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b
Jefferson Andrônio Ramundo Stadutoa,1,ÿ , Ana Cecília Kreter
a
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Rua da Faculdade, 645, Toledo - PR, 85903-00, Brasil
b
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Av. Prof. Pres. Antônio Carlos, 51, Rio de Janeiro - RJ, 20020-010, Brasil Universidade
c
Estadual do Mato Grosso do Sul, Av. Prof. Brasil, 836, Ponta Porã - MS, 79905-300, Brasil
artigoinfo abstrato
Palavras-chave: Esta pesquisa teve como objetivo analisar a dinâmica de uso da terra no Centro-Oeste brasileiro para as principais
Uso da terra commodities agrícolas e áreas de pastagem, onde está localizada uma importante fronteira agrícola e cujo uso exerce
áreas de pastagem
pressão sobre os biomas Amazônia e Cerrado. O modelo shift-share foi aplicado para estimar as fontes de crescimento
produção agrícola
da produção agropecuária durante o período de 1996 a 2017, bem como os subperíodos 1996–2003 e 2003–2017. Os
Ambiente
resultados indicam que o efeito área e o efeito produtividade foram as principais fontes de crescimento da produção ao
Cerrado
Amazonas
longo do período. No primeiro subperíodo prevaleceu a expansão da fronteira agrícola pelo desmatamento e o rápido
crescimento da produtividade. No segundo subperíodo, prevaleceu o efeito substituição, cujas pastagens foram as que
mais cederam áreas para cultivo de soja e milho. Concluímos que o Brasil dispunha de um conjunto de tecnologias e
estruturas institucionais para a intensificação sustentável do uso da terra, em que as áreas de pastagens aliadas a
outras tecnologias têm desempenhado um papel fundamental na redução da pressão sobre a cobertura vegetal nativa
e na promoção de serviços ecossistêmicos. Apesar dos esforços do Estado, do mercado e da sociedade civil, a
expansão da fronteira agrícola pelo desmatamento avançou sob os biomas Cerrado e Amazônia.
1. Introdução Região Centro-Oeste (CW) (Oliveira Neto e Théry, 2018, Staduto, Or landi e Chioveto,
2018), composta por três estados e a capital do país, que ocupa 19% de todo o território
A forte demanda por commodities no comércio internacional (World World Bank, brasileiro, e é por quatro biomas – Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica (mapa
2009; Black, 2015) foi importante para muitos países em desenvolvimento exportadores 1). O desmatamento legal é regulamentado pelo Código Florestal Brasileiro, entre várias
de produtos primários, como o Brasil, que iniciou o século XXI como um importante player regras. Uma delas obriga os produtores rurais a preservar no mínimo 80%, 35%, 20% e
no comércio mundial de grãos agrícolas modalidades (EMBRAPA, 2018). Condições 20%2 da cobertura vegetal nativa, respectivamente, para os biomas Amazônia, Cerrado,
climáticas favoráveis e disponibilidade de recursos naturais são algumas das vantagens Pantanal e Mata Atlântica.
comparativas que tornam a produção brasileira mais competitiva (Barros e Machado,
2014). Por outro lado, houve um aumento da pressão mundial para tornar a produção Nos biomas Amazônia e Cerrado, localizados na fronteira agrícola, apesar do
agropecuária mais sustentável (IPCC, 2022), principalmente a partir do Protocolo de arcabouço institucional, ainda prevalece o desmatamento ilegal. A região CW, no período
Quioto, em 1997, no qual foram estabelecidas metas de redução de gases de efeito de 2008 a 2020, foi responsável por 18,71% do desmatamento no bioma Amazônia. Mais
estufa (GEE), entrando em vigor efeito em 2004. especificamente, o estado do Mato Grosso, por ser o único estado entre os três que é
abrangido pelo bioma Amazônia (mapa 1). No período de 2001 a 2020, a região CW
Ainda que o Brasil não tenha a obrigatoriedade de ser signatário, o país se propôs a contribuiu com cerca de 39% do desmatamento no “arco de florestamento” do bioma
liderar o debate para contribuir com o esforço global de redução das emissões de CO2- Cerrado brasileiro, que é uma das fronteiras agrícolas mais ativas que se moveu em
equivalente, decorrentes principalmente do desmatamento das fronteiras agrícolas e da direção ao Cerrado e
pecuária (Cole, 2012 ; Oliveira Souza e Corazza, 2017).
