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Fotografia e Narcisismo o Auto Retrato C
Fotografia e Narcisismo o Auto Retrato C
arte e produção / 20
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F OTO G R A F I A E N A RC I S I S M O
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Margarida Medeiros
FOTOGRAFIA
E NARCISISMO
O AUTO-RETRATO CONTEMPORÂNEO
A S S Í R I O & A LV I M
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ÍNDICE
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NOTA PRÉVIA
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AGRADECIMENTOS
Quando se faz um livro, nunca se pode estar só, a não ser nos
momentos de escrevê-lo. Quero aqui agradecer aos que de uma ou de
outra forma me ajudaram.
Primeiro que tudo, agradeço ao Professor Doutor João Mário
Grilo, que orientou a minhe tese de Mestrado, dando-me estímulo e
proporcionando-me um interlocutor imprescindível, tão rigoroso
quanto crítico, mas sobretudo um espírito livre.
Depois, ao meu amigo José Gabriel Pereira Bastos, que muito
me ajudou, discutindo comigo as minhas ideias, e devolvendo-me a
sua visão muito especial das coisas.
A todos os outros deixo aqui também o meu sincero agradeci-
mento e sobretudo à Ruth Rosengarten, que teve paciência para tudo
ler e comentar, com o rigor que lhe é habitual.
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I N T RO D U Ç Ã O
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Júlia Ventura, Helena Almeida, são exemplos de estratégias auto-representativas na arte; Vera
Mantero e Francisco Camacho na dança, Filipe Crawford e Lúcia Sigalho no teatro.
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Jo Spence
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Jo Spence
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Jo Spence
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Nan Goldin, Nan and Brian in bed, New York City, 1983
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A R T E , R E P R E S E N TA Ç Ã O E
M I M E S I S D O E U : O R E T R AT O E N Q U A N T O
« N Ó A N T RO P O L Ó G I C O »
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3 Esta condição da criatividade deve ser vista apenas como uma condição, incontornável,
da existência humana, tal como salientava já Edgar Morin (Morin 1973), e não como negativi-
dade existencial: «… tudo nos indica que o Homo Sapiens é atingido pela morte como por uma
catástrofe irremediável, que vai trazer consigo uma ansiedade específica, a angústia ou horror da
morte, que a presença da morte passa a ser um problema (…) que trabalha a sua vida. Tudo nos
indica igualmente que esse homem não só recusa essa morte, mas que a rejeita, transpõe e resol-
ve no mito e na magia»: Morin 1973: 27.
4 Sylvester 1975: 198. Porventura será essa a razão pela qual Francis Bacon recusa propósi-
tos ideológicos para a sua pintura: «I want to do very, very specific objects, though made out of
something which is completely irrational from the point of view of being an illustration.»:
Sylvester 1975: 197.
5 Bazin 1945: 14.
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6 «Commençons donc par ne pas interroger le portrait en tant que “genre” – je veux dire
en tant qu’espèce traditionelle, éminente, du genre “Beaux-Arts”. Le portrait fait question pour
nous d’abord par qu’il se manifeste comme un noeud anthropologique (sublinhado nosso). La
définition courante du portrait en tant que représentation ressemblante d’une personne existante
— cette définition ne nous est d’auncun secours, dans la simple mesure où les pratiques concrè-
tes généralement désignées sous le terme de “portraits” tissent chacune d’incroyables tresses con-
tradictoires de représentations et de présences, de ressemblances et de dissemblances, d’êtres et
d’existences, sans compter le tyrannique petit labyrinthe que forme à lui seul le mot de “person-
ne”»: Didi-Huberman 1991: 6.
7 Objectivos que variam de acordo com a conjuntura histórica, isto é, ideológica, política
e económica.
8 Platão: «A arte de imitar está bem longe da verdade»: 598c; «o criador de fantasmas, o
imitador, segundo dissemos, nada entende da realidade, mas só da aparência»: 601c; «… o imi-
tador não tem conhecimentos que valham nada sobre aquilo que imita, mas (…) a imitação é
uma brincadeira sem seriedade»: 602b. A oposição que o filósofo estabelece entre cópia e simula-
cro reside no facto de que a cópia procede de um modelo ou arquétipo, permitindo pois o acesso
a este; o simulacro, sendo uma cópia da cópia é falsidade pura, é pura ilusão: a partir deste é
impossível o acesso à Ideia ou à Verdade, já que diante da imagem de uma mesa, por exemplo,
estamos apenas diante de uma imitação de uma cópia do modelo – abstracto – de mesa.
