúvida, constitui ato ilícito.
Ainda que fique configurado este elemento, outros devem ser
trazidos à baila na discussão do caso concreto. O nexo causal entre
ato, culpa e dano de certa forma é fácil de ser configurado na análise
do casuísmo.
O dano, de igual forma, não merece grande aprofundamento
teórico, pois é reconhecida sua existência quando ocorre nos casos
acima, pois não há como desconsiderar as mazelas trazidas pelo
abandono afetivo em relação aos filhos. Diferente sorte reside na
detecção do elemento culpa.
Embora na paternidade (em seu sentido amplo, aplicando-se
também à maternidade) e nas relações conjugais haja a determinação
legal de cumprimento de determinados deveres, em relação aos filhos,
estes não pactuaram pelo surgimento desta relação e os riscos
inerentes de seu início; na relação conjugal há uma previsibilidade de
prestação e contraprestação afetiva e obrigacional.
Enquanto de um lado, salvo casos excepcionais, há o dever de
indenizar pela ruptura de um casamento ou noivado, por exemplo, por
conta da traição, a responsabilização civil pelo abandono afetivo não
pode ser analisada pelo mesmo viés restritivo com que se examina o
dano moral pelo fim do relacionamento.
O menor, em fase de desenvolvimento físico e psicológico,
encontra-se em situação de total dependência afetiva e material dos
pais, que, por lei, devem cumprir essas obrigações, mas, quando não o
fazem, torna-se possível a imposição de indenização, visto que a
obrigação do afeto é essencial ao desenvolvimento da criança e do
adolescente.
Rodrigo da Cunha Pereira, um dos fundadores do Instituto
Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) e seu presidente, sem
dúvida é uma das maiores autoridades sobre o Abandono Afetivo. O
jurista mineiro informa que a condenação por danos morais,
decorrente do abandono afetivo, não é monetarizar o afeto, mas punir
aquele que descumpre essencial função na vida da prole.139
À luz destas afirmações, o areópago mineiro decidiu:
“ Indenização danos morais. Relação paterno-filial. P rincípio da dignidade
da pessoa humana. P rincípio da afetividade. A dor sofrida pelo filho, em virtude
do abandono paterno, que o privou do direito à convivência, ao amparo afetivo,
moral e psíquico, deve ser indenizável, com fulcro no princípio da dignidade da
pessoa humana. [...] A responsabilidade (pelo filho) não se pauta tão-somente no
dever de alimentar, mas se insere no dever de possibilitar desenvolvimento
humano dos filhos, baseado no princípio da dignidade da pessoa humana”
(TJMG, Apelação Civil 408.550.504, Rel. Des. Unias Silva).

O ST J, em sua primeira decisão, especificamente sobre o caso


concreto analisado na decisão do T ribunal mineiro acima citada, em
contraposição reformou a referida decisão com o seguinte
fundamento:
“ Responsabilidade civil. Abandono moral. Reparação. Danos morais.
Impossibilidade. [...] Não cabe ao Judiciário condenar alguém ao pagamento de
indenização por desamor”.140

Embora tenha sido taxativa a interpretação do tribunal superior, a


votação não foi unânime, o que permitiu assinalar, à época, a
promessa de que, em um futuro próximo, haveria mudança do
entendimento. Fato ocorrido em 2012, na decisão paradigmática do
ST J que abaixo melhor se discutirá.
À luz daquele primeiro entendimento do ST J, discutiu-se que não
seria possível obrigar o afeto, entendimento jurídico que ecoa nos
tribunais estaduais, mas, não há dúvidas de que, se houver uma agressão
física contra o menor, a este haverá o direito indenizatório. Nesta
lógica, verifica-se o contrassenso da decisão mencionada, já que o
Abandono Afetivo causado pelos pais, por vezes, geram cicatrizes
emocionais mais profundas e incuráveis que qualquer ataque físico,
reverberando por toda a vida do filho, não sendo minorado ao atingir
sua vida adulta.
Será que a lei deve proteger os filhos apenas no aspecto físico,
sem qualquer proteção a sua incolumidade psíquica? A resposta é
óbvia, e o tempo a confirmará na mudança do atual entendimento
jurisprudencial nas decisões dos tribunais estaduais e superiores.
Em destaque, o ST J galga a passo largo nesta mudança de
entendimento na seguinte decisão:
“ Civil e processual civil. Família. Abandono afetivo. Compensação por
dano moral. P ossibilidade. 1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras
concernentes à responsabilidade civil e o consequente dever de
indenizar/compensar no Direito de Família. 2. O cuidado como valor jurídico
objetivo está incorporado no ordenamento jurídico brasileiro não com essa
expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas diversas desinências,
como se observa do art. 227 da CF/88. 3. Comprovar que a imposição legal de
cuidar da prole foi descumprida implica em se reconhecer a ocorrência de
ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non facere, que atinge um
bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e
companhia – de cuidado – importa em vulneração da imposição legal,
exsurgindo, daí, a possibilidade de se pleitear compensação por danos morais
por abandono psicológico. 4. Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam a
possibilidade de pleno cuidado de um dos genitores em relação à sua prole,
existe um núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além do mero
cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade,
condições para uma adequada formação psicológica e inserção social. 5. A
caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes ou, ainda,
fatores atenuantes – por demandarem revolvimento de matéria fática – não podem
ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso especial. 6. A alteração do
valor fixado a título de compensação por danos morais é possível, em recurso
especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem
revela-se irrisória ou exagerada. 7. Recurso especial parcialmente provido”
(REsp 1.159.242/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. 24.04.2012,
DJe 10.05.2012).

Essa mudança de entendimento do Superior T ribunal de Justiça,


certamente, ecoará e padronizará, na esteira de tal posicionamento, a
enorme divergência dos tribunais estaduais, sobre o tema, que
analisará, obviamente, os casos concretos e verificará a existência ou
não de abalo psíquico e dever indenizatório dos pais.
Com tal decisão, hoje, pode-se dizer, contudo, ao contrário do que
outrora decidiu, é que HÁ SIM DEVER DE AFET O E SURGE
DIREIT O INDENIZAT ÓRIO NO DESCUMPRIMENT O DEST E,
embora os de tal afirmação, na correlação com o caso concreto,
apresentará outros tons e peculiaridades, não sendo uma afirmação
imutável, mas, sendo, sem dúvidas, uma premissa válida e praticável.
O ilustre jurista Flávio Tartuce é aguerrido defensor dessa tese,
pois invoca o princípio da boa-fé objetiva para as relações familiares,
lecionando que:
“ O art. 1.708, parágrafo único, do atual Código Civil apresenta inovação
interessante ao prever a cessação do dever de indenizar daquele que teve
comportamento indigno em relação ao devedor. P ara nós, trata-se de importante
cláusula geral, que mantém relação direta com a boa-fé objetiva, auxiliadora do
seu preenchimento [...] ao encerrar-se o presente estudo, evidencia-se, mais uma
vez, o importantíssimo papel exercido pela boa-fé objetiva no Direito P rivado
atual, o que também engloba as relações privadas familiares. Constitui um ledo
engano pensar-se que essa importante cláusula geral apenas se aplica ao
contrato, negócio jurídico patrimonial.”141

O tema é delicado e merece maior digressão, pois situações surgem


com o debate, por exemplo, se há “ culpa” do genitor que não
dispensou o amor/atenção necessário ao desenvolvimento do filho,
afinal, há uma série de variáveis que justificariam a conduta, desde a
forma de criação e desenvolvimento psicológico/afetivo daquele
genitor, até, a percepção do filho sobre a sua forma de criação, e,
inexistindo culpa, tecnicamente não há que se falar em
responsabilidade civil.
Ademais, numa produção de direito de reparação, de conciliação, a
propositura de danos morais numa situação familiar já fragilizada, é,
provavelmente o “ último suspiro” daquele tênue laço familiar, pondo
um fim, de vez, certamente, nas chances de reconciliação familiar.
Mas, como exposto, tecnicamente e juridicamente falando não há
dúvidas sobre a possibilidade de tal compensação quando requerido por
aquele que entende não ter recebido o amor necessário para seu
desenvolvimento.
Embora as decisões dos tribunais estaduais, em sua maioria, sigam o
entendimento exarado anteriormente pelo STJ, com seu novo posicionamento
haverá uma verticalização de decisão, mesmo que não vinculante. Em
complemento, cabe citar: “ A afetividade no campo jurídico vai além do
sentimento, e está diretamente relacionada à responsabilidade e ao cuidado. P or
isto, o afeto pode se tornar uma obrigação jurídica e ser fonte de
responsabilidade civil. O princípio da afetividade, aliado ao da paternidade
responsável, é que autoriza o estabelecimento da responsabilidade civil.”142

7.1.2 Do “abuso afetivo”: dano moral decorrente de alienação


parental
Como dito, o “ abandono” afetivo é, por sua complexidade, muito
tormentoso na doutrina e jurisprudência, possuindo defensores e
detratores de tal possibilidade, sendo a jurisprudência majoritária
adotante do anterior posicionamento do ST J, contrário ao
reconhecimento do Abandono Afetivo, ao arguirem que: “ Não cabe
ao judiciário condenar alguém ao pagamento de indenização por
desamor” (REsp 757.411/MG [2005/0085464-3], Min. Fernando
Gonçalves, DJ 27.03.2006). O novo posicionamento do ST J143
causará, sem dúvidas, reflexo na jurisprudência pátria, ressalvando, é
claro, que a matéria de danos morais, quer decorrente do Direito de
Família, ou de outra área (ou conduta), sempre dependerá da análise do
caso concreto.
Destarte o antagonismo dos posicionamentos doutrinários e
jurisprudenciais decorrentes do Abandono Afetivo, a discussão do
Abuso Afetivo – danos morais decorrentes da Alienação Parental –
não sofrerá dicotômico posicionamento, pois é uníssono que a prática
ativa e nefasta da alienação parental é fato gerador do dever de
indenizar.
A prática de conduta alienadora, além de ilícita, é culpável de
forma ativa, geradora de dano e, por constituir os elementos mínimos
e necessários para configuração da responsabilidade civil à luz dos
artigos 186, 187 e 927 do Código Civil, impõe o dever, do alienador,
em compensar o alienado (genitor e até mesmo o menor) moralmente
dos danos causados por sua conduta.
Com o advento da Lei da Alienação Parental, a fixação de danos
morais decorrentes do “ Abuso Moral” ou “ Abuso Afetivo”, advindos
da prática alienatória, se tornará, certamente, consenso na doutrina e
nos tribunais, permitindo, tanto ao menor como ao genitor alienado,
o direito de tal pleito, pois não se trata de indenizar o desamor, mas
de buscar a compensação pela prática ilícita144 (senão abusiva) 145 de
atos de alienação parental.
Essa afirmação decorre da redação de dois artigos da Lei da
Alienação Parental:
“ Art. 3.º A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da
criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a
realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui
abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres
inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.
(...)
Art. 6.º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer
conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em
ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem
prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla
utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos,
segundo a gravidade do caso”.

Note que o legislador, de forma didática, estabeleceu que a


Alienação Parental “ fere direito fundamental da criança ou do
adolescente” (art. 3.º), logo, constituindo ato ilícito que gera o dever
de indenizar. No art. 6.º da mesma lei, complementa dispondo que
todas as medidas descritas na novel legislação não excluem a
“ responsabilidade civil”.
Não há dúvidas de que a postura imprópria de genitor que pratica
Alienação Parental gera dano moral, tanto ao menor quanto ao
genitor alienado, sendo ambos titulares deste direito. Nesse sentido:
“ essencialmente justo, de buscar-se indenização compensatória em face de
danos que os pais possam causar a seus filhos por força de uma conduta
imprópria, especialmente quando a eles são negados a convivência, o amparo
afetivo, moral e psíquico, bem como a referência materna ou paterna concretas, o
que acarretaria a violação de direitos próprios da personalidade humana (...).”146

A criança, em razão de sua pouca idade, não possui condições de


tomar decisões ou de reger os seus interesses, portanto, sendo o poder
familiar um instituto de proteção, cabe aos pais desempenhar esse
papel mediante a representação de interesses pessoais do filho, além
da administração dos seus bens.
Quando o poder familiar é exercido de forma irregular, ocorre
verdadeiro abuso de direito, podendo os pais responder pela desídia. A
responsabilidade que envolve o poder familiar acaba repercutindo na
sociedade, e o Estado pode exigir o cumprimento das obrigações dos
pais, aplicando até mesmo a extinção do poder familiar.147
Sobre a questão, Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka:
“ É certo que a melhor e verdadeira solução de problemas psicológicos é a
proporcionada pelo psicólogo, e não pelo juiz. Mas nem por isso o juiz pode
deixar de prestar a tutela jurisdicional que lhe é requerida. Não se pode negar,
no caso dos autos, a condenação do réu ao pagamento de prestação pecuniária,
sob pena de se negar também a possibilidade de reparação do dano moral
decorrente da perda de um ente querido, ou do abalo à honra ou à imagem, pois
também vai contra a dignidade humana colocar preço na vida de um ente
querido, ou na própria honra ou imagem.”148

No caso da Alienação Parental, a responsabilização civil do


alienante é patente, pois
“ o dano à moral do visitante reflete-se na esfera sentimental e emotiva do
visitado, que é, aliás, o detentor do maior interesse; então, ao ofender-se a moral
de um, ofende-se, em muitos casos, os sentimentos do outro, de forma que ambos
serão vítimas de um mesmo ato lesivo (descumprimento injustificado do acordo
ou sentença).”149
O instituto jurídico do dano moral existe há muito, não é algo
novo, apenas afigura-se uma adaptação do “ figurino clássico da
responsabilidade civil [a]os casos que decorrem de situações de Direito
de Família e entre membros de uma mesma família sem que isso
implique subversão do sistema”.150
O temor de uma possível “ indústria do dano moral” também foi
deflagrado após a constitucionalização do dano moral, mas o tempo
mostrou que a jurisprudência soube distinguir aquilo que merece
indenização e o que não passa de mero dissabor. O mesmo ocorrerá
com o Abuso Afetivo, pelo qual não se buscará monetarizar o afeto,
nem fomentar a vingança de filhos contra pais ou entre ex-cônjuges
ou companheiros, mas, com decisões pautadas pela razoabilidade,
haverá concessões de indenizações para compensar a prática ilícita
advinda da alienação e punir/dissuadir o alienante da reiteração de atos
dessa espécie.
Como pontificou Álvaro Villaça Azevedo:
“ P rovado o prejuízo decorrente do ato ilícito, seja qual for, o reclamo
indenizatório não só de direito, como de justiça, é de satisfazer-se”.151

7.2 JURISPRUDÊNCIA VINCULADA


O “ abuso afetivo”, decorrente da alienação parental, embora não
tenha esse nome na jurisprudência, já vinha sendo reconhecido como
motivo ensejador de danos morais em nosso tribunais. No julgado
abaixo, afirma-se a ocorrência de dano moral ao se reputar
(falsamente) crime praticado pelo genitor contra seus filhos. Com
maior razão, deve-se entender pela ocorrência de dano moral e
determinar a indenização caso a imputação seja feita com o intuito de
dificultar a convivência entre os familiares, configurando a conduta de
alienação parental prevista expressamente pelo art. 2.º da Lei:
“ Dano moral. Calúnia. Acusação de prática de crime sexual pelo autor contra
seus filhos. [...] ausência de provas da veracidade da imputação. Ocorrência de
abalo moral. Dever de indenizar (TJRS, RC 71002402675, Rel. Eugênio
Facchini Neto, DJ 29/04/10)”.
O art. 2.º da Lei 12.318/2010 traz uma das formas
exemplificativas da alienação parental:
“ VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou
adolescente”.