* Autor correspondente
Endereços de e-mail: jefferson.staduto@unioeste.br, jstaduto@yahoo.com.br (JAR Staduto), ana.kreter@ipea.gov.br (AC Kreter).
1
Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq
https://doi.org/10.1016/j.clcb.2022.100033
Recebido em 30 de julho de 2022; Recebido no formulário revisado em 29 de outubro de 2022; Aceito em
22 de novembro de 2022 2772-8013/© 2022 O(s) autor(es). Publicado pela Elsevier Ltd. Este é um artigo de acesso aberto sob a licença CC BY (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/)
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Biomas amazônicos (Domingues e Bermann, 2012; Garrett et al., 2018; Viana, são potencialmente de desmatamento ilegal,3 dos quais 44% e 61% vêm dos
Peres e Malheiros, 2010). Destacamos que os primeiros cinco anos (2001 a biomas Amazônia e Cerrado, respectivamente.
2004) corresponderam a 53% (60.027,46 km2) de todas as áreas desmatadas Apesar da prevalência desse cenário ambiental negativo, os consumidores
neste período na região CW, refletindo claramente o avanço acelerado da em todo o mundo estão mais interessados nas principais preocupações
fronteira agrícola (INPE, 2021). globais, incluindo emissões de gases de efeito estufa, desmatamento e
Segundo Rajão et al. (2020), embora a maior parte da produção agrícola consumo de água doce. Eles têm se entusiasmado com alimentos mais saudáveis
e pecuária esteja livre de desmatamento, aproximadamente 20% das
exportações de soja e pelo menos 17% da carne bovina que foi exportada
3 O gado vem diretamente de áreas desmatadas (13%) e indiretamente (48%).
para a Europa veio de áreas de desmatamento ilegal nos biomas Amazônia e Cerrado.
Nesse caso, o gado se deslocava de uma fazenda para outra antes de ser abatido
O estado de Mato Grosso teve um papel importante nesse tipo de exportação.
(Rajão et al., 2020).
Estima-se que cerca de 61% das cabeças de gado abatidas para exportação
2
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e diminuição dos impactos ambientais (Bryant, Szejda, Parekh, Desh pande e Tse, esta, ora para expandir as fronteiras agrícolas, ora cedendo áreas para outras
2019). Assim, as demandas globais por grãos agrícolas culturas. Esse tipo de pesquisa pode revelar o potencial do Brasil para a produção de
modidades estão em rota de colisão com os interesses dos consumidores e com commodities em larga escala nas regiões produtoras por meio da adoção de
ações para mitigar os efeitos climáticos. Tais conflitos, em parte, tiveram soluções tecnologias de intensificação sustentável, principalmente na fronteira agrícola. Aqui,
privadas, antecipando ações do Estado (Brown e Koeppe, 2013). aplicamos o modelo shift-share a um amplo conjunto de culturas e áreas de pastagem.
