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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

JESSICA RODRIGUEZ

LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL:


ANÁLISE DO PANORAMA GERAL DA LEI A DAS ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI
14.340/22

SÃO PAULO
2022
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JESSICA RODRIGUEZ

LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL:


ANÁLISE DO PANORAMA GERAL DA LEI E DAS ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI
14.340/22

Artigo Científico apresentado como exigência


de conclusão de Curso de Graduação da
Universidade São Judas Tadeu – Campus Santo
Amaro.

Professores Orientadores: Prof. Dra. Salete


Domingos.

SÃO PAULO
2022
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LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL:


ANÁLISE DO PANORAMA GERAL DA LEI E DAS ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI
14.340/22

Jessica Rodriguez Graduanda em Direito pela


Universidade São Judas Tadeu.
Campus Santo Amaro.

BANCA EXAMINADORA
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RESUMO

O presente trabalho busca analisar o panorama geral da Lei 12.318/10, a Lei de Alienação
Parental, desde a sua fundamentação até as alterações trazidas pela Lei 14.340/22. O objetivo é
retomar ao panorama atual a discussão sobre a revogação da lei e sua efetividade para o Direito
de Família e o Direito da Criança e do Adolescente. Nesse sentido, buscou-se analisar a
legislação até então vigente e seus artigos mais importantes, os projetos de lei apresentados no
Senado Federal e na Câmara dos Deputados, as justificativas de organizações não
governamentais e dados do Conselho Nacional de Justiça a respeito do tema. Ainda, busca
apresentar o melhor cenário para sanar as demandas trazidas pelas lacunas apresentadas pela
legislação, utilizando como base pesquisas bibliográficas com base em doutrinas, artigos
científicos, normas e legislação vigente, bom como relatórios do Congresso e do Conselho
Nacional de Justiça.

Palavras-Chave: Síndrome. Alienação Parental. Revogação. Legislação. Criança.


Adolescente. Direito de Família. Consequências.
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INTRODUÇÃO

No atual panorama judicial, nas separações oriundas de relação conjugal, está cada vez
mais comum a presença da alegação de alienação parental, praticada por um dos genitores ou
ambos, como forma de controle ou poder sobre a relação e o processo litigioso.

A prática de alienação parental consiste no abuso psicológico, físico ou sexual de


determinado genitor ou ambos, para com sua prole, com a finalidade de atingir o outro genitor
pela dissolução conjugal da união. A prática está envolta de problemas que atingem o menor
vítima, tanto no seu presente como no seu futuro.

Diante do cenário apresentado e suas consequências, foi criada a Lei 12.318/2010, a Lei
de Alienação Parental, com o objetivo de trazer segurança jurídica para o instituto e orientação
para os componentes do judiciário para a resolução do caso. Ocorre que, ao longo dos anos, a
lei apresentou diversas deficiências em sua aplicabilidade, levantando questionamentos e
posicionamentos perante a sociedade.

A prática da acusação de alienação parental perante o outro genitor gerou uma


movimentação de órgãos especializados e membros da política, como o Conselho Nacional de
Saúde e deputados, para viabilizar a alteração da lei e até mesmo a sua revogação. Com início
na CPI dos Maus Tratos, presidida pelo Senador Magno Malta, foi possível identificar com base
em depoimentos e análises processuais, que a Lei de Alienação Parental, era usada com outra
justificativa daquela originalmente proposta, sendo usada em favor do guardião abusador,
possibilitando que este continua a praticar os abusos amparado pela legislação.

Ainda, demais organizações que defendem a revogação da lei, alegam que a lei possui
omissões, o que a torna vaga em aspectos gerais, possibilitando aos genitores agressores,
geralmente a figura do pai, um controle sobre a genitora da criança e a mantendo refém daquela
relação. Argumenta-se também, de que muitas vezes a criança é realmente vítima de alienação
parental e que pela omissão da lei o agressor (a), pode continuar a visita e tendo a guarda da
criança.
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Ainda, analisando os aspectos estruturais no âmbito judicial, identifica-se deficiências


para a análise correta da prática e no acompanhamento do menor vítima, uma vez que diversas
comarcas não possuem a estrutura necessária ou não há possuem para lidar com o
desenvolvimento do processo em que há indícios da prática de Alienação Parental.

Entretanto, é preciso analisar os aspectos e impactos que a revogação e mudanças na lei


trariam para o Direito de Família e, principalmente, para a criança. A lei de Alienação Parental
apresenta-se como um grande avanço para o Direito da Família, sendo o Brasil um dos poucos
Estados no mundo a reconhecer a prática e a coibir em forma de lei a prática.

Sua revogação total poderia acarretar um retrocesso ao âmbito judicial familiar e, ainda
mais grave, desamparar menores abusados, permitindo mais liberdade ao guardião abusador e
mais controle do relacionamento conjugal, uma vez que o processo legislativo no Brasil não é
célere. Dessa forma, é preciso analisar as justificativas apresentadas nos projetos de lei e as
mudanças trazidas pela lei 14.340/22, onde certos artigos tiveram seus incisos modificados para
chegar a conclusão mais efetiva a demanda.