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9 «Imiter est naturel aux hommes et se manifeste dès leur enfance (l’homme diffère des
autres animaux en ce qu’il est très apte à l’imitation et c’est au moyen de celle-ci qu’il acquiert
ser premières connaissances) et, en second lieu, tous les hommes prennent plaisir aux imita-
tions»: Aristóteles: 1448 b 20.
10 Daí que «la mimesis ne procure le plaisir qu’à la condition de donner en acte ce que
néamoins ne se donne pas en acte, seulement dans son double très ressemblant, son mimème»:
Derrida 1971: 26.
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I
PINTURA E FOTOGRAFIA
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11 Cit. por Scharf 1968: 28. Sobre as relações de contágio entre fotografia e pintura, ver
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II
O RETRATO PINTADO E O RETRATO FOTOGRÁFICO
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12 Para uma análise aprofundada deste quadro, sobre o qual existe uma extensa bibliogra-
fia, Cf. Seidel 1989; Harbison 1990; Panofsky 1971; Schabacker 1972; Bedaux 1981.
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which all humanity falls, at least as “humanity” is conceived of any given time»: Brilliant 1991: 38.
15 «… ao contemplar uma foto, incluo fatalmente no meu olhar o pensamento desse ins-
tante, por muito breve que tenha sido, em que uma coisa real ficou imóvel diante do olho»:
Barthes 1980: 111.
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16 A definição da imagem fotográfica como índice está largamente desenvolvida nas obras
de Phillippe Dubois (Dubois 1982: 21-47) e de Jean-Marie Schaeffer (Schaeffer 1987: 11). No
caso do primeiro, no entanto, o autor estabelece uma periodização histórica da teoria da fotogra-
fia, ao longo da qual aquela sofreria uma evolução: se inicialmente a fotografia era – para Dubois
– praticada com o estatuto de ícone, progressivamente ela passa a ter – com o advento do
modernismo – o estatuto de símbolo e só com o pós-modernismo ela teria adquirido o estatuto
de índice. Mas, e tal como salientou já Pedro Miguel Frade (Frade 1992: 62), esta periodização
responde de forma muito deficiente à história da reflexão em torno da fotografia: desde os seus
inícios que a fotografia é avaliada a partir desse estatuto de vestígio da realidade. Talbot afirmava
mesmo, a propósito da fotografia, que «a luz é o lápis da natureza» («the pencil of nature»), valo-
rizando explicitamente essa relação física directa entre a natureza empírica e a formação da ima-
gem: «… the plates of this work have been obtained by the mere action of Light upon sensitive
paper.(…) They are impressed by Nature’s hand»: Talbot 1844: não paginado.
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imenso para que a fotografia não seja a Morte. Mas eu, já objecto, não luto. (…) assim que me
descubro no produto desta operação, aquilo que vejo é que me tornei Todo-Imagem, ou seja, a
Morte em pessoa. Os outros – desapropriam-me de mim próprio, fazem ferozmente de mim um
objecto, têm-me à sua mercê, à sua disposição, arrumado num ficheiro, preparado para todos os
truques subtis.»: Barthes 1980: 31.
Para uma análise aprofundada do dispositivo de captura na fotografia, cf: Oliveira 1984;
Sontag 1973; Tisseron 1996.
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19 De certo modo, podemos já aqui entrever a relação entre as modificações sociais e eco-
nómicas dos últimos duzentos anos e a expansão das técnicas de reprodutibilidade e massificação
da imagem, que estão associadas a um valor de acessibilidade generalizada. Uma forma de elitiza-
ção ao contrário, na medida em que se trata, através dela, de reivindicar uma diferença que se
afirma contra a diferença aristocrática, até aí dominante.
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20 Cf. Cardinal 1992: «Given this sort of cultural expectation, I want to suggest that the
quotient of seriousness which adhered to the practice of the portrait-charge formed the suppor-
tive context wherein, as technology advanced, the photographic portrait would discover its ration-
ale and its characteristic idiom»: p. 7.
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I
REFERÊNCIAS MITOLÓGICAS
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equivalentes simbólicos.