O sistema de governança não estatal orientado para o mercado (NSMD) Também delimitamos dois períodos entre os quais o uso da terra foi diferente, além
interessou alguns setores na última década (Buckley, Newton, Gibbs, Mc Connel e de considerar preocupações domésticas e estrangeiras. Assim, pudemos avaliar e
Ehrmann, 2019). Por exemplo, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos analisar com mais detalhes a dinâmica de uso da terra ao longo do tempo e verificar
Vegetais, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais e organizações não- o potencial do Brasil para produzir commodities em larga escala usando tecnologias
governamentais assinaram um compromisso de não comprar soja oriunda do de mitigação de impactos ambientais.
desmatamento legal ou ilegal no bioma amazônico - Moratória da Soja Amazônica
(Kastens, Brown, Coutinho , Bishop, e Esquerdo, 2017). As mesas redondas de
commodities são uma forma de sistema de governança do NSMD, como a Associação
2. Expansão da fronteira agrícola no centro-oeste do brasil
Mesa Redonda da Soja Responsável (RTRS),4 que inclui também a produção em
outros biomas, como o Cerrado. Para a produção pecuária, existem outros regimes
Podemos destacar duas fases mais recentes da expansão da fronteira agrícola
NSMD, como a produção de “carbone bovina brasileira neutra em carbono”5 (Zanasi,
na região do CW a partir da década de 1980. A primeira fase prevaleceu a partir da
Rabboni, Rota, Bungenstab e Laura, 2020). Em suma, os consumidores estão
incorporação de terras pelo desmatamento do bioma Cerrado (Sawyer, 1984), devido
dispostos a pagar por esses alimentos com certificação de qualidade ambiental (Alves-
a sua posição geográfica e características físicas ambientais que favoreceram a
Pinto, New ton, and Pinto, 2015).
expansão da produção agrícola baseada no intensivo pacote tecnológico de insumos
(pesticidas e fertilizantes), sementes transgênicas de alta produtividade e uso intensivo
Os governos têm reconhecido cada vez mais a necessidade de acordos
de máquinas e equipamentos (Mazzetto Silva, 2009), com destaque para a cultura da
comerciais para se preocupar com questões sociais e ambientais (Ferraris, 2020).
soja (Fig. 1).
À medida que as barreiras tarifárias tradicionais são progressivamente reduzidas em
todo o mundo, os parceiros comerciais visam uma integração econômica mais
A segunda fase teve início no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, quando
profunda, abordando medidas não tarifárias, incluindo barreiras técnicas ao comércio (TBT)
voltou a ocorrer intenso desmatamento no Cerrado, e também, de forma acelerada,
(Bellmann e van der Ven, 2020; UNCTAD, 2020). A produção sustentável também
no bioma Amazônia, para produção agropecuária (Egler, 1995; Tarsitano, 1992 ;
tem sido uma das disposições TBT em acordos internacionais, sendo uma delas as
Becker, 2010; Moreno, 2005).
barreiras não tarifárias ao comércio.
A evolução das terras ocupadas e da produção agrícola mostra os resultados dos
As pastagens para pecuária nas fronteiras agrícolas do Brasil têm desempenhado
esforços do Estado e do mercado para deslocar a produção nacional para a região
um papel importante. Por um lado, essas pastagens são frequentemente as primeiras
do CW, voltada principalmente para o Cerrado. A participação nacional nas áreas
espécies cultivadas após o desmatamento para atividade pecuária extensiva e têm
colhidas e na produção de algodão herbáceo, cana-de-açúcar, milho, soja e sorgo na
baixa produtividade (Malaquias, Teixeira, Parente e Ferreira, 2019). Por outro lado,
região do CW aumentou consistentemente no período de 1980 a 2017 (Fig. 1). A
podem reduzir as pressões ambientais ao converter pastagens degradadas em
produção de gado na região CW representou 38,65% da produção nacional em 2017
produção agrícola e/ou restauração ambiental (Cortner, Garrett e Valen tim, 2019;
(IBGE, 2020b). A área ocupada por pastagem em 2017 representou aproximadamente
Fearnside, 2002; Ferreira Júnior, et al., 2020; Silva, Barioni, Pellegrino e Moran,
31,10% de toda a região do CW (LAPIG, 2020).