Aquela e outras decisões repisam o direito a danos morais em caso


de falsa denúncia, prática reiterada nos casos mais graves – e
avançados – de alienação parental. Destaca-se outra decisão, que,
embora não trate de questão envolvendo alienação parental, traz
argumento que pode ser utilizado para essa situação:
“ Deve ser responsabilizado civilmente por danos morais aquele que, por
animosidade pessoal, imputa a outrem a prática de ato ilícito sabidamente
inexistente, com o inescondível propósito de provocar-lhe prejuízo (TJSC, AC
2008046968-6, DJ 09/06/10)”.

O “ abuso afetivo” quando configurado, permite ao genitor


alienado, bem como, ao próprio menor que sofre a alienação o direito
de compensação por danos morais pela prática da alienação parental,
qual seja a modalidade ou nível, pois as demais formas da alienação
parental são igualmente graves como a falsa denúncia relatada acima,
pois é cruel, para com o menor e seus familiares as demais práticas,
como, por exemplo, a obstaculização do direito de convivência
familiar plena.152
Em contraponto, na análise do caso concreto, o T JRS e T JSP
decidiram que:
“ [...] Dano moral. Alegação de falsas ofensas verbais e alienação parental. [...]
As relações interpessoais são balizadas por inúmeros fatores pessoais,
ambientais e sociais, que produzem na pessoa sentimentos e emoções, conduzem
à aproximação entre as pessoas ou ao distanciamento entre elas, sejam parentes
ou não. Assim, o mero distanciamento afetivo entre pais e filhos não constitui,
por si, situação capaz de gerar dano moral, nem implica ofensa ao já vulgarizado
princípio da dignidade da pessoa humana, pois constitui antes um fato da vida”
(TJRS, AC 70049655202, Rel. Sandra B. Medeiros, 7.ª Câmara Cível, DJ
28.09.2012).
“ Separação judicial. Utilização de dados pessoais, difamação e alienação
parental. Litígio judicial com várias ações propostas. Circunstâncias
decorrentes da separação? Danos não comprovados” (TJSP, AC 0148158-
90.2006.8.26.00, Rel. Luiz Francisco A. Cortez, 2.ª Câmara de Direito P rivado,
DJ 21.06.2011).

Nas decisões acima, vinculou-se a ausência de prova ou as práticas


mais “ brandas” da alienação parental como fatos não ensejadores do
Abuso Afetivo, porém, em nenhum desses julgados, houve o descarte
de tal possibilidade, principalmente aquelas práticas mais “ severas”,
tais como dificultar o direito de convivência, criar falsas denúncias,
realizar implante de falsas memórias, entre outros. Porém, desde a
prática dita como mais “ branda” (falar mal do outro cônjuge, por
exemplo), não retira a ilicitude e o potencial dano decorrente de tal
conduta, por conta de seu contexto e reflexos, o que, ainda que
comprovado (fato e dano), certamente será possível realizar a
compensação por abuso afetivo.
Ao operador do direito, contudo, há que se observar se é
interessante e adequado ao caso a propositura desta ação de danos
morais, afinal, esta deve ser a ultima ratio, pois promoverá um
acirramento ainda maior na situação já delicada e conturbada
vivenciadas entre as partes envolvidas, havendo, formas alternativas
para tratar a situação vivenciada, por exemplo, com a determinação
de tratamento compulsório dos pais, a modificação da guarda, entre
outras medida de mediação. Neste sentido, aplica-se lição do jurista
Conrado Paulino da Rosa:
P ara isso, mais uma vez destaca-se a importância da mediação enquanto uma
ferramenta que possibilita os participantes abandonarem uma intervenção
negativa e passem a adotar um agir colaborativo. Tal agir irá possibilitar a
diferenciação entre os papéis conjugal e parental. O mediador auxiliará os
participantes a perceber que o primeiro se encerra, enquanto o outro permanece
para o resto de sua vida. Afinal, via de regra, não existe a palavra “ ex-filho” nem
“ ex-pai”.153

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo. P arágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para
os direitos de outrem.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Dano moral. 4. ed. São P aulo: Juarez de Oliveira,
2001. p. 6.
Nem só de pão vive o homem: responsabilidade civil por abandono afetivo.
Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/? artigos&artigo=392>. Acesso em: 17
mar. 2008.
REsp 757.411-MG (2005/0085464-3), Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ
27.03.2006.
O princípio da boa-fé objetiva no direito de família. Disponível em:
<http://www.ibdfam.org.br/? artigos&artigo=475>. Acesso em: 10 dez. 2008.
ROSA, Conrado P aulino. CARVALHO, Dimas Messias de. FREITAS, Douglas
P hillips. Dano moral & Direito das Famílias. Florianópolis: Voxlegem, 2012. p.
173.
“ Civil e processual civil. Família. Abandono afetivo. Compensação por dano moral.
P ossibilidade” (REsp 1.159.242/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, j.
24.04.2012, DJe 10.05.2012).
Art. 186 do CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito.
Art. 187 do CC. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes.
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. “ Os contornos jurídicos da
responsabilidade afetiva na relação entre pais e filhos”. In EHRHARDT JUNIOR,
Marcos; ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Leituras complementares de Direito
Civil: Direito das Famílias. Salvador: JusP odivm, 2009. p. 212.
SIMÃO, Rosana Barbosa Cipriano. Abuso de direito no exercício do poder familiar.
In: APASE – Associação de P ais e Mães Separados (Org.). Guarda compartilhada:
aspectos psicológicos e jurídicos. P orto Alegre: Equilíbrio, 2005. p. 43.
Direito civil: estudos. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p. 454.
BOSCHI, Fabio Bauab. Direito de visita. São P aulo: Saraiva, 2005. p. 248.
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. “ Os contornos jurídicos da
responsabilidade afetiva na relação entre pais e filhos”. In EHRHARDT JUNIOR,
Marcos; ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Leituras complementares de Direito
Civil: Direito das Famílias. Salvador: JusP odivm, 2009. p. 231.
Apud GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 8 ed. São P aulo:
Saraiva, 2003. p. 83.
Note-se que o STJ reconheceu que o abandono afetivo é ilícito civil, pois infringe o
dever de cuidado, e enseja indenização por danos morais, entendendo-se que a
alienação parental é uma das causas que afasta a ilicitude da conduta de abandono
(STJ, 3.ª Turma, REsp 1159242, j. 24.04.2012, rela. Min. Nancy Andrighi). Nesse
caso, entendemos que deve haver a responsabilização daquele que pratica a alienação
parental e causa o abandono afetivo e os danos morais decorrentes.
ROSA, Conrado P aulino da. Desatando nós e criando laços: os novos desafios da
mediação familiar. Belo Horizonte: Del Rey, 2012, p. 88.
TRATAMENTO COMPULSÓRIO DE
PAIS

8.1 DA INTEGRAL PRO TEÇÃO DA CRIANÇA E DO


ADO LESCENTE
A modificação da guarda ou a ampliação do período de
convivência, duas práticas indicadas e eficazes para a minoração e até
mesmo a extinção da prática da Alienação Parental, nem sempre são
os instrumentos mais adequados para casos de altíssimo litígio,
conduta alienadora grave e recorrente de um dos pais ou, às vezes, de
ambos, um contra o outro.
Em todas estas situações o menor é vitima da má administração
de seus pais no tocante aos próprios sentimentos e relacionamentos.
Não é raro que esta criança ou adolescente seja utilizado como
uma espécie de arma para atacar o outro genitor, e, por vezes, esta
conduta é praticada por ambos os pais.
Enfim, para melhor solucionar a situação vivenciada nestes casos,
há a necessidade de um auxílio “ externo”, pois, infelizmente, o
Direito não possui todas as ferramentas para lidar com situações mais
delicadas.
Na verdade, as ferramentas empregadas pelo Direito geralmente
são brutais e desproporcionais. Vide, por exemplo, a busca e
apreensão. Muitas vezes a criança, vítima de alienação parental, tem
seus danos psicológicos majorados quando ocorre a busca e apreensão
para efetivação de um direito de convivência descumprido pelo
guardião, pois não é raro que ela possua grande rejeição em face do
genitor alienado, pois caracterizam a alienação parental o implante de
falsas memórias, o mimetismo com a prática do alienador e, enfim, a
repetição do discurso promovido pelo alienador em rejeição ao
genitor alienado.
Note-se que, em situações tão delicadas, a busca e apreensão
resolve o problema do cumprimento do direito de convivência, mas
não resolve o dano causado por tal medida ou pela prática da
alienação parental.
Por estas e outras razões, há a necessidade, na verdade, de uma
prática alternativa, não judicial, mas avalisada e com a força do Poder
Judiciário. Uma das respostas que surge é a realização de terapia
familiar.
Como dito, o judiciário, infelizmente, não possui instrumentais
adequados para resolver situações mais delicadas, e é na psicologia e na
terapia familiar que se encontra uma melhor condição para resolver,
de forma efetiva, os reflexos da Alienação Parental.
É importante lembrar que o Código Civil de 2002 informa, no seu
art. 1.579, que o “ divórcio não modificará os direitos e deveres dos
pais em relação aos filhos”, e, no art. 1.589, que “ o pai ou a mãe, em
cuja guarda não estejam os filhos, poderá visitá-los e tê-los em sua
companhia, segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou for fixado
pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação”.
Nota-se que o dito legislativo impõe um dever objetivo de
fiscalização aos pais e manutenção do bem-estar do menor, mesmo
estando na guarda do outro.
Tal ordem é eco do princípio do melhor interesse do menor, regra
objetiva trazida no Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê,
em seu art. 1º, a “ proteção integral à criança e ao adolescente”, sendo
seu direito gozar de “ todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sem prejuízo da proteção integral” prevista no ECA e nos
demais diplomas protetivos, assegurando também, “ por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social,
em condições de liberdade e de dignidade”, como bem lembra o art. 3º
desse dispositivo.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, inclusive, amplia tais
direitos e impõe o dever de fazê-los cumprir, ao Estado, ao Judiciário
e a todas as entidades paraestatais, ao expor, no bojo de seu art. 4º,
que “ é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.
No caso em discussão, quando os pais não sabem administrar suas
frustrações e descontam na criança ou mesmo a usam para atingir o
outro, trata-se de AGRESSÃO À SAÚDE PSICOLÓGICA DO
MENOR, sendo dever do Estado – do Judiciário –, como informado
acima, a fixação de medidas para coibir tais danos, afinal, como dita o
art. 70 do ECA, é “ dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou
violação dos direitos da criança e do adolescente”.
Sem contar que há, também, a possibilidade de se responsabilizar
civil e mesmo penalmente tal ou tais pais quando imputados nesta
prática, conforme regra deste diploma protetivo, que aduz, em seu art.
73, que “ a inobservância das normas de prevenção importará em
responsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos termos” daquela lei.
Porém, é a prática alternativa de resolução de tais conflitos que
urge em casos em que as técnicas ordinárias não mais funcionam na
forma ou no tempo necessário, a eficácia almejada, sendo algumas
opções abaixo discorridas:

8.2 DA PRÁTICA DE MEDIDAS ALTERNATIVAS


O juiz, a pedido do advogado, e sob tais fundamentos, pode
determinar a realização de T ERAPIA COMPULSÓRIA aos pais para
que tratem os distúrbios e as condutas motivadoras da conduta
alienatória praticada por um ou ambos, a fim de tornarem-se, na
medida do possível, pais propiciadores de uma família mais saudável e
equilibrada. Não é objetivo de tal tratamento a reconciliação entre pai
e mãe, para tornarem-se marido e mulher novamente, mas sim a
conscientização destes no sentido de que, embora não estejam mais
em união conjugal, não deixem de ser pais, e, por tal, arquem com
compromissos inerentes a tal função e responsabilidade ímpar em face
do desenvolvimento psicológico – e físico – de seu filho, que não é
culpado pela falência da relação.
A Lei da Alienação Parental outorga tal possibilidade à luz da
regra trazida em seu art. 6.º, no qual dita que, “ caracterizados atos
típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a
convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação
autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem
prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal”, aplicar de
forma irrestrita e ampla a “ utilização de instrumentos processuais
aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso”, e,
em seus incisos, destaca, entre eles: “ III – estipular multa ao
alienador” e “ IV – determinar acompanhamento psicológico e/ou
biopsicossocial”.
Tal fundamento não é estranho ao Direito, pois o Código de
Processo Civil já informava e outorgava tal tutela ampliada ao regrar,
em seu art. 461, caput, a prática de “ providências que assegurem o
resultado prático equivalente ao do adimplemento” da medida judicial
e, no § 5º, do referido art. 461, a complementação de que, “ para a
efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as
medidas necessárias” que surgirem para o fiel e integral cumprimento
de sua ordem.
Isto significa que, mesmo antes do advento da Lei da Alienação
Parental, já seria possível a aplicação de um T RATAMENT O
COMPULSÓRIO DE PAIS a fim de resguardar o melhor interesse da
criança e cumprir aquilo que o Estatuto da Criança e do Adolescente
há muito já ditava:
“ Art. 70 do ECA. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou
violação dos direitos da criança e do adolescente”.