O presente trabalho busca analisar a legislação anteriormente vigente, trazendo um


panorama geral sobre seus artigos. Ainda, busca analisar as mudanças apresentadas com a
sanção da Lei 14.340/22, assim como as propostas apresentadas pelo Senado Federal para a
possível revogação da lei, com a análise dos Projetos de Lei ante apresentados como a PL
438/2018, bem como relatórios do Conselho Nacional de Justiça e observar os argumentos
propostos pelos parlamentares e organizações do povo, analisando a discussão sobre a
Revogação total da lei e sua importância para o Direito de Família.
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1. CONCEITO DE SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL

A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um fenômeno derivado da separação


conjugal dos genitores, geralmente no âmbito judicial, onde um dos genitores, em regra o
guardião do menor, prática atos com o intuito de programar a sua prole para que odeie, despreze
e não tenha sentimentos pelo outro genitor, sem qualquer justificativa plausível, ou seja, sem
um ato concretizado partido do genitor não guardião.

A identificação da Síndrome de Alienação Parental ocorreu no Departamento de


Psiquiatria Infantil da Universidade de Columbia, pelo professor especialista e perito judicial
Richard Gardner, em 1985. Ao observar as disputas judiciais, percebeu que os genitores
buscavam como objetivo afastar o ex-cônjuge dos filhos, utilizando métodos para induzir a
criança a tomar essa atitude.

Além da identificação feita por Gardner, outros estudiosos e peritos especializados em


disputas familiares judiciais também identificaram prática, como o caso da Síndrome de SAID
- Alegações Sexuais em Divórcio, teoria formulada por Blush e Ross, onde o genitor protetor
ou não, induz a criança a acreditar que sofreu abuso sexual do outro genitor, lhe contando
detalhes do abuso que nunca ocorreu.

Há também outra ramificação da Síndrome de Alienação Parental chamada de Síndrome


da Mãe Maliciosa, consistindo basicamente na vingança da mãe contra o ex-marido, o
impedindo de ver seus filhos. Decorrente desta ramificação há também a Síndrome da
Interferência Grave, onde o genitor se recusa ao regime de visitação imposto judicialmente e
não visita seus filhos.

Diversas estratégias são aplicadas ao menor com o objetivo de causar o sentimento de


rejeição, obstruindo assim a relação biológica parental entre o genitor não guardião e o menor,
podendo chegar a destruí-la por completo. Como consequência, a relação de dependência com
o genitor guardião se torna mais forte, fazendo com que a própria criança colabore para a
eficácia do ato.
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Em um panorama geral, a SAP tem seu início a partir das disputas judiciais pela guarda
do menor, uma vez que as separações conjugais são processos carregados de mágoas,
sentimentos de abandono e de traição, pois o matrimônio é o ápice da confiança que se coloca
em um determinado parceiro, além de sonhos e expectativas. Por muitas vezes a ideia de não
ter mais valor para o outro é uma ruptura brusca para a vida daquele cônjuge, gerando
instabilidade emocional e demais mudanças decorrentes da separação.

Esse panorama faz com que diversos genitores encontrem nos atos de alienação uma
forma de agredir o outro, “de maneira inconsciente, movidos por mágoas ou mesmo por
questões transgeracionais, ou seja, a forma como este pai ou mãe alienador foi criado e qual
padrão familiar ele carrega determinará seus comportamentos na vida adulta” (Madaleno, 2020,
pág.46).

O ato em si não é exclusivo apenas de uma parte da relação, podendo ambos os genitores
praticarem alienação parental. Tal situação traz enorme dificuldade no tratamento para
resolução da situação ou diminuir seus efeitos, pois todos os envolvidos entram em looping de
ações maléficas, ou seja, quando um ataca não há defesa pela parte contrária, mas sim uma
reação ao ataque, geralmente usando do mesmo artifício.

Em meios aos ataques, encontra-se a figura da criança, que deveria ser protegida, porém
os efeitos podem ser ainda mais graves. Conforme entendimento de Freitas:

“crianças que sofrem alienação parental bilateral desenvolvem transtornos


psicológicos severíssimos. Nesses casos, as ferramentas apresentadas pelo
direito e a simples fixação de períodos de convivência tornam-se inócuos, pois
ambos os genitores praticam a alienação parental. É necessário tratamento dos
pais”. (Freitas, 2015, pág. 33)

Ocorre que as induções realizadas pelos genitores que praticam a Alienação Parental,
muitas vezes realizadas de forma inconsciente, determinam o comportamento da criança
alienada quando adulto, gerando feridas inimagináveis e possíveis quadros psicológicos graves
afetando toda a sua vida.
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2. Alienação Parental no ordenamento jurídico brasileiro antes da


alteração

No ordenamento jurídico brasileiro adotou-se uma nova forma de conceituar a Síndrome


de Alienação Parental ou mesmo Alienação Parental. A legislação brasileira vigente traz a
definição como atos de alienação parental, uma vez que a Síndrome de Alienação Parental tem
origem em estudos psicológicos e não jurídicos.