2018). Além disso, por meio de pecuária mais eficiente, podem fornecer serviços
ecossistêmicos, além de contribuir para as metas de redução de emissões de GEE
(IPCC, 2022; Lopes, Parente, Baumann, Miziara e Ferreira, 2020; Parente, Mesquita,
Miziara, Baumann e Ferreira, 2019). 3. Agropecuária brasileira rumo a uma produção sustentável
Este artigo tem como objetivo analisar a dinâmica do uso da terra na região CW O debate sobre a produção agrícola ambientalmente sustentável no Brasil começa
brasileira, estimando as fontes de crescimento da produção agrícola das principais a tomar forma na década de 1990 com a Conferência das Nações Unidas sobre Meio
commodities para o período de 1996 a 2017, bem como para os subperíodos de 1996– Ambiente e Desenvolvimento - Rio-92 (Soubbotina, 2004).
2003 e 2003–2017. Aqui, analisamos particularmente o papel que as áreas de Em 1997, o Brasil assinou o Acordo de Paris, que substituiu o Protocolo de Kyoto,
pastagens têm desempenhado na dinâmica de uso da terra. que estabeleceu metas para mitigar os impactos ambientais causados pelas atividades
Cada subperíodo teve diferentes dinâmicas produtivas prevalecendo quanto à produtivas. A mudança no uso da terra foi a maior responsável pelas emissões totais
velocidade de expansão da fronteira agrícola e adoção de práticas agrícolas de CO2 em 2019 no Brasil (44%), seguida pela produção agrícola (28%), na qual a
sustentáveis. Particularmente, no último subperíodo (2003-2017), houve fortes pecuária foi responsável por 69% das emissões de CO2 em 2017 (FAO, 2020; SEG,
pressões de demandas do mercado internacional por produtos agrícolas e pecuários, 2018).
juntamente com pressões domésticas e internacionais intensificadas por commodities As pastagens fazem parte do processo do ciclo de incorporação de novas áreas
sustentáveis. pelo desmatamento, sendo normalmente cultivadas imediatamente após o
Existem alguns estudos sobre a dinâmica de uso da terra associando pastagens desmatamento, antecedendo a produção de soja (Aguiar e Souza, 2014; Defante et
a outras culturas; no entanto, eles se concentraram em apenas um estado brasileiro al., 2018; Lopes et al., 2020; Lourenzani, Bernardo , e Caldas, 2016). As pastagens
(Duarte, Barbosa e Staduto, 2022; Parente et al., 2019: Lopes et al., 2020) e uma ou ocupam aproximadamente 21% do território brasileiro e estão fortemente associadas
algumas culturas (Defante, Vilpoux e Sauer, 2018 ; Gianezini, Barcellos, Oliveira e às mudanças mais significativas no uso da terra no país. Áreas de pastagens também
Ruviaro, 2019; Martha Júnior, Alves e Contini, 2012), além de aplicar outros métodos podem ser origem ou causa agravante de impactos ambientais (Ferreira Júnior, 2020).
e fontes de dados (Garrett et al., 2018). A análise da dinâmica do uso da terra ao
longo do tempo para um amplo conjunto de culturas e pastagens para a pecuária é Por outro lado, as áreas de pastagem também trazem oportunidades para atender
essencial. O às demandas do setor agrícola, ou seja, aumentar a produção para mitigar os
impactos ambientais. Por exemplo, essas áreas têm potencial para serem convertidas
em áreas de lavoura e pecuária com alta rentabilidade, bem como para restauração
4
RTRS - Associação da Mesa Redonda da Soja Responsável: https:// de vegetação nativa, bem como para restauração de vegetação nativa.
responsiblesoy. org/ 5 A produção é baseada na adoção da integração lavoura- Consequentemente, têm potencial para eliminar o desmatamento ilegal e reduzir o
pecuária-silvicultura desmatamento legal (Parente et al., 2019; Lopes, et al., 2022).
ou sistemas integrados pecuário-florestais (Zanasi, 2020).
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Fig. 1. Participação da região Centro-Oeste na área colhida e produção brasileira para as culturas pesquisadas entre 1980 e 2017 Fonte: Elaborado pelos autores e
baseado no IBGE (2020a).