Com o advento da Lei da Alienação Parental, esta construção e


prática torna-se ainda mais acessível aos operadores.

8.3 DA NO MEAÇÃO DO PERITO


A perícia multidisciplinar, como é nominada pela Lei da
Alienação Parental,154 consiste na designação genérica das perícias que
poderão ser realizadas em conjunto ou separadamente nas ações
judiciais concernentes ao tema, bem como nas demais lides familistas.
É composta por perícias sociais, psicológicas, médicas, entre outras
que se fizerem necessárias para o subsídio e certeza da decisão judicial.
Tal perícia já se encontrava também prevista na Lei da Guarda
Compartilhada,155 e, de forma genérica, no próprio Código de
Processo Civil,156 quando o juiz – por iniciativa própria ou a
requerimento das partes – necessita de profissional de outra área para
auxiliar seu convencimento e a resolução da lide, ante a carência de
conhecimento técnico especializado das partes envolvidas em área
diversa do Direito.
Afinal, os próprios arts. 145 a 147 do CPC já destacam que, entre
os auxiliares eventuais da justiça, temos o perito, que é o profissional
com conhecimento técnico, científico, solicitado pelo juiz, nos casos
em que a prova de fato depender de algum esclarecimento
especializado.
Onde a perícia, termo que deriva do latim peritia, o qual significa
conhecimento adquirido pela experiência, é o meio probatório com o
qual se intenta obter, para o processo, uma manifestação fundada em
especiais conhecimentos científicos, técnicos ou artísticos, útil para o
descobrimento ou valoração de um elemento de prova. Este
conhecimento (não possuído pelo direito), na seara familista, advém
da atuação de assistentes sociais e psicólogos, comumente.157
Nesta linha, a Lei da Alienação Parental regra que, “ havendo
indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou
incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou
biopsicossocial”, de acordo com seu art. 5.º. O mesmo dispositivo
reforça a necessidade de um perito especializado, ao dizer em seu § 2.º
que “ a perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar
habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por
histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de
alienação parental”.
Estas regras não são estranhas ao Direito, pois o Código de
Processo Civil há muito regrava, em seu art. 420 e seguintes, que a
perícia ocorrerá quando a prova do fato depender do conhecimento
especial de técnico deste profissional especializado, ou seja, o perito.
É neste contexto jurídico que o juiz, determinando a realização do
tratamento compulsório dos pais, permitirá que estes, bem como os
filhos, juntos ou separados, de acordo com o critério e a técnica
aplicada pelo perito nomeado, realizem a terapia necessária para
resolução ou diminuição do conflito familiar.
Este profissional, pela definição própria de perícia, bem como
pelo reforço trazido na Lei da Alienação Parental, há que ser
especializado no objeto de sua atuação, que é a inter-relação familiar e
seus reflexos, dentre eles a alienação parental, a fim de que possa, por
meio de seu trabalho, alcançar o objetivo almejado na medida
coercitiva imposta pelo juízo, ou seja, a paz familiar.
8.4 EXPERIÊNCIA PRÁTICA APLICADA: RELATO
Para a efetivação de tal prática, cabe não apenas o interesse dos
pais, mas estudo e boa vontade dos julgadores e dos profissionais que
compõem a estrutura judiciária para viabilizar a paz social e os
interesses dos menores, vítimas da situação imposta pelos adultos. O
Superior T ribunal de Justiça, neste sentido, regra que:
“ A prevalência do melhor interesse da criança impõe o dever aos pais de
pensar de forma conjugada no bem-estar dos filhos, para que possam os menores
usufruir harmonicamente da família que possuem, tanto a materna, quanto a
paterna, sob a premissa de que toda criança ou adolescente tem o direito de ter
amplamente assegurada a convivência familiar” (STJ, REsp 1.032.875, Rel. Min.
Nancy Andrighi, DJ 11.05.2009).

Com esta premissa, na Comarca de Florianópolis, em Santa


Catarina, foi proposta uma ação judicial objetivando exatamente o
tratamento compulsório dos pais, que, após anos de litígio, culminou
numa total desestrutura da família em questão, criando uma espécie de
duas “ facções”, em que o filho apoiava o pai e há dois anos não via ou
conversava com a mãe, estando sob a guarda daquele, e a filha no
sentido contrário.
Na verdade, ambos os filhos haviam mimetizado a postura de seus
guardiões, rompendo o relacionamento com o outro genitor. A
genitora, angustiada pelo sofrimento da separação de seu filho, não
percebia que tinha em relação a sua filha o mesmo ato de alienação
que seu ex-companheiro realizava com o filho sob sua guarda.
Em resposta ao anseio desta mãe, uma ação de busca e apreensão,
por exemplo, para efetivar o direito de convivência que ela já possuía
regulamentado judicialmente não resolveria, pois, na última tentativa,
seu filho fugira do oficial de justiça e rompera de vez o contato com
esta. A legislação não apresentava outra solução aparente, por isso a
necessidade de construção e junção dos dispositivos legais e princípios
de integral proteção ao menor para justificar, ao lado das regras de
efetivação das obrigações de fazer, a ordem de um tratamento,
compulsório, que envolvesse o genitor, a genitora e os filhos de
ambos.
No primeiro momento houve resistência do genitor, que,
compulsoriamente, foi obrigado a comparecer às sessões sob pena de
multa (astreintes), prevista tanto no art. 461, em seu § 5.º, do Código
de Processo Civil, como no art. 6.º, inciso III, da Lei da Alienação
Parental.
Em relato do psicólogo, as primeiras sessões, tanto com o
genitor, como com a genitora, e as crianças, isoladamente, não foram
eficazes, mas apresentaram na evolução das sessões melhoras graduais,
até que, antes mesmo de realizar as sessões conjuntas, já havia
ocorrido a reconciliação familiar, e ambos genitores, embora ainda
continuassem separados, passaram a conviver com aqueles filhos que
não mais conviviam.
A experiência profissional que é relatada neste espaço foi
reproduzida outras duas vezes, com ações sob os mesmos fundamentos
e ações ordinárias de obrigação de fazer. Em todos os casos a situação
se repetiu e, em nenhum deles, houve necessidade de uma decisão
condenatória, pois houve composição logo após as primeiras
liminares determinativas da terapia compulsória.

8.5 MO DELO DA AÇÃO DE TRATAMENTO CO MPULSÓ RIO DO S


PAIS
A prática profissional acima relatada teve como petição inicial:

EXCELENT ÍSSIMO(ª) SENHOR(ª) DOUT OR(ª) JUIZ(ª)


DE DIREIT O DA VARA DA FAMÍLIA DA CO MARCA
DO ESTREITO – FLO RIANÓ PO LIS – SANTA
CATARINA

URGENTE – TUTELA ANTECIPADA


DANO A MENO RES
GENITO RA, brasileira, enfermeira, divorciada, CPF
000000000-00, residente e domiciliada perante a cidade
de Florianópolis, por meio de seu advogado constituído,
propor

AÇÃO O RDINÁRIA

em face de GENITO R, brasileiro, professor, divorciado,


CPF 000000000-00, em conjunto com o FILHO DO
CASAL, menor impúbere, sob a guarda de seu genitor
antes qualificado, ambos residentes e domiciliados perante
a cidade de Florianópolis, pelos fundamentos fáticos e de
direito que abaixo passa a expor:

I – DA SINO PSE DA AÇÃO


O genitor requerido tem praticado alienação parental
ao filho também requerido que se encontra em sua guarda.
Esta prática ilícita tem causado o afastamento da
autora de sua prole, não apenas coibindo a visitação
regulamentada pelo juízo, como incentivando atos que
culminaram na tentativa de agressão da autora.
A autora não busca inicialmente a modificação de
guarda, mas a realização de terapia familiar em todos os
indivíduos envolvidos e ao réu, em específico o
cumprimento da determinação judicial em participação do
grupo de reflexão deste juízo.
Não havendo êxito na conciliação e terapia por
possível recalcitrância do genitor requerido, buscará a
autora realizar perícia social e psicológica e,
posteriormente, neste caso, a modificação da guarda em
ação posterior, tornando esta como instrutória.

II – DA NARRATIVA FÁTICA
O autor e a requerida dissolveram juridicamente sua
união em 2008 (trânsito em julgado), quando já se
encontravam separados há alguns anos. Em setembro de
2009, regulamentou-se situação de fato (documento em
anexo), onde o referido menor, filho da autora, ficou sob
a guarda e responsabilidade de seu pai, ora demandado.
Ocorre que o motivo pelo menor requerido estar na
guarda do demandado foi a prática de ALIENAÇÃO
PARENTAL perpetrada pelo genitor requerido contra a
autora, utilizando a inocência e confiança do filho do
casal para tal prática nefasta, devido à inconformidade do
genitor requerido pela separação e nova condição da
autora que seguira a vida adiante, estando com um novo
relacionamento e grávida.
Para melhor esclarecer a alegação acima, são os
relatos devidamente comprovados (em anexo) realizados
pela autora:

Durante o casamento o genitor requerido,


principalmente por sua orientação religiosa, jamais
aceitara o pedido de separação da autora, e mesmo
após o trânsito em julgado da ação, ainda mantém
atos próprios de uma pessoa que não superara o fim
do enlace afetivo.
Inicialmente, a guarda dos filhos ficara com a
autora, sendo que, periodicamente, o requerido
genitor, tanto em face da filha como do filho
requerido, praticou diversos atos de ameaça e
detração da pessoa da autora, inclusive na
comunidade em que viviam juntos, obrigando-a a
romper com vínculos de amigos comuns, pois o
requerido sempre informa que ela fora a culpada
pela separação, e que abandonara o lar, entre outras
infundadas acusações.
A autora é mãe exemplar, jamais deixando faltar
qualquer coisa para seus filhos, ao contrário do réu,
que, embora seja um bom pai, não percebe que, na
tentativa de acusar e prejudicar a autora, por meio
de seus filhos, PREJUDICA-OS, causando
irreparáveis danos psicológicos.
Na oportunidade da separação, ficou ajustado que
ambas as partes (autora e réu) deveriam participar
do GRUPO DE APOIO E REFLEXÃO no fórum
do Estreito, fato este que o REQUERIDO NÃO
CUMPRE, ao contrário da autora, que
regularmente passa pelas sessões (documento
anexo).

Inclusive, conforme documentação anexa, em bloco


de notas do próprio genitor requerido (logicamente sob
sua orientação), o menor requerido deixou carta para a
autora com o dizer:
“ Nos dias de visita eu lhe peço que eu não venha mais para
cá a não ser que eu venha visitar a vó e que a mãe não esteja”.

A autora QUE ROGA PELO MELHOR AO SEU


FILHO, respeitou o seu pedido, mas busca, no Judiciário,
SOCORRO À CONDUTA ILÍCITA praticada pelo
requerido genitor, pois cada vez mais, em ardilosa
conduta, SEM SE PREOCUPAR COM OS DANOS
AFET IVOS QUE CAUSA AOS SEUS FILHOS, o
requerido genitor tem obtido êxito em afastar o filho
mais velho do casal do convívio familiar com a mãe.
Assim, o intuito desta ação é buscar uma SOLUÇÃO
EFET IVA para o caso concreto. A autora poderia buscar
exigir cumprir o período de visitas determinado em juízo,
mas nada adiantaria se, ao voltar o filho para a casa do
pai, ora guardião, este continuasse a praticar os atos
alienatórios.
A doutrina informa que:
“A Síndrome de Alienação Parental é um transtorno
psicológico que se caracteriza por um conjunto de sintomas
pelos quais um genitor, denominado cônjuge alienador,
transforma a consciência de seus filhos, mediante diferentes
formas e estratégias de atuação, com o objetivo de impedir,
obstaculizar ou destruir seus vínculos com o outro genitor,
denominado cônjuge alienado, sem que existam motivos reais
que justifiquem essa condição. Em outras palavras, consiste
num processo de programar uma criança para que odeie um
dos seus genitores sem justificativa, de modo que a própria
criança ingressa na trajetória de desmoralização desse
mesmo genitor” ( TRINDADE, Jorge. In: DIAS, Maria Berenice.
Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em
não ver. São Paulo: RT, 2007. p. 78).

E, também:
“A síndrome resulta de uma campanha para denegrir, sem
justificativa, uma figura parental boa e amorosa. Consiste na
combinação de uma lavagem cerebral para doutrinar uma
criança contra esta figura parental e da consequente
contribuição da criança, para atingir o alvo da campanha
difamatória” ( VALENTE, Maria Luiz Campos da Silva.
Síndrome de alienação parental: A perspectiva do serviço
social. In: APASE – Associação de Pais e Mães Separados
( Org.). Síndrome da alienação parental e a tirania do guardião:
aspectos psicológicos, sociais e jurídicos. Porto Alegre:
Equilíbrio, 2007. p. 85).