22 Sobre a simbologia da imagem reflectida nas águas, a obra de Bachelard, L’eau et les
rêves, essai sur l’imagination de la matière, refere um aspecto interessante: a oposição entre o refle-
xo aquático e o reflexo no espelho. Para Bachelard, a imagem reflectida nas águas possui uma
dimensão muito mais especulativa, pelo facto de a superfície não ser rígida. Para este autor, «le
reflet un peu vague, un peu pâli, suggère une idéalisation»: Bachelard 1942: 33; o espelho das
águas permitiria uma imaginação aberta. Por essa razão considera que a imagem de Narciso nas
águas lhe revela simultanemante a sua realidade e a sua idealidade: Bachelard 1942: 32-34.
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24 Este mito tem enormes ressonâncias, como analisaremos adiante, no ressurgir do tema
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1 . i i . O c o r p o m u ta n t e : a MÈTIS grega
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a mètis tem de ser mais rápida do que ele. Só o mesmo age sobre o
mesmo: «A vitória sobre uma realidade ondulante, cujas contínuas
metamorfoses tornam quase inapreensível, não pode ser obtida
senão por um acréscimo de mobilidade, uma potência ainda
maior de transformação.» (Detienne & Vernant 1974: 28.)
O homem que se serve da mètis está em conivência com o
real, e é assim que assegura a eficácia da sua acção, procurando a
saída (pòros) escondida, provocando ilusão (apathé) no adversário.
Ora é precisamente todo este agir múltiplo, em várias direc-
ções, que vemos desenhar-se nos mitos gregos numa relação per-
manente com as representações corporais. Perseu, incumbido de
uma tarefa impossível – trazer a cabeça de uma das Górgones26 –,
vai conseguir realizar a sua tarefa com a ajuda de dois deuses:
Atena e Hermes. No entanto, os seus «padrinhos» de viagem não
vão resolver por ele o problema: a ajuda que dão a Perseu consiste
em fazer-lhe compreender os pontos fracos dos adversários do
caminho, e as voltas que terá de dar para os vencer. A Górgona
que tem de matar é Medusa, cuja cabeça está coberta de serpentes
em lugar de cabelo, e cujo olhar tem o poder de petrificar quem
o enfrente. O primeiro grande obstáculo está nas três irmãs do
reino Cinzento, que são o ponto intermédio do caminho. Só elas
lhe poderão ensinar por onde há-de ir, coisa que não farão de
livre vontade (in Hamilton 1942: 48-50). Mas elas têm uma
característica: têm o mesmo olho para três, que vão emprestando
umas às outras. A astúcia de Perseu está em conseguir agarrar o
olho no momento da troca, e usar a sua posse para conseguir a
informação. Perseu tem de estar atento ao momento exacto (o
kairos) para poder agarrar-lhe, o que consegue, podendo prosse-
guir o seu caminho. Hermes dá-lhe a sua espada alada, e Atena o
26 As Górgones são mulheres-montros com cabeça de serpente, mas só a Medusa pode ser
morta.
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II
REFERÊNCIAS FILOSÓFICAS
ii.1. Os olhos
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reconduzir, ou desviar o olhar na direcção do «bom caminho»: «A educação seria, por conseguin-
te, a arte desse desejo, a maneira mais fácil e mais eficaz de fazer dar a volta a esse órgão, não de
o fazer obter a visão, pois já a tem, mas, uma vez que ele não está na posição correcta e não olha
para onde deve, dar-lhe os meios para isso.» Platão(a): 518d.
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i i . i i . O r o s t o e o c o r p o . Te o r i a s f i s i o g n o m ó n i c a s
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The Body Social. Symbolism, Self and Society (1993: 73). A análise
de Synnott vai no sentido de mostrar a importância dada aos cui-
dados com o rosto ao longo da história, mas sobretudo no sentido
de mostrar como o rosto é o alvo principal do conceito de «beleza».
De acordo com a leitura que faz dos textos filosóficos clássicos, a
beleza do Outro e do seu rosto são um tema recorrente de reflexão.
A beleza é vista como uma espécie de «passaporte» do rosto para a
atribuição de qualidades morais, que se depreende quer da análise
de inquéritos sociológicos quer da análise dos textos clássicos.
Mas o que mais faz do rosto um elemento de especulação
sobre a interioridade, e, sobretudo, da necessidade de «ordenar»
subjectividades, é o facto de este ser uma espécie de frontispício
da alma, já que está junto da cabeça, contendo dominantemente
quatro dos principais órgãos dos sentidos: a visão, o ouvido, o
olfacto, o gosto. Por essa razão, o rosto surge como uma espécie
de intermediário entre o exterior e o interior (Synnott 1993;
Courtine & Haroche 1988), pretexto para todas as interrogações
sobre a subjectividade.