Segundo Ferreira Júnior, et al. (2020), de 2010 a 2018 no Brasil, as pastagens foram reduzindo ou eliminando impactos ambientais adversos” (Martin et al., 2018, p. 95)
uma importante fonte de conversão para atividades agrícolas. Em 2010, aproximadamente
31,7 milhões de hectares foram transformados em áreas de cultivo, dos quais 65,6% O Estado brasileiro despendeu esforços para orientar e promover a regularização
apresentavam algum indício de degradação. Políticas de desmatamento zero poderiam ambiental dos imóveis rurais por meio da implantação do Cadastro Ambiental Rural
forçar a intensificação do uso da terra em áreas já desmatadas (Lambin et al., 2013). (Laudares, Silva e Borges, 2014), que é um dos mais importantes alicerces institucionais,
pois está associado com outras políticas, por exemplo, a concessão de crédito rural,
O desenvolvimento desse cenário exigiria políticas de governança territorial mais cujas taxas de juros podem ser mais baratas. Além disso, recentemente, em janeiro de
assertivas e eficientes, considerando também as evidências de que as pastagens são 2021, foi aprovado o marco regulatório do Programa Nacional de Pagamento por
utilizadas como reserva fundiária no Brasil (Lopes et al., 2020; Parente et al., 2019). Serviços Ecossistêmicos, que promoverá maior segurança jurídica no Brasil, contribuindo
para o desenvolvimento de diversos mercados de serviços ecossistêmicos.
Além da drástica perda de funções do ecossistema quando a cobertura nativa é
desmatada (Costanza et al., 1997; Tilman, 1999), a predominância de atividades
agrícolas extensivas e monoculturas gera homogeneização da paisagem, fragmentação
e perda de habitats, mudanças climáticas e perda de importantes espécies e populações
4. Metodologia
de flora e fauna (Barbosa, de Oliveira Noronha e Piacenti, 2021; Liu, Kuchma e
Krutovsky, 2018). Consequentemente, reduz vários serviços ecossistêmicos de
4.1. Área de estudo
regulação, provisionamento e suporte (Gutierrez Arellano e Mulligan, 2018; Iverson et
al., 2014).
A região Centro-Oeste (CW) do Brasil compreende os estados de Mato Grosso
(MT), Mato Grosso do Sul (MS) e Goiás (GO), além da capital do Brasil, Distrito Federal
A diversificação paisagística de áreas antrópicas, como as da região CW brasileira,
(DF). A unidade de análise utilizada foram as microrregiões, divisão territorial oficial do
é incentivada pela adoção de práticas agrícolas por meio de políticas públicas e ações
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2020c). São 52 microrregiões na
do setor privado. Por exemplo, o Plano ABC6 - Plano de Agricultura de Baixo Carbono,
região CW (Mapa 1), distribuídas nos estados do MT (22), MS (11) e GO (18), além de
PPCDAm - Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia
uma no DF (IBGE, 2020c) . Os produtos analisados foram algodão herbáceo, arroz,
Legal, e - PPCerrado Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento e
cana-de-açúcar, feijão, mandioca, milho, soja e sorgo, que representam 97,49% e
das Queimadas no Cerrado em resposta ao compromisso de redução de emissões de
99,10% da área colhida na região CW, respectivamente, em 1996 e 2017 (IBGE, 2020a ) .