Ante a configuração da alienação parental, poderia a


autora, com base nisso e nas provas já existentes, com
posterior ratificação pelas perícias sociais e psicológicas,
requerer a modificação da guarda, mas tal fato revoltaria
ainda mais o menor, pois o pai não deixaria de praticar os
atos alienatórios nos dias de visita.
Por fim, outra solução seria buscar proibir o contato
entre o requerido genitor e seus filhos, mas A AUT ORA
DEIXA BEM CLARO QUE ESTA NÃO É SUA
INT ENÇÃO E JAMAIS O SERÁ, POIS O REQUERIDO
É BOM PAI, MAS, INFELIZMENT E, É
IRRESPONSÁVEL AO DEIXAR SUA DECEPÇÃO
COMO HOMEM/MARIDO INT ERFERIR NO
RELACIONAMENT O DAS CRIANÇAS E SEUS PAIS,
quando deveria buscar a integração da família e não a
dissolução da unidade familiar, pois, com tal prática,
QUEM MAIS SOFRE DANOS SÃO OS FILHOS!
Para finalizar, à luz da conduta do requerido que
piorado o estresse e a dor decorrente da separação,
majorando a dor e abalo psicológico do menor, pratica
atos de alienação parental, Enfim, o autor, nesta ação,
objetiva cumulativamente:

a) para efetivação do direito de visita, a


ordenança de realização de terapia
familiar com todos os membros da
família;
b) cumprimento do período destinado à
convivência;
c) coibição dos atos de alienação parental.

ANT E o quadro acima retratado, as provas em anexo


seguem os fundamentos jurídicos pertinentes e as provas que o
autor pretende produzir:

III – DO DIREITO

III.1 – DA AÇÃO O RDINÁRIA CO MO


PRO CEDIMENTO GENÉRICO E
CUMULATIVO
Embora nesta ação discutam-se questões de
regulamentação de visita e até, possivelmente,
modificação de guarda, também se requer, nesta ação,
ordenança de tratamento à luz do poder de tutela
outorgado ao magistrado nas obrigações de fazer.
Esta cumulação de procedimentos utilizando o viés do
rito ordinário é permitida por lei, dispensando, portando,
a propositura de diversas ações, conforme regra esculpida
no Código de Processo Civil:
“Art. 292 ( CPC). É permitida a cumulação, num único
processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que
entre eles não haja conexão”.

Em suma, pelo princípio da economia processual e


da celeridade seja concedida a cumulação aqui requerida.

III.2 – DA O RDEM DE TRATAMENTO


PSICO LÓ GICO À LUZ DO MELHO R
INTERESSE DO MENO R (AO FILHO E AO S
PAIS)
Embora a autora não exerça a guarda de sua prole
mais velha, a legislação permite que ela possa requerer
atos em prol de seus interesses, pois, afinal, não perdera o
poder familiar sobre o menor com a fixação da guarda em
face do requerido.
Neste sentido dispõe o Código Civil de 2002:
“Art. 1.579 ( CC). O divórcio não modificará os direitos e
deveres dos pais em relação aos filhos”.
“Art. 1.589 ( CC). O pai ou a mãe, em cuja guarda não
estejam os filhos, poderá visitá-los e tê-los em sua companhia,
segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou for fixado pelo
juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação”.

Assim, a imposição de prática de ato ao guardião, a


fim de melhor atender o interesse do menor, torna-se
patente ante a leitura do que acima se expôs, no tocante à
legitimidade do não guardião, como também no tocante a
tal possibilidade material, conforme regras trazidas na lei
especial de proteção a crianças e adolescentes, o ECA.
Vejamos:
“Art. 1.º ( ECA). Esta Lei dispõe sobre a proteção integral
à criança e ao adolescente”.
“Art. 3.º ( ECA). A criança e o adolescente gozam de todos
os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e de dignidade”.

A referida lei protetiva, amplia, inclusive, tais deveres


e legitimidade, de forma COGENT E ao Estado, conforme
regra a seguir transcrita:
“Art. 4.º ( ECA). É dever da família, da comunidade, da
sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária”.

In casu, no tocante à agressão à saúde psicológica do


menor, há que ser fixadas medidas para coibir o
tolhimento de seus direitos básicos, ou seja, há de ser
acolhida esta ação, data venia, sob pena de não ser
respeitado o escopo desta norma protetiva às crianças e
adolescentes:
“Art. 70 ( ECA). É dever de todos prevenir a ocorrência de
ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente”.

Inclusive, havendo o descumprimento de tal


ordenança, que, data venia, acredita-se que será
concedida, aquele que a descumprir estará incorrendo em
responsabilização legal, vejamos:
“Art. 73 ( ECA). A inobservância das normas de prevenção
importará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica,
nos termos desta Lei”.

PO RTANTO , o douto magistrado pode, a fim de


cumprir o disposto na lei sobre a integral proteção ao
menor, requerer ordenanças a fim de que realizem ou se
abstenham de certos atos (obrigação de fazer ou não
fazer). Neste diapasão, o art. 461, § 5.º, do CPC, citado
como fundamento da sentença de mérito, prevê outras
alternativas complementares quando uma das arroladas
não produz o efeito esperado. In verbis:
“Art. 461 ( CPC) – Na ação que tenha por objeto o
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente
o pedido, determinará providências que assegurem o
resultado prático equivalente ao do adimplemento: [...]
§ 5.º Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção
do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a
requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a
imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão,
remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e
impedimento de atividade nociva, se necessário com
requisição de força policial”.

Assim, ante a EFET IVAÇÃO DA T UT ELA


ESPECÍFICA, quer seja esta, a de determinação, em
OBRIGAÇÃO DE FAZER, pode, douto juízo, a fim de
resguardar os direitos e interesses do menor envolvido,
ordenar aos pais e ao menor (autor e requeridos) o
encaminhamento da criança para a realização de terapia,
bem como aos autores, em profissional especializado, a
fim de que:
a) possa haver a reconciliação familiar entre mãe e filho;
b) haja a conscientização do pai para que ele se abstenha
de praticar os atos prejudiciais ao filho menor.
III.3 – ALTERNATIVA AO FRACASSO DA TERAPIA
FAMILIAR ANTE A PO SSÍVEL RESISTÊNCIA
DO REQ UERIDO : MO DIFICAÇÃO DA
GUARDA FÍSICA PARA O AUTO R E/O U DA
FIXAÇÃO DA GUARDA CO MPARTILHADA
De forma propedêutica, é importante salientar que a
doutrina moderna informa que:
“A guarda exclusiva, unilateral ou invariável, é
preconceituosa e não atende às necessidades da criança ou
adolescente, visto que não se deve dispensar a presença do pai
ou da mãe diariamente, já que a criança encontra-se em plena
formação. O modelo de guarda exclusiva cedeu lugar a outros
modos de exercício pleno da autoridade familiar”.158

A lei civil atual informa que a guarda compartilhada


deve ser incentivada, ou seja, torna-se a regra da atual
forma de guarda, superando a guarda unilateral.
“Este modelo, priorizando o melhor interesse dos filhos e a
igualdade dos gêneros no exercício da parentalidade, é uma
resposta mais eficaz à continuidade das relações da criança
com seus dois pais na família dissociada, semelhantemente a
uma família intacta. É um chamamento dos pais que vivem
separados para exercerem conjuntamente a autoridade
parental, como faziam na constância da união conjugal, ou de
fato”.159

Ante a atual prática alienatória praticada pelo réu, a


solução jurídica beligerante seria a modificação da guarda,
mas como se fundamentou e argumentou acima, a busca
da autora é pela reconciliação familiar, a reaproximação
de sua prole e a abstenção da prática alienatória por parte
do requerido.
Caso não haja efeito a terapia familiar por possível
recalcitrância do réu, buscar-se-á a modificação da guarda,
modificando a guarda unilateral para a compartilhada,
num primeiro e num segundo momento, havendo
continuidade da alienação a modificação da guarda física.
É importante salientar que a guarda compartilhada
não é a alternada, mas já que aquela é o
compartilhamento, todas as decisões devem ser feitas em
comum, pelo casal, como se casados ainda fossem,
evitando disputas e prejuízos para o menor,
principalmente no futuro, como escolha do colégio, entre
outras decisões de maior ou menor porte.
“Embora exista uma diferença doutrinária entre guarda
compartilhada e alternada – no primeiro caso há apenas o
compartilhamento das responsabilidades em relação ao
menor, enquanto no segundo a custódia física é dividida –,
vale esclarecer que nesta modalidade não se pressupõe,
necessariamente, o compartilhamento da guarda; trata-se na
maioria das vezes de uma espécie da guarda unilateral, e por
isso é tão criticada”.160

E,
“A aplicação desse instituto também significa que os
genitores passam a tomar as decisões sobre os filhos de forma
conjunta e consensual, ambos fazendo parte do dia a dia da
criança ou do adolescente, inexistindo a figura do cônjuge
visitante. O filho, consequentemente, sente menos os efeitos da
separação dos pais”.161

III.4 – ALTERNATIVA AO FRACASSO DA TERAPIA


FAMILIAR ANTE A PO SSÍVEL RESISTÊNCIA
DO REQ UERIDO : DA REALIZAÇÃO DE
PERÍCIA SO CIAL E PSICO LÓ GICA PARA
SUBSIDIAR O PEDIDO DE MO DIFICAÇÃO
DE GUARDA
A atuação do assistente social no judiciário ou mesmo
fora dele, bem como do psicólogo, em casos como este,
em que, para a verificação de uma situação específica, é
necessário um profissional especializado, é na função de
perito.
Nos casos de guarda, o objeto periciado é a realidade
dos pais e do menor, verificando-se as condições sociais,
psicológicas e qual terá maior condições de exercê-la,
enfim, o que será melhor para a criança ou o adolescente.
“Quando o trabalho do assistente social implica em
produção de prova, quer no campo administrativo, quer no
campo judicial, esse serviço é chamado de perícia social”.162

Já para a identificação de distúrbios psicológicos,


como a ALIENAÇÃO PARENTAL, cabe ao psicólogo a
produção de tal perícia, que deverá ser feita, esta e aquela
(perícia social), à luz das regras da perícia. Nesta linha, os
areópagos estaduais já decidiram:
“ Agravo de instrumento. Ação cautelar inominada c/c
alimentos. Determinação de estudo social para definição de
guarda. Pleito de perícia social com a indicação de
assistentes. Pretensão rejeitada. Temática relevante.
Necessidade de confecção de uma peça que possibilite um
posicionamento técnico amparado por normas processuais de
salvaguarda dos litigantes. Recurso provido. Apenas a perícia
permite aliar o conhecimento técnico às garantias
processuais, entre elas o contraditório ( art. 5.º, LV, da
CF/1988), a declaração de impedimento e a arguição de
suspeição ( arts. 134, 135 e 138, III, do CPC)” ( TJSC, Agravo
de Instrumento 02.025189-0, Rel. Orli de Ataide Rodrigues,
Data da Decisão: 03.09.2004).

E,
“Prova. Perícia. Estudos técnicos de caráter social e
psicológico. Trabalhos realizados por assistente social e
psicóloga do juízo. Operações sujeitas ao regime das perícias.
[...]. Aplicação do art. 435 do CPC. Constituem autênticas
perícias os trabalhos típicos de assistente social e de
psicólogo, como meios instrutórios destinados a prover o juiz
das regras técnicas que lhe fogem à preparação jurídica, [...].
Aplica-se, por conseguinte, o art. 435 do Código de Processo
Civil” ( TJSP, Agravo de Instrumento 222.788-4/9-00. Por
unanimidade: Desembargadores Theodoro Guimarães, J.
Roberto Bedran e Osvaldo Caron).

Assim, a fim de subsidiar a futura decisão no tocante à


guarda, se não houver êxito na terapia, e/ou para
identificar a alienação parental, é necessária a realização
de Perícia Social e de Perícia Psicológica, a primeira por
assistente social do juízo e a segunda, por psicólogo
nomeado, devendo realizar não só com o menor, mas
com seus genitores.

IV – DA TUTELA ANTECIPADA
O Código de Processo Civil tutela que:
“Art. 273 ( CPC). O juiz poderá, a requerimento da parte,
antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela
pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova
inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:
I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação; ou
II – fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o
manifesto propósito protelatório do réu”.

A doutrina à luz da referida norma entende que:


“Poucos se dão conta, porém, que, em regra, o autor
pretende uma modificação da realidade empírica e o réu
deseja a manutenção do status quo. [...] Em qualquer processo
civil há uma situação concreta, uma luta por um bem da vida,
que incide de modo radicalmente oposto sobre as posições das
partes. A disputa pelo bem da vida perseguido pelo autor,
justamente porque demanda tempo, somente pode prejudicar o
autor ( que tem razão) e beneficiar o réu ( que não a tem). [...] É
preciso admitir, ainda que lamentavelmente, a única verdade:
a demora sempre beneficia o réu que não tem razão. [...] Se o
processo é um instrumento ético, que não pode impor um dano
à parte que tem razão, beneficiando a parte que não a tem, é
inevitável que ele seja dotado de um mecanismo de
antecipação da tutela, que nada mais é do que uma técnica que
permite a distribuição racional do tempo do processo”.163
A tutela antecipada é o juízo antecipado do
magistrado sobre o caso concreto em que se verificam a
verossimilhança das alegações do requerente, a
reversibilidade da medida e o iminente dano na demora da
concessão da tutela jurisdicional. No caso em pauta há a
presença dos três elementos.
No tocante à ve rossimilhança das ale gaçõe s, o
robusto conjunto probatório anexado (inclusive com
sentença homologatória) coaduna com os argumentos
fáticos aqui narrados, não deixando dúvidas sobre a razão
dos autores. Quanto à re ve rsibilidade da me dida, esta
pode se dar a qualquer tempo, ou seja, a medida a ser, data
venia, concedida pelo douto magistrado tornar-se-á
plenamente reversível, já que a própria lei processual
informa que “ § 4º A tutela antecipada poderá ser
revogada ou modificada a qualquer tempo, em decisão
fundamentada”. Por fim, e mais importante, o dano
imine nte encontra-se patente neste caso ante o
descumprimento do acordo firmado pelas partes e o dano
iminente ante a prática da alienação parental perpetrada
pelo requerido ao seu filho menor, além de todo o
prejuízo afetivo sofrido não só pelo autor, como também
pela própria prole. A doutrina ainda complementa:
“Não é possível esquecer que o art. 5.º, XXXV, da CR,
afirma que ‘nenhuma lei excluirá do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito’, com o nítido intuito de viabilizar a tutela
inibitória, ou seja, a tutela capaz de garantir a
inviolabilidade de um direito que está sendo ameaçado de
lesão”.164

Ante este contexto, em caso análogo ao discutido


nesta ação, o areópago estadual já decidiu que:
“A tutela antecipatória, por ser medida excepcional,
somente pode ser concedida quando presentes os requisitos
indispensáveis, quais sejam, a ‘prova inequívoca do direito
invocado’ e a ‘verossimilhança das alegações’, conjugados
com o ‘receio de dano irreparável ou de difícil reparação’, e
que a medida pretendida, caso concedida, seja passível de
reversão. O princípio da efetividade do processo e o da
necessidade devem ser atendidos, pois sem a intervenção
judicial célere, os autores sofreriam danos, evidentemente
maiores do que eventual prejuízo de ordem financeira por
parte do estabelecimento comercial” ( TJSC, Agravo de
Instrumento 2002.005568-4, de Balneário Camboriú, Rel.
Juíza Sônia Maria Schmitz).