Onde a reflexão teórica sobre o rosto é mais explícita, inspi-
rada inicialmente em ligações à astrologia e à alquimia, e mais
tarde às ciências naturais, é nos tratados de fisiognomonia que
acompanham a história da modernidade desde o século xvi.
Apesar de a fisiognomonia ser uma preocupação que remonta
pelo menos a Aristóteles, é a partir do século xvi que ela é objec-
to de grandes desenvolvimentos. Os primeiros tratados são sobre-
tudo a expressão de uma grande preocupação em decifrar a
«alma» através do corpo. Por essa razão, o rosto, primeiro alvo do
olhar, se afirma como o centro de todas as pesquisas. O rosto
ganha o sentido de um mapa da alma, objecto de codificações
pormenorizadas de vária ordem. Essas codificações, que vão sur-
gindo, ao longo dos séculos xvi e xvii, sofrem as influências dos
paradigmas filosóficos, ideológicos e científicos da sua época.
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de «Métaposcopie» (1658), de Jean Cardan, de Giovanni Batista della Porta, «Della Fisionomia
dell'Huomo» (1623). Cf. Courtine & Haroche 1988.
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Mário de Sá-Carneiro: «Esta inconstância de mim próprio em vibração/ É que me há-de trans-
por às zonas intermédias,/ E seguirei entre cristais de inquietação,/ A retinir, a ondular…(…)»:
Sá-Carneiro 1916: 196.
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33 Indistinção que vinha sendo preparada desde a Revolução Francesa, com a noção de
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34 Não será por acaso que o maior holocausto do século vinte tem por fundamento a ques-
tão da identidade cultural a partir de uma identidade física: a do corpo ariano contra a do corpo
judeu: a ameaça da confusão e da alteridade é o suporte escondido do discurso afirmativo ariano.
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III
O CORPO PSICANALÍTICO E
A FORMAÇÃO DO EU
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I
O CONCEITO DE NARCISISMO: FREUD
35 Freud estabelece uma diferença entre o narcisismo primário absoluto e o narcisismo secun-
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de Kohut: «A antítese do narcisismo não é a relação objectal, mas o amor objectal. A profusão de
relações objetais de um indivíduo, no sentido do observador do campo social, pode esconder a
sua experiência narcísica do mundo objectal; e o isolamento e solidão aparentes de uma pessoa
podem constituir o ambiente adequado para uma riqueza de investimentos objectais reais.»
Kohut 1972: 9.
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II
O «EGO-PELE» DE DIDIER ANZIEU E
OS DADOS ETOLÓGICOS
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39 Este aspecto está muito bem sintetizado por Hanna Segal, retomando W. Bion:
«Somente quando o bebé pode reconhecer a ausência do objecto é que ele é capaz de simbolizar
ou pensar»: Segal 1991: 69.
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40 Barthes 1977: 200. É também com esta ideia que o mesmo autor abre «Barthes par lui-
-même», referenciando-se certamente a Lacan: junto a uma imagem da mãe com o filho ao colo,
Barthes reitera: «Le stade du miroir: “Tu est cela”». (Barthes 1978: 6). A ideia da palavra funda-
dora vem de encontro ao conceito de bom objecto interno (Klein; Winnicott) que deriva da capa-
cidade de internalização de experiências gratificantes na relação dual primitiva: «Maturity and
the capacity to be alone implies that the individual has had the chance through good-enough
mothering to build up a belief in a benign environment. This belief is built up through a repeti-
tion of satisfactory instinctual gratifications»: Winnicott 1958: 417.
41 «Le Moi-Peau est une réalité d'ordre fantasmatique: à la fois figurée dans les fantasmes,
les rêves, le langage courant, les attitudes corporelles, les troubles de pensée; et fournisseur de
l'espace imaginaire constituant du fantasme, du rêve, de la réflexion, de chaque organisation
psychopathologique»: Anzieu 1985: 4.
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É aqui que o autor contabiliza os «medos infantis»:1) medo de morrer de fome; 2) medo de ser
devorado; 3) medo de ser envenenado; 4) medo de ser sufocado; 5) medo de ser fragmentado;
6) medo de ser esvaziado; 7) medo de ser castrado. Ver também: Slotowickz 1976.