GEE assumido na 15ª Conferência das Partes –
COP15 (Brasil, 2018; Martins, Assad, Moraes Pavão e Lopes-Assad, 2018), cujo Plano
foi renovado por mais dez anos em 2021. Consiste em um conjunto de práticas agrícolas
4.2. Fonte de dados
e florestais mais eficientes, como o sistema de plantio direto , rotação de culturas,
sistema integrado lavoura-pecuária-floresta, e outros (Nobre e Oliveira, 2018), para
aumentar a renda dos produtores e serviços ecossistêmicos (Nobre e Oliveira, 2018), Os dados de área colhida (hectares – ha), produção total (toneladas – tonelada) e
além de ser orientado para a intensificação sustentável. Este é “um conceito que produtividade (ton/ha) das lavouras agrícolas foram obtidos no banco de dados PAM -
geralmente é entendido como significando aumentar a produtividade da terra enquanto Produção Agrícola Municipal do IBGE (2020a) . A produção total de carne bovina (peso
carcaça equivalente7 - cwe) foi obtida a partir da Pesquisa Trimestral de Abate Animal.
O
6 O Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) foi implantado entre 2010 e 2020. Na verdade,
está implantado desde 2020 e tem previsão de duração até 2030 (Brasil, 2021). 7 A produção de carne bovina é disponibilizada apenas por estado, portanto, a participação do
rebanho bovino de cada microrregião foi utilizado para mensurar a produção bovina.
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o tamanho do rebanho bovino (unidade animal – au) foi obtido da Produção A variação de área e produtividade, mantendo a )
Pecuária Municipal do IBGE (2020b). Os dados das áreas de pastagens (ha) constante de localização, e a quantidade produzida no período f ( dada
foram obtidos do Atlas de Pastagens Brasileiras do Laboratório de pela Eq. (4) corresponde ao PE.
Processamento e Geoprocessamento de Imagens da Universidade Federal
de Goiás (LAPIG, 2020), praticamente exclusivamente para produção bovina. . (4)
= ÿ52 ( 0. )
A produtividade da pecuária (ton/cwe) foi estimada pela Eq. (1). =1
0
ÿ
=( 0)+( )+(ÿ )
O AE, PE e GLE podem ser decompostos em taxas anuais de crescimento,
4.3. Descrição empírica do modelo shift-share
de acordo com a Eq. (7):
Martins, Rocha, Bliska e Tirado, 2008; Perobelli et al., 2016; Alves, Ribeiro e A variação da área ocupada por uma determinada atividade no sistema
Tom, 2018) e produtos diversos, como cana-de-açúcar (Aguiar e Souza, 2014; de produção pode ser expressa por ( ÿ 0). O coeficiente mede a mudança no
Defante et al., 2018) e algodão (Castro, Alves, Lima e Giachini , 2017). tamanho do sistema, e a variação da referida área, ou seja, o AE pode ser
decomposto em Efeito Escala (ScE) e Efeito Substituição (SE), dados pela
No modelo shift-share, a variação da produção de uma dada atividade agrícola Eq . (8).
j em uma dada região m, durante o período t, pode ser decomposta nos seguintes
efeitos: Efeito Área (AE): variações na produção devido ao incorporação (- 0)=( 0
ÿ
0)+(ÿ 0) (8)
microrregião, no período ; 0) 0)
= + (9)
área total ocupada pela j-ésima atividade agropecuária na m-ésima
ÿ
(( 0) 0)
microrregião, no período ;
produtividade média da j-ésima atividade agropecuária da região CW,
4.4. Períodos de análise
no período ;
produtividade média da j-ésima atividade agropecuária da m-ésima
Os anos de 19968 a 2017 foram divididos em dois subperíodos: 1996 a
microrregião, no período ; proporção da área total ocupada pela j-ésima
2003 e 2003 a 2017. Ao longo desses dois períodos, ocorreram mudanças
atividade agropecuária na m-ésima microrregião, sobre a área
importantes nos cenários nacional e internacional que impactaram a dinâmica
ocupada pela j-ésima atividade na região CW ( ÿ ), no período ; = coeficiente
da produção brasileira de commodities. O primeiro subperíodo foi marcado
que mede a variação da o área
período
total ocupada
inicial e final
pelas
( ÿatividades
0). são asagrícolas
quantidades
entre
pela estabilização econômica do Brasil e pela promulgação da Lei Kandir em
produzidas por uma atividade agrícola j da região CW, durante o período
1996, na qual as commodities são exportadas com isenção de impostos.
inicial 0 e final f. Se apenas a área total ocupada pela atividade j mudar, sua
Além disso, houve uma forte expansão da fronteira agrícola para a produção
0 e produção final ) é definida pela Eq. (3), representando o
de soja e gado, principalmente na região CW, primeiro no Cerrado e depois
AE, com m variando de 1 ( a 52 microrregiões da região CW.
na Amazônia, liderada por migrantes que vieram do sul do Brasil, a mais
antiga região de produção agrícola região.