O que se pretende nesta ação, por tutela antecipada,


NÃO É A MODIFICAÇÃO DA GUARDA, mas a
EFET IVAÇÃO DO ACORDO FIRMADO EM JUÍZO
PELAS PART ES e a DET ERMINAÇÃO DE
REALIZAÇÃO DE T ERAPIA FAMILIAR, não só a
autora, como o réu e o filho menor em forma que
designar a terapeuta.

V – DO S PEDIDO S
ANTE O EXPO STO , re que r:
a) a concessão do benefício da justiça gratuita por não
ter a autora condições de arcar com as custas do
processo sob pena de prejudicar o seu próprio
sustento e o de sua filha;
b) a concessão da tutela antecipada, inaudita altera
parte, para fixação (e/ou cumprimento do já
fixado, se assim entender) para que:
b.1) o requerido realize ou apresente certificado
(declaração) do acompanhamento do grupo de
apoio junto a esta comarca, devendo
apresentar nos próximos meses a declaração
do acompanhamento mensal sob pena de
astreinte por possível descumprimento;
b.2) a determinação de que o genitor réu, a autora
e a prole do casal realizem terapia familiar em
atendimentos individualizados ou outra forma
que entender o profissional psicológico, sendo
este determinado por este juízo ou outro
indicado por sua notória especialidade (em
anexo), determinando que a autora e o réu
custeiem cada um metade do valor dos
honorários do profissional;
b.3) que, havendo a concessão do pedido acima,
seja o requerido ordenado a cumprir e levar seu
filho para cumprimento, também, sob pena de
astreinte;
c) não havendo a concessão de alguma das tutelas
acima requeridas, que sejam concedidas após
audiência conciliatória ou contestação, como
entender melhor este juízo;
d) o aprazamento emergencial de audiência de
justificação e de conciliação, no mesmo ato,
devendo HAVER A PRODUÇÃO nesta audiência
da ouvida das parte por economia processual e
ante a necessidade PREMENT E de concessão da
tutelas aqui requeridas;
e ) a citação da requerida, para que, querendo
contestar, o faça no prazo de lei sob pena de
revelia e confissão;
f) a intimação do representante do Ministério Público
para atuar no feito;
g) havendo recalcitrância do réu em atender as tutelas
aqui requeridas, haja a modificação da guarda do
menor;
h) a nomeação de peritos psicológico e social,
abrindo prazo para quesitos às partes e nomeação
de assistentes técnicos, a fim de verificar a
existência da alienação parental e, não havendo
êxito na terapia, haja a modificação da guarda da
criança, realizando estudo não só com esta, como
também com as partes;
i) o acolhimento dos documentos e teses aqui
suscitadas;
j) a produção de todas as provas admitidas em direito;
k) a condenação da requerida em custas e honorários
de advogado arbitrados sobre o valor da causa.

Valor da causa: R$ 5.000,00 (cinco mil reais)

Nestes termos,
Pede deferimento.

Florianópolis/SC, Data.

DO UGLAS PHILLIPS FREITAS


O AB/SC 18.167

Art. 5.º Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma
ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou
biopsicossocial.
A Lei 11.698/2008 (Guarda Compartilhada), que alterou o art. 1.584, § 3.º, do CC,
informa que o juiz “ poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe
interdisciplinar”, para seu convencimento.
Art. 425 do CP C.
NORES, Cafferata. La prueba en el processo penal. Buenos Aires: Depalma, 1986. p.
47.
FREITAS, Douglas P hillips. Guarda compartilhada sob as regras da pericia.
Florianópolis: Conceito, 2009. p. 36.
GRISARD FILHO, Waldyr. Guarda compartilhada: quem melhor para decidir? São
P aulo: P ai Legal, 2002.
FREITAS, Douglas P hillips. Guarda compartilhada sob as regras da pericia.
Florianópolis: Conceito, 2009. p. 44.
Ibidem. p. 41.
FREITAS, Douglas P hillips. Guarda compartilhada sob as regras da pericia.
Florianópolis: Conceito, 2009. p. 88.
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela antecipatória, julgamento antecipado e
execução imediata da sentença. São P aulo: RT, 1997.
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela específica ( arts. 461, CPC e 84, CDC). São
P aulo: RT, 2000.
MENTIRAS INFANTIS

Felipe Ornell165

9.1 UM CUIDADO ... NÃO UMA REGRA


A acusação de abuso tem que ser analisada como possível mentira,
por isso, até que haja devida instrução, orienta-se a não cessação do
direito de convivência com o possível abusador, mas a realização na
forma assistida – até porque, de forma assistida, não haverá abuso e, se
não for verdadeira a acusação, também não se cortará o contato com
o genitor indevidamente acusado.
Excessos de um ou outro lado, poderão causar grave dano ao
menor ou ao genitor acusado, pois pode ser ou não verdade tal
alegação. Embora pareça óbvio tal aconselhamento, geralmente
notam-se excessos nos julgados que, na presença de uma acusação, ou
não a levam em consideração, deixando o menor em situação de risco,
ou a acolhem como verdade plena, colocando um genitor e um menor
afastados pelo equívoco que somente após longa instrução se
demonstrará.
Ocorre que tais “ mentiras” poderão ser realizadas pela influência
do alienador, ou, por vezes, pela própria criança, por motivos
diversos. A fim de melhor discutir o tema, trago especialmente para
esta obra trabalho encomendado ao professor e psicólogo Felipe
Ornell, que traz importante luz ao tema.
Repisa-se que elencar este capítulo não é desqualificar a fala da
criança, mas pôr uma luz sobre o tema, em uma análise madura e em
prol do convívio familiar e da justiça.

9.2 MENTIRAS INFANTIS

Epílogo
Antes de iniciar, gostaria de ressaltar o meu agradecimento
ao Dr. Douglas pelo convite para participar desta obra
desenvolvendo este capítulo que trará como tema “ Mentiras
infantis”, trazendo à luz questões polêmicas e atuais em um
cenário que coloca a alienação parental e a guarda compartilhada
como centro das discussões.
O assunto começou a me instigar ainda durante a graduação,
quando tive a oportunidade de trabalhar com a Prof. Nerilza
Volpato Beltrame Alberton, autoridade em psicologia clínica,
escolar e infantil, fundadora do curso no qual me formei e uma
das minhas maiores referências profissionais e humanas. Durante
este período de tempo, frequentemente nos deparávamos com
encaminhamentos de crianças consideradas “ problemáticas” e
que, portanto, supostamente necessitavam de intervenção
psicológica. Entretanto, na maioria dos casos, após uma
minuciosa avaliação cognitiva, psicométrica, emocional e
familiar, algo era comum a todas as situações: independente da
queixa, a criança parecia não possuir um problema pontual. O
problema não era da criança, mas da estrutura familiar. Ela
apenas o expressava muitas vezes em forma de agressividade,
déficits, fobias ou mesmo falseando uma realidade dolorosa.
Por diversas vezes, ouvi a professora Nerilza repetir: “ A
criança geralmente não tem problemas, quando alguma
problemática aparece de forma mais acentuada, ela sinaliza para
algo maior que a criança, e do qual ela é, de certa forma, porta
voz”. Ou seja, o problema é familiar e consequentemente mais
delicado de ser trabalhado.
Posteriormente, enquanto desenvolvia este texto fui
presenteado pela querida Lenita Pacheco Lemos Duarte com o
seu livro A angústia das crianças diante dos desenlaces
parentais, em que ela propõe uma literatura interdisciplinar
psicanalítico-jurídica acerca dos aspectos subjetivos
desencadeados em processos de litígio e afins. Na obra, em um
determinado momento, ela realiza uma proposição
extremamente pertinente, e que vem ao encontro da proposta
deste capítulo: “ cabe ao analista se interrogar sobre os sintomas
da criança e sobre o que ele representa na estrutura familiar,
possibilitando diferenciar a criança-sintoma do sintoma da
criança”.166
Em situações de separação, fica evidente a incidência de
fatores emocionais, constantemente circundados de conflitos,
atritos, traições e mágoas que potencializam o surgimento de
sentimentos de posse e perda, que somados à ação das leis de
estado, em circunstâncias de litígio, configuram um cenário
angustiante ao qual a criança busca dar sentido, eventualmente
fantasiando sentimentos de rejeição e abandono e tornando-se
vulnerável à manipulação dos genitores, podendo ocasionar,
inclusive, a ruptura de vínculos afetivos com o outro genitor.
Assim, torna-se claro que as mentiras, na maioria das vezes,
não são meramente distúrbios de comportamento, mas um
indicador importante de uma conjuntura familiar desestruturada
da qual a criança, por estar em processo de desenvolvimento
cognitivo/emocional, torna-se vítima direta. Esta condição
torna-se cada vez mais evidente nos processos de litígio em que
as mentiras parecem surgir de forma bastante pontual, e muitas
vezes são negligenciadas em função do desconhecimento dos
profissionais sobre o tema.
Já está bem descrito na literatura que abusos físicos,
emocionais ou sexuais – assim como a negligência – aparecem
constantemente acompanhados de mentiras, e que este conjunto
de situações e comportamentos potencializam a probabilidade de
desenvolvimento de um transtorno psiquiátrico posterior, fato
que torna imprescindível que os profissionais envolvidos,
principalmente em processos de litígio, estejam familiarizados e,
mais do que isso, atentos a essa temática.
Ao final do capítulo, espero ter chamado a atenção para
esta problemática e possibilitado a visualização do tema na sua
grandeza, afinal, não se trata apenas da resolução de um
processo de guarda, mas de uma personalidade em
desenvolvimento e que precisa ter a integridade psíquica zelada,
evitando decisões judiciais errôneas e a manutenção de um
processo patológico que pode conduzir a um quadro psiquiátrico
futuro.

Mentiras infantis
Em um cenário em que a síndrome da alienação parental
torna-se cada vez mais evidente, o presente capítulo objetiva
revisar aspectos relativos às mentiras infantis, temática
importante que, por vezes, tende a ser negligenciada pelos
diversos atores dos processos jurídicos relacionados
especialmente a situações que envolvem a disputa de guarda e
regulamentação de convivência.
É fato que a inclusão da lei da alienação parental configura
uma verdadeira revolução nas práticas jurídicas, evidenciando a
emergência de um novo panorama em que magistrados se veem
pressionados por advogados e pelo Ministério Público a tratar da
alienação parental de forma objetiva, recorrendo,
constantemente, à perícia multidisciplinar. Nessa perícia, o
psicólogo adquire importância essencial, com finalidade de
viabilizar a objetivação do subjetivo e também instrumentalizar
dados para uma decisão mais acertada que contemple dados que
perpassem o discurso racional.
Dessa forma, trataremos inicialmente da definição da
mentira infantil, suas causas, tipos, implicações e formas de
intervenção, findando embasar psicólogos, advogados,
promotores, magistrados e demais profissionais que se inserem
no tocante de litígios. O conhecimento sobre tal temática pode
configurar peça chave para a resolução de impasses jurídicos e,
consequentemente, zelar pela integridade psíquica e propiciar um
ambiente saudável para o desenvolvimento físico, emocional e
cognitivo da criança.

A Mentira Infantil
A mentira infantil pode ser considerada um distúrbio de
comportamento caracterizado por condutas transgressoras e
manipulação da realidade, todavia, eventuais manifestações
sintomáticas não são suficientes para avaliar o quadro como
psicopatológico. Quando a mentira ocorre de forma
independente e não contínua, é avaliada, em geral, como normal
e essencial no processo de desenvolvimento da criança. É a
evolução e a frequência desses comportamentos que definirão a
expressão de uma organização patológica (MARCELLI, 2008,
p. 137).
Para Piaget (1932/1994:64), um dos principais autores
desenvolvimentistas, a criança adquire a consciência moral em
três etapas progressivas que se estendem da infância à
adolescência. Inicia-se com o estágio da anomia, ou pré-
moralidade, em que não há noção de regra ou consciência moral.
Posteriormente, esta fase é superada pela heteronomia, em que
as regras são impostas. Por fim, atinge-se a autonomia moral, ou
seja, a possibilidade de governar a si mesmo com base em
relações de reciprocidade.
Nas fases iniciais do desenvolvimento, a mentira constitui
para a criança a descoberta de que o pensamento não é
transparente, mas subjetivo, e, portanto, as demais pessoas não
têm acesso a ele; com isso, a criança constrói a certeza de que o
seu mundo imaginário permanece pessoal. Nesse sentido,
Vinha167 realiza uma proposição interessante sobre a
importância da mentira no desenvolvimento infantil:
“(...) outro motivo comum que leva as crianças de 3 a 5 anos de idade
a mentir é o fato de estarem simplesmente verificando se conseguem
enganar os adultos, se podem ter segredos não descobertos. Estas primeiras
mentiras devem ser interpretadas como sinal de descoberta, ‘de algo
fantástico’ e essencial para ela: a capacidade de ter segredos (...)”.

É muito comum na fase pré-operatória a “ pseudomentira”.