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43 Anzieu 1985: 7. Este sentimento de estranheza perante o seu próprio corpo está bem
caracterizado num poema de Mário de Sá-Carneiro, de 1914: «As mesas do café endoideceram
feitas Ar…/Caiu-me agora um braço…Olha lá vai ele a valsar,/Vestido de casaca, nos salões do
Vice-Rei…/ (Subo por mim acima como por uma escada de corda,/ E a minha Ânsia é um tra-
pézio escangalhado…): in Sá-Carneiro 1916: 197.
44 Quando me refiro à «psicanálise», não é apenas ao corpo teórico iniciado por Freud,
mas a um historial teórico mais alargado, onde figuram dados, conceitos e reformulações de
vária ordem, nomeadamente em relação à caracterização dos estádios iniciais de desenvolvimento
do ser humano, tal como podemos encontrar em Karl Abraham, Melanie Klein, Winnicott,
René Spitz, Hans Kohut, entre outros.
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46 Benjamin 1931: 127. É este movimento, não tanto de «ultrapassar o único», mas de o
interiorizar, que preside aos milhões de fotografias de turismo, que, muitas vezes, não chegam a
ser reveladas ou levantadas nas lojas (cf. Tisseron 1996: 10).
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III
A «CULTURA DO NARCISISMO»:
LASCH E KOHUT
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já ser explorada aqui por limitações de tempo, mas sê-lo-á noutra oportunidade.
47 Kohut 1972: 85. Para Kohut, esta negação do Self grandioso é equivalente à negação da
sexualidade no período vitoriano, e constitui, portanto, tal como aquela, uma atitude «hipócrita».
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lise lida hoje, como refere Anzieu, não com pessoas moralmente
reprimidas, mas com indivíduos de carácter rígido que tendem a
agir («acting out»48) os seus conflitos em lugar de os reprimirem
ou sublimarem. As suas personalidades são basicamente estrutura-
das por defesas contra a raiva e contra fantasmas de privação oral.
Um outro aspecto também muito referido na literatura psi-
canalítica (Kohut 1972) é a divisão interior do sujeito no sentido
da criação de um falso Self: o indivíduo tende a criar uma «persona-
lidade de fachada», conveniente, de vigilância a uma outra interior
e sentida como a «verdadeira», mas não-apresentável. A divisão
surge como uma defesa contra a possibilidade de contacto, que é
visto, no quadro da personalidade narcísica, como uma ameaça.
Este conceito vem assim de encontro às afirmações de Freud aqui
citadas sobre a relação entre o ódio e o Eu, uma vez que este afas-
tamento dos objectos constitui uma forma de ataque do Eu ao
mundo exterior.
A divisão do Self parece surgir, como vimos, da impossibilida-
de de extravasamento dos impulsos grandiosos. Impossibilidade
que Kohut atribui ao «actual racionalismo materialista da cultura
ocidental», que, «se bem que dê maior liberdade para o realce do
self, tende a depreciar ou proibir as formas tradicionais de relacio-
namento com o objecto idealizado» (Kohut 1972: 84). Lasch salien-
portuguesa do Vocabulário de Psicanálise (Laplanche e Pontalis 1967), revista por João dos
Santos, não é estabelecida. Esta expressão surge para designar um certo agir compulsivo por parte
do indivíduo, que tem por função evitar a elaboração dos conflitos. Na obra citada, os autores
relacionam este conceito com o retorno do recalcado, bem como com um certo género de actos,
exteriorizados dentro ou fora do gabinete do analista, relativos à transferência em curso. No que
diz respeito ao tema analisado neste trabalho, salienta-se a relação estabelecida nesta obra entre o
termo clínico (relacionado com a transferência) e a sua extrapolação para fora dos sistemas tera-
pêuticos: «… depois de clarificadas teoricamente as relações entre o acting out e a transferência
analítica poderíamos indagar se as estruturas assim evidenciadas podem ser extrapoladas para
além de qualquer referência ao tratamento, isto é, perguntar se os actos impulsivos da vida quo-
tidiana não se poderão esclarecer depois de referidos a relações de tipo transferencial»: Op. cit.:
30.
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IV
FOTOGRAFIA E
A U T O - R E P R E S E N TA Ç Ã O
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I
O «DUPLO» NA ARTE: O DUPLO-SOMBRA OU ESPELHO E
O FANTASMA DA MORTE
49 Este texto está incluído, na tradução francesa, na obra Don Juan et son double: Rank
1914.