No segundo subperíodo, ocorreu o ciclo das commodities, caracterizado
pelo aumento dos preços mundiais das commodities agrícolas (Mundial
. (3)
= ÿ52 ( 0. 0) 8 Foi considerada a produção de gado do ano de 1997, devido à falta de
=1
dados de 1996.
5
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Tabela 1 Tabela 2
Participação da produção da região Centro-Oeste na produção nacional das commodities Decomposição do efeito de área em Efeitos de Escala e Substituição na região Centro-Oeste para
pesquisadas entre 1996 e 2017 (ha). as commodities pesquisadas entre 1996 e 2017 (ha).
Produtivo Participação (%) Atividades Efeito de Escala de Variação de Área (ScE) Efeito de Substituição (SE)
Atividades
1996 2003 2017 Algodão herbáceo 475.475,00 91.567,84 383.907,16
Arroz ÿ438.511,00 317.913,24 ÿ756.424,24
Algodão herbáceo 35.22 70.07 73.22
Cana de açúcar 1.550.221,00 143.643,79 1.406.577,21
Arroz 14.06 16,80 6,99
Feijões 311.464,00 65.026,50 246.437,50
Cana de açúcar 7.12 9.25 18.13
Mandioca 6.668,00 27.307,01 ÿ20.639,01
Feijões 6.20 12h32 25.73
Milho 6.458.516,00 865.945,64 5.592.570,36
Mandioca 4.47 5.08 6.41
Soja 11.583.784,00 1.726.617,42 9.857.166,58
Milho 21.91 20.85 51.29
Sorgo 237.944,00 41.565,54 196.378,46
Soja 39.14 45,25 44,62
Pasto 4.418.534,45 21.324.508,48 ÿ16.905.974,03
Sorgo 49.10 63,73 48,79
Gadoÿ 40.08 38,76 38,65 Total 24.604.095,45 24.604.095,45 0,00
Fontes: Elaborado pelos autores com base em: IBGE (2020a); (ÿ) IBGE (2020b). Fonte: Resultados da pesquisa.
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milhões de ha, o que corresponde a 47% da variação total em todo o subperíodo Decomposição do efeito de área em Efeitos de Escala e Substituição na região Centro-Oeste para
(1996 a 2017), portanto, por um curto período, quase um - terço de todo o período as commodities pesquisadas entre 1996 e 2003 (ha).
analisado, que representou uma taxa de crescimento de área de 47,77% ao ano. Atividades Efeito de Escala de Variação de Área (ScE) Efeito de Substituição (SE)
A produção de gado, por meio da formação de pastagens, incorporou 5,88 milhões
Algodão herbáceo 240.382,00 42.841,86 197.540,14
de ha. A soja também teve crescimento significativo (4,34 milhões de ha), enquanto Arroz ÿ77.911,00 148.742,13 ÿ226.653,13
as lavouras de milho, sorgo e algodão apresentaram avanços menores. As Cana de açúcar 174.374,00 67.206,65 107.167,35
lavouras de arroz e mandioca, assim como a pastagem, apresentaram ScE maior Feijões 78.579,00 30.423,96 48.155,04
Mandioca 7.932,00 12.776,13 ÿ4.844,13
que SE, refletindo o aumento da fronteira agrícola na região CW no período. O
Milho 480.122,00 405.150,15 74.971,85
crescimento das áreas de pastagens em 9,97 milhões de ha representa a expansão
Soja 4.341.706,00 807.832,82 3.533.873,18
da pecuária de baixa produtividade (redução da taxa de gado por ha). Nesse Sorgo 377.975,00 19.447,28 358.527,72
período, o padrão de crescimento da produção foi amplo, deslocando a fronteira Pasto 5.888.363,83 9.977.101,85 ÿ4.088.738,02
agrícola para os biomas Cerrado e Amazônia, mas ainda não refletindo as
Total 11.511.522,83 11.511.522,83 0,00
pressões dos organismos multilaterais e do mercado internacional para a produção
de commodities agrícolas com mais sustentabilidade. Fonte: Resultados da pesquisa.