Denominada assim, pois está mais próxima da fantasia
(característica do jogo simbólico) do que da mentira. Na
“ pseudomentira”, a criança egocêntrica deforma
espontaneamente a realidade, submetendo-a aos seus desejos,
deturpando a verdade sem perceber.168 Ou seja, as crianças nessa
fase não mentem com a intenção de enganar, elas alteram os
fatos em função do egocentrismo e do excesso de imaginação,
confundindo o real e o imaginário. Contudo, isso não quer dizer
que estejam alheias à realidade, existe uma modificação da
verdade, porém, geralmente, de boa-fé.169
Destaca-se que até os sete ou oito anos, a criança encontra-
se particularmente vulnerável à manipulação, posto que não há
diferenciação absoluta entre fantasia e realidade, o que predispõe
a implantação de falsas memórias que podem passar a ser
contempladas como reais. Assim, é necessária atenção especial
em crianças nessa fase. É amplamente difundido na literatura que
em processos de disputa judicial pela guarda pode haver
tendência a um dos progenitores descarregar as frustrações do
outro genitor sobre a criança como forma de produzir um
sistema de cumplicidade. Apesar de este processo poder ocorrer
de forma inconsciente, ele tende a desencadear modificações
significativas no sistema emocional.
Piaget postula que no decorrer do estágio pré-operatório que
perdura em média dos dois aos sete anos, a criança aperfeiçoa o
uso do pensamento simbólico, também chamado de função
semiótica. Isso permite que ela se utilize de um sistema de signos
que possibilita manipular mentalmente o objeto, criando uma
representação mental (PAPALIA, OLDS e FELDMAN, 2008, p.
284).
A capacidade de representação mental permite a criança
buscar novas formas de organizar o seu mundo, expressa por
meio da imitação diferida, presente nas atividades lúdicas, como
os jogos simbólicos e brincadeiras de faz de conta (também
chamadas de jogo simbólico, jogo da fantasia, jogo dramático ou
jogo da imaginação), em que a criança usa a imaginação para
transformar um objeto em outro, ou mesmo oferecer vida a ele,
o chamado animismo. Também é comum a materialização das
fantasias por meio da assunção do papel de outrem, por
exemplo, de um super-herói.
A significação da mentira para uma criança pequena é
distinta da acepção do adulto. A desigualdade entre adultos e
crianças impossibilita a troca de pontos de vista equiparáveis, é
impossível exigir que a criança compreenda o valor da verdade e
a obrigação da veracidade se ela ainda se encontra na fase
egocêntrica, pois é incapaz de socializar seu pensamento.170
Acerca disso Piaget diz que:
“(...) a criança até sete ou oito anos, mais ou menos, experimenta uma
dificuldade sistemática em se sujeitar a veracidade. Sem mentir por mentir,
isto é, sem procurar o embuste nem mesmo tomar consciência clara dele,
altera a realidade em função de seus desejos e sua fantasia”.171

A consciência moral infantil nasce do encontro da coação


moral com o egocentrismo, sendo edificada em estágios que
iniciam com a pré-moralidade. Na fase da anomia, a criança está
alheia ao universo moral. Inexiste para ela qualquer forma de
regra ou convenção. É um estado de falta de lei ou ausência de
normas de conduta.172
Na etapa seguinte, designada heteronomia, a moral está
baseada no respeito pela autoridade e pela obediência ao outro,
as regras são respeitadas em função do temor à sanção que a sua
quebra pode acarretar, essa pode ser a fase em que a criança
encontra-se mais propensa a ceder a jogos psicológicos
propostos pelo genitor em casos de alienação parental, posto
que, nesse período, a regra imposta pela coação adulta lhe
parecerá, desde então, tanto mais sagrada e exigirá, a seus olhos,
uma interpretação mais “ objetiva” quando, de fato, não
corresponde a uma necessidade real e interior de seu espírito.173
Na fase seguinte, a condição heterônoma ocorre em
decorrência do respeito unilateral, a criança reconhece a regra de
“ dizer a verdade”, aceitando as punições decorrentes da quebra
desta regra, isso acontece mesmo antes de compreender o valor
da verdade e a natureza da mentira. Além disso, considera mais
sério mentir aos adultos do que às crianças, visto que o adulto
pode puni-la. Essa fase marca a entrada da criança no mundo da
moral. A superação da heteronomia ocorre pelo estágio
denominado autonomia.174
Por fim, a autonomia significa ser governado por si próprio.
Ao atingir esta fase, as manifestações de atitude acontecem
pautadas pela compreensão de um contrato de respeito às
normas e regras com reciprocidade e cooperação, ela fica
evidente já na adolescência, quando as demais fases de
desenvolvimento cognitivo e moral são superadas, e o sujeito
desenvolve a capacidade de empatia, ou seja, consegue colocar-
se no lugar do outro.

Causas e formas de intervenção


Retomando a mentira como a alteração intencional dos
fatos, pode-se concluir que, durante a primeira infância, a
criança não mente, ela fantasia os fatos sem o propósito de
enganar. De maneira geral, ela corrompe os episódios, em
função da demasia imaginativa combinada com a realidade. A
verdadeira mentira aparece por volta dos seis ou sete anos.175
De acordo com Adrados,176 para tornar possível o auxílio à
criança que mente, é necessário antes de tudo descobrir os
ensejos que culminam nesses comportamentos, possibilitando a
busca de formas de intervenção.
Os motivos que levam as crianças a deturparem a realidade
são diversos, podendo encontrar-se centrados na própria
criança, no ambiente ou em ambos. Nesse sentido, as causas da
mentira infantil competem a diversas etiologias podendo residir:

na imitação de atitudes paternais;


no temor como mecanismo de defesa em um clima
de insegurança;
na vaidade, gerada pela aflição adjacente do senso de
inferioridade, em que a criança sente necessidade de
se valorizar;
na carência afetiva, para chamar a atenção sobre si;
na implantação de falsas memórias que passam a ser
contempladas como realidade.

De acordo com Adrados,177 grande parte das crianças que na


adolescência desenvolvem distúrbios psicóticos oriundos do
hábito da mentira infantil tiveram seu desenvolvimento em um
ambiente em que a mentira era frequente. T rata-se da mentira
por imitação, ou seja, no contingente de crianças que mentem, é
observável um constante expressivo de pais que também
falseiam a realidade. Isso torna abstruso o controle da mentira,
pois mesmo contra os padrões morais sócio-historicamente
construídos, a mentira faz parte do cotidiano.
O conhecimento acerca da etiologia da mentira torna
possível uma intervenção adequada. Assim, é possível
esquematizar formas de ajustar pontos censuráveis que possam
vir a propiciar a mentira. Para que a suspensão do hábito ocorra,
a orientação deve se estender à criança, aos pais e aos
educadores.178
Outro fato interessante acerca do desenvolvimento da
mentira se configura na ambiguidade de mensagens transmitidas
pelos genitores, ou seja, se os adultos almejam a construção de
valores acerca da honestidade, devem antes estar preparados
para ouvir tanto verdades boas quanto ruins, se em um momento
a criança é punida por contar a verdade, possivelmente no
futuro irá mentir para evitar a sanção (GINOT T apud VINHA,
2000, p. 539).
Para modificar o hábito da mentira, é preciso procurar suas
causas e não castigar a mentira em si mesma. É importante
propiciar uma atmosfera de confiança e segurança e possibilitar
à criança o desenvolvimento do seu potencial criador, pondo-a
para contar estórias, para inventar brincadeiras, escrever,
desenhar, pintar, modelar etc. A imaginação da criança não deve
ser jamais travada.179
Quando a mentira é decorrente da confabulação da criança
acerca da realidade, pode existir um envolvimento afetivo, que
impossibilite ou bloqueie o ajustamento, levando a criança a não
aceitação da realidade. A mentira torna-se uma forma de a
criança escapar de algo que lhe causa sofrimento, o motivo da
aflição precisa ser descoberto e trabalhado. Nesses casos, um
cuidado especial deve ser tomado, para que não ocorra um
trauma. Os familiares e educadores devem ser orientados a não
favorecer a tendência à confabulação, sem, entretanto,
contradizer, desmentir ou humilhar a criança.
Se a mentira surge como forma de superação do complexo
de inferioridade, podem-se proporcionar à criança atividades em
que ela apresenta uma maior competência, fazendo que ela se
afirme nesses aspectos e orgulhe-se de si mesma, não precisando
recorrer à mentira.180
A mentira também pode ser o reflexo de um ambiente
demasiadamente rigoroso, geralmente com pais ríspidos e
inflexíveis, ou pode ocorrer por imitação das atitudes paternais,
conforme já explicitado. Nesses casos, o ambiente precisa ser
modificado, e os pais instruídos acerca da implicância de seus
atos no desenvolvimento moral dos filhos. O ambiente familiar
precisa propiciar a segurança e a livre expressão, respeito não
pode jamais ser confundido com medo. A severidade exagerada
gera insegurança e ansiedade. Os pais precisam entender o
motivo que leva a criança a um determinado ato, para assim
buscar formas de ajudá-la.181

Tipos de mentiras

Mentira utilitária
A mentira utilitária é análoga à empregada pelo adulto, a
criança vale-se dela de forma adjacente para tirar um proveito
ou beneficiar-se de forma imediata, evitando aborrecimentos ou
punições, ou seja, utiliza-a de forma defensiva. As atitudes dos
adultos com a criança podem propiciar a mentira e mesmo
favorecer seu agravamento. Ambientes demasiadamente
rigorosos e moralistas tendem a fortalecer a adoção de uma
conduta cada vez mais pérfida (MARCELLI, 2008, p. 138).
Assim, “ é natural que a criança minta quando recebe uma
educação muito rígida, em que são exigidas dela atitudes
impossíveis”.182
É fundamental que, além dos cuidadores, profissionais da
educação, saúde e direito busquem compreender o motivo da
mentira, entendendo o que conduziu tais atitudes, podendo ser
um indicador potente de que a criança encontra-se com
dificuldades ou angústias em um determinado aspecto da vida, e,
portanto, é necessário que se busquem maneiras de ajudá-la na
superação desse quadro. Por isso, punir rigorosamente não é
indicado, é preciso chegar à emoção da criança, levando-a a
refletir sobre seus atos, explicando com tranquilidade as
implicações negativas da mentira, ilustrando com exemplos
práticos de como ela pode ser prejudicial, e explicitando que o
condenável foi a ação da criança na situação em questão e não a
criança em si183 (MARCELLI, 2008, p. 138).

Mentira Compensatória
Nesses casos, geralmente, existe uma implicação afetiva que
pode suscitar um complexo de inferioridade, isso leva a criança a
mentir como forma de enfrentar a realidade, podendo, também,
incidir por vaidade. Nela, a criança faz uso de exageros para
atrair atenção sobre si ou idealiza uma imagem ou situação que
vê como inacessível. Portanto, comumente, ocorrem acerca de
aspectos dos quais a criança carece. Na primeira infância, esse
tipo de mentira é considerada corriqueira, visto que, além dos
fatores ambientais, existem pontos referentes à confusão entre
imaginação e realidade típicos dessa fase. É notória a invenção
de amigos imaginários, ou mesmo familiares que não existem,
atribuindo a estes qualidades que julga superiores (MARCELLI,
2008, p. 138-139).
Dessa forma, a mentira é usada com finalidade de
compensação, procura vangloriar-se perante os colegas de coisas
que nunca fez, ou inventa sobre seus pais e familiares. Para o
psicólogo infantil, a análise dessas fantasias é importante, pois
quase sempre elas representam o que gostariam que existisse na
realidade; assim, a mentira pode ser uma saída para a frustração
que a realidade determina.184
Até os oito anos, em média, isso pode ser considerado
normal, cooperando, inclusive, na formação da identidade
narcísea, porém a persistência desse quadro torna-se
preocupante, podendo evoluir para distúrbios psicóticos.
Deve-se possibilitar à criança formas de expressar a sua
criatividade de forma saudável, propiciando a sua autoafirmação
nos aspectos em que ela tem maior aptidão, dessa forma pode-se
trabalhar a ascensão da autoestima da criança, fazendo que ela
consiga se sobressair sem a necessidade de recorrer à mentira.185

Mitomania
A mitomania é a mentira psicopatológica propriamente
dita, resultante na maioria das vezes de carências agudas nos
laços afetivos, parentais e incertezas identificatórias. Também
sobrevém nos episódios em que a criança apresenta uma
propensão doentia e constante para a mentira, transformando-a
em verdade e passando a viver em um mundo irreal
(MARCELLI, 2008, p. 139).
Nesse sentido, Dupré postula que a mitomania é “ a
tendência patológica mais ou menos voluntária e consciente
para a mentira e para a criação de fábulas imaginárias”. Segundo
esse mesmo autor, a mitomania é delineada como vaidosa,
maligna e perversa (DUPRÉ apud MARCELLI, 2008, p. 139).
Normalmente, as mentiras dos mitomaníacos estão
relacionadas a assuntos específicos, grande parte dos
mitômaníacos não possui consciência plena de suas palavras,
eles acabam por iludir os outros em histórias de fins únicos e
práticos, diferentemente daqueles que mentem em qualquer
ocasião.
Próximo da mitomania encontra-se o delírio de devaneio,
que caracteriza as crianças que vivem permanentemente em um
mundo de fantasia e de sonhos com temática megalomaníaca.
Essas crianças desenvolvem um “ falso eu”. É necessário apoio
psicológico para saber qual o motivo que as leva a fugirem da sua
própria realidade. A criança ou jovem que persiste na mentira
transforma-se em um adulto inseguro, potencializando-se o risco
de desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, como a
esquizofrenia.
Assim como há crianças que, ao ouvirem uma bronca muito
severa do professor, se arranha e diz para os pais que o professor
a agrediu, também há a possibilidade de, em situações de crises,
como em separação dos pais, passam a usar a mentira para
chamar atenção, (a criança pode, por exemplo, inventar que
está sendo espancada pelo padrasto na tentativa de unir os pais
novamente) (HAIM GRINSPIN, 1999).