50 «L’art était née du besoin de conjurer la menace de la mort, et les artefacts produits par
sa praxis, les talismans qui, placés près du corps du défunt, l’accompagneraient dans l’autre
monde. Il est désormais ce déballage au grand jour des musées qui, clinquant et chatoyant, nous
permet de croire, au prix de la mort de l’art, que nous échapperons au fatum oedipéen»: Clair
1989: 174.
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51 «Le motif du Double, dont le sens principal dans le folklore se rapporte à l’âme et à la
mort, n’est donc pas étranger dans son essence véritable au narcissisme. Les traditions mytholo-
giques, que nous avons mentionnées, d’après lesquelles le monde serait une création de auto-
-admiration d’un dieu dans le miroir, et surtout les productions littéraires, où à côté du problème
de la mort, le motif narcissique paraît brutal, en pleine lumière ou estompé dans des états patho-
logiques, le prouvent amplement.»: Rank 1914: 83-4.
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52 «You just don’t know (…) how the image is made at all, (…) because it is really a com-
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53 Benjamin 1936: 87. No entanto, Benjamin reserva ainda para o retrato a possibilidade
de a fotografia produzir essa aura, afirmando que esta «… ocupa uma última trincheira: o rosto
humano (…) No culto da recordação dos entes queridos, ausentes ou mortos, o valor de culto
da imagem tem o seu último refúgio. Na expressão efémera de um rosto humano acena, pela
última vez, a aura das primeiras fotografias»: Ibidem.
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II
O EU E A SUA FRAGMENTAÇÃO
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54 Para Clair essa duplicação do Eu está essencialmente ligada, como a psicanálise alertou,
à percepção da morte e à angústia face à morte: «La contradiction qui fait que l’image, répétée,
revue, redoublée, rédupliquée, éprouvée derechef, loin de confirmer son identité, à l’inverse la
bascule et introduit un trouble de la reconnaissance, c’est le mérite de la psychanalyse (…) d’en
avoir expliqué le sens: l’automatisme propre à la compulsion de répétition ne nous livre pas aux plai-
sirs du moi qui se saisirait dans sa parfaite transparence, mais à l’appréhension mordante de la mort,
qui est l’expérience de l’Autre»: Clair 1989: 167 (sublinhado nosso).
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55 Cf. Clair 1989: 171. O que lhe permite concluir que «ce qui vous est le plus proche,
dans la répétition de sa proximité, vous est aussi le plus étranger»: Idem: 173. A fragmentação
moderna da imagem do corpo e do Eu surge-nos bem clara no poema «Apoteose» (1914), de
Mário de Sá-Carneiro: «Mastros quebrados, singro num mar de Ouro / Dormindo fogo, incerto,
longemente… / Tudo se me igualou num sonho rente, / E em metade de mim hoje só moro…(…)
Desci de Mim. Dobrei o manto de Astro,/ Quebrei a taça de cristal e espanto, Talhei em sombra o
Oiro do meu rastro…» in Sá-Carneiro 1916: 197 (sublinhado nosso).
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III
FOTOGRAFIA E PERFORMANCE
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gaze of the other and a copy of the negative»: Phelan 1993: 36.
59 E o livro Made in Heaven, de Jeff Koons e Cicciolina (1987) é um caso-limite dessa
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I
UMA FANTASIA DE INFÂNCIA:
«UNTITLED FILM STILLS» (1977-80)
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61 Esta serialização de papéis femininos fez com que o trabalho de Cindy Sherman fosse
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tant fact about them that they are more or less all of her. She is no more their subject than the
model for a painting is the subject of the painting…» Danto: 1990: 10.
64 Danto 1990: 11.
65 Esta distância permite toda uma série de leituras desconstrutivas desta obra, bem como
as leituras feministas. O efeito de distância face aos «personagens» advém não só da sua diversifi-
cação, como da perfeição com que são construídos, permitindo essa ilusão de que não estamos
diante de um auto-retrato mas do jogo com um qualquer modelo.
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II
UM MUNDO DE MULHERES
66 Para uma crítica deste ponto de vista, Cf. Krauss 1993(a): 6-9.
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dessa questão, ver: Williamson 1983; Phillips 1989; Mulvey 1991; Solomon-Godeau 1991.
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correspondência entre outro género de dualidade existentes, quer na natureza quer na cultura: a
visão dualista do mundo é central na filosofia grega – na sequência de Parménides –, na filosofia
socrática e platónica. A tábua de opostos de Pitágoras coloca, pela primeira vez explicitamente, a
definição do homem e da mulher como opostos, correlativos de oposições metafísicas e matemáti-
cas: «Limit / unlimites; Odd / even; One / Plurality; Right / Left; Male / Female; Resting / Moving;
Straight / Curved; Light / Darkness; Good / Bad; Square / Oblong»: Cf. Synnott 1993: 47.