Buscando preencher as lacunas apresentadas na esfera judicial, foi criada a Lei 12.
318/2010, buscando identificar, prevenir e cessar os atos de alienação parental, reafirmando os
direitos concedidos a criança e ao adolescente, no que se refere a convivência familiar, bem-
estar e desenvolvimento psicológico e responsabilidade parental na relação com sua prole, de
acordo com os preceitos previstos na Constituição Federal, no Código Civil, tanto no direito de
família como em outras vertentes e de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente.

A legislação traz de maneira correta um novo conceito quando aloca a prática de


Alienação Parental como “atos” e não simplesmente Síndrome, trazendo a possibilidade de
qualquer das hipóteses que estão previstas no art. 2º da Lei 12.318/10 serem aplicadas, sem a
necessidade da presença de uma síndrome para sua efetividade, conforme explica Caio Mário
da Silva Pereira:

“Dessa forma, importa destacar que a Lei nº 12.318/2010 trata de Alienação


Parental, e não propriamente da Síndrome, que pode ou não atingir crianças
vítimas dos atos de alienação e envolve um “conjunto de sinais e sintomas
apresentados pela criança ou adolescente programado para repudiar de alguma
forma um dos genitores ou outros membros da família” (PEREIRA, 2022, pág.
358)

Conforme a redação do art. 2º da lei supracitada o Ato de Alienação Parental define-se


como:

art. 2º. Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação


psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua
autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
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prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. (BRASIL,


2010, art. 2º)

Ressalta-se que o referido artigo buscou definir como sujeito ativo qualquer pessoa que
possua, além de um laço afetivo, autoridade, guarda ou vigilância perante o alienado, não se
atendo apenas ao genitor como a Síndrome de Alienação Parental define. A redação jurídica
trouxe tal definição como forma de conduzir o magistrado a realizar um exame aprofundado do
tema, evitando dessa forma, o descarte da possibilidade da prática do ato quando se depara com
outra pessoa na figura de alienador que não seja efetivamente o genitor. Dessa forma,
corroborando para a temática, segue o entendimento de Fabio Vieira Figueiredo e Georgios
Alexandridis sobre:

“Note-se que a alienação parental se consubstancia na atuação inquestionável


de um sujeito, denominado alienador, na prática de atos que envolvam uma
forma depreciativa de se lidar com um dos genitores. Trata-se, portanto, de
atuação do alienador que busca turbar a formação da percepção social da
criança ou do adolescente.” (FIGUEIREDO, 2022, pág. 17)

A lei em si, tem como objetivo a proteção da criança e do adolescente, baseado nos
preceitos do Estatuto da Criança e do Adolescente e na proteção à dignidade da pessoa humana
prevista na Constituição Federal, conforme a expresso no art. 3º, Caput:

Art. 3º A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da


criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a
realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui
abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres
inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda. (BRASIL,
2010, art. 3º)

De acordo com o art. 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é direito de toda


criança e adolescente ser criado no âmbito familiar, assegurando a convivência familiar. Ocorre
que a prática do ato de Alienação afronta diretamente esse direito, de forma que a privação da
convivência e a incitação de ódio trazem consequências imensuráveis em sua vida. A falta de
convivência em âmbito familiar saudável ou a impossibilidade de convivência com um dos
genitores fere diretamente o direito à dignidade, previsto na Carta Magna.
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Dessa forma, o art. 227 da Constituição Federal, determina que é dever da Família, junto
com a sociedade e o Estado, proporcionar e assegurar a criança e o adolescente direitos como
educação, dignidade, convivência familiar e comunitária, dentre outros, e preservá-los de toda
e qualquer forma de discriminação, exploração, crueldade e violência.

Como bem apontado por Fabio Vieira Figueiredo e Georgios Alexandridis, a prática de
Alienação Parental fere diretamente o direito a dignidade do alienado:

“A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou


do adolescente de convivência familiar saudável, da qual tem direito
independentemente de ter sido encerrada a relação pessoal entre os seus
genitores, ou qualquer outro parente, assim como prejudica a realização de
afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, na medida em que, ao
acarretar o afastamento do menor com seus parentes, cria buracos nas relações
afetivas que dificilmente conseguem ser restabelecidos.” (FIGUEIREDO,
2022, pág. 23)

O art. 4º da lei 12.218/10 prevê as possibilidades concedidas ao Magistrado, o Ministério


e a parte interessada, quando há o reconhecimento da possível prática de Alienação Parental.
Tanto o Magistrado, o Membro do Ministério Público e parte interessada podem reconhecer a
prática quando há indícios. No caso do Magistrado, o reconhecimento pode ser ex officio.1

O Ministério Público possui a prerrogativa para reconhecer a prática pois trata-se de


matéria de ordem pública, ou seja, seu reconhecimento recai sobre a proteção do menor. Já a
parte interessada pode requerer o reconhecimento, em que pese ser o genitor vítima dos atos
praticados.