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Tabela 5
Evolução dos efeitos de área, produtividade e localização geográfica das commodities sobrevividas na região Centro-Oeste entre 1996 e 2017 (percentual anual).
e a produção de milho foram as atividades mais influenciadas pelos ganhos aumentou devido à expansão de área pelo desmatamento nos biomas Cerrado
de produtividade, em decorrência da adoção de tecnologias que economizam e Amazônia, com maior intensidade no estado do Mato Grosso. A expansão
terra e baixa emissão de CO2. Nesse subperíodo, o GLE não foi o principal acelerada das fronteiras agrícolas na região do CW de 1996 a 2017 foi
determinante na produção das atividades analisadas. impulsionada essencialmente por áreas de pastagens para produção de gado
No segundo subperíodo (2003 a 2017), a maioria das culturas, como a e em menor escala pelo cultivo de soja, também pela substituição de áreas de
soja, já estava consolidada em termos tecnológicos, o que implicou em pastagens por outras culturas.
menores ganhos de produtividade. Por outro lado, as inovações tecnológicas Os resultados indicam que os efeitos de área e produtividade foram as
na cultura do milho (Bustos et al., 2016) e na pecuária (Gianezini et al., 2019; principais fontes de crescimento da produção ao longo do período 1996-2017.
Martha Júnior et al., 2012) transformaram mais uma vez as condições No primeiro subperíodo (1996-2003), prevaleceu a expansão da fronteira
edafoclimáticas e a estrutura fundiária do Cerrado. áreas em vantagens agrícola pelo desmatamento e o rápido crescimento da produtividade. No
competitivas, resultando em uso intensivo da terra, bem como um aumento segundo subperíodo (2003-2017) prevaleceu o efeito substituição, com as
significativo na produção devido ao crescimento da produtividade. Essas pastagens cedendo mais áreas às lavouras de soja e milho. Além disso, no
inovações têm contribuído para reduzir a pressão sobre o desmatamento, segundo subperíodo, a dinâmica de uso da terra foi marcada por conflitos. Por
mitigar o efeito dos GEE e aumentar os serviços ecossistêmicos (Assad et al., um lado, houve um aumento da demanda por commodities por meio do
2019; Martins et al., 2018). comércio internacional. Por outro lado, houve pressões de alguns mercados
internacionais e agências multilaterais de desenvolvimento por uma produção
6. conclusões
mais ambientalmente correta e com menos desmatamento, refletindo as
preocupações ambientais da sociedade. Essas pressões resultaram em
O Brasil iniciou o século XXI como um dos maiores players no comércio políticas públicas e várias propostas de sistemas de governança não estatais
internacional de commodities agrícolas, cuja produção tem grande participação orientados para o mercado para produzir commodities e, ao mesmo tempo, mitigar os impa
na região Centro-Oeste (CW). Boa parte da produção
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FRGM Barbosa, VN Duarte, JAR Staduto et al. Bioeconomia mais limpa e circular 4 (2022) 100033
Concluímos que entre 2002 e 2017 o Brasil dispunha de um conjunto de tecnologias e Acordos Ambientais Internacionais: Política, Direito e Economia 12 (1), 41–61. doi:10.1007/
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