69 In «Malleus Maleficarum», cit. por Synnott 1993: 47.
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70 Lâmia era a mulher de Zeus, a quem tinha dado filhos, mas Hera, por ciúme, obrigou-a
a matá-los ou matou-os ela própria. Depois disto, Lâmia, que até aí era uma mulher de grande
beleza, transformou-se num monstro e enfiou-se numa gruta longe de tudo e, instigada pela
raiva, pôs-se a matar os filhos das mães mais felizes do que ela: Cf. Róheim 1934: 30.
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71 A este terror estão certamente ligadas as figurações da mulher enquanto «vagina denta-
da», que podemos encontrar na arte surrealista – Max Ernst é um bom exemplo; no quadro de
Picasso, Os três dançarinos, uma das figuras remete igualmente para essa ideia. Nas fotografias de
Cindy Sherman esse imaginário está também explícito, através da figuração de si própria com
dentes saídos e de aspecto sádico, sarcástico ou monstruoso: Cf. Untitled #146 (1985), #189
(1989), #146 (1985), #141 e #145 (1985).
72 Que é também uma fantasia masculina ligada à ideia do pénis «engolido» pela vagina.
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passivas, e são determinadas pelo desenvolvimento libidinal. Mas em qualquer sector da expe-
riência psíquica (não somente o da sexualidade) «es dable observar que una impresión pasiva-
mente recibida evoca en los niños la tendencia a una reacción activa. El niño trata de hacer por
si mismo lo que se acaba de hacerle a él o con él. He aquí una parte de la necessidad de dominar
el mundo exterior a que se halla sometido y que aun puede llevalo a esforzarse por repetir impre-
siones que a causa de su contenido desagradable tendria bons motivos para evitar»: Freud 1931:
3084.
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rapariga é para Freud algo de perturbante e surpreendente: «… es para nosotros una sorpresa,
análoga a la que en otro campo representó el descubrimento de la cultura minoico-miceniana
tras la cultura griega»: Ibidem.
75 Cf. igualmente o trabalho de Nan Goldin, «Ballad of sexual dependency» (1986). Não
deixa de estar próxima, indirectamente, a sombra da obra de Diane Arbus: embora neste último
caso estejamos longe do género de proposta de Cindy Sherman (não é a fotógrafa que se encena
ou mostra), num ponto as duas obras se tocam, como muitas outras obras dos últimos trinta
anos: a pesquisa de tudo o que perturba uma ordem do mundo – física e moral – ideal: as figuras
procuradas por Diane Arbus são gigantes, aleijados, cegos, prostitutas, casais de meia-idade
suburbanos, velhas excêntricas, atrasados mentais. Tudo o que constitui o campo da exclusão e
que a censura tende a recalcar. Por essa razão me parece que a obra de Cindy Sherman pode ser
vista como um auto-retrato do seu próprio inconsciente, enquanto este é definido pela lei da
contradição, da intemporalidade, da não racionalidade, mas também da afirmação das suas pul-
sões agressivas e anti-sociais.
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ideally be like as women, a view that most of us feel we cannot match up to, living instead with
the anxiety of body size, beauty culture and “fitness” at one end of a spectrum, and tiredness,
ageing, illness, drugging, mutilation and death at the other.»: Spence 1995: 139
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1990), a autora escreve: «A crisis of identity culminating in my trying to tell myself a story of
who I thought I was. I finally came up with an image which had evaded me, one which was
structurally absent from my previous photographic discourse, the image of myself as a Cultural
Sniper, capable of appearing anywhere, in any guise: Spence 1995: 163).
78 «I want to show exactly what my world looks like, without glamorization, without glo-
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III
A PANELA MÁGICA E A MÁQUINA FOTOGRÁFICA
79 «When I’m cooking, I’m just following a recipe – I’m being told what to do. When I’m
working on my photographs I have a vision of what I want but mostly I’m guided by what I
don’t want. I’m happy to make mistakes; making photos is more like playing than cooking is. I
woudn’t want to eat what I made just playing with cooking ingredients, but sometimes the mis-
takes in the photos are better than I had in mind»: in Goldsmith 1993: 34.