Como bem colocado pela ilustre Maria Helena Diniz a aceitação de simples indícios se
dá pela gravidade da prática do ato, tendo a sua providência natureza cautelar:

“Ante a gravidade dos atos de alienação parental, a lei, no art. 4º, aceita
simples indícios dela (p. ex., indução do menor a optar entre mãe ou pai;
apresentação de companheiro a menor como seu novo genitor; comentários

1. Ex Officio1 locução adjetivo jurídico (termo): realizado por imperativo legal ou em razão do cargo ou
da função (diz-se de ato).
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malévolos sobre presentes dados pelo outro; crítica sobre idoneidade


financeira ou capacidade profissional do ex-cônjuge) para que o juiz
determine, a requerimento do alienado ou do Ministério Público ou de ofício,
provisoriamente, as medidas processuais de urgência cabíveis para preservar
a integridade psíquica do menor e tornar possível a sua reaproximação com o
genitor-visitante. Tais providências têm natureza cautelar, antecipatória e
satisfativa, podendo o magistrado agir liminarmente ou de ofício (CPC, arts.
294 e 305, parágrafo único)” (DINIZ, 2022, pág. 64)

O art. 5º da referida legislação apresenta os aspectos probatórios e periciais quando


determinado que há indícios da prática de atos de alienação parental. A identificação da prática
da alienação é por si dificultosa, especialmente quando se depara com um estágio avançado da
situação. Dessa forma acerta a legislação em direcionar a tarefa para profissionais técnicos
capacitados para examinar a questão, auxiliando o magistrado na compreensão de fatos e sua
interpretação, conforme ordena o art. 699 do Código de Processo Civil. De acordo com o
entendimento de Ana Carolina Carpes Madaleno:

“A prova pericial decorre da necessidade de ser demonstrado no processo fato


que depende de conhecimento especializado, que está acima dos
conhecimentos da cultura média, não sendo suficientes as manifestações
leigas de testemunhas e depoimentos que apenas iriam discorrer sobre fatos e
a sua existência, mas carentes de uma visão científica [...]” (MADALENO,
2022, pág. 152)

Apesar da necessidade do profissional técnico para o auxílio do magistrado, a perícia


constatada não obriga o magistrado em sua decisão, podendo ele divergir do laudo pericial ou
preferir a opinião minoritária dos peritos. Pode até mesmo o magistrado solicitar perícia
suplementar ou complementar.

Com a finalidade de coibir a prática da alienação parental desde o início, mesmo


naqueles casos considerados leves, a Lei 12.318/10 buscou trazer em seu art.6º, ao longo de
seus incisos, autorizar o magistrado a tomar medidas judiciais cabíveis para cessar a prática da
Alienação Parental, ou pelo menos atenuar seus efeitos. Entretanto as medidas dispostas no
artigo não prejudicam a responsabilidade civil ou criminal, podendo ser indenizável por dano
moral o sofrimento psicológico imposto à criança ou ao adolescente ou pelo sofrimento causado
ao genitor não guardião, pela iminente perda do contato com os filhos. No âmbito penal, o
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alienador pode responder pela falsa denúncia, violência sexual, calúnia, dentre outros delitos
anexados a conduta.

O art. 7º trata da alteração da guarda do menor alienado, determinando que a preferência


será do genitor que viabilize a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro
genitor, quando a guarda compartilhada for inviável. Já o art. 8º determina que a alteração do
domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a determinação relacionada às ações
fundadas em direito de convivência familiar. Ambos os artigos buscam expressar a importância
de manter a criança e o adolescente junto ao seio familiar.

O conjunto de normas trazidas na lei 12.318/10 objetivas de forma clara a proteção da


criança e do adolescente, seguindo os preceitos do Estatuto da Criança e do Adolescente. De
diversas formas a criança parte deste meio habita sua infância em um contexto tóxico e insalubre
para sua formação. Conforme explica Maria Berenice Dias:

“Sejam as acusações falsas ou verdadeiras, a criança já é vítima de abuso.


Sendo verdadeiras, a vítima sofrerá as consequências devastadoras que este
tipo de abuso proporciona. Sendo falsas, ela é vítima de abuso emocional, que
põe em risco o seu sadio desenvolvimento.82 A criança certamente enfrentará
uma crise de lealdade e sentimento de culpa quando, na fase adulta, constata
que foi cúmplice de uma grande injustiça.” (DIAS, 2015, pág. 548)

Dessa maneira, acerta a legislação em exaltar a importância da convivência familiar e a


responsabilidade dos genitores no desenvolvimento social e psicológico saudável da criança e
do adolescente.
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3. Revogação: breve análise dos Projetos de Lei nº 6371/2019 e 498/2018


e argumentos de grupos a favor da revogação.

Em 25 de abril de 2017, foi criada a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Maus-


Tratos (CPI dos Maus Tratos), presidida pela Senador Magno Malta, objetivando verificar
formas de violência contra crianças e adolescentes. A referida CPI apresentou diversas
conclusões a respeito do assunto, dentre elas a necessidade da revogação da Lei 12.318/10, pois
constatou-se que a norma era usada de forma maléfica pelos genitores abusadores. Ou seja, a
norma que foi criada para a proteção do menor alienado, trazia uma margem legal permitindo
que o genitor abusador continuasse o acesso à vítima abusada, através de manipulação
psicológica, tanto da criança ou adolescente como do genitor guardião.