Conclusão
Apesar de as mentiras infantis constituírem uma temática
emergente na atualidade e que passam a ganhar atenção especial
em função da lei da alienação parental, ainda existem poucas
publicações na área e pouco conhecimento dos profissionais
sobre o assunto, abrindo precedentes para que este seja
negligenciado e, consequentemente, tenha repercussões nocivas
na subjetividade. Ressalta-se que os sintomas expressos pela
criança sinalizam, muitas vezes, para um ambiente problemático
e desestruturado, podendo estar aí a chave para a resolução mais
consciente de casos de disputa pela guarda, possibilitando um
ambiente saudável para o desenvolvimento da criança e
prevenindo o desenvolvimento de psicopatologias mais sérias na
adolescência e vida adulta.

Cursou graduação em P sicologia pela Universidade do Extremo Sul Catarinense –


UNESC. Membro do Laboratório de Neurociências da mesma instituição de 2009 a
2013 aonde desenvolveu estudos pré-clínicos na área de neurociência e
comportamento com ênfase em neuropsicofarmacologia e modelos animais de mania e
neuroinfecção sob orientação do P rof. Dr. João Quevedo. Atualmente é P sicólogo
Residente em Saúde Mental na Escola de Saúde P ública do Rio Grande do Sul,
atuando no Hospital P siquiátrico São P edro e no Centro de atenção psicossocial
para álcool e drogas IAP I – Hospital Mãe de Deus. Membro do Center for Drug and
Alcohol Research – Hospital de Clínicas de P orto Alegre/Federal University of Rio
Grande do Sul e coautor de artigos publicados em diversas revistas internacionais.
P rofessor convidado da Associação dos Advogados de São P aulo – AASP.
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WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José C. M. Formação do Brasil
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ANEXOS

1
RESOLUÇÃO 08, DE 30 DE JUNHO DE 2010
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA
Dispõe sobre a atuação do psicólogo como perito e
assistente técnico no Poder Judiciário.

O CONSELHO FEDERAL DE P SICOLOGIA, no uso de suas atribuições


legais e regimentais, que lhe são conferidas pela Lei n.º 5.766, de 20 de dezembro de
1971; pelo Código de Ética P rofissional e pela Resolução CFP n.º 07/2003:
CONSIDERANDO a necessidade de estabelecimento de parâmetros e diretrizes
que delimitem o trabalho cooperativo para exercício profissional de qualidade,
especificamente no que diz respeito à interação profissional entre os psicólogos que
atuam como peritos e assistentes técnicos em processos que tratam de conflitos e que
geram uma lide;
CONSIDERANDO o número crescente de representações referentes ao trabalho
realizado pelo psicólogo no contexto do P oder Judiciário, especialmente na atuação
enquanto perito e assistente técnico frente a demandas advindas das questões
atinentes à família;
CONSIDERANDO que, quando a prova do fato depender de conhecimento
técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, por ele nomeado;
CONSIDERANDO que o psicólogo perito é profissional designado para
assessorar a Justiça no limite de suas atribuições e, portanto, deve exercer tal função
com isenção em relação às partes envolvidas e comprometimento ético para emitir
posicionamento de sua competência teórico-técnica, a qual subsidiará a decisão
judicial;
CONSIDERANDO que os assistentes técnicos são de confiança da parte para
assessorá-la e garantir o direito ao contraditório, não sujeitos a impedimento ou
suspeição legais;
CONSIDERANDO que o psicólogo atuará com responsabilidade social,
analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural,
conforme disposto no princípio fundamental III, do Código de Ética P rofissional;
CONSIDERANDO que o psicólogo considerará as relações de poder nos
contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre suas atividades
profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais
princípios do Código de Ética P rofissional, conforme disposto no princípio
fundamental VII, do Código de Ética P rofissional;
CONSIDERANDO que é dever fundamental do psicólogo ter, para com o
trabalho dos psicólogos e de outros profissionais, respeito, consideração e
solidariedade, colaborando, quando solicitado por aqueles, salvo impedimento por
motivo relevante;
CONSIDERANDO que o psicólogo, no relacionamento com profissionais não
psicólogos compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço
prestado, resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando a
responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo;
CONSIDERANDO que a utilização de quaisquer meios de registro e
observação da prática psicológica obedecerá às normas do Código de Ética do
psicólogo e à legislação profissional vigente, devendo o periciando ou beneficiário,
desde o início, ser informado;
CONSIDERANDO que os psicólogos peritos e assistentes técnicos deverão
fundamentar sua intervenção em referencial teórico, técnico e metodológico
respaldados na ciência P sicológica, na ética e na legislação profissional, garantindo
como princípio fundamental o bem-estar de todos os sujeitos envolvidos;
CONSIDERANDO que é vedado ao psicólogo estabelecer com a pessoa
atendida, familiar ou terceiro que tenha vínculo com o atendido, relação que possa
interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado;
CONSIDERANDO que é vedado ao psicólogo ser perito, avaliador ou
parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou
anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos
resultados da avaliação;
CONSIDERANDO que o psicólogo poderá intervir na prestação de serviços
psicológicos que estejam sendo efetuados por outro profissional, a pedido deste
último;
CONSIDERANDO decisão deste P lenário em reunião realizada no dia 18 de
junho de 2010, resolve:

Capítulo I
Realização da Perícia
Art. 1.º O P sicólogo P erito e o psicólogo assistente técnico devem evitar
qualquer tipo de interferência durante a avaliação que possa prejudicar o princípio
da autonomia teórico-técnica e ético-profissional, e que possa constranger o
periciando durante o atendimento.
Art. 2.º O psicólogo assistente técnico não deve estar presente durante a
realização dos procedimentos metodológicos que norteiam o atendimento do
psicólogo perito e vice-versa, para que não haja interferência na dinâmica e qualidade
do serviço realizado.
P arágrafo único. A relação entre os profissionais deve se pautar no respeito e
colaboração, cada qual exercendo suas competências, podendo o assistente técnico
formular quesitos ao psicólogo perito.
Art. 3.º Conforme a especificidade de cada situação, o trabalho pericial poderá
contemplar observações, entrevistas, visitas domiciliares e institucionais, aplicação
de testes psicológicos, utilização de recursos lúdicos e outros instrumentos,
métodos e técnicas reconhecidas pelo Conselho Federal de P sicologia.
Art. 4.º A realização da perícia exige espaço físico apropriado que zele pela
privacidade do atendido, bem como pela qualidade dos recursos técnicos utilizados.
Art. 5.º O psicólogo perito poderá atuar em equipe multiprofissional desde que
preserve sua especificidade e limite de intervenção, não se subordinando técnica e
profissionalmente a outras áreas.

Capítulo II
Produção e Análise de Documentos
Art. 6.º Os documentos produzidos por psicólogos que atuam na Justiça devem
manter o rigor técnico e ético exigido na Resolução CFP n.º 07/2003, que institui o
Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo,
decorrentes da avaliação psicológica.
Art. 7.º Em seu relatório, o psicólogo perito apresentará indicativos pertinentes
à sua investigação que possam diretamente subsidiar o Juiz na solicitação realizada,
reconhecendo os limites legais de sua atuação profissional, sem adentrar nas
decisões, que são exclusivas às atribuições dos magistrados.
Art. 8.º O assistente técnico, profissional capacitado para questionar
tecnicamente a análise e as conclusões realizadas pelo psicólogo perito, restringirá
sua análise ao estudo psicológico resultante da perícia, elaborando quesitos que
venham a esclarecer pontos não contemplados ou contraditórios, identificados a
partir de criteriosa análise.
P arágrafo único. P ara desenvolver sua função, o assistente técnico poderá ouvir
pessoas envolvidas, solicitar documentos em poder das partes, entre outros meios
(art. 429, Código de P rocesso Civil).

Capítulo III
Termo de Compromisso do Assistente Técnico
Art. 9.º Recomenda-se que antes do início dos trabalhos o psicólogo assistente
técnico formalize sua prestação de serviço mediante Termo de Compromisso firmado
em cartório onde está tramitando o processo, em que conste sua ciência e atividade a
ser exercidas, com anuência da parte contratante.
P arágrafo único. O Termo conterá nome das partes do processo, número do
processo, data de início dos trabalhos e o objetivo do trabalho a ser realizado.

Capítulo IV
O Psicólogo que atua como Psicoterapeuta das Partes
Art. 10. Com intuito de preservar o direito à intimidade e equidade de
condições, é vedado ao psicólogo que esteja atuando como psicoterapeuta das partes
envolvidas em um litígio:
I – Atuar como perito ou assistente técnico de pessoas atendidas por ele e/ou de
terceiros envolvidos na mesma situação litigiosa;
II – P roduzir documentos advindos do processo psicoterápico com a finalidade
de fornecer informações à instância judicial acerca das pessoas atendidas, sem o
consentimento formal destas últimas, à exceção de Declarações, conforme a Resolução
CFP n.º 07/2003.
P arágrafo único. Quando a pessoa atendida for criança, adolescente ou interdito,
o consentimento formal referido no caput deve ser dado por pelo menos um dos
responsáveis legais.

Disposições f inais
Art. 11. A não observância da presente norma constitui falta ético-disciplinar,
passível de capitulação nos dispositivos referentes ao exercício profissional do
Código de Ética P rofissional do P sicólogo, sem prejuízo de outros que possam ser
arguidos.
Art. 12. Esta resolução entrará em vigor na data de sua publicação.
Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.

Ana Maria Pereira Lopes


P residente do Conselho
2
RESOLUÇÃO 07, DE 14 DE JUNHO DE 2003
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA
Institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo,
decorrentes de avaliação psicológica e revoga a Resolução CFP 17/2002.

O CONSELHO FEDERAL DE P SICOLOGIA, no uso de suas atribuições


legais e regimentais, que lhe são conferidas pela Lei n.º 5.766, de 20 de dezembro de
1971;
CONSIDERANDO que o psicólogo, no seu exercício profissional, tem sido
solicitado a apresentar informações documentais com objetivos diversos;
CONSIDERANDO a necessidade de referências para subsidiar o psicólogo na
produção qualificada de documentos escritos decorrentes de avaliação psicológica;
CONSIDERANDO a frequência com que representações éticas são
desencadeadas a partir de queixas que colocam em questão a qualidade dos
documentos escritos, decorrentes de avaliação psicológica, produzidos pelos
psicólogos;
CONSIDERANDO os princípios éticos fundamentais que norteiam a atividade
profissional do psicólogo e os dispositivos sobre avaliação psicológica contidos no
Código de Ética P rofissional do P sicólogo;
CONSIDERANDO as implicações sociais decorrentes da finalidade do uso dos
documentos escritos pelos psicólogos a partir de avaliações psicológicas;
CONSIDERANDO as propostas encaminhadas no I Fórum Nacional de
Avaliação P sicológica, ocorrido em dezembro de 2000;
CONSIDERANDO a deliberação da Assembleia das P olíticas Administrativas
e Financeiras, em reunião realizada em 14 de dezembro de 2002, para tratar da revisão
do Manual de Elaboração de Documentos produzidos pelos psicólogos, decorrentes
de avaliações psicológicas;
CONSIDERANDO a decisão deste P lenário em sessão realizada no dia 14 de
junho de 2003,
RESOLVE:
Art. 1.º Instituir o Manual de Elaboração de Documentos Escritos, produzidos
por psicólogos, decorrentes de avaliações psicológicas.
Art. 2.º O Manual de Elaboração de Documentos Escritos, referido no artigo
anterior, dispõe sobre os seguintes itens:
I – P rincípios norteadores;
II – Modalidades de documentos;
III – Conceito / finalidade / estrutura;
IV – Validade dos documentos;
V – Guarda dos documentos.
Art. 3.º Toda e qualquer comunicação por escrito decorrente de avaliação
psicológica deverá seguir as diretrizes descritas neste manual.
P arágrafo único. A não observância da presente norma constitui falta ético-
disciplinar, passível de capitulação nos dispositivos referentes ao exercício
profissional do Código de Ética P rofissional do P sicólogo, sem prejuízo de outros
que possam ser arguidos.
Art. 4.º Esta resolução entrará em vigor na data de sua publicação.
Art. 5.º Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 14 de junho de 2003.

Odair Furtado
Conselheiro P residente
MANUAL DE ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS
DECORRENTES DE AVALIAÇÕES
PSICOLÓGICAS

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A avaliação psicológica é entendida como o processo técnico-científico de
coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos
psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade,
utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas – métodos, técnicas e
instrumentos. Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os
condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de
servirem como instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na
modificação desses condicionantes que operam desde a formulação da demanda até a
conclusão do processo de avaliação psicológica.
O presente Manual tem como objetivos orientar o profissional psicólogo na
confecção de documentos decorrentes das avaliações psicológicas e fornecer os
subsídios éticos e técnicos necessários para a elaboração qualificada da comunicação
escrita.
As modalidades de documentos aqui apresentadas foram sugeridas durante o I
Fórum Nacional de Avaliação P sicológica, ocorrido em dezembro de 2000.
Este Manual compreende os seguintes itens:

I – P rincípios norteadores da elaboração documental;


II – Modalidades de documentos;
III – Conceito / finalidade / estrutura;
IV – Validade dos documentos;
V – Guarda dos documentos.

I – PRINCÍPIOS NORTEADORES NA ELAB ORAÇÃO


DE DOCUMENTOS
O psicólogo, na elaboração de seus documentos, deverá adotar como princípios
norteadores as técnicas da linguagem escrita e os princípios éticos, técnicos e
científicos da profissão.

1. Princípios técnicos da linguagem escrita


O documento deve, na linguagem escrita, apresentar uma redação bem
estruturada e definida, expressando o que se quer comunicar. Deve ter uma ordenação
que possibilite a compreensão por quem o lê, o que é fornecido pela estrutura,
composição de parágrafos ou frases, além da correção gramatical.
O emprego de frases e termos deve ser compatível com as expressões próprias da
linguagem profissional, garantindo a precisão da comunicação, evitando a
diversidade de significações da linguagem popular, considerando a quem o
documento será destinado.
A comunicação deve ainda apresentar como qualidades: a clareza, a concisão e a
harmonia. A clareza se traduz, na estrutura frasal, pela sequência ou ordenamento
adequado dos conteúdos, pela explicitação da natureza e função de cada parte na
construção do todo. A concisão se verifica no emprego da linguagem adequada, da
palavra exata e necessária. Essa “ economia verbal” requer do psicólogo a atenção
para o equilíbrio que evite uma redação lacônica ou o exagero de uma redação prolixa.
Finalmente, a harmonia se traduz na correlação adequada das frases, no aspecto
sonoro e na ausência de cacofonias.