80 O que nos leva a pensar no estatuto mágico da obra (enquanto realização de desejos
fantasmáticos), e nas vantagens da fotografia para a realização desse objectivo: o que confirma a
tese que defendi atrás: a fotografia serve para agir o desejo aparentemente de uma forma imedia-
ta, podendo pois transformar a arte numa forma sublimada de acting-out. Em «Totem et Tabou»,
Freud estabelece esse paralelismo entre arte e magia: «L’art est le seul domaine où la toute-puis-
sance des idées se soit maintenue jusqu’à nos jours. Dans l’art seulement il arrive encore qu’un
homme, tourmenté par des désirs, fasse quelque chose qui ressemble à une satisfaction; et, grâce à
l’illusion artistique, ce jeu se produit les mêmes effets affectifs que s’il s’agissait de quelque chose
de réel. C’est avec raison qu’on parle de la magie de l’art et qu’on compare l’artiste à un magi-
cien.»: Freud 1913: 106. Freud acrescenta ainda a hipótese da relação entre arte e magia não ser
de mera comparação, mas mesmo de identidade: «L’art, qui n’a certainement pas débuté en tant
que “l’art pour l’art”, se trouvait au début au service de tendances qui sont aujourd’hui éteintes
pour la plupart. Il est permis de supposer que parmis ces tendances se trouvaient bon nombre
d’intentions magiques.»: Ibidem.
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mania.
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* No entanto, a autora afirmaria mais tarde a decepção com o trabalho por computador
organização sádico-anal: «Na fase… de organização sádico-anal pré-genital a luta pelo objecto
aparece sob a forma de dominação, para o qual qualquer dano ou aniquilação do objecto é abso-
lutamente indiferente. Na sua atitude para com o objecto, o amor, nesta forma e nesta fase preli-
minar, é difícil de distinguir do ódio.»: Freud 1915: 224-5.
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IV
MIMESIS E METAMORFOSE: «HISTORY PORTRAITS»
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Sherman reconstrói encontraram extrema dificuldade em fazê-lo, mas reconhecerem que cada
imagem se referia a um quadro conhecido: Cf. Danto 1990: 5.
85 Jogando naquilo que a teoria gestaltista chamou a pregnância da boa forma.
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CONCLUSÃO
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ANEXOS
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M.M. – Acha que essa ilusão dada pela fotografia está relacio-
nada com o facto de esta implicar uma fragmentação do tempo?
D.M. – Sim, mas esse também é o milagre da fotografia.
Interessa-me muito essa questão do tempo, da natureza do
tempo. O grande génio da fotografia é que quando eu digo
«agora» nunca é agora. Não há futuro nem passado, o passado é
apenas aquilo que retemos na memória como passado. Há a ilu-
são do momento, e a câmara regista essa ilusão.
M. M. – Há um lado erótico nas suas fotografias, não ime-
diato mas sugerido. Como se as suas fotografias sugerissem a pos-
sibilidade do tocar…
D. M. – Sim. Por exemplo, no texto «A carícia da câmara»
(«Camera’s caress») eu falo da possibilidade que o acto de fotogra-
far me oferece de poder estar em contacto com o outro. Acon-
teceu-me que enquanto tirava essa fotografia, comecei a ficar
como que encantado com a beleza da imagem que estava na
minha frente. Parece que me apercebi inconscientemente, que
quando a câmara parasse esse momento de contemplação acaba-
va, como se despertasse de um sonho. E não conseguia deixar que
essa sensação desaparecesse. Então, no final, comecei a pensar por
que é que tinha continuado a tirar fotografias àquele personagem,
quando eu já tinha a fotografia que pretendia. Porquê continuar?
Então percebi que era o próprio acto de fotografar que permitia
aquele encantamento, e que quando aquele terminasse, tudo
desapareceria. E eu não queria que isso acontecesse…
É assim que a minha cabeça funciona. Quando tirei esta
fotografia não tencionava escrever este texto, mas achei isto tão
interessante que senti necessidade de o escrever.
M.M. – Acha então que o erotismo está muito ligado à foto-
grafia?
D.M. – Acho que é uma grande parte dela.
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BIBLIOGRAFIA
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C O L E C Ç Ã O A RT E E P RO D U Ç Ã O
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Rosa Carvalho,
textos de João Miguel Fernandes Jorge, Isabel Carlos e João Lima Pinharanda
Ilda David’
posfácio de João Lima Pinharanda
Dacosta em Paris,
introdução de José-Augusto França