Sobre o tema, segue o entendimento do Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito:

“Constatamos que uma lei aprovada com a melhor das intenções, de preservar
a crianças de brigas entre familiares, tem sido distorcida para intimidar mães,
ou pais que colocam o amor aos seus filhos abusados acima da cumplicidade
com o parceiro abusador. É inadmissível que pessoas que conseguem reunir a
coragem de denunciar abusos e enfrentar batalhas judiciais duríssimas sejam
tratadas como alienadoras simplesmente por usar meios legais de defesa dos
direitos de seus filhos, como boletins de ocorrência e processos judiciais.”
(SENADO, 2017, pág. 29)

Diante das conclusões apresentadas, o relatório foi encaminhado para o Senado Federal
onde surgiu a proposta do Projeto de Lei do Senado nº.: 498/2018, solicitando a revogação
integral da Lei de Alienação Parental.

A justificativa seria um retorno para os casos de pais e mães que perdem a guarda do filho
por realizarem a denúncia de abuso feita pelo outro genitor, porém, não conseguem comprovar.
Conforme a norma em vigência quando da denúncia não retorna comprovação, a guarda é
compartilhada entre os genitores ou até mesmo inversa, impossibilitando quebrar o ciclo de
abusos sofridos pela prole.
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Entretanto, a Senadora-Relatora Leila Barros, sugeriu modificações na legislação, em


vez da revogação total da lei. Para ela, a revogação total “daria plena liberdade de ação para os
alienadores e, principalmente, em prejuízo das crianças e dos adolescentes, violando o direito à
convivência familiar” (IBDFAM, 2020). A temática da revogação total da lei possui diferentes
teses no âmbito jurídico e psicológico. De acordo com Tamara Brockhausen, vice-presidente
da Associação Brasileira de Psicologia Jurídica, “não faz sentido revogar uma lei com tamanho
impacto nacional na proteção emocional da prole, com a justificativa de mau uso em casos
isolados.” (IBDFAM, 2020)

O Projeto de Lei 6371/2019 trata-se de proposta apresentada pela deputada Iracema


Portela, apresentada em 10 de dezembro de 2019 na Câmara dos Deputados, buscando a
revogação da lei 12.318/10. A justificativa do projeto de lei funda-se na falta de reconhecimento
da alienação parental por grande parte da comunidade científica, pela falta de continuidade nas
pesquisas e periódicos científicos sobre a temática.

Conforme a justificativa do projeto anterior, aqui também se argumenta na utilização da


lei de alienação parental como forma de instrumento para os genitores abusadores, em regra
pais (referência a figura masculina paterna), protegidos pela legislação, continuarem sua prática
de abuso sexual aos seus filhos, inclusive, limitando a presença da mãe para a convivência com
a prole, a depender do imposto pela decisão judicial.

Ainda essa esfera, o projeto elucida que as medidas previstas no art. 6º da lei colaboram
para a corrupção aos princípios fundamentais da criança e do adolescente, pois afrontam a
proteção integral e acabam punindo a vítima. Conforme citado anteriormente, em momento
oportuno, determina o Estatuto da Criança e do Adolescente que a proteção à classe é prioridade
absoluta, com fundamento no art. 227 da Carta Magna. Ainda traz em seu próprio Estatuto,
especificamente no art. 4º, a necessidade e dever de todos os envolvidos na sociedade em
preservar prioritariamente a criança e ao adolescente em todos os aspectos possíveis.

“Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
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profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à


convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990, art.4º)

A principal diferença entre os projetos é a robustez de cada, sendo o Projeto de Lei


498/2018, um tanto profundo quanto a temática. Ainda, importa destacar que este se originou a
partir da CPI dos maus tratos, com evidências comprovadas e lacunas na legislação. A
importância do assunto resultou no parecer da comissão de direitos humanos e legislação
participativa, emitindo opinião sobre o assunto e apresentando apoio a um projeto de lei, porém
para alterar a legislação vigente e não a revogação total.

Diversas organizações não governamentais e entidades governativas, como o instituto


Themis, a Associação de Advogadas pela Igualdade de Gênero (AAIG) e o Conselho Nacional
de Saúde, também são favoráveis à revogação da lei. Segundo a justificativa do Conselho
Nacional de Saúde, a lei traz margem para que o âmbito jurídico conceda direito aos genitores
abusadores, de tal forma que o abusador tem a possibilidade de continuar com a guarda
compartilhada da criança ou continuar com visitas periódicas (CNS, 2022). Ainda, preconiza
que a Síndrome de Alienação Parental não tem espoco científico, não sendo reconhecida pela
comunidade científica internacional.

Já a Organização Themis e a Associação de Advogadas pela Igualdade de Gênero


defendem o fim da Lei de Alienação Parental, não só pelas falhas na proteção do menor, mas
também por ser um artificio do pai (figura masculina) contra a figura da mulher na relação,
sendo sua revogação um importante ato para a proteção da mulher.

Segundo sua justificativa, o uso da alienação parental veio a se tornar mais uma forma
de violência contra a mulher, uma vez que diversas mulheres perdem as guardas de seus filhos
ou o direito de visitação por denunciar os pais abusadores e não ser possível a comprovação.
Nesse escopo o abusador se aproveita da situação para inverter a guarda dos filhos, e continua
a controlar o relacionamento.