2. Princípios éticos e técnicos

2.1. Princípios Éticos


Na elaboração de DOCUMENTO, o psicólogo baseará suas informações na
observância dos princípios e dispositivos do Código de Ética P rofissional do
P sicólogo. Enfatizamos aqui os cuidados em relação aos deveres do psicólogo nas
suas relações com a pessoa atendida, ao sigilo profissional, às relações com a justiça
e ao alcance das informações – identificando riscos e compromissos em relação à
utilização das informações presentes nos documentos em sua dimensão de relações de
poder.
Torna-se imperativo a recusa, sob toda e qualquer condição, do uso dos
instrumentos, técnicas psicológicas e da experiência profissional da P sicologia na
sustentação de modelos institucionais e ideológicos de perpetuação da segregação
aos diferentes modos de subjetivação. Sempre que o trabalho exigir, sugere-se uma
intervenção sobre a própria demanda e a construção de um projeto de trabalho que
aponte para a reformulação dos condicionantes que provoquem o sofrimento
psíquico, a violação dos direitos humanos e a manutenção das estruturas de poder
que sustentam condições de dominação e segregação.
Deve-se realizar uma prestação de serviço responsável pela execução de um
trabalho de qualidade cujos princípios éticos sustentam o compromisso social da
P sicologia. Dessa forma, a demanda, tal como é formulada, deve ser compreendida
como efeito de uma situação de grande complexidade.

2.2. Princípios Técnicos


O processo de avaliação psicológica deve considerar que os objetos deste
procedimento (as questões de ordem psicológica) têm determinações históricas,
sociais, econômicas e políticas, sendo as mesmas elementos constitutivos no
processo de subjetivação. O DOCUMENTO, portanto, deve considerar a natureza
dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto de estudo.
Os psicólogos, ao produzirem documentos escritos, devem se basear
exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações,
dinâmicas de grupo, escuta, intervenções verbais) que se configuram como métodos e
técnicas psicológicas para a coleta de dados, estudos e interpretações de informações
a respeito da pessoa ou grupo atendidos, bem como sobre outros materiais e grupo
atendidos e sobre outros materiais e documentos produzidos anteriormente e
pertinentes à matéria em questão. Esses instrumentais técnicos devem obedecer às
condições mínimas requeridas de qualidade e de uso, devendo ser adequados ao que
se propõem a investigar.
A linguagem nos documentos deve ser precisa, clara, inteligível e concisa, ou
seja, deve-se restringir pontualmente às informações que se fizerem necessárias,
recusando qualquer tipo de consideração que não tenha relação com a finalidade do
documento específico.
Deve-se rubricar as laudas, desde a primeira até a penúltima, considerando que a
última estará assinada, em toda e qualquer modalidade de documento.

II – MODALIDADES DE DOCUMENTOS
1. Declaração *
2. Atestado psicológico
3. Relatório / laudo psicológico
4. P arecer psicológico *

* A Declaração e o Parecer psicológico não são documentos decorrentes da avaliação


Psicológica, embora muitas vezes apareçam desta forma. Por isso consideramos importante
constarem deste manual afim de que sejam diferenciados.

III – CONCEITO / FINALIDADE / ESTRUTURA

1. Declaração

1.1. Conceito e finalidade da declaração


É um documento que visa a informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas
relacionados ao atendimento psicológico, com a finalidade de declarar:

a) Comparecimentos do atendido e/ou do seu acompanhante, quando necessário;


b) Acompanhamento psicológico do atendido;
c) Informações sobre as condições do atendimento (tempo de acompanhamento,
dias ou horários).

Neste documento não deve ser feito o registro de sintomas, situações ou estados
psicológicos.

1.2. Estrutura da declaração


a) Ser emitida em papel timbrado ou apresentar na subscrição do documento o
carimbo, em que conste nome e sobrenome do psicólogo, acrescido de sua inscrição
profissional (“ Nome do psicólogo / N.º da inscrição”).
b) A declaração deve expor:
– Registro do nome e sobrenome do solicitante;
– Finalidade do documento (por exemplo, para fins de comprovação);
– Registro de informações solicitadas em relação ao atendimento (por exemplo:
se faz acompanhamento psicológico, em quais dias, qual horário);
– Registro do local e data da expedição da declaração;
– Registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou carimbo
com as mesmas informações.
Assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do carimbo.

2. Atestado psicológico

2.1. Conceito e finalidade do atestado


É um documento expedido pelo psicólogo que certifica uma determinada
situação ou estado psicológico, tendo como finalidade afirmar sobre as condições
psicológicas de quem, por requerimento, o solicita, com fins de:

a) Justificar faltas e/ou impedimentos do solicitante;


b) Justificar estar apto ou não para atividades específicas, após realização de um
processo de avaliação psicológica, dentro do rigor técnico e ético que
subscreve esta Resolução;
c) Solicitar afastamento e/ou dispensa do solicitante, subsidiado na afirmação
atestada do fato, em acordo com o disposto na Resolução CFP n.º 015/96.

2.2. Estrutura do atestado


A formulação do atestado deve restringir-se à informação solicitada pelo
requerente, contendo expressamente o fato constatado. Embora seja um documento
simples, deve cumprir algumas formalidades:
a) Ser emitido em papel timbrado ou apresentar na subscrição do documento o
carimbo, em que conste o nome e sobrenome do psicólogo, acrescido de sua inscrição
profissional (“ Nome do psicólogo / N.º da inscrição”).
b) O atestado deve expor:
– Registro do nome e sobrenome do cliente;
– Finalidade do documento;
– Registro da informação do sintoma, situação ou condições psicológicas que
justifiquem o atendimento, afastamento ou falta – podendo ser registrado sob
o indicativo do código da Classificação Internacional de Doenças em vigor;
– Registro do local e data da expedição do atestado;
– Registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou carimbo
com as mesmas informações;
– Assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do carimbo.

Os registros deverão estar transcritos de forma corrida, ou seja, separados


apenas pela pontuação, sem parágrafos, evitando, com isso, riscos de adulterações.
No caso em que seja necessária a utilização de parágrafos, o psicólogo deverá
preencher esses espaços com traços.
O atestado emitido com a finalidade expressa no item 2.1, alínea b, deverá
guardar relatório correspondente ao processo de avaliação psicológica realizado, nos
arquivos profissionais do psicólogo, pelo prazo estipulado nesta resolução, item V.

3. Relatório psicológico

3.1. Conceito e finalidade do relatório ou laudo psicológico


O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de
situações e/ou condições psicológicas e suas determinações históricas, sociais,
políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica. Como todo
DOCUMENTO, deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um
instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame
psíquico, intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e
científico adotado pelo psicólogo.
A finalidade do relatório psicológico será a de apresentar os procedimentos e
conclusões gerados pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o
encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso,
orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação
de acompanhamento psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações
necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição.

3.2. Estrutura
O relatório psicológico é uma peça de natureza e valor científicos, devendo
conter narrativa detalhada e didática, com clareza, precisão e harmonia, tornando-se
acessível e compreensível ao destinatário. Os termos técnicos devem, portanto, estar
acompanhados das explicações e/ou conceituação retiradas dos fundamentos teórico-
filosóficos que os sustentam.
O relatório psicológico deve conter, no mínimo, 5 (cinco) itens: identificação,
descrição da demanda, procedimento, análise e conclusão.

1. Identificação
2. Descrição da demanda
3. P rocedimento
4. Análise
5. Conclusão
3.2.1. Identificação
É a parte superior do primeiro tópico do documento com a finalidade de
identificar:

O autor/relator – quem elabora;


O interessado – quem solicita;
O assunto/finalidade – qual a razão/finalidade.

No identificador AUTOR/RELATOR, deverá ser colocado o(s) nome(s) do(s)


psicólogo(s) que realizará(ão) a avaliação, com a(s) respectiva(s) inscrição(ões) no
Conselho Regional.
No identificador INTERESSADO, o psicólogo indicará o nome do autor do
pedido (se a solicitação foi da Justiça, se foi de empresas, entidades ou do cliente).
No identificador ASSUNTO, o psicólogo indicará a razão, o motivo do pedido
(se para acompanhamento psicológico, prorrogação de prazo para acompanhamento
ou outras razões pertinentes a uma avaliação psicológica).

3.2.2. Descrição da demanda


Esta parte é destinada à narração das informações referentes à problemática
apresentada e dos motivos, razões e expectativas que produziram o pedido do
documento. Nesta parte, deve-se apresentar a análise que se faz da demanda de forma a
justificar o procedimento adotado.

3.2.3. P rocedimento
A descrição do procedimento apresentará os recursos e instrumentos técnicos
utilizados para coletar as informações (número de encontros, pessoas ouvidas etc.) à
luz do referencial teórico-filosófico que os embasa. O procedimento adotado deve ser
pertinente para avaliar a complexidade do que está sendo demandado.

3.2.4. Análise
É a parte do documento na qual o psicólogo faz uma exposição descritiva de
forma metódica, objetiva e fiel dos dados colhidos e das situações vividas
relacionados à demanda em sua complexidade. Como apresentado nos princípios
técnicos, “ O processo de avaliação psicológica deve considerar que os objetos deste
procedimento (as questões de ordem psicológica) têm determinações históricas,
sociais, econômicas e políticas, sendo as mesmas elementos constitutivos no
processo de subjetivação. O DOCUMENTO, portanto, deve considerar a natureza
dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto de estudo”.
Nessa exposição, deve-se respeitar a fundamentação teórica que sustenta o
instrumental técnico utilizado, bem como princípios éticos e as questões relativas ao
sigilo das informações. Somente deve ser relatado o que for necessário para o
esclarecimento do encaminhamento, como disposto no Código de Ética P rofissional
do P sicólogo.
O psicólogo, ainda nesta parte, não deve fazer afirmações sem sustentação em
fatos e/ou teorias, devendo ter linguagem precisa, especialmente quando se referir a
dados de natureza subjetiva, expressando-se de maneira clara e exata.

3.2.5. Conclusão
Na conclusão do documento, o psicólogo vai expor o resultado e/ou
considerações a respeito de sua investigação a partir das referências que subsidiaram
o trabalho. As considerações geradas pelo processo de avaliação psicológica devem
transmitir ao solicitante a análise da demanda em sua complexidade e do processo de
avaliação psicológica como um todo.
Vale ressaltar a importância de sugestões e projetos de trabalho que contemplem
a complexidade das variáveis envolvidas durante todo o processo.
Após a narração conclusiva, o documento é encerrado, com indicação do local,
data de emissão, assinatura do psicólogo e o seu número de inscrição no CRP.

4. Parecer

4.1. Conceito e finalidade do parecer


P arecer é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do
campo psicológico cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo.
O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do
conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “ questão-
problema”, visando a dirimir dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo,
portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de quem responde competência no
assunto.

4.2. Estrutura
O psicólogo parecerista deve fazer a análise do problema apresentado,
destacando os aspectos relevantes e opinar a respeito, considerando os quesitos
apontados e com fundamento em referencial teórico-científico.
Havendo quesitos, o psicólogo deve respondê-los de forma sintética e
convincente, não deixando nenhum quesito sem resposta. Quando não houver dados
para a resposta ou quando o psicólogo não puder ser categórico, deve-se utilizar a
expressão “ sem elementos de convicção”. Se o quesito estiver mal formulado, pode-se
afirmar “ prejudicado”, “ sem elementos” ou “ aguarda evolução”.
O parecer é composto de 4 (quatro) itens:

1. Identificação
2. Exposição de motivos
3. Análise
4. Conclusão

4.2.1. Identificação
Consiste em identificar o nome do parecerista e sua titulação, o nome do autor da
solicitação e sua titulação.

4.2.2. Exposição de Motivos


Destina-se à transcrição do objetivo da consulta e dos quesitos ou à
apresentação das dúvidas levantadas pelo solicitante. Deve-se apresentar a questão
em tese, não sendo necessária, portanto, a descrição detalhada dos procedimentos,
como os dados colhidos ou o nome dos envolvidos.

4.2.3. Análise
A discussão do PARECER P SICOLÓGICO se constitui na análise minuciosa
da questão explanada e argumentada com base nos fundamentos necessários
existentes, seja na ética, na técnica ou no corpo conceitual da ciência psicológica.
Nesta parte, deve respeitar as normas de referências de trabalhos científicos para suas
citações e informações.

4.2.4. Conclusão
Na parte final, o psicólogo apresentará seu posicionamento, respondendo à
questão levantada. Em seguida, informa o local e data em que foi elaborado e assina o
documento.
IV – VALIDADE DOS CONTEÚDOS DOS DOCUMENTOS
O prazo de validade do conteúdo dos documentos escritos, decorrentes das
avaliações psicológicas, deverá considerar a legislação vigente nos casos já
definidos. Não havendo definição legal, o psicólogo, onde for possível, indicará o
prazo de validade do conteúdo emitido no documento em função das características
avaliadas, das informações obtidas e dos objetivos da avaliação.
Ao definir o prazo, o psicólogo deve dispor dos fundamentos para a indicação,
devendo apresentá-los sempre que solicitado.

V – G UARDA DOS DOCUMENTOS E CONDIÇÕES DE G UARDA


Os documentos escritos decorrentes de avaliação psicológica, bem como todo o
material que os fundamentou, deverão ser guardados pelo prazo mínimo de 5 anos,
observando-se a responsabilidade por eles tanto do psicólogo quanto da instituição
em que ocorreu a avaliação psicológica.
Esse prazo poderá ser ampliado nos casos previstos em lei, por determinação
judicial, ou ainda em casos específicos em que seja necessária a manutenção da
guarda por maior tempo.
Em caso de extinção de serviço psicológico, o destino dos documentos deverá
seguir as orientações definidas no Código de Ética do P sicólogo.

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