De acordo com Rúbia Abs Cruz, sócia da Themis e membro da Associação de


Advogadas pela Igualdade de Gênero, a identificação do abuso sexual é de difícil percepção e
em muitos dos casos a guarda é revertido em favor do abusador:
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“Em uma denúncia de violência sexual, muitas vezes a situação se reverte em


favor do violador, por vezes com apoio de laudos que nem sempre são
específicos em relação à violência (a lei prevê laudos sobre alienação parental
somente) cuja produção de prova é indubitavelmente mais complexa e acaba
por fomentar a discussão sobre a alienação parental, como consequência à
dificuldade de comprovar a prática da violência, refletindo, uma apropriação
cultural patriarcal, que visa desconstruir a figura feminina no processo, em
verdadeira inversão de valores, pois, por vezes, seria o caso de discutir a perda
do poder familiar paterno, para além do direito de visitas.” (THEMIS, 2019)

Além das justificativas ante apresentadas, segundo o Relatório de Proteção da Criança


na Dissolução da Sociedade Conjugal, de iniciativa do Conselho Nacional de Justiça, os casos
de prática de alienação parental em processos de dissolução conjugal, quando apreciados por
Varas cumulativas raramente identificam os conflitos na duração do processo. De acordo com
a percepção do relatório, o fato ocorreria pela falta de exclusividade da Vara, que por cumular
demais matérias que não sejam especificamente da família, não se atentariam para os indícios
de conflitos presentes dos processos, acarretando a prática de Alienação Parental (CNJ, 2022).

Ainda, o relatório identifica que o poder judiciário como um todo, quando falamos do
atendimento a crianças na primeira infância, possui certas deficiências em sua estrutura.
Geralmente, as comarcas possuem equipes técnicas compostas por profissionais habilitados
para atuar na Vara da Família, sendo eles assistentes sociais e psicólogos. Acontece que, em
diversas comarcas as equipes atuam em número expressivamente menor de profissionais, sendo
insuficiente para atender todas as demandas em tempo hábil e com a atenção necessária para
cada caso (CNJ, 2022).

Dessa forma, a identificação correta da prática de Alienação Parental e o


acompanhamento psicológico da vítima de abuso tornam-se genéricos em consonância as
lacunas apresentadas na legislação, agravando ainda mais a situação das vítimas da prática de
Alienação Parental.
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4. Alterações realizadas pela lei 14.340/22

Diante dos debates sobre a revogação ou modificação da Lei de Alienação Parental, foi
sancionada em 19 de maio de 2022 a Lei 14.340/22, originada no Projeto de Lei 634/2022,
modificando a lei em aspectos pontuais, possibilitando introduzir elementos adicionais, porém
mantendo a lei em vigor. De acordo com a explicação de Maria Berenice Dias “mais uma vez
agiu com parcimônia o legislador ao fazer alguns retoques na lei, sem, no entanto, desnaturar o
seu propósito de impedir que ocorra o rompimento das relações parentais”. (IBDFAM, 2022)

O primeiro ponto de destaque é em relação ao art. 4º, parágrafo único da lei 12.318/10.
Com a introdução das modificações passou a redação a definir expressamente os locais para
convivência mínima entre filhos e os genitores e determinação de visitação assistida, quando
há indícios da prática de alienação parental. Dessa forma, o legislador entende que a
convivência deve ocorrer perante o fórum responsável pelo processo em que se discute a prática
do ato de alienação parental ou em entidades conveniadas com a justiça criadas especificamente
para atender essa demanda.

A grande problemática seria o aumento da demanda tendo em vista a falta de


profissionais devidamente qualificados para se incumbir a responsabilidade sobre a visitação.
Conforme aponta Glicia Brazil, a resolução possui problemáticas, mas também pontos
positivos, fazendo com que seja possível acender uma reflexão e encontrar um melhor caminho:

“Aqui fica a reflexão sobre quem será o responsável para realizar a visita
assistida, pois sabidamente os tribunais contam com número reduzido de
psicólogos e assistentes sociais do quadro e estes estão voltados basicamente
para a atividade pericial. Inicialmente, esse artigo me causou desconforto
porque é como se o legislador desse um “cobertor curto”, fazendo gerar uma
delonga nas perícias uma vez que os peritos acumulariam atribuições. Por
outro lado, vejo com certa nobreza a intenção de tentar viabilizar um mínimo
possível, pois não raro as famílias não podem contratar profissionais para
acompanhar o convívio e quando o convívio se dá por pessoas da família,
forma que é feita na atualidade, muitas vezes o que era para ser bom para a
criança acaba sendo um stress, pois nem sempre o adulto que supervisiona o
convívio entende qual é o seu papel e acaba por funcionar como um ‘espião’
durante o tempo de convívio da criança com o adulto solicitante do convívio.”
(IBDFAM, 2022)
19

A segunda alteração ocorreu no art. 5º, § 4º da Lei de Alienação Parental, determinando


que caso não tenha serventuários capacitados suficientes para realizar a avaliação técnica
necessária, poderá o magistrado determinar de ofício a nomeação de profissional capacitado
para exercer a função, seguindo os preceitos do Código de Processo Civil.

A alteração procura reforçar a importância das perícias psicológicas ou biopsicossociais,


possibilitando a nomeação de peritos privados para a identificação da prática de Alienação
Parental, quando os serventuários responsáveis pela realização da avaliação não estiverem
disponíveis. A medida busca sanar a demanda alta e a demora pela verificação da prática,
possibilitando assim, preservar de forma mais eficaz a vítima atingida.

Outra alteração de grande impacto foi a revogação do inciso VII e a inserção do §2º no
art. 6º da referida lei, onde o inciso VII possibilita ao juiz, em ação autônoma ou incidental,
determinar a suspensão da autoridade parental. A lei traz a impossibilidade no tocante a ajuizar
o pedido nos autos da ação que trata sobre a alienação parental, pois encontra escopo na previsão
do Estatuto da Criança e do Adolescente, nos art. 24, 155 e seguintes, onde há a possibilidade
de ajuizar ação para suspensão ou destituição do poder familiar, conforme a redação a seguir:

“Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judicialmente, em


procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na
hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art.
22”. (BRASIL, 1990, art. 24)

“Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do poder familiar terá início
por provocação do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse.”
(BRASIL, 1990, art. 155)

Sobre o assunto, explica Conrado Paulino Rosa:

“Mesmo assim, em ação autônoma perante o Juizado da Infância e da


Juventude, nosso sentimento é o de que, apesar da revogação do inciso
em questão, nada impede que sua declaração tenha como premissa a
prática alienadora.” (IBDFAM, 2022)
20

Já a inserção do §2º determina a periodicidade das avaliações sobre o acompanhamento


psicológico e biopsicossocial, com a emissão de um laudo inicial e um laudo final, contendo as
metodologias aplicadas e a avaliação do caso. Busca aqui, o legislador, apresentar uma melhor
análise do quadro como um todo, aperfeiçoando o acompanhamento e trazendo possibilidade
de identificação e tratamento do caso de maneira mais profunda e célere. De acordo com
Conrado Paulino Rosa:

“Não há dúvidas de que tal mecanismo possibilitará uma melhor análise do


quadro vivenciado pela prole e, até mesmo, viabilizará outras intervenções
que possam resguardar sua integridade emocional. Imaginemos, como
exemplo, uma criança ou um adolescente encaminhado a tratamento
psicológico, em cujo atendimento, no decorrer do período, o profissional
identifique a necessidade de intervenção psiquiátrica. Ao depois, a entrega dos
laudos ao final do acompanhamento, agora exigidos pela legislação,
viabilizarão um olhar especializado sobre a criança e o adolescente,
possibilitando maior segurança à decisão da temática.” (IBDFAM, 2022)

Em contrapartida, há posicionamentos divergentes, onde a possibilidade de o psicólogo


emitir laudos estaria atuando como perito, divergindo da sua função e finalidade, trazendo uma
interpretação errônea da lei, pois deveria constar relatório de acompanhamento, trazendo
sentido à figura do psicólogo e a função que determina a redação. Desse ponto de vista, explica
Glicia Brazil:

“Nesse ponto em particular, o legislador foi a técnico, pois da forma como


redigiu o artigo, ele solicitou nova perícia para o psicólogo que fizer o
acompanhamento psicológico. Via de regra, os acompanhamentos
psicológicos não têm natureza pericial, não cabe quesitos ou assistente
técnico, visam assegurar que a decisão judicial será cumprida sob fiscalização
do técnico, que ao fina de um período de encontros com a família no interior
do tribunal, elaborará um Relatório Psicológico de Acompanhamento, que é
um documento basicamente descritivo e cuja conclusão deva restringir-se a
fazer encaminhamentos. Exemplo: o psicólogo sugere na conclusão que o
próximo passo seja a família ser ouvida em juízo em audiência de conciliação
ou indicar que a família não mais precisa de acompanhamento, pois o que foi
notado até ali permite que a família conviva externamente ao tribunal. Logo,
onde se lê “laudo inicial” e “laudo final” deva-se ler Relatório de
Acompanhamento, porque Laudo é documento escrito produto de perícia.”
(IBDFAM, 2022)
21

A última alteração importante na Lei de Alienação Parental, foi a inserção do art. 8-A,
determinando que quando há o depoimento ou oitiva das crianças e adolescentes nos casos de
alienação parental, estes devem obrigatoriamente observar os termos da Lei 13.431/17, a Lei
do Depoimento Especial.

A lei do Depoimento Especial estabelece um sistema protecional para a vítima criança


ou adolescente, preservando os direitos garantidos quando há a necessidade de oitiva de
testemunha, afastando a possibilidade de ocorrer violência por parte da instituição. No mesmo
sentido, concedendo maior respaldo a proteção e bem-estar da criança e do adolescente, foi
inserido na redação do art. 157 do Estatuto da Criança e do Adolescente a possibilidade
concessão de liminar para suspensão do poder familiar ocorrer, preferencialmente, após a
entrevista do menor vítima ocorrer perante a equipe técnica multidisciplinar e a oitiva da outra
parte, seguindo os preceitos da lei do Depoimento Especial.

Diante das mudanças apresentadas, fica clara a preocupação do âmbito judicial em


preservar a legislação, porém com abertura para aprimorá-la. A total revogação da lei, apesar
das justificativas apresentadas, não sanaria os problemas advindos de suas falhas, muito pelo
contrário, podendo agravar os problemas encontrados na dissolução conjugal e desamparar a
figura da criança e do adolescente.
22

5. Considerações Finais

O objetivo do presente artigo foi apresentar o panorama jurídico envolvente entre a Lei
12.318/10, as propostas de revogação da referida lei e a Lei 14.340/22, lei que trouxe mudanças
ao texto original da lei 12.318/10.

O artigo aborda o conceito de Síndrome de Alienação Parental apresentado por Richard


Gardner, a Lei de Alienação Parental no ordenamento jurídico brasileiro, as propostas de
revogação e as mudanças trazidas pela lei 14.340/22. Em resumo, o objetivo de todo o panorama
visa buscar a proteção da criança e do adolescente vítima da prática.

A grande polêmica que traz debates sobre a efetividade da lei é quando falamos da
alienação parental usada como artifício de genitores abusadores para perpetuar sua prática, em
alguns casos, afastando o genitor guardião que também é vítima.

O processo de análise é de difícil caracterização, afinal necessita de um


acompanhamento profundo para a sua afirmação. Em contrapartida, visando a proteção do
menor, não é prudente para o Magistrado tomar uma medida efetiva apenas quando se tem esse
resultado, especialmente quando estiver relacionando a alienação parental a abuso sexual, pois
estamos diante de panorama onde os genitores abusam dos menores para realizar uma falsa
denúncia contra o outro genitor.

A principal vítima de todo esse fenômeno é a criança ou o adolescente, vivendo em meio


a este conflito gerado por seus genitores, impedido de ter uma infância saudável, conforme as
diretrizes do art. 227 da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente.

O objetivo principal da lei 12.318/2010 é a proteção da dignidade da criança e do


adolescente, caracterizando o que é alienação para fins jurídicos, ampliando seu escopo de
atuação. Estabeleceu também a dignidade da pessoa criança ou do adolescente, a tutela, as
provas, a alteração de guarda e a competência para o exercício da jurisdição.
23

Anteriormente à criação da lei de alienação parental, o ordenamento jurídico tratava o


assunto de forma indireta, deixando ainda mais lacunas para a preservação da criança e do
adolescente. Os projetos de lei para criminalizar a lei da alienação ou para sua revogação não
buscam vislumbrar o avanço para o Direito de Família e para a Proteção da criança e do
adolescente que a lei apresentou. Porém, é de suma importância identificar que a legislação tem
suas lacunas e precisa de alterações para aperfeiçoar o trabalho do magistrado e a proteção à
família.

Desse modo, pode-se afirmar que a melhor solução para o panorama da lei de alienação
parental no ordenamento jurídico brasileiro é a sua manutenção, porém trazendo melhorias para
a interpretação da lei e efetividade da proteção à vítima, como as mudanças aplicadas pela lei
14.340/22.
24

6. REFERÊNCIAS

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<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 10
de outubro de 2022.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.


Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 10 de
novembro de 2022.

BRASIL. Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Lei de Alienação Parental. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 10
de novembro de 2022.

BRAZIL, Glicia. Primeiras impressões dobre a nova lei da alienação parental. IBDFAM,
2022. Disponível em: <https://ibdfam.org.br/artigos/1819/Primeiras+impressões+sobre+
a+nova+lei+da+alienação+parental#>. Acesso em: 05 de novembro de 2022.

CRUZ, Rúbia Abs. Entenda porque revogar a Lei de Alienação Parental é importante para
mulheres e crianças. THEMIS. Disponível em: <https://themis.org.br/entenda-porque-revogar-
lei-de-alienacao-parental-e-importante-para-mulheres-e-criancas/>. Acesso em: 09 de
novembro de 2022.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Proteção da criança na dissolução da sociedade


conjugal / Conselho Nacional de Justiça. – Brasília: CNJ, 2022.

CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. CNS pede fim de PL e lei sobre “alienação parental”,
que prejudicam mulheres e crianças. Disponível em:<http://conselho.saude.gov.br/ultimas-
noticias-cns/2359-cns-pede-fim-de-pl-e-lei-sobre-alienacao-parental-que-prejudicam-
mulheres-e-criancas >. Acesso em: 11 de novembro de 2022.
25

DIAS, Maria Berenice Manual de direito das famílias I Maria Berenice Dias. -- 10. Edição.
rev., atual. e ampl. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.

DIAS, Maria Berenice. Ajustes na Lei da Alienação Parental. IBDFAM, 2022. Disponível em:
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DINIZ, Maria H. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. v.5. Disponível em: Minha
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revogação completa da Lei de Alienação Parental. Disponível em:
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FIGUEIREDO, Fábio, V. e Georgios Alexandridis. Alienação parental. Disponível em: Minha


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26

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